15.06.2013 Views

DISTÚRBIOS DA MOTRICIDADE ORAL - CEFAC

DISTÚRBIOS DA MOTRICIDADE ORAL - CEFAC

DISTÚRBIOS DA MOTRICIDADE ORAL - CEFAC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>DISTÚRBIOS</strong> <strong>DA</strong> MOTRICI<strong>DA</strong>DE <strong>ORAL</strong><br />

1<br />

Irene Queiroz Marchesan<br />

A comunicação, seja oral, escrita ou gestual, é fundamental para o ser humano. Em<br />

geral, os fonoaudiólogos estudam e se preocupam mais com as alterações que afetam a<br />

linguagem. No entanto, algumas alterações da comunicação oral são originadas por<br />

problemas específicos nas estruturas orais. Estas modificações podem ser geradas por<br />

problemas anatômicos ou funcionais alterando, por exemplo, o ato motor da fala ou a<br />

função de deglutição. Neste capítulo, iremos nos ater a problemas que afetam os órgãos<br />

fono articulatórios interferindo na comunicação e, consequentemente, na vida do indivíduo.<br />

As alterações anatômicas e ou funcionais do sistema sensório motor oral podem afetar<br />

diretamente a fala e outras funções orais, como a mastigação e a deglutição.<br />

Alguns fonoaudiólogos, por trabalharem com problemas da motricidade oral ligados<br />

à odontologia, aprenderam a reconhecer aspectos de normalidade e alterações dos dentes,<br />

além de aprofundarem conhecimentos sobre mastigação e deglutição. O trabalho nesta área<br />

se desenvolveu mais com crianças e adolescentes, usando aparatologia móvel, ou fixa, para<br />

correção dos dentes ou apresentando problemas para se alimentarem corretamente.<br />

Curiosamente, nos últimos dez anos, além das crianças e adolescentes, adultos<br />

portadores de próteses mal ajustadas, ou com problemas periodontais, começaram a ser<br />

enviados aos consultórios fonoaudiológicos. Outro fato que chama a atenção é que também<br />

cresceu a demanda de pacientes com dificuldades para deglutir, não só enviados por<br />

dentistas, mas também por médicos. Em geral, estes adultos são os que apresentam riscos<br />

de aspiração. Adultos normais, que apenas gostariam de falar melhor, também têm buscado<br />

mais freqüentemente, até por conta própria, os serviços de fonoaudiologia. Isto significa<br />

que a clientela dos fonoaudiólogos na área da motricidade oral aumentou e diversificou.<br />

Isto acabou exigindo, por parte destes profissionais, uma busca de soluções para a<br />

diversidade de problemas com que se defrontaram. Consequentemente, o conhecimento e a<br />

maturidade na área da motricidade oral aumentou muito.<br />

Os dentistas, ao enviarem seus pacientes, estão preocupados com relação ao<br />

posicionamento e funcionamento dos órgãos fono articulatórios, como língua e lábios.<br />

Acredita-se que a oclusão, ou os problemas periodontais, podem piorar quando estas<br />

estruturas não estão funcionando adequadamente.<br />

Os médicos, por sua vez, ao detectarem doenças degenerativas acompanhadas de<br />

alterações de voz, deglutição, ou fala, encaminham ao fonoaudiólogo para que este faça a<br />

reabilitação.<br />

O aumento de número de pacientes adultos fez com que o fonoaudiólogo estudasse<br />

mais quais eram as causas das queixas, compreendendo melhor a natureza dos problemas,<br />

facilitando assim os tratamentos. Estes estudos ampliaram os conhecimentos, em primeiro<br />

lugar, com relação aos dentes. Compreende-se o desenvolvimento oclusal, quais as<br />

modificações normais ocorridas com a idade, e o que pode ser considerado alteração.<br />

Aprofunda-se, também, os conhecimentos a respeito das funções orais, principalmente com<br />

relação ao desenvolvimento normal e as modificações esperadas para o envelhecimento,


delimitando, assim, o normal e o patológico. As funções orais mais estudadas, nesta última<br />

década, foram a mastigação, a deglutição, a fala e suas inter-relações.<br />

Observa-se que alterações nos dentes levam a modificações, ou mesmo a alterações,<br />

nas funções de mastigar, deglutir e falar. A compreensão sobre o que são próteses dentárias<br />

e implantes passou a ser fundamental para que se possa avaliar e tratar estes indivíduos.<br />

Os estudos acerca dos fatores que alteram a deglutição permitem, suspeitar de que<br />

há uma doença em curso quando o paciente apresenta alteração de deglutição. Hoje, através<br />

do diagnóstico fonoaudiológico, diferencia-se alterações de deglutição decorrentes da<br />

idade ou provenientes de doenças degenerativas, por exemplo.<br />

Para compreendermos melhor os problemas de indivíduos com distúrbios da<br />

comunicação causados por alterações na motricidade oral, assim como o papel do<br />

fonoaudiólogo ao tratar destes pacientes, exemplificaremos fazendo recortes de algumas<br />

anamneses e exames realizados entre os anos de 1987 e 1997.<br />

Paciente (P) n.º 1: Mulher, 68 anos de idade, com a queixa de falar com dificuldade.<br />

Havia sido encaminhada para verificar se o fato de ela estar falando com dificuldade tinha<br />

relação com os dentes. O problema já se apresentava há mais ou menos um ano e meio.<br />

Havia ido em mais de um médico, e também ao dentista, não tendo sido detectado nenhum<br />

problema. Mas ela observava que estava piorando, e estava se tornando difícil conversar. A<br />

queixa era de que a boca parecia que ficava meio dura. A amiga, que veio junto para a<br />

entrevista, pode confirmar que, de fato, a fala havia mudado. As pessoas diziam que a piora<br />

na fala era devido ao envelhecimento. A paciente dizia que, apesar da idade, não se sentia<br />

tão velha assim para estar falando com tanta dificuldade. Conversamos sobre seu trabalho,<br />

sua aposentadoria, e o que fazia no momento atual. Continuamos indagando sobre possíveis<br />

doenças e seus tratamentos, além de fatos que pudessem interferir na fala de alguma forma.<br />

A paciente contou diversos episódios de sua vida e, dentre eles, que havia sofrido um sério<br />

acidente de carro, resultando na morte de pessoas queridas. Após este acidente, houve um<br />

período de depressão, razão pela qual ela passou a tomar antidepressivos. Este fato havia<br />

ocorrido há três anos. Não parecia estar mais deprimida, mas continuava tomando o<br />

medicamento.<br />

Durante o exame, observamos que ela usava uma prótese fixa parcial,<br />

razoavelmente adaptada e que, a dificuldade com a fala nos pareceu basicamente,<br />

relacionada à diminuição da quantidade de saliva. Antidepressivos podem interferir na<br />

produção da saliva. De fato, isto se confirmou e, após uma conversa com o médico, ele<br />

começou a reduzir a quantidade de medicamento até a completa retirada do mesmo, sendo<br />

que então o problema foi resolvido. O caso não foi complicado, mas as declarações desta<br />

paciente me impressionaram bastante.<br />

P: Eu era uma mulher com muita energia, que saia sempre com minhas amigas, que jogava<br />

buraco três vezes por semana. Durante o jogo, eu e minhas amigas conversávamos bastante.<br />

Fui professora durante toda a vida tendo falado muito e trabalhado até depois da minha<br />

aposentadoria e, hoje, não presto para mais nada. Vou falar e minha boca fica dura, faço<br />

uns estalos esquisitos durante a conversa. As pessoas ficam me olhando com uma cara<br />

estranha como se, além de não me entenderem direito, tivessem pena de mim. Eu fico<br />

cansada de falar. Não tenho mais agilidade na conversa. Às vezes, estou empolgada<br />

participando de um assunto, quero dar palpites, mas sinto que atrapalho pois demoro muito<br />

e a boca fica assim, meio que grudando. Será que se eu mudar de dentista, ou talvez de<br />

2


dentes. Quem sabe uma dentadura resolve? Afinal, você acha que isto vai sarar? A senhora<br />

é a minha última esperança.<br />

Apesar de constatarmos um grande sofrimento desta pessoa, observamos seus<br />

interlocutores tratando deste pequeno drama como se fosse apenas um problema de velhice<br />

e, assim sendo, ninguém lhe deu muita atenção, ficando como algo natural. Percebemos que<br />

nenhum grande esforço havia sido feito, para detectar causas possíveis da mudança de sua<br />

fala.<br />

P n.º 2: Mulher, 62 anos encaminhada por um dentista porque a fala estava ficando<br />

atrapalhada, o que havia ocorrido logo após a troca de prótese superior. No início, o<br />

dentista disse que era uma questão de “acostumar” e que, em breve, isto estaria resolvido.<br />

Após seis meses, a paciente não só não havia acostumado, como havia piorado. Foi<br />

encaminhada para nosso serviço de fonoaudiologia. Veio acompanhada do marido, que<br />

permaneceu todo o tempo junto. Dentre as provas aplicadas, solicitei que falasse com e sem<br />

a prótese para que tivéssemos uma comparação se a fala se modificaria nestas duas<br />

situações. A fala, com e sem a prótese, não se modificou. A prova foi simples dando-nos<br />

pistas que nos levaram a outros procedimentos para a identificação da causa. Observamos<br />

que, além da fala, a voz também se modificara ficando mais grave. Além disto, a deglutição<br />

estava ocorrendo com maior dificuldade e nos últimos meses, apareceram engasgos<br />

freqüentes. O marido, que era muito presente em sua vida pode detalhar aspectos de sua<br />

alimentação, confirmando os dados da esposa. A suspeita recaiu sobre algum problema<br />

neuromotor específico. Vale lembrar que a linguagem da paciente estava normal. Frente aos<br />

achados clínicos, ela foi encaminhada para um neurologista. Infelizmente, os dentistas,<br />

assim como muitos fonoaudiólogos, não estão preparados para identificar casos como estes.<br />

Um outro problema é que existe uma tendência de não se valorizar as queixas quando são<br />

colocadas novas próteses; espera-se que haja um ajuste “da boca à prótese”. Esta senhora<br />

tinha esclerose lateral amiotrófica, doença que a levou à morte em um ano e meio. Apesar<br />

desta doença não ter cura, como ela foi diagnosticada precocemente pelo fonoaudiólogo,<br />

houve a possibilidade de se orientar a paciente em relação à sua alimentação o que<br />

permitiu-lhe permanecer sem a sonda de alimentação por mais tempo desfrutando, desta<br />

forma, da companhia de sua família durante as refeições até praticamente dois meses antes<br />

de sua morte.<br />

P. n.º 3: Mulher de 43 anos, com a queixa de não poder tomar café após as refeições,<br />

principalmente em restaurantes quando estava acompanhada do marido. A causa de não<br />

poder tomar café era que fazia ruído quando engolia e o marido não gostava. Pode nos<br />

parecer absurdamente estranha, ou mesmo ridícula tal queixa, mas isto era de tal<br />

importância para ambos que a paciente chegou até nós absolutamente constrangida e<br />

aborrecida por este fato. E acima de tudo, estava muito aflita para saber se havia ou não<br />

uma solução. Vale lembrar que no ato de deglutir, quando passamos da fase oral para a<br />

fase faríngea, temos a ondulação da língua de frente para trás carregando o bolo alimentar.<br />

Quando esta paciente tomava café quente, o dorso se elevava com maior força e por mais<br />

tempo, protegendo a entrada da faringe. Este movimento de elevação, acabava produzindo<br />

um ruído forte, sendo desagradável para o casal. Ensinamos a paciente a diminuir a força<br />

do dorso da língua e o ruído desapareceu. A terapia durou apenas dois meses e o casal ficou<br />

feliz.<br />

3


P. n.º 4: Homem, com 66 anos. Queixa principal: não poder comer mais empadinha.<br />

Quando as comia, engasgava muito. Isto o entristeceu bastante, pois adorava empadas.<br />

Perguntou-me se eu conseguiria tornar-lhe possível comer empadas com segurança.<br />

Ensinamos a ele como se dá o ato da deglutição normal mostrando-lhe que muitas<br />

mudanças fisiológicas e musculares naturais ocorrem com a idade e, por isso, temos que<br />

modificar algumas ações ao deglutir determinados alimentos para evitar o engasgo. No caso<br />

da empada, que é um alimento muito seco e farinhento, precisamos de mais saliva para que<br />

o bolo alimentar se torne coeso. Com o avanço da idade, temos menor produção de saliva.<br />

Além da menor produção de saliva, a coordenação motora se lentifica e a propriocepção<br />

diminui. Comer alimentos muito farinhentos, colocando quantidades maiores na boca,<br />

dificultará a preparação de um bolo adequado levando ao engasgo. Como orientação<br />

terapêutica, passamos a quebrar a empada em partes menores, entre uma e outra mordida,<br />

diminuímos a velocidade de entrada do alimento, fazíamos uma deglutição a mais no<br />

término de cada mordida para evitar restos alimentares em valécula ou seios piriformes e,<br />

finalmente, introduzimos pequenas quantidades de líquido durante a mastigação quando<br />

necessário, para umedecer melhor o alimento. É claro que comer desta forma, fica<br />

inicialmente, um pouco artificial pois temos que prestar muita atenção. O ato de comer<br />

torna-se totalmente consciente e, por isso, parece artificial. Mas, depois que se adquire<br />

prática, o comer empadas, para nosso aflito paciente, ficou novamente agradável e, após<br />

aprendido, este processo volta a tornar-se inconsciente.<br />

P. n.º 5: Mulher, 54 anos, balconista de uma loja de shopping. Queixa: possibilidade de<br />

perder o emprego pois, quando falava expelia saliva, além de apresentar ceceio anterior<br />

(projeção de língua entre os dentes anteriores). O dono da loja entendeu que não seria<br />

interessante, para seu negócio, manter um funcionário que “cuspisse” nos clientes. A partir<br />

da ameaça de perder o emprego, ela passou a falar com a boca mais fechada, evitando a<br />

saída da língua e da saliva. Esta técnica, empregada intuitivamente por ela, fez com que sua<br />

fala ficasse imprecisa e que perdesse a naturalidade nas vendas. A pergunta era: se antes ela<br />

falava bem, o que a havia levado a este problema? A partir da anamnese soubemos que,<br />

meses antes, procurando melhorar sua estética, a paciente procurou um dentista que<br />

colocou um aparelho expansor superior móvel. Este aparelho, aparentemente, criou um<br />

desequilíbrio oclusal abrindo sua mordida anteriormente. Esta abertura anterior fez com que<br />

a língua escapasse com grande facilidade e o controle da saliva ficasse mais difícil. Não<br />

entrando no mérito do trabalho e técnicas ortodônticas utilizadas, uma vez que não somos<br />

dentistas, gostaríamos de discutir, apenas o modo como alterações de fala podem surgir, até<br />

a partir da colocação de aparelhos dentários. Hoje em dia, cada vez é mais comum adultos,<br />

e mesmo idosos, utilizarem estes aparelhos, na tentativa de resolução de antigos problemas.<br />

O importante é que o profissional solicitado a melhorar a fala do paciente compreenda os<br />

objetivos dos diferentes tipos de aparelho, ou entre em contato com o dentista para saber o<br />

que está acontecendo, e se isto é esperado ou não. Ou mesmo, quanto tempo o paciente<br />

ficará daquele jeito. Se a comunicação com o dentista é difícil, sugerimos que se criem<br />

condições para que o paciente vá, progressivamente, adaptando-se às mudanças, alterando o<br />

mínimo possível a fala. Sugerimos, ainda, que o paciente procure informar-se sobre o que<br />

está ocorrendo, descobrindo se aquela situação em que se encontra, é temporária ou<br />

definitiva. No caso específico desta senhora, após uma conversa com o dentista, houve uma<br />

modificação na aparatologia utilizada, o que diminuiu sensivelmente o problema.<br />

Conversamos, ainda, com o dono da loja mostrando as vantagens da utilização do aparelho<br />

4


e, como a sua funcionária, ao investir na aparência, estava melhorando o próprio nível da<br />

loja. Tudo seria uma questão de tempo. O papel do fonoaudiólogo, neste caso, não foi,<br />

inicialmente, de interferir diretamente na fala mas sim, compreender o que era ou não<br />

possível fazer e ter uma atuação precisa junto ao dentista e ao proprietário da loja. Em<br />

seguida, foi trabalhado com a paciente certos posicionamentos da língua a fim de adaptá-la<br />

às modificações ortodônticas realizadas. Isto fez com que, a partir da compreensão e<br />

conhecimento do processo mecânico da fala, a paciente pudesse ter um melhor controle de<br />

sua pronúncia e da saliva.<br />

P. n.º 6: Homem, com 57 anos, divorciado, indo para o segundo casamento com uma<br />

mulher de 35 anos. Queixa: ronco e baba noturna. Como casar, se roncava e babava? Não<br />

queria que isto ocorresse na frente da nova esposa. Para ele, isto poderia interferir no seu<br />

novo casamento. Uma preocupação aparentemente tola. Mas, se estivéssemos casando aos<br />

57 anos de idade, com alguém mais novo, provavelmente teríamos muitas preocupações no<br />

sentido de melhorarmos nossa performance em todos os sentidos. Caso simples.<br />

Encaminhado ao otorrinolaringologista, diagnosticou-se que ele roncava sem apnéia<br />

noturna. Orientamos o paciente para que emagrecesse um pouco, não comesse e nem<br />

bebesse em demasia antes de dormir. Também deveria mudar sua posição habitual na cama,<br />

que era de barriga para cima e passasse a dormir de lado. Finalmente, fizemos um trabalho<br />

de selamento labial e fortalecimento das estruturas posteriores, através de exercícios de<br />

tonificação. O interessante é que, na iminência de um casamento muito desejado, todas as<br />

determinações foram cumpridas. Ou seja, muitas vezes nossas orientações, isoladamente,<br />

têm pouco valor se não temos um forte aliado, que é o desejo de cada um, de mudar.<br />

P. n.º 7: Homem, de 49 anos, alto cargo em um banco estatal. Sua queixa era que, após ter<br />

se submetido a um implante total superior, passou a falar bastante assobiado. Dentre as suas<br />

atividades, dirigia muitas reuniões, inclusive internacionais, tendo que falar bastante e se<br />

expor muito. Ele nos contou que seu rendimento nestas reuniões havia diminuido muito,<br />

pois todos ficavam olhando sua nova forma de falar, tentando compreender o que ele fazia,<br />

que assobiava tanto. Já havia até ganho um apelido. Para controlar os problemas adquiridos,<br />

ele passou a fazer apresentações usando mais o flipper charter, falando de costas para o<br />

público e escrevendo muito enquanto falava. No entanto, o falar de costas, causou um novo<br />

problema: fez com que ele perdesse o controle do que estava acontecendo na sala. Uma<br />

outra medida, para diminuir os assobios durante a fala, foi contrair o orbicular do lábio<br />

superior (músculo que fecha a boca) sobre os dentes por onde o ar escapava. Isto fazia com<br />

que o controle de saída do ar fosse razoável, mas ele ficava o tempo todo contraído,<br />

fazendo uma espécie de careta ao falar. Chegou até nós indicado pelo seu dentista que havia<br />

dado por encerrado o trabalho odontológico, dizendo que o problema da fala seria<br />

solucionado pelo fonoaudiólogo. Ao examiná-lo, observei que os dentes estavam lindos,<br />

muito bem alinhados e sem espaços entre si. No entanto, se elevássemos seu lábio superior,<br />

poderíamos ver, sem dificuldade, cada um dos pinos que segurava cada dente, deixando um<br />

espaçamento entre um e outro. Por este espaço tínhamos a saída do ar durante a fala. O<br />

lábio superior balançava como uma cortina ao vento durante a fala. De fato, era bastante<br />

estranho e toda nossa atenção, ficava voltada para este fenômeno, fazendo com que nos<br />

esquecêssemos do conteúdo da conversa. Quando o paciente tentava controlar o movimento<br />

do lábio superior, contraindo-o fortemente contra os dentes, o ruído de saída do ar<br />

diminuía, mas a boca tornava-se muito tensa e sem os movimentos naturais utilizados na<br />

5


fala. Parecia uma máscara. Este caso foi muito difícil pois, na verdade, o meu trabalho era<br />

totalmente dependente de um novo trabalho do dentista uma vez que eu não tinha como<br />

corrigir os espaçamentos entre os pinos. O problema anatômico era importante, e a função<br />

estava alterada por isso. Como dizer ao paciente, e, principalmente ao dentista, que a<br />

fonoaudiologia tinha pouco a fazer naquele caso? O diagnóstico sempre é fundamental.<br />

Neste caso, o diagnóstico e prognóstico tornam-se difíceis de serem expostos. Ao invés de<br />

trabalhar imediatamente na tentativa de corrigir o problema de fala temos, que mostrar,<br />

com muito tato para com o paciente, que ocorreu um problema com o tratamento dos<br />

dentes, sendo que a fala estará irremediavelmente comprometida se não houver a correção<br />

dos espaços encontrados. É bom lembrar que o dentista, por sua vez, afirmava que o<br />

trabalho fora finalizado e o problema atual era de competência do fonoaudiólogo. Podemos<br />

iniciar trabalhando com a conscientização do paciente, de como é que acontecem os sons da<br />

fala e quais são as possibilidades que ele possui, a partir daquela forma atual. O próprio<br />

paciente vai chegando nos limites daquilo que é possível para ele, compreendendo os por<br />

quês das falhas e buscando outras alternativas para possíveis melhoras.<br />

P. n.º 8: Homem de 45 anos, excelente vendedor durante toda a vida e na iminência de<br />

perder o emprego por estar falando mal. Isto havia começado após a colocação de prótese<br />

total superior e inferior. O medo de que a prótese caísse durante a comunicação fez com<br />

que ele falasse mais devagar. Muitas vezes, após a colocação da prótese, observamos uma<br />

diminuição dos movimentos naturais mais amplos de mandíbula durante a fala, o que faz<br />

com que diminua a precisão dos pontos articulatórios. No tipo de venda que ele trabalhava<br />

era imprescindível que falasse rápido pois o cliente deveria comprar por impulso, não lhe<br />

sendo dado tempo para pensar e dizer não. Todas as vezes que colocamos uma prótese, seja<br />

parcial ou total, sempre há modificações na forma de comer e de falar. Porém, estas<br />

modificações vão sendo esquecidas com o tempo de uso. O pior de tudo é que, todos,<br />

incluindo o usuário, se acostumam com as mudanças ocasionadas pela introdução da<br />

prótese e, mesmo que estas mudanças piorem a forma de falar, ou de comer, são tomadas<br />

como inevitáveis e, de qualquer forma, é melhor do que ficar sem dentes. Não passa pela<br />

cabeça do usuário, ou do profissional que coloca a prótese que, se a adaptação fosse melhor<br />

ou se ocorressem explicações, ou mesmo treino, sobre o uso da mesma, poderíamos ter<br />

funções mais adequadas diminuindo os problemas encontrados, principalmente na fala e na<br />

alimentação. Orientando o paciente a respeito de como falar com a prótese. Solicitamos,<br />

ainda, que fossem realizados ajustes na prótese em questão, aumentando a sua fixação na<br />

cavidade oral e, consequentemente, a confiança do paciente durante a fala em suas vendas.<br />

P. n.º 9: Mulher, de 61 anos, com a queixa de estar falando mal nas situações de<br />

comunicação na igreja aonde auxiliava o padre nas missas de domingo. Isto havia<br />

começado há mais ou menos 18 meses e estava piorando. As pessoas no começo quase não<br />

percebiam, mas ultimamente, já havia comentários das amigas e dos parentes próximos.<br />

Acima de tudo, ela própria, nitidamente, notava que a sua fala estava a cada dia pior.<br />

Coincidentemente, isto aconteceu após o casamento de seu último filho. A paciente já havia<br />

procurado um fonoaudiólogo que havia apontado como causa do problema da fala, a<br />

solidão em que a paciente se encontrava após a saída dos filhos de casa. Em função de tal<br />

diagnóstico, esta paciente havia sido enviada para uma psicóloga que a tratava havia uma<br />

ano. Quando ela chegou em meu consultório, e fizemos um exame acurado da motricidade<br />

oral, percebemos que, além da imprecisão articulatória, havia, também, uma imprecisão dos<br />

6


movimentos isolados dos órgãos fono articulatórios. Encaminhada para exame neurológico<br />

foi detectado um tumor cerebral. A paciente foi para cirurgia sendo tratada, posteriormente,<br />

das seqüelas de fala. A imprecisão de pontos articulatórios apresentada no exame inicial<br />

mais a história de aumento progressivo das dificuldades assim como a inabilidade em<br />

relação aos movimentos isolados alterados, são indicativos de que, muito provavelmente,<br />

existe um problema neuromotor em curso. A habilidade de se fazer um diagnóstico<br />

precoce, nestes casos, pode salvar uma vida, ou levar a cirurgias menos extensas com<br />

menores sequelas. A fala, os movimentos orais, a deglutição e a voz de um indivíduo<br />

adulto, quando começam a se modificar sem causa física evidente, como a introdução de<br />

uma prótese, por exemplo, deve sempre nos levar para uma indicação precisa e rápida de<br />

exame neurológico.<br />

P. n.º 10: Homem descendente de japoneses, de 50 anos, com a queixa de falar errado<br />

palavras com /l/ e /r/. Trabalhou durante 22 anos como caixa de banco. Algumas pessoas,<br />

em alguns momentos de sua vida, haviam comentado que ele trocava letras ao falar. Isto<br />

não teve nenhuma interferência durante sua juventude. No momento em que procurou ajuda<br />

isto tinha se tornado um peso pois, por falar errado, queriam colocá-lo em outra função<br />

dentro da empresa: qualquer função que não lidasse com o público. O mais interessante é<br />

que, embora as pessoas fizessem comentários a respeito de sua fala, ele não percebia e nem<br />

sabia, exatamente, o que era que errava. Ele nos contou que diziam que não sabia falar<br />

“cliente”, “problema”, e outras coisas assim. Não havia percebido, até aquele momento, a<br />

consistência da troca. Como muitos japoneses, ele fazia a clássica troca entre /l/ e /r/, ou<br />

vice versa uma vez que taís fonemas, não são diferenciados entre si e desta forma, qualquer<br />

um que se use, parece correto. A pergunta era “Por que só agora isto se tornara um<br />

problema? Seria um maior cuidado da empresa com o modo de falar de seus funcionários?”<br />

Indo até a empresa para observar “in loco” o problema, tive a oportunidade de conversar<br />

com seus superiores. No banco trabalhavam muitos japoneses, ou descendentes de<br />

japoneses. Muitos outros funcionários apresentavam a troca em questão. Nosso paciente, de<br />

fato, sempre apresentou tal troca sem ser motivo de problema dentro da empresa.<br />

Recentemente, ele havia colocado uma prótese nova. Esta prótese era grande para sua boca<br />

e, acima de tudo, fez com que sua boca ficasse meio torta. O lado direito superior ficou<br />

mais alto que o esquerdo. O fato de a prótese ser, de certa forma, incômoda, levou-o a<br />

adquirir o hábito de sugar a saliva enquanto falava. A sucção aumentava a pressão interna<br />

da cavidade oral, ajudando a fixar melhor a prótese. Além desta sucção ele, naturalmente,<br />

diminuiu a velocidade de fala para segurar melhor a prótese. A troca dos sons era antiga,<br />

mas o ruído de sucção e a lentificação da fala eram aspectos novos, ajudando a salientar as<br />

trocas, antes menos definidas. Estes novos elementos em sua fala, associados à troca<br />

anterior, fizeram com que esta simples troca, comum até entre outros funcionários, ficasse<br />

mais evidenciada, tornando-se inaceitável frente ao público. Observem que um<br />

fonoaudiólogo menos avisado poderia, imediatamente, tratar da troca em si. Isto não era de<br />

fato um problema dentro daquela população e nem a causa real do incomodo causado pelo<br />

seu modo de falar. Lembramos, ainda, que corrigir estes pequenos desvios fonéticos na<br />

idade adulta, quando não há perda significativa da inteligibilidade de fala, é bastante difícil.<br />

Aliás, corrigir não é tão difícil, mas automatizar novas formas de fala é complicado. Temos<br />

observado que existem poucas possibilidades de fixar novos padrões de fala em adultos.<br />

Neste caso, a colocação da prótese fez com que o indivíduo mudasse seu padrão de fala, de<br />

uma forma geral, e a troca original ficasse evidenciada. Somemos a isto uma nova política,<br />

7


introduzida no banco meses antes, na qual a apresentação física do espaço e a aparência de<br />

seus funcionários era uma das metas a ser alcançada como captação de novos clientes.<br />

Lembramos, ainda, que este paciente tinha 20 anos de casa e 50 anos de idade. De forma<br />

geral, pessoas com muitos anos de casa, e já mais idosas, tem seus hábitos enraizados e as<br />

mudanças são mais difíceis de serem absorvidas. A fala passou a ser uma razão concreta<br />

para a troca de cargo acontecer e, no seu lugar, ser colocado alguém com perfil mais jovial<br />

e dinâmico. Trabalhamos todos os aspectos detectados, incluindo uma nova prótese e a<br />

própria apresentação frente ao público. O desejo de permanecer no cargo, aliado ao desejo<br />

de mudar para melhor, levou este indivíduo a superar a crise. O mais interessante é que a<br />

sua comunicação mudou de uma forma geral, incluindo novas posturas, mudanças na voz,<br />

um maior cuidado com as palavras utilizadas e, até mesmo, com a roupa a ser utilizada no<br />

trabalho. É evidente que não eliminamos a troca. Ele aprendeu qual era esta troca, porque<br />

acontecia, como lidar com ela, e até a identificá-la nos seus colegas. Procurava não usar<br />

palavras como “cliente” e se isto acontecia, estava consciente para, em situação controlada,<br />

emitir os grupos consonantais com /l/ e /r/ de forma correta. O que fez com que sua<br />

comunicação melhorasse, de uma forma geral, foi a compreensão do problema como um<br />

todo e, acima de tudo, a indicação de uma prótese correta. Tudo isto aliado a um novo<br />

homem, com novas perspectivas de vida no seu emprego, fizeram com que seus<br />

investimentos fossem reconhecidos pela chefia, garantindo sua permanência no cargo.<br />

P. n.º 11: Mulher, de 76 anos, que veio até nós para dizer que não podia mais comer na<br />

mesa com seus filhos e netos. Bastante lúcida, e ainda trabalhando em correção de textos de<br />

português pois tinha sido revisora durante toda a vida, passou a viver um drama pessoal.<br />

Nos disse que era independente financeiramente e respeitada no mercado profissional,<br />

apesar da idade. Mas, durante as refeições, tinha dificuldades para engolir os alimentos,<br />

mesmo os mais moles (mudança esta, que ela havia se imposto para facilitar a deglutição).<br />

Ao comer, engasgava com freqüência e tinha que tossir. Isto fazia com que resíduos dos<br />

alimentos fossem expelidos pela sua boca e ela se envergonhava deste fato. Passou a comer<br />

menos e escolhia os alimentos. Tinha emagrecido, sempre se recusava a comer em locais<br />

públicos, como restaurantes, e até nas casas das noras. Estava se sentindo isolada do<br />

mundo, uma vez que sua família era de origem italiana e sempre havia os famosos almoços<br />

de domingo. Nossa paciente preferia chegar apenas para o horário das sobremesas. Após os<br />

exames clínicos de praxe, até uma videofluoroscopia, constatou-se que ela não apresentava<br />

nenhuma doença mais grave. Tinha apenas uma lentificação e uma leve incoordenação<br />

entre as fases da deglutição. Isto fazia com que sobrassem resíduos de alimento na valécula<br />

e nos seios piriformes. Estes resíduos, ao entrarem na via aérea, faziam com que ela<br />

engasgasse e tossisse, como reflexo de defesa. Passamos a ensiná-la como são as fases da<br />

deglutição e como ela poderia se defender destes engasgos. Orientamos a família,<br />

principalmente suas duas filhas, sobre o que ocorria com a mãe. Também mostramos como<br />

as melhoras poderiam ser rápidas. As modificações da deglutição podem ser normais porém<br />

se mudarmos alguns hábitos rotineiros podemos facilitar o ato de mastigar e deglutir,<br />

reintegrando este indivíduo no convívio familiar.<br />

8


O que se pensar sobre estes casos.<br />

Poderíamos seguir com inúmeros outros casos. Mas acredito que esses exemplos já<br />

nos mostram como quadros diferentes, que aparentemente nada têm a ver um com o outro,<br />

podem ter como causa uma única razão: alterações dos órgãos fono articulatórios. As<br />

razões destas alterações podem ser as mais diversas possíveis.<br />

Estes exemplos, também nos mostram muitas queixas, aparentemente simples, que<br />

não são significativas de forma geral, para os clínicos, passando como “bobagens” do<br />

paciente. Poucos são os clínicos que dão atenção a esses casos. A maior parte acha que o<br />

tempo solucionará, ou que o paciente se acostumará com o problema. Também entendem<br />

que, não sendo quadros tão graves, não necessitam de maiores atenções e muito menos de<br />

terapia.<br />

Dificultando, ainda a ação terapêutica destes casos, com problemas de motricidade<br />

oral, temos também aqueles fonoaudiólogos que, ao colocarem o paciente para tratamento,<br />

não sabem como resolver o caso, ou qual abordagem seguir. Ficam muito tempo com o<br />

paciente em terapia, não solucionam o problema e desmoralizam a fonoaudiologia frente<br />

aos outros profissionais. Aumentam, desta forma, a crença de que estes casos não precisam<br />

de terapia. Outros, ainda, por não conhecerem a anatomia e fisiologia dos órgãos fono<br />

articulatórios, e não saberem tratá-los, acham que isto não faz parte dos problemas da<br />

fonoaudiologia, encaminham esses pacientes para terapia psicológica, imaginando que estes<br />

acontecimentos são fruto de alterações emocionais.<br />

Observamos, ainda, que esses pacientes, ao procurarem médicos ou dentistas para se<br />

tratarem, não são ouvidos com atenção e suas queixas acabam sendo colocadas no rol da<br />

“normalidade”, ou seja por conta da velhice que vem chegando. Esta atitude é interessante<br />

porque, em geral, vamos ao médico por estarmos resfriados, com dor nas costas, porque<br />

apareceu uma pequena mancha no rosto, que ficou feio, e assim por diante. Ou seja, não é<br />

só por problemas graves que procuramos ajuda. As coisas simples também nos levam a<br />

procurar tratamento médico. Qual a razão disto não ocorrer na fonoaudiologia? Será que a<br />

queixa só é importante quando atendemos crianças? Não se imagina que um adulto precise<br />

ou queira, por exemplo, melhorar sua fala? Ou será que o fonoaudiólogo não sabe que<br />

deveria estar preparado para cuidar desses assuntos? Às vezes observamos ainda, que<br />

pacientes após terem se submetido a muitos tratamentos e, já em fase adiantada da doença,<br />

procuram o fonoaudiólogo para ver o que é possível ser feito, uma vez que a medicina e ou<br />

a odontologia, esgotaram seus recursos e só sobramos nós. Refletir sobre estas questões<br />

pode levar a soluções, seja em casos simples ou complexos, melhorando a qualidade de<br />

vida do indivíduo que procura ajuda.<br />

Nestes exemplos, extraídos do dia a dia da clínica, podemos detectar dois tipos<br />

básicos de causas que alteram a comunicação a partir de alterações do sistema sensório<br />

motor oral. Uma, a mais comum, está relacionada aos problemas dentários, seus<br />

tratamentos e resultados. A outra, um pouco mais grave, está relacionada aos problemas<br />

que afetam a deglutição.<br />

9


Dentes<br />

Com relação aos problemas dentários, seria desnecessário dizer que, para mastigar,<br />

precisamos de dentes devendo, os mesmos, estarem sadios e dispostos de forma regular. Há<br />

uma triste crença de que perder dentes com o avanço da idade é normal. Mesmo a partir<br />

desta errônea crença, verificamos que cada um de nós, quando perde seu primeiro dente,<br />

reage chorando. Por que isto ocorre? Apesar de acharmos que isto é normal, e que um dia<br />

vai acontecer, a perda do primeiro dente é marcante, pois significa em geral uma passagem.<br />

Marca-se, com esta perda, a passagem da juventude, que está terminando, para uma outra<br />

fase da vida, a velhice, que vem chegando. Por esta razão choramos de fato. Por sua vez, a<br />

perda do segundo elemento dentário já não é tão sentida. Vamos nos acostumando achando<br />

que perder dentes é normal, porque estamos envelhecendo. Enfim, não há outro caminho<br />

que não o da prótese. Rezamos para que este momento demore o máximo para chegar. Este<br />

envelhecimento precoce traz abalos emocionais, afetando a auto-estima. Socialmente,<br />

passamos a ser menos. Inicia-se, na vida do indivíduo, a era das próteses que podem ser<br />

parciais ou totais, fixas ou removíveis. Tudo vai depender da cultura, do quanto se tem de<br />

dinheiro para gastar com dentistas, do quanto valorizamos este aspecto, da capacidade do<br />

profissional que procuramos e até do nosso conhecimento sobre o assunto, incluindo aqui,<br />

as crenças.<br />

Os dentistas têm várias soluções para perdas de dentes. As mais comuns, e primeiras<br />

a serem usadas, são as próteses parciais removíveis. Estas são apoiadas em outros dentes.<br />

Este apoio acaba por abalar os elementos que a seguram, facilitando novas perdas. Assim,<br />

gradativamente chegamos à prótese total. Quanto menor o número de dentes naturais dentro<br />

da boca, mais difícil fica a contenção de próteses. A prótese, seja parcial ou total, leva à<br />

modificação das funções orais. Ao perdermos o último dente a prótese perde a sua fixação.<br />

Consequentemente, mudamos drasticamente nosso modo de falar, mastigar e engolir.<br />

Alguns pacientes relatam, inclusive, que sua performance sexual se modifica, perdendo em<br />

quantidade e qualidade. Uma prótese não deve machucar e, por isto não pode ser retentiva.<br />

Isto dificulta sua estabilidade. Os primeiros dentes que perdemos são, em geral, os<br />

posteriores e isto faz com que haja diminuição da dimensão vertical posterior, além de<br />

haver a distalização da mandíbula, podendo, com isto, resultar em problemas das<br />

articulações temporo-mandibulares. Além destas modificações, para obter uma melhor<br />

fixação das próteses totais, o paciente muda a posição da cabeça. O deslocamento da<br />

cabeça, leva à mudança na posição do pescoço que, por sua vez, leva a modificações da<br />

coluna podendo causar problemas, dentre eles, o famoso bico de papagaio. Quem imagina<br />

que perdas dentárias possam causar tantas alterações? As mais visíveis são as alterações de<br />

mastigação e de fala, sendo que o que menos associamos às perdas dentárias são as dores<br />

nas costas, geradas por mal posicionamento de cabeça e pescoço. Estatisticamente<br />

perdemos, em primeiro lugar, o primeiro molar, justamente o primeiro a nascer. Como ele é<br />

um dente do fundo da boca, não se vê, o que nos dá um certo conforto. Vamos nos<br />

adaptando a estas perdas e, assim, sem perceber, vamos nos auto limitando, diminuindo<br />

cada vez mais o funcionamento adequado das funções exercidas pela boca, principalmente<br />

o falar e o comer. Tudo isto sem contar que o uso contínuo da prótese nos leva a perder<br />

osso e a retenção desta prótese passa a ser a cada dia menor. Enfim, a prótese é totalmente<br />

10


antifisiológica. O que fazer então? Perder os dentes e não usar nada no lugar? É claro que<br />

isto não é a solução. Precisamos saber mais sobre como manter os dentes na boca e não<br />

perde-los. Precisamos saber que não é nem um pouco normal perder dentes. O certo é<br />

terminar a vida com todas as peças dentárias na boca. O envelhecimento não traz perdas<br />

dentárias como causa natural. A educação sobre este assunto é fundamental. É necessário<br />

que todos os profissionais da saúde sejam informados no mínimo, sobre conhecimentos<br />

básicos de outras profissões para que possam orientar seus pacientes sobre o assunto. É<br />

importante sabermos que, se por infelicidade, perdermos algum elemento dental, ou<br />

existem soluções melhores do que as próteses removíveis. Existem próteses sobre<br />

implantes, que podem ser fixas, parciais ou totais. A prótese total removível, sobre<br />

implante, como não é apoiada sobre o osso remanescente e sim sobre os implantes tem,<br />

como vantagem, inibir a reabsorção óssea intensa. Além disto dá melhor possibilidade de<br />

fixação, melhor estabilidade articular, melhor estética, sendo que as funções orais podem<br />

ocorrer de forma mais harmônica. Só quando vemos a alegria e a felicidade, de quem volta<br />

a mastigar e falar melhor, sem o medo de que os dentes saltem da boca a qualquer<br />

momento, como ao rir gostosamente, é que nos damos conta de como os dentes são<br />

importantes para o ser humano. Dentes na boca levam a uma melhor qualidade de vida. Os<br />

profissionais da saúde, sejam de que área for, ao tomarem conhecimento desta importância<br />

precisam se interessar mais em ajudarem seus pacientes a cuidarem melhor de seus dentes<br />

para mantê-los, de preferência, até o fim da vida. Caso isto não seja possível, podemos<br />

ajudar o paciente a escolher o melhor tipo de prótese para seu caso. Muitos dos problemas<br />

aqui relatados, têm a ver com perdas dentárias precoces, próteses mal feitas, mal cuidadas<br />

ou mal adaptadas. Identificar o problema é o básico. Reconhecer quando a prótese está<br />

inadequada é importante, mas saber como prevenir estas situações é o fundamental.<br />

Deglutição<br />

A segunda causa de alterações na vida do indivíduo, envolvendo problemas dos<br />

órgãos fono articulatórios, é a forma de engolir. A deglutição, pode se modificar por<br />

diversas causas desde o simples envelhecimento das estruturas envolvidas neste ato, até<br />

como conseqüência de diferentes doenças. É fundamental reconhecer quando a alteração<br />

encontrada faz parte do desgaste natural, o que é normal, e quando faz parte de algum<br />

processo patológico. Nem o paciente, nem seus parentes, e o pior de tudo, nem os<br />

profissionais de uma maneira geral, estão preparados para lidar com estas queixas, ou<br />

mesmo para reconhecerem suas causas. Se isto ocorresse, muitas doenças evolutivas<br />

poderiam ser detectadas precocemente e muito sofrimento, seja por doenças graves, ou<br />

apenas pelo envelhecimento natural das estruturas, seriam evitadas. As principais<br />

patologias nas quais podemos encontrar alterações na deglutição são: acidentes vasculares<br />

cerebrais (AVC), traumas crânio encefálicos e doenças neurológicas degenerativas como<br />

Esclerose Lateral Amiotrófica, Parkinson, Alzheimer, Demências Distrofia muscular,<br />

câncer de cabeça e pescoço, medicamentos que alteram a produção de saliva , entre outras.<br />

Quando a deglutição se altera, existindo riscos de aspiração ou de subnutrição, estamos<br />

diante da disfagia. A disfagia não é uma doença, mas sim, um sintoma de que existe uma<br />

doença em curso. Às vezes, a disfagia é uma seqüela de um problema anterior, como no<br />

caso dos traumas encefálicos ou AVCs. Poderíamos dizer que qualquer dificuldade<br />

encontrada no processo de deglutição, ocorrida durante o transporte do alimento da boca até<br />

11


o estômago, pode ser chamada de disfagia. A disfagia compromete tanto a parte respiratória<br />

do indivíduo como a sua nutrição. Além disto, a dificuldade de deglutir cria problemas<br />

sociais pois a família isola do seu convívio o indivíduo que tem dificuldades para deglutir.<br />

A justificativa é a de que não é nada agradável comer com alguém que tosse o tempo todo,<br />

ou pigarreia durante as refeições, ou mesmo vive engasgando.<br />

Deglutir é um ato tão natural, e rápido, que jamais pensamos nele de forma<br />

consciente. A deglutição se processa em quatro fases: a primeira fase, chamada<br />

preparatória, nada mais é do que a preparação do alimento para ser deglutido e é neste<br />

instante que os dentes terão uma enorme importância, pois esta fase, corresponde à<br />

mastigação propriamente dita. Num primeiro momento vamos cortar o alimento com os<br />

dentes anteriores. Levamos este alimento para os dentes posteriores que dão início ao<br />

processo de trituração e amassamento. Após o alimento estar transformado em um bolo<br />

coeso, será levado para trás, pela ação ondulatória da língua. Esta fase, onde o bolo<br />

caminha da parte anterior da boca até a oro faringe, é chamada de oral. Quando o bolo<br />

passa da boca para a faringe, iniciamos a fase faríngea e, em seguida, ao penetrar no<br />

esôfago, a fase esofágica. Em cada fase acontecem um número imenso de pequenas outras<br />

ações que, quando não ocorrem de maneira correta e encadeada, podem levar ao engasgo e<br />

até à aspiração com penetração do alimento na via aérea, levando à pneumonia.<br />

Os problemas mais importantes que podem acontecer durante a deglutição, quando<br />

nos tornamos mais velhos, são decorrentes de ações motoras mais lentificadas ou<br />

descoordenadas. Mas os dentes, por não serem cuidados de forma adequada, acabam<br />

tornando-se a causa principal dos distúrbios da deglutição.<br />

É normal, no envelhecimento, a diminuição da quantidade de saliva na boca, seja<br />

pela idade, seja por alguns tipos de medicamentos que passamos a ingerir. É normal, ainda,<br />

a lentificação dos processos de mastigar e engolir. Escolha de alimentos mais moles (quase<br />

sempre por problemas dentários), comer só uma refeição e à noite, um pequeno lanche,<br />

também são considerados hábitos normais dos idosos. O trânsito do bolo alimentar também<br />

se lentifica e, às vezes, pode estar discretamente descoordenado. Sobras de pequenas<br />

quantidades nos seios piriformes e um pouco de tosse, também fazem parte da normalidade<br />

ao envelhecer. Às vezes, até a aspiração, em pequenos níveis, pode ser considerada como<br />

normalidade.<br />

O que não é normal? Podemos considerar como indicativos de alterações problemas<br />

do tipo: boca muito seca ou a presença de baba; grandes dificuldades para mastigar;<br />

dificuldade de manter o alimento na boca; movimentos repetitivos e incoordenados da<br />

língua e da mandíbula durante a mastigação; ficar deglutindo várias vezes o mesmo<br />

alimento que foi colocado na boca; dificuldade para iniciar a deglutição; mudança da<br />

postura da cabeça no momento da deglutição; tosse e engasgos freqüentes; refluxo nasal;<br />

ficar constantemente asfixiado durante as refeições; muito cansaço para comer; sobrar<br />

restos de comida na boca após a refeição e não notar; pigarro, mal hálito; febres constantes;<br />

a voz ficar rouca logo após as refeições e a mudança nos hábitos alimentares, como a<br />

escolha de alimentos mais pastosos ou evitar comer. A estes sintomas chamamos de<br />

disfagia, sendo necessário acompanhamento médico, e fonoaudiológico para reabilitar a<br />

função de deglutição. Tal reabilitação implica desenvolver novas formas de lidar com os<br />

alimentos, facilitando o ato de deglutir para evitar ou diminuir os engasgos e,<br />

consequentemente, os problemas deles decorrentes.<br />

12


Enfim...<br />

O fonoaudiólogo foi ensinado a trabalhar com grandes alterações e patologias<br />

consideradas graves. Pequenos problemas, coisas comuns de nosso dia a dia, não nos<br />

parecem importantes ou mesmo relevantes. Poucos de nós, sejamos fonoaudiólogos,<br />

médicos ou dentistas damos ouvidos para queixas como “não poder comer empadas”,<br />

“fazer barulho ao tomar café”, “não poder rezar mais a missa no púlpito em sua paróquia ou<br />

não poder comer mais à mesa com sua família”. Com tanta coisa importante acontecendo,<br />

quem iria se preocupar com estas bobagens? É claro que também sabemos que estes são<br />

problemas menores e que não são de risco para a vida. Mas, e quem os possui? Será que<br />

tais pessoas também acham que são problemas menores e que não merecem ser tratados?<br />

Será que estes problemas são sempre sem risco para a vida? Ou será que um engasgo aqui<br />

outro ali não poderiam levar a uma pneumonia que por sua vez, poderia provocar a morte<br />

do indivíduo? Mesmo que não leve a morte, a qualidade de vida deve ser sempre a melhor<br />

possível, e, se com ações simples nós podemos devolver a estes indivíduos uma melhor<br />

condição de vida, por que não fazê-lo? Conhecer o sistema sensório motor em<br />

profundidade, conhecer as pequenas variações entre os indivíduos, conhecer<br />

detalhadamente a musculatura, a inervação e a fisiologia é uma obrigação de todos os<br />

profissionais que trabalham nesta área. Este conhecimento pode-nos ajudar na solução de<br />

pequenos e grandes problemas. É de nossa responsabilidade divulgar, entre outros<br />

profissionais, estes conhecimentos e a possibilidade de tratar os problemas relacionados à<br />

motricidade oral. Os distúrbios da comunicação, gerados por alterações nos órgãos fono<br />

articulatórios são, em geral, de fácil tratamento e, quando bem cuidados, geram bem estar<br />

físico e emocional para os pacientes. A fonoaudiologia tem áreas específicas de<br />

conhecimento. Obviamente, nenhuma área deve ser compreendida isoladamente porém, o<br />

aprofundamento em cada uma destas áreas em muito nos auxilia na superação dos<br />

problemas com maior habilidade e rapidez.<br />

13


BIBLIOGRAFIA<br />

BOSI, E. (1979). Lembranças de Velhos. T.A. Queiroz, Editor. São Paulo.<br />

BURNET, C. A. & CLIFFORD, T.J. (1992). A preliminary investigation into the effect of<br />

increased oclusal vertical dimension on mandibular movement during speech. Journal of<br />

Dentistry, 20:221 – 224.<br />

CASTOR, W. O. (1983). The role of nutrition in human aging. In D. Platt (Ed.), Geriatrics<br />

2. New York: Springer – Verlag.<br />

CORSO, J. F. (1981). Aging sensory systems and perception. New York: Praeger.<br />

<strong>DA</strong>WSON, P. E. (1993). Avaliação, diagnóstico e tratamento dos problemas oclusais.<br />

Tradução de Silas da Cunha Ribeiro, São Paulo: Artes Médicas.<br />

DODDS, W.J. (1989). The physiology of swallowing. Dysphagia, 3, 171 –178.<br />

EKBERG, O. & FEINBERG, M.J. (1991). Altered swallowing function in elderly patients<br />

without dysphagia: Radiological findings in 56 cases. American Journal of Radiology, 156<br />

(6): 1181 - 1184. Baltimore, William & Wilkins.<br />

ERGUN G. A. & MISKOVITZ P. F. (1992). Aging and the esophagus: common pathologic<br />

conditions and their effect upon swallowing in the geriatric population. Dysphagia 7:58 –<br />

63.<br />

FAHMY, F. M. & KHARAT, D. U. (1990). A study of importance of the neutral zone in<br />

complete dentures. The Journal of Dentistry, 64:459 – 613.<br />

FREDERICK, M.G. , OTT, D. J. , GRISHAW, E. K. , GELFAND, D. W. & CHEN, M. Y.<br />

(1996). Functional abnormalities of the pharynx: A prospective analysis of radiographic<br />

abnormalities relative to age and symptoms. American Journal of Roentgenology; 166 (2)<br />

353 - 357.<br />

GROHER, M.E. & GONZALEZ, E. E. (1992). .Mechanical disorders of swallowing. In M.<br />

E. Groher (Ed.), Dysphagia: Diagnosis and management (2 nd ed.). Boston: Butterworth –<br />

Heinemann.<br />

GOLDSTEIN, J. C. ; KASHIMA, H. K.& KOOPMANN, C. F. (1989). Geriatric<br />

Otorhinolaryngology. The American Academy of Otolaryngology – Head and Neck<br />

Surgery, INC. Toronto.<br />

14


GRISHAW, E.K. , OTT, D. J. , FREDERICK, M. G. , GELFANG, D.W. & CHEN, M.Y.<br />

(1996). Functional abnormalities of the esophagus: A prospective analysis of radiographic<br />

findings relative to age and symptoms. American Journal of Roentgenology; 167 (3): 719 -<br />

723.<br />

HAD<strong>DA</strong>D, E. G. M. (1986). A Ideologia da Velhice. Cortez Editora.<br />

JONES, B.; DONNER, M.W. (1994). Abnormalities of Pharyngeal Function, em Textbook<br />

of Gastrointestinal Radiology, 16 (1). Philadelphia, Saunders.<br />

KAZANDJIAN, M. S. (1997). Communication and Swallowing Solutions for the<br />

ALS/MND Community. A CINI Manual. Singular Publishing Group. INC. San Diego –<br />

London.<br />

KENT, G. (1992). Effects of osseointegrated implants on psychological and social wellbeing:<br />

a literature rewiew. The Journal of Prosthetic Dentistry, 68:515 – 518.<br />

LOGEMANN, J. A. (1990). Head and Neck diseases in the elderly: Effects of aging on the<br />

swallowing mechanism. Otolaryngol Clin North Am 23: (6) 1045 – 1056.<br />

MOORE, C. (1993). Symmetry of mandibular muscle activity as an index of coordenative<br />

strategy. Journal of Speech and Hearing Research, 16:1145 – 1157.<br />

NOGUEIRA, J. S., COMPAGNONI, M. A., RUSSI, S., LOMBARDO, J. G. & MOLLO<br />

JR, F.A. (1991). Fonética em prótese total: aplicação clínica da palatografia. Revista<br />

Gaúcha de Odontologia, 39:333 – 335.<br />

PERLMAN, A. L. (1991). The neurology of swallowing. Seminars in Speech and<br />

Language, 12, 171 – 184.<br />

PERRIER, P., OSTRY, D. J. & LABOISSIÈRE, R. (1996). The equilibrium point<br />

hypothesis and its application to speech motor control. Journal of Speech and Hearing<br />

Research, 39:365 – 378.<br />

ROBBINS, J., HAMILTON, J.W., LOF, G. L. & KEMPSTER, G. B. (1992).<br />

Oropharyngeal swallowing in normal adults of different ages. Gastroenterology, 103 (3):<br />

823 - 829.<br />

ROGERS, J. C. (1982). An Assessment of the Feeding Behaviors of the Institutionalized<br />

Elderly. The American Journal of Occupational Therapy; Volume 36 Number 6, June.<br />

RUSSI, S., LOMBARDO, J.G., COMPAGNONI, M. A. & NOGUEIRA, J. S. (1992).<br />

Fonética em prótese total: estudo palatográfico dos sons “G”, “R”, “L”. Revista Gaúcha de<br />

Odontologia, 40:417-420.<br />

RUSSO, I. C. P. & BEHLAU, M. (1993). Percepção da fala; análise acústica do português<br />

brasileiro. São Paulo: Lovise.<br />

15


SHAW, D.W., COOK, I.J. , GABB, M. , HOLLOWAY R. H. , SIMULA, M.E. &<br />

PANAGOPOULOS, V. (1995). Influence of normal aging on oral pharyngeal and upper<br />

esophageal sphincter function during swallowing. American Journal of Physiology; 268 (3<br />

pt 1): G389 - 396.<br />

WILSON, J. A. , PRYDE A. , MACINTYRE C.C. , MARAN A. G. & HEADING R.C.<br />

(1990). The effects of age, sex, and smoking on normal pharingoesophageal motility.<br />

American Journal of Gastroenterology; 85(6): 686 - 691.<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!