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Revista Triratna No. 2 - Colegiado Buddhista Brasileiro

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mesmos e para os outros. experiência. Há um sentido de separação que estabelece<br />

duas realidades substanciais. Assim: a mente é tomada<br />

A fim de estabelecer a autoridade temos que saber o que é como uma coisa imaterial e o corpo como uma coisa<br />

nosso, e estar em contato com uma realidade mais material – eles são diferentes. Aqui, novamente a mente em<br />

fundamental. Por onde começamos? As pessoas que si mesma tem modos racionais e irracionais separados, os<br />

buscam pela liberdade dentro de si mesmas sempre se quais não dialogam entre si. Em todas as instâncias da<br />

dirigem à mente, à consciência, ao coração ou à alma. Esses divisão o resultado é um aspecto que tenta dominar e<br />

são alguns dos termos que são usados – mas, enquanto controlar o outro. Mas a mente não pode controlar ou<br />

houver o não-saber, somente teremos uma idéia parcial do suprimir os sentimentos, a doença e o envelhecimento do<br />

que coração, alma ou mente de fato são. Pensamos em um corpo. A racionalidade não pode superar o pesar, a solidão e<br />

“caminho interior” e, então, sentimos que a mente está a paixão; e sem felicidade nós definhamos. Assim, com a<br />

dentro de algo; então ela deve estar dentro de nossos<br />

corpos, e tudo o mais que não é mente e, portanto, de uma<br />

divisão há inadequação e conflito.<br />

natureza menor e não espiritual, está “lá fora”. Essa forma Essa experiência dissonante é aquilo na qual nossa<br />

de ver as coisas certamente nos dá algo para trabalhar em linguagem e cultura estão baseados, mas a experiência a<br />

termos de nos tornarmos mais conscientes de nossos qual o Buddha ensinou e encorajou é de uma realidade<br />

processos psicológicos e emocionais, mas leva a uma idéia diferente e abrangente que surge co-dependentemente.<br />

de que se é uma entidade que mora separada de todo o Surgimento co-dependente significa que aquilo que é<br />

resto. Ela traz uma incerteza em termos de como relacionar experienciado não é objetivamente real nem<br />

essa mente com tudo o mais que está separado dela. O subjetivamente induzido. Ele não está “lá fora”, nem é<br />

efeito dualístico continua: a mente está dentro do corpo; “somente algo da minha cabeça”. Nem pode ser atribuído a<br />

assim, a mente está separada deste corpo. A mente pode um único agente – deus, céus ou demônio – ou a um agente<br />

observar pensamentos e sentimentos; então, está único - destino, kamma, ignorância, etc. “Interior” e<br />

separada dele. O que podemos, então, fazer com aquilo que “exterior” são apenas modos de atenção; e todos os<br />

está do outro lado da cerca? Não importa mais? Existe um agentes, forças e influências são variáveis. Não podemos<br />

(2)<br />

solipsismo aqui: nada existe exceto minha mente; estou categoricamente negar o efeito do kamma ou a existência<br />

aqui; tudo lá é somente um sonho. Com essa visão nós nos do self, deuses e de todo o resto, mas seus efeitos<br />

dissociamos; pode haver uma atitude condescendente em dependem da atenção e da autoridade que damos à eles. Se<br />

relação ao mundo dos fenômenos que mancha a fossem verdades últimas ou absolutas, a libertação<br />

experiência com a qualidade do desgosto ou do auto- dependeria deles mais do que do modo como são lidados.<br />

centramento. E o que dizer das outras pessoas? Se nos Em outras palavras, a experiência da verdade ou liberdade<br />

relacionamos com elas dessa forma, então isso não derradeira dependeria de forças maiores que ela mesma – o<br />

funcionará em termos de fazer surgir um entendimento que negaria o caráter último da verdade – e não haveria<br />

mútuo.<br />

prática ou caminho no presente. Da mesma forma, negar a<br />

Além disso, imaginando que a mente está dentro de algo,<br />

existência relativa de deuses, selves, demônios, kamma,<br />

ignorância, virtude e o resto seria anular a necessidade e as<br />

isso faz com que o foco da meditação seja bem estreito.<br />

Tenta-se impedir as coisas vindas de fora; a mente se torna<br />

características do Caminho.<br />

entediada e restrita. Pode também ser o caso de que esse Assim, o surgimento co-dependente é o Caminho do Meio.<br />

gesto de mover-se para dentro faça surgir uma Ele permite a existência relativa e efeitos discerníveis do<br />

autoconsciência muito forte. E pode haver várias atitudes que quer que surja, situando assim o caminho no mundo<br />

associadas com isso: pode-se sentir ameaçado ou sentir a manifesto da experiência. Conseqüentemente, esse<br />

necessidade de criar uma máscara, como no caso de ser próprio contexto de vida requer atenção cuidadosa e<br />

colocado em evidência por um grupo. Assim, a participação vigilante se quisermos seguir um caminho e<br />

autoconsciência é separativa; ela não estimula a e v i t a r o s e x t re m o s d a “ e x i s t ê n c i a ” ( c o i s a s<br />

benevolência ou a confiança e dessa forma torna mais independentemente reais) e “não-existência” (coisas que<br />

difícil o perceber a própria fraqueza. A meditação, quando<br />

feita dessa maneira, pode ser muito difícil; a mente não<br />

são uma completa ilusão).<br />

quer se abrir; ela não se assentará.<br />

Dessa forma, quando nos aproximamos da arena da mente,<br />

não deveríamos tornar a mente num demônio, num deus ou<br />

O lugar da atenção pacífica é, em última análise, nem num eu. A mente não é uma coisa, mas não é nada: é um<br />

externo nem interno. Podemos ficar presos no nível externo saber no qual fatores relacionados surgem e cessam. A<br />

ou no nível interno. Se ficarmos presos no externo, o nível mente é mais como uma ressonância, uma vibração<br />

de atenção será errático: há o sentimento de ser puxado por empática do que uma coisa. Cada momento de ressonância<br />

todos os lados pelas forças sociais, sensoriais, ou depende e se expressa em termos de formas, sentir,<br />

econômicas. Focando no estado interno, nossas intenções perceber, atividades mentais e o processo da consciência –<br />

podem ser distorcidas na direção de padrões que se relaciona com a discriminação sensorial e mental.<br />

autoconscientes tais como a arrogância, a dúvida e o medo. Essa coisa experienciada ocorre através de um processo no<br />

Ambos os fracassos estão associados com a inabilidade em qual a consciência, impressão sensorial e volição têm<br />

estabilizar, compreender ou ser empático com a papéis chaves – e esses fatores neles mesmos influenciam<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Triratna</strong> - Página22

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