religião e pragmatismo em william james - Universidade Federal de ...

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14.06.2013 Views

possível que, naquele momento, eu tenha sentido o que alguns santos disseram ter sentido sempre, a indemonstrável mas irrefragável certeza de Deus?” (Symonds apud James, 1995). Essa questão traz de volta a discussão sobre a súbita compreensão da presença imediata de Deus, já discutida na sessão sobre a Realidade do Invisível. E é um traço bastante característico da consciência mística e da chamada “consciência cósmica”. Existem também aqueles que cultivam metodicamente essa consciência cósmica ou mística. Hindus, budistas, maometanos e cristãos, todos eles cultivaram metodicamente. Na Índia, por exemplo, o treinamento da visão mística é conhecido como Ioga, que significa a união experimental do indivíduo com o divino. James define a Ioga da seguinte maneira, “Baseia-se no exercício perseverante; e a dieta, a postura, a respiração, a concentração intelectual e a disciplina moral variam ligeiramente nos diferentes sistemas que a ensinam. O iogue, ou discípulo, entra na condição denominada Samadhi, e ‘se vê face a face com fotos que nenhum instinto ou razão ode jamais conhecer’” (Idem Ibidem). Os vedantistas dizem que podemos entrar em contato esporadicamente com a superconsciência sem a disciplina prévia, mas ela seria impura. A prova de pureza acontece de forma empírica, quando os seus frutos são bons para toda a vida. No cristianismo também encontramos místicos. A base do sistema é a “oração” ou meditação, a metódica elevação da alma a Deus. A primeira coisa a ser feita na oração é o desapegar-se da mente de sensações externas, pois estas interferem na sua concentração em coisas ideais. Mas não cabe colocar todos os estádios da vida mística cristã, pois essas experiências poderia ser infinitamente variadas. E o que interessa é o seu valor com relação à revelação. Os estados místicos em geral apontam para uma direção teórica bem perceptível, uma delas é o otimismo e a outra é o monismo. A passagem da consciência normal para a consciência mística é como se fosse uma passagem do menos para o mais, de uma pequenez para uma vastidão, de uma agitação para um repouso. E embora esses estados se dirijam muito mais para o sim do que para o não, é com uma série de negativas que ele é geralmente retratado. Dionísio o Areopagita descreve a verdade absoluta exclusivamente por meio de negativas. 47

“A causa de todas as coisas não é a alma nem o intelecto; nem tem imaginação, opinião, ou razão, ou inteligência; nem é razão ou inteligência; não é falado nem pensado. Não é número, nem ordem, nem magnitude, nem pequenez, nem igualdade, nem desigualdade, nem similaridade, nem dissimilaridade. Não está de pé, nem se move, nem descansa. ... Não é essência, nem eternidade, nem tempo. Nem o contato intelectual lhe pertence. Não é ciência nem verdade. Não é nem mesmo realeza ou sabedoria; não um; não unidade; não divindade ou bondade; nem sequer espírito qual o conhecemos,” (tradução de T. Davidson, em Journal of Speculative Philosophy apud James, 1995) Mas essa definição feita por negativas não ocorre por a verdade ser menor do que elas, mas por ela ser infinitamente maior. Por isso muitas vezes surgem expressões paradoxais como quando Boehme escreve sobre o Amor Primevo: “pode adequadamente comparar-se ao Nada, pois é mais profundo do que qualquer Coisa, e é como nada em relação a todas as coisas, visto que não é compreensível por nenhuma delas. E por ser nada respectivamente, está, portanto, livre de todas as coisas e é aquele único bem que o homem não pode expressar nem pronunciar o que é, não havendo nada a que se possa comparar, para expressá-lo” (Boehme, 1901 apud James 1995). A grande consecução mística é a superação de todas as barreiras entre o eu e o divino. No Hinduísmo, no Neoplatonismo, no misticismo cristão, entre outras, todas elas tem como discurso a total unidade do homem com Deus, eles se tornam um com o Absoluto. Em resumo, James caracteriza a os traços gerais da consciência mística da seguinte maneira: “Ela é, em conjunto, panteísta e otimista, ou pelo menos o oposto do pessimismo. É antinaturalista e se harmoniza melhor com as almas nascidas duas vezes e com os estados de espírito chamados do outros mundo” (James, 1995) E encerra a conferência sobre o misticismo com a resposta da pergunta: 48

“A causa <strong>de</strong> todas as coisas não é a alma n<strong>em</strong> o intelecto; n<strong>em</strong> t<strong>em</strong><br />

imaginação, opinião, ou razão, ou inteligência; n<strong>em</strong> é razão ou inteligência; não<br />

é falado n<strong>em</strong> pensado. Não é número, n<strong>em</strong> ord<strong>em</strong>, n<strong>em</strong> magnitu<strong>de</strong>, n<strong>em</strong><br />

pequenez, n<strong>em</strong> igualda<strong>de</strong>, n<strong>em</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, n<strong>em</strong> similarida<strong>de</strong>, n<strong>em</strong><br />

dissimilarida<strong>de</strong>. Não está <strong>de</strong> pé, n<strong>em</strong> se move, n<strong>em</strong> <strong>de</strong>scansa. ... Não é essência,<br />

n<strong>em</strong> eternida<strong>de</strong>, n<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po. N<strong>em</strong> o contato intelectual lhe pertence. Não é<br />

ciência n<strong>em</strong> verda<strong>de</strong>. Não é n<strong>em</strong> mesmo realeza ou sabedoria; não um; não<br />

unida<strong>de</strong>; não divinda<strong>de</strong> ou bonda<strong>de</strong>; n<strong>em</strong> sequer espírito qual o conhec<strong>em</strong>os,”<br />

(tradução <strong>de</strong> T. Davidson, <strong>em</strong> Journal of Speculative Philosophy apud James,<br />

1995)<br />

Mas essa <strong>de</strong>finição feita por negativas não ocorre por a verda<strong>de</strong> ser menor do<br />

que elas, mas por ela ser infinitamente maior. Por isso muitas vezes surg<strong>em</strong> expressões<br />

paradoxais como quando Boehme escreve sobre o Amor Primevo:<br />

“po<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quadamente comparar-se ao Nada, pois é mais profundo do<br />

que qualquer Coisa, e é como nada <strong>em</strong> relação a todas as coisas, visto que não é<br />

compreensível por nenhuma <strong>de</strong>las. E por ser nada respectivamente, está,<br />

portanto, livre <strong>de</strong> todas as coisas e é aquele único b<strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong> não po<strong>de</strong><br />

expressar n<strong>em</strong> pronunciar o que é, não havendo nada a que se possa comparar,<br />

para expressá-lo” (Boehme, 1901 apud James 1995).<br />

A gran<strong>de</strong> consecução mística é a superação <strong>de</strong> todas as barreiras entre o eu e o<br />

divino. No Hinduísmo, no Neoplatonismo, no misticismo cristão, entre outras, todas elas<br />

t<strong>em</strong> como discurso a total unida<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> com Deus, eles se tornam um com o<br />

Absoluto. Em resumo, James caracteriza a os traços gerais da consciência mística da<br />

seguinte maneira: “Ela é, <strong>em</strong> conjunto, panteísta e otimista, ou pelo menos o oposto do<br />

pessimismo. É antinaturalista e se harmoniza melhor com as almas nascidas duas vezes e<br />

com os estados <strong>de</strong> espírito chamados do outros mundo” (James, 1995)<br />

E encerra a conferência sobre o misticismo com a resposta da pergunta:<br />

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