religião e pragmatismo em william james - Universidade Federal de ...

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14.06.2013 Views

Para isso, ele identifica o “mais” com o “eu subconsciente”. A idéia de que exista algo inconsciente ou subconsciente influindo nos fenômenos religiosos foi exposta brevemente na sessão sobre conversão. Agora James propõe que o “mais” ao qual na experiência religiosa nos sentimos ligados é, em seu lado mais próximo, a continuação subconsciente da nossa vida consciente. Desse modo ele explica o fenômeno religioso através de uma base reconhecida pela ciência, e ao mesmo tempo justifica a afirmação de que o homem religioso é movido por uma força externa. Na vida religiosa sente-se um controle “superior”, e através dessa hipótese, esse controle vem de faculdades superiores ocultas de nossa própria mente. Assim, o sentido de união com o poder além de nós é o sentido de alguma coisa que se diria concretamente verdadeira. Mas essa posição é apenas uma porta para a ciência das religiões, e as dificuldades aparecem logo depois que ela é atravessada. Cada religião interpretará essa posição de uma maneira diferente, e seguir qualquer uma delas seria pelo puro exercício da própria liberdade pessoal. Cada um constrói a sua própria religião da maneira mais congruente com as suas suscetibilidades pessoais, entre as quais as intelectuais representam um papel decisivo. E conclui, “a pessoa consciente é contínua com um eu mais amplo através do qual sobrevém a experiência salvadora, um conteúdo positivo de experiência religiosa que, segundo me parece, é literal e objetivamente verdadeiro em toda a sua extensão” (Idem Ibidem). James defende ainda a posição de que os limites mais distantes do nosso ser mergulham numa dimensão inteiramente outra do mundo sensível e meramente “compreensível”. E na medida em que os nossos impulsos ideais se originam dela, estamos conectados e ela em um sentido muito íntimo. Sendo que essa região produz efeitos nesse mundo, então ela não é meramente ideal. E “como aquilo que produz efeitos dentro de outra realidade precisa ser chamado de realidade também, a mim me parece não haver uma desculpa filosófica para qualificar de irreal o mundo invisível ou místico”. A noção de Deus segue o mesmo princípio, “Deus é real porque produz efeitos reais” (Idem Ibidem). E a maioria dos homens religiosos crêem que não só eles, mas todo o universo está a salvo nas mãos de Deus. Deus seria a garantia de uma ordem ideal, que será permanentemente preservada. 59

As conclusões finais de James sobre a exploração religiosa, vista sob a ótica do pragmatismo, estão contidas nos últimos parágrafos de seu livro, e tomo a liberdade de fazê-las as minhas próprias conclusões também a respeito desse trabalho. “Segundo a minha maneira de ver, o modo pragmático de considerar a religião é o mais profundo. Dá-lhe corpo assim como lhe dá alma, fá-lo reivindicar para si, como tudo o que é real precisa reivindicar, algum reino característico de fatos. O que são os fatos mais caracteristicamente divinos, independentemente do influxo real de energia no estado de fé e no de oração, não sei. Mas a supercrença à qual estou pronto para aventurar-me pessoalmente é que eles existem. Toda a corrente da minha educação tende a persuadir-me de que o mundo da nossa consciência presente é apenas um dentre os inúmeros mundos de consciência que existem, e que esses outros mundos devem conter experiências providas também de um significado para a nossa vida; e que embora tais experiências e as experiências deste mundo sejam discretas, em certos pontos se tornam contínuas, e energias mais elevadas filtram-se até nós. “Sendo fiel, na medida das minhas pobres forças, a esta supercrença, dou a impressão a mim mesmo de que me mantenho mais são e mais verdadeiro. Está visto que posso colocar-me na atitude do cientista sectário e imaginar vividamente que o mundo das sensações, das leis e dos objetos científicos pode ser tudo. Entretanto, (...) o mundo real tem, seguramente, um temperamento diferente – mais intricadamente construído do que o permite a ciência física. Nestas circunstâncias, tanto a minha consciência objetiva quanto a subjetiva me fazem abraçar, ambas, estreitamente, a supercrença que expresso. “Quem sabe se a fidelidade dos indivíduos aqui embaixo às suas miseráveis supercrenças não seja para ajudar a Deus, na realidade, a ser, por seu turno, mais efetivamente fiel às suas próprias tarefas mais excelsas?” (James, 1995) 60

Para isso, ele i<strong>de</strong>ntifica o “mais” com o “eu subconsciente”. A idéia <strong>de</strong> que<br />

exista algo inconsciente ou subconsciente influindo nos fenômenos religiosos foi exposta<br />

brev<strong>em</strong>ente na sessão sobre conversão. Agora James propõe que o “mais” ao qual na<br />

experiência religiosa nos sentimos ligados é, <strong>em</strong> seu lado mais próximo, a continuação<br />

subconsciente da nossa vida consciente. Desse modo ele explica o fenômeno religioso<br />

através <strong>de</strong> uma base reconhecida pela ciência, e ao mesmo t<strong>em</strong>po justifica a afirmação <strong>de</strong><br />

que o hom<strong>em</strong> religioso é movido por uma força externa. Na vida religiosa sente-se um<br />

controle “superior”, e através <strong>de</strong>ssa hipótese, esse controle v<strong>em</strong> <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>s superiores<br />

ocultas <strong>de</strong> nossa própria mente. Assim, o sentido <strong>de</strong> união com o po<strong>de</strong>r além <strong>de</strong> nós é o<br />

sentido <strong>de</strong> alguma coisa que se diria concretamente verda<strong>de</strong>ira.<br />

Mas essa posição é apenas uma porta para a ciência das religiões, e as<br />

dificulda<strong>de</strong>s aparec<strong>em</strong> logo <strong>de</strong>pois que ela é atravessada. Cada <strong>religião</strong> interpretará essa<br />

posição <strong>de</strong> uma maneira diferente, e seguir qualquer uma <strong>de</strong>las seria pelo puro exercício da<br />

própria liberda<strong>de</strong> pessoal. Cada um constrói a sua própria <strong>religião</strong> da maneira mais<br />

congruente com as suas suscetibilida<strong>de</strong>s pessoais, entre as quais as intelectuais representam<br />

um papel <strong>de</strong>cisivo. E conclui, “a pessoa consciente é contínua com um eu mais amplo<br />

através do qual sobrevém a experiência salvadora, um conteúdo positivo <strong>de</strong> experiência<br />

religiosa que, segundo me parece, é literal e objetivamente verda<strong>de</strong>iro <strong>em</strong> toda a sua<br />

extensão” (Id<strong>em</strong> Ibid<strong>em</strong>).<br />

James <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> ainda a posição <strong>de</strong> que os limites mais distantes do nosso ser<br />

mergulham numa dimensão inteiramente outra do mundo sensível e meramente<br />

“compreensível”. E na medida <strong>em</strong> que os nossos impulsos i<strong>de</strong>ais se originam <strong>de</strong>la, estamos<br />

conectados e ela <strong>em</strong> um sentido muito íntimo. Sendo que essa região produz efeitos nesse<br />

mundo, então ela não é meramente i<strong>de</strong>al. E “como aquilo que produz efeitos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

outra realida<strong>de</strong> precisa ser chamado <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> também, a mim me parece não haver uma<br />

<strong>de</strong>sculpa filosófica para qualificar <strong>de</strong> irreal o mundo invisível ou místico”. A noção <strong>de</strong><br />

Deus segue o mesmo princípio, “Deus é real porque produz efeitos reais” (Id<strong>em</strong> Ibid<strong>em</strong>). E<br />

a maioria dos homens religiosos crê<strong>em</strong> que não só eles, mas todo o universo está a salvo<br />

nas mãos <strong>de</strong> Deus. Deus seria a garantia <strong>de</strong> uma ord<strong>em</strong> i<strong>de</strong>al, que será permanent<strong>em</strong>ente<br />

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