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Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Desenhos <strong>de</strong> uma vida: o percurso biográfico <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />

46<br />

Capítulo 2<br />

presentes na arquitectura <strong>de</strong> cinemas 177 . Na realida<strong>de</strong>, o retomar <strong>de</strong> um programa conceptual<br />

baseado na simplificação <strong>de</strong> um anterior mo<strong>de</strong>lo tradicional <strong>de</strong> arquitectura, foi, no contexto<br />

da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>, um fenómeno progressivo, para o qual contribui um multiplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> factores. Em primeiro lugar, o gosto do arquitecto terá sido uma variável importante e<br />

segundo no foi dado a conhecer em várias entrevistas com familiares, <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> sempre<br />

esteve mais próximo da <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma ―arquitectura nacional‖, apesar dos projectos que veio<br />

a <strong>de</strong>senvolver em sentidos diversos 178 . Em segundo lugar, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar o factor<br />

encomenda: como se sabe, a gran<strong>de</strong> maioria das abordagens mo<strong>de</strong>rnas, <strong>de</strong>senvolvidas nos<br />

anos 30 e 40, resultaram <strong>de</strong> empreitadas (pública ou privada) com vista à construção <strong>de</strong><br />

equipamentos urbanos 179 . Por último, tem <strong>de</strong> se ter em atenção a alteração dos<br />

condicionalismos sociais, culturais e económicos <strong>de</strong>correntes do pós-guerra. De facto, se a<br />

década <strong>de</strong> 30 em si mesma, por uma variada or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> factores, assistiu à abertura das<br />

mentalida<strong>de</strong>s no contexto artístico e no campo da arquitectura em particular, as décadas<br />

subsequentes alteraram esse estado <strong>de</strong> coisas 180 . Aliás, foi nesse quadro que o Estado Novo<br />

propiciou o aparecimento <strong>de</strong> uma linha arquitectónica oficial, conhecida como ―português<br />

suave‖ 181 . Assim, ao mesmo tempo que um verda<strong>de</strong>iro movimento mo<strong>de</strong>rno enformava novas<br />

formas <strong>de</strong> pensar a arquitectura, os mo<strong>de</strong>los tradicionais, <strong>de</strong> alguma forma simplificados,<br />

readquiriram protagonismo 182 .<br />

Desta maneira, em Gouveia, a moradia projectada em 1950 para António Lopes da<br />

Costa — o mesmo industrial que financiara a construção do mo<strong>de</strong>rníssimo Teatro Cine oito<br />

anos antes — assumiu, perfeitamente o retorno ao tradicional. Neste edifício assistimos a uma<br />

simplificação dos motivos <strong>de</strong>corativos do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ―casa portuguesa‖, a uma preocupação<br />

exaustiva no <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> pormenores (que se esten<strong>de</strong> à <strong>de</strong>coração do interior) e à manutenção<br />

dos novos materiais e técnicas construtivas (com a utilização do betão e do aço) 183 . Na<br />

verda<strong>de</strong>, estamos perante um novo paradigma na obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>. O <strong>de</strong>senho das<br />

fachadas com óculos <strong>de</strong>corativos, a fenestração <strong>de</strong> duas or<strong>de</strong>ns no <strong>de</strong>senho dos peitoris, as<br />

portas principais que simplificam antigas entradas <strong>de</strong> aparato ou os pináculos <strong>de</strong> remate no<br />

entablamento, assumiam-se como ―imagem <strong>de</strong> marca‖ <strong>de</strong>ste arquitecto na década <strong>de</strong> 50.<br />

177<br />

FERNANDES, José Manuel, Cinemas <strong>de</strong> Portugal, Lisboa, Edições Inapa, 1995.<br />

178<br />

Entrevista a Rodrigo Pessoa, conduzida por José R. Noras a 05/12/2007.<br />

179<br />

. LOPES, Tiago Soares; NORAS, José R., ―<strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>, o arquitecto na província‖, em Monumentos, n.º 29.<br />

180<br />

FERNANDEZ, Sérgio, ob. cit., i<strong>de</strong>m.<br />

181<br />

FERNANDES, José Manuel, Português Suave, Arquitecturas do Estado Novo, Lisboa, Instituto Português do Património<br />

Arquitectónico, 2003.<br />

182 TOSTÔES, Ana, Os Ver<strong>de</strong>s Anos na Arquitectura Portuguesa dos anos 50, Porto, FAUP publicações, 2.ª edição, 1997, p.<br />

174-184<br />

183 Projecto <strong>de</strong> Moradia para Lopes da Costa na Quinta do Seixo, ano 1951, Arquivo <strong>de</strong> Obras/Câmara Municipal <strong>de</strong><br />

Gouveia

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