religião e pragmatismo em william james - Universidade Federal de ...
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ecursos heróicos da alma e neutralizado e purificado pelo sofrimento. O ascetismo t<strong>em</strong> o<br />
mesmo princípio, acompanhando a maneira mais profunda <strong>de</strong> lidar com a dádiva da<br />
existência. Então parece justo que ele não seja simplesmente ignorado, mas t<strong>em</strong> que ser<br />
trabalhado a fim <strong>de</strong> transformar os seus frutos <strong>em</strong> algo útil. “O culto do luxo e da riqueza<br />
materiais, que constitui tão gran<strong>de</strong> porção do ‘espírito’ da nossa época, por ex<strong>em</strong>plo, não<br />
explica, até certo ponto a ef<strong>em</strong>inação e a <strong>de</strong>svirilização? O modo exclusivamente simpático<br />
e faceto com que se educa a maioria das crianças nos dias que corr<strong>em</strong> – tão diferente da<br />
educação <strong>de</strong> centena <strong>de</strong> anos atrás, sobretudo nos centros evangélicos – não terá por<br />
conseqüência, <strong>em</strong> que pese às suas muitas vantagens, certa ausência <strong>de</strong> fibra? Não haverá<br />
por certo alguns pontos <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> uma disciplina ascética renovada?” (Id<strong>em</strong> Ibid<strong>em</strong>)<br />
Primeiramente, talvez po<strong>de</strong>riam haver alternativas além do ascetismo, como o<br />
militarismo, o atletismo, etc. De fato, a guerra e a aventura imped<strong>em</strong> que os seus<br />
participantes se comport<strong>em</strong> com d<strong>em</strong>asiada <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za. Nessas situações os esforços e as<br />
ações são tão vigorosos que qualquer <strong>de</strong>sconforto, a fome, a dor, o frio, <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter<br />
qualquer função dissuasiva, seja ela qual for.<br />
Mas quando comparados, os santos e os militares, são encontradas diferenças<br />
muito acentuadas <strong>em</strong> todos os concomitantes espirituais. Enquanto o militar se mostra<br />
bárbaro d<strong>em</strong>ais, selvag<strong>em</strong> d<strong>em</strong>ais, cruel d<strong>em</strong>ais; o santo se mostra diametralmente o<br />
oposto. O soldado t<strong>em</strong> sua vida voltada somente para a <strong>de</strong>struição e nada mais que isso.<br />
Mas será que essa organização complexa <strong>de</strong> irracionalida<strong>de</strong> e crime é a única saída contra a<br />
ausência <strong>de</strong> fibra? Quando feita essa pergunta, o ascetismo passa a ser visto <strong>de</strong> uma<br />
maneira mais con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte. É preciso <strong>de</strong>scobrir um equivalente social à guerra, algo que<br />
caracterize a vida estrênua, algo que possa ser heróico, que seja tão universal quanto a<br />
guerra e que no entanto seja compatível com o eu espiritual. Uma alternativa é a pobreza.<br />
“A pobreza, <strong>de</strong> feito, é a vida estrênua – s<strong>em</strong> charangas, n<strong>em</strong> uniformes,<br />
n<strong>em</strong> aplausos populares histéricos, n<strong>em</strong> mentiras, n<strong>em</strong> circunlóquios; e quando<br />
v<strong>em</strong>os o modo com que a acumulação <strong>de</strong> riquezas entra como i<strong>de</strong>al nos<br />
próprios ossos e tutanos da nossa geração, perguntamos a nós mesmos se uma<br />
revivescência da crença <strong>de</strong> que a pobreza é uma digna vocação religiosa não<br />
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