religião e pragmatismo em william james - Universidade Federal de ...
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como os outros elementos, James passa para o outro tipo de experiência religiosa, a mente mórbida. Essas pessoas não conseguem lançar de si nem por um instante o fardo da consciência do mal, estando inevitavelmente destinadas a sofrer com a sua presença. Existem níveis diferentes de mente mórbida, para algumas pessoas, “o mal significa apenas um desajustamento com as coisas, uma correspondência errada entre a vida da pessoa e o ambiente. Um mal dessa ordem é curável, pelo menos em princípio, no plano natural, pois bastará modificar o eu ou as coisas, ou ambos ao mesmo tempo, para que os dois termos sejam levados a ajustar-se e tudo volte a ser alegre como o bimbalhar de um sino de casamento. Para outros, porém, o mal não é apenas uma relação entre o sujeito e determinadas coisas externas, senão algo mais radical e geral, um erro ou vício em sua natureza essencial, que nenhuma alteração do ambiente e nenhum rearranjo do eu interior vingam curar, e que requer um remédio sobrenatural” (Idem Ibidem). A frustração é um traço freqüentemente presente nesse tipo de pensamento, o homem está sempre destinado ao fracasso, nunca ao sucesso. Mas esse é apenas a primeira característica, para essas pessoas, “todos os bens naturais perecem. As riquezas têm asas; a fama é um sopro; o amor, uma fraude; a mocidade, a saúde e o prazer desaparecem” (Idem Ibidem). A vida e sua negação estão sempre juntas, se a vida for boa, a sua negação terá que ser má. Toda a felicidade parece estar contaminada com algum tipo de contradição. “O fato de podermos morrer, de podermos ficar doentes, deixa-nos perplexos; o fato de estarmos por ora vivendo e de estarmos bem é irrelevante para a nossa perplexidade. Precisamos de uma vida não correlacionada com a morte, uma saúde não sujeita à doença, uma espécie de bem que não pereça, um bem, de fato, que suba acima dos Bens da natureza” (Idem Ibidem). Assim como o equilibrado mentalmente não consegue aceitar a existência do mal, o pessimista extremo também não consegue aceitar a existência do bem. Podendo ele sofrer de melancolia no sentido da incapacidade de experienciar um sentimento alegre, ou uma melancolia que é a angústia positiva, um sentimento negativo onde pode predominar a aversão, a irritação e exasperação, a desconfiança de si próprio e o desespero, ou a suspeita, a ansiedade, a trepidação, o medo. 27
Esse sentimento experienciado pelos melancólicos chega a ser tão profundo que o mundo parece alterado para eles. “O mundo se apresenta remoto, estranho, sinistro fantástico. Foi-se-lhe a cor, o seu hálito é frio, não há brilho nos olhos com que ele fita as coisas” (Idem Ibidem). Quando o sentimento chega a esse nível de profundidade, dificilmente a felicidade volta a aparecer para o sujeito. E a felicidade que volta, quando volta, é uma felicidade que é muito mais complexa do que a simples ignorância do mal presentes nos equilibrados mentalmente, é algo que inclui o mal natural como um dos seus elementos, mas que não acha o mal natural um obstáculo e um terror tamanhos, porque agora o vê engolido pelo bem sobrenatural. Desse modo, quando o sujeito se salva ele o faz através de um segundo nascimento, uma espécie de redenção, uma vida mais consciente e mais profunda que a que ele tinha antes. Essa redenção muitas vezes pode ser dar através da religião, e a própria religião encontra nesse tipo de caso o verdadeiro âmago de seu problema, o pedido de socorro. A libertação deve expressar-se de modo tão intenso quanto a lamentação para fazer efeito. A essa altura já é possível perceber claramente o antagonismo entre o equilibrado mentalmente e a alma enferma. O primeiro vê o segundo como sendo desvirtuado e doentio, enquanto que o segundo vê o primeiro como sendo cego e superficial. Na opinião de James, a morbidez mental caracteriza um tipo de experiência mais ampla, e que seu estudo é o que se sobrepõe, ainda que parcialmente. Pois o mero desvio da atenção do mal se constitui um método eficiente enquanto funciona, mas o seu desarranjo pode levar à melancolia. Além disso, essa não pode ser adotado como uma doutrina filosófica, pois os fatos maus, que se recusa positivamente a levar em consideração, constituem uma porção genuína da realidade, e talvez sejam a melhor chave para o significado da vida, “os únicos abridores dos nossos olhos para os níveis mais profundos da verdade”, e “visto que os fatos maus são partes tão genuínas da natureza quanto os bons, a presunção filosófica há de ser a de que eles têm algum significado racional, e que o equilíbrio mental sistemático, não concedendo à tristeza, ao sofrimento e à morte nenhuma atenção positiva e ativa, é formalmente menos completo do que os sistemas que tentam, pelo menos, incluir tais elementos em sua esfera de ação” (Idem Ibidem). 28
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como os outros el<strong>em</strong>entos, James passa para o outro tipo <strong>de</strong> experiência religiosa, a mente<br />
mórbida.<br />
Essas pessoas não consegu<strong>em</strong> lançar <strong>de</strong> si n<strong>em</strong> por um instante o fardo da<br />
consciência do mal, estando inevitavelmente <strong>de</strong>stinadas a sofrer com a sua presença.<br />
Exist<strong>em</strong> níveis diferentes <strong>de</strong> mente mórbida, para algumas pessoas, “o mal significa apenas<br />
um <strong>de</strong>sajustamento com as coisas, uma correspondência errada entre a vida da pessoa e o<br />
ambiente. Um mal <strong>de</strong>ssa ord<strong>em</strong> é curável, pelo menos <strong>em</strong> princípio, no plano natural, pois<br />
bastará modificar o eu ou as coisas, ou ambos ao mesmo t<strong>em</strong>po, para que os dois termos<br />
sejam levados a ajustar-se e tudo volte a ser alegre como o bimbalhar <strong>de</strong> um sino <strong>de</strong><br />
casamento. Para outros, porém, o mal não é apenas uma relação entre o sujeito e<br />
<strong>de</strong>terminadas coisas externas, senão algo mais radical e geral, um erro ou vício <strong>em</strong> sua<br />
natureza essencial, que nenhuma alteração do ambiente e nenhum rearranjo do eu interior<br />
vingam curar, e que requer um r<strong>em</strong>édio sobrenatural” (Id<strong>em</strong> Ibid<strong>em</strong>).<br />
A frustração é um traço freqüent<strong>em</strong>ente presente nesse tipo <strong>de</strong> pensamento, o<br />
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Ibid<strong>em</strong>). A vida e sua negação estão s<strong>em</strong>pre juntas, se a vida for boa, a sua negação terá que<br />
ser má. Toda a felicida<strong>de</strong> parece estar contaminada com algum tipo <strong>de</strong> contradição. “O fato<br />
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por ora vivendo e <strong>de</strong> estarmos b<strong>em</strong> é irrelevante para a nossa perplexida<strong>de</strong>. Precisamos <strong>de</strong><br />
uma vida não correlacionada com a morte, uma saú<strong>de</strong> não sujeita à doença, uma espécie <strong>de</strong><br />
b<strong>em</strong> que não pereça, um b<strong>em</strong>, <strong>de</strong> fato, que suba acima dos Bens da natureza” (Id<strong>em</strong><br />
Ibid<strong>em</strong>).<br />
Assim como o equilibrado mentalmente não consegue aceitar a existência do<br />
mal, o pessimista extr<strong>em</strong>o também não consegue aceitar a existência do b<strong>em</strong>. Po<strong>de</strong>ndo ele<br />
sofrer <strong>de</strong> melancolia no sentido da incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experienciar um sentimento alegre, ou<br />
uma melancolia que é a angústia positiva, um sentimento negativo on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> predominar a<br />
aversão, a irritação e exasperação, a <strong>de</strong>sconfiança <strong>de</strong> si próprio e o <strong>de</strong>sespero, ou a suspeita,<br />
a ansieda<strong>de</strong>, a trepidação, o medo.<br />
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