religião e pragmatismo em william james - Universidade Federal de ...

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14.06.2013 Views

outra, mas apenas uma peculiaridade psicológica, “o fato de que no recebedor da graça mais instantânea temos um desses Sujeitos que estão de posse de ampla região em que o trabalho mental prossegue subliminalmente, e do qual podem irromper experiências invasivas, que perturbam de repente o equilíbrio da consciência primária” (Idem Ibidem). Enquanto que na conversão gradual o processo, em sua maioria, é consciente. Contudo, o próprio James diz que não vê por que alguém possa objetar a esse modo de ver. De acordo com ele, “se os frutos para a vida do estado de conversão são bons, devemos idealizá-lo e venerá-lo, ainda que seja uma peça de psicologia natural; em caso contrário, devemos livrar-nos dele o mais depressa possível, seja qual for o ser sobrenatural que possa tê-lo inspirado” (Idem Ibidem). Mas mesmo tendo esses “frutos para a vida”, aqueles que passaram por uma conversão súbita, com exceção dos santos mais notáveis, não irradiam nenhum esplendor digno de uma criatura totalmente sobrenatural, eles não se diferenciam dos outros homens. Como classe, os homens convertidos não se distinguem dos naturais. A “escala de excelência espiritual” mostra diferenças contínuas entre os homens. Além disso, esse estado de excelência espiritual se mostra relativo de pessoa para pessoa, “quando tocamos nosso próprio limite superior e vivemos em nosso mais alto centro de energia, podemos dizermo-nos salvos, por mais alto que esteja, em relação ao nosso, o centro de outra pessoa. A salvação de um homem pequeno será sempre uma grande salvação e o maior de todos os fatos para ele (...). Se arrumarmos mais ou menos os seres humanos em classes, cada uma das quais representando um grau de excelência espiritual, acredito que encontraremos homens naturais e convertidos, tanto repentina como gradualmente, em todas as classes. As formas que a mudança regenerativa produz não têm, portanto, nenhuma significação espiritual, mas apenas significação psicológica” (Idem Ibidem). Inevitavelmente surge uma pergunta a essa altura, essa posição diminui a importância da conversão súbita quando ela ocorre? O próprio James responde a essa pergunta do seguinte modo, de maneira nenhuma. E cita o professor Coe para complementar o que ele quer dizer, “o critéiro final dos valores religiosos não é psicológico, nem definível em função do como isso acontece, senão algo ético, definível 33

apenas em função do quê se consegue”. Além disso, ele afirma que a remissão do fenômeno a um eu subliminal não exclui de todo a noção da presença direta da Divindade. Pois, “assim como nossa consciência primária plenamente desperta nos abre os sentidos para o toque das coisas materiais, assim também é lógico supor que, se houver agentes espirituais superiores capazes de tocar-nos diretamente, a condição psicológica para que o façam pode ser a nossa posse de uma região subconsciente apta a dar-lhes acesso” (Idem Ibidem). Por isso a noção de subconsciente por certo não deve ser considerada excludente de toda e qualquer noção de um contato superior. Para encerrar o tema da conversão, serão colocados os sentimentos que estão presentes no momento em que ocorre a conversão. O primeiro a ser notado é justamente o sentimento de controle superior. Esse sentimento seria caracterizado basicamente pela fé em algo superior, a confiança e a entrega total a essa entidade. A característica principal desse sentimento é a perda de todas as preocupações, o sentimento de que tudo está bem, a paz, a harmonia, a disposição de ser. Nos cristãos, a certeza da “graça” de Deus, da “salvação”. Outra característica é o sentimento de perceber verdades que antes não eram conhecidas. Mas o mais característico de todos os elementos da crise de conversão é o êxtase da felicidade produzida. Essa felicidade é um estado tão profundo de graça que os sujeitos que a experienciam dificilmente conseguem retratar o que sentem. Apenas para ilustrar esse sentimento vou transcrever um trecho do relato do Presidente Finney contido no livro “As variedades da experiência religiosa” de James: “Todos os meus sentimentos pareciam elevar-se e transbordar; e o meu coração dizia, ‘Quero derramar toda a minha alma aos pés de Deus’. A elevação da minha alma era tão grande que me precipitei para a sala dos fundos do escritório, a fim de rezar” (apud James, 1995). O relato continua mostrando a experiência que o Presidente Finney teve. A última consideração a ser feita diz respeito à questão da transitoriedade ou permanência das conversões repentinas. Mesmo que essas conversões repentinas não sejam duradouras, o que importa é a natureza e a qualidade das mudanças de posição de caráter para níveis mais altos. James faz uma analogia com o amor que, mesmo inconstante, revela novos vôos e arrancadas de idealismo enquanto dura. O que constitui a importância da 34

apenas <strong>em</strong> função do quê se consegue”. Além disso, ele afirma que a r<strong>em</strong>issão do<br />

fenômeno a um eu subliminal não exclui <strong>de</strong> todo a noção da presença direta da Divinda<strong>de</strong>.<br />

Pois, “assim como nossa consciência primária plenamente <strong>de</strong>sperta nos abre os sentidos<br />

para o toque das coisas materiais, assim também é lógico supor que, se houver agentes<br />

espirituais superiores capazes <strong>de</strong> tocar-nos diretamente, a condição psicológica para que o<br />

façam po<strong>de</strong> ser a nossa posse <strong>de</strong> uma região subconsciente apta a dar-lhes acesso” (Id<strong>em</strong><br />

Ibid<strong>em</strong>). Por isso a noção <strong>de</strong> subconsciente por certo não <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada exclu<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> toda e qualquer noção <strong>de</strong> um contato superior.<br />

Para encerrar o t<strong>em</strong>a da conversão, serão colocados os sentimentos que estão<br />

presentes no momento <strong>em</strong> que ocorre a conversão. O primeiro a ser notado é justamente o<br />

sentimento <strong>de</strong> controle superior. Esse sentimento seria caracterizado basicamente pela fé<br />

<strong>em</strong> algo superior, a confiança e a entrega total a essa entida<strong>de</strong>. A característica principal<br />

<strong>de</strong>sse sentimento é a perda <strong>de</strong> todas as preocupações, o sentimento <strong>de</strong> que tudo está b<strong>em</strong>, a<br />

paz, a harmonia, a disposição <strong>de</strong> ser. Nos cristãos, a certeza da “graça” <strong>de</strong> Deus, da<br />

“salvação”. Outra característica é o sentimento <strong>de</strong> perceber verda<strong>de</strong>s que antes não eram<br />

conhecidas.<br />

Mas o mais característico <strong>de</strong> todos os el<strong>em</strong>entos da crise <strong>de</strong> conversão é o<br />

êxtase da felicida<strong>de</strong> produzida. Essa felicida<strong>de</strong> é um estado tão profundo <strong>de</strong> graça que os<br />

sujeitos que a experienciam dificilmente consegu<strong>em</strong> retratar o que sent<strong>em</strong>. Apenas para<br />

ilustrar esse sentimento vou transcrever um trecho do relato do Presi<strong>de</strong>nte Finney contido<br />

no livro “As varieda<strong>de</strong>s da experiência religiosa” <strong>de</strong> James: “Todos os meus sentimentos<br />

pareciam elevar-se e transbordar; e o meu coração dizia, ‘Quero <strong>de</strong>rramar toda a minha<br />

alma aos pés <strong>de</strong> Deus’. A elevação da minha alma era tão gran<strong>de</strong> que me precipitei para a<br />

sala dos fundos do escritório, a fim <strong>de</strong> rezar” (apud James, 1995). O relato continua<br />

mostrando a experiência que o Presi<strong>de</strong>nte Finney teve.<br />

A última consi<strong>de</strong>ração a ser feita diz respeito à questão da transitorieda<strong>de</strong> ou<br />

permanência das conversões repentinas. Mesmo que essas conversões repentinas não sejam<br />

duradouras, o que importa é a natureza e a qualida<strong>de</strong> das mudanças <strong>de</strong> posição <strong>de</strong> caráter<br />

para níveis mais altos. James faz uma analogia com o amor que, mesmo inconstante, revela<br />

novos vôos e arrancadas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alismo enquanto dura. O que constitui a importância da<br />

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