ESTAMOS DE LUTO. - cpvsp.org.br
ESTAMOS DE LUTO. - cpvsp.org.br
ESTAMOS DE LUTO. - cpvsp.org.br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
J&ÜJD^<<strong>br</strong> />
RURAL<<strong>br</strong> />
Órgão Oficial da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de São Paulo — Junho de 1980<<strong>br</strong> />
1 nidü o que soDi<<strong>br</strong> />
<strong>ESTAMOS</strong><<strong>br</strong> />
<strong>DE</strong> <strong>LUTO</strong>.<<strong>br</strong> />
(última página).<<strong>br</strong> />
Posseiros de Andradína<<strong>br</strong> />
também sabem usar a fala<<strong>br</strong> />
Uma bela Missa de So-<<strong>br</strong> />
lidariedade foi cele<strong>br</strong>ada<<strong>br</strong> />
dia 18 de maioem Andra-<<strong>br</strong> />
dina em apoio aos possei-<<strong>br</strong> />
ros da Fazenda Primave-<<strong>br</strong> />
ra. No início do mês, uma<<strong>br</strong> />
comissão deles denunciou<<strong>br</strong> />
na Assembléia Legislativa<<strong>br</strong> />
(foto ao lado) e ao Secre-<<strong>br</strong> />
tário da Segurança Públi-<<strong>br</strong> />
ca, os problemas que en-<<strong>br</strong> />
frentam. (Pag. 4)<<strong>br</strong> />
Passeata nas ruas de<<strong>br</strong> />
Presidente Prud<<strong>br</strong> />
A população de Presidente Prudente recebeu com interesse e apoiou a passeata<<strong>br</strong> />
que os trabalhadores rurais da região (Grupo Regional 10) fizeram no dia 17 de<<strong>br</strong> />
maio, logo após a concentração, em que protestaram contra a política agrícola do<<strong>br</strong> />
Governo, reclamando Reforma Agrária, mostrando que o êxodo rural tende a piorar.,<<strong>br</strong> />
Mostraram que os produtos industriais sobem de foguete e os preços dos produtos<<strong>br</strong> />
agrícolas ficam vendo, no chão. 18 Sindicatos participaram. (Pag. 5).<<strong>br</strong> />
João Paulo II, polonês, filho de operá-<<strong>br</strong> />
rios, também foi operário. Nym País sub-<<strong>br</strong> />
desenvolvido como o Brasil, quando ele<<strong>br</strong> />
falar no Nordeste, deverá r repetir ou<<strong>br</strong> />
ampliar o que ele disse na abertura do<<strong>br</strong> />
debate mundial que houve no ano passa-<<strong>br</strong> />
do, em Roma, promovido pela FAO. A<<strong>br</strong> />
agricultura, segundo êle, é a base de<<strong>br</strong> />
tudo; mas a base da base é o camponês, o<<strong>br</strong> />
trabalhador rural. Por isso ele é a favor<<strong>br</strong> />
da Reforma Agrária.<<strong>br</strong> />
Pela primeira<<strong>br</strong> />
vem um papa<<strong>br</strong> />
vai estar<<strong>br</strong> />
no Brasil.<<strong>br</strong> />
O que ele tem<<strong>br</strong> />
a dizer aos<<strong>br</strong> />
trabalhadores<<strong>br</strong> />
rurais?<<strong>br</strong> />
Veja na pág. 3
( MICROFONE ABERTO ) (t)0 EDITOR) A pyp/jjfpyyj f<<strong>br</strong> />
Moda Matuta<<strong>br</strong> />
E Se Faltar Comida?<<strong>br</strong> />
Precisa fazer metrô?<<strong>br</strong> />
Não vamos dizer que não.<<strong>br</strong> />
Precisa de mais usinas.<<strong>br</strong> />
De asfalto, de "Ceholão"?<<strong>br</strong> />
Precisam de Capitais,<<strong>br</strong> />
E novas, Porque que não?<<strong>br</strong> />
Mas, de que serve o metrô,<<strong>br</strong> />
A Usina e o "Ceholão".<<strong>br</strong> />
De que serve o combustível<<strong>br</strong> />
E a atomização,<<strong>br</strong> />
Se faltar o principal<<strong>br</strong> />
Que é a alimentação?<<strong>br</strong> />
Precisa'Lei. portaria.<<strong>br</strong> />
Precisa constituição:<<strong>br</strong> />
Precisa, para o trabalho,<<strong>br</strong> />
Nova Consolidação:<<strong>br</strong> />
E o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />
Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />
Precisam novos partidos.<<strong>br</strong> />
Liderança? - muito bom<<strong>br</strong> />
Precisa-se de assistência<<strong>br</strong> />
Precisa recreação.<<strong>br</strong> />
Mas o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />
Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />
Precisa,<<strong>br</strong> />
Precisam de muitas guerras<<strong>br</strong> />
Boicotes, atomização?<<strong>br</strong> />
Precisa, sim, combustível,<<strong>br</strong> />
Prá nossa locomoção.<<strong>br</strong> />
Precisa, é muito claro.<<strong>br</strong> />
Telecomunicação.<<strong>br</strong> />
A concentração do poder<<strong>br</strong> />
do solo de produção<<strong>br</strong> />
somente nos leva a crer<<strong>br</strong> />
Que toda a população<<strong>br</strong> />
Não terá o que comer<<strong>br</strong> />
Não vai tardar muito não.<<strong>br</strong> />
Precisa divórcio, sim,<<strong>br</strong> />
E "topless" - sensação -<<strong>br</strong> />
Se issòj<strong>br</strong> importante<<strong>br</strong> />
Até andar nu, por que não?<<strong>br</strong> />
Mas, o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />
Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />
Precisam de olimpíadas<<strong>br</strong> />
De jovens fortes - tá bom<<strong>br</strong> />
As terras agricultáveis<<strong>br</strong> />
Precisam distribuição<<strong>br</strong> />
Mas, o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />
Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />
precisa sim.<<strong>br</strong> />
Precisa, tá muito bom!<<strong>br</strong> />
Mas, o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />
Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />
Agudos, fev/80 - Inácio Albertini<<strong>br</strong> />
O DIEESE começa a ver<<strong>br</strong> />
o nosso ganho e perda<<strong>br</strong> />
Há pouco tempo, numa<<strong>br</strong> />
reunião dos integrantes das<<strong>br</strong> />
três Comissões Estaduais da<<strong>br</strong> />
Fetaesp, foi apresentado um<<strong>br</strong> />
plano do Departamento In-<<strong>br</strong> />
tersindical de Estatísticas e<<strong>br</strong> />
Estudos Socio-Econômicos<<strong>br</strong> />
(DIEESE) para começar a<<strong>br</strong> />
envolver os nossos Sindica-<<strong>br</strong> />
tos num amplo sistema de le-<<strong>br</strong> />
vantamento de preços de co-<<strong>br</strong> />
mercialização dos principais<<strong>br</strong> />
produtos que estão na mesa<<strong>br</strong> />
do trabalhador da cidade e<<strong>br</strong> />
do campo.<<strong>br</strong> />
Para quem não sabe, o<<strong>br</strong> />
DIEESE, fundado em 1955 é<<strong>br</strong> />
uma entidade do sindicalis-<<strong>br</strong> />
mo urbano, e agora também<<strong>br</strong> />
do sindicalismo rural conjun-<<strong>br</strong> />
tamente, e se destina a levan-<<strong>br</strong> />
tar dados estatísticos que nos<<strong>br</strong> />
interessam para acompanhar<<strong>br</strong> />
de perto o custo de vida e vi-<<strong>br</strong> />
giar o Governo para que ele<<strong>br</strong> />
não faça contas erradas,<<strong>br</strong> />
como em 1973.<<strong>br</strong> />
A apresentação do plano<<strong>br</strong> />
foi feita pelo técnico José<<strong>br</strong> />
Maurício Gomes e pela en-<<strong>br</strong> />
genheira agrônoma Marilena»<<strong>br</strong> />
Lazzarini, esposa de Walter<<strong>br</strong> />
Lazzarini Filho, presidente<<strong>br</strong> />
da Federação das Associa-<<strong>br</strong> />
Pág. 2 Realidade Rural — Junho de 1980<<strong>br</strong> />
ções de Engenheiros Agrô-<<strong>br</strong> />
nomos do Brasil (FAEAB).<<strong>br</strong> />
O que acontece é que, em<<strong>br</strong> />
primeiro lugar, existe um va-<<strong>br</strong> />
zio muito grande entre o<<strong>br</strong> />
produtor e o consumidor, de<<strong>br</strong> />
tal forma que o produtor ga-<<strong>br</strong> />
nha pouco e o consumidor<<strong>br</strong> />
paga muito. E, em segundo<<strong>br</strong> />
lugar, como o preço da co-<<strong>br</strong> />
mida pesa so<strong>br</strong>e o custo de<<strong>br</strong> />
vida, esses níveis de preços<<strong>br</strong> />
precisam ser compesados<<strong>br</strong> />
nos reajustes dos salários e<<strong>br</strong> />
não ficar abaixo, como o Go-<<strong>br</strong> />
verno tem feito durante mui-<<strong>br</strong> />
to tempo.<<strong>br</strong> />
Da parte do trabalhador<<strong>br</strong> />
rural produtor há a necessida-<<strong>br</strong> />
de do seu trabalho ser com-<<strong>br</strong> />
pensado com justiça e não fi-<<strong>br</strong> />
car engordando os interme-'<<strong>br</strong> />
diários na moleza.<<strong>br</strong> />
Como esses levantamentos<<strong>br</strong> />
estatísticos são caros, o<<strong>br</strong> />
DIEESE quer começar com<<strong>br</strong> />
alguns Sindicatos que se dis-<<strong>br</strong> />
ponham a colaborar, de boa<<strong>br</strong> />
vontade, fornecendo pe-<<strong>br</strong> />
riodicamente os níveis de<<strong>br</strong> />
preços que os produtores es-<<strong>br</strong> />
tão recebendo por seus pro-<<strong>br</strong> />
dutos.<<strong>br</strong> />
Este homem é que é o<<strong>br</strong> />
ministro da Agricultura!<<strong>br</strong> />
Há pouco tempo, durante<<strong>br</strong> />
e depois da chamada "greve<<strong>br</strong> />
da soja", líderes agrícolas<<strong>br</strong> />
gaúchos reivindicaram a<<strong>br</strong> />
queda dos Ministros do Pla-<<strong>br</strong> />
nejamento, Delfim Nctto, e<<strong>br</strong> />
da agricultura, mas de outros<<strong>br</strong> />
setores.<<strong>br</strong> />
Quanto ao Ministro da<<strong>br</strong> />
Agricultura, particularmen-<<strong>br</strong> />
te, o que se pode dizer e que<<strong>br</strong> />
ele anda cada vez mais en-<<strong>br</strong> />
graçado, mostrando que esta<<strong>br</strong> />
completamente desprepara-<<strong>br</strong> />
do para ser um Ministro da<<strong>br</strong> />
Agricultura, num País como<<strong>br</strong> />
o Brasil. Para ele, a agricul-<<strong>br</strong> />
tura se resume nos médios e<<strong>br</strong> />
grandes produtores. Em sua<<strong>br</strong> />
opinião, a agricultura não<<strong>br</strong> />
tem problemas asnão ser a<<strong>br</strong> />
necessidade de elevar a pro-<<strong>br</strong> />
dutividade. Os problemas<<strong>br</strong> />
dos trabalhadores rurais, os<<strong>br</strong> />
anseos dos trabalhadores ru-<<strong>br</strong> />
rais, não interessam ele.<<strong>br</strong> />
Exemplos bem claros da<<strong>br</strong> />
sua desinformação é desco-<<strong>br</strong> />
nhecimento dos problemas,<<strong>br</strong> />
do campo são as entrevistas<<strong>br</strong> />
que ele concedeu no dia 16<<strong>br</strong> />
de maio, na sede dos latifun-<<strong>br</strong> />
diários (a Sociedade Rural<<strong>br</strong> />
Brasileira) e ao jornal patro-<<strong>br</strong> />
nal "O Estado de São Paulo"<<strong>br</strong> />
no dia 11 de maio.<<strong>br</strong> />
NÃO PISE NOS TRABA-<<strong>br</strong> />
LHADORES RURAIS,<<strong>br</strong> />
MINISTRO!<<strong>br</strong> />
Na sede dos latifundiários,<<strong>br</strong> />
ao -comentar o documento<<strong>br</strong> />
"A Igreja e os problemas da<<strong>br</strong> />
terra", que os bispos fizeram<<strong>br</strong> />
há pouco tempo defendendo,<<strong>br</strong> />
entre outras coisas, uma Re-<<strong>br</strong> />
forma Agrária Autêntica, o<<strong>br</strong> />
Ministro tirou a máscara. Em<<strong>br</strong> />
primeiro lugar, ele pisou nos<<strong>br</strong> />
trabalhadores rurais sem dó<<strong>br</strong> />
nem piedade. Disse que a<<strong>br</strong> />
idéia do Governo não é a Re-<<strong>br</strong> />
forma Agrária "porque isso<<strong>br</strong> />
requer grandes recursos e<<strong>br</strong> />
não sabemos se trará benefí-<<strong>br</strong> />
cio para a produtividade ou<<strong>br</strong> />
se, ao contrário, trará desor-<<strong>br</strong> />
ganização na produção".<<strong>br</strong> />
Com essa idéia maluca, o<<strong>br</strong> />
Ministro mostra que o Go-<<strong>br</strong> />
verno não tem dúvidas nem<<strong>br</strong> />
dificuldades em bater nos<<strong>br</strong> />
metalúrgicos e colocar seus<<strong>br</strong> />
líderes na cadeia para cum-<<strong>br</strong> />
prir leis caducas, do tempo<<strong>br</strong> />
do arco-da-velha, mas cum-<<strong>br</strong> />
prir a lei do Estatuto da Ter-<<strong>br</strong> />
ra, que manda fazer Reforma<<strong>br</strong> />
Agrária, isso não, isso dá pre-<<strong>br</strong> />
juízo...<<strong>br</strong> />
Para esse Ministro desin-<<strong>br</strong> />
formado e despresprepara-<<strong>br</strong> />
do, o aue interessa, antes de<<strong>br</strong> />
tudo, é levar ao campo tran-<<strong>br</strong> />
qüilidade e o aumento da<<strong>br</strong> />
produtividade. Se há escravi-<<strong>br</strong> />
dão, se há miséria, se com<<strong>br</strong> />
isso o Governo está pisando<<strong>br</strong> />
nos direitos de milhões de ci-<<strong>br</strong> />
dadãos com os mesmos direi-<<strong>br</strong> />
tos dele, inclusive de ter ter-<<strong>br</strong> />
ra, não, isso não interessa.<<strong>br</strong> />
VEJAMSÓQUE IDÉIAS<<strong>br</strong> />
TÊM ESSE HOMEM!<<strong>br</strong> />
Na verdade, a desinformação<<strong>br</strong> />
e o despreparo do Ministro<<strong>br</strong> />
são de arrepiar. Em primeiro<<strong>br</strong> />
lugar, na entrevista<<strong>br</strong> />
que ele deu ao jornal patronal<<strong>br</strong> />
"O Estado de São Paulo".Slabil£<<strong>br</strong> />
antmdao Ia<<strong>br</strong> />
rffenlo<<strong>br</strong> />
mado PLACAR - Plano da<<strong>br</strong> />
Casa Rural. E sabem para<<strong>br</strong> />
que? De um lado (este lado<<strong>br</strong> />
até pode ser positivo), para<<strong>br</strong> />
financiar a construção da<<strong>br</strong> />
casa própria do pequeno<<strong>br</strong> />
proprietário. De outro, fi-<<strong>br</strong> />
nanciar ao fazendeiro a cons-<<strong>br</strong> />
trução de casas aos colonos,<<strong>br</strong> />
fazer agrovilas nos latifún-<<strong>br</strong> />
dios. E também para finan-<<strong>br</strong> />
ciar a construção de casas na<<strong>br</strong> />
periferia das cidades onde<<strong>br</strong> />
residem os volantes ("boias-<<strong>br</strong> />
frias")! Para isso tem dinhei-<<strong>br</strong> />
ro, mas para resolver o<<strong>br</strong> />
problema com uma Reforma<<strong>br</strong> />
Agrária não tem... E vejam o<<strong>br</strong> />
disparate: a Em<strong>br</strong>ater, que<<strong>br</strong> />
deveria cuidar de assistência<<strong>br</strong> />
técnica e extensão rural, vai<<strong>br</strong> />
entrar no apoio!<<strong>br</strong> />
Nessa mesma entrevista,<<strong>br</strong> />
ele mostra que pensa mesmo<<strong>br</strong> />
como um banqueiro ou em-<<strong>br</strong> />
presário. Diz, ele, por exem-<<strong>br</strong> />
pb, que 70% dos alimentos<<strong>br</strong> />
são produzidos por pequenos<<strong>br</strong> />
produtores. E comenta, sem<<strong>br</strong> />
vergonha; "Para se chegarão<<strong>br</strong> />
pequeno não é fácil. Temos<<strong>br</strong> />
que trazer o pequeno ao ban-<<strong>br</strong> />
co para começar a usar o<<strong>br</strong> />
crédito bancário, para se in-<<strong>br</strong> />
corporar num processo de<<strong>br</strong> />
produção mais racional".<<strong>br</strong> />
Para ele, tudo se resume nis-<<strong>br</strong> />
so... Em sua opinião, "o agri-<<strong>br</strong> />
cultor tem que ganhar di-<<strong>br</strong> />
nheiro para que ele, real-<<strong>br</strong> />
mente, se transforme num<<strong>br</strong> />
bom trabalhador, numa for-<<strong>br</strong> />
ça de compra de produtos<<strong>br</strong> />
industrializados"...<<strong>br</strong> />
Mas o Ministro não tem<<strong>br</strong> />
receios de pisar na Igreja<<strong>br</strong> />
também. O Ministro, que<<strong>br</strong> />
não concorda com a Refor-<<strong>br</strong> />
ma Agrária ("senão em áreas<<strong>br</strong> />
de tensão"), não tem o me-<<strong>br</strong> />
nor escrúpulos em recomen-<<strong>br</strong> />
dar à Igreja para que ela use<<strong>br</strong> />
seus imóveis (que somam, ao<<strong>br</strong> />
todo, 0,12% dos latifúndios),<<strong>br</strong> />
para implantação de projetos<<strong>br</strong> />
de colonização. Esse pedido<<strong>br</strong> />
seria até simpático, se o Go-<<strong>br</strong> />
verno desse o exemplo.<<strong>br</strong> />
Acontece que a Igreja tem<<strong>br</strong> />
178 mil hectares, enquanto<<strong>br</strong> />
que está cheio de latifúndios<<strong>br</strong> />
por aí, aprovados pelo IN-<<strong>br</strong> />
CRA, com 400, 500 mil hec-<<strong>br</strong> />
tares, um milhão, dois, três<<strong>br</strong> />
milhões de hectares ou mais,<<strong>br</strong> />
e nas mãos de multinacio-<<strong>br</strong> />
nais! Além disso, de vez em<<strong>br</strong> />
quando há projetos do Go-<<strong>br</strong> />
verno, aprovados depressi-<<strong>br</strong> />
nha, autorizando grandes<<strong>br</strong> />
projetos de colonização a<<strong>br</strong> />
empresa que não tem nada a<<strong>br</strong> />
ver com a roça!<<strong>br</strong> />
E um homem desses está<<strong>br</strong> />
aí, controlando a agricultu-<<strong>br</strong> />
ra...<<strong>br</strong> />
A A<strong>br</strong>a diz que Stabile<<strong>br</strong> />
se vinga, pelo governo.<<strong>br</strong> />
A entrevista do Ministro<<strong>br</strong> />
Stabile, na sede dos latifun-<<strong>br</strong> />
diários, a Sociedade Rural<<strong>br</strong> />
Brasileira , no dia II, não<<strong>br</strong> />
a ^|Jte-assou desapercebida tam-<<strong>br</strong> />
bém para o pessoal da dire-<<strong>br</strong> />
ção da Associação Brasileira<<strong>br</strong> />
de Reforma Agrária<<strong>br</strong> />
(ABRA), que emitiu uma<<strong>br</strong> />
curta mas clara nota, sob<<strong>br</strong> />
título "A ESPERADA VIN-<<strong>br</strong> />
DITA DO MINISTRO DA<<strong>br</strong> />
AGRICULTURA", onde ela<<strong>br</strong> />
denuncia as meias-verdades<<strong>br</strong> />
do Ministro e esclarece a<<strong>br</strong> />
opinião pública so<strong>br</strong>e erros<<strong>br</strong> />
que ele cometeu.<<strong>br</strong> />
Deixando claro que a Igre-<<strong>br</strong> />
ja não precisaria da ajuda da<<strong>br</strong> />
ABRA, a direção da entida-<<strong>br</strong> />
de, no entanto, esclarece que<<strong>br</strong> />
"dentro do estilo que tem ca-<<strong>br</strong> />
racterizado o período delfi-<<strong>br</strong> />
niano da história recente do<<strong>br</strong> />
País, começa o Governo a<<strong>br</strong> />
adotar as primeiras represá-<<strong>br</strong> />
lias contra os Bispos de Itaici<<strong>br</strong> />
e sua corajosa posição no re-<<strong>br</strong> />
cente documento "A Igreja e<<strong>br</strong> />
os problemas da Terra". E o<<strong>br</strong> />
governo faz isso, segundo a<<strong>br</strong> />
ABRA "por sua voz menos<<strong>br</strong> />
autorizada - um Ministro da<<strong>br</strong> />
Agricultura cujo mérito até<<strong>br</strong> />
agora foi o de ter conservado<<strong>br</strong> />
exemplar mutismo".<<strong>br</strong> />
"O DASP foi mole demais<<strong>br</strong> />
com Stabile"<<strong>br</strong> />
Na nota, a ABRA repreen-<<strong>br</strong> />
de Stabile; "Conhecera po-<<strong>br</strong> />
sição que a Igreja adotou a<<strong>br</strong> />
respeito de suas próprias ter-<<strong>br</strong> />
ras, seria o mínimo a esperar<<strong>br</strong> />
de uma autoridade, disposta<<strong>br</strong> />
a deitar falação". Isso por-<<strong>br</strong> />
que muito antes do Governo<<strong>br</strong> />
pensar, a Igreja já se com-<<strong>br</strong> />
prometia a dar a suas terras<<strong>br</strong> />
um fim social, já havendo<<strong>br</strong> />
ELEIÇÕES EM SINDICATOS<<strong>br</strong> />
De Janeiro a A<strong>br</strong>il deste ano, tomaram<<strong>br</strong> />
posse novas Diretorias nos Sindicatos de<<strong>br</strong> />
Limeira, Potirendaba, Pereira Barreto,<<strong>br</strong> />
Junqueirópolis, Lavínia, Santa Cruz do<<strong>br</strong> />
Rio Pardo, Rancharia, Pirajuí, Brotas,<<strong>br</strong> />
Ibitinga, Pontal, Jaú, Fartura, Tupã e<<strong>br</strong> />
Matão.<<strong>br</strong> />
.No mês de Maio, destacamos a posse<<strong>br</strong> />
de novas Diretorias;<<strong>br</strong> />
Dia 8 - Sarapuí, Diretores eleitos, Os-<<strong>br</strong> />
car Machado de Morais, Ari Gomes e<<strong>br</strong> />
Nelson Teodoro Sampaio - eleitos depois<<strong>br</strong> />
da renhida disputa entre duas chapas<<strong>br</strong> />
concorrentes;<<strong>br</strong> />
Dia 18 - Nova Granada, Diretores elei-<<strong>br</strong> />
tos; José Pereira dos Santos, Manoel<<strong>br</strong> />
Ledo de Matos e Francisco Pereira Costa<<strong>br</strong> />
Praxedes;<<strong>br</strong> />
Dia 22 - Capão Bonito - Diretores elei-<<strong>br</strong> />
tos, José Alves de Lima, João Cosme de<<strong>br</strong> />
Oliveira e João Souto Ferreira - chapa vi-<<strong>br</strong> />
toriosa, vencendo oposição concorren-<<strong>br</strong> />
te;<<strong>br</strong> />
Dia 22 - Cotia - Itapevi, Diretores elei-<<strong>br</strong> />
tos. Lázaro Quintino de Lima, Enildo<<strong>br</strong> />
Conceição Monteiro e Antônio Bispo Fi-<<strong>br</strong> />
lho;<<strong>br</strong> />
Dia 24 - Apiaí, com Diretores eleitos,<<strong>br</strong> />
José Rodrigues Silva, André Bogucheski<<strong>br</strong> />
e Olívio Coelho de Oliveira;<<strong>br</strong> />
Dia 27 - São Roque, Diretores eleitos;<<strong>br</strong> />
Geraldo Moysés, Paulo Pecze e Alcides<<strong>br</strong> />
Cruzados:<<strong>br</strong> />
Dia 30 - Presidente Prudente, Diretores<<strong>br</strong> />
eleitos; Valdemar Nodaeli, JoãoAltino<<strong>br</strong> />
Cremonezi e Luiz Seiki Kaku.<<strong>br</strong> />
Para o mês de Junho, estão programa-<<strong>br</strong> />
dos posses nos Sindicatos de Jaboticabal<<strong>br</strong> />
(dia 5), Teodoro Sampaio (dia 5), Taqua-<<strong>br</strong> />
rituba(dia 11), Auriflama(dia 12), Cajurú<<strong>br</strong> />
(dia 15), Itapetininga (dia 26) e Urupês<<strong>br</strong> />
(dia 26).<<strong>br</strong> />
Nossos cumprimentos às novas Direto<<strong>br</strong> />
rias e o desejo de que o seu trabalho i<<strong>br</strong> />
frente dos sindicatos seja coroado de êxi<<strong>br</strong> />
to, correspondendo à confiança demons<<strong>br</strong> />
trada pelos eleitores e servido à causa do<<strong>br</strong> />
Sindicalismo de trabalhadores rurais pau-<<strong>br</strong> />
lista.<<strong>br</strong> />
<strong>DE</strong>PARTAMENTO <strong>DE</strong> ORIENTAÇÃO<<strong>br</strong> />
SINDICAL FETAESP<<strong>br</strong> />
dioceses que começaram a<<strong>br</strong> />
dispor seus imóveis rurais em<<strong>br</strong> />
favor dos homens sem terra.<<strong>br</strong> />
E depois de repreender o<<strong>br</strong> />
Ministro, a ABRA também<<strong>br</strong> />
dá um puxão de orelhas no<<strong>br</strong> />
DASP (que é o órgão federal<<strong>br</strong> />
que contrata os funcionários<<strong>br</strong> />
públicos). Diz a ABRA que<<strong>br</strong> />
"ter lido o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />
deveria ser também o teste<<strong>br</strong> />
de suficiência que o DASP<<strong>br</strong> />
deveria exigir de um Minis-<<strong>br</strong> />
tro".<<strong>br</strong> />
— Na verdade -indaga a<<strong>br</strong> />
ABRA - como pode tal auto-<<strong>br</strong> />
ridade, a não ser pelo dever<<strong>br</strong> />
de repetir o mestre (Delfim<<strong>br</strong> />
Netto), declarar que uma<<strong>br</strong> />
Reforma Agrária "vai desor-<<strong>br</strong> />
ganizar a produção" quando<<strong>br</strong> />
ajei <strong>br</strong>asileira prevê a aplica-<<strong>br</strong> />
ção do processo principal-<<strong>br</strong> />
mente nos latifúndios que<<strong>br</strong> />
nada produzem?<<strong>br</strong> />
Por fim, a A BR A comenta<<strong>br</strong> />
que as terras da Igreja (que<<strong>br</strong> />
são também de outras enti-<<strong>br</strong> />
dades religiosas, não católi-<<strong>br</strong> />
cas) representam apenas<<strong>br</strong> />
0,12% dos latifúndios cadas-<<strong>br</strong> />
trados no 1NCRA. Por que<<strong>br</strong> />
não aproveitar tambérn o<<strong>br</strong> />
resto dos latifúndios, "estes<<strong>br</strong> />
sim a verdadeira matéria pri-<<strong>br</strong> />
ma para uma autêntica Re-<<strong>br</strong> />
forma Agrária no Brasil"?<<strong>br</strong> />
Diretoria<<strong>br</strong> />
RURAL<<strong>br</strong> />
Roberto Toshio Horiguti<<strong>br</strong> />
Presidente.<<strong>br</strong> />
Francisco Benedito<<strong>br</strong> />
Rocha<<strong>br</strong> />
Secretário Geral.<<strong>br</strong> />
Mário Vatanabe<<strong>br</strong> />
I 9 Secretário<<strong>br</strong> />
Emílio Bertuzzo<<strong>br</strong> />
2' Secretário<<strong>br</strong> />
Orlando Izaque Birrer<<strong>br</strong> />
Tesoureiro Geral<<strong>br</strong> />
José Bento de Santi<<strong>br</strong> />
I 9 Tesoureiro<<strong>br</strong> />
Antônio David de Souza<<strong>br</strong> />
2 9 Tesoureiro<<strong>br</strong> />
Editor Responsável<<strong>br</strong> />
José Carlos Salvagni (SJP<<strong>br</strong> />
5177)<<strong>br</strong> />
Relações Públicas<<strong>br</strong> />
João Ferreira Neto<<strong>br</strong> />
Rua Brigadeiro Tobias,<<strong>br</strong> />
118, 36' andar - Conj.<<strong>br</strong> />
3.607<<strong>br</strong> />
CEP 01032 -<<strong>br</strong> />
End. Tetegráfico:<<strong>br</strong> />
FETAESP<<strong>br</strong> />
- Telefones: 228-983?<<strong>br</strong> />
228-9353 - São Paulo -<<strong>br</strong> />
Ç 0 "*""* « w*»«*«o MI Oficiua da<<strong>br</strong> />
Am* CfWctt Cuiri VA. Hodovw<<strong>br</strong> />
«Mil I ■ fmmíum
O que esperar<<strong>br</strong> />
da visita do Papa?<<strong>br</strong> />
Pela primeira vez na histó-<<strong>br</strong> />
ria, um Papa estará no Brasil,<<strong>br</strong> />
dia 30 de junho ( e dia 4 de<<strong>br</strong> />
julho em São Paulo). João<<strong>br</strong> />
Paulo II, polonês, foi operá-<<strong>br</strong> />
rio, trabalhando primeiro<<strong>br</strong> />
numa pedreira e depois numa<<strong>br</strong> />
indústria química, durante a<<strong>br</strong> />
ocupação de seu País pela<<strong>br</strong> />
Alemanha, na Segunda<<strong>br</strong> />
Guerra Mundial. Antes dele,<<strong>br</strong> />
o Brasil recebeu a visita de<<strong>br</strong> />
então Cardeal Giovanni<<strong>br</strong> />
Montini, depois Papa Paulo<<strong>br</strong> />
VI, no final do Governo Jus-<<strong>br</strong> />
celino Kubitschek.<<strong>br</strong> />
O Brasil é um País do cha-<<strong>br</strong> />
mado Terceiro Mundo. É um<<strong>br</strong> />
Pais subdesenvolvido. E<<strong>br</strong> />
como aconteceu no México<<strong>br</strong> />
e na África, o Papa virá preo-<<strong>br</strong> />
cupado com a religião, é cer-<<strong>br</strong> />
to. Mas também estará muito<<strong>br</strong> />
atento à po<strong>br</strong>eza, a miséria<<strong>br</strong> />
ao desrespeito aos direitos<<strong>br</strong> />
humanos e continuará mos-<<strong>br</strong> />
trando que todos os homens<<strong>br</strong> />
têm o direito de se beneficia-<<strong>br</strong> />
rem dos bens da terra para<<strong>br</strong> />
terem uma vida digna.<<strong>br</strong> />
O QUE A VISITA SIGNI-<<strong>br</strong> />
FICA PARA O NOSSO<<strong>br</strong> />
SINDICALISMO ?<<strong>br</strong> />
Além de haver tomado nos<<strong>br</strong> />
últimos tempos posições<<strong>br</strong> />
francamente favoráveis aos<<strong>br</strong> />
trabalhadores rurais <strong>br</strong>asileiros,<<strong>br</strong> />
a Igreja no Brasil tem<<strong>br</strong> />
colaborado muito conosco,<<strong>br</strong> />
tendo dado um impulso<<strong>br</strong> />
enorme, ao lado de outras<<strong>br</strong> />
forças, para que o nosso sindicalismo<<strong>br</strong> />
se implantasse e se<<strong>br</strong> />
desenvolvesse. Hoje mesmo,<<strong>br</strong> />
ela tem uma entidade, chamada<<strong>br</strong> />
Comissão de Pastoral<<strong>br</strong> />
da Terra (CPT), que atua ao<<strong>br</strong> />
lado dos companheiros trabalhadores<<strong>br</strong> />
rurais posseiros e<<strong>br</strong> />
mesmo índios, na defesa das<<strong>br</strong> />
terras e tem apoiado muito o<<strong>br</strong> />
sindicalismo no seu esforço<<strong>br</strong> />
de renovação.<<strong>br</strong> />
É preciso lem<strong>br</strong>ar, no entanto,<<strong>br</strong> />
que embora a maior<<strong>br</strong> />
parte dos associados seja de<<strong>br</strong> />
católicos, temos também associados<<strong>br</strong> />
que são luteranos,<<strong>br</strong> />
metodistas, enfim, de outros<<strong>br</strong> />
credos, razão pela qual o Sindicato<<strong>br</strong> />
deve ser aberto a todos<<strong>br</strong> />
os pensamentos ( mesmo<<strong>br</strong> />
K<<strong>br</strong> />
aue a Diretoria nao concor-<<strong>br</strong> />
de), respeitar a vida particu-<<strong>br</strong> />
lar dos associados e os seus<<strong>br</strong> />
direitos. Sindicato é Sindica-<<strong>br</strong> />
to, religião é religião, partido<<strong>br</strong> />
é partido.<<strong>br</strong> />
A Igreja católica particu-<<strong>br</strong> />
larmente, tem colaborado<<strong>br</strong> />
Realidade Rural — Junho de 1980<<strong>br</strong> />
com o sindicalismo, sem de-<<strong>br</strong> />
sejar que sele se torne "fun-<<strong>br</strong> />
do de sacristia", dependente,<<strong>br</strong> />
mas apenas esperando um<<strong>br</strong> />
trabalho autêntico.<<strong>br</strong> />
E é por isso que para o<<strong>br</strong> />
nosso sindicalismo ( e não<<strong>br</strong> />
apenas para os católicos as-<<strong>br</strong> />
sociados) a visita do Papa é<<strong>br</strong> />
muito importante. Além do<<strong>br</strong> />
mais, ele é um homem bem<<strong>br</strong> />
informado, sabe das injusti-<<strong>br</strong> />
ças que os milhões de ho-<<strong>br</strong> />
mens de campo estão sofren-<<strong>br</strong> />
do da parte de uma minoria<<strong>br</strong> />
de tubarões desse País. E por<<strong>br</strong> />
isso ele virá levar a nós a sua<<strong>br</strong> />
solidariedade, como ele fe/<<strong>br</strong> />
com os índios e camponeses<<strong>br</strong> />
no México. E o Papa é um<<strong>br</strong> />
homem cuja opinião pesa<<strong>br</strong> />
muito entre os Governos das<<strong>br</strong> />
Nações.<<strong>br</strong> />
'O TRABALHADOR<<strong>br</strong> />
NÃO PRECISA <strong>DE</strong> ES-<<strong>br</strong> />
MOLAS E SIM <strong>DE</strong> UMA<<strong>br</strong> />
AJUDA EFICAZ"<<strong>br</strong> />
O México também é um<<strong>br</strong> />
País do Terceiro Mundo. É<<strong>br</strong> />
um país subdesenvolvido. E<<strong>br</strong> />
quando o Papa esteve lá,<<strong>br</strong> />
para participar de um encon-<<strong>br</strong> />
tro muito importante dos<<strong>br</strong> />
Bispos da América Latina no<<strong>br</strong> />
ano passado (Puebla), ele fa-<<strong>br</strong> />
lou aos índios e o que ele dis-<<strong>br</strong> />
se serve para nós, também.<<strong>br</strong> />
Disse o Papa que o traba-<<strong>br</strong> />
lhador está desconsolado e já<<strong>br</strong> />
não pode continuar a esperar<<strong>br</strong> />
que respeitem a sua dignida-<<strong>br</strong> />
de e que não lhe tirem o pou-<<strong>br</strong> />
co que eles têm. Já é hora do<<strong>br</strong> />
trabalhador receber o seu<<strong>br</strong> />
devido valor. Como disse o<<strong>br</strong> />
Papa, o trabalhador "tem di-<<strong>br</strong> />
reito a que sejam suprimidas<<strong>br</strong> />
as barreiras da exploração,<<strong>br</strong> />
feitas freqüentemente de<<strong>br</strong> />
egoismos intoleráveis e con-<<strong>br</strong> />
tra os quais se chocam seus<<strong>br</strong> />
melhores esforços de promo-<<strong>br</strong> />
ção".<<strong>br</strong> />
E foi bem claro mostrando<<strong>br</strong> />
que o valor a que o trabalha-<<strong>br</strong> />
dor tem direito não pode ser<<strong>br</strong> />
confundido com esmolas ou<<strong>br</strong> />
migalhas de justiça mas deve<<strong>br</strong> />
ser transformado em ajuda<<strong>br</strong> />
eficaz, que o ajude melhorar<<strong>br</strong> />
a vida e seu trabalho.<<strong>br</strong> />
E foi também no México<<strong>br</strong> />
que o Papa João Paulo II dis-<<strong>br</strong> />
se um negócio que ficou en-<<strong>br</strong> />
gasgado na garganta dos tu-<<strong>br</strong> />
barões. Disse ele lá que "ao<<strong>br</strong> />
direito de propriedade corres-<<strong>br</strong> />
ponde uma hipoteca social".<<strong>br</strong> />
Trocando em miúdos, ele<<strong>br</strong> />
disse que não é certo os lati-<<strong>br</strong> />
fundiários terem tanta terra.<<strong>br</strong> />
(^NOSSA POSÍCÃO^) Está começando a nossa campanha salarial<<strong>br</strong> />
AGORA É A NOSSA VEZ<<strong>br</strong> />
Estamos no início da nossa quinta<<strong>br</strong> />
campanha salarial. Pelo quinto ano, o<<strong>br</strong> />
Movimento Sindical dos Trabalhadores<<strong>br</strong> />
Rurais se mobiliza por melhores salá-<<strong>br</strong> />
rios e melhores condições de vida para<<strong>br</strong> />
o trabalhador rural.<<strong>br</strong> />
Ao nosso modo de ver, devemos ini-<<strong>br</strong> />
ciar essa campanha com muito otimis-<<strong>br</strong> />
mo. Não há razões para não haver oti-<<strong>br</strong> />
mismo. Afinal, mesmo que não tenha-<<strong>br</strong> />
mos conseguido, em nível de Federa-<<strong>br</strong> />
ção, nenhum acordo com os^ patrões<<strong>br</strong> />
da FAESP, o fato importante é que os •<<strong>br</strong> />
dissídios coletivos estão sendo levados<<strong>br</strong> />
a prática.O que os patrões nos negam<<strong>br</strong> />
na mesa de negociação, nós ganha-<<strong>br</strong> />
mos lá na prática.<<strong>br</strong> />
Pouco importa que eles fechem a<<strong>br</strong> />
cara e se recusem a dialogar conosco.<<strong>br</strong> />
E o início desta campanha salarial é<<strong>br</strong> />
um bom momento para trocarmos uma<<strong>br</strong> />
idéia so<strong>br</strong>e o momento <strong>br</strong>asileiro.<<strong>br</strong> />
Os entendidos sabem: quando o<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>aço e o suor do homem passa a ter<<strong>br</strong> />
menos valor do que o dinheiro, do que<<strong>br</strong> />
o luxo, do que os interesses dos ricos,<<strong>br</strong> />
aí então o que so<strong>br</strong>a é fome, atraso de<<strong>br</strong> />
vida, desentendimento.<<strong>br</strong> />
E é isso que está acontecendo no<<strong>br</strong> />
Brasil de hoje. O <strong>br</strong>aço do trabalhador,<<strong>br</strong> />
o seu suor, não tem nenhum valor, nem<<strong>br</strong> />
explorando-a mal. A terra é<<strong>br</strong> />
um bem de todos e tem que<<strong>br</strong> />
servir a todos. Ter terra e<<strong>br</strong> />
não usá-la em benefício de<<strong>br</strong> />
todos é, na verdade, um rou-<<strong>br</strong> />
bo que se comete contra os<<strong>br</strong> />
que não têm terra e querem<<strong>br</strong> />
viver honestamente do traba-<<strong>br</strong> />
lho na lavoura.<<strong>br</strong> />
HOJE O QUE É PRECI-<<strong>br</strong> />
SO É REFORMA AGRÁ-<<strong>br</strong> />
RIA MESMO.<<strong>br</strong> />
Depois do México, o Papa<<strong>br</strong> />
João Paulo II fez um pronun-<<strong>br</strong> />
ciamento que foi muito co-<<strong>br</strong> />
mentado em todo o mundo.<<strong>br</strong> />
Foi quando houve a "Confe-<<strong>br</strong> />
rência Mundial so<strong>br</strong>e Refor-<<strong>br</strong> />
ma Agrária e Desenvolvi-<<strong>br</strong> />
mento Rural", em julho do<<strong>br</strong> />
ano passado, em Roma.<<strong>br</strong> />
Houve uma audiência com o<<strong>br</strong> />
Papa, da qual participaram<<strong>br</strong> />
de um lado, contente, o pre-<<strong>br</strong> />
sidente da nossa CONTAG,<<strong>br</strong> />
José Francisco da Silva, e de<<strong>br</strong> />
outro lado, de cara amarra-<<strong>br</strong> />
da, o então Ministro da Agri-<<strong>br</strong> />
cultura, Delfim Netlo, e o<<strong>br</strong> />
Presidente da Incra. Paulo<<strong>br</strong> />
Yokota ( que são contra a<<strong>br</strong> />
Reforma Agrária).<<strong>br</strong> />
O Papa, durante a audiên-<<strong>br</strong> />
cia, disse umas boas aejuem<<strong>br</strong> />
é contra a Reforma Agraria e<<strong>br</strong> />
contra o trabalhador rural<<strong>br</strong> />
(como Delfim e Yokota).<<strong>br</strong> />
Disse êle; "No Estado atual<<strong>br</strong> />
das coisas, dentro de cada<<strong>br</strong> />
País, tem-se que prever uma<<strong>br</strong> />
Reforma Agrária que impli-<<strong>br</strong> />
que numa re<strong>org</strong>anização da<<strong>br</strong> />
propriedade das terras e a<<strong>br</strong> />
distribuição do terreno pro-<<strong>br</strong> />
dutivo aos lavradores, de for-<<strong>br</strong> />
ma estável e com usufruto di-<<strong>br</strong> />
reto".<<strong>br</strong> />
Quer dizer: é preciso ocu-<<strong>br</strong> />
par os economistas desocu-<<strong>br</strong> />
pados para fazer a Reforma<<strong>br</strong> />
Agrária e ocupar os agrôno-<<strong>br</strong> />
mos desocupados para dar<<strong>br</strong> />
assistência técnica e uma<<strong>br</strong> />
verdadeira extensão rural a<<strong>br</strong> />
quem não tem terra a quem<<strong>br</strong> />
poderia produzir mais com a<<strong>br</strong> />
terra que tem. Há quem diga<<strong>br</strong> />
que Delfim e Yokota deram<<strong>br</strong> />
uma engasgada...<<strong>br</strong> />
Ao contrário de ficar fa-<<strong>br</strong> />
lando aue a solução é a ele-<<strong>br</strong> />
vação da produção e da pro-<<strong>br</strong> />
dutividade, como se fala lá<<strong>br</strong> />
nos gabinetes confortáveis<<strong>br</strong> />
de Brasília, o Papa falou é da<<strong>br</strong> />
necessidade da elevação hu-<<strong>br</strong> />
para o pessoal dó Governo, nem para<<strong>br</strong> />
os donos e administradores das<<strong>br</strong> />
'empresas, e para os fazendeiros.<<strong>br</strong> />
Para o Governo e para os fazendei-<<strong>br</strong> />
ros, quanto mais trabalhadores estive-<<strong>br</strong> />
rem na filado emprego, melhor. Assim<<strong>br</strong> />
os salários ficarão mais baixos.<<strong>br</strong> />
Mas não é bem assim. Essa inflação<<strong>br</strong> />
elevada, esses preços que ficaram lou-<<strong>br</strong> />
cos, esse desemprego, tudo isso é"<<strong>br</strong> />
consequênca do desprezo pelo traba-<<strong>br</strong> />
lho. Tem muita gente grande e impor-<<strong>br</strong> />
tante nesse País que prefere ganhar<<strong>br</strong> />
fortunas na moleza, com a especula-<<strong>br</strong> />
ção, do que valorizando o ganho<<strong>br</strong> />
honesto, aquele que vem do trabalho e<<strong>br</strong> />
do suor. E quando não se planta trigo,<<strong>br</strong> />
não se tem farinha para o pão...<<strong>br</strong> />
Para nós, trabalhadores rurais, que<<strong>br</strong> />
estamos começando em São Paulo<<strong>br</strong> />
mais uma campanha salarial, é impor-<<strong>br</strong> />
tante essa idéia. O trabalhador <strong>br</strong>asilei-<<strong>br</strong> />
ro, afinal, não pode aceitar essa ten-<<strong>br</strong> />
dência de aumentarem as filas dos<<strong>br</strong> />
homens em busca de emprego, quan-<<strong>br</strong> />
do se fosse feita uma Reforma Agrária<<strong>br</strong> />
e outras mudanças nesse País, haveria<<strong>br</strong> />
emprego de so<strong>br</strong>a e ótimos salários. É<<strong>br</strong> />
preciso acabar com essa história de<<strong>br</strong> />
ganhar fortunas na moleza e tirar o pão<<strong>br</strong> />
mana das populações agrícolas<<strong>br</strong> />
em consonância com o di-<<strong>br</strong> />
reito ao crescimento da vida<<strong>br</strong> />
individual e coletiva da po-<<strong>br</strong> />
pulação rural.<<strong>br</strong> />
Também tem Ministro lá<<strong>br</strong> />
em Brasília que fica falando<<strong>br</strong> />
em classe média rural, es-<<strong>br</strong> />
quecendo que a maioria é<<strong>br</strong> />
po<strong>br</strong>e mesmo. Ao contrário,<<strong>br</strong> />
o Papa recomendou "refor-<<strong>br</strong> />
mas para reduzir as distâncias<<strong>br</strong> />
entre a prosperidade dos ricos<<strong>br</strong> />
e a siquietante riqueza dos<<strong>br</strong> />
po<strong>br</strong>es".<<strong>br</strong> />
A TERRA NÃO É UMA<<strong>br</strong> />
FÁBRICA DF COMIDA:<<strong>br</strong> />
É NATUREZA. QUE O<<strong>br</strong> />
LAVRADOR ENTEN<strong>DE</strong>.<<strong>br</strong> />
João Paulo II falou da im-<<strong>br</strong> />
portância do associativismo<<strong>br</strong> />
no campo, recomendando<<strong>br</strong> />
que ele dê mais atenção ao<<strong>br</strong> />
jovem e à mulher, para<<strong>br</strong> />
mantê-los no campo e evitar<<strong>br</strong> />
um excessivo êxodo rural,<<strong>br</strong> />
porque na cidade faltam em-<<strong>br</strong> />
pregos. Vejam o que ele dis-<<strong>br</strong> />
se:<<strong>br</strong> />
— Urge que se concreti/e o<<strong>br</strong> />
objetivo do direito ao traba-<<strong>br</strong> />
lho, com todos os pressupos-<<strong>br</strong> />
tos requeridos para ampliar<<strong>br</strong> />
as possibilidades de absorção<<strong>br</strong> />
OPINIÃO <strong>DE</strong><<strong>br</strong> />
CABOCLO<<strong>br</strong> />
Há muitos modos de se<<strong>br</strong> />
agredir alguém.<<strong>br</strong> />
Por cima. por baixo, pela<<strong>br</strong> />
frente, pelas costas, por den-<<strong>br</strong> />
tro, por fora. pelos lados e<<strong>br</strong> />
até pelo pensamento.<<strong>br</strong> />
A ilha é um pedaço de ter-<<strong>br</strong> />
ra cercada de água por to-<<strong>br</strong> />
dos os lados.<<strong>br</strong> />
O trabalhador rural tam-<<strong>br</strong> />
bém é uma ilha.<<strong>br</strong> />
Ilha sim. compadre, por-<<strong>br</strong> />
que de todos os lados, ele es-<<strong>br</strong> />
tá cercado de agressão.<<strong>br</strong> />
O caminhão de bóia-fria<<strong>br</strong> />
agredido pelo caminhão de<<strong>br</strong> />
bois. como ocorreu , há pou-<<strong>br</strong> />
co, em Presidente Vences-<<strong>br</strong> />
lau.<<strong>br</strong> />
A lavoura invadida, quan-<<strong>br</strong> />
da grande quantidade de<<strong>br</strong> />
mão-de-o<strong>br</strong>a agrícola dispo-<<strong>br</strong> />
nível e reduzir o desempre-<<strong>br</strong> />
go. Ao mesmo tempo, fazer<<strong>br</strong> />
com que os trabalhadores as-<<strong>br</strong> />
sumam uma atitude de res-<<strong>br</strong> />
ponsabilidade no funciona-<<strong>br</strong> />
mento dos estabelecimentos<<strong>br</strong> />
agrícolas, a fim de criar, tam-<<strong>br</strong> />
bém, o quanto seja possível,<<strong>br</strong> />
uma relação particular entre<<strong>br</strong> />
o trabalhador da terra e a<<strong>br</strong> />
terra que ele trabalha.<<strong>br</strong> />
Em outras palavras, o agri-<<strong>br</strong> />
cultor não planta apenas<<strong>br</strong> />
para sustentar a sua família,<<strong>br</strong> />
mas também porque se sente<<strong>br</strong> />
bem com a terra. E isso deve<<strong>br</strong> />
continuar.<<strong>br</strong> />
A BASE <strong>DE</strong> UMA ECO-<<strong>br</strong> />
NOMIA SADIA É A<<strong>br</strong> />
AGRICULTURA. NÃO A<<strong>br</strong> />
INDUSTRIA.<<strong>br</strong> />
Para quem acha, enfim,<<strong>br</strong> />
que João Paulo II é de ficar<<strong>br</strong> />
aceitando soluções tapa-<<strong>br</strong> />
buracos, é útil, por fim<<strong>br</strong> />
lem<strong>br</strong>ar que ele também<<strong>br</strong> />
como Paulo VI que dizia ser<<strong>br</strong> />
necessário "exigir transfor-<<strong>br</strong> />
mações audaciosas, profunda-<<strong>br</strong> />
mente inovadoras" no desen-<<strong>br</strong> />
volvimento dos povos. (Será<<strong>br</strong> />
da boca dos que trabalham honesta-<<strong>br</strong> />
mente.<<strong>br</strong> />
As campanhas salariais vem sendo<<strong>br</strong> />
importantíssimas para a nossa categoria<<strong>br</strong> />
porque os assalariados e volantes, de<<strong>br</strong> />
modo particular, que vivem de salários,<<strong>br</strong> />
acabam desco<strong>br</strong>indo que eles não são<<strong>br</strong> />
escravos, mas cidadãos com igual<<strong>br</strong> />
importância e iguais direitos aos gran-<<strong>br</strong> />
des, aos tubarões. Acabam des-<<strong>br</strong> />
co<strong>br</strong>indo que o que vem de cima é<<strong>br</strong> />
chuva, granizo, faíscas. Não vale a<<strong>br</strong> />
pena esperar pelo que vem de cima,<<strong>br</strong> />
seja de Governo ou dos patrões. Eles<<strong>br</strong> />
se dão conta de que a vida nasce de<<strong>br</strong> />
baixo para cima. Cada trabalhador uni-<<strong>br</strong> />
do dá ao Sindicato uma força de <strong>br</strong>iga<<strong>br</strong> />
muito maior. E é assim que os nossos<<strong>br</strong> />
companheiros desco<strong>br</strong>em que embora<<strong>br</strong> />
não consigam forças os patrões a<<strong>br</strong> />
darem aumentos maiores do que<<strong>br</strong> />
aqueles que o Governo acaba fixando,<<strong>br</strong> />
os trabalhadores podem conseguir<<strong>br</strong> />
indenizações maiores, podem conse-<<strong>br</strong> />
guir melhores condições de trabalho,<<strong>br</strong> />
podem <strong>br</strong>igar pela fiscalização do<<strong>br</strong> />
Ministro do Trabalho.<<strong>br</strong> />
Estamos avançando, não há dúvi-<<strong>br</strong> />
das. E muito, graças à firmeza dos Sin-<<strong>br</strong> />
dicatos.<<strong>br</strong> />
FETAESP<<strong>br</strong> />
que o ITR seria uma "solu-<<strong>br</strong> />
ção audaciosa"?).<<strong>br</strong> />
João Paulo II também se<<strong>br</strong> />
dirigiu aos Governos das na-<<strong>br</strong> />
ções, recomendando a eles,<<strong>br</strong> />
que, à luz de problemas tão<<strong>br</strong> />
graves nos países subdesen-<<strong>br</strong> />
volvidos, esses Governos de-<<strong>br</strong> />
volvam "à agricultura o lugar<<strong>br</strong> />
que lhe cabe no âmbito do<<strong>br</strong> />
desenvolvimento interno e<<strong>br</strong> />
internacional, modificando a<<strong>br</strong> />
tendência que, num processo<<strong>br</strong> />
de industrialização, tem leva-<<strong>br</strong> />
do, até tempos recentes, a<<strong>br</strong> />
privilegiar os setores secun-<<strong>br</strong> />
dário ( indústria) e tercíário<<strong>br</strong> />
(serviços).<<strong>br</strong> />
E para mostrar que ele<<strong>br</strong> />
sabe ver muito bem os<<strong>br</strong> />
problemas da cidade e do<<strong>br</strong> />
campo, João Paulo II con-<<strong>br</strong> />
cluiu, esclarecendo:<<strong>br</strong> />
- O amor pela terra e pelo<<strong>br</strong> />
trabalho do campo é um con-<<strong>br</strong> />
vite não a uma volta nostálgi-<<strong>br</strong> />
ca ao passado, mas a uma<<strong>br</strong> />
afirmação da agricultura<<strong>br</strong> />
como base de uma econo-<<strong>br</strong> />
mia sadia, no conjunto do<<strong>br</strong> />
desenvolvimento e do pro-<<strong>br</strong> />
gresso social de um País e do<<strong>br</strong> />
mundo.<<strong>br</strong> />
Tomara que o pessoal de<<strong>br</strong> />
Brasília, que toma decisões,<<strong>br</strong> />
que nos dizem respeito, sem<<strong>br</strong> />
nos consultar, reflita um<<strong>br</strong> />
pouco nisso...<<strong>br</strong> />
A ilha da agressão<<strong>br</strong> />
Sf^V.<<strong>br</strong> />
do não substituída pelo mes-<<strong>br</strong> />
mo gado.<<strong>br</strong> />
Os chamados defensivos.<<strong>br</strong> />
Mercúrio, por exemplo, ata-<<strong>br</strong> />
cando por dentro e por fora.<<strong>br</strong> />
A ecologia pisada.<<strong>br</strong> />
A lei desrespeitada.<<strong>br</strong> />
A justiça emperrada.<<strong>br</strong> />
Eleição adiada.<<strong>br</strong> />
Aperreado está o trabalha-<<strong>br</strong> />
dor, no meio de tanta agres-<<strong>br</strong> />
sã>.<<strong>br</strong> />
Diálogo com patrão, quase<<strong>br</strong> />
não existe.<<strong>br</strong> />
E o silêncio lambem é uma<<strong>br</strong> />
forma de agressão.<<strong>br</strong> />
Vamos nos defender, com-<<strong>br</strong> />
padre?<<strong>br</strong> />
Assim não dá: estamos<<strong>br</strong> />
cercados por todos os lados.<<strong>br</strong> />
Será que não há salda?<<strong>br</strong> />
J.F.N.<<strong>br</strong> />
Pig.3
OS POSSEIROS <strong>DE</strong> ANDRADINA VÃO EM FRENTE<<strong>br</strong> />
A Comissão dos Posseiros na<<strong>br</strong> />
denúncia para os deputados.<<strong>br</strong> />
ssembléia Legislativa. Olair lê<<strong>br</strong> />
Os posseiros vieram<<strong>br</strong> />
a São Paulo co<strong>br</strong>ar<<strong>br</strong> />
atenção ao seu drama<<strong>br</strong> />
Enquanto resistem pacifi-<<strong>br</strong> />
camente às malandragens e<<strong>br</strong> />
safadezas dos jagunços dos<<strong>br</strong> />
Abdalias (que se julgam do-<<strong>br</strong> />
nos da Fazenda Primavera),<<strong>br</strong> />
os Posseiros de Andradina<<strong>br</strong> />
aprenderam a usar uma nova^<<strong>br</strong> />
ferramenta: a palavra. E por<<strong>br</strong> />
isso estão se tornando muito<<strong>br</strong> />
conhecidos em todo o Esta-<<strong>br</strong> />
do e em outros-Estados, ser-<<strong>br</strong> />
vindo como exemplo de ação<<strong>br</strong> />
para outros trabalhadores<<strong>br</strong> />
em dificuldades.<<strong>br</strong> />
Eles não falam como man-<<strong>br</strong> />
da a gramática, nem andam<<strong>br</strong> />
na gravata, e avisam até que<<strong>br</strong> />
nem sabem direito o que sig-<<strong>br</strong> />
nificam palavras como sub-<<strong>br</strong> />
versivos, comunistas, que a ja-<<strong>br</strong> />
gunçada e seus patrões di-<<strong>br</strong> />
zem para eles. E foi isso mes-<<strong>br</strong> />
mo aue disseram ao Secretá-<<strong>br</strong> />
rio da Segurança Pública do<<strong>br</strong> />
Estado, Otávio Gonzaga Jú-<<strong>br</strong> />
nior, no dia 6 de maio, mos-<<strong>br</strong> />
trando as mãos cheias de ca-<<strong>br</strong> />
los, quando estiveram na ca-<<strong>br</strong> />
pital para co<strong>br</strong>ar um puxão<<strong>br</strong> />
de orelhas na lerda polícia de<<strong>br</strong> />
Andradina:<<strong>br</strong> />
// POSSEIROS LARGA-<<strong>br</strong> />
RAM O SERVIÇO E VIE-<<strong>br</strong> />
RAM A SÃO PAULO<<strong>br</strong> />
FALAR.<<strong>br</strong> />
Os Posseiros não tiveram<<strong>br</strong> />
dúvidas em largar o serviço<<strong>br</strong> />
para vir a São Paulo falar<<strong>br</strong> />
como chefe da polícia do Es-<<strong>br</strong> />
tado, o Secretário da Segu-<<strong>br</strong> />
rança Pública, Otávio Gon-<<strong>br</strong> />
zaga Júnior e com os deputa-<<strong>br</strong> />
dos estaduais, para mostrar<<strong>br</strong> />
suas dificuldades com os pre-<<strong>br</strong> />
tensos donos da Fazenda Pri-<<strong>br</strong> />
mavera e co<strong>br</strong>ar a desapro-<<strong>br</strong> />
priação da terra em seu fa- -<<strong>br</strong> />
vor.<<strong>br</strong> />
Eram 11, mem<strong>br</strong>os da Co-<<strong>br</strong> />
missão de Representantes<<strong>br</strong> />
dos Posseiros: Olair Queiroz<<strong>br</strong> />
dos Santos, Lourenço Quei-<<strong>br</strong> />
roz dos Santos, José Nunes<<strong>br</strong> />
Pereira, Manuel Batista, Ma-<<strong>br</strong> />
riano Feitosa, José Severo,<<strong>br</strong> />
Valdecir Rodrigues de Oli-<<strong>br</strong> />
veira, José Lopes, Osvaldo<<strong>br</strong> />
Pereira das Neves, Manuel<<strong>br</strong> />
de Oliveira e Rostílio Pereira<<strong>br</strong> />
da Silva. E estavam acompa-<<strong>br</strong> />
nhados pelo Presidente da<<strong>br</strong> />
Fetaesp, Roberto Toshio<<strong>br</strong> />
Horiguti, pelo advogado<<strong>br</strong> />
Herber Reis (da Fetaesp), e<<strong>br</strong> />
pelo deputado Franco Baru-<<strong>br</strong> />
selli, presidente da Comissão<<strong>br</strong> />
de Agricultura da As-<<strong>br</strong> />
sembléia Legislativa.<<strong>br</strong> />
Denunciaram as agressões<<strong>br</strong> />
dos jagunços, inclusive aos<<strong>br</strong> />
seus filhos, e reclamaram da<<strong>br</strong> />
moleza .e do pouco caso da<<strong>br</strong> />
polícia de Andradina com<<strong>br</strong> />
suas queixas. O Secretário da<<strong>br</strong> />
Segurança ficou bem impres-<<strong>br</strong> />
sionado com os posseiros e<<strong>br</strong> />
prometeu co<strong>br</strong>ar mais aten-<<strong>br</strong> />
ção, tendo ainda buscado ex-<<strong>br</strong> />
plicações do Incra quanto à<<strong>br</strong> />
desapropriação falada da Fa-<<strong>br</strong> />
Pág. 4 —Realidade Rural — Junho de 1980<<strong>br</strong> />
zenda (que anda na Presidên-<<strong>br</strong> />
cia da Republica).<<strong>br</strong> />
NA CASA DOS <strong>DE</strong>PUTA-<<strong>br</strong> />
DOS ELES <strong>DE</strong>IXARAM<<strong>br</strong> />
SEU RECADO<<strong>br</strong> />
No dia seguinte, 7 de<<strong>br</strong> />
maio, à tarde, os onze Pos-<<strong>br</strong> />
seiros compareceram à Casa<<strong>br</strong> />
dos Deputados estaduais, (a<<strong>br</strong> />
Assembléia Legislativa), onde<<strong>br</strong> />
o deputado Franco Baruselli<<strong>br</strong> />
havia convocado uma reu-<<strong>br</strong> />
nião extraordinária da Co-<<strong>br</strong> />
missão de Agricultura só<<strong>br</strong> />
para ouvi-los.<<strong>br</strong> />
A essa reunião compare-<<strong>br</strong> />
ceu quase toda a Diretoria<<strong>br</strong> />
da Fetaesp, desde o Presi-<<strong>br</strong> />
dente, Roberto Toshio Hori-<<strong>br</strong> />
gutti, aos Diretores Francis-<<strong>br</strong> />
co Benedito Rocha, Mário<<strong>br</strong> />
Vantanage, Emílio Bertuzzo,<<strong>br</strong> />
Antônio David de Souza,<<strong>br</strong> />
além do companheiro Her-<<strong>br</strong> />
ber Reis, do Depto,. Jurídi-<<strong>br</strong> />
co,. Até o prefeito Reinaldo<<strong>br</strong> />
Albertini (Secretário do S<<strong>br</strong> />
TR. de Regente Feijó), com-<<strong>br</strong> />
pareceu.<<strong>br</strong> />
A vontade, os posseiros<<strong>br</strong> />
denunciaram a queima de<<strong>br</strong> />
uma casa, as ameaças dos ja-<<strong>br</strong> />
gunços (citando um, chama-<<strong>br</strong> />
do "Volta Seca") de que ha-<<strong>br</strong> />
veriam mais problemas,<<strong>br</strong> />
agressões. Malharam não<<strong>br</strong> />
apenas os Abdalias e seus ja-<<strong>br</strong> />
gunços, mas também o pre-<<strong>br</strong> />
feito de Andradina (que é<<strong>br</strong> />
meio parente dos Abdalla) e<<strong>br</strong> />
a Delegacia de Polícia, reve-<<strong>br</strong> />
lando que existem suspeitas<<strong>br</strong> />
de envolvimento de um de-<<strong>br</strong> />
putado federal. Depois que<<strong>br</strong> />
eles falaram, o Presidente da<<strong>br</strong> />
Fetaesp fez uma exposição<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e as informações do In-<<strong>br</strong> />
cra quanto à desapropriação.<<strong>br</strong> />
Por fim os posseiros leram<<strong>br</strong> />
uma carta-convite aos depu-<<strong>br</strong> />
tados para participarem da<<strong>br</strong> />
Missa de Solidariedade, dia<<strong>br</strong> />
17 de maio.<<strong>br</strong> />
Além do deputado Baru-<<strong>br</strong> />
selli (que prometeu todo o<<strong>br</strong> />
apoio dos parlamentares e<<strong>br</strong> />
divulgar o depoimento dos<<strong>br</strong> />
posseiros), participaram da<<strong>br</strong> />
reunião também os deputa-<<strong>br</strong> />
dos Marco Aurélio Ribeiro,<<strong>br</strong> />
Goro Hama, Irmã Passoni,<<strong>br</strong> />
Eduardo Suplicy Mattaraz-<<strong>br</strong> />
zo, Doreto Campanari.,<<strong>br</strong> />
Mauro Bragatto e Rubens<<strong>br</strong> />
Costa de Lara.<<strong>br</strong> />
Uma beleza, a missa de solidariedade<<strong>br</strong> />
Era uma beleza, (pena<<strong>br</strong> />
que não possamos mostrar<<strong>br</strong> />
as fotos). No dia 18 de<<strong>br</strong> />
maio, a Igreja Nossa<<strong>br</strong> />
Senhora das Graças, em<<strong>br</strong> />
Andradina, estava decora-<<strong>br</strong> />
da com faixas que falavam<<strong>br</strong> />
dos problemas dos possei-<<strong>br</strong> />
ros entre as quais uma dizia<<strong>br</strong> />
que "onde o boi come, o<<strong>br</strong> />
povo passa fome" e outra,<<strong>br</strong> />
"Primavera, solução urgen-<<strong>br</strong> />
te". Outra faixa dizia: "A<<strong>br</strong> />
lei é dos homens, a justiça é<<strong>br</strong> />
de Deus"; outra: "Temos<<strong>br</strong> />
sede de Justiça" e "Terra,<<strong>br</strong> />
arma do lavrador". Haviam<<strong>br</strong> />
também faixas falando na<<strong>br</strong> />
necessidade de uma Refor-<<strong>br</strong> />
ma Agrária para o Brasil<<strong>br</strong> />
para solucionaro problema<<strong>br</strong> />
de minhões de outros pos-<<strong>br</strong> />
seiros e famílias sem terra<<strong>br</strong> />
ou com pouca terra.<<strong>br</strong> />
Às 13 horas a beleza fi-<<strong>br</strong> />
cou maior ainda, com o iní-<<strong>br</strong> />
cio da Missa de Solidarie-<<strong>br</strong> />
dade aos Posseiros da Fa-<<strong>br</strong> />
zenda Primavera. A Igreja<<strong>br</strong> />
ficou lotada de homens,<<strong>br</strong> />
mulheres , jovens e crian-<<strong>br</strong> />
ças; aproximadamente<<strong>br</strong> />
2.500 pessoas, participando<<strong>br</strong> />
da missa concele<strong>br</strong>ada, ten-<<strong>br</strong> />
do como figura principal o<<strong>br</strong> />
bispo D. Pedro Paulo<<strong>br</strong> />
Koop, de Lins que disse<<strong>br</strong> />
palavras bem claras e enér-<<strong>br</strong> />
gicas em apoio aos possei-<<strong>br</strong> />
ros - ver matéria abaixo.)<<strong>br</strong> />
UM FOLHETO ESPE-<<strong>br</strong> />
CIAL. FALANDO <strong>DE</strong><<strong>br</strong> />
REFORMA AGRÁRIA.<<strong>br</strong> />
No inicio da missa, uma<<strong>br</strong> />
surpresa: o folheto bonito<<strong>br</strong> />
era especial para a missa, e<<strong>br</strong> />
o primeiro canto , o pessoal<<strong>br</strong> />
cantou de boca cheia: "Asa<<strong>br</strong> />
Branca", de Luiz Gonzaga.<<strong>br</strong> />
Na leitura (epístola), em<<strong>br</strong> />
vez de Antigo Testamento,<<strong>br</strong> />
foi lido um trecho (o início)<<strong>br</strong> />
do documento "A Igreja e<<strong>br</strong> />
os Problemas da Terra",<<strong>br</strong> />
feito no início deste ano pe-<<strong>br</strong> />
los Bispos em Itaici, defen-<<strong>br</strong> />
dendo uma Reforma Agrá-<<strong>br</strong> />
ria Autêntica. O Evangelho<<strong>br</strong> />
falava da ascenção de Jesus<<strong>br</strong> />
ao céu, depois de dar suas<<strong>br</strong> />
últimas recomendações aos<<strong>br</strong> />
apóstolos. No canto da co-<<strong>br</strong> />
munhão, um trecho dizia:<<strong>br</strong> />
"São poucos com tanta coisa<<strong>br</strong> />
e muitos que nada têm. Este<<strong>br</strong> />
mundo é esbanjado sem ser-<<strong>br</strong> />
vir para ninguém".<<strong>br</strong> />
No final, antes da palavra<<strong>br</strong> />
dos posseiros e outras' per-<<strong>br</strong> />
sonalidades, houve mais<<strong>br</strong> />
quatro cantos. Um canto<<strong>br</strong> />
dizia, num trecho: "Os ja-<<strong>br</strong> />
gunços da Fazenda tão an-<<strong>br</strong> />
dando tudo armado. E a gen-<<strong>br</strong> />
te não agüenta mais de dar<<strong>br</strong> />
queixa ao delegado". O últi-<<strong>br</strong> />
mo canto foi um bem famo-<<strong>br</strong> />
so: "Prá não dizer que não<<strong>br</strong> />
falei de flores", do Geraldo<<strong>br</strong> />
Vandré.<<strong>br</strong> />
Depois da missa,<<strong>br</strong> />
mem<strong>br</strong>os da Comisssão de<<strong>br</strong> />
Posseiros agradeceram pela<<strong>br</strong> />
Missa de Solidariedade e<<strong>br</strong> />
pela grande presença, e<<strong>br</strong> />
aproveitaram para repetir<<strong>br</strong> />
suas denúncias contra a fa-<<strong>br</strong> />
zenda e os jagunços, ex-<<strong>br</strong> />
O Presidente da Fataesp transmitiu as informações que colheu no<<strong>br</strong> />
INCRA.<<strong>br</strong> />
Ao lado. Diretores da Fataesp.<<strong>br</strong> />
pressando sua confiança<<strong>br</strong> />
numa solução. Depois fala-<<strong>br</strong> />
ram o Padre René Parren,<<strong>br</strong> />
que acompanha os possei-<<strong>br</strong> />
ros; o deputado Franco Ba-<<strong>br</strong> />
ruselli, presidente da Co,-<<strong>br</strong> />
missão de Agricultura da<<strong>br</strong> />
Assembléia Legislativa; e o<<strong>br</strong> />
advogado Herber Reis, da<<strong>br</strong> />
Fetaesp. . Da Federação,<<strong>br</strong> />
inclusive, estavam presen-<<strong>br</strong> />
tes o Presidente, Roberto<<strong>br</strong> />
Toshio Horiguti, o Diretor,<<strong>br</strong> />
Emílio Bertuzzo, Presiden-<<strong>br</strong> />
te do STR. de Mirandópolis,<<strong>br</strong> />
e o companheiro José An-<<strong>br</strong> />
tônio Puncotti, do Departa-<<strong>br</strong> />
mento Jurídico. Estavam<<strong>br</strong> />
presentes também o Presi-<<strong>br</strong> />
dente do STR. de Andradi-<<strong>br</strong> />
na, João dos Santos Alves<<strong>br</strong> />
So<strong>br</strong>inho e o presidente do<<strong>br</strong> />
STR. de Dracena.<<strong>br</strong> />
No final, duas cerimônias<<strong>br</strong> />
bonitas: a entrega aos pos-<<strong>br</strong> />
seiros da coleta da Campa-<<strong>br</strong> />
nha da Fraternidade (Cr$<<strong>br</strong> />
8,000,00), pela coordena-<<strong>br</strong> />
ção da Campanha e seu<<strong>br</strong> />
Manuel Messias de Brito<<strong>br</strong> />
com sua esposa, dona Flor,<<strong>br</strong> />
(ele no violão) cantaram<<strong>br</strong> />
várias músicas em dupla,<<strong>br</strong> />
entre as quais "Bom Jesus<<strong>br</strong> />
de Pirapora".<<strong>br</strong> />
O Secretario da Segurança prometeu mais atenção da policia<<strong>br</strong> />
em favor das queixas dos posseiros.<<strong>br</strong> />
"A terra é vossa",<<strong>br</strong> />
diz o bispo D.Pedro<<strong>br</strong> />
O bispo D. Pedro Paulo Koop, de Lins tem 75 anos e tem<<strong>br</strong> />
problemas de saúde,tanto que não agüentou até o fim da missa<<strong>br</strong> />
e teve de sair. Ele é muito conhecido na região |)tlas suas posi-<<strong>br</strong> />
ções firmes e claras e emocionou muita gente durante a missa<<strong>br</strong> />
quando ele pronunciou em sua homília, palavras de apoio aos<<strong>br</strong> />
posseiros. Vale a pena ler o que ele disse, principalmente<<strong>br</strong> />
alguns que andam falando mal dos posseiros, achando que eles<<strong>br</strong> />
estão errados.<<strong>br</strong> />
QUE CRISTÃOS SÃO ESSES, QUE TENTAM<<strong>br</strong> />
SUBIR NAS COSTAS DOS OUTROS?<<strong>br</strong> />
"Amigos e Irmãos'!<<strong>br</strong> />
Venho trazer-lhe minha<<strong>br</strong> />
solidariedade e vocês, às suas<<strong>br</strong> />
famílias e a todos os que<<strong>br</strong> />
estão com vocês!<<strong>br</strong> />
Impossível honrar a Deus,<<strong>br</strong> />
ser Cristão de verdade, sem<<strong>br</strong> />
preocupar-se com a sorte dos<<strong>br</strong> />
humildes como vocês! Uma<<strong>br</strong> />
Igreja que não considera a<<strong>br</strong> />
religião como vinda do reino<<strong>br</strong> />
de Deus a este mundo, - que<<strong>br</strong> />
não vai seguindo os passos de<<strong>br</strong> />
Jesus,- que não promove jus-<<strong>br</strong> />
tiça e salvação de gente viva<<strong>br</strong> />
para gente concreta, tal Igre-<<strong>br</strong> />
ja não merece fé...<<strong>br</strong> />
O primeiro dever de Cris-<<strong>br</strong> />
tão, hoje e aqui, é preocupar-<<strong>br</strong> />
se com a sorte do povo humil-<<strong>br</strong> />
de, po<strong>br</strong>e, injustiçado e inde-<<strong>br</strong> />
feso. Cumpro meu dever de<<strong>br</strong> />
cristão, de ajuda e apoio a<<strong>br</strong> />
vocês que sofrem o efeito das<<strong>br</strong> />
estruturas injustas, faltando-<<strong>br</strong> />
lhes o absolutamente neces-<<strong>br</strong> />
sário para so<strong>br</strong>eviver, no<<strong>br</strong> />
caso: terra para lavrar e<<strong>br</strong> />
colher.<<strong>br</strong> />
Somos seguidores de Jesus<<strong>br</strong> />
Cristo que não veio pregar<<strong>br</strong> />
uma doutrina nova so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
Deus, mas veio corrigir um<<strong>br</strong> />
conceito falso so<strong>br</strong>e Deus<<strong>br</strong> />
inventado por uma religião<<strong>br</strong> />
farisaica que funciona para<<strong>br</strong> />
proveito egoísta, que funcio-<<strong>br</strong> />
na socialmente em prejuízo<<strong>br</strong> />
dos humildes. Que cristãos<<strong>br</strong> />
são esses, que tentam subir<<strong>br</strong> />
nas costas dos outros?"<<strong>br</strong> />
"A mensagem cristão é a<<strong>br</strong> />
do Deus da bondade e justi-<<strong>br</strong> />
ça, do Deus da libertação e<<strong>br</strong> />
da fraternidade. Seu filho<<strong>br</strong> />
Jesus Cristo viveu ele mesmo<<strong>br</strong> />
essa mensagem que lhe veio<<strong>br</strong> />
de Deus Seu Pai. Por pregar<<strong>br</strong> />
e viver essa mensagem, foi<<strong>br</strong> />
condenado à morte! Ainda<<strong>br</strong> />
hoje há os que, matando pro-<<strong>br</strong> />
fetas, pensam prestar serviço<<strong>br</strong> />
a Deus!<<strong>br</strong> />
D. Pedro Paulo Koop, doente,<<strong>br</strong> />
deixou um belo recado.<<strong>br</strong> />
Amigos, louvamos e apoia-<<strong>br</strong> />
mos a união e perseverança<<strong>br</strong> />
de vocês na luta pela reconhe-<<strong>br</strong> />
cimento de seus invioláveis<<strong>br</strong> />
direitos de legítimos proprie-<<strong>br</strong> />
tários da terra em que, há<<strong>br</strong> />
longos anos vocês, pais e<<strong>br</strong> />
filhos, trabalham para o seu<<strong>br</strong> />
sustento, po<strong>br</strong>e e honesto.<<strong>br</strong> />
Seus direitos são reconhe-<<strong>br</strong> />
cidos por lei, direitos de pos-<<strong>br</strong> />
se e uso produtivo que vocês<<strong>br</strong> />
reivindicam, lutando de modo<<strong>br</strong> />
leal e ordeiro, pacificamente<<strong>br</strong> />
unidos e conscientes.<<strong>br</strong> />
Não é justo que vocês e<<strong>br</strong> />
suas famílias fiquem sem<<strong>br</strong> />
terra e sem casa, nem tendo<<strong>br</strong> />
para onde ir. De justiça, é<<strong>br</strong> />
vossa essa terra.<<strong>br</strong> />
Pecam gravemente os que<<strong>br</strong> />
vivem ameaçando a vocês<<strong>br</strong> />
com suas famílias, espalhan-<<strong>br</strong> />
do medo e terror, invadindo<<strong>br</strong> />
o que lhes não pertence.<<strong>br</strong> />
A vocês, e a todos que, ao<<strong>br</strong> />
lado de vocês, lutam por<<strong>br</strong> />
vocês, nossa solidariedade, e<<strong>br</strong> />
nosso protesto contra as<<strong>br</strong> />
violações e pressões de que<<strong>br</strong> />
são vítimas por parte dos que<<strong>br</strong> />
se julgam donos sem o serem.<<strong>br</strong> />
Deus está do lado de vocês.<<strong>br</strong> />
A Justiça divina jamais<<strong>br</strong> />
falha!"<<strong>br</strong> />
PRES. PRU<strong>DE</strong>NTE-17/05/80<<strong>br</strong> />
Revoltados, os trabalhadores<<strong>br</strong> />
exigem atenção do governo<<strong>br</strong> />
e mostram prejuízos enormes<<strong>br</strong> />
Para entender porque os trabalhado-<<strong>br</strong> />
res rurais foram à concentração de<<strong>br</strong> />
Presidente Prudente, no dia 17 de<<strong>br</strong> />
maio, promovida pelos Sindicatos do<<strong>br</strong> />
Grupo Regional 10, basta acompanhar<<strong>br</strong> />
alguns dados que eles mesmo levanta-<<strong>br</strong> />
ram, mostrando quanto está valendo<<strong>br</strong> />
hoje o trabalho na roça. Depois vale a<<strong>br</strong> />
pena ver a que conclusões os próprios<<strong>br</strong> />
trabalhadores rurais, que falaram na<<strong>br</strong> />
concentração, chegaram a respeito de<<strong>br</strong> />
seu futuro.<<strong>br</strong> />
Roque Aquino Bagli, trabalhador ru-<<strong>br</strong> />
ral produtor de Presidente Prudente<<strong>br</strong> />
fez um levantamento dos custos do<<strong>br</strong> />
adubo e os comparou com os preços do<<strong>br</strong> />
amendoim. Em 26 de novem<strong>br</strong>o de<<strong>br</strong> />
1977, por exemplo, o adubo (fórmula<<strong>br</strong> />
4/14/8) custava Cr$ 2.816,00 a tonelada.<<strong>br</strong> />
Em 23 de outu<strong>br</strong>o do ano seguinte, es-<<strong>br</strong> />
tava em Cr$ 3.408,00. No dia 11 de ju-<<strong>br</strong> />
lho de 1979 já tinha subido para Cr$<<strong>br</strong> />
5.240,00. No dia 9 de novem<strong>br</strong>o do ano<<strong>br</strong> />
passado, estava em Cr$ 7.397,00, subin-<<strong>br</strong> />
do para CrS 9.408,00. E o adubo que<<strong>br</strong> />
será entregue no dia 30 de junho, será<<strong>br</strong> />
pago no valor de CrS 11.229,00.<<strong>br</strong> />
Já o preço do amendoim no dia 1 3 de<<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>il de 1977 era de CrS 200,00, caindo<<strong>br</strong> />
para CrS 135,00 no dia 8 de junho; para<<strong>br</strong> />
CrS 108,00 no dia 28 de agosto do ano<<strong>br</strong> />
seguinte, subindo para CrS 120,00, no<<strong>br</strong> />
dia 3 de janeiro, para subir de novo<<strong>br</strong> />
para CrS 120,00 no dia 16 de a<strong>br</strong>il. O<<strong>br</strong> />
preço mínimo deste ano, em maio, era<<strong>br</strong> />
de CrS 210,00. Ou seja, CrS 10,00 a<<strong>br</strong> />
mais que em a<strong>br</strong>il de 1977!<<strong>br</strong> />
HÁ TRÊS ANOS, O ÓLEO <strong>DE</strong><<strong>br</strong> />
AMENDOIM VALIA CRS 18,00<<strong>br</strong> />
O LITRO; HOJE, 45,50...<<strong>br</strong> />
Antônio Prado, de Alvares Machado<<strong>br</strong> />
(base do STR de Presidente Prudente),<<strong>br</strong> />
lem<strong>br</strong>ou que há três anos o óleo de<<strong>br</strong> />
amendoim industrializado valia CrS.<<strong>br</strong> />
18,00, e este ano, no supermercado,<<strong>br</strong> />
não se encontra a menos de CrS 45,50.<<strong>br</strong> />
E se mostrava espantado que o preço<<strong>br</strong> />
do amendoim, de onde sai o óleo, te-<<strong>br</strong> />
nha ficado no mesmo valor (porque se<<strong>br</strong> />
contar a inflação, não vale quase na-<<strong>br</strong> />
da...).<<strong>br</strong> />
Ele contou outra coisa: há quatro<<strong>br</strong> />
anos, um litro de "Azodrin" (um pro-<<strong>br</strong> />
duto muito usado na lavoura de amen-<<strong>br</strong> />
doim) valia Cr$ 35,00; hoje subiu para<<strong>br</strong> />
CrS 900,00. "Vejam o absurdo!"- disse<<strong>br</strong> />
ele. "E a mercadoria não teve alta!"<<strong>br</strong> />
Antônio Prado comentou que ele<<strong>br</strong> />
teve ainda sorte este ano de poder ven-<<strong>br</strong> />
der seu amendoim mais tarde, tendo<<strong>br</strong> />
conseguido CrS 240,00. Mas, segundo<<strong>br</strong> />
êle, 70% de seus companheiros na re-<<strong>br</strong> />
gião não conseguiu mais do que CrS<<strong>br</strong> />
210,00, outros mesmo Crt 200,00, e<<strong>br</strong> />
com os descontos, segundo ele, cai<<strong>br</strong> />
para CrS 170,00.<<strong>br</strong> />
adubos em geral, subiram em média<<strong>br</strong> />
300%!<<strong>br</strong> />
"CULPADO E O PRESI<strong>DE</strong>NTE<<strong>br</strong> />
DA REPÚBLICA E SEU MINIS-<<strong>br</strong> />
TÉRIO!"<<strong>br</strong> />
O grande destaque da concentração<<strong>br</strong> />
foram ,os trabalhadores. Aqueles que<<strong>br</strong> />
falaram não precisaram de ensaio, nem<<strong>br</strong> />
precisaram que<strong>br</strong>ar muito a cabeça<<strong>br</strong> />
para pensar no que dizer, porque a si-<<strong>br</strong> />
tuação deles é tão ruim que o difícil<<strong>br</strong> />
mesmo é escolher o que dizer. Nin-<<strong>br</strong> />
guém falou tão bem como eles na con-<<strong>br</strong> />
centração. Aliás, foi a concentração<<strong>br</strong> />
em que o trabalhador dominou mais.<<strong>br</strong> />
Os trabalhadores deixaram bem cla-<<strong>br</strong> />
ro que alguma coisa precisa ser feita<<strong>br</strong> />
urgentemente pelo nosso Movimento<<strong>br</strong> />
Sindical, e com urgência, ou logo logo<<strong>br</strong> />
não haverá mais nem pequenos pro-<<strong>br</strong> />
prietários. Eles estão sentindo-se como<<strong>br</strong> />
pipoca em frigideira.<<strong>br</strong> />
José Antônio da Silva, de Caiabú (ba-<<strong>br</strong> />
se do STR de Regente Feijó) previu<<strong>br</strong> />
que a atual safra de amendoim levará o<<strong>br</strong> />
agricultor ao caos, se o Governo não<<strong>br</strong> />
tomar uma providência. Disse também<<strong>br</strong> />
que está acontecendo uma situação<<strong>br</strong> />
hoje que deveria ser pensada: nos tem-<<strong>br</strong> />
pos passados, a gente podia ir a falên-<<strong>br</strong> />
cia na cidade, mas na roça sempre ia<<strong>br</strong> />
em frente. Hoje não. "Se falia na cida-<<strong>br</strong> />
de, voltava prá lavoura e começava<<strong>br</strong> />
tudo de novo". Hoje, na lavoura os<<strong>br</strong> />
mmmmmmmmg§\<<strong>br</strong> />
Os trabalhadores rurais viram que o povo da cidade acompanhou com carinho a pas<<strong>br</strong> />
seata e apoiou o protesto contra a política agrícola e agrária do Governo. Estavam tão<<strong>br</strong> />
animados que uns queriam ir até o centro de Presidente Prudente...<<strong>br</strong> />
José Antônio da Silva, de Caiabu,<<strong>br</strong> />
também falando so<strong>br</strong>e o êxodo rural,<<strong>br</strong> />
disse que essa situação de êxodo, de<<strong>br</strong> />
desânimo, de falta de uma política fun-<<strong>br</strong> />
diária capaz de manter o homem do<<strong>br</strong> />
campo, é uma situação péssima: "Isso<<strong>br</strong> />
é mau para nós, mau para a nossa for-<<strong>br</strong> />
mação, e a formação de nossos filhos, e<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>etudo é mau para a formação de<<strong>br</strong> />
uma Nação que está crescendo!"<<strong>br</strong> />
José Antônio comentou, preocupa-<<strong>br</strong> />
do, que "se o Governo não tem cora-<<strong>br</strong> />
gem de tomar uma providência para<<strong>br</strong> />
que essa situação acabe, vai ver ama-<<strong>br</strong> />
nhã uma mortandade de gente por não<<strong>br</strong> />
ter o que comer nesse País".<<strong>br</strong> />
NÃO SOMOS BICHOS! SOMOS<<strong>br</strong> />
GENTE, MERECEMOS RESPEI-<<strong>br</strong> />
TO!<<strong>br</strong> />
José Antônio revelou que fica espan-<<strong>br</strong> />
tado com outra coisa: tem muita gente<<strong>br</strong> />
na lavoura que quer trabalhar e não<<strong>br</strong> />
Durante a concentração, numa atração à parte foi o alto nível dos trabalhadores que<<strong>br</strong> />
falaram. Mostraram que sabem porque passam por tantos apertos.<<strong>br</strong> />
preços dos produtos dos pequenos não<<strong>br</strong> />
pagam nem os custos de produção, e,<<strong>br</strong> />
muito menos o trabalho.<<strong>br</strong> />
José Soares de Oliveira, de Alfredo<<strong>br</strong> />
Marcondes, disse que o Governo tem<<strong>br</strong> />
muita culpa nessa história, tanto que,<<strong>br</strong> />
em sua opinião, "foi justamente o se-<<strong>br</strong> />
nhor Ministro da Agricultura que jo-<<strong>br</strong> />
gou nós aqui hoje, porque estamos<<strong>br</strong> />
co<strong>br</strong>ando aquilo que nós fomos até<<strong>br</strong> />
Brasília reivindicar, em janeiro, quan-<<strong>br</strong> />
do o amendoim estava em Cr$ 180,00.<<strong>br</strong> />
Ele prometeu que até esta safra ele to-<<strong>br</strong> />
maria alguma solução e até hoje não<<strong>br</strong> />
disse nada para o Sindicato de Presi-<<strong>br</strong> />
dente Prudente!".<<strong>br</strong> />
A única falha no Ginásio de Esportes foi que os trabalhadores ficaram um pouco lon-<<strong>br</strong> />
ge dos oradores. Mas nem por isso eles deixaram de aplaudir e de se manifestar. E<<strong>br</strong> />
entenderam o recado...<<strong>br</strong> />
E quem completou bem estes dados<<strong>br</strong> />
foi o Presidente do Sindicato dos Tra-<<strong>br</strong> />
balhadores Rurais de Presidente Pru-<<strong>br</strong> />
dente, Altino Cremonezi, que falou em<<strong>br</strong> />
nome dos dirigentes sindicais do Grupo<<strong>br</strong> />
Regional 10.<<strong>br</strong> />
Disse ele que, de novem<strong>br</strong>o do ano<<strong>br</strong> />
passado até hoje, o preço de um produ-<<strong>br</strong> />
to químico chamado "Folidol" (2%),<<strong>br</strong> />
muito usado na lavoura de amendoim,<<strong>br</strong> />
passou de CrS 230,00 para 800,00! E,<<strong>br</strong> />
citando dados de uma revista especiali-<<strong>br</strong> />
zada, disse que de agosto do ano passa-<<strong>br</strong> />
do até maio deste ano, os insumos bási-<<strong>br</strong> />
cos, tais como sulfato de amo/lia, clo-<<strong>br</strong> />
reto de potássio, salitre do Chile, uréia.<<strong>br</strong> />
Disse José Soares que "lá em Brasí-<<strong>br</strong> />
lia nós dissemos a ele que não quería-<<strong>br</strong> />
mos preço mínimo, mas preço justo,<<strong>br</strong> />
porque o preço mínimo nada resolve.<<strong>br</strong> />
O que interessa a nós é preço justo e<<strong>br</strong> />
compensador".<<strong>br</strong> />
Ele comentou uma outra coisa: "Há<<strong>br</strong> />
quatro anos -disse- se fizéssemos uma<<strong>br</strong> />
concentração, nós encheríamos este<<strong>br</strong> />
estádio com 5 vezes mais de trabalha-<<strong>br</strong> />
dores. Mas hoje eles estão dispersos na<<strong>br</strong> />
cidade, como migrantes". E esta situa-<<strong>br</strong> />
ção de desânimo, de êxodo rural, tem<<strong>br</strong> />
culpado, em sua opinião: "é o senhor<<strong>br</strong> />
presidente da Republica e o seu Minis-<<strong>br</strong> />
tério, que expulsam nós da terra".<<strong>br</strong> />
tem como, porque falta terra, falta ser-<<strong>br</strong> />
viço. E confessou que perdeu as estri-<<strong>br</strong> />
beiras há algum tempo: é que ele ouviu<<strong>br</strong> />
o Ministro Delfim Netto, do Planeja-<<strong>br</strong> />
mento, dizer que os líderes dos traba-<<strong>br</strong> />
lhadores rurais que fizeram a chamada<<strong>br</strong> />
"greve da soja" no sul eram "míopes",<<strong>br</strong> />
vesgos, que não estavam enxergando<<strong>br</strong> />
bem as coisas. "Isso desabafou José<<strong>br</strong> />
Antônio - é um crime que se faz contra<<strong>br</strong> />
o homem do campo. Se hoje nós somos<<strong>br</strong> />
taxados de míopes, de escravos, de lou-<<strong>br</strong> />
cos, é uma afronta ao homem da Na-<<strong>br</strong> />
ção, que é a base forte, que são todos<<strong>br</strong> />
os lavradores aqui presentes".<<strong>br</strong> />
E Francisco Domingues, um compa-<<strong>br</strong> />
nheiro de Palmital, recomendou (nu-<<strong>br</strong> />
mildemente) que se apoie cada vez<<strong>br</strong> />
mais os Sindicatos, para procurar os<<strong>br</strong> />
nossos direitos "porque o Governo só<<strong>br</strong> />
vive tirando cada vez mais o direito do<<strong>br</strong> />
povo".<<strong>br</strong> />
- Ele fala em abertura- comentou<<strong>br</strong> />
Francisco. Mas quando se fala em gre-<<strong>br</strong> />
ves, quando se falam certas verdades,<<strong>br</strong> />
eles vêm de pau prá cima de nós.<<strong>br</strong> />
Francisco disse que o trabalhador<<strong>br</strong> />
rural paga o preço de sempre calar:<<strong>br</strong> />
- Não podemos baixar a cabeça com<<strong>br</strong> />
essa corrupção que existe no nosso Go-<<strong>br</strong> />
verno. Vocês estão vendo o caso dos<<strong>br</strong> />
metalúrgicos. Não puderam fazer na-<<strong>br</strong> />
da. Fizeram greve, tudo agüentaram<<strong>br</strong> />
durante muito tempo, vários dias, e o<<strong>br</strong> />
Governo pôs o líder dos operários, o<<strong>br</strong> />
Lula, na cadeia. Não é assim que se faz<<strong>br</strong> />
com o trabalhador, tratando nós como<<strong>br</strong> />
bichos. Não somos bichos. Somos gen-<<strong>br</strong> />
te. Nós merecemos todo o respeito das<<strong>br</strong> />
nossas autoridades!<<strong>br</strong> />
"ESTÁ NA HORA <strong>DE</strong> DIZER;<<strong>br</strong> />
CHEGA!"<<strong>br</strong> />
Depois dos trabalhadores (só desta-<<strong>br</strong> />
camos alguns, por falta de espaço), fa-<<strong>br</strong> />
laram os dirigentes sindicais.<<strong>br</strong> />
Todos os oradores procuraram des-<<strong>br</strong> />
tacar uma coisa: a necessidade do pró-<<strong>br</strong> />
prio homem do campo levantar a cabe-<<strong>br</strong> />
ça e mudar por conta própria a situa-<<strong>br</strong> />
ção.<<strong>br</strong> />
E como? Paulo Silva comentou que<<strong>br</strong> />
se houvessem 5.000 trabalhadores reu-<<strong>br</strong> />
nidos em Presidente Prudente (e não<<strong>br</strong> />
apenas 800), e outro tanto em cada um<<strong>br</strong> />
dos mais 9 Grupos Regionais, seriam<<strong>br</strong> />
50,000 trabalhadores rurais buscando<<strong>br</strong> />
soluções e isso pesaria na balança das<<strong>br</strong> />
autoridades. Disse que é necessário um<<strong>br</strong> />
trabalho de base, de núcleos sindicais,<<strong>br</strong> />
de ligação entre c trabalhador, o Sindi-<<strong>br</strong> />
cato e a Federação, "pois do contrário<<strong>br</strong> />
ficaremos sempre nessa lenga-lenga",<<strong>br</strong> />
nessa iastimação de que tudo o que<<strong>br</strong> />
vem para nós, tem valor, porque os ou-<<strong>br</strong> />
tros se unem, formam as correntes e<<strong>br</strong> />
eles taxam o que nos vendem e tam-<<strong>br</strong> />
bém taxam o que nos compram".<<strong>br</strong> />
E completou: "Está na hora de dizer,<<strong>br</strong> />
chega!". E mostrou aos trabalhadores<<strong>br</strong> />
que eles tem que dizer "Graças a<<strong>br</strong> />
Deus" não se há médico ou dentista<<strong>br</strong> />
que consulta no Sindicato" mas se há<<strong>br</strong> />
nos sindicatos pessoas para lutar pelos<<strong>br</strong> />
nossos direitos" porque quando o tra-<<strong>br</strong> />
balho e a produção tem valor, o traba-<<strong>br</strong> />
lhador terá dinheiro para escolher seu ■<<strong>br</strong> />
médico ou dentista.<<strong>br</strong> />
O deputado Mauro Bragatto falou<<strong>br</strong> />
curtinho, levando sua-solidariedade,<<strong>br</strong> />
mostrando que o Governo é anti-<<strong>br</strong> />
nacional e anti-populare que isso se re-<<strong>br</strong> />
flete na agricultura, onde "o Ministro<<strong>br</strong> />
Stabile nada mais é do que represen-<<strong>br</strong> />
tante das multinacionais".<<strong>br</strong> />
Altino Cremonezi, Presidente do Sin-<<strong>br</strong> />
dicato de Presidente Prudente, comen-<<strong>br</strong> />
tou satisfeito que valeu a pena fazer a<<strong>br</strong> />
concentração, apesar de todas as difi-<<strong>br</strong> />
culdades, falhas, porque é o começo de<<strong>br</strong> />
uma nova luta para fazer o homem da<<strong>br</strong> />
lavoura levantar a cabeça, defender<<strong>br</strong> />
sua profissão de trabalhador rural, uma<<strong>br</strong> />
vez que com todas as mudanças na ro-<<strong>br</strong> />
ça, hoje estão desaparecendo o arren-<<strong>br</strong> />
datário, o parceiro agrícola, o forma-<<strong>br</strong> />
dor de café, estão desaparecendo as<<strong>br</strong> />
culturas do amendoim e do café e a ú-<<strong>br</strong> />
nica saída é o pessoal se tornar volante.<<strong>br</strong> />
Então é preciso começar a <strong>br</strong>igar.<<strong>br</strong> />
Por fim, o Presidente da Fetaesp,<<strong>br</strong> />
Roberto Toshio Horiguti. Ele mostrou<<strong>br</strong> />
com clareza que o governo ultimamen-<<strong>br</strong> />
te tem dado destaque à posição de que<<strong>br</strong> />
"Exportar é o que interessa ao Pais",<<strong>br</strong> />
atendendo com isso não ao interesse<<strong>br</strong> />
do povo mais necessitado mas dos ri-<<strong>br</strong> />
cos, do poder econômico e, particular-<<strong>br</strong> />
mente, das multinacionais. Não inte-<<strong>br</strong> />
ressa o sacrifício de que nós, povo <strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />
sileiro, tenhamos que sofrer.<<strong>br</strong> />
Roberto mostrou que o sindicalismo<<strong>br</strong> />
é a saída para uma virada na situação e<<strong>br</strong> />
disse que se cada pai ou mãe de família<<strong>br</strong> />
pensar nos seus filhos, no futuro deles,<<strong>br</strong> />
eles vão entender porque precisam<<strong>br</strong> />
participar do sindicalismo e deixar de<<strong>br</strong> />
colocar o chapéu embaixo do <strong>br</strong>aço<<strong>br</strong> />
para pedir ao banco uma migalha de<<strong>br</strong> />
assistência técnica, para reivindicar<<strong>br</strong> />
uma política agrícola e econômica que<<strong>br</strong> />
interesse a nós e não aos grandes lati-<<strong>br</strong> />
fundiários, etc.<<strong>br</strong> />
SINDICATOS PRESENTES<<strong>br</strong> />
Flórida Paulista (4 pessoas); Regente<<strong>br</strong> />
Feijó (150); Ranchana (22); Quatá(l);<<strong>br</strong> />
Marilia (I); Dracena (2); Avaré (2);<<strong>br</strong> />
Palmital (21); Presidente Bernardes<<strong>br</strong> />
(21); Teodoro Sampaio (3); Itaí (I);<<strong>br</strong> />
Bernardino de Campos (2); Cravinhos<<strong>br</strong> />
(I); Presidente Epitacio (30); Junquei-<<strong>br</strong> />
rópolis (24); Pacaembú, Mirante do<<strong>br</strong> />
Paranapanema. De Alvares Machado<<strong>br</strong> />
(220) e Alfredo Marcondes (70), ambas<<strong>br</strong> />
bases do STR. de Presidente Prudente.<<strong>br</strong> />
Da Fetaesp estiveram presentes o Pre-<<strong>br</strong> />
sidente e o Secretário Geral, respecti-<<strong>br</strong> />
vamente Roberto Toshio Horiguti e<<strong>br</strong> />
Francisco Benedito Rocha, além do<<strong>br</strong> />
companheiro José Antônio Pancotti,<<strong>br</strong> />
assessor jurídico.<<strong>br</strong> />
Campanha Salarial<<strong>br</strong> />
O nosso sindicalismo já está se movimentando,<<strong>br</strong> />
desencadeando nova campanha salarial em todo o<<strong>br</strong> />
Estado de São Paulo.<<strong>br</strong> />
Nos dias 24 e 25 de maio houve, em Agudos, no<<strong>br</strong> />
Instituto Técnico e Educacional para Trabalhadores<<strong>br</strong> />
Rurais no Estado de São Paulo (ITETRESP) um<<strong>br</strong> />
encontro de todos os advogados dos Sindicatos com<<strong>br</strong> />
os advogados da Federação, durante o qual foram<<strong>br</strong> />
analisadas as quatro campanhas salariais havidas até<<strong>br</strong> />
agora, foram analisadas também as mudanças na<<strong>br</strong> />
política salarial e estudados itens novos, que pode-<<strong>br</strong> />
riam ser sugeridos aos Sindicatos, na montagem da<<strong>br</strong> />
pauta de reivindicações.<<strong>br</strong> />
No dia seguinte, 26 de maio, uma segunda-feira, o<<strong>br</strong> />
Conselho de Representantes da Fetaesp se reuniu no<<strong>br</strong> />
ITETRESP para analisar as ponderações dos advo-<<strong>br</strong> />
gados e estudar sugestões de mudanças para a mon-<<strong>br</strong> />
tagem da pauta de reinvindicações referentes à quin-<<strong>br</strong> />
ta campanha salarial, que está começando.<<strong>br</strong> />
No dia 12 de junho, se realizará na sede da<<strong>br</strong> />
FETAESP uma Assembléia Geral, em que a próxima<<strong>br</strong> />
campanha salarial será o item principal do encontro.<<strong>br</strong> />
Dessa reunião farão parte dirigentes de todos ps Sin-<<strong>br</strong> />
dicatos de Trabalhadores Rurais do Estado.<<strong>br</strong> />
APESAR DOS PATRÕES, AVANÇAMOS MUITO<<strong>br</strong> />
Como comentamos na "NOSSA POSIÇÃO", na<<strong>br</strong> />
página 3, as campanhas salariais estão modificando<<strong>br</strong> />
para melhor o nosso sindicalismo. Os patrões até<<strong>br</strong> />
agora só fizeram cara feia para nós, não quiseram<<strong>br</strong> />
diálogo. Sempre preferiram a solução cômoda do<<strong>br</strong> />
Tribunal Regional do Trabalho (TRT) decidir quanto<<strong>br</strong> />
iríamos ganhar e que mudanças haveriam nas condi-<<strong>br</strong> />
ções de trabalho dos companheiros.<<strong>br</strong> />
A esperança é de que este ano os patrões, especial-<<strong>br</strong> />
mente, a Federação patronal (a FAESP), aceite ao<<strong>br</strong> />
menos dialogar. De qualquer forma, no entanto, os<<strong>br</strong> />
Sindicatos de Trabalhadores Rurais, estão se empe-<<strong>br</strong> />
nhando em executar à risca os acórdãos, com deci-<<strong>br</strong> />
sões da Justiça do Trabalho.<<strong>br</strong> />
Na Bahia, uma greve<<strong>br</strong> />
legal e bem <strong>org</strong>anizada<<strong>br</strong> />
Os trabalhadores volantes, vinculados ao Sindicato dos Tra-<<strong>br</strong> />
balhadores Rurais de Vitória da Conquista, na Bahia, que nor-<<strong>br</strong> />
malmente trabalham nas fazendas de café, na colheita da pro-<<strong>br</strong> />
dução, não estão mais dispostos a continuar engordando a<<strong>br</strong> />
patronagem na moleza.<<strong>br</strong> />
E foi com essa disposição de ânimo que eles decidiram este<<strong>br</strong> />
ano colocar um ponto final no passado de cabeça baixa e resol-<<strong>br</strong> />
veram fazer uma campanha salarial conjunta, envolvendo tam-<<strong>br</strong> />
bém a base de Barra do Choça e conseguiram deflagrar uma<<strong>br</strong> />
greve, que a justiça considerou legal, uma vez que os patrões<<strong>br</strong> />
nem se dignaram a ouvi-los, esperando que os trabalhadores<<strong>br</strong> />
não agüentassem muito tempo parados, uma vez que depen-<<strong>br</strong> />
diam do ganho semanal.<<strong>br</strong> />
Mas os trabalhadores agüentaram firmes e contaram com o<<strong>br</strong> />
apoio da CONTAG, dos Sindicatos da Bahia, Federação de<<strong>br</strong> />
Minas e outras, e foram formados dois Comitês de Solidarie-<<strong>br</strong> />
dade segundo a imprensa: um em Salvador (a capital), outro<<strong>br</strong> />
em Vitória da Conquista, para arrecadar mantimentos e<<strong>br</strong> />
dinheiro para os trabalhadores em greve, como aconteceu no<<strong>br</strong> />
ABC, em São Paulo.<<strong>br</strong> />
Quando a greve é legal, a polícia não pode prender ninguém,<<strong>br</strong> />
muito menos bater, e nem os patrões podem sustituir os traba~<<strong>br</strong> />
lhadores em greve. Mas a polícia lá tomou o partido dos<<strong>br</strong> />
patrões, escoltando os caminhões dos "gatos" que levavam<<strong>br</strong> />
substitutos para os patrões. Os "gatos" tentavam enganar os<<strong>br</strong> />
trabalhadores, prometendo boa remuneração e depois desmen-<<strong>br</strong> />
tiam, no caminho da fazenda e quem não quisesse aceitar, vol-<<strong>br</strong> />
tava a pé, conforme a imprensa. Houve uma assembléia com<<strong>br</strong> />
3.500 trabalhadores presentes, entre os quais o Presidente da<<strong>br</strong> />
CONTAG, José Francisco da Silva, um representante da<<strong>br</strong> />
Federação de Minas e dirigentes sindicais de trabalhadores<<strong>br</strong> />
rurais da Bahia.<<strong>br</strong> />
Depois de mais de 10 dias paralizados, os trabalhadores vol-<<strong>br</strong> />
taram ao serviço, aguardando o julgamento do Tribunal Regio-<<strong>br</strong> />
nal do Trabalho. Eles reivindicam CrS 155,00, os patrões con-<<strong>br</strong> />
trapropõem Crí 130,00 e o Juiz da Junta de Conciliação e Jul-<<strong>br</strong> />
gamento sugere CrS 142,00. Os trabalhadores reivindicam ain-<<strong>br</strong> />
da o cumprimento da legislação trabalhista e igualdade de<<strong>br</strong> />
salários entre homem, mulher e criança. Até há pouco tempo os<<strong>br</strong> />
homens ganhavam CrS 108,00, e as mulheres CrS 60/70.00!<<strong>br</strong> />
Malandros tentam<<strong>br</strong> />
grilar em Angatuba<<strong>br</strong> />
Uma Comissão de Traba-<<strong>br</strong> />
lhadores Rurais Produtores do<<strong>br</strong> />
bairro Faxinai, em Angatuba,<<strong>br</strong> />
acompanhada do Presidente<<strong>br</strong> />
do Sindicato, Alcides Berto-<<strong>br</strong> />
lai, e da advogada Marta Al-<<strong>br</strong> />
ves, esteve na Fetaesp e denun-<<strong>br</strong> />
ciou indivíduos inescrupulosos<<strong>br</strong> />
que, aliados a cartórios deso-<<strong>br</strong> />
nestos, fizeram uma so<strong>br</strong>epo-<<strong>br</strong> />
sição de escrituras, pretenden-<<strong>br</strong> />
do com isso grilar as terras dos<<strong>br</strong> />
companheiros. Em Maio, in-<<strong>br</strong> />
clusive, foi feita uma correição<<strong>br</strong> />
(uma fiscalização do próprio<<strong>br</strong> />
juiz), no cartório de Angatu-<<strong>br</strong> />
ba, para acertar os ponteiros<<strong>br</strong> />
lá. Os trabalhadores rurais<<strong>br</strong> />
produtores acompanharam. A<<strong>br</strong> />
trama nasceu em cima de um<<strong>br</strong> />
pedacinho de terra num bairro<<strong>br</strong> />
chamado CORRUPÇÃO, em<<strong>br</strong> />
Itapetininga... Na próxima<<strong>br</strong> />
edição divulgaremos o depoi-<<strong>br</strong> />
mento dos trabalhadores, do<<strong>br</strong> />
Sindicato e da advogada).<<strong>br</strong> />
Realidade Rural — Junho de 1980—Pág. 5
A GREVE DA SOJA<<strong>br</strong> />
Sindicato/Cooperativa,<<strong>br</strong> />
a fórmula que fez o<<strong>br</strong> />
Governo recuar no sul.<<strong>br</strong> />
Nos fins de março, pouco antes de<<strong>br</strong> />
começar a greve dos-metalúrgicos, o<<strong>br</strong> />
Brasil todo acompanhou uma inten-<<strong>br</strong> />
sa e surpreendente movimentação<<strong>br</strong> />
dos pequenos e médios produtores de<<strong>br</strong> />
soja do Sul do País, incluindo o<<strong>br</strong> />
Mato Grosso do Sul. A movimenta-<<strong>br</strong> />
ção tinha por objetivo mostrar a opi-<<strong>br</strong> />
nião pública o descontentamento dos<<strong>br</strong> />
agricultores em relação ao injusto<<strong>br</strong> />
confisco cambial, imposto pelo Gover-<<strong>br</strong> />
no so<strong>br</strong>e as exportações no fim do<<strong>br</strong> />
ano e que prejudicava os agriculto-<<strong>br</strong> />
res.<<strong>br</strong> />
Os agriívltores haviam decidido<<strong>br</strong> />
não vender a soja enquanto o Gover-<<strong>br</strong> />
no não acabasse, com o confisco. E<<strong>br</strong> />
venceram.<<strong>br</strong> />
Por trás de toda a movimentação,<<strong>br</strong> />
que foi uma verdadeira greve dos<<strong>br</strong> />
agricultores, estavam uma poderosa<<strong>br</strong> />
"AS BASES É QUE TO-<<strong>br</strong> />
MA RAM ESSA POSI-<<strong>br</strong> />
ÇÃO"<<strong>br</strong> />
Orgenio Roth inilita no<<strong>br</strong> />
nosso sindicalismo desde<<strong>br</strong> />
seu início, ia pelos idos de<<strong>br</strong> />
l%l/62. Foi Presidente<<strong>br</strong> />
do Sindicato dos Traba-<<strong>br</strong> />
lhadores Rurais de Ijuíee<<strong>br</strong> />
nos últimos anos, corno<<strong>br</strong> />
vice-presidente da<<strong>br</strong> />
FETAG-RS, era o res-<<strong>br</strong> />
ponsável pelo trabalho de<<strong>br</strong> />
educação sindical. Nos úl-<<strong>br</strong> />
timos anos surgiram no<<strong>br</strong> />
Rio Grande do Sul divi-<<strong>br</strong> />
sões regionais de Sindica-<<strong>br</strong> />
tos, a exemplo dos nossos<<strong>br</strong> />
Grupos Regionais em São<<strong>br</strong> />
Paulo. E esse trabalho<<strong>br</strong> />
tem propiciado um impul-<<strong>br</strong> />
so novo ao sindicalismo<<strong>br</strong> />
naquele Estado.<<strong>br</strong> />
É exatamente este as-<<strong>br</strong> />
pecto que Orgenio faz<<strong>br</strong> />
questão de, destacar,<<strong>br</strong> />
como fundamental na gre-<<strong>br</strong> />
ve dos agricultores: "A-<<strong>br</strong> />
cho que a movimentação<<strong>br</strong> />
toda foi altamente válida<<strong>br</strong> />
- diz ele - porque justa-<<strong>br</strong> />
mente as bases é que to-<<strong>br</strong> />
maram esSa posição e não<<strong>br</strong> />
aconteceu por acaso, por-<<strong>br</strong> />
que a partir do momento<<strong>br</strong> />
em que o Delfim decretou<<strong>br</strong> />
o imposto, os agricultores<<strong>br</strong> />
começaram a discutir<<strong>br</strong> />
com os Sindicatos uma<<strong>br</strong> />
saída"<<strong>br</strong> />
Pág. 6<<strong>br</strong> />
Das discussões, surgi-<<strong>br</strong> />
ram subsídios para a FE-<<strong>br</strong> />
TAG que elaborou um<<strong>br</strong> />
documenlo, enviando-o<<strong>br</strong> />
ao Governo. Mas não ob-<<strong>br</strong> />
teve resposta. O Ministro<<strong>br</strong> />
do Planejamento não deu<<strong>br</strong> />
satisfação. E como a safra<<strong>br</strong> />
se aproximava, com boas<<strong>br</strong> />
perspectivas o que anima-<<strong>br</strong> />
va os produtores quejá vi-<<strong>br</strong> />
nham de duas safras ante-<<strong>br</strong> />
riores frustradas de soja e<<strong>br</strong> />
uma de trigo e esperavam<<strong>br</strong> />
recuperar-se em parte dos<<strong>br</strong> />
prejuízos nesta safra. Era<<strong>br</strong> />
também por isso que o<<strong>br</strong> />
confisco irritava tanto.<<strong>br</strong> />
Segundo o Presidente,<<strong>br</strong> />
dois Grupos Regionais de<<strong>br</strong> />
Sindicatos, particular-<<strong>br</strong> />
mente, partiram na dian-<<strong>br</strong> />
teira. Passo Fundo e Ijuí,<<strong>br</strong> />
ganhando de imediato, e a<<strong>br</strong> />
nível estadual, um impor-<<strong>br</strong> />
tante aliado: o movimento<<strong>br</strong> />
cooperativista, através da<<strong>br</strong> />
poderosa FECOTRIGO.<<strong>br</strong> />
que domina a produção e<<strong>br</strong> />
comercialização da soja<<strong>br</strong> />
do Sul do País. E através<<strong>br</strong> />
das cooperativas, foi mais<<strong>br</strong> />
fácil o movimento dos<<strong>br</strong> />
produtores chegar a Santa<<strong>br</strong> />
Catarina, Paraná e Mato<<strong>br</strong> />
Grosso do Sul.<<strong>br</strong> />
A aliança entre sindica-<<strong>br</strong> />
tos e cooperativas (onde<<strong>br</strong> />
80% dos associados são fi-<<strong>br</strong> />
liados a nossos Sindica-<<strong>br</strong> />
rede de cooperativas e um conjunto<<strong>br</strong> />
de sindicatos de trabalhadores rurais<<strong>br</strong> />
bastante ativos. Só alguns sindicatos<<strong>br</strong> />
patronais participaram, mas cairam<<strong>br</strong> />
fora da <strong>br</strong>iga antes do fim, com<<strong>br</strong> />
medo das reações do Governo.<<strong>br</strong> />
E a coordepação de toda a movi-<<strong>br</strong> />
mentação foi do Movimento Sindical<<strong>br</strong> />
dos Trabalhadores Rurais, através<<strong>br</strong> />
da nossa Federação co-irmã do Rio<<strong>br</strong> />
Grande do Sul (EEIAG-RSj. onde<<strong>br</strong> />
estava assumindo o novo Presidente,<<strong>br</strong> />
Orgenio Rothide Ijuí - foco princi-<<strong>br</strong> />
pal do movimento}, substituindo a<<strong>br</strong> />
Ge lindo Zulmiro Ferri, que assumi-<<strong>br</strong> />
ria dias depois a Secretaria Geral da<<strong>br</strong> />
CONTAG.<<strong>br</strong> />
Dada a grande repercussão do<<strong>br</strong> />
movimento. Realidade Rural publica<<strong>br</strong> />
nesta edição entrevista com o Presi-<<strong>br</strong> />
dente da EETAG.<<strong>br</strong> />
Orgênio defende maior inte-<<strong>br</strong> />
gração nacional do nosso sin-<<strong>br</strong> />
dicalismo.<<strong>br</strong> />
tos), e toda a movimenta-<<strong>br</strong> />
ção, logo sensibilizou urna<<strong>br</strong> />
área importante: os políti-<<strong>br</strong> />
cos, inclusive os governis-<<strong>br</strong> />
tas colocaram-se a favor<<strong>br</strong> />
do movimento e o pró-<<strong>br</strong> />
prio Secretário da Agri-<<strong>br</strong> />
cultura do Estado se<<strong>br</strong> />
também posicionou logo<<strong>br</strong> />
favorável às reivindica-<<strong>br</strong> />
ções dos agricultores.<<strong>br</strong> />
Aliás, so<strong>br</strong>e a participa-<<strong>br</strong> />
ção dos políticos, Orgenio<<strong>br</strong> />
Roth conta um fato muito<<strong>br</strong> />
interessante: "No dia 21<<strong>br</strong> />
de março, em Ijuí, foi rea-<<strong>br</strong> />
lizada uma grande con-<<strong>br</strong> />
centração, de aproxima-<<strong>br</strong> />
damente 8.000 agriculto-<<strong>br</strong> />
res, com a presença de 84<<strong>br</strong> />
Sindicatos e 32 cooperati-<<strong>br</strong> />
vas. Também participa-<<strong>br</strong> />
ram políticos de todos os<<strong>br</strong> />
partidos atuais, mas estes<<strong>br</strong> />
não puderam falar porque<<strong>br</strong> />
os agricultores não lhes<<strong>br</strong> />
deram oportunidade, ale-<<strong>br</strong> />
gando que eles poderiam<<strong>br</strong> />
ouvir os reclamos mas<<strong>br</strong> />
que não lhes era permiti-<<strong>br</strong> />
do o uso da palavra".<<strong>br</strong> />
Assim os políticos tive-<<strong>br</strong> />
ram de ouvir tudo. de<<strong>br</strong> />
boca fechada. É bem ver-<<strong>br</strong> />
dade que depois, segundo<<strong>br</strong> />
Orgenio. alguns apoia-<<strong>br</strong> />
ram, mas sem a<strong>br</strong>ir o jogo.<<strong>br</strong> />
Mas, em compensação, os<<strong>br</strong> />
outros políticos se im-<<strong>br</strong> />
pressionaram tanto com a<<strong>br</strong> />
firmeza do comportamen-<<strong>br</strong> />
to dos agricultores que<<strong>br</strong> />
logo a própria Assembléia<<strong>br</strong> />
Legislativa criou uma Co-<<strong>br</strong> />
missão Especial da Soja.<<strong>br</strong> />
convidando representan-<<strong>br</strong> />
tes das Assembléias de<<strong>br</strong> />
Santa Catarina. Paraná e<<strong>br</strong> />
São Paulo. "Então - con-<<strong>br</strong> />
ta Orgenio - a partir daí<<strong>br</strong> />
a gente verificou que tam-<<strong>br</strong> />
bém foi um grande apoio,<<strong>br</strong> />
o da área politicagem fa-<<strong>br</strong> />
vor dos agricultores".<<strong>br</strong> />
SIND1CATO-<<strong>br</strong> />
COOPERATIVA. UMA<<strong>br</strong> />
ALIANÇA QUE DA<<strong>br</strong> />
CERTO NO SUL<<strong>br</strong> />
E bem verdade que o<<strong>br</strong> />
cooperalivismo não tem<<strong>br</strong> />
lá tanta democracia inter-<<strong>br</strong> />
na como pode parecer.<<strong>br</strong> />
São poucas as cooperati-<<strong>br</strong> />
vas que se empenham de<<strong>br</strong> />
fato em incentivar e pro-<<strong>br</strong> />
piciar a mais ampla possí-<<strong>br</strong> />
vel participação dos seus<<strong>br</strong> />
associados nas suas deci-<<strong>br</strong> />
sões. Mas nos últimos<<strong>br</strong> />
tempos tem surgido um<<strong>br</strong> />
fato novo. que vem for-<<strong>br</strong> />
çando as cooperativas a<<strong>br</strong> />
entrarem nos eixos: a<<strong>br</strong> />
atuação dos Sindicatos.<<strong>br</strong> />
Como diz Orgenio. cer-<<strong>br</strong> />
ca de 80 u „ dos associados;<<strong>br</strong> />
das cooperativas são vin-<<strong>br</strong> />
culados aos Sindicatos<<strong>br</strong> />
dos Trabalhadores 'Rurais<<strong>br</strong> />
e por isso o sindicalismo e<<strong>br</strong> />
os trabalhadores rurais<<strong>br</strong> />
tem forçado as cooperati-<<strong>br</strong> />
vas a seguir uma linha<<strong>br</strong> />
política favorável a eles. E<<strong>br</strong> />
a própria existência desse<<strong>br</strong> />
cooperalivismo dominado<<strong>br</strong> />
por pequenos, segundo<<strong>br</strong> />
Orgenio, foi que propi-<<strong>br</strong> />
ciou essa movimentação<<strong>br</strong> />
dos agricultores. Não fos-<<strong>br</strong> />
sem as cooperativas, a so-<<strong>br</strong> />
ja, que estava na época<<strong>br</strong> />
sendo vendida acima de<<strong>br</strong> />
Cr$ 500,00, estaria sendo<<strong>br</strong> />
vendida a aproximada-<<strong>br</strong> />
mente Cr$ 300,00, tal o<<strong>br</strong> />
poder de controle do mer-<<strong>br</strong> />
cado pelas multinacio-<<strong>br</strong> />
nais.<<strong>br</strong> />
Nos cursos de educação<<strong>br</strong> />
sindical . o cooperativis-<<strong>br</strong> />
mo é um dos pontos de<<strong>br</strong> />
Sindicalismo e cooperalivismo: um casamento possível?<<strong>br</strong> />
honra: "Sempre mostra-<<strong>br</strong> />
mos o Sindicato como ór-<<strong>br</strong> />
gão de representação, e a<<strong>br</strong> />
cooperativa, como a defe-<<strong>br</strong> />
sa econômica do nosso<<strong>br</strong> />
trabalhador" — diz Orge-<<strong>br</strong> />
nio.<<strong>br</strong> />
FALTA <strong>DE</strong> TERRA.<<strong>br</strong> />
QUE UMA REFORMA<<strong>br</strong> />
AGRÁRIA RESOLVE-<<strong>br</strong> />
RIA.<<strong>br</strong> />
No seu comodismo de<<strong>br</strong> />
sempre, o INCRA diz que<<strong>br</strong> />
a fronteira agrícola gaú-<<strong>br</strong> />
cha se esgotou, e com isso<<strong>br</strong> />
quer argumentar qúc não<<strong>br</strong> />
há porque falarem Refor-<<strong>br</strong> />
ma Agrária, em redistri-<<strong>br</strong> />
buição de terras nesse Es-<<strong>br</strong> />
tado. Há certas áreas no<<strong>br</strong> />
Estado, particularmente<<strong>br</strong> />
nas regiões de pecuária,<<strong>br</strong> />
onde a produção é primi-<<strong>br</strong> />
tiva ainda, utilizando-se<<strong>br</strong> />
imensas áreas de terra que<<strong>br</strong> />
poderiam ser melhor usa-<<strong>br</strong> />
das com a agricultura dos<<strong>br</strong> />
pequenos produtores sem<<strong>br</strong> />
terra, que são milhares<<strong>br</strong> />
também no Rio Grande<<strong>br</strong> />
do Sul, embora eles te-<<strong>br</strong> />
nham muito bons conhe-<<strong>br</strong> />
cimentos de técnica e pro-<<strong>br</strong> />
dutividade.<<strong>br</strong> />
Há também o crime de<<strong>br</strong> />
se fazer florestamento em<<strong>br</strong> />
áreas ótimas de agricultu-<<strong>br</strong> />
ra, ou, como acontece na<<strong>br</strong> />
região metropolitana de<<strong>br</strong> />
Porto Alegre e às margens<<strong>br</strong> />
de outras grandes cidades<<strong>br</strong> />
(a exemplo de São Paulo),<<strong>br</strong> />
ocorre que terras muito<<strong>br</strong> />
boas que serviriam para<<strong>br</strong> />
hortigranjeiros, são des-<<strong>br</strong> />
perdiçadas por causa da<<strong>br</strong> />
especulação imobiliária.<<strong>br</strong> />
Ocorre um fato que mere-<<strong>br</strong> />
ce reflexão: 70",, do arroz<<strong>br</strong> />
gaúcho é produzido por<<strong>br</strong> />
pequenos agricultores'em<<strong>br</strong> />
terras arrendadas de gran-<<strong>br</strong> />
des proprietários, a 30",,<<strong>br</strong> />
da produção.<<strong>br</strong> />
Se não houver logo uma<<strong>br</strong> />
redistribuição de terras no<<strong>br</strong> />
Estado, conta Orgenio, o<<strong>br</strong> />
êxodo rural que já é gran-<<strong>br</strong> />
de, vai aumentar ainda<<strong>br</strong> />
mais, podendo até mesmo<<strong>br</strong> />
desaparecer a pequena<<strong>br</strong> />
propriedade e encarecer<<strong>br</strong> />
perigosamente o custo da<<strong>br</strong> />
comida.<<strong>br</strong> />
OS SINDICATOS BRI-<<strong>br</strong> />
GAM POR UMA POLÍ-<<strong>br</strong> />
TICA AGRÍCOLA<<strong>br</strong> />
MAIS CLARA E SEGU-<<strong>br</strong> />
RA<<strong>br</strong> />
Apesar da tendência de<<strong>br</strong> />
aumentar o número de as-<<strong>br</strong> />
salariados no campo, e<<strong>br</strong> />
mesmo de se acentuar o<<strong>br</strong> />
surgimento de trabalha-<<strong>br</strong> />
dores volantes nas áreas<<strong>br</strong> />
de trigo e soja, as maiores<<strong>br</strong> />
preocupações do sindica-<<strong>br</strong> />
lismo de trabalhadores ru-<<strong>br</strong> />
rais no Rio Grande do Sul<<strong>br</strong> />
é com a política de produ-<<strong>br</strong> />
ção e preços. Tanto que,<<strong>br</strong> />
segundo Orgenio. "os Sin-<<strong>br</strong> />
dicatos não vão parar sua<<strong>br</strong> />
movimentação e vão bus-<<strong>br</strong> />
car mais soluções no sen-<<strong>br</strong> />
tido de reivindicar princi-<<strong>br</strong> />
palmente a adoção de<<strong>br</strong> />
uma política agrícola cla-<<strong>br</strong> />
ra e segura".<<strong>br</strong> />
Orgenio, por fim, fala<<strong>br</strong> />
também do Movimento<<strong>br</strong> />
Sindical a nível nacional.<<strong>br</strong> />
Ele diz que não há ainda<<strong>br</strong> />
um entendimento muito<<strong>br</strong> />
grande entre as diversas<<strong>br</strong> />
regiões, mas a tendência,<<strong>br</strong> />
em compensação, é cada<<strong>br</strong> />
vez mais o Movimento<<strong>br</strong> />
Sindical se integrar, uma<<strong>br</strong> />
vez que, no fundo, os<<strong>br</strong> />
problemas são os mesmos<<strong>br</strong> />
e a reivindicação pela ter-<<strong>br</strong> />
ra une de Norte a Sul.<<strong>br</strong> />
O grande desafio do<<strong>br</strong> />
Movimento Sindical, se-<<strong>br</strong> />
gundo ele, é encontrar<<strong>br</strong> />
uma fórmula para desen-<<strong>br</strong> />
volver uma ampla educa-<<strong>br</strong> />
ção sindical nas bases, o<<strong>br</strong> />
que dará ao trabalhador<<strong>br</strong> />
maiores condições de par-<<strong>br</strong> />
ticipar das decisões que<<strong>br</strong> />
lhe dizem respeito.<<strong>br</strong> />
Ele acha também que<<strong>br</strong> />
movimentos, do tipo da<<strong>br</strong> />
"greve da soja"', são mui-<<strong>br</strong> />
tas vezes mais importan-<<strong>br</strong> />
tes do que congressos,<<strong>br</strong> />
uma vez que muitas reso-<<strong>br</strong> />
luções de congressos aca-<<strong>br</strong> />
bam ficando no papel, en-<<strong>br</strong> />
quanto que as movimen-<<strong>br</strong> />
tações despertam os tra-<<strong>br</strong> />
balhadores rurais, os edu-<<strong>br</strong> />
cam muito mais.<<strong>br</strong> />
Realidade Rural — Junho de 1980
O professor sugeriu visitas a cooperativas<<strong>br</strong> />
Em Penápolis,<<strong>br</strong> />
uma bela aula<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e cooperativas<<strong>br</strong> />
O professor Guttierez, do<<strong>br</strong> />
Incra, é muito conhecido no<<strong>br</strong> />
interior, onde até ajudou a<<strong>br</strong> />
fundar alguns sindicatos,<<strong>br</strong> />
como ele diz. E no final de<<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>il ele fez uma palestra na<<strong>br</strong> />
sede do Sindicato dos Traba-<<strong>br</strong> />
lhadores Rurais de Penápo-<<strong>br</strong> />
lis, so<strong>br</strong>e cooperativismo,<<strong>br</strong> />
para delegados dos Núcleos<<strong>br</strong> />
Sindicais de base e outros<<strong>br</strong> />
trabalhadores interessados.<<strong>br</strong> />
Ele começou sua palestra<<strong>br</strong> />
lem<strong>br</strong>ando um ditado do<<strong>br</strong> />
homem da lavoura: "Começo<<strong>br</strong> />
da cantiga é um assobio..."<<strong>br</strong> />
Então explicou sua idéia.<<strong>br</strong> />
Lem<strong>br</strong>ou que anos trás os<<strong>br</strong> />
trabalhadores eram acanha-<<strong>br</strong> />
dos, não trocavam idéias en-<<strong>br</strong> />
tre si. Tinham medo. Quando<<strong>br</strong> />
começavani a se <strong>org</strong>anizar,<<strong>br</strong> />
tinha sempre alguém cha-<<strong>br</strong> />
mando de comunista, de sub-<<strong>br</strong> />
versivo. Só os grandes é que<<strong>br</strong> />
podiam se <strong>org</strong>anizar.<<strong>br</strong> />
Mas, apesar disso, os tra-<<strong>br</strong> />
balhadores fundaram o Sin-<<strong>br</strong> />
dicato. Ai deram o primeiro<<strong>br</strong> />
passo de união e através do<<strong>br</strong> />
Sindicato, começaram a lu-<<strong>br</strong> />
tar por seus direitos.<<strong>br</strong> />
Só que o Sindicato não re-<<strong>br</strong> />
solve todos os problemas;<<strong>br</strong> />
porexemplo, o Sindicato não<<strong>br</strong> />
pode comercializar a produ-<<strong>br</strong> />
ção do lavrador, nem ter loja<<strong>br</strong> />
para vender para o lavrador<<strong>br</strong> />
a preços mais baixos o que<<strong>br</strong> />
ele precisa. É por isso que os<<strong>br</strong> />
trabalhadores de l\-nápolis<<strong>br</strong> />
precisam dar agora um se-<<strong>br</strong> />
gundo passo: vão ter que se<<strong>br</strong> />
dar as mãos também na parte<<strong>br</strong> />
econômica.<<strong>br</strong> />
Como primeiro passo, eles<<strong>br</strong> />
fundaram o Sindicato. Como<<strong>br</strong> />
segundo passo na defesa dos<<strong>br</strong> />
seus diritos e do seu trabalho<<strong>br</strong> />
eles precisam pensar no coo-<<strong>br</strong> />
perativismo. Como diz o pro-<<strong>br</strong> />
fessor, "é mais fácil vender<<strong>br</strong> />
um lote de mil sacas de café<<strong>br</strong> />
do que só cinco sacas". E<<strong>br</strong> />
com apenas 20 ou 30 produ-<<strong>br</strong> />
tores, pode surgir uma coo-<<strong>br</strong> />
perativa e comprar uma má-<<strong>br</strong> />
quina de beneficiar café e ga-<<strong>br</strong> />
nhar com melhores preços.<<strong>br</strong> />
O "ASSOBICT. COME-<<strong>br</strong> />
ÇA VISITANDO COO-<<strong>br</strong> />
PERATIVAS.<<strong>br</strong> />
É bem verdade que o pro-<<strong>br</strong> />
fessor vai avisando que não<<strong>br</strong> />
está sugerindo que os produ-<<strong>br</strong> />
tores fundem uma cooperati-<<strong>br</strong> />
va. Isso Já seria Ia/era canti-<<strong>br</strong> />
ga. Afinai, não é tão fácil as-<<strong>br</strong> />
sim tambéin fundar uma coo-<<strong>br</strong> />
perativa. É preciso um sujei-<<strong>br</strong> />
lo honesto, competente, que<<strong>br</strong> />
todo o mundo aceite, que te-<<strong>br</strong> />
nha capacidade de adminis-<<strong>br</strong> />
trar. E preciso refletir muito<<strong>br</strong> />
antes. Mas os trabalhadores<<strong>br</strong> />
rurais podem começar a as-<<strong>br</strong> />
sobiar enquanto isso, através<<strong>br</strong> />
O Presidente do Sindicato<<strong>br</strong> />
é contra grandes conosco<<strong>br</strong> />
O companheiro Antônio da<<strong>br</strong> />
Silva, presidente do Sindicato<<strong>br</strong> />
dos Trabalhadores Rurais de<<strong>br</strong> />
Penápolis, ouviu atentamente o<<strong>br</strong> />
professor Gutierrez e também<<strong>br</strong> />
resolveu expor seu ponto de<<strong>br</strong> />
vista.<<strong>br</strong> />
Para começar, ele não con-<<strong>br</strong> />
corda com cooperativas com<<strong>br</strong> />
pequenos e grandes junto, por-<<strong>br</strong> />
que, em sua opinião, os gran-<<strong>br</strong> />
des sempre acabam se benefi-<<strong>br</strong> />
ciando em prejuízo dos direitos<<strong>br</strong> />
dos pequenos.<<strong>br</strong> />
Mas o caminho, para ele,<<strong>br</strong> />
não é outro: é o cooperativismo<<strong>br</strong> />
mesmo. Existem ai grandes<<strong>br</strong> />
grupos econômicos que estão<<strong>br</strong> />
querendo explorar os trabalha-<<strong>br</strong> />
dores rurais, produtores e<<strong>br</strong> />
assalariados. Os trabalhado-<<strong>br</strong> />
res rurais têm condições de<<strong>br</strong> />
enfrentar esses grupos, só que<<strong>br</strong> />
não pode ser do jeito que os<<strong>br</strong> />
trabalhadores estão hoje: "Se-<<strong>br</strong> />
parados como estamos - alerta<<strong>br</strong> />
ele - não passamos de meros<<strong>br</strong> />
números, sem resistência algu-<<strong>br</strong> />
ma".<<strong>br</strong> />
"O CORPO HUMANO<<strong>br</strong> />
NOS ENSINA A NOS<<strong>br</strong> />
<strong>DE</strong>FEN<strong>DE</strong>R"<<strong>br</strong> />
Antônio disse a seus compa-<<strong>br</strong> />
nheiros que em cooperativis-<<strong>br</strong> />
mo. como no sindicalismo, a<<strong>br</strong> />
gente não pode falar eni eu<<strong>br</strong> />
mas sim eni nós. Por isso ele<<strong>br</strong> />
foi alertando o pessoal: "Não<<strong>br</strong> />
quero ser nenhum fundador de<<strong>br</strong> />
cooperativa. Mas tem que ser<<strong>br</strong> />
nossa íe não minha I. E tem<<strong>br</strong> />
que ter um grupo maior de tra-<<strong>br</strong> />
balhadores rurais füiados tam-<<strong>br</strong> />
bém".<<strong>br</strong> />
Os pequenos produtores<<strong>br</strong> />
hoje estão numa difícil situa-<<strong>br</strong> />
ção. Segundo Antônio, "não<<strong>br</strong> />
podemos mahaceitaressa situa-<<strong>br</strong> />
ção, porque os que ficarem na<<strong>br</strong> />
roça. vão ter que sair ama-<<strong>br</strong> />
nhã".<<strong>br</strong> />
A í então, ele usou um exem-<<strong>br</strong> />
plo, muito simples, para expli-<<strong>br</strong> />
car sua idéia: "É como quando<<strong>br</strong> />
a gente tem um ferimento: as<<strong>br</strong> />
outras células do corpo se jun-<<strong>br</strong> />
do Sindicato, formando gru<<strong>br</strong> />
pos para visitar as cooperati<<strong>br</strong> />
vas da região, verificando<<strong>br</strong> />
sua <strong>org</strong>anização, verificando<<strong>br</strong> />
o quanto ganhariam com o<<strong>br</strong> />
cooperativismo. Fazendo<<strong>br</strong> />
perguntas para os dirigentes<<strong>br</strong> />
das cooperativas.<<strong>br</strong> />
O professor Guttierez vai<<strong>br</strong> />
provocando água na boca<<strong>br</strong> />
dos trabalhadores presentes<<strong>br</strong> />
com suas sugestões, desper-<<strong>br</strong> />
tando o interesse. Segundo<<strong>br</strong> />
ele, "a cooperativa é como<<strong>br</strong> />
uma balança: ela existindo o<<strong>br</strong> />
comércio em geral acompa<<strong>br</strong> />
nha seus preços. Se ela não<<strong>br</strong> />
existir, o pessoal do comér-<<strong>br</strong> />
cio nada de <strong>br</strong>açada...". E<<strong>br</strong> />
para completar, explica que<<strong>br</strong> />
tudo o que os trabalhadores<<strong>br</strong> />
pensarem fazer em matéria de<<strong>br</strong> />
cooperativismo. pode ser<<strong>br</strong> />
feito, inclusive vender na<<strong>br</strong> />
cooperativa tudo o que se<<strong>br</strong> />
vende num armazém ou su-<<strong>br</strong> />
permercado. E com vanta<<strong>br</strong> />
gens para os associados.<<strong>br</strong> />
O BREJO SE ENCHE<<strong>br</strong> />
<strong>DE</strong> SAPOS, QUANDO<<strong>br</strong> />
TEM COBRA PERTO...<<strong>br</strong> />
O Sindicato surgiu porque<<strong>br</strong> />
os trabalhadores se uniram,<<strong>br</strong> />
não agüentando mais tanto<<strong>br</strong> />
aperto e dificuldades. Para<<strong>br</strong> />
não serem esmagados, os tra-<<strong>br</strong> />
balhadores se uniram para se<<strong>br</strong> />
defender.<<strong>br</strong> />
O professor lem<strong>br</strong>a que<<strong>br</strong> />
era bom a gente usara cabe-<<strong>br</strong> />
ça para se defender antes do<<strong>br</strong> />
que ficar esperando o aperto<<strong>br</strong> />
e o atropelo. E o homem da<<strong>br</strong> />
lavoura ás vezes é meio duro<<strong>br</strong> />
de cabeça, por isso apanha,<<strong>br</strong> />
como diz o professor: "Acho<<strong>br</strong> />
que o roceiro tem que apa-<<strong>br</strong> />
nhar no relho para aprender,<<strong>br</strong> />
porque não quer se unir. Por<<strong>br</strong> />
que os professores unidos<<strong>br</strong> />
conseguem aumento? Por<<strong>br</strong> />
que os operários de São Pau-<<strong>br</strong> />
lo se uniram e lêm aumento?<<strong>br</strong> />
E por que tem a forca da<<strong>br</strong> />
união".<<strong>br</strong> />
O professor tem esperanç;<<strong>br</strong> />
de que os lavradores acaben.<<strong>br</strong> />
entendendo um dia até onde<<strong>br</strong> />
eles podem chegar. De qua.<<strong>br</strong> />
quer maneira, secundo ele. o<<strong>br</strong> />
tempo vai se encarregar de<<strong>br</strong> />
dar uma mão. Para dar um;<<strong>br</strong> />
idéia, ele fala que vai aconte<<strong>br</strong> />
cer como acontece na beir;<<strong>br</strong> />
do <strong>br</strong>ejo: se a gente joga um;.<<strong>br</strong> />
pedra no meio do capim o<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>ejo logo se enche de sapos<<strong>br</strong> />
que pulam para dentro. É<<strong>br</strong> />
por que eles têm medo de<<strong>br</strong> />
co<strong>br</strong>a... Sapo descuidado e<<strong>br</strong> />
teimoso acaba na barriga da<<strong>br</strong> />
co<strong>br</strong>a.<<strong>br</strong> />
tam para defender a ferida e<<strong>br</strong> />
assim elas defendem o corpo. E<<strong>br</strong> />
assim também nós: separados<<strong>br</strong> />
nós vamos perecer, com nossas<<strong>br</strong> />
propriedades sendo anexadas<<strong>br</strong> />
ao latifundiário. Ele nos sol-<<strong>br</strong> />
tam uma boiada e vamos ter<<strong>br</strong> />
que sair correndo''.<<strong>br</strong> />
Em S. Carlos,<<strong>br</strong> />
Santa Casa só atende<<strong>br</strong> />
às portas do céu<<strong>br</strong> />
. A Santa Casa de São Carlos só está atendendo trabalha-<<strong>br</strong> />
dores rurais às portas do céu... A denúncia é do Presidente<<strong>br</strong> />
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, José Garcia Dias,<<strong>br</strong> />
que vem encontrando enormes dificuldades para encami-<<strong>br</strong> />
nhar ao hospital os trabalhadores rurais que têm direito a<<strong>br</strong> />
um atendimento digno.<<strong>br</strong> />
No Bairro das Corujas, em<<strong>br</strong> />
Juquiá, no Vale do Ribeira,<<strong>br</strong> />
há famílias que residem lá,<<strong>br</strong> />
tendo recebido a terra de<<strong>br</strong> />
seus bisavós que tinham pas-<<strong>br</strong> />
sado a viver por lá há mais de<<strong>br</strong> />
100 anos, começando na<<strong>br</strong> />
lavoura da banana. E como<<strong>br</strong> />
acontece em todo o Vale do<<strong>br</strong> />
Ribeira, eles não se preocu-<<strong>br</strong> />
param muito em providen-<<strong>br</strong> />
ciar títulos para suas terras,<<strong>br</strong> />
porque era uma complicação<<strong>br</strong> />
muito grande. Naquele tem-<<strong>br</strong> />
'po, além disso, havia muita<<strong>br</strong> />
terra e não era costume rou-<<strong>br</strong> />
bar a terra dos outros.<<strong>br</strong> />
Mas em março último a<<strong>br</strong> />
situação de calma e de paz<<strong>br</strong> />
que havia no Bairro, onde<<strong>br</strong> />
vivem 100 famílias aproxima-<<strong>br</strong> />
damente, começou a mudar.<<strong>br</strong> />
Cada família, em média, tem<<strong>br</strong> />
10 alqueires. Por aí se pode<<strong>br</strong> />
ver que a área é bem grande.<<strong>br</strong> />
E qual não foi a surpresa em<<strong>br</strong> />
VALE DO RIBEIRA<<strong>br</strong> />
Grileiro inferniza<<strong>br</strong> />
vida em Juquiá.<<strong>br</strong> />
março quando, por Tapirai,<<strong>br</strong> />
no sítio do nissei Tadao, um<<strong>br</strong> />
grupo de grileiros e jagunços<<strong>br</strong> />
começou a cercar áreas!<<strong>br</strong> />
Três posseiros cuidaram logo<<strong>br</strong> />
de cortar as cercas e foram<<strong>br</strong> />
presos pelo delegado, porque<<strong>br</strong> />
pensava que eles iam prati-<<strong>br</strong> />
car agressão. Quando des-<<strong>br</strong> />
co<strong>br</strong>iu que eram pacíficos,<<strong>br</strong> />
soltou-os.<<strong>br</strong> />
Segundo o Presidente do<<strong>br</strong> />
Sindicato dos Trabalhadores<<strong>br</strong> />
Rurais de Juquiá, Edgar<<strong>br</strong> />
Alves da Costa, não se sabe<<strong>br</strong> />
ao certo o nome do grileiro.<<strong>br</strong> />
Dizem que é um tal Manoel<<strong>br</strong> />
Cruz. Mas não foi ainda<<strong>br</strong> />
comprovado. Segundo se<<strong>br</strong> />
conta, ele pretende grilar 800<<strong>br</strong> />
alqueires e vender a uma<<strong>br</strong> />
pessoa de São Paulo.<<strong>br</strong> />
De qualquer forma, os<<strong>br</strong> />
posseiros logo se movimenta-<<strong>br</strong> />
ram, ainda mais que com eles<<strong>br</strong> />
reside o Secretário do Sindi-<<strong>br</strong> />
Lídia é líder de bairro;<<strong>br</strong> />
veja como ela pensa.<<strong>br</strong> />
Dentro da recomendação<<strong>br</strong> />
do III Congresso Nacional<<strong>br</strong> />
dos Trabalhadores Rurais,<<strong>br</strong> />
realizado em Brasília no ano<<strong>br</strong> />
passado, de que é necessário<<strong>br</strong> />
fazer com que toda a família<<strong>br</strong> />
do trabalhador rural e não<<strong>br</strong> />
apenas ele participe da vida<<strong>br</strong> />
do Sindicato, Realidade<<strong>br</strong> />
Rural publica mais uma<<strong>br</strong> />
entrevista, com uma mulher.<<strong>br</strong> />
I ídia do Espírito Santo, é<<strong>br</strong> />
solteira e reside no Bairro<<strong>br</strong> />
Guabiru, Ribeira Abaixo, em<<strong>br</strong> />
Registro. Ela foi escolhida<<strong>br</strong> />
como líder dh bairro, delega-<<strong>br</strong> />
da sindical desse Núcleo. Na<<strong>br</strong> />
edição anterior publicamos<<strong>br</strong> />
uma entrevista com Maria<<strong>br</strong> />
José de Sou/a Vidal, que<<strong>br</strong> />
também é líder de bairro do<<strong>br</strong> />
Sindicato de Registro. E nas<<strong>br</strong> />
próximas edições continua-<<strong>br</strong> />
remos a publicar entrevistas<<strong>br</strong> />
com mulheres que partici-<<strong>br</strong> />
pam da vida de outros Sindi-<<strong>br</strong> />
catos. Seria muito bom que<<strong>br</strong> />
as leitoras do Realidade Ru-<<strong>br</strong> />
ral, que acompanham estai<<strong>br</strong> />
entrevistas, nos escrevessem,<<strong>br</strong> />
fazendo comentários, suges-<<strong>br</strong> />
tões e mesmo críticas.<<strong>br</strong> />
A reunião de que falamos<<strong>br</strong> />
nessa entrevista foi feita em<<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>il, com os primeiros 10 lí-<<strong>br</strong> />
deres de bairro do Sindicato<<strong>br</strong> />
de Registro (a próxima reu-<<strong>br</strong> />
nião deles será dia 14 de<<strong>br</strong> />
junho).<<strong>br</strong> />
Fizemos questão de publi-<<strong>br</strong> />
car a entrevista toda, porque<<strong>br</strong> />
através de respostas curtas,<<strong>br</strong> />
Lídia foi mostrando seu<<strong>br</strong> />
mundo, o que pensa, mos-<<strong>br</strong> />
trando que os Sindicatos, tão<<strong>br</strong> />
logo formem seus Núcleos<<strong>br</strong> />
Sindicais e sejam escolhidos<<strong>br</strong> />
pelos trabalhadores os seus<<strong>br</strong> />
delegados (ou líderes de bair-<<strong>br</strong> />
ro), precisam pensar num<<strong>br</strong> />
bom curso de educação sin-<<strong>br</strong> />
dical, para desinibir os dele-<<strong>br</strong> />
gados e despertar neles capa-<<strong>br</strong> />
cidade de <strong>org</strong>anização, ini-<<strong>br</strong> />
ciativa e liderança.<<strong>br</strong> />
"ISSO <strong>DE</strong>VIA ESTAR<<strong>br</strong> />
ACONTECENDO HÁ<<strong>br</strong> />
MAIS TEMPO"<<strong>br</strong> />
P. Parece que a mulher não<<strong>br</strong> />
tem participado muito da vida<<strong>br</strong> />
do Sindicato. Ela vai buscar<<strong>br</strong> />
assistência médica e dentária,<<strong>br</strong> />
ela vai até mais ao Sindicato<<strong>br</strong> />
do que o marido, vai buscar<<strong>br</strong> />
assistência para ela e para os<<strong>br</strong> />
filhos. É ela enfim quem mais<<strong>br</strong> />
visita o Sindicato. No entanto,<<strong>br</strong> />
há muito mais para a mulher<<strong>br</strong> />
fazer no Sindicato. Ê o que<<strong>br</strong> />
você por exemplo, começa a<<strong>br</strong> />
desco<strong>br</strong>ir, ao ser escolhida<<strong>br</strong> />
como líder do seu bairro, como<<strong>br</strong> />
delegada do seu Núcleo Sindi-<<strong>br</strong> />
cal.<<strong>br</strong> />
O que nos interessa nessa<<strong>br</strong> />
conversa é saber da sua opi-<<strong>br</strong> />
nião so<strong>br</strong>e o papel da mulher<<strong>br</strong> />
na vida do Sindicato. Você<<strong>br</strong> />
acha que a mulher está mesmo<<strong>br</strong> />
participando da vida do Sindi-<<strong>br</strong> />
cato?<<strong>br</strong> />
Lídia: Por enquanto eu não<<strong>br</strong> />
estou vendo muita participa-<<strong>br</strong> />
ção, não. Estou vendo mais<<strong>br</strong> />
homem que mulher no Sindica-<<strong>br</strong> />
to.<<strong>br</strong> />
P. E como é que você acha que<<strong>br</strong> />
a mulher deveria participar na<<strong>br</strong> />
vida do Sindicato?<<strong>br</strong> />
Lídia: Não sei bem, ao certo.<<strong>br</strong> />
E a primeira vez que eu partici-<<strong>br</strong> />
po de uma reunião como esta.<<strong>br</strong> />
Mas antes eu nem pagava o<<strong>br</strong> />
Sindicato. Comecei a pagar no<<strong>br</strong> />
mês passado. Antes de eu<<strong>br</strong> />
pagar, vinha sempre ao Sindi-<<strong>br</strong> />
cato com a carteirinha do meu<<strong>br</strong> />
pai.<<strong>br</strong> />
P. Você estaria disposta a aju-<<strong>br</strong> />
dar as esposas dos trabalhado-<<strong>br</strong> />
res rurais lá onde você reside,<<strong>br</strong> />
divulgando o Sindicato, trans-<<strong>br</strong> />
mitindo aquilo que você está<<strong>br</strong> />
vendo no Sindicato, como, por<<strong>br</strong> />
exemplo, a reunião de hoje?<<strong>br</strong> />
Acha que é válido aquilo que<<strong>br</strong> />
você ouviu hoje aqui?<<strong>br</strong> />
Lídia: Acho muito válido e<<strong>br</strong> />
acho que isso devia estar acon-<<strong>br</strong> />
tecendo há muito mais tempo.<<strong>br</strong> />
Devia ter há mais tempo uma<<strong>br</strong> />
pessoa tá no meu bairro repre-<<strong>br</strong> />
sentando o Sindicato. Tem<<strong>br</strong> />
muita gente que precisa de<<strong>br</strong> />
esclarecimento, de orientação.<<strong>br</strong> />
P. Daquilo que você ouviu aqui<<strong>br</strong> />
hoje, alguma coisa serve para<<strong>br</strong> />
lhe ajudar a conversar com a<<strong>br</strong> />
esposa de outro trabalhador?<<strong>br</strong> />
Lídia: Serve muito.<<strong>br</strong> />
P. Acho muito difícil entender<<strong>br</strong> />
o que foi dito, ou não?<<strong>br</strong> />
Lídia: Eoi fácil de entender.<<strong>br</strong> />
P. Você teria condições de<<strong>br</strong> />
transmitir alguma coisa do que<<strong>br</strong> />
ouviu para as esposas dos tra-<<strong>br</strong> />
balhadores e para os próprios<<strong>br</strong> />
trabalhadores?<<strong>br</strong> />
Lídia: Eu acho que daria, sim.<<strong>br</strong> />
COMO ASSOCIADA,<<strong>br</strong> />
UMA SENSAÇÃO <strong>DE</strong><<strong>br</strong> />
VALOR<<strong>br</strong> />
P. Como é que você acha que<<strong>br</strong> />
os homens lá no seu bairro vão<<strong>br</strong> />
receber a sua indicação como<<strong>br</strong> />
líder de bairro, delegada sindi-<<strong>br</strong> />
cal? Vão participar das reu-<<strong>br</strong> />
niões que você convocar?<<strong>br</strong> />
Lídia: Eu acho que sim. Lá<<strong>br</strong> />
quase ninguém fala em Sindi-<<strong>br</strong> />
cato, pelo que eu vejo.<<strong>br</strong> />
cato, que logo procurou<<strong>br</strong> />
recomendar <strong>org</strong>anização. E<<strong>br</strong> />
no dia 27 de a<strong>br</strong>il houve uma<<strong>br</strong> />
reunião no local, com pre-<<strong>br</strong> />
sença de toda a Diretoria do<<strong>br</strong> />
Sindicato e um mem<strong>br</strong>o do<<strong>br</strong> />
Conselho Eiscal, em que o<<strong>br</strong> />
Sindicato ouviu os posseiros<<strong>br</strong> />
e garantiu, de imediato, todo<<strong>br</strong> />
o apoio, recomendando aos<<strong>br</strong> />
posseiros para que o colocas-<<strong>br</strong> />
se a par de tudo quanto ocor-<<strong>br</strong> />
resse.<<strong>br</strong> />
Conforme conta Edgar,<<strong>br</strong> />
"os posseiros reagiram muito<<strong>br</strong> />
bem. Muitos deles, que não<<strong>br</strong> />
sabiam do trabalho do Sindi-<<strong>br</strong> />
cato e por isso não procura-<<strong>br</strong> />
vam o Sindicato, logo se ani-<<strong>br</strong> />
maram e pediram colabora-<<strong>br</strong> />
ção total".<<strong>br</strong> />
Segundo Edgar, o Sindica-<<strong>br</strong> />
to está apressando um amplo<<strong>br</strong> />
levantamento da área dos<<strong>br</strong> />
posseiros, verificando o<<strong>br</strong> />
tamanho das posses, o nome<<strong>br</strong> />
das pessoas residentes na<<strong>br</strong> />
área, benfeitorias, etc. Este<<strong>br</strong> />
levantamento de fôlego logo<<strong>br</strong> />
estará pronto. Com ele, o<<strong>br</strong> />
Sindicato vai tomar as provi-<<strong>br</strong> />
dências cabíveis.<<strong>br</strong> />
P. Mas os trabalhadores lá do<<strong>br</strong> />
bairro são unidos, não?<<strong>br</strong> />
Lídia: Sim.<<strong>br</strong> />
P. Como é que você acha que a<<strong>br</strong> />
mulher poderia participar<<strong>br</strong> />
mais da vida do Sindicato?<<strong>br</strong> />
Hoje você diz que a mulher<<strong>br</strong> />
está participando pouco. Acha<<strong>br</strong> />
que com este trabalho que está<<strong>br</strong> />
surgindo, com líderes de bair-<<strong>br</strong> />
ro, deveria estar acontecendo<<strong>br</strong> />
há mais tempo. Mas deve.<<strong>br</strong> />
saber que passamos um certo<<strong>br</strong> />
período no País, difícil, com<<strong>br</strong> />
um general atrás do outro, que<<strong>br</strong> />
dificultou as atividades do sin-<<strong>br</strong> />
dicalismo. Como é que a<<strong>br</strong> />
mulher poderia participar<<strong>br</strong> />
mais?<<strong>br</strong> />
Lídia: Geralmente as mulheres<<strong>br</strong> />
não se interessam pelo Sindi-<<strong>br</strong> />
cato. É mais os homens. Por-<<strong>br</strong> />
que, no caso. eu também não<<strong>br</strong> />
me interessava, porque meu<<strong>br</strong> />
pai era associado e a carteiri-<<strong>br</strong> />
nha dele servia para mim.<<strong>br</strong> />
Agora não serve mais e por<<strong>br</strong> />
isso me associei.<<strong>br</strong> />
P. Mas você está gostando de<<strong>br</strong> />
poder pagar e poder chegar<<strong>br</strong> />
aqui no Sindicato com a sua<<strong>br</strong> />
carteirinha?<<strong>br</strong> />
Lídia: Sim.<<strong>br</strong> />
P. Que sensação que você tem,<<strong>br</strong> />
sendo você mesma associada?<<strong>br</strong> />
Lídia: Uma sensação de liber-<<strong>br</strong> />
dade, parece. Não precisa mais<<strong>br</strong> />
do pai.<<strong>br</strong> />
P. Você já pensou num plano<<strong>br</strong> />
de trabalho lá para o seu Nú-<<strong>br</strong> />
cleo Sindical, o seu bairro?<<strong>br</strong> />
Lídia: Vou procurar fazer o<<strong>br</strong> />
possível para melhorar o pes-<<strong>br</strong> />
soal de lá, para que eles<<strong>br</strong> />
paguem o Sindicato também,<<strong>br</strong> />
que é para colaborar mais.<<strong>br</strong> />
P. Você tem alguma idéia para<<strong>br</strong> />
unir mais as mulheres do seu<<strong>br</strong> />
bairro?<<strong>br</strong> />
Lídia: A gente tem que fazer<<strong>br</strong> />
uma reunião lá para ver, né,<<strong>br</strong> />
Porque sem conversar com<<strong>br</strong> />
elas, a gente não pode falar.<<strong>br</strong> />
Realidade Rural — Junho de 1980 Pág. 7
PRESI<strong>DE</strong>NTE VENCESLAU 20/05/1980<<strong>br</strong> />
Descansem em paz, companheiros!<<strong>br</strong> />
Francisco de Oliveira<<strong>br</strong> />
Aparecido Alves de Souza,<<strong>br</strong> />
Antônio José da Silva de Celles<<strong>br</strong> />
José Aparecido de Celles,<<strong>br</strong> />
Cicero Morales,<<strong>br</strong> />
Marta Aparecida Ribeiro da Silva,<<strong>br</strong> />
Maria dos Anjos Silva<<strong>br</strong> />
Neli Ferreira de Souza,<<strong>br</strong> />
Verônica Maria dos Santos (16 anos)<<strong>br</strong> />
José Antônio B<strong>org</strong>es dos Santos (13 anos)<<strong>br</strong> />
Fátima Lúcia dos Santos.<<strong>br</strong> />
Vocês nio precisam mais<<strong>br</strong> />
esperar o caminhão de gentel<<strong>br</strong> />
Nesse dia, 11 volantes<<strong>br</strong> />
deixaram esse Pais ín/usto<<strong>br</strong> />
O Movimento Sindicai<<strong>br</strong> />
dos Trabalhadores Rurais<<strong>br</strong> />
no Estado de São Paulo,<<strong>br</strong> />
mais uma vez, está de<<strong>br</strong> />
luto. Nada menos do que<<strong>br</strong> />
11 companheiros volan-<<strong>br</strong> />
tes, por aí chamados de<<strong>br</strong> />
"boias-frias", morreram<<strong>br</strong> />
no dia 20 de maio, num<<strong>br</strong> />
acidente envolvendo um<<strong>br</strong> />
caminhão de gente e um<<strong>br</strong> />
caminhão de bois, no km<<strong>br</strong> />
62 da Rodovia da Integra-<<strong>br</strong> />
ção (SP-563) entre Mara-<<strong>br</strong> />
bá Paulista e Presidente<<strong>br</strong> />
Venceslau.<<strong>br</strong> />
Conforme o nosso com-<<strong>br</strong> />
panheiro Mituro Mizuka-<<strong>br</strong> />
wa, do Departamento<<strong>br</strong> />
Jurídico da Fetaesp<<strong>br</strong> />
(atuando na região), que<<strong>br</strong> />
está encaminhando os<<strong>br</strong> />
processos das famílias, o<<strong>br</strong> />
acidente ocorreu na ponte<<strong>br</strong> />
do rio Santo Anastácio,<<strong>br</strong> />
quando o caminhão dos<<strong>br</strong> />
trabalhadores (um F.600,<<strong>br</strong> />
79, da fazenda Malvina),<<strong>br</strong> />
com 58 pessoas, foi atingi-<<strong>br</strong> />
do violentamente na tra-<<strong>br</strong> />
seira pelo caminhão boia-<<strong>br</strong> />
deiro, dirigido por José<<strong>br</strong> />
Piva Fernandes, sendo o<<strong>br</strong> />
caminhão de gente desgo-<<strong>br</strong> />
vernado e jogado no rio, 8<<strong>br</strong> />
metros abaixo.<<strong>br</strong> />
HÁ 15 ANOS,<<strong>br</strong> />
OUTRO ACI<strong>DE</strong>NTE<<strong>br</strong> />
TÃO GRAVE. E O<<strong>br</strong> />
POVO DA CIDA<strong>DE</strong><<strong>br</strong> />
NÃO ESQUECEU.<<strong>br</strong> />
Segundo Mituro, o<<strong>br</strong> />
caminhão de gente vinha<<strong>br</strong> />
da Fazenda Malvina, de<<strong>br</strong> />
propriedade de José Pinto<<strong>br</strong> />
Lima (empresa Oeste-<<strong>br</strong> />
plan). Os companheiros<<strong>br</strong> />
volantes haviam trabalha-<<strong>br</strong> />
do na colheita de crotolá-<<strong>br</strong> />
ria (um produto para fazer<<strong>br</strong> />
papel fino em geral). Eles<<strong>br</strong> />
estavam até contentes,<<strong>br</strong> />
haviam recebido o cheque<<strong>br</strong> />
com a remuneração do<<strong>br</strong> />
dia. O caminhão da fazen-<<strong>br</strong> />
da (com lona preta e <strong>br</strong>an-<<strong>br</strong> />
co só nas laterais) ia bus-<<strong>br</strong> />
cá-los normalmente na<<strong>br</strong> />
cidade, pois 50% trabalha-<<strong>br</strong> />
vam habitualmente na<<strong>br</strong> />
fazenda. No dia 20, depois<<strong>br</strong> />
do serviço, o caminhão<<strong>br</strong> />
partiu para a cidade (que<<strong>br</strong> />
tem 80 mil habitantes),<<strong>br</strong> />
mas logo depois de deixar<<strong>br</strong> />
a estrada de acesso á<<strong>br</strong> />
fazenda e entrar na rodo-<<strong>br</strong> />
via, numa baixada, o<<strong>br</strong> />
caminhão de gente foi<<strong>br</strong> />
colhido pelo caminhão de<<strong>br</strong> />
bois, que não conseguiu<<strong>br</strong> />
frear a tempo. O caminhão<<strong>br</strong> />
de gente caiu no rio e o<<strong>br</strong> />
caminhão de bois caiu logo<<strong>br</strong> />
adiante, matando alguns<<strong>br</strong> />
animais. Os dois motoris-<<strong>br</strong> />
tas feriram-se.<<strong>br</strong> />
A cidade ficou revolta-<<strong>br</strong> />
da com o que aconteceu.<<strong>br</strong> />
Segundo o noticiário da<<strong>br</strong> />
imprensa, milhares de<<strong>br</strong> />
pessoas acompanharam<<strong>br</strong> />
os 5 carros fúne<strong>br</strong>es que<<strong>br</strong> />
levaram os corpos dos 9<<strong>br</strong> />
primeiros companheiros<<strong>br</strong> />
que faleceram. Inclusive<<strong>br</strong> />
100 carros. A população<<strong>br</strong> />
recordava que outro aci-<<strong>br</strong> />
dente semelhante havia<<strong>br</strong> />
ocorrido há mais de 15<<strong>br</strong> />
anos, matando 12 compa-<<strong>br</strong> />
ATE QUANDO ESSA HUMILHAÇÃO?<<strong>br</strong> />
Dirigentes sindicais dizem<<strong>br</strong> />
o que viram na tal<<strong>br</strong> />
"Cooperativa de Volantes"<<strong>br</strong> />
Numa reunião dos dirigentes sindicais no<<strong>br</strong> />
Instituto Técnico e Educacional para Traba-<<strong>br</strong> />
lhadores Rurais no Estado de São Paulo (ITE-<<strong>br</strong> />
TRESP), em Agudos, em fevereiro, o Presi-<<strong>br</strong> />
dente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais<<strong>br</strong> />
de Santa Fé do Sul, Valdomiro Cordeiro, con-<<strong>br</strong> />
tou que, quando o Sindicato se opôs à coope-<<strong>br</strong> />
- rativa de volantes que o Governo pretendia<<strong>br</strong> />
implantar no município e conseguiu impedir<<strong>br</strong> />
sua implantação, ouviu do então Secretário<<strong>br</strong> />
das Relações do Trabalho, Maluly Netto, uma<<strong>br</strong> />
espécie de puxão de orelhas: "Vocês não<<strong>br</strong> />
querem instalar a cooperativa que eu dei,<<strong>br</strong> />
hein..."<<strong>br</strong> />
Pois a opinião unânime dos nossos dirigen-<<strong>br</strong> />
tes sindicais é de que essas coisas que decidi-<<strong>br</strong> />
ram chamar de "cooperativas" são, na verda-<<strong>br</strong> />
de, um "presente de grego", como se diz na<<strong>br</strong> />
gíria, uma verdadeira bomba contra o Sindi-<<strong>br</strong> />
cato e contra o trabalhador.<<strong>br</strong> />
Aliás, não é de se estranhar que um jorna-<<strong>br</strong> />
lão patronal tradicional da capital faça tanta<<strong>br</strong> />
propaganda de uma dessas "cooperativas", a<<strong>br</strong> />
de Franca. E vários dirigentes sindicais deci-<<strong>br</strong> />
diram visitar a tal "cooperativa", para ver de<<strong>br</strong> />
perto a "maravilha".<<strong>br</strong> />
CRISPIM:"É O TROÇO MAIS NOJEN-<<strong>br</strong> />
TO QUE JÁ VI".<<strong>br</strong> />
Uma comissão de dirigentes, -do Grupo<<strong>br</strong> />
Regional 9, visitou a "cooperativa" no início,<<strong>br</strong> />
deste ano. Em março, uma outra comissão de<<strong>br</strong> />
dirigentes, do Grupo Regional 4, também visi-<<strong>br</strong> />
tou a cooperativa. Ambas as comissões volta-<<strong>br</strong> />
ram a seus municípios arrepiadas com o que<<strong>br</strong> />
viram e ouviram. Antônio Crispim da Cruz,<<strong>br</strong> />
presidente do STR de Cravinhos, por exem-<<strong>br</strong> />
plo, que expôs as conclusões de sua comissão<<strong>br</strong> />
(Grupo Regional 9), não encontrou palavras<<strong>br</strong> />
• macias: "E o troço mais nojento que já vi"-<<strong>br</strong> />
disse êle. "É o paternalismo implantado ofi-<<strong>br</strong> />
cialmente pelo Governo".<<strong>br</strong> />
E a Comissão do Grupo Regional 4, integra-<<strong>br</strong> />
da por representantes dos Sindicatos de<<strong>br</strong> />
Mirassol, Votuporanga e Santa Fé do Sul, em<<strong>br</strong> />
seu relatório encaminhado à Comissão de<<strong>br</strong> />
Questões Trabalhistas e Previdenciárias, da<<strong>br</strong> />
Fetaesp, diz que voltou "com uma idéia muito<<strong>br</strong> />
pior a respeito das cooperativas" do que a que<<strong>br</strong> />
seus integrantes já tinham. "Neste processo-<<strong>br</strong> />
diz o relatório da comissão - o trabalhador é<<strong>br</strong> />
um objeto, uma espécie de máquina, onde tra-<<strong>br</strong> />
balha por um parco salário, recebendo tudo o<<strong>br</strong> />
que mais necessita da cooperativa ou do Esta-<<strong>br</strong> />
do. É bom lem<strong>br</strong>ar que a nosso ver as coope-<<strong>br</strong> />
rativas de trabalhadores rurais "avulsos"<<strong>br</strong> />
deturpam até os princípios do cooperativis-<<strong>br</strong> />
mo. Nesse processo, cooperativa e Estado se<<strong>br</strong> />
confundem".<<strong>br</strong> />
OS DIREITOS TRABALHISTAS VÃO<<strong>br</strong> />
PARA O BREJO...<<strong>br</strong> />
Antônio Crispim mostrou que o paternalis-<<strong>br</strong> />
mo do Governo (que sempre tem custado<<strong>br</strong> />
muito caro aos trabalhadores). De vez em<<strong>br</strong> />
quando o Governo injeta recursos na "coope-<<strong>br</strong> />
rativa", para mantê-la de pé. Além dos Cr$<<strong>br</strong> />
500.000,00, que recebeu na sua fundação,<<strong>br</strong> />
estavam recebendo por ocasião da visita, mais<<strong>br</strong> />
Cri 500.000,00, a assistência é melhor que o<<strong>br</strong> />
Funrural, há cobertura para os acidentes de<<strong>br</strong> />
trabalho, é isenta de impostos. Tem um presi-<<strong>br</strong> />
dente, que se diz trabalhador rural, mas quem<<strong>br</strong> />
dirige mesmo é um técnico do Governo, e<<strong>br</strong> />
Reforma Agrária, para ambos, não interessa.<<strong>br</strong> />
Não é por nada que, conforme mostrou<<strong>br</strong> />
Crispim, eles fazem propaganda do Governo,<<strong>br</strong> />
colocando a "cooperativa" lá em cima. E o<<strong>br</strong> />
que é de ver para crer, disseram a Crispim que<<strong>br</strong> />
até havia um elemento da Organização Inter-<<strong>br</strong> />
nacional do Trabalho (OIT) para ver a expe-<<strong>br</strong> />
riência e implantar lá fora.<<strong>br</strong> />
O "truque" mesmo é o assistencialismo,.<<strong>br</strong> />
tanto que apregoam que a assistência da coo-<<strong>br</strong> />
perativa é como a do Sindicato ou mais.<<strong>br</strong> />
E tudo isso tem um preço: "O trabalhador -<<strong>br</strong> />
segundo Crispim - só está sabendo que traba-<<strong>br</strong> />
lha na cooperativa na sexta-feira, na hora do<<strong>br</strong> />
pagamento".<<strong>br</strong> />
Para Crispim, o que existe "é uma grande<<strong>br</strong> />
vergonha":<<strong>br</strong> />
- Na hora de pegar o trabalhador, ele não<<strong>br</strong> />
tem vínculo empregatício. Na hora de aposen-<<strong>br</strong> />
tar, então, é preciso atestado do Presidente do<<strong>br</strong> />
Sindicato e do Delegado de Polícia.<<strong>br</strong> />
VEJAM ESSE RELATÓRIO, DO<<strong>br</strong> />
GRUPO REGIONAL 4:<<strong>br</strong> />
Segue abaixo um trecho do relatório da comis-<<strong>br</strong> />
são do Grupo Regional 4. so<strong>br</strong>e suas impressões<<strong>br</strong> />
da visita à "cooperativa" de Franca.<<strong>br</strong> />
"No dia 19 (de marco), de manhã, conversa-<<strong>br</strong> />
mos com alguns trabalhadores no local onde<<strong>br</strong> />
esperam a condução para serem conduzidos ao<<strong>br</strong> />
local de trabalho. Conversamos com José Rober-<<strong>br</strong> />
to, fiscal de uma turma, nos disse que os traba-<<strong>br</strong> />
lhadores ganham CrS 160,00 por dia, que não<<strong>br</strong> />
são registrados, que não recebem férias, I3 Ç salá-<<strong>br</strong> />
rio e nem os dias de chuva. Que numa ocasião<<strong>br</strong> />
tiveram que aumentar a diária para poder con-<<strong>br</strong> />
correr com os fazendeiros que nãa-usam a coope-<<strong>br</strong> />
rativa.<<strong>br</strong> />
Um trabalhador, cujo nome não anotamos,<<strong>br</strong> />
nos informou "que não trabalha para a coopera-<<strong>br</strong> />
tiva porque ela faz muito rolo. Que ganha mais<<strong>br</strong> />
que na cooperativa. Que prefere trabalhar para o<<strong>br</strong> />
fazendeiro. " Pelo que pudemos obervar, não é<<strong>br</strong> />
cumprido o dissídio coletivo no que diz respeito<<strong>br</strong> />
ao transporte e à jornada de trabalho incluindo o<<strong>br</strong> />
persurso vai além das 8 horas diárias.<<strong>br</strong> />
Parece ser muito grande o número de traba-<<strong>br</strong> />
lhadores volantes em Franca. Na maioria os tra-<<strong>br</strong> />
balhadores são transportados por combi. Vimos<<strong>br</strong> />
trabalhadores transportados por ônibus, mas não<<strong>br</strong> />
eram da cooperativa.<<strong>br</strong> />
Fomos à sede da cooperativa que funciona a<<strong>br</strong> />
rua Comandante Salgado, n? 1574 e é presidida<<strong>br</strong> />
por Antônio Machado. Fomos bem recebidos e<<strong>br</strong> />
convidados, a esperar o técnico, num diálogo<<strong>br</strong> />
aberto o presidente Antônio Machado nos infor-<<strong>br</strong> />
mou:- "que a cooperativa está crescendo, que<<strong>br</strong> />
receberam CrS 400,00 (quatrocentos mil cruzei-<<strong>br</strong> />
ros) do Governo. Que está sendo instalado um<<strong>br</strong> />
posto da COBAL para os cooperados. Que neste<<strong>br</strong> />
posto o trabalhador terá a oportunidade de pagar<<strong>br</strong> />
de 45% a 50% a menos do que o preço da praça.<<strong>br</strong> />
Que para ser cooperado o trabalhador precisa<<strong>br</strong> />
assinar um livro. Que a aposentadoria é paga<<strong>br</strong> />
pelo FUNRURAL, mas que a cooperativa tem<<strong>br</strong> />
um convênio com a ORMEDI, que dá assistência<<strong>br</strong> />
total aos cooperados. Enquanto conversáva-<<strong>br</strong> />
mos, vimos diversos trabalhadores buscar guias<<strong>br</strong> />
para a ORMEDI. Que do que o trabalhador<<strong>br</strong> />
ganha é descontado Cr$ 10,00 para a cooperati-<<strong>br</strong> />
va. Que tem um seguro para o caso de acidente<<strong>br</strong> />
de trabalho. O sr. Antônio confirmou o que disse-<<strong>br</strong> />
ram os trabalhadores, que a cooperativa não<<strong>br</strong> />
paga férias, 13 9 salário, domingo remunerado.<<strong>br</strong> />
Em outras palavras, o trabalhador recebe apenas<<strong>br</strong> />
o dia trabalhado. Que a cooperativa paga CrS<<strong>br</strong> />
160,00 por dia, mas que garante este preço o ano<<strong>br</strong> />
todo. Informou ainda que a cooperativa é admi-<<strong>br</strong> />
nistrada por um presidente eleito por quatro<<strong>br</strong> />
anos. juntamente com o secretário, tesoureiro e<<strong>br</strong> />
um conselho fiscal. A diretoria é eleita pelos coo-<<strong>br</strong> />
nheiros na ocasião e ferin-<<strong>br</strong> />
do 15.<<strong>br</strong> />
Outros dois companhei-<<strong>br</strong> />
ros, feridos gravemente,<<strong>br</strong> />
faleceram até o final de<<strong>br</strong> />
maio.<<strong>br</strong> />
"NA LUTA POR UM<<strong>br</strong> />
SINDICATO NA<<strong>br</strong> />
CIDA<strong>DE</strong> (SINDI-<<strong>br</strong> />
CATOS FORAM<<strong>br</strong> />
SOLIDÁRIOS)<<strong>br</strong> />
Companheiros dirigen-<<strong>br</strong> />
tes dos Sindicatos de Pre-<<strong>br</strong> />
sidente Prudente e Presi-<<strong>br</strong> />
dente Epitácio, conforme<<strong>br</strong> />
soubemos, estiveram na<<strong>br</strong> />
cidade, levando sua soli-<<strong>br</strong> />
dariedade às famílias e<<strong>br</strong> />
colocando seus Sindicatos<<strong>br</strong> />
à disposição para o que<<strong>br</strong> />
fosse necessário.<<strong>br</strong> />
Segundo o companhei-<<strong>br</strong> />
ro Mituro, há um grupo<<strong>br</strong> />
de trabalhadores rurais<<strong>br</strong> />
em Presidente Venceslau,<<strong>br</strong> />
apoiados pela Igreja e até<<strong>br</strong> />
pelo prefeito, que querem<<strong>br</strong> />
fundar o Sindicato dos<<strong>br</strong> />
Trabalhadores Rurais na<<strong>br</strong> />
cidade. Mas a luta está<<strong>br</strong> />
difícil e precisariam con-<<strong>br</strong> />
tar com o apoio do Movi-<<strong>br</strong> />
mento Sindical na região.<<strong>br</strong> />
O Sindicato é extrema-<<strong>br</strong> />
mente necessário, porque<<strong>br</strong> />
a região é de pecuária, há<<strong>br</strong> />
muitos assalariados, mas o<<strong>br</strong> />
maior número de compa-<<strong>br</strong> />
nheiros é volante.<<strong>br</strong> />
perados. Que tem um administrador. Disse o<<strong>br</strong> />
Presidente que a assembléia é convocada pelo<<strong>br</strong> />
Presidente, mas quem toma as decisões é o dire-<<strong>br</strong> />
tor: Disse que os trabalhadores comparecem às<<strong>br</strong> />
assembléias. Para montagem do armazém da<<strong>br</strong> />
COBAL disse que receberam recursos do Gover-<<strong>br</strong> />
n'o. mas que uma parte édacooperativa. queparao<<strong>br</strong> />
emprego desse dinheiro não foram consultados<<strong>br</strong> />
os cooperados. Por volta das 10 horas chegou o<<strong>br</strong> />
técnico, prof. César Augusto Marques. Pergunta-<<strong>br</strong> />
mos - porque a cooperativa de trabalhadores<<strong>br</strong> />
avulsos e não de volantes? Respondeu que o tra-<<strong>br</strong> />
balhador rural volante é um trabalhador avulso,<<strong>br</strong> />
que nunca teve direitos trabalhistas, que as coo-<<strong>br</strong> />
perativas os amparam. Que não adianta os Sindi-<<strong>br</strong> />
catos se apegarem tanto às leis existentes, por-<<strong>br</strong> />
que elas não são cumpridas. Disse mais que o<<strong>br</strong> />
grande anseio do trabalhador rural é a previdên-<<strong>br</strong> />
cia social. Que a portaria rfi 2. de 616179. vincula<<strong>br</strong> />
os cooperados avulsos à previdência social urba-<<strong>br</strong> />
na. Que a execução da Portaria está sendo objeto<<strong>br</strong> />
de estudo para implantação. Pelo sistema o<<strong>br</strong> />
empregador rural paga 8% e o trabalhador coo-<<strong>br</strong> />
perado H%. Que o FUNRURAL não ampara o<<strong>br</strong> />
trabalhador rural.<<strong>br</strong> />
Perguntamos so<strong>br</strong>e o vínculo de emprego e<<strong>br</strong> />
fomos informados que pelo Art. 90. da Lei 5.764.<<strong>br</strong> />
de 16112171, o cooperado não tem vínculo de<<strong>br</strong> />
emprego, nem com a cooperativa, nem com o<<strong>br</strong> />
proprietário rural. Logo após chegou o Secretá-<<strong>br</strong> />
rio da cooperativa, José Ferreira, que sentou à<<strong>br</strong> />
mesa dos debates, mas não participou dos deba-<<strong>br</strong> />
tes. Continuou o técnico dizendo que o objetivo é<<strong>br</strong> />
construir uma creche, um galpão para as mulhe-<<strong>br</strong> />
res aprenderem a costurar sapago. Que estão<<strong>br</strong> />
estudando meios legais para que os trabalhado-<<strong>br</strong> />
res possam executar outras atividades não liga-<<strong>br</strong> />
das ao meio rural, para o caso de falta de traba-<<strong>br</strong> />
lho.<<strong>br</strong> />
Ouvidos os representantes do STR de Franca,<<strong>br</strong> />
trabalhadores rurais e os representantes da coo-<<strong>br</strong> />
perativa, é essa a nossa conclusão:<<strong>br</strong> />
Organização de cooperativas de mão de o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
representa o típico comodismo do nosso governo.<<strong>br</strong> />
Preocupados com a grande massa de desempre-<<strong>br</strong> />
gados, hoje bem conceituados pela CNBB como<<strong>br</strong> />
migrantes. Com a exploração do trabalhador<<strong>br</strong> />
pelo dono da terra, os idealizadores das coopera-<<strong>br</strong> />
tivas buscam a solução do problema com o<<strong>br</strong> />
emprego da lei do menor esforço. Não percebe-<<strong>br</strong> />
ram ainda que o remédio empregado pode matar<<strong>br</strong> />
o doente.<<strong>br</strong> />
As cooperativas, nos moldes que vem sendo<<strong>br</strong> />
<strong>org</strong>anizadas, põem por terra as conquistas dos<<strong>br</strong> />
trabalhadores, pois de fato o Art. 90, da Lei n?<<strong>br</strong> />
5.764, tira qualquer possibilidade de vínculo de<<strong>br</strong> />
emprego. Sufoca qualquer esperança da espera-<<strong>br</strong> />
da Reforma Agrária: estimula o êxodo Rural".<<strong>br</strong> />
Este é o relatório. A conclusão do grupo, últi-<<strong>br</strong> />
ma, é a de que as cooperativas agridem a finali-<<strong>br</strong> />
dade dos Sindicatos e a sugestão da comissão é a<<strong>br</strong> />
de que "devemos lutar com todos os nossos<<strong>br</strong> />
recursos para que as famigeradas cooperativas<<strong>br</strong> />
de Trabalhadores Avulsos tenham um fim".