Cá estou de volta no filme 'De ida para o passado* - cpvsp.org.br
Cá estou de volta no filme 'De ida para o passado* - cpvsp.org.br
Cá estou de volta no filme 'De ida para o passado* - cpvsp.org.br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Cá</strong> <strong>estou</strong> <strong>de</strong> <strong>volta</strong> <strong>no</strong> <strong>filme</strong><<strong>br</strong> />
Cnfei * PKlrnt Mri<<strong>br</strong> />
22 NOVl<<strong>br</strong> />
-,. r ' , '*L..' !iaeu WtW|AÇAO<<strong>br</strong> />
<strong>'De</strong> <strong>ida</strong> <strong>para</strong> o <strong>passado*</strong><<strong>br</strong> />
ÍlÍi||||ÍIÍ|||Í; •"■******"'<<strong>br</strong> />
t ' ■ ...... - . .•.-.<<strong>br</strong> />
OVÍÍCUBÔ^tlfff© . . |ii:|>i|!|:í:¥:í:|ii;¥:ii|:y:i;:i •>r'f*x*f , !**^*x%I; ;:;>:v;v;v;>;:::íl-:>-:>-:fe^:^S^^:^::: '•:>!; i:ÍK+:+:+:Ííi:|:3SS3i m<<strong>br</strong> />
!X0]0A0!uíu!'!tmnVi' J!JJJ!J!JJAJ!JAJ!J!í!J!J!J!í!J!J!J!í[V<<strong>br</strong> />
í:::¥:Wííííííííí:i:l:i:i:;xj:;:;:|:|:;:|x;: :::x:;::::' SSáfôííè^&èS^S ^x^^tyvX-^-IvXfXtítí::: •^•r':*:-:-:-:*:':*!'*»?'!-:'*'*-!'
Folha <strong>de</strong> Sío Paulo - 15.10.90<<strong>br</strong> />
Só pacto po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ter<<strong>br</strong> />
inflação, afirma Kapaz<<strong>br</strong> />
Ele<strong>no</strong> Mendonça<<strong>br</strong> />
Não há <strong>no</strong> horizonte cenário eco-<<strong>br</strong> />
nômico possível sem a assinatura do<<strong>br</strong> />
pacto social. Essa é a avaliação feita<<strong>br</strong> />
por Emerson Kapaz, um dos coor<strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
nadores do Pensamento Nacional das<<strong>br</strong> />
Bases Empresariais (PNBE). Ao lado<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> outros quatro empresários na co-<<strong>br</strong> />
missão central que <strong>org</strong>aniza o "en-<<strong>br</strong> />
tendimento nacional", ele representa<<strong>br</strong> />
a iniciativa privada nessa <strong>no</strong>va tenta-<<strong>br</strong> />
tiva <strong>de</strong> acordo com trabalhadores e<<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong> <strong>para</strong>, sem prejuízo ao cres-<<strong>br</strong> />
cimento econômico, combater a infla-<<strong>br</strong> />
ção através <strong>de</strong> uma solução negocia-<<strong>br</strong> />
da.<<strong>br</strong> />
Kapaz, cuja indicação gerou polê-<<strong>br</strong> />
mica, <strong>no</strong> dia 12 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o, falou so-<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>e o pacto e as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> en-<<strong>br</strong> />
contrar consenso em meio a tantos<<strong>br</strong> />
interesses isolados. Para ele, contu-<<strong>br</strong> />
do, o gover<strong>no</strong> extinguiu os mecanis-<<strong>br</strong> />
mos ortodoxos <strong>de</strong> combate à inflação,<<strong>br</strong> />
por isso só lhe resta apostar <strong>no</strong> pacto<<strong>br</strong> />
social.<<strong>br</strong> />
Na sua análise, o aperto monetário<<strong>br</strong> />
empreendido pelo Banco Central não<<strong>br</strong> />
fará cair a taxa inflacionária. Ao<<strong>br</strong> />
contrário, po<strong>de</strong>rá levar o país à es-<<strong>br</strong> />
tagflação, à med<strong>ida</strong> que a elevação<<strong>br</strong> />
dos juros é transfer<strong>ida</strong> aos preços. A<<strong>br</strong> />
seguir, os trechos principais da en-<<strong>br</strong> />
trevista.<<strong>br</strong> />
Folha - E possível fazer pacto num<<strong>br</strong> />
momento recessivo como este, já<<strong>br</strong> />
que o acordo pressupõe sacrifícios?<<strong>br</strong> />
Kapaz - Primeiro, entendimento<<strong>br</strong> />
nacional não é pacto, mas um proces-<<strong>br</strong> />
so <strong>de</strong> negociação que se for conduzi-<<strong>br</strong> />
do com competência po<strong>de</strong> resultar<<strong>br</strong> />
num pacto, acordo, trégua, ou o <strong>no</strong>me<<strong>br</strong> />
que se dê. Isso está apenas começan-<<strong>br</strong> />
do. As pessoas não estão acostumadas<<strong>br</strong> />
a discutir posições divergentes. O<<strong>br</strong> />
processo è lento, mas exatamente por<<strong>br</strong> />
isso po<strong>de</strong> dar certo. Se os conflitos fo-<<strong>br</strong> />
rem reconhecidos po<strong>de</strong>mos reverter a<<strong>br</strong> />
recessão.<<strong>br</strong> />
Folha - De que maneira?<<strong>br</strong> />
Kapaz - A recessão está ocorrendo<<strong>br</strong> />
porque ao govemo não resta outra al-<<strong>br</strong> />
ternativa senão apertar a política mo-<<strong>br</strong> />
netária e implantar uma solução eco-<<strong>br</strong> />
nômica completamente ortodoxa. Não<<strong>br</strong> />
há mais nenhum instrumento. A saída<<strong>br</strong> />
negociada po<strong>de</strong> viabilizar um acordo<<strong>br</strong> />
que permita talvez aumentos <strong>de</strong> salá-<<strong>br</strong> />
rios sem repasse integral aos preços.<<strong>br</strong> />
Folha - Você está querendo dizer<<strong>br</strong> />
que os instrumentos <strong>para</strong> controlar<<strong>br</strong> />
a inflação se esgotaram?<<strong>br</strong> />
Kapaz — Isso mesmo. Após uma<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>utal intervenção do Pla<strong>no</strong> Collor,<<strong>br</strong> />
congelamento <strong>de</strong> recursos e uma ili-<<strong>br</strong> />
qui<strong>de</strong>z gerada em março, a<strong>br</strong>il e maio,<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s três meses seguintes a inflação<<strong>br</strong> />
voltou a subir. Ou seja, após um dos<<strong>br</strong> />
mais fortes pla<strong>no</strong>s que tivemos <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Brasil estamos com inflação em tomo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 10%/13%. Foi uma gran<strong>de</strong> vitória,<<strong>br</strong> />
sem dúv<strong>ida</strong>. Safi<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 80% <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
13%, mas o segundo ponto, <strong>de</strong> chegar<<strong>br</strong> />
a 2%/3% <strong>de</strong> inflação é a chave da<<strong>br</strong> />
questão e envolve eficiência, compe-<<strong>br</strong> />
titiv<strong>ida</strong><strong>de</strong>, distribuição <strong>de</strong> renda.<<strong>br</strong> />
Folha - O que po<strong>de</strong> acontecer ao<<strong>br</strong> />
país se o pacto mais uma vez não<<strong>br</strong> />
ASSMATURAS:<<strong>br</strong> />
Individual 20 BTNs (6 meses) e 40 BTNs (12 meses)<<strong>br</strong> />
Ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s sindicais e outros 25 BTNs (6 meses) e 50 BTNs (12 meses)<<strong>br</strong> />
Exterior (via área) US$ 30,00 (6 meses) e US$ 60,00 (12 meses)<<strong>br</strong> />
O pagamento <strong>de</strong>verá será teto em <strong>no</strong>me do CPV - Centro <strong>de</strong> Documentação e Pesquisa Vergueiro em che-<<strong>br</strong> />
que <strong>no</strong>minal cruzado, ou vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO<<strong>br</strong> />
IPIRANGA - CEP 04299 - Código da Agência 401901<<strong>br</strong> />
QUINZENA - Publicação do CPV - Caixa Postal 42.761 - CEP 04299 - Sáo Paulo - SP<<strong>br</strong> />
Fones (011) 571 7726 ou 571 2910<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>r certo?<<strong>br</strong> />
Kapaz - Sou otimista. Não gosta-<<strong>br</strong> />
ria <strong>de</strong> trabalhar com essa hipótese.<<strong>br</strong> />
Hoje eu já vejo uma dificulda<strong>de</strong> muito<<strong>br</strong> />
gran<strong>de</strong>, mesmo sem a implantação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
uma recessão como a que o I<strong>br</strong>ahun<<strong>br</strong> />
Eris (presi<strong>de</strong>nte do Banco Central)<<strong>br</strong> />
citou em entrevista recente à Folha <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
São Paulo. Mas não acredito que o<<strong>br</strong> />
país precise atravessar uma recessão<<strong>br</strong> />
profunda <strong>para</strong> acabar com a inflação.<<strong>br</strong> />
No meu modo <strong>de</strong> ver a política mo-<<strong>br</strong> />
netária apertada como está não vai<<strong>br</strong> />
contribuir <strong>para</strong> a queda da inflação,<<strong>br</strong> />
por que custo financeiro também tem<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> ser incorporado a preços. Quem<<strong>br</strong> />
ven<strong>de</strong> a prazo não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> co-<<strong>br</strong> />
locar <strong>no</strong>s preços a elevação da taxa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
juros, senão que<strong>br</strong>a. Por isso a resis-<<strong>br</strong> />
tência da inflação é maior. A manu-<<strong>br</strong> />
tenção <strong>de</strong>ssa política acabará levando<<strong>br</strong> />
à estagnação (combinação <strong>de</strong> queda<<strong>br</strong> />
do nível <strong>de</strong> ativ<strong>ida</strong><strong>de</strong> com elevadas<<strong>br</strong> />
taxas <strong>de</strong> inflação).<<strong>br</strong> />
Folha - Você admite que há ten-<<strong>br</strong> />
dência ascen<strong>de</strong>nte da inflação?<<strong>br</strong> />
Kapaz - Não. Há uma resistência à<<strong>br</strong> />
queda mesmo com toda a política mo-<<strong>br</strong> />
netária e recessão. Isso se explica em<<strong>br</strong> />
parte pela concentração econômica<<strong>br</strong> />
que existe <strong>no</strong> país. Mo<strong>no</strong>pólios, oli-<<strong>br</strong> />
gopólios e cartéis controlam mais da<<strong>br</strong> />
meta<strong>de</strong> do Produto Inter<strong>no</strong> Bruto.<<strong>br</strong> />
Folha - Como modificar esse<<strong>br</strong> />
quadro?<<strong>br</strong> />
Kapaz — O caminho adotado pelo<<strong>br</strong> />
govemo é o mais correto. A<strong>br</strong>ir o<<strong>br</strong> />
mercado à importação on<strong>de</strong> há essa<<strong>br</strong> />
concentração e mais <strong>para</strong> frente mexer<<strong>br</strong> />
em produtos finais, ou seja, permitir o<<strong>br</strong> />
acesso a todo tipo <strong>de</strong> matéria-prima.<<strong>br</strong> />
Só que isso leva tempo e <strong>de</strong>manda<<strong>br</strong> />
custo e<strong>no</strong>rme <strong>de</strong> divisas. Também não<<strong>br</strong> />
resolvemos ainda o problema da dívi-<<strong>br</strong> />
da externa.<<strong>br</strong> />
Folha - A Central Única dos<<strong>br</strong> />
Trabalhadores acha que a discussão<<strong>br</strong> />
está levando tempo <strong>de</strong>mais e insiste<<strong>br</strong> />
em tratar, também das questões<<strong>br</strong> />
emergenciais neste momento. Seus<<strong>br</strong> />
dirigentes querem, por exemplo, o<<strong>br</strong> />
compromisso <strong>de</strong> que cessarão as<<strong>br</strong> />
med<strong>ida</strong>s provisórias. Qual é sua<<strong>br</strong> />
opinião a respeito?<<strong>br</strong> />
Kapaz — A posição da CUT tem<<strong>br</strong> />
sido <strong>de</strong> uma matur<strong>ida</strong><strong>de</strong> política sem<<strong>br</strong> />
prece<strong>de</strong>ntes. O Jair Meneguelli (presi-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nte da CUT) enfrenta uma batalha<<strong>br</strong> />
interna muito gran<strong>de</strong>. Sabemos que<<strong>br</strong> />
ele <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o entendimento e acha ^J<<strong>br</strong> />
A QUINZENA divulga as questões poKticas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
fundo em <strong>de</strong>bate <strong>no</strong> movimento, contado colo-<<strong>br</strong> />
ca algumas condições <strong>para</strong> tanto. Publicamos<<strong>br</strong> />
os textos que contenham teses e argumenta-<<strong>br</strong> />
ções estritamente políticas, réplicas que este-<<strong>br</strong> />
jam <strong>no</strong> mesmo nível <strong>de</strong> linguagem e compa-<<strong>br</strong> />
nheirismo, evitando-se os ataques pessoais.<<strong>br</strong> />
Nos reservamos o direito <strong>de</strong> divulgarmos ape-<<strong>br</strong> />
nas as partes significativas dos textos, seja por<<strong>br</strong> />
imposição <strong>de</strong> espaça, seja por solução <strong>de</strong> reda-<<strong>br</strong> />
ção.
que a saída negociada é boa <strong>para</strong> o<<strong>br</strong> />
país, mas tem problemas. Essa con-<<strong>br</strong> />
sulta feita às bases e que homologou a<<strong>br</strong> />
participação da central nas negocia-<<strong>br</strong> />
ções do pacto foi um gran<strong>de</strong> avanço<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o entendimento. Mas não <strong>de</strong>ve-<<strong>br</strong> />
mos ig<strong>no</strong>rar que o processo é lento. O<<strong>br</strong> />
próprio Meneguelli, que achava im-<<strong>br</strong> />
possível assinar um acordo num dia,<<strong>br</strong> />
como nós imagina vamos, hoje <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
mostra que um processo lento po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
dar frutos melhores.<<strong>br</strong> />
Folha - Mas se a CUT condicio-<<strong>br</strong> />
nar o avanço da discussão às ques-<<strong>br</strong> />
tões emergenciais?<<strong>br</strong> />
Kapaz - So<strong>br</strong>e esse ponto, é como<<strong>br</strong> />
marcar uma reunião <strong>de</strong> <strong>de</strong>z horas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
duração e exigir que ninguém saia pa-<<strong>br</strong> />
ra usar o banheiro. Cada um tem um<<strong>br</strong> />
problema emergencial a resolver, por<<strong>br</strong> />
isso são importantes os intervalos.<<strong>br</strong> />
Folha - E so<strong>br</strong>e a suspensão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
med<strong>ida</strong>s provisórias? Não soaria<<strong>br</strong> />
como um mero ato político <strong>de</strong> opo-<<strong>br</strong> />
sição ao presi<strong>de</strong>nte Collor?<<strong>br</strong> />
Kapaz - No termo <strong>de</strong> compromisso<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o funcionamento da comissão<<strong>br</strong> />
central e das subcomissões, se esti-<<strong>br</strong> />
pulou que uma <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas funções é<<strong>br</strong> />
enviar sugestões ao Congresso que<<strong>br</strong> />
possam ser aprovadas como projeto-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>-lei. Ou seja, a partir do momento<<strong>br</strong> />
que alguns pontos forem acordados<<strong>br</strong> />
eles se transformarão em lei, caso o<<strong>br</strong> />
Legislativo os aprove. Isso elimina a<<strong>br</strong> />
necess<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> med<strong>ida</strong>s provisórias,<<strong>br</strong> />
mas talvez não <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva.<<strong>br</strong> />
Ainda haverá questões emergenciais a<<strong>br</strong> />
serem resolv<strong>ida</strong>s pelo gover<strong>no</strong> e ele<<strong>br</strong> />
não vai <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> governar em função<<strong>br</strong> />
do entendimento nacional.<<strong>br</strong> />
Folha - Muitos empresários<<strong>br</strong> />
afirmam que o pacto anterior não<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>u certo porque não havia repre-<<strong>br</strong> />
sentatív<strong>ida</strong><strong>de</strong>. Que cu<strong>ida</strong>do está<<strong>br</strong> />
sendo tomado <strong>para</strong> evitar que isso<<strong>br</strong> />
ocorra?<<strong>br</strong> />
Kapaz - Isso está ligado à credibi-<<strong>br</strong> />
l<strong>ida</strong><strong>de</strong> da mesa <strong>de</strong> negociação e não<<strong>br</strong> />
assinaremos nada que pela <strong>no</strong>ssa sen-<<strong>br</strong> />
sibil<strong>ida</strong><strong>de</strong> não esteja <strong>de</strong>ntro das possi-<<strong>br</strong> />
bil<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cumprimento. Não dá pa-<<strong>br</strong> />
ra consultar todas as pessoas. Qual é o<<strong>br</strong> />
tamanho do passo que teremos <strong>de</strong> dar?<<strong>br</strong> />
Isso será <strong>de</strong>finido.<<strong>br</strong> />
Folha — O trabalhador questiona<<strong>br</strong> />
o pacto <strong>de</strong> outra forma. O argu-<<strong>br</strong> />
mento é que qualquer <strong>de</strong>cisão será<<strong>br</strong> />
espelhada em seu holerite. Portan-<<strong>br</strong> />
to, <strong>de</strong> fácil aplicação e controle.<<strong>br</strong> />
Mas a margem <strong>de</strong> lucro do empre-<<strong>br</strong> />
sário, como é possível cotrolá-la?<<strong>br</strong> />
Kapaz - Por isso estamos tentando<<strong>br</strong> />
um acordo com a discussão <strong>de</strong> gran-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>s questões. O curto, médio e longo<<strong>br</strong> />
prazos terão <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finidos <strong>de</strong>ntro<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma escala <strong>de</strong> prior<strong>ida</strong><strong>de</strong>s. E preci-<<strong>br</strong> />
so saber que socieda<strong>de</strong> queremos. Se<<strong>br</strong> />
ficar acertado que os salários <strong>de</strong>vem<<strong>br</strong> />
subir <strong>de</strong> 30% da renda <strong>para</strong> 60%, pre-<<strong>br</strong> />
cisamos <strong>de</strong>finir o tempo <strong>para</strong> isso e a<<strong>br</strong> />
melhor maneira <strong>para</strong> conduzirá idéia.<<strong>br</strong> />
Quando esse horizonte é estabelecido,<<strong>br</strong> />
indiretamente se está dizendo que o<<strong>br</strong> />
mercado inter<strong>no</strong> será fortalecido e os<<strong>br</strong> />
salários crescerão. Queremos um <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
senvolvimento quantitativo com me-<<strong>br</strong> />
lhoria da qual<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> v<strong>ida</strong>.<<strong>br</strong> />
Folha - E a durabil<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />
acordo?<<strong>br</strong> />
Kapaz - É importante <strong>de</strong>ixar claro<<strong>br</strong> />
que <strong>no</strong>s países industrializados a cada<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong> esses pactos são atualizados. As<<strong>br</strong> />
metas são estabelec<strong>ida</strong>s ao a<strong>no</strong>. A so-<<strong>br</strong> />
cieda<strong>de</strong> é que <strong>de</strong>fine como se dará o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento e seu ritmo.<<strong>br</strong> />
Folha - Qual é a primeira coisa a<<strong>br</strong> />
ser feita <strong>para</strong> levar o paus nessa di-<<strong>br</strong> />
reção?<<strong>br</strong> />
Kapaz — Primeiro é preciso mudar<<strong>br</strong> />
a mental<strong>ida</strong><strong>de</strong> do empresariado. Ele<<strong>br</strong> />
não administra só sua empresa, tem<<strong>br</strong> />
funções sociais fundamentais. Esse<<strong>br</strong> />
discurso tem encontrado receptiv<strong>ida</strong>-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>. Quem olhar o trabalhador como<<strong>br</strong> />
parceiro e não como força <strong>de</strong> trabalho<<strong>br</strong> />
terá papel relevante nesse processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mudança. Temos <strong>de</strong> fazer miniacordos<<strong>br</strong> />
nas empresas, negociar livremente<<strong>br</strong> />
salários, <strong>no</strong>mear representantes <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
uma administração participativa.<<strong>br</strong> />
Folha - O empresário está em<<strong>br</strong> />
condições <strong>de</strong> reduzir sua margem<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> lucro <strong>para</strong> viabilizar esse cami-<<strong>br</strong> />
nho?<<strong>br</strong> />
Kapaz - Aquele que vive <strong>no</strong> mer-<<strong>br</strong> />
cado competitivo queimou as gorduras<<strong>br</strong> />
Cenário Sindical - Outu<strong>br</strong>o/90<<strong>br</strong> />
faz meses. O consumo está <strong>de</strong>cres-<<strong>br</strong> />
cente e muitos estão sujeitos a maté-<<strong>br</strong> />
rias-primas fornec<strong>ida</strong>s por cartéis. Pa-<<strong>br</strong> />
ra esses, o problema é saber até quan-<<strong>br</strong> />
do po<strong>de</strong> ser reduzido o preço sem<<strong>br</strong> />
perda <strong>de</strong> mercado ou produção. A<<strong>br</strong> />
renda sai <strong>de</strong>sses segmentos e se con-<<strong>br</strong> />
centra <strong>no</strong>s cartéis. O setor financeiro<<strong>br</strong> />
também <strong>de</strong>ve ser re<strong>de</strong>finido, pois <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento que se preten<strong>de</strong> fa-<<strong>br</strong> />
zer ele terá <strong>de</strong> funcionar como agente<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> fomento.<<strong>br</strong> />
Folha — O empresário tem medo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> criticar as med<strong>ida</strong>s econômicas<<strong>br</strong> />
do presi<strong>de</strong>nte e daquilo que ele po-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> vir a <strong>de</strong>cidir em função disso.<<strong>br</strong> />
Você concorda com isso?<<strong>br</strong> />
Kapaz — Eu concordo. Nós entra-<<strong>br</strong> />
mos num processo <strong>de</strong> convergência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
interesses <strong>de</strong>mocráticos e <strong>de</strong> fortale-<<strong>br</strong> />
cimento da socieda<strong>de</strong> civil. Com essa<<strong>br</strong> />
etapa cumpr<strong>ida</strong> esse receio acabará. O<<strong>br</strong> />
presi<strong>de</strong>nte pretendia mostrar que havia<<strong>br</strong> />
autor<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> Planalto, que alguém<<strong>br</strong> />
mandava. Isso está mudando. Sinto<<strong>br</strong> />
por parte do gover<strong>no</strong>, da equipe eco-<<strong>br</strong> />
nômica e do próprio presi<strong>de</strong>nte a dis-<<strong>br</strong> />
posição <strong>de</strong> que o pacto não é uma en-<<strong>br</strong> />
ganação. Temos <strong>de</strong>, por mais impossí-<<strong>br</strong> />
vel que possa parecer, lutar pelo su-<<strong>br</strong> />
cesso do entendimento. Não há como<<strong>br</strong> />
prever o que po<strong>de</strong> acontecer se essa<<strong>br</strong> />
tentativa falhar. Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar<<strong>br</strong> />
que 75% da população ganha um salá-<<strong>br</strong> />
rio mínimo e numa situação difícil <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
subsistência surgem atitu<strong>de</strong>s imprevi-<<strong>br</strong> />
síveis.<<strong>br</strong> />
Recontratação ajudaria<<strong>br</strong> />
acordo nacional<<strong>br</strong> />
O presi<strong>de</strong>nte Fernando Collor <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Mello tem à sua disposição um enge-<<strong>br</strong> />
nhoso expediente <strong>de</strong> arrefecimento<<strong>br</strong> />
dos anônimos <strong>no</strong> movimento sindical<<strong>br</strong> />
- particularmente, <strong>no</strong> setor público -,<<strong>br</strong> />
que po<strong>de</strong>rá ser lançado à mesa das<<strong>br</strong> />
discussões do "entendimento' como<<strong>br</strong> />
prova da "boa vonta<strong>de</strong>" e do espírito<<strong>br</strong> />
contemporizador do gover<strong>no</strong>. Trata-se<<strong>br</strong> />
da aplicação do acordo <strong>de</strong> recontrata-<<strong>br</strong> />
ção prioritária, através do qual seria<<strong>br</strong> />
possível sinalizar sempre com uma<<strong>br</strong> />
perspectiva <strong>de</strong> readmissáo <strong>no</strong> empre-<<strong>br</strong> />
go.<<strong>br</strong> />
A inclusão da recontratação priori-<<strong>br</strong> />
tária <strong>no</strong>s acordos coletivos entre capi-<<strong>br</strong> />
tal e trabalho é uma prática bastante<<strong>br</strong> />
comum <strong>no</strong>s <strong>de</strong>mais países <strong>de</strong> sindi-<<strong>br</strong> />
calismo pujante e avanço nas rela-<<strong>br</strong> />
ções empregatfcias. Ela ocorre, <strong>no</strong>r-<<strong>br</strong> />
malmente, em empresas privadas, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
que se pressupõe a existência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
transparência contábil e financeira su-<<strong>br</strong> />
ficiente <strong>para</strong> que os empregados <strong>de</strong>li-<<strong>br</strong> />
berem em assembléias ) muitas das<<strong>br</strong> />
vezes sendo acionistas das compa-<<strong>br</strong> />
nhias - a necess<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>ter-<<strong>br</strong> />
minado número <strong>de</strong> <strong>de</strong>missões.<<strong>br</strong> />
Por uma questão <strong>de</strong> lógica, quanto<<strong>br</strong> />
maior a qualificação da mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
da empresa maiores são as possibili-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses acordo ser realizado.
O tum over numa empresa como<<strong>br</strong> />
a IBM, por exemplo, é caríssimo. Não<<strong>br</strong> />
interessa a empresa que haja rotativi-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong> <strong>no</strong> seu quadro <strong>de</strong> pessoal. Mas<<strong>br</strong> />
mesmo que houvesse esse risco <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
vido ao investimento da empresa em<<strong>br</strong> />
formandos <strong>de</strong> última geração universi-<<strong>br</strong> />
tária (os acordos <strong>de</strong> financiamento às<<strong>br</strong> />
univers<strong>ida</strong><strong>de</strong>s buscam muitas vezes a<<strong>br</strong> />
criação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a mais qualidi-<<strong>br</strong> />
cada a preços me<strong>no</strong>res) o acordo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
recontratação prioritária minimizaria<<strong>br</strong> />
essa possibil<strong>ida</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
No Brasil, um dos <strong>de</strong>fensores da<<strong>br</strong> />
idéia é o ex-ministro Mario Henrique<<strong>br</strong> />
Simonsen, que consi<strong>de</strong>ra a med<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
naturalmente lógica <strong>no</strong> caso do setor<<strong>br</strong> />
público, on<strong>de</strong> ainda funciona o curioso<<strong>br</strong> />
sistema <strong>de</strong> estabil<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> emprego,<<strong>br</strong> />
responsável pela <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> funcio-<<strong>br</strong> />
nários eficientes em troca do "encos-<<strong>br</strong> />
tamento' <strong>de</strong> funcionários negligentes<<strong>br</strong> />
estáveis.<<strong>br</strong> />
As <strong>de</strong>missões que vêm sendo fei-<<strong>br</strong> />
tas em toda a máquina <strong>de</strong> Estado, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong> Collor, são efetuadas com os<<strong>br</strong> />
olhos <strong>volta</strong>dos <strong>para</strong> o caixa e não pa-<<strong>br</strong> />
ra o <strong>de</strong>sempenho operacional ou a<<strong>br</strong> />
orodutiv<strong>ida</strong><strong>de</strong> do trabalho. Simonsen<<strong>br</strong> />
lem<strong>br</strong>a que, inevitavelmente, o Estado<<strong>br</strong> />
<strong>volta</strong>rá a crescer - mesmo que seja<<strong>br</strong> />
pelo efeito <strong>de</strong> uma simples resposta<<strong>br</strong> />
ao aumento do contingente <strong>de</strong>mográ-<<strong>br</strong> />
Relatório Reservado - 14.10.90<<strong>br</strong> />
fico. E o i<strong>de</strong>al é que possa crescer o<<strong>br</strong> />
mais rápido possível. O exHiiinistro<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>ra, portanto, que essas <strong>de</strong>mis-<<strong>br</strong> />
sões forçadas pelo caixa <strong>de</strong>vem ser<<strong>br</strong> />
reconsi<strong>de</strong>radas prioritariamente.<<strong>br</strong> />
O vice-presi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração<<strong>br</strong> />
das Indústrias do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Fir-<<strong>br</strong> />
jan), César Moreira, apoia a med<strong>ida</strong> e<<strong>br</strong> />
lem<strong>br</strong>a que em acordos coletivos pas-<<strong>br</strong> />
sados entre trabalhadores e empresá-<<strong>br</strong> />
rios privados a dáusula constou nas<<strong>br</strong> />
negociações. Até aí, nada <strong>de</strong>mais.<<strong>br</strong> />
Basta lem<strong>br</strong>ar que a participação dos<<strong>br</strong> />
trabalhadores <strong>no</strong> lucro das empresas<<strong>br</strong> />
é uma med<strong>ida</strong> constitucional <strong>de</strong>s<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1946, e nunca foi aplicada.<<strong>br</strong> />
Já o presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos<<strong>br</strong> />
Metalúrgicos <strong>de</strong> São Bernardo do<<strong>br</strong> />
Campo, Vicente Paulo da Silva - o<<strong>br</strong> />
"Vicentinho" - é radicalmente contra<<strong>br</strong> />
esse tipo <strong>de</strong> acordo, pois em sua opi-<<strong>br</strong> />
nião significa "admitir a <strong>de</strong>missão e o<<strong>br</strong> />
trabalhador tem que lutar pela estabi-<<strong>br</strong> />
l<strong>ida</strong><strong>de</strong> e não administrá-la".<<strong>br</strong> />
Mas, infelizmente, as <strong>de</strong>missões<<strong>br</strong> />
existem e, como reconhece o ex-dire-<<strong>br</strong> />
tor do Departamento Intersindical <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Estudos e Estatísticas Sócio-Econô-<<strong>br</strong> />
micas, Walter Barelli, continuarão<<strong>br</strong> />
existindo. Barelli, que reconhece um<<strong>br</strong> />
certo atraso nas concepções <strong>de</strong> luta<<strong>br</strong> />
do sindicalismo <strong>br</strong>asileiro, é totalmen-<<strong>br</strong> />
te favorável à idéia E lem<strong>br</strong>ou um<<strong>br</strong> />
caso <strong>de</strong> um operário, conhecido seu,<<strong>br</strong> />
que trabalhava na Ford <strong>no</strong>rte-ameri-<<strong>br</strong> />
cana Em períodos <strong>de</strong> contenção,<<strong>br</strong> />
quando ocorriam <strong>de</strong>missões necessá-<<strong>br</strong> />
rias, o trabalhador vinha <strong>para</strong> o Brasil<<strong>br</strong> />
e se empregava aqui. Após um certo<<strong>br</strong> />
tempo, quando o mercado se estabili-<<strong>br</strong> />
zava e as coisas <strong>volta</strong>vam ao <strong>no</strong>rmal,<<strong>br</strong> />
ele recebia da Ford uma carta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
convite <strong>de</strong> retomo ao trabalho. E se<<strong>br</strong> />
mandava <strong>no</strong>vamente <strong>para</strong> os Estados<<strong>br</strong> />
Unidos. Não é necessário dizer, é cla-<<strong>br</strong> />
ro, que a Ford utiliza o sistema <strong>de</strong> re-<<strong>br</strong> />
contratação prioritária<<strong>br</strong> />
No caso <strong>br</strong>asileiro, on<strong>de</strong> sempre<<strong>br</strong> />
tem predominado o famoso "jeitinho",<<strong>br</strong> />
seria necessário todo empenho <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
evitar a transformação <strong>de</strong> um expe-<<strong>br</strong> />
diente sério em mais um truque <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
prestidigitadores. A idéia <strong>de</strong> inclusão<<strong>br</strong> />
da recontratação prioritária <strong>no</strong> "enten-<<strong>br</strong> />
dimento nacional", contemplando em<<strong>br</strong> />
especial os funcionários públicos, <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
ve ser tratada com cu<strong>ida</strong>dos, tais co-<<strong>br</strong> />
mo a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> prazos <strong>de</strong> inativi-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong> e ressarcimentos pelo eventual<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>scumprimento <strong>de</strong>sses prazos.<<strong>br</strong> />
Em caso contrário, a recontratação<<strong>br</strong> />
prioritária po<strong>de</strong> <strong>de</strong>morar mais <strong>de</strong> mil<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> se tomar realmente prioritá-<<strong>br</strong> />
ria<<strong>br</strong> />
Demissões não reduziram <strong>de</strong>spesas da União<<strong>br</strong> />
O corte <strong>de</strong> pessoal promovido <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
início do gover<strong>no</strong> Collor, a pretexto<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> reduzir gastos da União, não al-<<strong>br</strong> />
cançou o objetivo pretendido. Ao<<strong>br</strong> />
contrário, dados da Secretaria do Te-<<strong>br</strong> />
souro Nacional, <strong>de</strong>flacionados pelo<<strong>br</strong> />
índice Geral <strong>de</strong> Preços, mostram cres-<<strong>br</strong> />
cimento significativo <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>spesas<<strong>br</strong> />
entre fevereiro e agosto <strong>de</strong> 1990, em<<strong>br</strong> />
com<strong>para</strong>ção com igual período do a<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
passado.<<strong>br</strong> />
A avaliação dos dados indica que o<<strong>br</strong> />
corte atingiu em maior escala o fun-<<strong>br</strong> />
cionalismo com baixa remuneração e<<strong>br</strong> />
que o ajuste da folha vem se dando<<strong>br</strong> />
muito mais através do congelamento<<strong>br</strong> />
dos salários. No somatório <strong>de</strong> janeiro<<strong>br</strong> />
a agosto, o dispêndio com pessoal<<strong>br</strong> />
chega a Cr$ 1,3 trilhão, pouco me<strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
do que foi gasto durante todo o a<strong>no</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1989. O acréscimo dos valores <strong>de</strong> se-<<strong>br</strong> />
tem<strong>br</strong>o a esses gastos torneira o dis-<<strong>br</strong> />
pêndio com pessoal, em 1990, o mais<<strong>br</strong> />
elevado dos últimos quatro a<strong>no</strong>s.<<strong>br</strong> />
A variação mês a mês é a seguinte:<<strong>br</strong> />
• Janeiro — Único mês em que as<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>spesas com pessoal e encargos so-<<strong>br</strong> />
ciais ficaram abaixo do valor pago em<<strong>br</strong> />
igual período <strong>de</strong> 1989; razão: mudan-<<strong>br</strong> />
ça da data-base, <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>para</strong> ja-<<strong>br</strong> />
neiro, do reajuste do funcionalismo.<<strong>br</strong> />
• Fevereiro — Os gastos com pes-<<strong>br</strong> />
soal se elevaram em Cr$ 40,6 bilhões,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vido à atualização salarial.<<strong>br</strong> />
• Março — Registra pequena queda<<strong>br</strong> />
em reação ao mês anterior, basica-<<strong>br</strong> />
mente por causa da aceleração infla-<<strong>br</strong> />
cionária (o índice aplicado é sempre o<<strong>br</strong> />
do mês anterior).<<strong>br</strong> />
• A<strong>br</strong>il — As <strong>de</strong>spesas <strong>volta</strong>m a<<strong>br</strong> />
apresentar gran<strong>de</strong> salto — <strong>de</strong> Cr$ 36,8<<strong>br</strong> />
bilhões -, como conseqüência do<<strong>br</strong> />
reajuste <strong>de</strong> 83% so<strong>br</strong>e os salários.<<strong>br</strong> />
• Maio — Com o congelamento sa-<<strong>br</strong> />
larial, a folha recebeu <strong>no</strong>va so<strong>br</strong>ecar-<<strong>br</strong> />
ga, <strong>de</strong>sta vez pelo pagamento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
nizações trabalhistas a funcionários<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mitidos.<<strong>br</strong> />
• Junho — A União pagou ao Judi-<<strong>br</strong> />
ciário e ao Legislativo a parcela <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
antecipação do 13 e salário, além <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
prosseguir com o pagamento das in-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nizações do pessoal <strong>de</strong>mitido.<<strong>br</strong> />
• Julho — Foi o primeiro mês lim-<<strong>br</strong> />
po, com base <strong>no</strong> qual se po<strong>de</strong> aferir o<<strong>br</strong> />
impacto real do corte <strong>de</strong> servidores. A<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>spesa com pagamento <strong>de</strong> pessoal foi<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Cr$ 151,9 bilhões, contra Cr$ 85,6<<strong>br</strong> />
bilhões em julho <strong>de</strong> 1989. Houve<<strong>br</strong> />
crescimento da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 43,6%.<<strong>br</strong> />
• Agosto — Novo incremento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
gastos, com a parcela <strong>de</strong> antecipação<<strong>br</strong> />
do 13 e salário ao restante do funcio-<<strong>br</strong> />
nalismo.<<strong>br</strong> />
Setem<strong>br</strong>o será um <strong>no</strong>vo mês limpo<<strong>br</strong> />
e, segundo estimativas, os dispêndios<<strong>br</strong> />
da União com pessoal, em termos<<strong>br</strong> />
reais, ficarão em tomo <strong>de</strong> Cr$ 120<<strong>br</strong> />
bilhões. A queda, em relação aos <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
mais meses, po<strong>de</strong> ser atribuída à cor-<<strong>br</strong> />
rosão da inflação so<strong>br</strong>e os salários.<<strong>br</strong> />
Em relação a setem<strong>br</strong>o do a<strong>no</strong> passa-<<strong>br</strong> />
do, também em termos reais, a <strong>de</strong>spe-<<strong>br</strong> />
sa da União com pessoal e encargos<<strong>br</strong> />
sociais acusará crescimento significa-<<strong>br</strong> />
tivo, superior a 40%.
Os integrantes do grvpo escolhido pelo gover-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> <strong>para</strong> discutir o pacto social vêm se queixando<<strong>br</strong> />
da lentidão do processo. Segundo um <strong>de</strong>les, "até<<strong>br</strong> />
agora não se avançou um milímetro", graças, em<<strong>br</strong> />
parte, à ausência dos polKcos. Este problema, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
entanto, <strong>de</strong>verá ser contornado em curto prazo,<<strong>br</strong> />
com a convocação <strong>de</strong> parlamentares recém-elei-<<strong>br</strong> />
tos.<<strong>br</strong> />
Restará outra gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, que é a fatta<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação dos trabalhos. A função, a cargo<<strong>br</strong> />
do ministro Bernardo Ca<strong>br</strong>al, não vem sendo cum-<<strong>br</strong> />
Cenário Sindical - Outu<strong>br</strong>o /90<<strong>br</strong> />
PACTO SOCIAL<<strong>br</strong> />
O início do fim<<strong>br</strong> />
pr<strong>ida</strong> a contento, <strong>de</strong> acordo com a avaliação <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />
dos representantes do empresariado. No último<<strong>br</strong> />
encontro, agendado <strong>para</strong> estabelecer as <strong>no</strong>rmas<<strong>br</strong> />
básicas <strong>para</strong> o trabalho do grvpo, Ca<strong>br</strong>al foi espe-<<strong>br</strong> />
rado com ansieda<strong>de</strong>, na expectativa <strong>de</strong> que trou-<<strong>br</strong> />
xesse o documento-base do regulamento. Para<<strong>br</strong> />
surpresa geral, o ministro chegou sem ter pre<strong>para</strong>-<<strong>br</strong> />
do uma linha sequer. E o encontro acabou por<<strong>br</strong> />
transformar-se numa discussão estéril, que durou<<strong>br</strong> />
duas horas e não chegou a lugar algum.<<strong>br</strong> />
Central <strong>de</strong> Brizola<<strong>br</strong> />
já provoca polêmica<<strong>br</strong> />
As recentes invest<strong>ida</strong>s <strong>de</strong> Leonel Brizola<<strong>br</strong> />
contra a CUT náo parecem ter sido apenas<<strong>br</strong> />
uma escaramuça eleitoral, uma ma<strong>no</strong><strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
que se esgotou a 3 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o. O lí<strong>de</strong>r do<<strong>br</strong> />
PDT e alguns dos principais mem<strong>br</strong>os da<<strong>br</strong> />
secretaria sindical do partido, como Fer-<<strong>br</strong> />
nando Lopes e Brandão Monteiro, come-<<strong>br</strong> />
çam a embalar seriamente o sonho <strong>de</strong> criar<<strong>br</strong> />
uma central sindical que roube espaços da<<strong>br</strong> />
ent<strong>ida</strong><strong>de</strong> presid<strong>ida</strong> por Jair Meneguelli.<<strong>br</strong> />
Uma proposta que po<strong>de</strong>ria colocar <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
mesmo barco o conhecido político e o pre-<<strong>br</strong> />
si<strong>de</strong>nte do Sindicato dos Metalúrgicos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
São Paulo, Luiz Antônio Me<strong>de</strong>iros. Este já<<strong>br</strong> />
veio, inclusive, ao Rio conversar a respeito<<strong>br</strong> />
com Brizola.<<strong>br</strong> />
A hipótese <strong>de</strong> uma central sindical for-<<strong>br</strong> />
temente ligada ao PDT <strong>de</strong>sagrada, porém, a<<strong>br</strong> />
alguns quadros do partido com trânsito na<<strong>br</strong> />
área trabalhista - o que certamente difi-<<strong>br</strong> />
cultará as ma<strong>no</strong><strong>br</strong>as <strong>para</strong> sua criação. Esse<<strong>br</strong> />
é o caso, por exemplo, do ex-presi<strong>de</strong>nte do<<strong>br</strong> />
Sindicato dos Bancários do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<<strong>br</strong> />
Ronald Barata, um tradicional pe<strong>de</strong>tisla,<<strong>br</strong> />
que já ocupou o cargo <strong>de</strong> secretário-geral<<strong>br</strong> />
da CUT estadual. Embora tenha sérias crí-<<strong>br</strong> />
ticas a algumas posturas e teses da ent<strong>ida</strong>-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>. Barata não vê com bons olhos a possi-<<strong>br</strong> />
bil<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a central <strong>para</strong> se engajar<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> projeto <strong>br</strong>izolista.<<strong>br</strong> />
Avesso à criação <strong>de</strong> uma central sindical<<strong>br</strong> />
part<strong>ida</strong>rizada, Barata explica que <strong>para</strong> via-<<strong>br</strong> />
bilizá-la seria preciso realizar um congresso<<strong>br</strong> />
a que comparecessem um número expressi-<<strong>br</strong> />
vo <strong>de</strong> sindicatos. "Caso não seja esse o ca-<<strong>br</strong> />
minho a ser seguido por aqueles que <strong>de</strong>se-<<strong>br</strong> />
jam fundar uma ent<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tal nível, serei<<strong>br</strong> />
o primeiro a me opor à idéia."<<strong>br</strong> />
A possibil<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que a <strong>no</strong>va centrai<<strong>br</strong> />
surja a partir <strong>de</strong> uma união <strong>de</strong> forças com<<strong>br</strong> />
Luis Antônio Me<strong>de</strong>iros também <strong>de</strong>sagrada<<strong>br</strong> />
a Barata e a outras li<strong>de</strong>ranças do PDT com<<strong>br</strong> />
trânsito na CUT. "Não sei o que é pior: o<<strong>br</strong> />
sindicalismo part<strong>ida</strong>rizado ou o sindicalis-<<strong>br</strong> />
mo <strong>de</strong> resultados", fulmina o ex-presi<strong>de</strong>nte<<strong>br</strong> />
do Sindicato dos Bancários. Apesar <strong>de</strong>ssas<<strong>br</strong> />
manifestações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado, a secretaria<<strong>br</strong> />
sindical do PDT irá se reunir este mês <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
analisar os rumos e <strong>de</strong>safios do movimento<<strong>br</strong> />
sindical. O encontro promete momentos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
tensão, pouco recomendáveis <strong>para</strong> os que<<strong>br</strong> />
não apreciam emoções fortes.<<strong>br</strong> />
Correio Braziliense - 15.10.90<<strong>br</strong> />
Me<strong>de</strong>iros articula, <strong>de</strong> casa, a<<strong>br</strong> />
criação <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va central<<strong>br</strong> />
Anselmo <strong>de</strong> Souza<<strong>br</strong> />
O presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos Me-<<strong>br</strong> />
talúrgicos <strong>de</strong> São Paulo, Luis Antônio<<strong>br</strong> />
Me<strong>de</strong>iros, foi o<strong>br</strong>igado a trocar o ga-<<strong>br</strong> />
binete da se<strong>de</strong> da ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>, <strong>no</strong> agitado<<strong>br</strong> />
centro <strong>de</strong> São Paulo, pelo peque<strong>no</strong> es-<<strong>br</strong> />
critório <strong>de</strong> sua própria casa, um mo-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sto e bem cu<strong>ida</strong>do so<strong>br</strong>ado do tran-<<strong>br</strong> />
qüilo bairro do BrookJin Novo, na zo-<<strong>br</strong> />
na Sul. E muitos outros hábitos <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />
sindicalista <strong>de</strong> 42 a<strong>no</strong>s, ex-militante<<strong>br</strong> />
do Partido Comunista, mudaram <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
pois que ele sofreu um pré-enfarto, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
dia 21 <strong>de</strong> agosto. As recomendações<<strong>br</strong> />
médicas não conseguiram, porém,<<strong>br</strong> />
afastá-lo das articulações sindicais e<<strong>br</strong> />
políticas Me<strong>de</strong>iros transformou a sala-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>-estar <strong>de</strong> sua casa em um verda<strong>de</strong>iro<<strong>br</strong> />
salão <strong>de</strong> reuniões, on<strong>de</strong> ele recebe<<strong>br</strong> />
sindicalista <strong>de</strong> todos os cantos do País<<strong>br</strong> />
numa tentativa <strong>de</strong> realizar seu mais<<strong>br</strong> />
recente sonho: criar uma <strong>no</strong>va central<<strong>br</strong> />
sindical.<<strong>br</strong> />
A <strong>no</strong>va ent<strong>ida</strong><strong>de</strong> já foi aprovada<<strong>br</strong> />
por 60 sindicalistas e tem uma coor-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nação escolh<strong>ida</strong> por eles. Entre os<<strong>br</strong> />
19 sindicatos está o do próprio Me<strong>de</strong>i-<<strong>br</strong> />
ros, cand<strong>ida</strong>to natural a ser o presi-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nte da <strong>no</strong>va ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>, que <strong>de</strong>verá<<strong>br</strong> />
ser formalizada em congresso, <strong>no</strong> mês<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> março. "Antes disso temos que<<strong>br</strong> />
discutir o assunto com outros sindica-<<strong>br</strong> />
listas e também com os trabalhado-<<strong>br</strong> />
res", acautela-se Me<strong>de</strong>iros. "Eu mes-<<strong>br</strong> />
mo vou convocar assembléia <strong>no</strong> Sin-<<strong>br</strong> />
dicato <strong>para</strong> ver se a categoria apro-<<strong>br</strong> />
va", ressalva.<<strong>br</strong> />
Ele sabe, porém do prestígio que<<strong>br</strong> />
tem entre os 130 mil associados do<<strong>br</strong> />
Sindicato. Na última eleição, em mar-<<strong>br</strong> />
ço, Me<strong>de</strong>iros reelegeu-se presi<strong>de</strong>nte<<strong>br</strong> />
com 80 por cento dos votos válidos.<<strong>br</strong> />
"O meu sindicato é querido pelos<<strong>br</strong> />
metalúrgicos e respeitado pela opinião<<strong>br</strong> />
pública", gaba-se Me<strong>de</strong>iros. Portanto,<<strong>br</strong> />
ele conta com o aval dos metalúrgicos<<strong>br</strong> />
paulista<strong>no</strong>s, ao todo 370 mil trabalha-<<strong>br</strong> />
dores, <strong>para</strong> formar a <strong>no</strong>va ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Me<strong>de</strong>iros já tem em mente o <strong>no</strong>me:<<strong>br</strong> />
"Força Sindical".<<strong>br</strong> />
O perfil do agrupamento <strong>de</strong> traba-<<strong>br</strong> />
lhadores também já está <strong>de</strong>senhado<<strong>br</strong> />
por Me<strong>de</strong>iros. "Não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> con-<<strong>br</strong> />
fronto com o Gover<strong>no</strong> e nem atrelado<<strong>br</strong> />
ao Gover<strong>no</strong>", resume o sindicalista,<<strong>br</strong> />
fundador e presi<strong>de</strong>nte da Confe<strong>de</strong>ra-<<strong>br</strong> />
ção dos Metalúrgicos. Neste ponto da<<strong>br</strong> />
conversa, Me<strong>de</strong>iros faz questão <strong>de</strong> fri-<<strong>br</strong> />
zar que o objetivo da "Foca Sindical"<<strong>br</strong> />
é ocupar um vácuo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>i-<<strong>br</strong> />
xado, segundo ele, pela Central Única<<strong>br</strong> />
dos Trabalhadores (CUT) e pela Con-<<strong>br</strong> />
fe<strong>de</strong>ração Geral dos Trabalhadores<<strong>br</strong> />
(CGT). "A CUT só quer que<strong>br</strong>ar vi-<<strong>br</strong> />
draça, é subserviente ao PT. A CGT é<<strong>br</strong> />
atrelada ao Gover<strong>no</strong>", consi<strong>de</strong>ra o<<strong>br</strong> />
sindicalista.<<strong>br</strong> />
Ele critica indistintamente o com-<<strong>br</strong> />
portamento das duas centrais mas re-<<strong>br</strong> />
serva a artilharia verbal <strong>para</strong> atingir,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma só vez, a CUT e o PT. "A<<strong>br</strong> />
CUT é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do partido e o PT<<strong>br</strong> />
é her<strong>de</strong>iro do stalinismo", ataca. Sua<<strong>br</strong> />
justificativa: "Os dois só fazem a uni-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong> on<strong>de</strong> estão em primeiro lugar. O<<strong>br</strong> />
PT só quer hegemonia e pão faz auto-<<strong>br</strong> />
crítica em relação ao Leste Europeu<<strong>br</strong> />
analisa Me<strong>de</strong>iros, <strong>para</strong> quem o PT <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
ve dizer "que tipo <strong>de</strong> socialismo<<strong>br</strong> />
quer".<<strong>br</strong> />
Escritas, as palavras <strong>de</strong>le po<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />
sugerir um certo tipo <strong>de</strong> ódio contra<<strong>br</strong> />
petistas e cutistas. Sentado em uma<<strong>br</strong> />
ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> <strong>br</strong>aços, Me<strong>de</strong>iros fala sem-<<strong>br</strong> />
pre <strong>de</strong>vagar. O tom <strong>de</strong> voz bastante<<strong>br</strong> />
sere<strong>no</strong>, continua inalterado também<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s momentos em que analisa as di-<<strong>br</strong> />
vergências entre ele e seus adversários<<strong>br</strong> />
sindicalistas. "Eu não sou contra<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ologia, eu sou contra a i<strong>de</strong>ologia<<strong>br</strong> />
stalinista", faz a com<strong>para</strong>ção como se<<strong>br</strong> />
fosse um professor, insistindo em não<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ixar dúv<strong>ida</strong>s ao alu<strong>no</strong>. iA»
Para Me<strong>de</strong>iros, a receita da credi-<<strong>br</strong> />
bil<strong>ida</strong><strong>de</strong> entre os trabalhadores é a ne-<<strong>br</strong> />
gociação, com o Gover<strong>no</strong> e com os<<strong>br</strong> />
patrões. Para isso é preciso, segundo<<strong>br</strong> />
ele, conversar com todo mundo, até<<strong>br</strong> />
com os adversários. "Eu sou recebido<<strong>br</strong> />
pelo Gover<strong>no</strong> e falo também com o<<strong>br</strong> />
Meneguelli", enfatiza Me<strong>de</strong>iros, refe-<<strong>br</strong> />
rindo-se ao presi<strong>de</strong>nte da CUT. A en-<<strong>br</strong> />
t<strong>ida</strong><strong>de</strong> passou a adotar uma linha <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
atuação parec<strong>ida</strong> com a do presi<strong>de</strong>nte<<strong>br</strong> />
do Sindicato dos Metalúrgicos <strong>de</strong> São<<strong>br</strong> />
Paulo, segundo ele mesmo analisa:<<strong>br</strong> />
"Hoje, o Meneguelli vai ao Gover<strong>no</strong> e<<strong>br</strong> />
aparece em fotografias junto com<<strong>br</strong> />
Collor", lem<strong>br</strong>ando que isso era con-<<strong>br</strong> />
si<strong>de</strong>rado um sacrilégio pela correntes<<strong>br</strong> />
radicais do sindicalismo.<<strong>br</strong> />
"Eu não tenho esse problema. Se é<<strong>br</strong> />
preciso negociar <strong>para</strong> conquistar salá-<<strong>br</strong> />
rio <strong>para</strong> os trabalhadores eu negocio",<<strong>br</strong> />
ressalta Me<strong>de</strong>iros. Como dirigente do<<strong>br</strong> />
maior sindicato da América Latina,<<strong>br</strong> />
Me<strong>de</strong>iros já foi sondado por diferentes<<strong>br</strong> />
correntes políticas. Durante a campa-<<strong>br</strong> />
nha presi<strong>de</strong>ncial, Brizola queria seu<<strong>br</strong> />
apoio. Não conseguiu. Depois, foi a<<strong>br</strong> />
vez <strong>de</strong> Quércia, <strong>no</strong> primeiro tur<strong>no</strong> das<<strong>br</strong> />
eleições <strong>para</strong> governador. Me<strong>de</strong>iros<<strong>br</strong> />
não disse que aceitava entrar na polí-<<strong>br</strong> />
tica mas também não evitou os conta-<<strong>br</strong> />
tos. "Eu terei remorso se acabar usan-<<strong>br</strong> />
do o Sindicato como trampolim políti-<<strong>br</strong> />
co", prevê Me<strong>de</strong>iros. "Ainda não es-<<strong>br</strong> />
tou pre<strong>para</strong>do <strong>para</strong> <strong>de</strong>ixar o Sindica-<<strong>br</strong> />
to", completa. O máximo que fez foi<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>clarar seu voto a Luís Antônio<<strong>br</strong> />
Fleury, o cand<strong>ida</strong>to <strong>de</strong> Quércia, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
primeiro tur<strong>no</strong>. "Vou repetir o voto<<strong>br</strong> />
mas não vou fazer campanha", afir-<<strong>br</strong> />
mou.<<strong>br</strong> />
A enxurrada <strong>de</strong> votos nulos e <strong>br</strong>an-<<strong>br</strong> />
cos <strong>de</strong>ssa eleição aconteceu porque<<strong>br</strong> />
"os políticos estão extremamente<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>smoralizados", avalia Me<strong>de</strong>iros, <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
fensor da não o<strong>br</strong>igatorieda<strong>de</strong> do voto<<strong>br</strong> />
e pela eleição distrital. Depois que so-<<strong>br</strong> />
freu o pré-infarto, Me<strong>de</strong>iros teve <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fumar, beber e agora se<<strong>br</strong> />
submete a um regime forçado, <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
recu<strong>para</strong>r-se. "Eu tinha um dia a dia<<strong>br</strong> />
muito agitado. Não sou homem <strong>de</strong> fi-<<strong>br</strong> />
car sentado. Cu<strong>ida</strong>va do Sindicato,<<strong>br</strong> />
dos movimentos dos trabalhadores e ia<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> Brasília, quando tinha interesse<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>les a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r", conta o sindicalis-<<strong>br</strong> />
ta.<<strong>br</strong> />
Hoje ele é o<strong>br</strong>igado a ficar em ca-<<strong>br</strong> />
sa. Administra o Sindicato que tem<<strong>br</strong> />
700 funcionários, trabalhando na se<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
e em outras sete un<strong>ida</strong><strong>de</strong>s espalhadas<<strong>br</strong> />
por São Paulo praticamente por tele-<<strong>br</strong> />
fone. "Eu tenho uma equipe <strong>de</strong> com-<<strong>br</strong> />
panheiros e assessores.<<strong>br</strong> />
Gazeta Uercant» - 17.10.90<<strong>br</strong> />
MEDEIROS CONSEGUE DO GOVERNO<<strong>br</strong> />
CrSSJ MILHÕES<<strong>br</strong> />
PARA FORMAR DIRIGENTES<<strong>br</strong> />
Ricardo Balthazar<<strong>br</strong> />
O gover<strong>no</strong> do Estado <strong>de</strong> São Paulo<<strong>br</strong> />
está ajudando a montar a estrutura do<<strong>br</strong> />
Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Estudos Sindi-<<strong>br</strong> />
cais (Ibes), ent<strong>ida</strong><strong>de</strong> dirig<strong>ida</strong> pelo pre-<<strong>br</strong> />
si<strong>de</strong>nte do Sindicato dos Metalúrgicos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> São Paulo, Luiz Antônio <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>i-<<strong>br</strong> />
ros, e <strong>volta</strong>da <strong>para</strong> a formação <strong>de</strong> sin-<<strong>br</strong> />
dicalistas.<<strong>br</strong> />
Um convênio com a Secretaria do<<strong>br</strong> />
Trabalho e da Promoção Social, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
valor <strong>de</strong> Cr$ 8,34 milhões, vai sus-<<strong>br</strong> />
tentar a implantação do Ibes até julho<<strong>br</strong> />
do a<strong>no</strong> que vem.<<strong>br</strong> />
O convênio foi assinado <strong>no</strong> dia 12<<strong>br</strong> />
do mês passado e seu valor foi fixado<<strong>br</strong> />
em 173 mil BTN, em julho, quando<<strong>br</strong> />
Me<strong>de</strong>iros pediu formalmente ao go-<<strong>br</strong> />
ver<strong>no</strong> Crestes Quércia recursos <strong>para</strong> o<<strong>br</strong> />
Ibes.<<strong>br</strong> />
No último dia 25, meta<strong>de</strong> do di-<<strong>br</strong> />
nheiro foi liberado: Cr$ 4,17 milhões,<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> co<strong>br</strong>ir gastos com a confecção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
apostilhas, material <strong>de</strong> apoio aos se-<<strong>br</strong> />
minários <strong>de</strong> formação sindical e pro-<<strong>br</strong> />
dução <strong>de</strong> <strong>filme</strong>s e ví<strong>de</strong>os <strong>para</strong> os cur-<<strong>br</strong> />
sos do Ibes.<<strong>br</strong> />
Me<strong>de</strong>iros criou o Ibes em setem<strong>br</strong>o<<strong>br</strong> />
do a<strong>no</strong> passado, <strong>de</strong>ntro do projeto que<<strong>br</strong> />
vem <strong>de</strong>senvolvendo <strong>para</strong> ampliar sua<<strong>br</strong> />
influência <strong>no</strong> movimento sindical. Es-<<strong>br</strong> />
se projeto começa a se consol<strong>ida</strong>r ago-<<strong>br</strong> />
ra com as articulações em tomo da<<strong>br</strong> />
criação <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va central sindical<<strong>br</strong> />
que explore os espaços não ocupados<<strong>br</strong> />
pela Central Única dos Trabalhadores<<strong>br</strong> />
(CUT), rival <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, e não apro-<<strong>br</strong> />
veitados pela Confe<strong>de</strong>ração Geral dos<<strong>br</strong> />
Trabalhadores (CGT).<<strong>br</strong> />
O primeiro pedido <strong>de</strong> recursos fi-<<strong>br</strong> />
nanceiros <strong>para</strong> a implantação do Ibes<<strong>br</strong> />
foi feito por Me<strong>de</strong>iros <strong>no</strong> dia 20 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>il <strong>de</strong>ste a<strong>no</strong>, numa carta ao gover-<<strong>br</strong> />
nador paulista. O processo, entretanto,<<strong>br</strong> />
só começou efetivamente a tramitar<<strong>br</strong> />
em julho, quando a antiga Secretaria<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Relações do Trabalho, que havia<<strong>br</strong> />
sido extinta pela reforma administrati-<<strong>br</strong> />
va feita por Quércia <strong>no</strong> a<strong>no</strong> passado,<<strong>br</strong> />
voltou a existir, incorporada à <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Promoção Social.<<strong>br</strong> />
CINQÜENTA SEMINÁRIOS<<strong>br</strong> />
A proposta <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros passou<<strong>br</strong> />
pelo secretário Joaquim Bevilacqua e<<strong>br</strong> />
por Quércia sem sofrer reparos. Ele<<strong>br</strong> />
pediu recursos <strong>para</strong> apostilas, aluguel<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> auditórios, material <strong>de</strong> apoio, pro-<<strong>br</strong> />
dução <strong>de</strong> <strong>filme</strong>s e ví<strong>de</strong>os e <strong>para</strong> ho<strong>no</strong>-<<strong>br</strong> />
rários <strong>de</strong> três instrutores e também pa-<<strong>br</strong> />
ra elaboração <strong>de</strong> pesquisas. Os 173<<strong>br</strong> />
mil BTN (Cr$ 11,5 milhões hoje) fi-<<strong>br</strong> />
xados por Me<strong>de</strong>iros como custo do<<strong>br</strong> />
projeto foram aceitos. No convênio fi-<<strong>br</strong> />
cou acertado que cada cursos terá 18<<strong>br</strong> />
horas <strong>de</strong> carga ho<strong>no</strong>rária, em um fim<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> semana. Serão 50 seminários, cada<<strong>br</strong> />
um <strong>para</strong> 30 pessoas.<<strong>br</strong> />
Quércia <strong>de</strong>u sua autorização <strong>no</strong> dia<<strong>br</strong> />
31 <strong>de</strong> agosto. Antes, <strong>no</strong> dia 8, tinha<<strong>br</strong> />
assinado <strong>de</strong>creto a<strong>br</strong>indo crédito su-<<strong>br</strong> />
plementar ao orçamento da secretaria<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> co<strong>br</strong>ir Cr$ 8,3 milhões <strong>de</strong> <strong>de</strong>spe-<<strong>br</strong> />
sas do convênio. De acordo com as<<strong>br</strong> />
regras do convênio, a secretaria <strong>de</strong>ve<<strong>br</strong> />
fiscalizar a utilização do dinheiro pelo<<strong>br</strong> />
Ibes, que, num prazo <strong>de</strong> trinta dias,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ve encaminhar relatórios so<strong>br</strong>e os<<strong>br</strong> />
custos. Até agora nenhum foi realiza-<<strong>br</strong> />
do, informou o secretário-adjunto,<<strong>br</strong> />
Plínio Gustavo Adri Sarti, encarrega-<<strong>br</strong> />
do por Bevilacqua <strong>de</strong>ssa fiscalização.<<strong>br</strong> />
"Em outros tempos, a ação da se-<<strong>br</strong> />
cretaria nesse campo era muito pater-<<strong>br</strong> />
nalista", disse Sarti. "Chegamos a dar<<strong>br</strong> />
cursos <strong>de</strong> oratória, o que não tem sen-<<strong>br</strong> />
tido. Agota estamos canalizando re-<<strong>br</strong> />
cursos <strong>para</strong> setores mais mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s, é<<strong>br</strong> />
uma forma melhor <strong>de</strong> o Estado prestar<<strong>br</strong> />
serviço nessa área." Em seu pedido <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
autorização ao governador, o secretá-<<strong>br</strong> />
rio Bevilacqua argumentou que o<<strong>br</strong> />
convênio estimularia "a <strong>org</strong>anização<<strong>br</strong> />
dos trabalhadores em sintonia com<<strong>br</strong> />
a intenção do governador" e seria<<strong>br</strong> />
uma "conjugação <strong>de</strong> esforços".<<strong>br</strong> />
OUTROS PEDIDOS<<strong>br</strong> />
O Departamento Intersindical <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Estudos e Pesquisas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e dos<<strong>br</strong> />
ambientes <strong>de</strong> Trabalho (Diesat) tam-<<strong>br</strong> />
bém procurou a secretaria em busca<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> recursos <strong>para</strong> seus projetos, mas<<strong>br</strong> />
ainda não teve resposta. O mesmo foi<<strong>br</strong> />
feito pela Oboré Editorial Ltda., em-<<strong>br</strong> />
presa que presta serviço <strong>de</strong> assessoria<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> sindicatos e que há quatro a<strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
editou, um conjunto com o gover<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
do Estado, um catálogo das ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
sindicais paulistas. A Oboré, quer<<strong>br</strong> />
atualizar o catálogo, juntando ainda<<strong>br</strong> />
informações so<strong>br</strong>e a imprensa sindi-<<strong>br</strong> />
cal.
Movimento <strong>de</strong> Oposição Sindical<<strong>br</strong> />
Metalúrgica <strong>de</strong> Sáo Paulo - Outu<strong>br</strong>o/90<<strong>br</strong> />
AOS COMPANHEIROS MILITANTES<<strong>br</strong> />
DO MOVIMENTO DE OPOSIÇÃO<<strong>br</strong> />
METALÚRGICA DE SÃO PAULO<<strong>br</strong> />
Luiz Antônio Me<strong>de</strong>iros está assentando politicamente<<strong>br</strong> />
num sindicato metalúrgico po<strong>de</strong>roso, cuja base chega a<<strong>br</strong> />
370 mil trabalhadores. É o Sindicato dos Metalúrgicos<<strong>br</strong> />
do município <strong>de</strong> São Paulo. Sua projeção nacional se<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ve a essa base metalúrgica. Nesta categoria, pela sua<<strong>br</strong> />
importância estratégica, vem se <strong>org</strong>anizando, a mais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
25 a<strong>no</strong>s, oposições sindicais que atravessaram todo o<<strong>br</strong> />
período da ditadua militar lutando contra o peleguismo,<<strong>br</strong> />
do qual Me<strong>de</strong>iros é o mais recente representante. Para a<<strong>br</strong> />
categoria dos metalúrgicos da Capital se <strong>volta</strong>m os olhos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> todo o movimento sindical nacional, se <strong>volta</strong>m os<<strong>br</strong> />
olhos e armas dos patrões e gover<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
Companheiros,<<strong>br</strong> />
Já passaram cinco meses <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a eleição sindical. O<<strong>br</strong> />
quadro com que <strong>no</strong>s <strong>de</strong><strong>para</strong>mos hoje não po<strong>de</strong>ria ser mais<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>solador: o MOSMSP, enquanto <strong>org</strong>anização e proposta<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> luta sem tréguas contra os patrões e os pelegos, não<<strong>br</strong> />
tem existido na prática. Vemos ocorrer, e <strong>de</strong> modo muito<<strong>br</strong> />
mais grave, o que já havia ocorrido após a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1987.<<strong>br</strong> />
Antes mesmo dos resultados das umas ouvíamos com-<<strong>br</strong> />
panheiros afirmarem que o MOSMSP "enquanto estrutura<<strong>br</strong> />
<strong>org</strong>ânica" já não teria mais sentido. Após o térmi<strong>no</strong> da<<strong>br</strong> />
eleição também se falava <strong>de</strong> um "<strong>de</strong>smonte" da estrutura<<strong>br</strong> />
do MOSMSP.<<strong>br</strong> />
Todas essas conversas eram, <strong>para</strong> nós, apenas suposi-<<strong>br</strong> />
ções ou propostas que iriam ser discut<strong>ida</strong>s por todos nós.<<strong>br</strong> />
Por isso estranhamos muito quando constatamos que, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
fato, iniciara-se um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smobilização do<<strong>br</strong> />
MOSMSP e um "<strong>de</strong>smonte" <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua estrutura.<<strong>br</strong> />
Tudo isso sem que tivesse havido qualquer consulta ou<<strong>br</strong> />
discussão. Não percebemos nenhuma vonta<strong>de</strong> política por<<strong>br</strong> />
parte da coor<strong>de</strong>nação em a<strong>br</strong>ir o <strong>de</strong>bate junto ao coletivo,<<strong>br</strong> />
nem mesmo <strong>para</strong> avaliar o resultado eleitora, embora vá-<<strong>br</strong> />
rios companheiros tivessem <strong>de</strong>monstrado esse interesse,<<strong>br</strong> />
apresentando valiosas contribuições por escrito.<<strong>br</strong> />
A ultima tentativa <strong>de</strong> realizar uma discussão <strong>de</strong> avalia-<<strong>br</strong> />
ção ocorreu em maio. Por proposta <strong>no</strong>ssa, foi marcada<<strong>br</strong> />
uma reunião <strong>de</strong> avaliação <strong>para</strong> o dia 19 <strong>de</strong> maio, na se<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
da CUT Regional. Essa reunião não ocorreu. Estivemos<<strong>br</strong> />
lá <strong>para</strong> simplesmente <strong>no</strong>s <strong>de</strong><strong>para</strong>rmos com a se<strong>de</strong> fechada,<<strong>br</strong> />
sem a presença sequer <strong>de</strong> um único mem<strong>br</strong>o da coor<strong>de</strong>na-<<strong>br</strong> />
ção e sem que houvesse um bilhete ou recado que <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />
qualquer esclarecimento.<<strong>br</strong> />
Poucas semanas <strong>de</strong>pois, nós encaminhamos, em mãos,<<strong>br</strong> />
aos mem<strong>br</strong>os da coor<strong>de</strong>nação uma carta na qual pedíamos<<strong>br</strong> />
uma explicação so<strong>br</strong>e o ocorrido, o qual consi<strong>de</strong>rávamos<<strong>br</strong> />
como sendo, <strong>no</strong> mínimo, <strong>de</strong>srespeitoso. Solicitávamos<<strong>br</strong> />
então que a resposta <strong>no</strong>s fosse dada num prazo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<<strong>br</strong> />
dias. Lamentavelmente, até o presente momento o coleti-<<strong>br</strong> />
vo dos militantes do setor Leste n do MOSMSP não re-<<strong>br</strong> />
cebeu qualquer satisfação.<<strong>br</strong> />
Para nós esses fatos são mais que preocupantes. Não<<strong>br</strong> />
temos recebido mais nenhuma comunicação por parte da<<strong>br</strong> />
Nesta edição estamos publicando uma carta aberta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
autoria do Setor Leste II do Movimento <strong>de</strong> Oposição<<strong>br</strong> />
Sindical Metalúrgica <strong>de</strong> São Paulo (MOSMSP) on<strong>de</strong> é<<strong>br</strong> />
colocado o ponto <strong>de</strong> vista dos companheiros so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />
situação do MOSMSP, bem como várias questões <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
serem <strong>de</strong>bat<strong>ida</strong>s. listamos disponíveis <strong>para</strong> publicarmos<<strong>br</strong> />
outros pontos <strong>de</strong> vista so<strong>br</strong>e o mesmo assuntos nesta<<strong>br</strong> />
página, da mesma forma que já publicamos várias<<strong>br</strong> />
avaliações so<strong>br</strong>e as eleições <strong>para</strong> o sindicato da<<strong>br</strong> />
categoria metalúrgica realizadas neste a<strong>no</strong>. Também<<strong>br</strong> />
temos <strong>org</strong>anizado um dossiê <strong>de</strong>stas últimas eleições.<<strong>br</strong> />
coor<strong>de</strong>nação. Não vimos mais nenhum material próprio<<strong>br</strong> />
do MOSMSP dirigindo-se aos metalúrgicos <strong>de</strong> São Paulo.<<strong>br</strong> />
Tudo isso num momento político <strong>de</strong>licado por que pas-<<strong>br</strong> />
sa o país. Momento em que se faz sentir como nunca a<<strong>br</strong> />
sanha do capital nacional e estrangeiro. Contra os traba-<<strong>br</strong> />
lhadores. O gover<strong>no</strong> Collor tem imposto o pior arrocho<<strong>br</strong> />
salarial dos últimos tempos, tem sucateado parte do par-<<strong>br</strong> />
que industrial do país, mergulhou o país numa recessão,<<strong>br</strong> />
aprofunda o entreguismo, gera <strong>de</strong>missões em massa. Os<<strong>br</strong> />
trabalhadores, por seu lado, têm tentado dar uma resposta<<strong>br</strong> />
a esses ataques <strong>de</strong> suas lutas. Simultaneamente, na <strong>no</strong>ssa<<strong>br</strong> />
base sindical, a direção "<strong>de</strong> resultados" do <strong>no</strong>sso sindi-<<strong>br</strong> />
cato dividiu a <strong>no</strong>ssa categoria nas lutas reivindicativas,<<strong>br</strong> />
fá<strong>br</strong>ica por fá<strong>br</strong>ica, impedindo a luta unificada <strong>de</strong> toda a<<strong>br</strong> />
categoria. Enquanto isso constatamos a ausência do<<strong>br</strong> />
MOSMSP nessas lutas, dando respostas ao movimento,<<strong>br</strong> />
buscando forjar a un<strong>ida</strong><strong>de</strong> das lutas, construindo-se como<<strong>br</strong> />
referência concreta junto à categoria.<<strong>br</strong> />
O que está acontecendo?, perguntamos.<<strong>br</strong> />
Sabemos que as dificulda<strong>de</strong>s <strong>para</strong> se levar esse traba-<<strong>br</strong> />
lho são gran<strong>de</strong>s. Sabemos que, contando com mínimos<<strong>br</strong> />
recursos e militância pouco numerosa, combater o pele-<<strong>br</strong> />
guismo e seu a<strong>para</strong>to gigantesco é uma tarefa árdua. Mas<<strong>br</strong> />
sabemos também que a <strong>no</strong>ssa força resi<strong>de</strong> na <strong>no</strong>ssa políti-<<strong>br</strong> />
ca, na experiência <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 20 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> luta, da qual o<<strong>br</strong> />
MOSMSP passou a ser <strong>de</strong>positário político do pla<strong>no</strong> na-<<strong>br</strong> />
cional, uma vez que "MOSMSP" significa unia a<strong>de</strong>qua-<<strong>br</strong> />
ção <strong>de</strong> "MOSM" <strong>para</strong> a categoria dos metalúrgicos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
São Paulo. Mas o que tem acontecido <strong>no</strong>s últimos tempos<<strong>br</strong> />
choca-se com esse legado político, contradiz a política<<strong>br</strong> />
que o MOSMSP sustentou durante a<strong>no</strong>s.<<strong>br</strong> />
Não se trata aqui <strong>de</strong> simples apego à tradição, embora<<strong>br</strong> />
qualquer tradição revolucionária e classista <strong>de</strong>va ser sem-<<strong>br</strong> />
pre cultivada e mant<strong>ida</strong>. O próprio legado que o MOS-<<strong>br</strong> />
MSP herdou não é algo que possa ser discutido e modifi-<<strong>br</strong> />
cado. Pelo contrário, cremos que uma reavaliação crítica<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sse legado, <strong>para</strong> que possa ser rea<strong>de</strong>quado à <strong>no</strong>va<<strong>br</strong> />
conjuntura política e sindical, é uma tarefa imprescindí-<<strong>br</strong> />
vel. Mas por mais que as táticas mu<strong>de</strong>m, e elas têm que<<strong>br</strong> />
mudar sempre que a real<strong>ida</strong><strong>de</strong> exigir, os princípios e os<<strong>br</strong> />
fundamentos <strong>de</strong> uma política não mudam e não <strong>de</strong>vem<<strong>br</strong> />
mudar, a não ser que consi<strong>de</strong>re que estavam errados. ^<<strong>br</strong> />
\
Dentro <strong>de</strong>sse espírito consi<strong>de</strong>ramos que os princípios<<strong>br</strong> />
políticos que estão presentes nas resoluções dos Congres-<<strong>br</strong> />
sos e dos seminários da Oposição permanecem ainda vá-<<strong>br</strong> />
lidos e são ainda hoje uma referência indispensável <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
a <strong>no</strong>ssa atuação. Entre eles po<strong>de</strong>mos citar o que se segue:<<strong>br</strong> />
"(...) o objetivo principal da OS é a formação da cons-<<strong>br</strong> />
ciência operária in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e <strong>org</strong>anizada e a sua tarefa<<strong>br</strong> />
mais importante na luta operária é :antes, durante e <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
pois da tomada dos sindicatos das mãos dos pelegos, or-<<strong>br</strong> />
ganizar os trabalhadores nas fá<strong>br</strong>icas." (Resoluções do 1<<strong>br</strong> />
Congresso).<<strong>br</strong> />
Eis aí, curto e grosso, uma síntese da razão <strong>de</strong> ser da<<strong>br</strong> />
oposição. Aí está expresso, <strong>de</strong> modo claro e cristali<strong>no</strong>, o<<strong>br</strong> />
centro <strong>de</strong> grav<strong>ida</strong><strong>de</strong> da <strong>no</strong>ssa militância: a <strong>org</strong>anização na<<strong>br</strong> />
base, nas fá<strong>br</strong>icas, a partir do local <strong>de</strong> trabalho. Por <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
fen<strong>de</strong>rmos esse princípio quantas vezes não <strong>no</strong>s chama-<<strong>br</strong> />
ram <strong>de</strong> "basistas"! Sim, chamavam-<strong>no</strong>s <strong>de</strong> "basistas",<<strong>br</strong> />
mas nunca <strong>de</strong> "cupulistas", aparelhistas ou "conchavis-<<strong>br</strong> />
tas". Porque sempre <strong>no</strong>s pautamos pelos fundamentos da<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocracia operária. Nunca <strong>no</strong>s propusemos à conquista<<strong>br</strong> />
do a<strong>para</strong>to do sindicato como o objetivo mais importante<<strong>br</strong> />
ou com um fim em si. Nossa perspectiva sempre foi a <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
um sindicalismo classista, alternativo ao sindicato corpo-<<strong>br</strong> />
rativista <strong>de</strong> estrutura fascista. E, portanto, <strong>de</strong>rrotar o pe-<<strong>br</strong> />
lego na eleição sindical era muito mais que o produto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
uma conjuntura favorável. Teria que ser o fruto <strong>de</strong> um re-<<strong>br</strong> />
conhecimento político por parte da categoria, um reco-<<strong>br</strong> />
nhecimento conquistado com a <strong>no</strong>ssa participação coti-<<strong>br</strong> />
diana nas lutas, com o estabelecimento <strong>de</strong> um vínculo or-<<strong>br</strong> />
gânico com a classe.<<strong>br</strong> />
Com essa perspectiva o "ganhar, custe o que custar"<<strong>br</strong> />
era uma política estranha <strong>para</strong> o MOSMSP. Em 1984 e<<strong>br</strong> />
1987, por ocasião do processo <strong>de</strong> formação da chapa, nós<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s distinguimos pela <strong>no</strong>ssa firmeza <strong>de</strong> princípios. Nos<<strong>br</strong> />
recusamos a fazer alianças com propósitos simplesmente<<strong>br</strong> />
eleitoreiros. Para nós a negação do peleguismo sempre<<strong>br</strong> />
significou afirmar simultaneamente uma política classista<<strong>br</strong> />
alternativa. Unir forças, sim, mas <strong>de</strong>ntro dos parâmetros<<strong>br</strong> />
da <strong>de</strong>mocracia operária e dos interesses <strong>de</strong> classe dos tra-<<strong>br</strong> />
balhadores.<<strong>br</strong> />
Na ultima eleição o que aconteceu foi diferente. A co-<<strong>br</strong> />
or<strong>de</strong>nação preocupou-se basicamente em apresentar o<<strong>br</strong> />
MOSMSP como o "campeão da un<strong>ida</strong><strong>de</strong>". Mas não se<<strong>br</strong> />
preocupou em discutir em cima do quê construir essa<<strong>br</strong> />
un<strong>ida</strong><strong>de</strong>, nem o seu conteúdo. Não po<strong>de</strong>mos ser sectários<<strong>br</strong> />
e estreitos, mas tampouco basta envergar a faixa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
"campões da un<strong>ida</strong><strong>de</strong>". Há que se discutir os parâmetros<<strong>br</strong> />
e os critérios políticos <strong>de</strong>ssa un<strong>ida</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Mas a última eleição representou, principalmente, um<<strong>br</strong> />
retrocesso do MOSMSP em relação ao seu objetivo pri-<<strong>br</strong> />
mordial. Já após a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> 87 a <strong>no</strong>ssa presença junto à<<strong>br</strong> />
categoria havia se tomado eventual e débil. O <strong>no</strong>sso<<strong>br</strong> />
acúmulo, quando iniciamos este último processo eleitoral.<<strong>br</strong> />
MANIFESTO<<strong>br</strong> />
COMUNISTA<<strong>br</strong> />
Marx-Engets<<strong>br</strong> />
* ^r^<<strong>br</strong> />
Em<<strong>br</strong> />
dSaUsmo ^<<strong>br</strong> />
já era peque<strong>no</strong>. E o que prevaleceu, nesta última eleição,<<strong>br</strong> />
foi a disputa pela disputa, a conquista do a<strong>para</strong>to como<<strong>br</strong> />
objetivo maior e final<strong>ida</strong><strong>de</strong> em si. E expressão disso é<<strong>br</strong> />
que em nenhum momento esteve <strong>no</strong> centro da preocupa-<<strong>br</strong> />
ção a busca <strong>de</strong> um saldo político e <strong>org</strong>anizativo da cate-<<strong>br</strong> />
goria durante o processo eleitoral, coerente com os <strong>no</strong>s-<<strong>br</strong> />
sos princípios.<<strong>br</strong> />
Mas, infelizmente, os problemas são mais graves.<<strong>br</strong> />
Na verda<strong>de</strong>, se ainda existe o MOSMSP, <strong>para</strong> nós a<<strong>br</strong> />
sua situação é acéfala ou seja, não tem direção política. A<<strong>br</strong> />
incoerência política se dá quando a direção que chamou o<<strong>br</strong> />
processo eleitoral se omitiu politicamente, permitindo que<<strong>br</strong> />
a situação chegasse a esse nível, sem nehuma consulta à<<strong>br</strong> />
militância.<<strong>br</strong> />
A militância do MOSMSP tem uma trajetória <strong>de</strong> luta<<strong>br</strong> />
que sempre foi marcada pela combativ<strong>ida</strong><strong>de</strong> e pela coe-<<strong>br</strong> />
rência aos princípios. E cremos que, <strong>no</strong> atual estágio em<<strong>br</strong> />
que encontra o MOSMSP, é essa militância que <strong>de</strong>ve dis-<<strong>br</strong> />
cutir e tomar uma posição diante <strong>de</strong> tudo o que está<<strong>br</strong> />
acontecendo. Por isso <strong>no</strong>s dirijimos ao conjunto da mili-<<strong>br</strong> />
tância, <strong>para</strong> que esse <strong>de</strong>bate seja iniciado. Quando <strong>de</strong>ci-<<strong>br</strong> />
dimos substituir "Oposição Sindical Metalúrgica <strong>de</strong> São<<strong>br</strong> />
Paulo" por "MOSMSP", o salto político pretendido seria<<strong>br</strong> />
bem maior, porque pretendíamos um Movimento <strong>de</strong> Opo-<<strong>br</strong> />
sição Sindical a nível nacional. Para isso houve o <strong>de</strong>bate<<strong>br</strong> />
coletivo através dos fóruns existentes. O que não po<strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
mos concordar é recuar politicamente <strong>de</strong>ssa proposta sem<<strong>br</strong> />
o necessário <strong>de</strong>bate político com o conjunto da <strong>no</strong>ssa mi-<<strong>br</strong> />
litância. Mais ainda, sem que se dê a mínima satisfação à<<strong>br</strong> />
opinião pública do <strong>no</strong>sso interesse político.<<strong>br</strong> />
Companheiros, um legado político <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 20 a<strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
não po<strong>de</strong> ser simplesmente abolido por <strong>de</strong>creto. Uma<<strong>br</strong> />
trajetória histórica <strong>de</strong> luta operária, marcada inclusive<<strong>br</strong> />
pelo sangue <strong>de</strong> alguns dos <strong>no</strong>ssos camaradas, não po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ser simplesmente esquec<strong>ida</strong> ou posta <strong>no</strong>s arquivos <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />
passado dado como morto. Ser <strong>de</strong>positário político <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
uma proposta operária numa perspectiva classista exige,<<strong>br</strong> />
sem dúv<strong>ida</strong>, <strong>de</strong> todos nós muita responsabil<strong>ida</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
É urgente que se <strong>de</strong>flagre um <strong>de</strong>bate aberto, franco<<strong>br</strong> />
e leal. E preciso que encaremos os fatos e busquemos a<<strong>br</strong> />
verda<strong>de</strong>, mesmo que não seja a verda<strong>de</strong> plena (e ela nun-<<strong>br</strong> />
ca o é totalmente). "A verda<strong>de</strong> é sempre revolucionária",<<strong>br</strong> />
como afirmpu o revolucionário italia<strong>no</strong> Gramsci. Deve-<<strong>br</strong> />
mos buscá-la, sempre, mesmo que isso seja, algumas ve-<<strong>br</strong> />
zes, doloroso.<<strong>br</strong> />
Enquanto coletivo do setor Leste II do MOSMSP, es-<<strong>br</strong> />
tamos abertos ao <strong>de</strong>bate e dispostos a continuar dando a<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>ssa contribuição política. E esta carta aberta é um pri-<<strong>br</strong> />
meiro estímulo visando contribuir com esse processo.<<strong>br</strong> />
NOSSAS REUNIÕES OCORREM TODAS AS<<strong>br</strong> />
SEGUNDAS FEIRAS ÀS 19 HORAS<<strong>br</strong> />
Local: CUT Leste II - Av. Celso Garcia, 4323 - Tatuapé<<strong>br</strong> />
(próximo à Biblioteca Municipal do Tatuapé)<<strong>br</strong> />
Coleção "Livro <strong>de</strong> Bolso"<<strong>br</strong> />
2 BTNs cada ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>
A Luta por Moradia<<strong>br</strong> />
Analisando a atuação dos movimentos <strong>de</strong> luta por mo-<<strong>br</strong> />
radia em São Paulo <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, em particular o<<strong>br</strong> />
movimento sem terra da Leste 1 do qual participamos,<<strong>br</strong> />
percebemos que até meados <strong>de</strong> 1988, as ocupações <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
terra tiveram um lugar privilegiado entre as formas <strong>de</strong> lu-<<strong>br</strong> />
ta. Só na Leste 1 houve em 1988 duas gran<strong>de</strong>s ocupa-<<strong>br</strong> />
ções - na fazenda da Juta e <strong>no</strong> Jardim Colorado. Esse<<strong>br</strong> />
foi um período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> crescimento dos movimentos,<<strong>br</strong> />
tanto a nível quantitativo como qualitativo, <strong>de</strong>vido à ex-<<strong>br</strong> />
periência e amadurecimento que essas lutas favorecem.<<strong>br</strong> />
Em 1989, com o PT assumindo a prefeitura <strong>de</strong> São<<strong>br</strong> />
Paulo, houve uma mudança do rumo <strong>no</strong> encaminhamen-<<strong>br</strong> />
to das lutas. Pela gran<strong>de</strong> expectativa criada em tor<strong>no</strong> da<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>va administração, os movimentos canalizaram eis ex-<<strong>br</strong> />
peranças, negociações e formas <strong>de</strong> pressão quase que<<strong>br</strong> />
exclusivamente em tomo da prefeitura Ao mesmo tempo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>u-se uma trégua ao gover<strong>no</strong> do Estado, em parte em<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sse redirecionamento em tomo da prefei-<<strong>br</strong> />
tura, e em parte por orientação consciente <strong>de</strong> alguns se-<<strong>br</strong> />
tores do PT que procuravam evitar atritos maiores com o<<strong>br</strong> />
Estado, <strong>para</strong> não atrapalhar a "convivência pacífica" en-<<strong>br</strong> />
tre município e gover<strong>no</strong> estadual.<<strong>br</strong> />
No <strong>de</strong>correr do a<strong>no</strong>, foram feitas algumas manifesta-<<strong>br</strong> />
ções massivas na secretaria estadual da habitação, na<<strong>br</strong> />
Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral, etc. Porém, a forma <strong>de</strong> luta<<strong>br</strong> />
mais utilizada passou a ser a NEGOCIAÇÃO, da qual<<strong>br</strong> />
participam representantes, li<strong>de</strong>ranças e, principalmente,<<strong>br</strong> />
apoios dos movimentos. Nos bairros, os grupos partici-<<strong>br</strong> />
pam ouvindo, discutindo as informações repassadas por<<strong>br</strong> />
esses representantes e pre<strong>para</strong>ndo as próximas negocia-<<strong>br</strong> />
ções com as administrações Estadual, CEF, as carava-<<strong>br</strong> />
nas <strong>para</strong> Brasília etc. É importante ressaltar que essas<<strong>br</strong> />
negociações só pu<strong>de</strong>ram acontecer como resultado das<<strong>br</strong> />
ocupações ocorr<strong>ida</strong>s na etapa anterior.<<strong>br</strong> />
Além <strong>de</strong>sses aspectos mais localizados em termos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
São Paulo, a nível nacional, os movimentos e partidos,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma maneira geral, se envolveram e canalizaram<<strong>br</strong> />
suas energias e expectativas na elaboração da consti-<<strong>br</strong> />
tuinte, na esperança (ou ilusão) <strong>de</strong> realizar a reforma<<strong>br</strong> />
agrária e urbana via congresso constituinte. E já <strong>no</strong> a<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
passado, a canalização das expectativas se <strong>de</strong>u <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
com as eleições presi<strong>de</strong>nciais.<<strong>br</strong> />
Todos esses fatores explicam o fato <strong>de</strong> não ter havido<<strong>br</strong> />
quase que nenhuma ocupação <strong>de</strong> terras em São Paulo<<strong>br</strong> />
num a<strong>no</strong> politicamente favorável como foi o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1989.<<strong>br</strong> />
Na Leste 1, houve um enfraquecimento da luta pelas<<strong>br</strong> />
áreas da Juta e Colorado e, ao mesmo tempo, um envol-<<strong>br</strong> />
vimento muito gran<strong>de</strong> na negociação e <strong>de</strong>pois <strong>no</strong> início<<strong>br</strong> />
do multirão <strong>no</strong> Jardim São Francisco - área municipal.<<strong>br</strong> />
Como resultado <strong>de</strong>ssa prática, temos, por um lado, um<<strong>br</strong> />
avanço do movimento na med<strong>ida</strong> em que uma vitória<<strong>br</strong> />
concreta (800 famílias construindo efetivamente suas ca-<<strong>br</strong> />
sas <strong>no</strong> Jardim São Francisco) tem uma repercusão posi-<<strong>br</strong> />
tiva a nível da massa, provocando um afluxo gran<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
A LUTA POR MORADIA<<strong>br</strong> />
"A Questão da Morada", é <strong>de</strong> autoria da<<strong>br</strong> />
Associação dos Trabalhadores da Mooca - SP.<<strong>br</strong> />
A primeira parte foi divulgada na Quinzena n ç 103, a se-<<strong>br</strong> />
guir, a segunda e útima parte<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>vas pessoas que começam a participar dos grupos <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
vários bairros. Pa outro lado, <strong>no</strong>ta-se uma certa <strong>de</strong>bili-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong> nesse crescimento, uma vez que as li<strong>de</strong>ranças<<strong>br</strong> />
mais antigas, as pessoas que acumularam experiências<<strong>br</strong> />
nas ocupações e lutas anteriores, encontram-se em qua-<<strong>br</strong> />
se sua total<strong>ida</strong><strong>de</strong> envolv<strong>ida</strong>s apenas <strong>no</strong> mutirão, resul-<<strong>br</strong> />
tando <strong>no</strong> enfraquecimento qualitativo dos diversos gru-<<strong>br</strong> />
pos-<<strong>br</strong> />
De qualquer forma, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um a<strong>no</strong> <strong>de</strong> convivência<<strong>br</strong> />
com a Administração Municipal petista, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> perce-<<strong>br</strong> />
ber concretamente os limites da atuação inerente a essa<<strong>br</strong> />
"máquina" frente ao imenso problema habitacional; <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
pois das "<strong>de</strong>silusões" quanto a constituinte e as eleições<<strong>br</strong> />
presi<strong>de</strong>nciais... os movimentos têm agora a chance <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
entrar numa fase mais realista. Temos a chance <strong>de</strong> re-<<strong>br</strong> />
tomar a consciência <strong>de</strong> que só a luta direta dos explora-<<strong>br</strong> />
dos e oprimidos po<strong>de</strong> resultar, tanto na melhoria das<<strong>br</strong> />
condições <strong>de</strong> v<strong>ida</strong>, salário, moradia etc, como também <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
avanço político da classe trabalhadora, que só assim po-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>rá reorientar suas lutas rumo a construção <strong>de</strong> uma so-<<strong>br</strong> />
cieda<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iramente socialista<<strong>br</strong> />
Propostas <strong>de</strong> atuação<<strong>br</strong> />
1 - Realizar a Reforma Agrária e a Reforma Urbana<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> fato - Todos os movimentos <strong>de</strong> luta por moradia, <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
vem FAZER ACONTECER a reforma agrária e urbana<<strong>br</strong> />
na prática "na marra". Essa <strong>de</strong>ve ser a <strong>no</strong>ssa orientação<<strong>br</strong> />
básica É preciso multiplicar e generalizar as lutas que os<<strong>br</strong> />
companheiros do campo estão levando - ocupar as ter-<<strong>br</strong> />
ras vazias, redistribuir os espaços urba<strong>no</strong>s...As Mudanças<<strong>br</strong> />
nas leis serão conseqüência Além <strong>de</strong> ocupar as terras é<<strong>br</strong> />
necessário ir amadurecendo formas <strong>de</strong> resistência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
auto-<strong>de</strong>fesa frente aos esquemas <strong>de</strong> repressão. Em ge-<<strong>br</strong> />
ral, quando fazemos uma ocupação já se parte do princí-<<strong>br</strong> />
pio <strong>de</strong> que se ocupa só <strong>para</strong> negociar e não <strong>para</strong> ficar.<<strong>br</strong> />
Em São Paulo, neste a<strong>no</strong>, <strong>de</strong>vemos concentrar todos<<strong>br</strong> />
os esforços na luta pelas 23 áreas <strong>de</strong>sapropriadas (ou<<strong>br</strong> />
em processo) pelo gover<strong>no</strong> do Estado já como resultado<<strong>br</strong> />
das ocupações dos a<strong>no</strong>s anteriores. Na Leste 1, temos a<<strong>br</strong> />
Juta e o Colorado. Isso tem que ser feito antes das elei-<<strong>br</strong> />
ções <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o. Na med<strong>ida</strong> do possível realizar ocupa-<<strong>br</strong> />
ções simultâneas nessas áreas em todas as regiões.<<strong>br</strong> />
As negociações com os diversos órgãos (CEF, etc) são<<strong>br</strong> />
importantes, mas não <strong>de</strong>vem substituir, nem amarrar as<<strong>br</strong> />
lutas diretas das centenas <strong>de</strong> famílias que participam do<<strong>br</strong> />
movimento.<<strong>br</strong> />
2 - Cortiços, quintais, pensões: Lutar pela Moradia<<strong>br</strong> />
nas áreas centrais - Na Moóca o movimento <strong>de</strong> luta por<<strong>br</strong> />
moradia se constitui basicamente <strong>de</strong> moradores <strong>de</strong> habi-<<strong>br</strong> />
tações coletivas, aqui chamadas <strong>de</strong> quintais. Apesar da<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>bil<strong>ida</strong><strong>de</strong> e falta <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong> um movimento mais<<strong>br</strong> />
geral <strong>de</strong> cortiços a nível <strong>de</strong> São Paulo, mais baseados na<<strong>br</strong> />
luta <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 10 a<strong>no</strong>s, e também nas discussões con-<<strong>br</strong> />
juntas com os bairros vizinhos como Brás, Belém, apre-<<strong>br</strong> />
sentamos algumas propostas: ^
• Nossa proposta básica é a <strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve haver uma<<strong>br</strong> />
política específica <strong>de</strong> intervenção <strong>no</strong>s cortiços. Essa polí-<<strong>br</strong> />
tica <strong>de</strong>ve garantir o direito dos moradores em permane-<<strong>br</strong> />
cer morando ) em condições <strong>de</strong>centes - nas regiões on-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> já resi<strong>de</strong>m atualmente. Isto porque nós trabalhadores<<strong>br</strong> />
temos o direito <strong>de</strong> morar <strong>no</strong>s bairros melhor servidos e<<strong>br</strong> />
mais próximos dos locais<strong>de</strong> trabalho. Por isso, náo po-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mos continuar aceitando ser empurrados <strong>para</strong> bairros<<strong>br</strong> />
cada vez mais distantes, como se esta fosse a única al-<<strong>br</strong> />
ternativa possível <strong>de</strong> moradia popular.<<strong>br</strong> />
Ao famoso argumento <strong>de</strong> que a moradia nas áreas<<strong>br</strong> />
próximas ao centro saem muito caras aos cofres públi-<<strong>br</strong> />
cos, é preciso contrapor o fato <strong>de</strong> que nestas regiões, a<<strong>br</strong> />
existência <strong>de</strong> toda re<strong>de</strong> <strong>de</strong> infra-estrutura e serviços, vai<<strong>br</strong> />
dispensar o po<strong>de</strong>r público dos gastos que ele necessita-<<strong>br</strong> />
ria fazer na periferia: asfalto, transporte, água, luz, esgo-<<strong>br</strong> />
to, creches, escolas, hospitais, etc.<<strong>br</strong> />
Para viabilizar a concretização <strong>de</strong>ssas propostas,<<strong>br</strong> />
apontamos três alternativas possíveis <strong>para</strong> a construção<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> peque<strong>no</strong>s conjuntos habitacionais <strong>para</strong> a população<<strong>br</strong> />
moradora das habitações coletivas:<<strong>br</strong> />
a) Desapropriação <strong>de</strong> cortiços, principalmente <strong>no</strong>s ca-<<strong>br</strong> />
sos em que há uma concentração maior (por ex., vários<<strong>br</strong> />
cortiços <strong>no</strong> mesmo quarteirão). E on<strong>de</strong> os moradores es-<<strong>br</strong> />
tão mobilizados.<<strong>br</strong> />
b) Desapropriação <strong>de</strong> prédios, casarões e ferremos<<strong>br</strong> />
particulares vazios.<<strong>br</strong> />
c) Aproveitamento dos terre<strong>no</strong>s públicos sem <strong>de</strong>stina-<<strong>br</strong> />
ção, ainda vazios, que se encotram nessas regiões.<<strong>br</strong> />
Pela experiência mais recente, principalmente <strong>no</strong> Jar-<<strong>br</strong> />
dim São Francisco, achamos importante que os movi-<<strong>br</strong> />
mentos conquistem também a AUTO-GESTÃO dos pro-<<strong>br</strong> />
jetos, ou seja, que os movimentos não se limitem a es-<<strong>br</strong> />
perar que os técnicos govemamentais elaborem, admi-<<strong>br</strong> />
nistrem, construam e entreguem as moradias prontas,<<strong>br</strong> />
mas exigir a participação em todas as fases dos projetos<<strong>br</strong> />
habitacionais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o planejamento até a execução da<<strong>br</strong> />
o<strong>br</strong>a, o gerenciamento do mutirão, etc. Essa participação<<strong>br</strong> />
é importante tanto <strong>para</strong> apressar o andamento dos proje-<<strong>br</strong> />
tos quanto, principalmente, <strong>para</strong> garantir <strong>no</strong>sso papel <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
sujeitos nesses processos <strong>de</strong> conquistas, o amadureci-<<strong>br</strong> />
mento dos movimentos e a criação das condições ne-<<strong>br</strong> />
cessárias <strong>para</strong> a continu<strong>ida</strong><strong>de</strong> da <strong>org</strong>anização.<<strong>br</strong> />
Outra questão importante é avançar na questão da<<strong>br</strong> />
proprieda<strong>de</strong>. As experiências <strong>no</strong>s cortiços da Madre <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Deus, na Moóca e Celso Garcia, <strong>no</strong> Brás, on<strong>de</strong> se discu-<<strong>br</strong> />
te a proprieda<strong>de</strong> coletiva do futuro conjunto habitacional<<strong>br</strong> />
AGEM-4.10.90<<strong>br</strong> />
Conversão da<<strong>br</strong> />
dív<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileira<<strong>br</strong> />
A julgar pelo <strong>de</strong>staque que a gran<strong>de</strong> imprensa<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>u à formação <strong>de</strong> um consórcio <strong>de</strong> 13 gran<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>org</strong>anizações não-govemamentais (ONGs)<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>stinado a gerenciar a conversão <strong>de</strong> parte da<<strong>br</strong> />
div<strong>ida</strong> externa em projetos <strong>de</strong> meio ambiente, o<<strong>br</strong> />
c<strong>ida</strong>dão comum po<strong>de</strong> acreditar que existe plena<<strong>br</strong> />
concordância so<strong>br</strong>e o assunto entre as ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
do chamado movimento ambientalista.<<strong>br</strong> />
A gran<strong>de</strong> imprensa e os meios <strong>de</strong> comunicação<<strong>br</strong> />
em geral têm dado, progressivamente, me<strong>no</strong>r<<strong>br</strong> />
Trabalhadores<<strong>br</strong> />
por pane <strong>de</strong> uma <strong>org</strong>anização representativa dos mora-<<strong>br</strong> />
dores, serão importantes <strong>para</strong> os próximos projetos.<<strong>br</strong> />
3 - Continuar o processo <strong>de</strong> <strong>org</strong>anização autô<strong>no</strong>ma -<<strong>br</strong> />
Em todo lugar on<strong>de</strong> se consiga alguma conquista, é im-<<strong>br</strong> />
portante constituir imediatamente instrumentos que ga-<<strong>br</strong> />
rantam a continu<strong>ida</strong><strong>de</strong> da <strong>org</strong>anização, como associação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> moradores, trabalhadores, etc. Essa <strong>org</strong>anização au-<<strong>br</strong> />
tô<strong>no</strong>ma será necessária <strong>para</strong> a continu<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>s lutas<<strong>br</strong> />
por transporte, creche, etc, assim como <strong>para</strong> garantir um<<strong>br</strong> />
permanente processo <strong>de</strong> politização e conscientização.<<strong>br</strong> />
4 - Lutar pelo Salário Mínimo Real - Lutar pelo salá-<<strong>br</strong> />
rio significa atacar a causa fundamental do problema da<<strong>br</strong> />
moradia. Permite ao mesmo tempo, enten<strong>de</strong>r e direcio-<<strong>br</strong> />
nar a luta contra o sistema capitalista como um todo,<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>sso objetivo último. Conseguir uma casa mantendo o<<strong>br</strong> />
baixo salário, significa colocar em risco essa própria con-<<strong>br</strong> />
quista. Basta ver o exemplo das muitas pessoas que lu-<<strong>br</strong> />
taram pela casa e <strong>de</strong>pois náo conseguiram segurá-la:<<strong>br</strong> />
pouco tempo <strong>de</strong>pois a ven<strong>de</strong>ram <strong>para</strong> co<strong>br</strong>ir suas neces-<<strong>br</strong> />
s<strong>ida</strong><strong>de</strong>s financeiras.<<strong>br</strong> />
5 - Lutar pelas 40 horas semanais - Não adianta ter<<strong>br</strong> />
uma moradia e não se ter tempo nem <strong>para</strong> cu<strong>ida</strong>r e nem<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> estar nela mais a vonta<strong>de</strong> com a família e amigos.<<strong>br</strong> />
Trabalhando 10 horas por dia, mais 4 horas gastas com o<<strong>br</strong> />
transporte, a maioria dos trabalhadores só fica em casa<<strong>br</strong> />
algumas horas, insuficientes até <strong>para</strong> matar o so<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
6 - Lutar pelo controle do FGTS - Enquanto os tra-<<strong>br</strong> />
balhadores não controlarem o FGTS, ele sempre será<<strong>br</strong> />
usado <strong>para</strong> outros fins e nunca se terá recursos <strong>para</strong> su-<<strong>br</strong> />
prir a carência habitacional <strong>no</strong> país.<<strong>br</strong> />
7 - Unir o movimento operário e popular: A luta é uma<<strong>br</strong> />
só - Por fim, <strong>para</strong> que as lutas por moradia <strong>no</strong> país intei-<<strong>br</strong> />
ro tenham maior eficácia e qual<strong>ida</strong><strong>de</strong>, é importante que o<<strong>br</strong> />
movimento operário assuma essas lutas em conjunto<<strong>br</strong> />
com o movimento popular. Não como "apoio" ou <strong>para</strong> dar<<strong>br</strong> />
uma ajuda", e sim, como uma das tarefas necessárias a<<strong>br</strong> />
emancipação <strong>de</strong> toda <strong>no</strong>ssa classe. A participação do<<strong>br</strong> />
movimento operário teria como resultado principal uma<<strong>br</strong> />
mudança <strong>de</strong> qual<strong>ida</strong><strong>de</strong>, a politização das lutas, clareando<<strong>br</strong> />
a relação entre o salário e moradia e viabilizando a união<<strong>br</strong> />
entre a luta operária e as lutas do movimento popular.<<strong>br</strong> />
São Paulo, agosto <strong>de</strong> 1990.<<strong>br</strong> />
aoerlura às manifestações e posições das milhares<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> pequenas ONGs, ambientalistas ou não.<<strong>br</strong> />
No caso da dív<strong>ida</strong> externa, não se publicou<<strong>br</strong> />
uma única Unha so<strong>br</strong>e a posição aprovada pelas<<strong>br</strong> />
ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s ambientalistas paulistas presentes ao 5 f<<strong>br</strong> />
Congresso Paulista <strong>de</strong> Ecologistas e Pacifistas (ver<<strong>br</strong> />
texto a seguir). Não se divulgou a posição dos<<strong>br</strong> />
coletivos <strong>de</strong> ONGs ambientalistas do Nor<strong>de</strong>ste, da<<strong>br</strong> />
Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santa Catarina (Feec),<<strong>br</strong> />
das Ape<strong>de</strong>mas (Assembléias Permanentes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s em Defesa do Meio Ambiente) do Rio e<<strong>br</strong> />
São Paulo, do Congresso <strong>de</strong> Ecologistas do Rio<<strong>br</strong> />
Gran<strong>de</strong> do Sul. E <strong>de</strong> ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s tradicionalmente<<strong>br</strong> />
compromet<strong>ida</strong>s com a <strong>de</strong>fesa do meio ambiente e<<strong>br</strong> />
melhoria da qual<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> v<strong>ida</strong>, como a SBPC<<strong>br</strong> />
(Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>para</strong> o Progresso da<<strong>br</strong> />
Ciência) e a União das Nações Indígenas. Os<<strong>br</strong> />
recursos <strong>de</strong>stinados aos projetos ambientais (via<<strong>br</strong> />
conversão da dív<strong>ida</strong>) saem dos bolsos da<<strong>br</strong> />
total<strong>ida</strong><strong>de</strong> do povo <strong>br</strong>asileiro. É justo, portanto, que<<strong>br</strong> />
o estabelecimento das prior<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>para</strong> sua<<strong>br</strong> />
aplicação ocorra num fórum <strong>de</strong>mocrático, acessível<<strong>br</strong> />
ENDEREÇO PARA CONTATOS: Rua Canuto Saraiva, 795<<strong>br</strong> />
Bairro Moóca - SP<<strong>br</strong> />
CEP 03113<<strong>br</strong> />
a todas as pessoas e ONGs <strong>de</strong>ste país. Hoje,<<strong>br</strong> />
portanto, é o Parlamento <strong>br</strong>asileiro que <strong>de</strong>ve tomar<<strong>br</strong> />
a frente <strong>de</strong>ste processo, promovendo<<strong>br</strong> />
primeiramente amplo <strong>de</strong>bate so<strong>br</strong>e uma política<<strong>br</strong> />
nacional <strong>de</strong> meio ambiente, em que se <strong>de</strong>finam as<<strong>br</strong> />
fontes <strong>de</strong> recursos, as questões prioritárias e as<<strong>br</strong> />
responsabil<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>para</strong> o gerenciamento dos<<strong>br</strong> />
projetos.<<strong>br</strong> />
Compete aos parlamentares e aos meios <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
comunicação dar voz a todas as ONGs<<strong>br</strong> />
preocupadas com a questão ambiental, <strong>para</strong> que<<strong>br</strong> />
se tomem posições representativas das<<strong>br</strong> />
necess<strong>ida</strong><strong>de</strong>s e anseios da maioria do povo<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileiro.<<strong>br</strong> />
Neste boletim apresentamos diferentes<<strong>br</strong> />
opiniões so<strong>br</strong>e a questão. (Marcos Sorrenti<strong>no</strong>,<<strong>br</strong> />
biólogo, mem<strong>br</strong>o da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Defesa do Meio<<strong>br</strong> />
Ambiente <strong>de</strong> Piracicaba e da coor<strong>de</strong>nação da<<strong>br</strong> />
Assembléia Permanente <strong>de</strong> Ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s em Defesa<<strong>br</strong> />
do Meio Ambiento do Estado <strong>de</strong> São Paulo)
AQEN-4.10.90<<strong>br</strong> />
5« Congresso Paulista <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Ecologistas e Pacifistas<<strong>br</strong> />
A formaçáo <strong>de</strong> um consórcio <strong>de</strong> 13<<strong>br</strong> />
ONGs ambientaistas favoráveis à con-<<strong>br</strong> />
versão da dív<strong>ida</strong> externa em projetos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
me» ambiente precipita um <strong>de</strong>bate que<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ve ser feito por toda a socieda<strong>de</strong> <strong>br</strong>asi-<<strong>br</strong> />
leira.<<strong>br</strong> />
Experiências <strong>de</strong> alguns países endivi-<<strong>br</strong> />
dados apontam como possível esse tipo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> conversão. No entanto, é necessário<<strong>br</strong> />
que alguns pontos sejam esclarecidos pa-<<strong>br</strong> />
ra que as ONGs <strong>br</strong>asileiras aceitem parti-<<strong>br</strong> />
cipação <strong>de</strong>sse processo.<<strong>br</strong> />
Consi<strong>de</strong>ramos necessário, antes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mais nada, que ocorra um amplo <strong>de</strong>bate<<strong>br</strong> />
junto à socieda<strong>de</strong> civil so<strong>br</strong>e a legitim<strong>ida</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
da dív<strong>ida</strong>, se <strong>de</strong>ve ser paga, quando, co-<<strong>br</strong> />
mo, e ainda, se sua conversão em projetos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> meio ambiente po<strong>de</strong> implicar em pro-<<strong>br</strong> />
cessos inflacionários ou em perda <strong>de</strong> au-<<strong>br</strong> />
to<strong>no</strong>mia so<strong>br</strong>e <strong>no</strong>sso território e seus re-<<strong>br</strong> />
cursos naturais <strong>para</strong> empresas financiado-<<strong>br</strong> />
ras da conversão.<<strong>br</strong> />
Segundo Ornar OvaUes, professor da<<strong>br</strong> />
Univers<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Caracas e assessor par-<<strong>br</strong> />
lamentar <strong>para</strong> assuntos <strong>de</strong> meio ambiente<<strong>br</strong> />
do Congresso venezuela<strong>no</strong>, as multinacio-<<strong>br</strong> />
nais da engenharia genética (Shell, Mon-<<strong>br</strong> />
santo, Dupont, Hoechst, Pfizer, Temeco,<<strong>br</strong> />
Celanece Occi<strong>de</strong>ntal Petroleum, Atlantic<<strong>br</strong> />
Richfield e outras) estão extremamente<<strong>br</strong> />
Interessadas em financiar a conversão da<<strong>br</strong> />
dív<strong>ida</strong>.<<strong>br</strong> />
Acreditamos em que a única forma <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s resguardarmos <strong>de</strong>sses possíveis inte-<<strong>br</strong> />
resses das empresas transnacionais seja<<strong>br</strong> />
garantir a transparência dos processos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
negociação da conversão, pois não po<strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
mos permitir <strong>de</strong> maneira alguma que as<<strong>br</strong> />
ONGs <strong>br</strong>asileiras venham a ser consi<strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
AGEN-4.10.90<<strong>br</strong> />
Oportun<strong>ida</strong><strong>de</strong>s e<<strong>br</strong> />
controvérsias:<<strong>br</strong> />
conversão da<<strong>br</strong> />
dív<strong>ida</strong> por<<strong>br</strong> />
natureza<<strong>br</strong> />
LouAnnDietz'<<strong>br</strong> />
Ninguém ganha quando a dív<strong>ida</strong> exter-<<strong>br</strong> />
na <strong>de</strong> um pais resulta em <strong>de</strong>gradação am-<<strong>br</strong> />
biental. As conversões <strong>de</strong> dív<strong>ida</strong> externa<<strong>br</strong> />
pela conservação da natureza talvez se-<<strong>br</strong> />
jam as únicas transações financeiras in-<<strong>br</strong> />
ternacionais em que todos saem ganhan-<<strong>br</strong> />
do.<<strong>br</strong> />
radas pela opinião pública como testas-<strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
terro do capital internacbnaL<<strong>br</strong> />
Após estarmos seguros <strong>de</strong> que a me-<<strong>br</strong> />
lhor escolha seja a conversão <strong>de</strong> parte da<<strong>br</strong> />
dív<strong>ida</strong> externa em projetos <strong>de</strong> me» am-<<strong>br</strong> />
biente, <strong>de</strong>veremos iniciar um amplo pro-<<strong>br</strong> />
cesso <strong>de</strong>mocrático e transparente <strong>de</strong> par-<<strong>br</strong> />
ticipação <strong>de</strong> todas as ONGs interessadas,<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> a elaboração <strong>de</strong> projetos e <strong>de</strong> crité-<<strong>br</strong> />
rios <strong>para</strong> sua seleção. Consi<strong>de</strong>ramos o<<strong>br</strong> />
consórcio formado pelas 13 <strong>org</strong>anizações<<strong>br</strong> />
pouco representativo do conjunto <strong>de</strong> ON-<<strong>br</strong> />
Gs nacionais capacitadas e com tradição<<strong>br</strong> />
na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso patrimônio cultural e<<strong>br</strong> />
ambiental e na luta por melhores condi-<<strong>br</strong> />
ções <strong>de</strong> v<strong>ida</strong> <strong>para</strong> todos os <strong>br</strong>asileiros.<<strong>br</strong> />
Enten<strong>de</strong>mos que a conversão da dívi-<<strong>br</strong> />
da, caso ocorra, <strong>de</strong>ve ser preced<strong>ida</strong> <strong>de</strong> to-<<strong>br</strong> />
dos os cu<strong>ida</strong>dos já mencionados e coor-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nada por um fórum representantivo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
toda a socieda<strong>de</strong> civil. Propomos:<<strong>br</strong> />
• Realização, <strong>para</strong>lelamente à próxima<<strong>br</strong> />
discussão do Fórum Nacional <strong>de</strong> ONGs,<<strong>br</strong> />
em 92, da primeira reunião <strong>para</strong> discutir a<<strong>br</strong> />
conversão da dív<strong>ida</strong>, conv<strong>ida</strong>ndo todas as<<strong>br</strong> />
ONGs <strong>br</strong>asileira interessadas, inclusive as<<strong>br</strong> />
participantes do consórcio.<<strong>br</strong> />
• Estimular esse <strong>de</strong>bate com o con-<<strong>br</strong> />
junto da socieda<strong>de</strong> civil e convocar reu-<<strong>br</strong> />
niões com as univers<strong>ida</strong><strong>de</strong>s e ONGs com<<strong>br</strong> />
tradição <strong>de</strong> luta na <strong>de</strong>fesa do meio am-<<strong>br</strong> />
biente e melhoria da qual<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> v<strong>ida</strong>,<<strong>br</strong> />
procurando firmar uma posição crítica e<<strong>br</strong> />
profunda so<strong>br</strong>e o assunto, capaz <strong>de</strong> <strong>no</strong>r-<<strong>br</strong> />
tear futuros posicionamentos.<<strong>br</strong> />
Campinas, 17,18 e 19 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1990.<<strong>br</strong> />
Mas o que é esse mecanismo? Uma<<strong>br</strong> />
conversão da dív<strong>ida</strong> externa pela conser-<<strong>br</strong> />
vação da natureza envolve a aquisição,<<strong>br</strong> />
com <strong>de</strong>scontos <strong>no</strong> mercado secundário,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma porção da dív<strong>ida</strong> externa <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />
país <strong>de</strong>vedor, por <strong>org</strong>anizações ambienta-<<strong>br</strong> />
listas. O país <strong>de</strong>vedor paga essa dív<strong>ida</strong> <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
valor original do empréstimo, mas paga na<<strong>br</strong> />
moeda local e com a condição <strong>de</strong> que os<<strong>br</strong> />
recursos <strong>de</strong>sses pagamentos sejam utili-<<strong>br</strong> />
zados <strong>para</strong> financiar programas <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
conservação do meb ambiente <strong>no</strong> país.<<strong>br</strong> />
Essa conversão po<strong>de</strong> assim aumentar<<strong>br</strong> />
dramaticamente os recursos financeiros<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> a conservação da natureza. Por<<strong>br</strong> />
exemplo, na conversão mais recente <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Equador, US$ 1 <strong>de</strong> dív<strong>ida</strong> adquir<strong>ida</strong> <strong>de</strong>u<<strong>br</strong> />
mais <strong>de</strong> US$ 8 <strong>para</strong> a conservação do<<strong>br</strong> />
meio ambiente na moeda local. É por isso<<strong>br</strong> />
que conservacionistas consi<strong>de</strong>ram essas<<strong>br</strong> />
conversões como oportun<strong>ida</strong><strong>de</strong>s únicas,<<strong>br</strong> />
tanto <strong>para</strong> proteger a biodivers<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
trópicos quanto <strong>para</strong> incentivar o <strong>de</strong>sen-<<strong>br</strong> />
volvimento auto-sustentável.<<strong>br</strong> />
(...) A idéia <strong>de</strong> converter a dív<strong>ida</strong> pela<<strong>br</strong> />
conservação da natureza foi proposta em<<strong>br</strong> />
1964 por Thomas Lovejoy, então vice-pre-<<strong>br</strong> />
si<strong>de</strong>nte da WWF (Fundo Mundal <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
Conservação da Natureza), <strong>no</strong>s Estados<<strong>br</strong> />
Unidos. As <strong>org</strong>anizações intemacionais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
conservação da natureza, incluindo a<<strong>br</strong> />
WWF, e <strong>org</strong>anizações locais, como a Fun-<<strong>br</strong> />
dación Natura, discutiram essa idéia com a<<strong>br</strong> />
comun<strong>ida</strong><strong>de</strong> financeira, e até hoje <strong>de</strong>z<<strong>br</strong> />
conversões da dív<strong>ida</strong> já foram realizadas.<<strong>br</strong> />
A WWF teve, participação em seis: na<<strong>br</strong> />
Costa Rica, Equador, Filipinas, Madagas-<<strong>br</strong> />
car e Zâmbia.<<strong>br</strong> />
(...) O exemplo do Equador apresenta<<strong>br</strong> />
alguns elementos importantes <strong>para</strong> o su-<<strong>br</strong> />
cesso <strong>de</strong> conversões da dív<strong>ida</strong> pela con-<<strong>br</strong> />
servação da natureza. O conceito-base do<<strong>br</strong> />
programa foi idéia <strong>de</strong> Roque Sevilla, o en-<<strong>br</strong> />
tão presi<strong>de</strong>nte da Fundación Natura, uma<<strong>br</strong> />
<strong>org</strong>anização nào-governamental equato-<<strong>br</strong> />
riana. A Fundación Natura conseguiu que<<strong>br</strong> />
o gover<strong>no</strong> equatoria<strong>no</strong> concordasse em<<strong>br</strong> />
converter até US$ 10 milhões da dív<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
externa do país em bônus <strong>de</strong> estabil<strong>ida</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
monetária <strong>de</strong><strong>no</strong>minados na moeda local.<<strong>br</strong> />
Esses bônus são retidos pela Fundación<<strong>br</strong> />
Natura, que aplica os juros (31% <strong>no</strong> pnmei-<<strong>br</strong> />
ro a<strong>no</strong>) <strong>no</strong> financiamento <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
projetos <strong>de</strong> parques nacionais, treinamento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> pessoal e educação ambiental. O prin-<<strong>br</strong> />
cipal, a ser pago pelo gover<strong>no</strong> equatona<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
em <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s, será convertido num fundo<<strong>br</strong> />
com o qual a Fundación Natura po<strong>de</strong>rá fi-<<strong>br</strong> />
nanciar programas <strong>de</strong> conservação <strong>no</strong> fu-<<strong>br</strong> />
turo, garantindo assim uma contribuição<<strong>br</strong> />
a longo prazo <strong>para</strong> proteger o meio am-<<strong>br</strong> />
biente <strong>no</strong> país. Em <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1987, a<<strong>br</strong> />
WWF usou US$ 355 mil <strong>para</strong> comprar US$<<strong>br</strong> />
1 milhão da dív<strong>ida</strong> externa comercial do<<strong>br</strong> />
Equador. Em 1989 a WWF e a Nature<<strong>br</strong> />
Conservancy compraram US$ 9 milhões<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> completar o programa. Emitindo bô-<<strong>br</strong> />
nus em vez <strong>de</strong> dinheiro, o Equador evitou<<strong>br</strong> />
um problema potencial das conversões<<strong>br</strong> />
gran<strong>de</strong>s: o efeito inflacionârb na eco<strong>no</strong>mia<<strong>br</strong> />
do país <strong>de</strong>vedor. O uso <strong>de</strong> bônus também<<strong>br</strong> />
forneceu um apoio garantido durante <strong>no</strong>ve<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s, que permitiu à Fundación Natura<<strong>br</strong> />
planejar programas <strong>de</strong> conservação a lon-<<strong>br</strong> />
go prazo. A criação <strong>de</strong> um Jundo perma-<<strong>br</strong> />
nente com o principal dos bônus permane-<<strong>br</strong> />
cerá uma base financeira estável <strong>para</strong> as<<strong>br</strong> />
ativ<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação <strong>no</strong> futuro.<<strong>br</strong> />
(...) Gostaria <strong>de</strong> esclarecer alguns<<strong>br</strong> />
pontos principais so<strong>br</strong>e as conversões da<<strong>br</strong> />
dív<strong>ida</strong> já concluídas:<<strong>br</strong> />
1) Essas conversões foram transações<<strong>br</strong> />
relativamente pequenas. Tiveram pouco<<strong>br</strong> />
impacto na dív<strong>ida</strong> externa dos países, mas<<strong>br</strong> />
tiveram impacto significante <strong>no</strong>s progra-<<strong>br</strong> />
mas <strong>de</strong> conservação do meio ambiente<<strong>br</strong> />
dos países <strong>de</strong>vedores. Qualquer impacto<<strong>br</strong> />
da dív<strong>ida</strong> externa é vantagem adicional,<<strong>br</strong> />
mas isso não foi o motivo principal. ^^
2) Nenhuma conversão envolveu a<<strong>br</strong> />
compra <strong>de</strong> território por gover<strong>no</strong>s ou <strong>org</strong>a-<<strong>br</strong> />
nizações privadas estrangeiras.<<strong>br</strong> />
3) Os gover<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s países <strong>de</strong>vedores<<strong>br</strong> />
mantiveram controle so<strong>br</strong>e os aspectos fi-<<strong>br</strong> />
nanceiros e programáticos das conver-<<strong>br</strong> />
sões. Todos os gover<strong>no</strong>s participantes<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>ram esses programas <strong>de</strong> conver-<<strong>br</strong> />
são da div<strong>ida</strong> do interesse do <strong>de</strong>senvolvi-<<strong>br</strong> />
mento futuro do pais.<<strong>br</strong> />
4) So<strong>br</strong>e o efeito na soberania nacional:<<strong>br</strong> />
a) Os govemos dos países <strong>de</strong>vedores<<strong>br</strong> />
per<strong>de</strong>ram um certo controle da soberania<<strong>br</strong> />
quando entraram <strong>no</strong>s acordos da dív<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
externa. As conversões da dív<strong>ida</strong> ajudam<<strong>br</strong> />
o país a aumentar o controle da soberania<<strong>br</strong> />
pela conversão da div<strong>ida</strong> externa em dívi-<<strong>br</strong> />
da doméstica.<<strong>br</strong> />
b) Em vez <strong>de</strong> diminuir o controle do país<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vedor so<strong>br</strong>e seus recursos naturais, a<<strong>br</strong> />
conversão da dív<strong>ida</strong> pela conservação do<<strong>br</strong> />
meio ambiente aumenta o controle e o ma-<<strong>br</strong> />
nejo efetivo <strong>de</strong> seus recursos naturais. Em<<strong>br</strong> />
nenhuma conversão se tratou <strong>de</strong> compra,<<strong>br</strong> />
aluguel ou transferência <strong>de</strong> recursos natu-<<strong>br</strong> />
rais <strong>para</strong> <strong>org</strong>anizações estrangeiras.<<strong>br</strong> />
c) As conversões da dív<strong>ida</strong> não são um<<strong>br</strong> />
veículo <strong>para</strong> as <strong>org</strong>anizações do <strong>no</strong>rte im-<<strong>br</strong> />
perem suas p<strong>no</strong>r<strong>ida</strong><strong>de</strong>s em govemos e or-<<strong>br</strong> />
ganizações não-governamentais do pais<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vedor. A razão do sucesso <strong>de</strong>ssas con-<<strong>br</strong> />
versões concluídas pela WWF foi o envol-<<strong>br</strong> />
vimento das <strong>org</strong>anizações não-governa-<<strong>br</strong> />
mentais dos países <strong>de</strong>vedores, que esta-<<strong>br</strong> />
beleceram as prior<strong>ida</strong><strong>de</strong>s das conversões.<<strong>br</strong> />
5) So<strong>br</strong>e o impacto inflacioná<strong>no</strong> das<<strong>br</strong> />
conversões, é conveniente ter em vista<<strong>br</strong> />
que elas foram tão pequenas que nenhuma<<strong>br</strong> />
até hoje criou um impacto inflacionário. Se<<strong>br</strong> />
os valores das conversões <strong>no</strong> futuro au-<<strong>br</strong> />
mentarem vários mecanismos, como a<<strong>br</strong> />
conversão em bônus em vez <strong>de</strong> dinheiro,<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>m ser integrados <strong>no</strong>s programas <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
minimizar o impacto Inflacionário.<<strong>br</strong> />
6) Uma crítica já feita às conversões da<<strong>br</strong> />
dív<strong>ida</strong> diz respeito ao fato <strong>de</strong> não se levar<<strong>br</strong> />
em conta que a dív<strong>ida</strong> externa é injusta e<<strong>br</strong> />
muitas vezes ilegal.<<strong>br</strong> />
É responsabil<strong>ida</strong><strong>de</strong> da população do<<strong>br</strong> />
país <strong>de</strong>vedor, não <strong>de</strong> <strong>org</strong>anizações exter-<<strong>br</strong> />
nas, <strong>de</strong>terminar a posição <strong>de</strong> seu gover<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
em relação a suas o<strong>br</strong>igações externas.<<strong>br</strong> />
As conversões em si não val<strong>ida</strong>m ou inva-<<strong>br</strong> />
l<strong>ida</strong>m as o<strong>br</strong>igações da dív<strong>ida</strong>.<<strong>br</strong> />
7) Quanto à crítica segundo a qual as<<strong>br</strong> />
conversões da dív<strong>ida</strong> comprometem a efe-<<strong>br</strong> />
tiv<strong>ida</strong><strong>de</strong> das <strong>org</strong>anizações não-governa-<<strong>br</strong> />
mentais em relação à política do gover<strong>no</strong>,<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>re-se que as conversões da dív<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
geralmente fortalecem as <strong>org</strong>anizações<<strong>br</strong> />
não-governamentais, fomecendo-lhes uma<<strong>br</strong> />
base financeira estável e aumentando seu<<strong>br</strong> />
conhecimento das áreas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvi-<<strong>br</strong> />
mento e financiamento. Com isso tais or-<<strong>br</strong> />
ganizações passam a ter mais influência<<strong>br</strong> />
na polãica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong> meio<<strong>br</strong> />
ambiente em seu país.<<strong>br</strong> />
8) Uma outra critica diz que as conver-<<strong>br</strong> />
sões da dív<strong>ida</strong> são implementadas por or-<<strong>br</strong> />
ganizações não-govemamentais gran<strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />
aliadas ao gover<strong>no</strong>, não a<strong>br</strong>indo espaço<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> as <strong>org</strong>anizações pequenas.<<strong>br</strong> />
Um dos maiores <strong>de</strong>safios em arrumar<<strong>br</strong> />
uma conversão da dív<strong>ida</strong> é achar <strong>org</strong>ani-<<strong>br</strong> />
zações não-governamentais com condi-<<strong>br</strong> />
ções <strong>de</strong> administrar efetivamente os mi-<<strong>br</strong> />
lhões <strong>de</strong> dólares envolvidos. Essas con-<<strong>br</strong> />
versões têm sido implementadas por uma<<strong>br</strong> />
varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> instituições, <strong>de</strong> <strong>org</strong>anizações<<strong>br</strong> />
não-govemamentais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e até<<strong>br</strong> />
órgãos do gover<strong>no</strong> que têm a capac<strong>ida</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> administrar o programa especifico. On-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>org</strong>anizações não-governamentais es-<<strong>br</strong> />
tão implementando o programa, a WWF in-<<strong>br</strong> />
clui que as <strong>org</strong>anizações pequenas <strong>de</strong>vem<<strong>br</strong> />
receber apoio financeiro <strong>para</strong> fortalecer<<strong>br</strong> />
sua contribuição <strong>no</strong> esforço <strong>para</strong> conser-<<strong>br</strong> />
var o meio ambiente.<<strong>br</strong> />
9) Uma outra crítica levanta a hipótese<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> que somente os bancos levem vanta-<<strong>br</strong> />
gem numa conversão da áv<strong>ida</strong>. Os ban-<<strong>br</strong> />
cos levam vantagem, sim, mas o gover<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
e o público dos países <strong>de</strong>vedores e o melo<<strong>br</strong> />
ambiente global também levam vantagem:<<strong>br</strong> />
a) Os bancos per<strong>de</strong>m dinheiro em rela-<<strong>br</strong> />
ção aos acordos do empréstimo original.<<strong>br</strong> />
Em relação ao valor real, os bancos rece-<<strong>br</strong> />
bem o valor do mercado secundário, além<<strong>br</strong> />
da vantagem <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>dução do dinheiro<<strong>br</strong> />
perdido, <strong>no</strong> imposto <strong>de</strong> renda.<<strong>br</strong> />
bj A vantagem <strong>para</strong> os gover<strong>no</strong>s <strong>de</strong>ve-<<strong>br</strong> />
dores é a redução <strong>de</strong> suas o<strong>br</strong>igações em<<strong>br</strong> />
moeda estrangeira, que são convert<strong>ida</strong>s<<strong>br</strong> />
em o<strong>br</strong>igações domésticas a serem pagas<<strong>br</strong> />
num prazo maior. Também os pagamentos<<strong>br</strong> />
são canalizados em ativ<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>para</strong> forta-<<strong>br</strong> />
lecer a base econômica e a base ambien-<<strong>br</strong> />
tal do país por muitos a<strong>no</strong>s.<<strong>br</strong> />
c) Os doadores, como a WWF, levam a<<strong>br</strong> />
vantagem <strong>de</strong> aumentar seus recursos in-<<strong>br</strong> />
vestidos em programas do meio ambiente<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s países em <strong>de</strong>senvolvimento. Seu In-<<strong>br</strong> />
vestimento é multiplicado por muitas vezes<<strong>br</strong> />
ou mais, através da conversão.<<strong>br</strong> />
d) O importante é que os programas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
conservação do meio ambiente levam a<<strong>br</strong> />
vantagem principal: dispor <strong>de</strong> uma fonte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
recursos gran<strong>de</strong>s a longo prazo.<<strong>br</strong> />
A comun<strong>ida</strong><strong>de</strong> conservacionista a<strong>br</strong>iu<<strong>br</strong> />
um <strong>no</strong>vo caminho com a conversão da dí-<<strong>br</strong> />
v<strong>ida</strong> pela conservação do meio ambiente.<<strong>br</strong> />
Esse mecanismo oferece uma esperança<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o fortalecimento <strong>de</strong> programas <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
conservação do meio ambiente <strong>no</strong>s países<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vedores. Esse mecanismo já focalizou a<<strong>br</strong> />
atenção do público nesses países em pro-<<strong>br</strong> />
blemas do melo ambiente e resultou em<<strong>br</strong> />
maior cooperação entre os setores públi-<<strong>br</strong> />
cos e privados.<<strong>br</strong> />
Através <strong>de</strong>sse envolvimento com con-<<strong>br</strong> />
versões da dív<strong>ida</strong> os conservacionistas<<strong>br</strong> />
têm <strong>de</strong>senvolvido relações sem prece-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ntes com a comun<strong>ida</strong><strong>de</strong> financeira inter-<<strong>br</strong> />
nacional. Chamaram a atenção internacio-<<strong>br</strong> />
nal à relação entre os problemas da <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
gradação ambiental e a dív<strong>ida</strong> externa.<<strong>br</strong> />
Talvez outras formas criativas <strong>de</strong> finan-<<strong>br</strong> />
ciamento <strong>de</strong> programas do meio ambiente<<strong>br</strong> />
sejam <strong>de</strong>senvolv<strong>ida</strong>s. Por enquanto as<<strong>br</strong> />
conversões da dív<strong>ida</strong> representam a me-<<strong>br</strong> />
lhor maneira <strong>de</strong> aumentar significativa-<<strong>br</strong> />
mente os recursos disponíveis em países<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vedores <strong>para</strong> a conservação do meio<<strong>br</strong> />
ambiente, conservando a base dos recur-<<strong>br</strong> />
sos naturais <strong>para</strong> sustentar, a longo prazo,<<strong>br</strong> />
a produtiv<strong>ida</strong><strong>de</strong> econômica essencial <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
o futuro bem-estar do país e do meio am-<<strong>br</strong> />
biente global.<<strong>br</strong> />
O Ed. S. em educação, M.A. em <strong>de</strong>senvol-<<strong>br</strong> />
vimento da instrução, Fundo Mundial <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
Conservação da Natureza (WWF, EUA).<<strong>br</strong> />
Apresentado <strong>no</strong> 1* Simpósio so<strong>br</strong>e Con-<<strong>br</strong> />
servação Ambiental e Desenvolvimento Flores-<<strong>br</strong> />
tal do Cone Sul (Foz do Iguaçu, Brasi, 27 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
março <strong>de</strong> 1990).<<strong>br</strong> />
AGEN-4.10.90<<strong>br</strong> />
O que pensa<<strong>br</strong> />
o seringueiro<<strong>br</strong> />
Osmari<strong>no</strong>?<<strong>br</strong> />
"Hoje a gente tem uma visão <strong>de</strong> que as<<strong>br</strong> />
pessoas que fizeram a dív<strong>ida</strong> e que acham<<strong>br</strong> />
que <strong>de</strong>vem receber por isso, na verda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
elas vão ter <strong>de</strong> pagar pelo estrago que a<<strong>br</strong> />
dív<strong>ida</strong> faz por aqui.<<strong>br</strong> />
Nós achamos que, primeiramente, te-<<strong>br</strong> />
mos <strong>de</strong> dar uma avaliada se realmente es-<<strong>br</strong> />
sa dív<strong>ida</strong> foi feita com critério, se trouxe<<strong>br</strong> />
vantagens <strong>para</strong> o país ou se resultou em<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>predação. Alguns projetos que foram fi-<<strong>br</strong> />
nanciados <strong>para</strong> esta região foram financia-<<strong>br</strong> />
dos sem o me<strong>no</strong>r critério. Nós acreditamos<<strong>br</strong> />
que, a priori, peto que a gente está perce-<<strong>br</strong> />
bendo das ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s ambientalistas que<<strong>br</strong> />
estão querendo comprar títulos da dív<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
pública <strong>para</strong> aplicar em questões ambien-<<strong>br</strong> />
tais, o gover<strong>no</strong> <strong>br</strong>asileiro vai ter <strong>de</strong> fazer<<strong>br</strong> />
esse recurso ser gerado aqui. De forma<<strong>br</strong> />
que nós acreditamos que, as ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
querem comprar os títulos da dív<strong>ida</strong>, dos<<strong>br</strong> />
bancos, das empreas, então eles estão<<strong>br</strong> />
com esse dinheiro. Alguns <strong>de</strong>les falaram<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> mim: "Olhe, nós vamos^ comprar títu-<<strong>br</strong> />
lo, vamos comprar florestas, vamos fazer<<strong>br</strong> />
um monte <strong>de</strong> coisas." A gente acha que<<strong>br</strong> />
não haveria necess<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> eles compra-<<strong>br</strong> />
rem esses títulos da dív<strong>ida</strong>. Não precisaria<<strong>br</strong> />
passar por compra <strong>de</strong> títulos <strong>para</strong> aplicar<<strong>br</strong> />
alguma coisa aqui. Eles <strong>de</strong>veriam, antes<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> comprar, passar esse recurso direta-<<strong>br</strong> />
mente <strong>para</strong> as ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s que estão <strong>de</strong>sen-<<strong>br</strong> />
volvendo o trabalho aqui. Então, se que-<<strong>br</strong> />
rem ajudar, não precisa ir por essa buro-<<strong>br</strong> />
cracia, sem uma segurança do que isso<<strong>br</strong> />
vai ser, E <strong>de</strong>pois, é tâo irrisório o título aue<<strong>br</strong> />
eles vão comprar em relação à dív<strong>ida</strong> (3%<<strong>br</strong> />
apenas, <strong>para</strong> questões ambientais) que<<strong>br</strong> />
náo vale nem a pena se discutir isso.<<strong>br</strong> />
Nós aqui não estamos embarcando
Quinzena Trabalhadores<<strong>br</strong> />
nessa discussão. 0 Conselho Nacional<<strong>br</strong> />
dos Seringueiros não é uma ent<strong>ida</strong><strong>de</strong> am-<<strong>br</strong> />
bientalista, uma ent<strong>ida</strong><strong>de</strong> ecológica, mas<<strong>br</strong> />
também não é uma ent<strong>ida</strong><strong>de</strong> sindical. To-<<strong>br</strong> />
dos que participam do Conselho Nacional<<strong>br</strong> />
dos Senngueiros dirige um sindicato, é<<strong>br</strong> />
mem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> um sindicato <strong>de</strong> trabalhadores<<strong>br</strong> />
rurais. A gente acha que essa é uma dis-<<strong>br</strong> />
cussão que não tem <strong>de</strong> ser levada adiante,<<strong>br</strong> />
e o que <strong>no</strong>s preocupa mais é que estão to-<<strong>br</strong> />
das as ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>volta</strong>das <strong>para</strong> o conse-<<strong>br</strong> />
lho, querendo que ele dê logo uma res-<<strong>br</strong> />
posta, se vai entrar ou não. Há ent<strong>ida</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
dizendo que só vai entrar nessa questão<<strong>br</strong> />
se o conselho entrar. E nós não estamos<<strong>br</strong> />
interessados, enquanto a gente não enten-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>r isso muito bem.<<strong>br</strong> />
Primeiro, pelo movimento sindical, <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
não reconhecemos a dív<strong>ida</strong>, pois nas últi-<<strong>br</strong> />
mas décadas, <strong>de</strong> 70 até agora, a gente<<strong>br</strong> />
sabe que foram pgados na Amazônia US$<<strong>br</strong> />
800 milhões, entre os projetos Carajás e<<strong>br</strong> />
Gica. Uma série <strong>de</strong> coisas que não trouxe<<strong>br</strong> />
resultado, nenhum benefício. Então nós<<strong>br</strong> />
não queremos entrar nessa discussão<<strong>br</strong> />
sem po<strong>de</strong>r envolver a socieda<strong>de</strong>, porque<<strong>br</strong> />
em qualquer discussão so<strong>br</strong>e a questão da<<strong>br</strong> />
dív<strong>ida</strong> nós vamos querer que a socieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
AGEN-4.10.90<<strong>br</strong> />
Valdo França'<<strong>br</strong> />
A maior parte do movimento ecológico<<strong>br</strong> />
está alheia à discussão da proposta refe-<<strong>br</strong> />
rente à conservação da dív<strong>ida</strong> externa em<<strong>br</strong> />
projetos ambientalistas.<<strong>br</strong> />
No entanto, algumas fundações ecoló-<<strong>br</strong> />
gicas articulam-se com governantes, ban-<<strong>br</strong> />
queiros, ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s internacionais, e estão<<strong>br</strong> />
<strong>org</strong>anizando um consórcio <strong>para</strong> usufruir<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ssa <strong>no</strong>va fonte.<<strong>br</strong> />
Apesar da <strong>no</strong><strong>br</strong>eza da causa, a concre-<<strong>br</strong> />
tização <strong>de</strong>ssa proposta <strong>de</strong> forma indiscri-<<strong>br</strong> />
minada fere frontalmente as resoluções<<strong>br</strong> />
dos diversos fóruns dos movimentos so-<<strong>br</strong> />
ciais populares, sindicatos etc. que se<<strong>br</strong> />
pronunciaram e assumiram politicamente a<<strong>br</strong> />
ilegitim<strong>ida</strong><strong>de</strong> da div<strong>ida</strong> externa.<<strong>br</strong> />
Estamos receptivos à conversão <strong>de</strong> tí-<<strong>br</strong> />
tulos pelo valor <strong>de</strong> mercado somente após<<strong>br</strong> />
auditona rigorosa que comprove a utiliza-<<strong>br</strong> />
ção honesta dos recursos em projetos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
interesse social. Por exemplo: os títulos<<strong>br</strong> />
contraídos <strong>para</strong> construir as usinas <strong>de</strong> An-<<strong>br</strong> />
gra dos Reis e Itaipu, a Transamazõnica,<<strong>br</strong> />
Balbina, Perimetral Norte, indústrias <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
armas e outras barbar<strong>ida</strong><strong>de</strong>s irreversíveis<<strong>br</strong> />
não <strong>de</strong>vem ser honrados. Aceitar a con-<<strong>br</strong> />
versão simplesmente é legitimar o mon-<<strong>br</strong> />
tante da dív<strong>ida</strong> externa, que é o maior ob-<<strong>br</strong> />
jetivo dos banqueiros internacionais e das<<strong>br</strong> />
tenha participação.<<strong>br</strong> />
A questão da Amazônia não é uma<<strong>br</strong> />
questão> isolada dos outros problemas do<<strong>br</strong> />
BrasiL É uma questão que é muito interli-<<strong>br</strong> />
gada às outras, e nós não vamos querer<<strong>br</strong> />
prejudicar parte da socieda<strong>de</strong> simples-<<strong>br</strong> />
mente por uma questão ambiental. Para<<strong>br</strong> />
nós, a discussão primeiro passa pela<<strong>br</strong> />
questão fundiária, pela questão social. Nós<<strong>br</strong> />
acreditamos que só vai haver <strong>de</strong>fesa da<<strong>br</strong> />
questão ecológica quando a terra for tirada<<strong>br</strong> />
da mão <strong>de</strong> poucas pessoas que a pos-<<strong>br</strong> />
suem. Aí po<strong>de</strong>remos começar a discutir<<strong>br</strong> />
realmente progresso e <strong>de</strong>senvolvimento. A<<strong>br</strong> />
terra é muito concentrada, principalmente<<strong>br</strong> />
na Amazônia. No Acre, que tem 15 mi-<<strong>br</strong> />
lhões <strong>de</strong> hectares <strong>de</strong> terra, <strong>de</strong>z pessoas<<strong>br</strong> />
se dizem donas <strong>de</strong> oito milhões. É difícil<<strong>br</strong> />
discutir como <strong>de</strong>senvolver um trabalho na<<strong>br</strong> />
questão ecológica se não se resolve o<<strong>br</strong> />
problema econômico das pessoas que fa-<<strong>br</strong> />
zem a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>ssa floresta, os índios, os<<strong>br</strong> />
seringueiros, os ribeirinhos."<<strong>br</strong> />
Depoimento <strong>de</strong> Osmari<strong>no</strong> Amâncio Rodrigues<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o programa "Nave Terra", da rádio municipal<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Piracicaba (FM), promovido pela Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Defesa do Meio Ambiente <strong>de</strong> Piracicaba (So<strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
map/Ape<strong>de</strong>ma).<<strong>br</strong> />
w<<strong>br</strong> />
Ecologismo marrom<<strong>br</strong> />
elites dirigentes do pais, <strong>de</strong>scomprometi-<<strong>br</strong> />
das com a socieda<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>scamisados.<<strong>br</strong> />
O compromisso do pagamento da dívi-<<strong>br</strong> />
da extema <strong>de</strong> forma indiscriminada é a<<strong>br</strong> />
perpetuação do calvário <strong>de</strong> miséria, fome e<<strong>br</strong> />
marginal<strong>ida</strong><strong>de</strong>, o fim do futuro e da c<strong>ida</strong>da-<<strong>br</strong> />
nia <strong>para</strong> cem milhões <strong>de</strong> <strong>br</strong>asileiros.<<strong>br</strong> />
Essas mesmas elites agrupadas nas<<strong>br</strong> />
gran<strong>de</strong>s ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s ecológicas estão cada<<strong>br</strong> />
vez mais distantes do verda<strong>de</strong>iro ecolo-<<strong>br</strong> />
gismo, que se propõe libertário e transfor-<<strong>br</strong> />
mador da socieda<strong>de</strong> injusta, autoritária,<<strong>br</strong> />
consumista e exploradora da natureza.<<strong>br</strong> />
KING ONGs<<strong>br</strong> />
O consórcio pró-conversão da dív<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
externa foi criado <strong>de</strong> forma isolada e não-<<strong>br</strong> />
transparente por 13 gran<strong>de</strong>s ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />
A direção do consórcio está a cargo da<<strong>br</strong> />
Funatura, que é dirig<strong>ida</strong> por Maria "Triste-<<strong>br</strong> />
za" J<strong>org</strong>e Pádua. Essa fundação assom-<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>ou o movimento ecológico quando apre-<<strong>br</strong> />
sentou entre seus benfeitores empresas e<<strong>br</strong> />
ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s mais do que suspeitas: Dow<<strong>br</strong> />
Química, An<strong>de</strong>f (lobby dos agrotóxicos).<<strong>br</strong> />
Associação Brasileira <strong>de</strong> Caça, Aracruz,<<strong>br</strong> />
Ripasa e Roberto Klabin (lobby <strong>de</strong> celulo-<<strong>br</strong> />
se), Companhia Brasileira <strong>de</strong> Cartuchos,<<strong>br</strong> />
Cesp e Eletropaulo (décimo lugar na "Lista<<strong>br</strong> />
Suja" eleita <strong>no</strong> 5 Ç Congresso Paulista <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Ecologistas e Pacifistas <strong>de</strong> São Paulo).<<strong>br</strong> />
S.O.S. CAIÇARAS DA MATA<<strong>br</strong> />
ATLÂNTICA<<strong>br</strong> />
A Fundação S.O.S. Mata Atlântica, uma<<strong>br</strong> />
das integrantes do "consórcio marrom", já<<strong>br</strong> />
apresenta em seu cumculo uma <strong>de</strong>núncia<<strong>br</strong> />
muito séria. O Movimento São Sebastião<<strong>br</strong> />
Tem Alma <strong>de</strong>nunciou recentemente, na<<strong>br</strong> />
Assembléia Legislativa <strong>de</strong> São Paulo, o<<strong>br</strong> />
pedido da Fundação S.O.S. Mata Atlântica<<strong>br</strong> />
junto ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio<<strong>br</strong> />
Ambiente) e à Secretaria do Meio Am-<<strong>br</strong> />
biente <strong>de</strong> São Paulo, pelo aforamente <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
21 ilhas na costa <strong>de</strong> São Paulo.<<strong>br</strong> />
Nenhuma ent<strong>ida</strong><strong>de</strong> popular congregado-<<strong>br</strong> />
ra <strong>de</strong> olhéus, caiçaras e ecologistas foi<<strong>br</strong> />
conv<strong>ida</strong>da <strong>para</strong> discutir o projeto da referi-<<strong>br</strong> />
da fundação <strong>para</strong> as ilhas em questão.<<strong>br</strong> />
Outros participantes do "consórcio mar-<<strong>br</strong> />
rom": Associação em Defesa da Juréia,<<strong>br</strong> />
Socieda<strong>de</strong> em Defesa do Pantanal, Socie-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pesquisa em Meio Ambiente, So-<<strong>br</strong> />
cieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Espeleologia, So-<<strong>br</strong> />
prem (Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Preservação da Natu-<<strong>br</strong> />
reza), Fundação Biodiversitas, Fundação<<strong>br</strong> />
Ecotrópica do Pantanal, FBCN (Fundação<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Conservação da Natureza),<<strong>br</strong> />
Movimento Onda Azul, Oikos e Fundação<<strong>br</strong> />
Nacional <strong>de</strong> Ação Ecológica.<<strong>br</strong> />
Parte significativa <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s tem aparecido constantemente<<strong>br</strong> />
na mídia eletrônica vinculada à propaganda<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> bancos, ca<strong>de</strong>metas <strong>de</strong> poupança,<<strong>br</strong> />
jeans, celulose e outros produtos, com o<<strong>br</strong> />
objetivo <strong>de</strong> transferir a "imagem ecológica"<<strong>br</strong> />
em troca <strong>de</strong> rendimentos.<<strong>br</strong> />
O tema dív<strong>ida</strong> extema é muito <strong>de</strong>licado<<strong>br</strong> />
e complexo <strong>para</strong> ser tratado por uma dúzia<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s pouco representativas da so-<<strong>br</strong> />
cieda<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Cabe ao conjunto <strong>de</strong> ONGs ambienta-<<strong>br</strong> />
listas <strong>br</strong>asileiras promover um fórum espe-<<strong>br</strong> />
cial <strong>para</strong> discutir politicamente o encami-<<strong>br</strong> />
nhamento da questão <strong>para</strong> não ficarmos à<<strong>br</strong> />
margem da história e pecarmos contra os<<strong>br</strong> />
anseios da socieda<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Toda a luta e a expectativa da socieda-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> por uma <strong>de</strong>mocracia transparente e<<strong>br</strong> />
participativa está sendo colocada <strong>no</strong> lixo<<strong>br</strong> />
por essas elites.<<strong>br</strong> />
ECOLOGISMO AUTÊNTICO<<strong>br</strong> />
A preservação da floresta Amazônica,<<strong>br</strong> />
Pantanal, mata Atlântica e todos os patri-<<strong>br</strong> />
mônios da ecologia nacional são funda-<<strong>br</strong> />
mentais a <strong>no</strong>sso projeto <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Se a preservação <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas florestas<<strong>br</strong> />
condiz com as necess<strong>ida</strong><strong>de</strong>s climáticas do<<strong>br</strong> />
planeta, é razoável que todos os países ri-<<strong>br</strong> />
cos participem e colaborem, não só com a<<strong>br</strong> />
preservação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> valor ecológico<<strong>br</strong> />
mas também <strong>no</strong> manejo sustentado e na<<strong>br</strong> />
recuperação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>sfiorestadas,<<strong>br</strong> />
através da implantação <strong>de</strong> bosques produ-<<strong>br</strong> />
tivos.<<strong>br</strong> />
Não há dúv<strong>ida</strong>: a ciência já mostrou o<<strong>br</strong> />
tamanho oa ig<strong>no</strong>rância e ao <strong>de</strong>scala<strong>br</strong>o<<strong>br</strong> />
sócio-econômico que foram os projetos<<strong>br</strong> />
agropecuários na Amazônia. Destruíram<<strong>br</strong> />
florestas ricas em castanheiras, açaizei-
os, seringueiras e muitas outras essên-<<strong>br</strong> />
cias <strong>de</strong> potencial<strong>ida</strong><strong>de</strong> extrativista presente<<strong>br</strong> />
e futura.<<strong>br</strong> />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas florestas,<<strong>br</strong> />
com fmteiras nativas, po<strong>de</strong> garantir uma<<strong>br</strong> />
produção em média <strong>de</strong> meia tonelada <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
alimentos por hectare ao a<strong>no</strong>, doze metros<<strong>br</strong> />
cúbicos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> lei, além <strong>de</strong> diver-<<strong>br</strong> />
sas outras essências <strong>de</strong> valor econômico.<<strong>br</strong> />
Essas áreas ocupadas com pastagens<<strong>br</strong> />
produzem, após o terceiro a<strong>no</strong>, me<strong>no</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cem quilos <strong>de</strong> carne por hectare ao a<strong>no</strong>, o<<strong>br</strong> />
que as toma antieconômicas.<<strong>br</strong> />
Greves<<strong>br</strong> />
GE-CAMPINAS<<strong>br</strong> />
Os trabalhadores da General Eletric<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Campinas, SP suspen<strong>de</strong>ram a greve<<strong>br</strong> />
dia 23 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 26 dias<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong>dos. O Sindicato dos Metalúrgi-<<strong>br</strong> />
cos tenta negociar a readmissão <strong>de</strong> 56<<strong>br</strong> />
metalúrgicos, o pagamento dos dias<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong>dos e maior liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>org</strong>ani-<<strong>br</strong> />
zação sindical. Os patrões endurece-<<strong>br</strong> />
ram, não querem aten<strong>de</strong>r as reivindi-<<strong>br</strong> />
cações e não reconhecem a perda sala-<<strong>br</strong> />
rial <strong>de</strong> 144,61%. A empresa conce<strong>de</strong>u<<strong>br</strong> />
só 15% em setem<strong>br</strong>o, 15% em outu<strong>br</strong>o<<strong>br</strong> />
e 10% em <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o e, mesmo assim,<<strong>br</strong> />
a título <strong>de</strong> "antecipação salarial".<<strong>br</strong> />
GM-SP<<strong>br</strong> />
Após dois dias <strong>de</strong> greve, os 7 mil<<strong>br</strong> />
metalúrgicos da General Motors <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
São Caeta<strong>no</strong> do Sul, SP, <strong>de</strong>cidiram<<strong>br</strong> />
retomar ao trabalho <strong>no</strong> dia 19 último.<<strong>br</strong> />
Os trabalhadores reivindicavam 33% e<<strong>br</strong> />
conquistaram apenas 25% so<strong>br</strong>e os<<strong>br</strong> />
salários <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o, 15 dias <strong>de</strong> férias<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> os metalúrgicos que permanece-<<strong>br</strong> />
ram 34 dias em licença remunerada<<strong>br</strong> />
em a<strong>br</strong>il e maio e calendário <strong>para</strong> dis-<<strong>br</strong> />
cussão dos estatutos da comissão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
fá<strong>br</strong>ica.<<strong>br</strong> />
METALÚRGICOS DO RIO<<strong>br</strong> />
Até o fechamento <strong>de</strong>ste n- da<<strong>br</strong> />
Quinzena, dia 26.10, os metalúrgicos<<strong>br</strong> />
do Rio continuavam em greve, com-<<strong>br</strong> />
pletando 14 dias <strong>de</strong> <strong>para</strong>lisação. Des-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> o início da greve, houve <strong>para</strong>lisa-<<strong>br</strong> />
ções da Via Dutra e manifestações na<<strong>br</strong> />
Av. Brasil, com enfrentamento da po-<<strong>br</strong> />
luía que, inclusive, baleou três operá-<<strong>br</strong> />
rios na fá<strong>br</strong>ica QRPRESS <strong>de</strong> compo-<<strong>br</strong> />
Os povos da floresta, seringueiros,<<strong>br</strong> />
castanheiros, agricultores das vazantes e<<strong>br</strong> />
índios, não só vivem como também lutam<<strong>br</strong> />
em <strong>de</strong>fesa da natureza, sabendo que <strong>de</strong>la<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>para</strong> viver.<<strong>br</strong> />
Quem possibilitou a abertura da BR-364<<strong>br</strong> />
e <strong>de</strong> Rondônia aos incendtòrios foram os<<strong>br</strong> />
próprios agentes financeiros internacionais<<strong>br</strong> />
e a classe política dirigente, interessada na<<strong>br</strong> />
pilhagem da ma<strong>de</strong>ira, minérios e na latífun-<<strong>br</strong> />
dizaçáo da região.<<strong>br</strong> />
O <strong>de</strong>smatamento irracional é arma po-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>rosa contra o homem libertário, que tem<<strong>br</strong> />
nentes eletrônicos. Os metalúrgicos<<strong>br</strong> />
reivindicam 247% <strong>de</strong> reposição sala-<<strong>br</strong> />
rial e a categoria já rejeitou a proposta<<strong>br</strong> />
da FDUAN <strong>de</strong> 136%.<<strong>br</strong> />
PORTUÁRIOS DE SANTOS-SP<<strong>br</strong> />
Os 9000 portuários, em greve <strong>de</strong>s-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> o dia 8 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o, autorizaram o<<strong>br</strong> />
secretário nacional <strong>de</strong> transportes<<strong>br</strong> />
Henrique Amorim a encaminhar ao<<strong>br</strong> />
Ministério da Eco<strong>no</strong>mia a proposta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
incorporação gradual e mensal <strong>de</strong> Cr$<<strong>br</strong> />
20,000 já oferecidos. Os patrões só<<strong>br</strong> />
aceitam a incorporação após janeiro.<<strong>br</strong> />
BRAHMA E ANTARCTICA<<strong>br</strong> />
Os funcionários da Brahma aceita-<<strong>br</strong> />
ram a proposta <strong>de</strong> reajuste salarial<<strong>br</strong> />
apresentada pela empresa <strong>no</strong> dia 26 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
outu<strong>br</strong>o e <strong>volta</strong>ram ao trabalho dia 29<<strong>br</strong> />
último. Os trabalhadores conquistaram<<strong>br</strong> />
reajustes que variam <strong>de</strong> 80% a 45%,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> acordo com a faixa salarial. O piso<<strong>br</strong> />
salarial passa <strong>para</strong> Cr$ 25 mil.<<strong>br</strong> />
Além do reajuste, a Brahma criou<<strong>br</strong> />
uma política salarial própria que prevê<<strong>br</strong> />
reajustes trimestrais <strong>de</strong> 80% do índice<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Preço ao Consumidor (IPC), acu-<<strong>br</strong> />
mulado <strong>no</strong> trimestre. O primeiro rea-<<strong>br</strong> />
juste será feito em janeiro do próximo<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
Já os funcionários da Antarctica<<strong>br</strong> />
continuam rejeitando a proposta da<<strong>br</strong> />
empresa e mantêm a <strong>para</strong>lisação ini-<<strong>br</strong> />
ciada em 22 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o. A última<<strong>br</strong> />
proposta da Antarctica é reajuste <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
52% e reposição trimestral <strong>de</strong> 80% da<<strong>br</strong> />
variação do IPC, acrescentando um<<strong>br</strong> />
abo<strong>no</strong> <strong>de</strong> Cr$ 3 mil, que saia pago<<strong>br</strong> />
em <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o.<<strong>br</strong> />
ELETKICITÁRIOS DO RIO<<strong>br</strong> />
Os 600 funcionários da CERJ en-<<strong>br</strong> />
traram em greve dia 22 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o por<<strong>br</strong> />
360% <strong>de</strong> reajuste so<strong>br</strong>e os salários <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
março. Até o dia 23 último, os patrões<<strong>br</strong> />
mantinham contraproposta <strong>de</strong> 60% em<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> extrativismo a saída <strong>para</strong> fugir das rela-<<strong>br</strong> />
ções escravagistas do trabalho na c<strong>ida</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
e nas fazendas.<<strong>br</strong> />
Cabe ao povo através <strong>de</strong> suas <strong>org</strong>ani-<<strong>br</strong> />
zações populares, informar-se <strong>para</strong> exer-<<strong>br</strong> />
cer bem o direito <strong>de</strong> voto, a fim <strong>de</strong> escolher<<strong>br</strong> />
seus representantes poUücos e com eles<<strong>br</strong> />
participar da orientação do <strong>de</strong>senvolvi-<<strong>br</strong> />
mento do país, com responsabüda<strong>de</strong> eco-<<strong>br</strong> />
lógica e justiça social<<strong>br</strong> />
CVaêdo França) é anganhato agrô<strong>no</strong>mo e<<strong>br</strong> />
fundador da Eacoia Urra da Agricultura Eco-<<strong>br</strong> />
lógica (ELAE).<<strong>br</strong> />
outu<strong>br</strong>o, 17% em <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o e 4% <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
produtiv<strong>ida</strong><strong>de</strong>, e os trabalhadores, por<<strong>br</strong> />
sua vez, mantêm a greve.<<strong>br</strong> />
MOTORISTAS<<strong>br</strong> />
DE PORTO ALEGRE<<strong>br</strong> />
Durou três dias a greve dos 10 mü<<strong>br</strong> />
motoristas e co<strong>br</strong>adores daquela capi-<<strong>br</strong> />
tal, que reivindicavam 84% <strong>de</strong> rea-<<strong>br</strong> />
juste salarial. Oiívio Dutra, prefeito<<strong>br</strong> />
(PT), disse ter suspeitas <strong>de</strong> que a pa-<<strong>br</strong> />
ralisação tenha sido planejada pelas<<strong>br</strong> />
próprias empresas que queriam o au-<<strong>br</strong> />
mento das passagens.<<strong>br</strong> />
MOTORISTAS DE BH<<strong>br</strong> />
Os motoristas <strong>de</strong> Belo Horizonte<<strong>br</strong> />
terminaram a greve dia 11 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o<<strong>br</strong> />
conquistando antecipação <strong>de</strong> 26%,<<strong>br</strong> />
embora a categoria reivindicasse 78%<<strong>br</strong> />
Os salários da categoria passaram a<<strong>br</strong> />
ser os seguintes: Motoristas Cr$<<strong>br</strong> />
34.200 mil, <strong>de</strong>spachantes Cr$ 21.818<<strong>br</strong> />
mil, fiscal Ci$ 18.473 mil e trocador<<strong>br</strong> />
Cr$ 15.272 mü.<<strong>br</strong> />
BANCO CENTRAL<<strong>br</strong> />
Em 22 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o os funcionários<<strong>br</strong> />
do Banco Central em Brasília <strong>de</strong>cidi-<<strong>br</strong> />
ram rejeitar a proposta <strong>de</strong> 15% apre-<<strong>br</strong> />
sentada pelo ministro do TST e conti-<<strong>br</strong> />
nuam em greve. Os trabalhadores rei-<<strong>br</strong> />
vindicam 80% e querem ser reconhe-<<strong>br</strong> />
cidos como bancários e não como<<strong>br</strong> />
funcionários públicos.<<strong>br</strong> />
OPERÁRIOS DA OAS<<strong>br</strong> />
Os operários da OAS localizada em<<strong>br</strong> />
Salvador, BA, <strong>de</strong>flagraram uma greve<<strong>br</strong> />
por tempo in<strong>de</strong>terminado dia 24 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
outu<strong>br</strong>o, <strong>no</strong>s canteiros <strong>de</strong> o<strong>br</strong>a da em-<<strong>br</strong> />
presa que <strong>de</strong>tém quase 50% dos em-<<strong>br</strong> />
preendimentos imobiliários em Salva-<<strong>br</strong> />
dor. As reivindicações são: o cumpri-<<strong>br</strong> />
mento do acordo <strong>de</strong> janeiro mais o<<strong>br</strong> />
dissídio <strong>de</strong> março, fim das <strong>de</strong>missões<<strong>br</strong> />
em massa e do <strong>de</strong>sconto dos 13 dias<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong>dos durante a greve da categoria<<strong>br</strong> />
em agosto último.
Quinzena Eco<strong>no</strong>mia<<strong>br</strong> />
Suma Econômica - Julho/90<<strong>br</strong> />
Os Próximos A<strong>no</strong>s na Eco<strong>no</strong>mia Brasileira<<strong>br</strong> />
Os principais fatores <strong>de</strong> longo prazo que impulsiona-<<strong>br</strong> />
ram a indústria <strong>no</strong>s útimos trinta a<strong>no</strong>s continuam presen-<<strong>br</strong> />
tes: (1) forte expansão das fronteiras agrícolas e minerais;<<strong>br</strong> />
(2) o processo <strong>de</strong> integração do mercado inter<strong>no</strong> e abertu-<<strong>br</strong> />
ra <strong>para</strong> as exportações; (3) o gap tec<strong>no</strong>lógico e gerencial<<strong>br</strong> />
em relação aos países mais <strong>de</strong>senvolvidos; (4) a migração<<strong>br</strong> />
e urbanização; e (5) a mental<strong>ida</strong><strong>de</strong> pró-<strong>de</strong>senvolvimento.<<strong>br</strong> />
A indústria <strong>br</strong>asileira, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a II Guerra, sempre apre-<<strong>br</strong> />
sentou taxas expressivas <strong>de</strong> crescimento. Até a década <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
70, acreditava-se que o período compreendido entre 1950<<strong>br</strong> />
e 1960 fosse o marco histórico <strong>de</strong> maior crescimento in-<<strong>br</strong> />
dustrial. Nestes a<strong>no</strong>s, a produção se multiplicou por 2,59.<<strong>br</strong> />
Entretanto, <strong>de</strong> 1968 a 1976, a produção apresentou um<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>vo recor<strong>de</strong> <strong>de</strong> expansão. No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>stes 8 a<strong>no</strong>s, ela<<strong>br</strong> />
se multiplicou por 2,65.<<strong>br</strong> />
Nos próximos a<strong>no</strong>s, ainda que o PEB e a produção in-<<strong>br</strong> />
dustrial cresçam a taxas elevadas, o produto potencial da<<strong>br</strong> />
eco<strong>no</strong>mia <strong>br</strong>asileira permanecerá abaixo da sua média<<strong>br</strong> />
histórica. Logo, é razoável esperar que, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s seguin-<<strong>br</strong> />
tes a 1991, o PIB e, particularmente, a produção indus-<<strong>br</strong> />
trial, alcancem valores próximos aos obtidos na década<<strong>br</strong> />
passada.<<strong>br</strong> />
A industrialização <strong>br</strong>asileira é relativamente recente e<<strong>br</strong> />
muito dinâmica. Devido a isto, a estrutura da produção<<strong>br</strong> />
industrial <strong>br</strong>asileira muda muito <strong>de</strong>pressa.<<strong>br</strong> />
Oscilações Bruscas <strong>de</strong> Tendências<<strong>br</strong> />
A principal característica das vendas do comércio e da<<strong>br</strong> />
produção industrial, <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr dos últimos <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s,<<strong>br</strong> />
tem sido a <strong>de</strong> mudanças <strong>br</strong>uscas nas tendências <strong>de</strong> vendas<<strong>br</strong> />
do varejo, com um impacto direto so<strong>br</strong>e a produção in-<<strong>br</strong> />
dustriai e, conseqüentemente, so<strong>br</strong>e o fluxo <strong>de</strong> caixa das<<strong>br</strong> />
empresas.<<strong>br</strong> />
Nos próximos a<strong>no</strong>s, as empresas <strong>de</strong>vem estar pre<strong>para</strong>-<<strong>br</strong> />
das <strong>para</strong> continuarem convivendo com as mesmas oscila-<<strong>br</strong> />
ções.<<strong>br</strong> />
Tendências e Oportun<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>no</strong> Curto e Médio Prazos<<strong>br</strong> />
Consi<strong>de</strong>rando a situação atuai, as principais tendências<<strong>br</strong> />
e oportun<strong>ida</strong><strong>de</strong>s são as seguintes:<<strong>br</strong> />
1. Em uma situação recessiva não se <strong>de</strong>ve tentar ganhar<<strong>br</strong> />
morket shore (mercado compartilhado) com uma polí-<<strong>br</strong> />
tica <strong>de</strong> preços <strong>de</strong>primidos. Pelo contrário, as empresas<<strong>br</strong> />
precisam manter as margens e garantir lucros. A expe-<<strong>br</strong> />
riência da década <strong>de</strong> 80 mostrou que todas as empresas<<strong>br</strong> />
que procuram ganhar morket shore com uma política<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> preços baixos acabaram por entrar em séria crises<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> liqui<strong>de</strong>z, com falta <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> giro que muitas ve-<<strong>br</strong> />
zes levaram as empresas à concordata ou a uma <strong>br</strong>utal<<strong>br</strong> />
redução <strong>no</strong> nível <strong>de</strong> ativ<strong>ida</strong><strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />
2. Em uma situação <strong>de</strong> crise <strong>de</strong>ve-se ganhar morket shore<<strong>br</strong> />
não com preços, mas com a segmetação e i<strong>de</strong>ntificação<<strong>br</strong> />
dos clientes <strong>no</strong>s setores da eco<strong>no</strong>mia que me<strong>no</strong>s per-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>m com a situação recessiva, já que a recessão não é<<strong>br</strong> />
um fenôme<strong>no</strong> uniforme <strong>para</strong> todas as empresas.<<strong>br</strong> />
3. A recomposição da massa salarial a partir do final <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong>ve permitir uma recuperação nas vendas do<<strong>br</strong> />
varejo <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr dos últimos meses do a<strong>no</strong>. Esta si-<<strong>br</strong> />
tuação irá beneficiar principalmente as empresas pro-<<strong>br</strong> />
dutoras <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo, que farão caixa com o<<strong>br</strong> />
aumento das vendas <strong>para</strong> o varejo e com a diminuição<<strong>br</strong> />
dos seus estoques <strong>de</strong> insumos e matérias-primas. Re-<<strong>br</strong> />
comenda-se a aplicação dos excessos <strong>de</strong> caixa <strong>no</strong> mer-<<strong>br</strong> />
cado financeiro até o fim <strong>de</strong> <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o e a recomposi-<<strong>br</strong> />
ção dos estoques a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o, quando a <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
manda por bens intermediários ainda estará muito fraca<<strong>br</strong> />
e, conseqüentemente, se po<strong>de</strong>rá começar a recomposi-<<strong>br</strong> />
ção <strong>de</strong> estoques a preços bastante baixos.<<strong>br</strong> />
4. A industria <strong>de</strong> bens intermediários ten<strong>de</strong> a aumentar as<<strong>br</strong> />
suas vendas só a partir do início do a<strong>no</strong> que vem,<<strong>br</strong> />
quando os estoques das indústrias estarão em níveis<<strong>br</strong> />
muito baixos.<<strong>br</strong> />
5. As vendas do varejo, que sazonalmente já são baixas<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> primeiro trimestre, ten<strong>de</strong>m a se aprofundar ainda<<strong>br</strong> />
mais <strong>no</strong>s primeiros meses do a<strong>no</strong> que vem, porém, te-<<strong>br</strong> />
ráo uma forte recuperação a partir <strong>de</strong> a<strong>br</strong>il e maio do<<strong>br</strong> />
oróximo a<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
6. O risco <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va aceleração inflacionária é muito<<strong>br</strong> />
alto, se o país tiver uma <strong>no</strong>va frustração <strong>de</strong> safra na<<strong>br</strong> />
colheita 1990/1991. Os estoques reguladores do go-<<strong>br</strong> />
ver<strong>no</strong> praticamente já não existem. Os estoques atual-<<strong>br</strong> />
mente estão nas mãos dos atacadistas, distribuidores e<<strong>br</strong> />
produtores. Uma frustração <strong>de</strong> safras provocará uma<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>utal pressão altista so<strong>br</strong>e os preços dos alimentos e<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e a inflação. Logo, o gover<strong>no</strong> terá que liberar re-<<strong>br</strong> />
cursos <strong>para</strong> o plantio da próxima safra mesmo <strong>para</strong> os<<strong>br</strong> />
agricultores que não rolarem suas dív<strong>ida</strong>s com o Banco<<strong>br</strong> />
do Brasil, já que o país não po<strong>de</strong> correr o risco <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>va frustração <strong>de</strong> safra.<<strong>br</strong> />
7. A tendência principal <strong>para</strong> a eco<strong>no</strong>mia em 1991 é <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
um crescimento entre 3% e 5%. O crescimento <strong>de</strong>ve<<strong>br</strong> />
ser "puxado" principalmente por uma necess<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
recomposição <strong>de</strong> estoques <strong>no</strong> mercado inter<strong>no</strong> como,<<strong>br</strong> />
provavelmente, por um crescimento das exportações, já<<strong>br</strong> />
que o dólar precisará ser <strong>de</strong>svalorizado <strong>para</strong> que se ge-<<strong>br</strong> />
re saldos comerciais suficientes <strong>para</strong> se pagar o custo<<strong>br</strong> />
adicional <strong>de</strong> importações <strong>de</strong> petróleo e pelo me<strong>no</strong>s, al-<<strong>br</strong> />
go em tomo <strong>de</strong> US$ 3 bilhões aos bancos estrangeiros.<<strong>br</strong> />
8. Em termos <strong>de</strong> investimentos, consi<strong>de</strong>rou a melhor al-<<strong>br</strong> />
ternativa, <strong>para</strong> os próximos seis meses, investimentos<<strong>br</strong> />
em terre<strong>no</strong>s comerciais ou resi<strong>de</strong>nciais urba<strong>no</strong>s, assim<<strong>br</strong> />
como fazendas <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> São Paulo, Sul e Minas e<<strong>br</strong> />
Centro-Oeste, pois a queda na renda agrícola, neste<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>, <strong>de</strong>preciou exageradamente o preço <strong>de</strong>stes ativos.<<strong>br</strong> />
O aumento da renda agrícola, a partir da safra em mar-<<strong>br</strong> />
ço <strong>de</strong> 1991, ten<strong>de</strong> a valorizar muito os preços <strong>de</strong>stes<<strong>br</strong> />
ativos.<<strong>br</strong> />
9. Recomendamos, também, investimentos em dólares (ou<<strong>br</strong> />
melhor, em marcos alemães, já que a Alemanha paga,<<strong>br</strong> />
hoje, a maior taxa <strong>de</strong> juros reais do mundo Oci<strong>de</strong>ntal<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> aplicações e o marco alemão ten<strong>de</strong> a continuar se<<strong>br</strong> />
valorizando) e em ações. Destaco o fato das empresas<<strong>br</strong> />
em Bolsas, em geral, serem as maiores e lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mercado, que ten<strong>de</strong>m a se beneficiar <strong>de</strong> um processo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> concentração. Além disso, se efetivamente se extin-<<strong>br</strong> />
guirem as ações preferenciais, os preços do mercado se<<strong>br</strong> />
elevarão muito.<<strong>br</strong> />
10. Por fim, é importante consi<strong>de</strong>rar que a eco<strong>no</strong>mia in-<<strong>br</strong> />
ternacional continuará em expansão neste a<strong>no</strong> e <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
próximo, <strong>de</strong>vido à integração <strong>de</strong> mercados. O impacto<<strong>br</strong> />
da elevação dos preços do petróleo só atingirá em<<strong>br</strong> />
cheio a eco<strong>no</strong>mia americana.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA O SEU<<strong>br</strong> />
PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO<<strong>br</strong> />
1. COMÉRCIO<<strong>br</strong> />
1.1 Uma classe média crescente, <strong>no</strong>s principais centros<<strong>br</strong> />
urba<strong>no</strong>s, principalmente na região Centro-Sul. A re-<<strong>br</strong> />
gião compreend<strong>ida</strong> e integrada por Gran<strong>de</strong> São Paulo<<strong>br</strong> />
- São Paulo interior - Gran<strong>de</strong> Rio e Sul fluminense,<<strong>br</strong> />
Norte do Paraná, Sul <strong>de</strong> Minas e Gran<strong>de</strong> Belo Hori-<<strong>br</strong> />
zonte, continuará sendo a região mais rica do país.<<strong>br</strong> />
Deverá inclusive, aumentar a concentração <strong>de</strong> renda<<strong>br</strong> />
em favor <strong>de</strong>sta região. Bolsões: Vale do Itajaí, DF,<<strong>br</strong> />
Porto Alegre.<<strong>br</strong> />
1.2 Haverá uma classe média afluente <strong>no</strong> campo. Con-<<strong>br</strong> />
centrada na seguinte região: interior <strong>de</strong> São Paulo,<<strong>br</strong> />
Norte do Paraná, Sul <strong>de</strong> Minas, Mato Grosso do Sul,<<strong>br</strong> />
Goiás (bolsões) e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (bolsões).<<strong>br</strong> />
1.3 Tendência a especialização por parte do comércio (ao<<strong>br</strong> />
contrário do que ocorreu na década <strong>de</strong> 70) e a busca<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> comod<strong>ida</strong><strong>de</strong> por parte do consumidor.<<strong>br</strong> />
2. INDÚSTRIA DE PONTA<<strong>br</strong> />
2.1 Informatização e robotização, apesar da mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
continuar muito barata. A opção será por se manter<<strong>br</strong> />
na "ponta" e não per<strong>de</strong>r o "pulo tec<strong>no</strong>lógico" - já<<strong>br</strong> />
que, com freqüência, a solução não será econômica.<<strong>br</strong> />
2.2 A criação <strong>de</strong> um pólo dinâmico <strong>de</strong> química fina, <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
vido as gran<strong>de</strong>s vantagens que serão oferec<strong>ida</strong>s pelo<<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
3. AS MAIS RENTÁVEIS<<strong>br</strong> />
3.1 Construção Civil<<strong>br</strong> />
Será uma das mais rentáveis até o final do século. O<<strong>br</strong> />
déficit atual <strong>de</strong> moradias e o crescimento da renda fa-<<strong>br</strong> />
rá com que, <strong>no</strong>s próximos <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s, surjam mais em-<<strong>br</strong> />
presários ricos, <strong>no</strong> setor, do que na década <strong>de</strong> 70.<<strong>br</strong> />
3.2 Eletrônicos e Comod<strong>ida</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
Vendas e lucros em ráp<strong>ida</strong> expansão. Televisores, vf-<<strong>br</strong> />
dio-cassetes, stereo, discos, refrigeradores, ar condi-<<strong>br</strong> />
cionado, etc. Maior participação da família <strong>no</strong> traba-<<strong>br</strong> />
lho doméstico.<<strong>br</strong> />
3.3 Fast Food e Diversões<<strong>br</strong> />
Com<strong>ida</strong>s Congeladas. Refeições fora <strong>de</strong> casa. Fitas e<<strong>br</strong> />
discos, fotos, etc. Música, teatro, etc.<<strong>br</strong> />
3.4 Material <strong>para</strong> Embalagem<<strong>br</strong> />
Matérias plásticas e produtos <strong>para</strong> embalagem<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vido ao crescimento da renda.<<strong>br</strong> />
3.5 Extrativa Mineral<<strong>br</strong> />
Foi o setor que mais cresceu na última década. Pagos<<strong>br</strong> />
os custos <strong>de</strong> prospecção, a receita e os lucros da ex-<<strong>br</strong> />
ploração são exponenciais.<<strong>br</strong> />
4. AS TRADICIONAIS<<strong>br</strong> />
4.1 Alimentos e Beb<strong>ida</strong>s<<strong>br</strong> />
Consumo <strong>de</strong> alimentos proteicos crescendo 5% a 7%<<strong>br</strong> />
acima do crescimento da população. Maior consumo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> proteínas animais. Maior participação do frango na<<strong>br</strong> />
oferta <strong>de</strong> carnes. Consumo <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>ntes crescendo<<strong>br</strong> />
na média da PEA. Consumo <strong>de</strong> beb<strong>ida</strong>s quentes (ex-<<strong>br</strong> />
aguar<strong>de</strong>nte) crescendo 6% acima da PEA. Refrige-<<strong>br</strong> />
rantes, cervejas e sucos em expansão acelerada.<<strong>br</strong> />
4.2 Vestuário e Têxteis<<strong>br</strong> />
Crescimento médio <strong>de</strong> acordo com a média histórica.<<strong>br</strong> />
4.3 Metalúrgico<<strong>br</strong> />
Mantendo a correlação com o PIB dos últimos 16<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s.<<strong>br</strong> />
5. BENS DE CAPITAL<<strong>br</strong> />
Crescendo acima dos valores apresentados na tabela<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> correlação com o PIB.<<strong>br</strong> />
iO^O 05<<strong>br</strong> />
^OSH^^
InfommOvo DMdm Externa n'27<<strong>br</strong> />
O MUNDO EM BLOCOS<<strong>br</strong> />
Nova or<strong>de</strong>m econômica mtenmcional marginaliza o terceiro mundo<<strong>br</strong> />
u m dos temas mais comentados<<strong>br</strong> />
na eco<strong>no</strong>mia mundial é a formação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s blocos econômicos. O que<<strong>br</strong> />
são estes blocos, qual sua relação com<<strong>br</strong> />
a div<strong>ida</strong> externa, quais as conseqüências<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> os países do Terceiro Mundo?<<strong>br</strong> />
1 • A formação dos blocos<<strong>br</strong> />
Diz-se que a velha eco<strong>no</strong>mia interna-<<strong>br</strong> />
cional está morta. A força econômica está<<strong>br</strong> />
na movimentação da moeda, do dinheiro.<<strong>br</strong> />
Os mercados ten<strong>de</strong>m a ser regionais e glo-<<strong>br</strong> />
bais, não centralmente nacionais. Os Esta-<<strong>br</strong> />
dos Unidos ainda são a gran<strong>de</strong> e maior po-<<strong>br</strong> />
tência econômica. São o primeiro <strong>de</strong>vedor<<strong>br</strong> />
na história financeira cuja div<strong>ida</strong> <strong>de</strong>verá<<strong>br</strong> />
ser paga em sua própria moeda. Em 1989,<<strong>br</strong> />
o Produto Inter<strong>no</strong> Bruto (PIB) dos EUA<<strong>br</strong> />
foi <strong>de</strong> 5,1 trilhões <strong>de</strong> dólares. O PIB das<<strong>br</strong> />
duas Alemanhas chegou a 1,5 trilhões <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
dólares. Tudo indica que estão se forman-<<strong>br</strong> />
do (rês gran<strong>de</strong>s blocos econômicos entre<<strong>br</strong> />
os países ricos. O primeiro comandado pe-<<strong>br</strong> />
los ELA e Canadá, buscando controlar e<<strong>br</strong> />
integrar os mercados do México e da Amé-<<strong>br</strong> />
rica do Sul. O segundo gran<strong>de</strong> bloco (tal-<<strong>br</strong> />
vez o maior se dá na união européia, que<<strong>br</strong> />
pre<strong>para</strong> sua unificação econômica <strong>para</strong> o<<strong>br</strong> />
dia 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1992. Um aconteci-<<strong>br</strong> />
mento que, na prática, significa a criação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> um gigantesco mercado <strong>de</strong> 320 milhões<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> consumidores — ultrapassando em 100<<strong>br</strong> />
milhões o america<strong>no</strong>. Um terceiro bloco é<<strong>br</strong> />
formado pelo Japão, Coréia, Austrália,<<strong>br</strong> />
Hong-Kong, Filipinas. Os japoneses, por<<strong>br</strong> />
exemplo, tem seu potencial econômico ba-<<strong>br</strong> />
seado na exportação. O Japão obteve <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
últimos quatro a<strong>no</strong>s a maior taxa <strong>de</strong> cresci-<<strong>br</strong> />
mento do produto nacional, com<strong>para</strong>do<<strong>br</strong> />
com a Europa e os Estados Unidos. Só os<<strong>br</strong> />
japoneses têm 66 bilhões <strong>de</strong> dólares aplica-<<strong>br</strong> />
dos em investimentos diretos <strong>no</strong>s EUA.<<strong>br</strong> />
São investimentos na área eletrônica, auto-<<strong>br</strong> />
móveis, comunicações, etc.<<strong>br</strong> />
Acompanha a formação <strong>de</strong>stes gran<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
blocos econômicos, a transferência dos ne-<<strong>br</strong> />
gócios que, <strong>de</strong> multinacionais, passaram a<<strong>br</strong> />
ser transnacionais. A multinacional tradi-<<strong>br</strong> />
cional, inventada na meta<strong>de</strong> do século <strong>de</strong>ze-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>ve por industriais alemães e america<strong>no</strong>s,<<strong>br</strong> />
é formada por uma companhia matriz com<<strong>br</strong> />
filiais <strong>no</strong> exterior. A matriz planejava e fa-<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>icava <strong>para</strong> o mercado doméstico. As fi-<<strong>br</strong> />
liais não faziam projetos, fa<strong>br</strong>icavam local-<<strong>br</strong> />
mente os produtos que a matriz projetava<<strong>br</strong> />
e os vendiam em seus próprios mercados.<<strong>br</strong> />
Na empresa transnacional, o planejamen-<<strong>br</strong> />
to po<strong>de</strong> ser efetuado em qualquer lugar<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ntro do sistema. Por exemplo, uma gran-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> indústria farmacêutica fa<strong>br</strong>ica e ven<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
remédios em 164 países, mas todo o seu tra-<<strong>br</strong> />
balho <strong>de</strong> fermentação é realizado em uma<<strong>br</strong> />
só fá<strong>br</strong>ica, na Irlanda. Seus laboratórios<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> pesquisa se localizam em seis países dife-<<strong>br</strong> />
rentes.<<strong>br</strong> />
Ou seja, gran<strong>de</strong>s grupos econômicos<<strong>br</strong> />
transnacionais passam a concentrar e domi-<<strong>br</strong> />
nar mercados, tec<strong>no</strong>logias, pesquisas e, o<<strong>br</strong> />
que é mais importante, o lucro, fluxo do<<strong>br</strong> />
dinheiro. Neste sentido os blocos econômi-<<strong>br</strong> />
cos servem muito bem <strong>para</strong> garantia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mercado, protege-se das crises econômicas<<strong>br</strong> />
mundiais, <strong>de</strong>,5egurança <strong>no</strong> abastecimento<<strong>br</strong> />
— principalmente alimentar. Então, já po-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>-se raciocinar em termos <strong>de</strong> blocos econp -<<strong>br</strong> />
micos e sua interligação através das empre-<<strong>br</strong> />
sas transnacionais. Matéria prima e mão-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a barata já não são mais os fatores<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminantes dos investimentos e contro-<<strong>br</strong> />
le do mercado. O domínio da tec<strong>no</strong>logia<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> ponta e a capac<strong>ida</strong><strong>de</strong> administrativa é<<strong>br</strong> />
que estão dando os rumos da eco<strong>no</strong>mi"<<strong>br</strong> />
mundial.<<strong>br</strong> />
2. E o Brasil ?<<strong>br</strong> />
A história econômica do Brasil, em espe-<<strong>br</strong> />
cial dos seus últimos gover<strong>no</strong>s, tem <strong>de</strong>mons-<<strong>br</strong> />
trado políticas extremamente limitadas e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Des<strong>de</strong> os tempos do <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>i-<<strong>br</strong> />
mento do Brasil que os gover<strong>no</strong>s vem reco-<<strong>br</strong> />
nhecendo a dív<strong>ida</strong> externa e implementan-<<strong>br</strong> />
do mo<strong>de</strong>los econômicos <strong>para</strong> tentar pagar<<strong>br</strong> />
os juros. Nos últimos gover<strong>no</strong>s (1964 <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
cá) esta estratégia tem se intensificado. O<<strong>br</strong> />
centro <strong>de</strong>stas estratégias era integrar « (ou<<strong>br</strong> />
entregar-se) à lógica da eco<strong>no</strong>mia interna-<<strong>br</strong> />
cional, seguindo receitas e regras impostas<<strong>br</strong> />
pelos gover<strong>no</strong>s, dos países ricos e gran<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
grupos econômicos e financeiros. Como<<strong>br</strong> />
uma das graves conseqüências <strong>de</strong>stes mo<strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
los foi o aumento dos <strong>de</strong>sequiU<strong>br</strong>ios inter-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s, aumentando as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<<strong>br</strong> />
e os problemas básicos da maioria da popu-<<strong>br</strong> />
lação.<<strong>br</strong> />
Na verda<strong>de</strong> estes mo<strong>de</strong>los não protege-<<strong>br</strong> />
ram a eco<strong>no</strong>mia <strong>br</strong>asileira, tornaram-na<<strong>br</strong> />
mais vulnerável, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Não resolve-<<strong>br</strong> />
ram os problemas inter<strong>no</strong>s e muito me<strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
a problemática do endiv<strong>ida</strong>mento exter<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
O grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> políticas econômi-<<strong>br</strong> />
cas internas ficou bastante reduzido. Bas-<<strong>br</strong> />
ta observar o atual gover<strong>no</strong> e a continu<strong>ida</strong>-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> da subordinação ao FMI. Nos últimos<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s, foram aplicados três linhas básicas:<<strong>br</strong> />
a substituição das importações, a promo-<<strong>br</strong> />
ção <strong>de</strong> exportações e a entrada <strong>de</strong> recursos<<strong>br</strong> />
financeiros exter<strong>no</strong>s. Ou seja, produzir<<strong>br</strong> />
mais internamente, exportar mais e buscar<<strong>br</strong> />
dinheiro <strong>de</strong> fora (endiv<strong>ida</strong>r-se). Evi<strong>de</strong>nte-<<strong>br</strong> />
mente que <strong>para</strong> cada situação havia um dis-<<strong>br</strong> />
curso e justificativas "coerentes" e, aponta-<<strong>br</strong> />
vam <strong>para</strong> o "enriquecimento e fortaleci-<<strong>br</strong> />
mento" do Brasil potência. Em síntese, a<<strong>br</strong> />
fórmula adotada foi a mo<strong>de</strong>rnização sem<<strong>br</strong> />
alterar as estruturas (econômico, po<strong>de</strong>r),<<strong>br</strong> />
abertura da eco<strong>no</strong>mia <strong>para</strong> o capital estran-<<strong>br</strong> />
geiro, <strong>de</strong>pendência da eco<strong>no</strong>mia internacio-<<strong>br</strong> />
nal, aumento da dív<strong>ida</strong> externa e agrava-<<strong>br</strong> />
mento <strong>de</strong> estruturas aberrantes <strong>de</strong> riqueza,<<strong>br</strong> />
renda e po<strong>de</strong>r.<<strong>br</strong> />
3. A Internacionalização<<strong>br</strong> />
O Brasil tem uma das mais internaciona-<<strong>br</strong> />
lizadas eco<strong>no</strong>mias do mundo. E um dos<<strong>br</strong> />
países com mais elevado grau <strong>de</strong> inserção<<strong>br</strong> />
econômica internacional. Dizer que a eco-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>mia <strong>br</strong>asileira necessita <strong>de</strong> uma maior<<strong>br</strong> />
abertura não tem sentido. A história econô-<<strong>br</strong> />
mica <strong>br</strong>asileira mostra claramente dois as-<<strong>br</strong> />
pectos importantes. Primeiro, o capital es-<<strong>br</strong> />
trangeiro sempre esteve presente <strong>no</strong> Brasil<<strong>br</strong> />
nas diferentes fases do processo <strong>de</strong> cresci-<<strong>br</strong> />
mento econômico. Segundo, os gover<strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileiros sempre tiveram uma política li-<<strong>br</strong> />
beral com relação ao capital estrangeiro,<<strong>br</strong> />
com tratamento privüegiado. A atual Cons-<<strong>br</strong> />
tituição fe<strong>de</strong>ral, artigo 176. resguarda a<<strong>br</strong> />
pesquisa e lavra <strong>de</strong> recursos naturais que<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ve ser feita por empresas <strong>br</strong>asileiras <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
capital nacional e a reserva <strong>de</strong> mercado<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> setor da informática. Os dados da tabe-<<strong>br</strong> />
la 1 mostram claramente que o Brasil tem<<strong>br</strong> />
uma das mais internacionalizadas eco<strong>no</strong>-<<strong>br</strong> />
mias do mundo. As empresas transnacio-<<strong>br</strong> />
nais participam em 32% da produção e 23%<<strong>br</strong> />
do emprego na indústria <strong>de</strong> transformação<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> Brasil (fá<strong>br</strong>icas <strong>de</strong>automóveis, eletrodo-<<strong>br</strong> />
mésticos, etc). Este percentual só é supera-<<strong>br</strong> />
do, <strong>no</strong> caso dos países <strong>de</strong>senvolvidos, pela<<strong>br</strong> />
Bélgica e pelo Canadá.
Quinzena<<strong>br</strong> />
PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DE<<strong>br</strong> />
EMPRESAS TRANSNACIONAIS<<strong>br</strong> />
NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO:<<strong>br</strong> />
PAlSES SELECIONADOS<<strong>br</strong> />
Produção Emprego<<strong>br</strong> />
Austrália 28.7 23.6<<strong>br</strong> />
Áustria 22.7 21.8<<strong>br</strong> />
Bélgica 44.0 38.0<<strong>br</strong> />
Canadá 56.6 4A.3<<strong>br</strong> />
Dinamarca 8.8 n.d<<strong>br</strong> />
Finlândia 2.7 3.3<<strong>br</strong> />
Itália 23.8 18.3<<strong>br</strong> />
Noruega 10.4 6.7<<strong>br</strong> />
Espanha 11.2 n.d<<strong>br</strong> />
Suécia 7.3 5.7<<strong>br</strong> />
Grã-Bretanha 21.2 13.9<<strong>br</strong> />
França 27.8 19.0<<strong>br</strong> />
Alemanha 21.7 16.8<<strong>br</strong> />
Japão 4.2 1.8<<strong>br</strong> />
Estados Unidos 11.5 7.3<<strong>br</strong> />
Atla<<strong>br</strong> />
Hong-Kong 13.9 9.8<<strong>br</strong> />
índia 7.0 13.0<<strong>br</strong> />
Coréia do Sul 19.3 9.5<<strong>br</strong> />
Malásia 44.0 19.7<<strong>br</strong> />
Filipinas n.d 8.6<<strong>br</strong> />
Cingapura 62.9 54.6<<strong>br</strong> />
Formosa n.d 16.7<<strong>br</strong> />
América Latina<<strong>br</strong> />
Argentina 29.4 18.9<<strong>br</strong> />
BRASIL 32.0 23.0<<strong>br</strong> />
Chile 28.0 n.d<<strong>br</strong> />
Colômbia 29.0 n.d<<strong>br</strong> />
México 270 21.0<<strong>br</strong> />
Peru 25-2 13-5<<strong>br</strong> />
Uruguai 11-5 n.d<<strong>br</strong> />
Venezuela 35.9 n.d<<strong>br</strong> />
FONTES: UNCTC (1988) Tabela X.1 e Safarian<<strong>br</strong> />
(1983) Tabela 2.<<strong>br</strong> />
NOTAS: Os -dados referem-se, na maior parte<<strong>br</strong> />
dos casos, ao final dos a<strong>no</strong>s 70. (n.d) não dispo-<<strong>br</strong> />
nfv«l.<<strong>br</strong> />
Com<strong>para</strong>ndo ainda o Brasil com os Esta-<<strong>br</strong> />
dos Unidos, os dados da tabela 2, referen-<<strong>br</strong> />
tes à participação das multinacionais <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
emprego, indicam que <strong>no</strong> setor da minera-<<strong>br</strong> />
ção têm uma importância relativa maior<<strong>br</strong> />
do que as multinacionais atuando neste<<strong>br</strong> />
mesmo setor <strong>no</strong>s EUA. No conjunto, cons-<<strong>br</strong> />
tata-se, que a participação <strong>de</strong>stas empresas<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> emprego total é maior <strong>no</strong> Brasil.<<strong>br</strong> />
Participação Percentuai <strong>de</strong> Emoresas Transnacionais<<strong>br</strong> />
No Emprego <strong>no</strong> Brasil e Nos Estados Unidos<<strong>br</strong> />
(Eicluindo d setor <strong>de</strong> bancos comerciais) (a)<<strong>br</strong> />
Brasil EUA<<strong>br</strong> />
Industria <strong>de</strong> Translormaçáo 23.0 7,0<<strong>br</strong> />
Mineração 11,0 6.4<<strong>br</strong> />
Agricultura e Pecuária 1.7 1,0<<strong>br</strong> />
Transporte 1.4 2,6<<strong>br</strong> />
Comércio 1.4 3,6<<strong>br</strong> />
Construção 4.3 0,8<<strong>br</strong> />
Serviços 2,2 u<<strong>br</strong> />
total *m 36<<strong>br</strong> />
NOTAS;<<strong>br</strong> />
(ai Os dados não são perfeitamente comparáveis<<strong>br</strong> />
visto que <strong>para</strong> os EUA tomou-se o universo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
empresas, enquanto que <strong>para</strong> o Brasil os dados<<strong>br</strong> />
referentes ao conjunto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas.<<strong>br</strong> />
(b) Média pon<strong>de</strong>rada. Supõe-se que a indústria <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
transformação participa em 16.0% <strong>no</strong> pessoal<<strong>br</strong> />
ocupado.<<strong>br</strong> />
Supõe-se também uma participação <strong>de</strong> 16% pa-<<strong>br</strong> />
ra o conjunto <strong>de</strong> todos os outros setores men-<<strong>br</strong> />
cionados, exceto agricultura e agropecuária.<<strong>br</strong> />
Utilizando os pesos acima e supondo ainda<<strong>br</strong> />
uma participação média <strong>de</strong> ETs <strong>de</strong> 2.0% <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
setores mencionados e uma participação nula<<strong>br</strong> />
na agricultura e agropecuária, chegamos a 4.0%<<strong>br</strong> />
(0.16X23.0 + 0.16X2.0).<<strong>br</strong> />
Em termos <strong>de</strong> perspectivas po<strong>de</strong>-se apon-<<strong>br</strong> />
tar dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s investimentos<<strong>br</strong> />
estrangeiros <strong>no</strong> Brasil, enquanto durar a<<strong>br</strong> />
crise econômica que gera riscos, incertezas.<<strong>br</strong> />
As multinacionais estão mostrando uma<<strong>br</strong> />
tendência <strong>de</strong> utilização crescente <strong>de</strong> fundos<<strong>br</strong> />
gerados <strong>no</strong> país on<strong>de</strong> já estão instalados.<<strong>br</strong> />
Isto significa uma maior remessa <strong>de</strong> lucros<<strong>br</strong> />
do que entradas <strong>de</strong> investimentos. Em se-<<strong>br</strong> />
gundo lugar, é possível que sejam altera-<<strong>br</strong> />
das algumas <strong>no</strong>rmas e políticas administra-<<strong>br</strong> />
•'vas que regulam a presença da empresa<<strong>br</strong> />
estrangeira. Terceiro, <strong>de</strong>verá ocorrer algum<<strong>br</strong> />
tipo <strong>de</strong> liberalização gradual a nível seto-<<strong>br</strong> />
rial. Na indústria <strong>de</strong> transformação o pri-<<strong>br</strong> />
meiro alvo é a informática. No setor <strong>de</strong> ser-<<strong>br</strong> />
viços <strong>de</strong>verá ocorrer mudança na área fi-<<strong>br</strong> />
nanceira, bem como na construção pesa-<<strong>br</strong> />
da e montagem industrial. O <strong>de</strong>terminan-<<strong>br</strong> />
te mais importante <strong>de</strong>verá ser a pressão exer-<<strong>br</strong> />
c<strong>ida</strong> pelo gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> <strong>no</strong> con-<<strong>br</strong> />
texto da dív<strong>ida</strong> externa, protecionismo e<<strong>br</strong> />
reserva <strong>de</strong> mercado.<<strong>br</strong> />
4. Dív<strong>ida</strong> Externa é<<strong>br</strong> />
mecanismo <strong>de</strong> pressão<<strong>br</strong> />
Mais uma vez a dív<strong>ida</strong> externa é usada<<strong>br</strong> />
como mecanismo <strong>de</strong> pressão e po<strong>de</strong>r políti-<<strong>br</strong> />
co <strong>para</strong> intervir nas eco<strong>no</strong>mias dos países<<strong>br</strong> />
endiv<strong>ida</strong>dos. É na América do Sul que os<<strong>br</strong> />
Estados Unidos têm hoje condições <strong>de</strong> com-<<strong>br</strong> />
petir com mais vantagem contra os Euro-<<strong>br</strong> />
peus e os Japoneses. Mas há um gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
obstáculo: os mercados da América do Sul<<strong>br</strong> />
per<strong>de</strong>ram sua capac<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comprar, ato-<<strong>br</strong> />
lados <strong>no</strong>s encargos da dív<strong>ida</strong> externa. Gran-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>s exportadores <strong>para</strong> a América do Sul,<<strong>br</strong> />
os Estados Unidos são também seus gran-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>s credores (tem muito a receber). Há,<<strong>br</strong> />
pois, um impasse e há crise econômica.<<strong>br</strong> />
São as contradições, talvez, do próprio<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> endiv<strong>ida</strong>mento exter<strong>no</strong> impos-<<strong>br</strong> />
to pelos países e pelos banqueiros ricos.<<strong>br</strong> />
Evi<strong>de</strong>ntemente contando com a "ajuda"<<strong>br</strong> />
dos <strong>no</strong>ssos gover<strong>no</strong>s que vêm trabalhando<<strong>br</strong> />
com mo<strong>de</strong>los agroexportadores, com arro-<<strong>br</strong> />
cho salarial, corte do consumo, etc.<<strong>br</strong> />
Na hora em que a Europa investe <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Leste Europeu, se unifica, que os EUA<<strong>br</strong> />
buscam a América do Sul como gran<strong>de</strong> re-<<strong>br</strong> />
serva <strong>de</strong> mercado. Mas <strong>para</strong> criar estas con-<<strong>br</strong> />
dições <strong>para</strong> os EUA é preciso eliminar obs-<<strong>br</strong> />
táculos. E o gran<strong>de</strong> obstáculo hoje é a dívi-<<strong>br</strong> />
da externa, esta é a real<strong>ida</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
A eco<strong>no</strong>mia <strong>br</strong>asileira é uma das mais<<strong>br</strong> />
internacionalizadas, mais po<strong>br</strong>es e com<<strong>br</strong> />
uma das maiores dív<strong>ida</strong>s externas. Conti-<<strong>br</strong> />
nuar com mo<strong>de</strong>los econômicos <strong>volta</strong>dos<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o pagamento dos juros da dív<strong>ida</strong>, sem<<strong>br</strong> />
proteger e estimular a eco<strong>no</strong>mia nacional,<<strong>br</strong> />
só ten<strong>de</strong> a agravar as condições <strong>de</strong> v<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
do povo <strong>br</strong>asileiro. A tendência é que com<<strong>br</strong> />
a "liberalização comercial" entre as e<strong>no</strong>r-<<strong>br</strong> />
mes empresas multinacionais e as fracas<<strong>br</strong> />
empresas da América Latina, ocorra o en-<<strong>br</strong> />
fraquecimento e/ou <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong>s-<<strong>br</strong> />
sas últimas e o domínio completo do merca-<<strong>br</strong> />
do regional pelos EUA, que dificultaria a<<strong>br</strong> />
penetração dos produtos europeus e japo-<<strong>br</strong> />
neses, recuperando um espaço comercial.<<strong>br</strong> />
Enquanto isso, os gran<strong>de</strong>s blocos avançam.<<strong>br</strong> />
.. O gover<strong>no</strong> <strong>br</strong>asileiro tenta pagar os ju-<<strong>br</strong> />
ros da dív<strong>ida</strong> externa... Ou, quem sabe,<<strong>br</strong> />
em troca <strong>de</strong> alguma "negociação", a<strong>br</strong>ir<<strong>br</strong> />
os port»s <strong>de</strong>finitivamente <strong>para</strong> o capital<<strong>br</strong> />
dos EUA.<<strong>br</strong> />
Rolf Hacbarth, eco<strong>no</strong>mista (DESER)<<strong>br</strong> />
Relatório Reservado - 14.10.90<<strong>br</strong> />
Gover<strong>no</strong> tem recursos<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> <strong>no</strong>vas<<strong>br</strong> />
tec<strong>no</strong>logias<<strong>br</strong> />
Isabel Pacheco<<strong>br</strong> />
Não é história da carochinha: as agên^<<strong>br</strong> />
cias <strong>de</strong> fomento têm dinheiro farto e <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
manda escassa <strong>para</strong> investimentos em<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>rnização tec<strong>no</strong>lógica. Em relação à<<strong>br</strong> />
expansão industrial, ocorre o inverso: o di-<<strong>br</strong> />
nheiro é sempre escasso <strong>para</strong> o volume<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda.<<strong>br</strong> />
Para Antônio dos Santos Maciel, diretor<<strong>br</strong> />
adjunto do Departamento <strong>de</strong> Indústria e<<strong>br</strong> />
Comércio do Ministério da Eco<strong>no</strong>mia, a<<strong>br</strong> />
eco<strong>no</strong>mia fechada, a pequena competitivi-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong> e a ausência <strong>de</strong> uma "cultura tec<strong>no</strong>-<<strong>br</strong> />
lógica" contribuíram <strong>para</strong> causar essa<<strong>br</strong> />
distorção. No Brasil, aplicações em ciência<<strong>br</strong> />
e tec<strong>no</strong>logia sempre foram <strong>de</strong> competência<<strong>br</strong> />
do Estado: em 1989, o total <strong>de</strong>stinado a<<strong>br</strong> />
esse fim alcançou US$ 1,874 bilhões, dos<<strong>br</strong> />
quais US$ 1,414 bilhões saíram do Orça-<<strong>br</strong> />
mento da União, US$ 200 milhões das<<strong>br</strong> />
estatais (meta<strong>de</strong> disso veio da Petro<strong>br</strong>ás),<<strong>br</strong> />
US$ 200 milhões <strong>de</strong> empresas privadas e<<strong>br</strong> />
os restantes US$ 60 milhões vieram <strong>de</strong> fi-<<strong>br</strong> />
nanciamentos. Ou seja, quase 90% das<<strong>br</strong> />
aplicações foram efetuados pela máquina<<strong>br</strong> />
estatal.<<strong>br</strong> />
Maciel garante que, com as <strong>no</strong>vas dire-<<strong>br</strong> />
trizes do gover<strong>no</strong>, essa situação erá se in-<<strong>br</strong> />
verter. Ele afirma ao Relatório Reservado<<strong>br</strong> />
que existem recursos disponíveis <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
qualquer empresa que tenha um bom pro-<<strong>br</strong> />
jeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e reestruturação.<<strong>br</strong> />
- O BNDES já tem várias linhas <strong>de</strong> fi-<<strong>br</strong> />
nanciamento direcionadas nesse sentido,<<strong>br</strong> />
com dinheiro à disposição.<<strong>br</strong> />
Disse Maciel que o gover<strong>no</strong> Coíor se-<<strong>br</strong> />
guirá 'o conceito mais mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> <strong>de</strong> estí-<<strong>br</strong> />
mulo à ciência e tec<strong>no</strong>logia, ampliando os<<strong>br</strong> />
financiamentos, a exemplo do que fazem<<strong>br</strong> />
países como Japão, Coréia e Itália". A<<strong>br</strong> />
meta é ampliar dos atuais US$ 60 milhões<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> US$ 1,5 bilhão (até 1995) o volume<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> financiamentos à iniciativa privada <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
aplicação em mo<strong>de</strong>rnização tec<strong>no</strong>lógica.<<strong>br</strong> />
As agências <strong>de</strong> fomento exigirão que a<<strong>br</strong> />
empresa utilize 30% <strong>de</strong> recursos próprios<<strong>br</strong> />
em relação ao valor total do projeto. A pre-
visão é <strong>de</strong> que a parcela <strong>de</strong>stinada a ciên-<<strong>br</strong> />
cia e tec<strong>no</strong>logia <strong>no</strong> Orçamento da União<<strong>br</strong> />
cresça em média 30% ao a<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
Novas linhas. Setores que geram tec-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> ponta, setores <strong>de</strong> exportação e<<strong>br</strong> />
projetos isolados tidos como <strong>de</strong> vanguarda<<strong>br</strong> />
foram <strong>de</strong>finidos pelo gover<strong>no</strong> como prioritá-<<strong>br</strong> />
rios <strong>para</strong> efeito <strong>de</strong> repasse <strong>de</strong> recursos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>stinados a mo<strong>de</strong>rnização tec<strong>no</strong>lógica,<<strong>br</strong> />
assim como aqueles que <strong>de</strong>senvolverem<<strong>br</strong> />
pesquisa cooperativa. Outras empresas<<strong>br</strong> />
que receberão incentivos serão aquelas<<strong>br</strong> />
que <strong>de</strong>cidirem estabelecer-se <strong>no</strong> exterior,<<strong>br</strong> />
em países <strong>de</strong>senvolvidos, capacitando-se<<strong>br</strong> />
a absorver tec<strong>no</strong>logia e trazê-la <strong>para</strong> o<<strong>br</strong> />
Brasil.<<strong>br</strong> />
Antônio Maciel revelou que, numa pri-<<strong>br</strong> />
meira reunião realizada pelo gover<strong>no</strong> com<<strong>br</strong> />
as agências <strong>de</strong> fomento (BNDES, Finep,<<strong>br</strong> />
Banco do Brasil, Basa e BNB), pô<strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
constatado que não havia nenhuma diretriz<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o setor. Cada agência seguia conduta<<strong>br</strong> />
própria e, em alguns casos, foi possível<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ntificar apoios diversos <strong>para</strong> uma mes-<<strong>br</strong> />
ma linha <strong>de</strong> projetos.<<strong>br</strong> />
Agora, ele acredita que o imperativo da<<strong>br</strong> />
competitiv<strong>ida</strong><strong>de</strong> e da eficiência o<strong>br</strong>igará as<<strong>br</strong> />
empresas a buscarem recursos. Conse-<<strong>br</strong> />
qüentemente, as agências governamentais<<strong>br</strong> />
terão maior entrosamento. O BNDES, por<<strong>br</strong> />
exemplo, já <strong>de</strong>finiu em seu <strong>no</strong>vo pla<strong>no</strong> es-<<strong>br</strong> />
tratégico linhas <strong>de</strong> financiamento <strong>para</strong> pro-<<strong>br</strong> />
gramas <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>togia <strong>de</strong> ponta, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sen-<<strong>br</strong> />
volvimento <strong>de</strong> produtos e <strong>de</strong> processos, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
reestruturação empresarial. As condições<<strong>br</strong> />
são as seguintes:<<strong>br</strong> />
• Programa <strong>de</strong> apoio ao setor <strong>de</strong> infor-<<strong>br</strong> />
mática (Proinfo) - taxa <strong>de</strong> juros <strong>de</strong> 8% ao<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>, prazo total <strong>de</strong> cinco a<strong>no</strong>s e 60% <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
participação máxima do BNDES <strong>no</strong> inves-<<strong>br</strong> />
timento (100% <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> univers<strong>ida</strong><strong>de</strong>s e<<strong>br</strong> />
centros <strong>de</strong> pesquisa).<<strong>br</strong> />
• Programa dos setores tec<strong>no</strong>lógicos<<strong>br</strong> />
Análise <strong>de</strong> Conjuntura<<strong>br</strong> />
13 <strong>de</strong> Ato» - NEP - 18.10.90<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> ponta - juros mínimos <strong>de</strong> 8% ao a<strong>no</strong>,<<strong>br</strong> />
prazo total <strong>de</strong> sete a<strong>no</strong>s e 60% <strong>de</strong> partici-<<strong>br</strong> />
pação do BNDES.<<strong>br</strong> />
• Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento Tec-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>lógico - 6% <strong>de</strong> juros, 10 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> prazo<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> pagamento e participação do BNDES<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> até 80%.<<strong>br</strong> />
• Programa <strong>de</strong> Re<strong>org</strong>anização e Auto-<<strong>br</strong> />
mação Industrial - 8% <strong>de</strong> juros ao a<strong>no</strong>,<<strong>br</strong> />
prazo total <strong>de</strong> sete a<strong>no</strong>s e 60% <strong>de</strong> partici-<<strong>br</strong> />
pação do BNDES <strong>no</strong> investimento.<<strong>br</strong> />
• Programa <strong>de</strong> Reestruturação Empre-<<strong>br</strong> />
sarial - juros anuais <strong>de</strong> 12%, seis a<strong>no</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
prazo total e 60% <strong>de</strong> participação máxima<<strong>br</strong> />
do BNDES.<<strong>br</strong> />
A Finep, ao contrário do BNDES, sem-<<strong>br</strong> />
pre teve um orçamento peque<strong>no</strong> e traba-<<strong>br</strong> />
lhou com excesso <strong>de</strong> procura. O objetivo<<strong>br</strong> />
do gover<strong>no</strong>, segundo o diretor adjunto do<<strong>br</strong> />
Departamento <strong>de</strong> Indústria e Comércio,<<strong>br</strong> />
é levar dos atuais US$ 50 milhões <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
US$ 915 milhões, até 1995, o orçamento<<strong>br</strong> />
da instituição.<<strong>br</strong> />
PESQUISA NO EXTERIOR<<strong>br</strong> />
1 A Absorção <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia avançada<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> exterior é um dos aspectos que colo-<<strong>br</strong> />
cam a empresa paulista Metal Leve na<<strong>br</strong> />
vanguarda nacional, <strong>de</strong> acordo com ava-<<strong>br</strong> />
liação do gover<strong>no</strong>. A empresa mantém em<<strong>br</strong> />
funcionamento, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1978, um centro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
tec<strong>no</strong>logia, com pessoal especializado em<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> peças <strong>para</strong> motores.<<strong>br</strong> />
Em 1988, a necess<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso<<strong>br</strong> />
a tec<strong>no</strong>logias mais mo<strong>de</strong>rnas levou a Metal<<strong>br</strong> />
Leve a investir US$ 3 milhões em um<<strong>br</strong> />
posto avançado na Univers<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Michi-<<strong>br</strong> />
gan. Estados Unidos. No a<strong>no</strong> passado, em<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>va etapa, foi instalada uma fá<strong>br</strong>ica es-<<strong>br</strong> />
pecializada em pistões <strong>para</strong> motores diesel<<strong>br</strong> />
pesados <strong>no</strong> estado <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> da<<strong>br</strong> />
Carolina do Sul.<<strong>br</strong> />
U presi<strong>de</strong>nte da empresa, José Mindlin,<<strong>br</strong> />
A explosão e iminente<<strong>br</strong> />
A eco<strong>no</strong>mia <strong>br</strong>asileira está marca-<<strong>br</strong> />
da neste mês <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o por dois mo-<<strong>br</strong> />
vimentos mais importantes.<<strong>br</strong> />
O primeiro é a tentativa do gover-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> <strong>de</strong> apertar cada vez mais a política<<strong>br</strong> />
monetária. Quer dizer, diminuir ao<<strong>br</strong> />
máximo a quant<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dinheiro em<<strong>br</strong> />
circulação. O objetivo <strong>de</strong>sta política é<<strong>br</strong> />
o <strong>de</strong> segurar <strong>de</strong> qualquer jeito o au-<<strong>br</strong> />
mento dos índices <strong>de</strong> inflação, que re-<<strong>br</strong> />
sistem <strong>no</strong> nível <strong>de</strong> 12% ao mês. Esta<<strong>br</strong> />
política provoca uma terrível eleva-<<strong>br</strong> />
ção das taxas <strong>de</strong> juros, inviabilizando<<strong>br</strong> />
a tomada <strong>de</strong> empréstimos <strong>no</strong>s bancos<<strong>br</strong> />
por parte das empresas, com taxas<<strong>br</strong> />
reais <strong>de</strong> juros <strong>de</strong> quase 15% ao mês.<<strong>br</strong> />
É uma política <strong>de</strong>sesperada <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
manter as aparências <strong>de</strong> que o Pla<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Collor ainda existe. Na verda<strong>de</strong> este<<strong>br</strong> />
Pla<strong>no</strong> não existe mais, e <strong>no</strong> momento<<strong>br</strong> />
que se afrouxar esta política monetá-<<strong>br</strong> />
ria <strong>de</strong>bilói<strong>de</strong>, os índices inflacioná-<<strong>br</strong> />
rios explodirão <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo. O que os<<strong>br</strong> />
monetaristas que implantam esta po-<<strong>br</strong> />
lítica esperam é que a eco<strong>no</strong>mia entre<<strong>br</strong> />
em recessão <strong>para</strong> que o nível <strong>de</strong> pre-<<strong>br</strong> />
ços caia. O problema é que a eco<strong>no</strong>-<<strong>br</strong> />
mia real resiste a esta receita recesi-<<strong>br</strong> />
va. Mesmo com queda na produção,<<strong>br</strong> />
os aumentos <strong>de</strong> preços permanecem e<<strong>br</strong> />
o setor real so<strong>br</strong>evive sem a gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
que<strong>br</strong>a<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>sejada pelo gover<strong>no</strong>. A<<strong>br</strong> />
eco<strong>no</strong>mia também resiste a uma<<strong>br</strong> />
abertura maior do comércio exterior.<<strong>br</strong> />
disse ao 'Relatório Reservado" que sua<<strong>br</strong> />
experiência vem sendo bem-suced<strong>ida</strong> e<<strong>br</strong> />
que, passadas as atuais dificulda<strong>de</strong>s con-<<strong>br</strong> />
junturais do país, a mesma estratégia será<<strong>br</strong> />
aplcada em países europeus.<<strong>br</strong> />
A fá<strong>br</strong>ica paulista está atualmente ex-<<strong>br</strong> />
portando tec<strong>no</strong>logia <strong>para</strong> a filial dos Esta-<<strong>br</strong> />
dos Unidos. O centro <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> Mi-<<strong>br</strong> />
chigan, <strong>no</strong> momento, pesquisa e testa di-<<strong>br</strong> />
versos projetos que, se aprovados comer-<<strong>br</strong> />
cialmente, terão também tec<strong>no</strong>logia trans-<<strong>br</strong> />
fer<strong>ida</strong> <strong>para</strong> o Brasil. A Metal Leve é, atual-<<strong>br</strong> />
mente, a única empresa <strong>br</strong>asileira <strong>de</strong> auto-<<strong>br</strong> />
peças que se instalou <strong>no</strong> exterior <strong>para</strong> ab-<<strong>br</strong> />
sorver tec<strong>no</strong>logia avançada.<<strong>br</strong> />
Laboratório <strong>de</strong> criação<<strong>br</strong> />
2 Trat>alho cooperativo, estrutura en-<<strong>br</strong> />
xuta, pessoal altamente qualificado. Esses<<strong>br</strong> />
são requisitos que qualificam a Fundação<<strong>br</strong> />
Brasileira <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> Sddagem co-<<strong>br</strong> />
mo exemplo do que o gover<strong>no</strong> preten<strong>de</strong> na<<strong>br</strong> />
área empresarial.<<strong>br</strong> />
A fundação foi criada em 1982, <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
mesmos mol<strong>de</strong>s do Welding Insttute, da<<strong>br</strong> />
Inglaterra, e do Instituto <strong>de</strong> Soldadura por-<<strong>br</strong> />
tuguês. Ent<strong>ida</strong><strong>de</strong> sem fins lucrativos, ela<<strong>br</strong> />
engloba hoje cerca <strong>de</strong> 100 empresas e en-<<strong>br</strong> />
t<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe, além da Petro<strong>br</strong>ás, e<<strong>br</strong> />
emprega não mais <strong>de</strong> 20 pessoas, a maior<<strong>br</strong> />
parte engenheiros com alto grau <strong>de</strong> espe-<<strong>br</strong> />
cialização em solda. Eles <strong>de</strong>senvolvem<<strong>br</strong> />
pesquisas <strong>para</strong> aten<strong>de</strong>r a nerfoss<strong>ida</strong><strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
específicas oas empresas participantes.<<strong>br</strong> />
' Um bom exemplo do resultado <strong>de</strong>ssas<<strong>br</strong> />
pesquisas ocorreu recentemente com um<<strong>br</strong> />
tipo <strong>de</strong> solda, aprovada em alto-mar, que<<strong>br</strong> />
resultou em consi<strong>de</strong>rável redução <strong>de</strong> cus-<<strong>br</strong> />
tos. Caso seja utilizada a <strong>no</strong>va jaqueta (e-<<strong>br</strong> />
lemento <strong>de</strong> sustentação dos módulos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
uma plataforma <strong>de</strong> perfuração <strong>de</strong> petróleo),<<strong>br</strong> />
a eco<strong>no</strong>mia <strong>de</strong> custos po<strong>de</strong>rá chegar a<<strong>br</strong> />
20%, segundo estimativas do <strong>no</strong>vo presi-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nte da fundação, José Luiz do Lago.<<strong>br</strong> />
Da parte da indústria a elevação das<<strong>br</strong> />
compras por mais máquinas, insumos<<strong>br</strong> />
e componentes não ocorre porque não<<strong>br</strong> />
existe uma ampliação da produção<<strong>br</strong> />
interna. Da parte dos consumidores,<<strong>br</strong> />
também a compra por produtos im-<<strong>br</strong> />
portados é limitada <strong>de</strong>vido a diminui-<<strong>br</strong> />
ção da renda pessoal e a, perspectiva<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego nas camadas impro-<<strong>br</strong> />
dutivas <strong>de</strong> altos salários. Nestas con-<<strong>br</strong> />
dições as importações não aumentam<<strong>br</strong> />
tanto quanto o gover<strong>no</strong> esperava, o<<strong>br</strong> />
que seria um fator <strong>de</strong> redução dos<<strong>br</strong> />
preços inter<strong>no</strong>s, através do aumento<<strong>br</strong> />
da concorrência dos produtos inter-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s frente aos produtos importados.<<strong>br</strong> />
E claro que se o gover<strong>no</strong> for capaz<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> manter esta política monetária por<<strong>br</strong> />
muito tempo — por mais 5 a 6 meses —<<strong>br</strong> />
a tendência seria uma recessão muito<<strong>br</strong> />
gran<strong>de</strong>. Mas o primeiro obstáculo a<<strong>br</strong> />
esta <strong>de</strong>terminação do gover<strong>no</strong> é que o<<strong>br</strong> />
sistema financeiro, os bancos e espe-<<strong>br</strong> />
culadores em geral teriam que que-
ar, em primeiro lugar. Quando esta<<strong>br</strong> />
possibil<strong>ida</strong><strong>de</strong> aparece concretamente,<<strong>br</strong> />
o gover<strong>no</strong> a<strong>br</strong>e as comportas e inter-<<strong>br</strong> />
rompe a política <strong>de</strong> aperto monetário.<<strong>br</strong> />
O segundo obstáculo a uma <strong>de</strong>mora-<<strong>br</strong> />
da e persistente política <strong>de</strong> aperto é<<strong>br</strong> />
que a eco<strong>no</strong>mia real não respon<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
com diminuição da produção, en-<<strong>br</strong> />
quanto pu<strong>de</strong>r exportar e elevar inter-<<strong>br</strong> />
namente seus preços. A eco<strong>no</strong>mia in-<<strong>br</strong> />
terna só entraria em uma gran<strong>de</strong> re-<<strong>br</strong> />
cessão se a eco<strong>no</strong>mia internacional<<strong>br</strong> />
entrar primeiro. Até agora, mesmo<<strong>br</strong> />
com sinais <strong>de</strong> crise, a eco<strong>no</strong>mia in-<<strong>br</strong> />
temacinal continua crescendo. O<<strong>br</strong> />
mais provável, nestas condições, é<<strong>br</strong> />
que a equipe econômica caia antes do<<strong>br</strong> />
que a inflação.<<strong>br</strong> />
O segundo movimento importante<<strong>br</strong> />
da eco<strong>no</strong>mia, neste mês <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o, é<<strong>br</strong> />
a violenta reação dos bancos interna-<<strong>br</strong> />
cionais à proposta <strong>br</strong>asileira <strong>de</strong> rene-<<strong>br</strong> />
gociação da dív<strong>ida</strong> externa. Collor ti-<<strong>br</strong> />
nha a ingenu<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> achar que, sen-<<strong>br</strong> />
do um presi<strong>de</strong>nte eleito e do agrado<<strong>br</strong> />
das forças conservadoras internacio-<<strong>br</strong> />
nais, fosse conseguir gran<strong>de</strong>s favores<<strong>br</strong> />
dos gover<strong>no</strong>s e grupos <strong>de</strong> interesses<<strong>br</strong> />
do capital internacional. Um <strong>de</strong>sses<<strong>br</strong> />
favores seria um tratamento diferente<<strong>br</strong> />
daquele dispensado aos militares e,<<strong>br</strong> />
posteriormente a Sarney, quanto ao<<strong>br</strong> />
pagamento da dív<strong>ida</strong> externa. Collor<<strong>br</strong> />
prorrogou o quanto po<strong>de</strong> a moratória<<strong>br</strong> />
real que já vinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Sarney - agosto <strong>de</strong> 1989 - quanto ao<<strong>br</strong> />
não pagamento dos juros da dív<strong>ida</strong>.<<strong>br</strong> />
Hoje o Brasil já tem mais <strong>de</strong> 8 bilhões<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> dólares atrasados, <strong>de</strong> juros exter-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s. Finalmente Collor colocou as<<strong>br</strong> />
cartas na mesa dos banqueiros inter-<<strong>br</strong> />
nacionais tentando um acordo. E cla-<<strong>br</strong> />
ro que as cartas não po<strong>de</strong>riam ser<<strong>br</strong> />
outras do que um calote, mesmo por-<<strong>br</strong> />
que o país não tem condições <strong>de</strong> pa-<<strong>br</strong> />
gar esta dív<strong>ida</strong>, nem mesmo os juros.<<strong>br</strong> />
Isto já sabíamos, e todo mundo sabia.<<strong>br</strong> />
liiii<<strong>br</strong> />
Folha <strong>de</strong> Sáo Paulo - 15.10.90<<strong>br</strong> />
O voto<<strong>br</strong> />
o<strong>br</strong>igatório<<strong>br</strong> />
Florestan Fernan<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
O voto é um direito político que<<strong>br</strong> />
carrega consigo o caráter imperativo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> um <strong>de</strong>ver (cívico e político). Se-<<strong>br</strong> />
gundo a Constituição <strong>de</strong> 1988, ele é<<strong>br</strong> />
o<strong>br</strong>igatório <strong>para</strong> os maiores <strong>de</strong> 18<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s e facultativo <strong>para</strong> os analfabetos,<<strong>br</strong> />
os maiores <strong>de</strong> 70 a<strong>no</strong>s, os maiores <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
há muito tempo. Mas as cartas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Collor são <strong>de</strong> tentar a oficialização, a<<strong>br</strong> />
ceitação formal dos banqueiros a esta<<strong>br</strong> />
incapac<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se pagar os juros da<<strong>br</strong> />
dív<strong>ida</strong>. Se o sistema capitalista inter-<<strong>br</strong> />
nacional fosse uma instituição <strong>de</strong> be-<<strong>br</strong> />
nemerência, a aceitação dos banquei-<<strong>br</strong> />
ros à moratória da eco<strong>no</strong>mia <strong>br</strong>asilei-<<strong>br</strong> />
ra até que po<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ria acontecer.<<strong>br</strong> />
Mas o sistema internacional está lon-<<strong>br</strong> />
ge <strong>de</strong> funcionar nestas bases. Ao<<strong>br</strong> />
contrário. Aqui o que se conta é ape-<<strong>br</strong> />
nas o som da moeda. Não interessa<<strong>br</strong> />
aos banqueiros que emprestaram di-<<strong>br</strong> />
nheiro ao Brasil se o Femandinho é<<strong>br</strong> />
neo-liberal, "mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>" e muito inte-<<strong>br</strong> />
ressado em liqu<strong>ida</strong>r a eco<strong>no</strong>mia do<<strong>br</strong> />
seu país <strong>para</strong> os capitalistas interna-<<strong>br</strong> />
cionais. Q que os banqueiros exigem<<strong>br</strong> />
é que o Femandinho se vire, não in-<<strong>br</strong> />
teressa como, e pague o que ele <strong>de</strong>ve.<<strong>br</strong> />
E que pague agora e <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> em-<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>omação do tipo incorporar os juros<<strong>br</strong> />
atrasados <strong>no</strong> principal da dív<strong>ida</strong> e<<strong>br</strong> />
trocar este principal dg. dív<strong>ida</strong> por<<strong>br</strong> />
títulos que só vão vencer daqui a 45<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s.<<strong>br</strong> />
A burguefia <strong>br</strong>asileira <strong>de</strong>ve estar<<strong>br</strong> />
pensando neste momento so<strong>br</strong>e o fun-<<strong>br</strong> />
cionamento real do sistema capita-<<strong>br</strong> />
lista. Por mais bonitinho e simpático<<strong>br</strong> />
que seja o presi<strong>de</strong>nte que as classes<<strong>br</strong> />
dominantes nacionais colocaram <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>r, os credores exter<strong>no</strong>s não se<<strong>br</strong> />
impressionam nem um pouquinho.<<strong>br</strong> />
Para os banqueiros e gover<strong>no</strong>s das<<strong>br</strong> />
eco<strong>no</strong>mias dominantes, não importa<<strong>br</strong> />
se o presi<strong>de</strong>nte seja Figueiredo, Sar-<<strong>br</strong> />
ney ou Collor. O que eles querem é<<strong>br</strong> />
que seus interesses particulares e na-<<strong>br</strong> />
cionais não sejam atingidos. Mesmo<<strong>br</strong> />
que estes interesses particulares sig-<<strong>br</strong> />
nifiquem a falência <strong>de</strong> eco<strong>no</strong>mias e<<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong>s mais do que dispostos a se<<strong>br</strong> />
curvar e lamber as botas do po<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />
imperial.<<strong>br</strong> />
PoUtiea Nacional<<strong>br</strong> />
16 e me<strong>no</strong>res <strong>de</strong> 18 a<strong>no</strong>s (art. 14).<<strong>br</strong> />
Atribui-se à o<strong>br</strong>igatorieda<strong>de</strong> do alis-<<strong>br</strong> />
tamento e do voto as altas taxas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
votos <strong>br</strong>ancos e nulos. Parece ev<strong>ida</strong>-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nte a falácia da suposição. Busca-se<<strong>br</strong> />
um bo<strong>de</strong> expiatório <strong>para</strong> algo que pos-<<strong>br</strong> />
sui razões circunstanciais e estruturais<<strong>br</strong> />
inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<<strong>br</strong> />
O que se ganha e quem ganha com<<strong>br</strong> />
a extinção imediata da o<strong>br</strong>igatorieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
do voto ? Aqueles que mantêm uma<<strong>br</strong> />
cultura <strong>de</strong> ig<strong>no</strong>rância secular <strong>de</strong>libe-<<strong>br</strong> />
rada e impe<strong>de</strong>m a prosper<strong>ida</strong><strong>de</strong> da<<strong>br</strong> />
educação popular já pularam na arena,<<strong>br</strong> />
fazendo essa exigência. No entanto, o<<strong>br</strong> />
voto o<strong>br</strong>igatório constitui um expe-<<strong>br</strong> />
diente pedagógico, <strong>para</strong> politizar mas-<<strong>br</strong> />
sas imensas, que não têm acesso à<<strong>br</strong> />
educação, à cultura cív<strong>ida</strong> e ao exer-<<strong>br</strong> />
cício dos direitos políticos na socie-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong> civil. Representa literalmente<<strong>br</strong> />
uma tentativa <strong>de</strong> difusão gradual da<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocracia <strong>de</strong> participação ampliada.<<strong>br</strong> />
Os <strong>de</strong>fensores do voto <strong>de</strong> "qual<strong>ida</strong>-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>", "responsável" e da <strong>de</strong>mocracia<<strong>br</strong> />
restrita são os seus antagonistas mais<<strong>br</strong> />
ferrenhos. E natural !<<strong>br</strong> />
Através <strong>de</strong> seus representantes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mais alto nível, a Justiça Eleitoral<<strong>br</strong> />
avalia a situação que se criou com as<<strong>br</strong> />
eleições <strong>de</strong> uma perspectiva catastró-<<strong>br</strong> />
fica. Chega-se a inquinar a legitimi-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong> da representação, dados os índi-<<strong>br</strong> />
ces baixíssimos <strong>de</strong> agregação <strong>de</strong> votos<<strong>br</strong> />
positivos. Todavia, o que fez a Justiça<<strong>br</strong> />
Eleitoral <strong>para</strong> evitar esse <strong>de</strong>sfecho ^<<strong>br</strong> />
Falei com muitos eleitores humil<strong>de</strong>s,<<strong>br</strong> />
que não sabiam preencher as cédulas.<<strong>br</strong> />
Ig<strong>no</strong>ravam, até que além do governa-<<strong>br</strong> />
dor e do senador também podiam es-<<strong>br</strong> />
colher dois <strong>de</strong>putados. Os "boquei-<<strong>br</strong> />
ros" assinalavam a intens<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sconhecimento <strong>no</strong> uso das cédulas.<<strong>br</strong> />
O que aponta um erro grave: a Justiça<<strong>br</strong> />
Eleitoral não esclareceu e orientou<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>v<strong>ida</strong>mente os eleitores. O mesmo<<strong>br</strong> />
equívoco foi repetido pelos partidos.<<strong>br</strong> />
Faltou-lhes sensibil<strong>ida</strong><strong>de</strong> ou boa von-<<strong>br</strong> />
ta<strong>de</strong> <strong>para</strong> ajudar os votantes a preen-<<strong>br</strong> />
cherem uma cédula elabora sob um<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong>digma complexo, suscetível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
provocar confusão e abstenção.<<strong>br</strong> />
Infere-se, agora, que há um pro-<<strong>br</strong> />
testo latente ou explícito na votação<<strong>br</strong> />
receb<strong>ida</strong> pelos políticos profissionais.<<strong>br</strong> />
Ora, sabíamos <strong>de</strong> antemão que existe<<strong>br</strong> />
um estado <strong>de</strong> rebelião entre vários<<strong>br</strong> />
setores da população, especialmente<<strong>br</strong> />
entre os mais ou me<strong>no</strong>s radicais da<<strong>br</strong> />
socieda<strong>de</strong> civil. Essa rebelião também<<strong>br</strong> />
atinge o gover<strong>no</strong>, as classes domi-<<strong>br</strong> />
nantes e as gran<strong>de</strong>s empresas estran-<<strong>br</strong> />
geiras. Mas seria difícil que ela se<<strong>br</strong> />
cristalizasse concentradamente na <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
cisão eleitoral. Se ela tomasse tais<<strong>br</strong> />
proporções, certamente se <strong>volta</strong>ria<<strong>br</strong> />
contra a or<strong>de</strong>m existente (não só dos<<strong>br</strong> />
políticos profissionais omissos ou cor-<<strong>br</strong> />
ruptos).<<strong>br</strong> />
Em termos sociológicos, toma-se<<strong>br</strong> />
impraticável extrair, só das votações<<strong>br</strong> />
negativas, o seu significado político<<strong>br</strong> />
A própria construção da cédulas, a in-<<strong>br</strong> />
diferença da Justiça Eleitoral e dos<<strong>br</strong> />
partidos em eluc<strong>ida</strong>r os eleitores, a<<strong>br</strong> />
pervers<strong>ida</strong><strong>de</strong> maior diante dos eleito-<<strong>br</strong> />
res analfabetos formam um amálgama<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> confusão que aparenta ter algo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
calculado. Sequer o tipo <strong>de</strong> protesto<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong> ser inferido claramente, dada a<<strong>br</strong> />
varieda<strong>de</strong> e o volume das formas co-<<strong>br</strong> />
nhec<strong>ida</strong>s <strong>de</strong> rejeição. Muitos votantes<<strong>br</strong> />
afirmavam que não tinham mais con-<<strong>br</strong> />
fiança em ninguém. Como isolar estas<<strong>br</strong> />
manifestações e, ao mesmo tempo,<<strong>br</strong> />
compatibilizá-las com a recuperação<<strong>br</strong> />
eleitoral dos piores figurões da ditadu-<<strong>br</strong> />
ra e da "Nova República".
Folha <strong>de</strong> Sáo Paulo - 17.10.90<<strong>br</strong> />
Lednck) Martins Rodrigues<<strong>br</strong> />
A avalanche <strong>de</strong> votos nulos e <strong>br</strong>ancos<<strong>br</strong> />
e os elevados fndices <strong>de</strong> abstenções na<<strong>br</strong> />
votação do dia 3 alarmou a classe política<<strong>br</strong> />
e os círculos mais influentes do pafs. O<<strong>br</strong> />
fato foi interpretado como uma forma <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
repúdio à classe política, que teria conse-<<strong>br</strong> />
qüências negativas <strong>para</strong> o regime <strong>de</strong>mo-<<strong>br</strong> />
crático. Seguramente, a alta proporção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
votos <strong>br</strong>ancos e nulos e <strong>de</strong> abstenção, do<<strong>br</strong> />
ponto <strong>de</strong> vista dos valores e objetivos <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
mocráticos, não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<<strong>br</strong> />
como algo positivo. Mas, talvez, as conse-<<strong>br</strong> />
qüências <strong>para</strong> a continu<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática<<strong>br</strong> />
não sejam as que, à primeira vista, o fato<<strong>br</strong> />
parece sugerir.<<strong>br</strong> />
Conviria, aqui, levar em conta dois as-<<strong>br</strong> />
pectos: o primeiro diz respeito às circuns-<<strong>br</strong> />
tâncias que po<strong>de</strong>riam ser entend<strong>ida</strong>s como<<strong>br</strong> />
atenuantes; o segundo diz respeito ao<<strong>br</strong> />
conjunto <strong>de</strong> fatores que favorecem a esta-<<strong>br</strong> />
bil<strong>ida</strong><strong>de</strong> dos regimes <strong>de</strong>mocráticos. No dia<<strong>br</strong> />
3, o eleitorado foi chamado às umas <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
pois do clímax político da disputa presi-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ncial do a<strong>no</strong> passado. Essa disputa não<<strong>br</strong> />
só foi a primeira, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> quase trinta<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s, realizada pelo voto direto, como<<strong>br</strong> />
também foi a primeira a utilizar o mecanis-<<strong>br</strong> />
mo do segundo tumo. A<strong>de</strong>mais, foi inten-<<strong>br</strong> />
samente concorr<strong>ida</strong>, colocando frente a<<strong>br</strong> />
frente dois cand<strong>ida</strong>tos e duas propostas<<strong>br</strong> />
antitéticas. A própria disputa presi<strong>de</strong>ncial<<strong>br</strong> />
já tinha sido a culminaçâo <strong>de</strong> segu<strong>ida</strong>s<<strong>br</strong> />
eleições. A repetição banaliza e <strong>de</strong>ssacra-<<strong>br</strong> />
liza o ato. Lem<strong>br</strong>emos que em outros paí-<<strong>br</strong> />
ses, <strong>de</strong> forte tradição <strong>de</strong>mocrática, como<<strong>br</strong> />
os EUA, os fndices <strong>de</strong> abstenção são sa-<<strong>br</strong> />
b<strong>ida</strong>mente elevados. Aqui, é forçoso reco-<<strong>br</strong> />
nhecer que a política é algo que, <strong>no</strong>rmal-<<strong>br</strong> />
mente, só interessa a um número reduzido<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> pessoas que têm alguma proxim<strong>ida</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
com os círculos dominantes e que têm al-<<strong>br</strong> />
guma possibil<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vir a ingressar na<<strong>br</strong> />
classe política, quer dizer, ao minúsculo<<strong>br</strong> />
segmento da população que participa da<<strong>br</strong> />
tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. São esses segmen-<<strong>br</strong> />
tos mi<strong>no</strong>ritários que, nas <strong>de</strong>mocracias, em<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminadas ocasiões, mobilizam a mas-<<strong>br</strong> />
sa <strong>de</strong> c<strong>ida</strong>dãos, procurando fazer com que<<strong>br</strong> />
ela participe, por um momento, do jogo po-<<strong>br</strong> />
lítico. O interesse comum, essencial, mas<<strong>br</strong> />
habitualmente não explicitado, dos mem-<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>os do conjunto da classe política é o <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
fazer crer que o povo govema através <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
la. Na verda<strong>de</strong>, a massa <strong>de</strong> eleitores sabe<<strong>br</strong> />
que não governa, mas não tem outra es-<<strong>br</strong> />
colha a não ser votar (ou não votar) <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
cand<strong>ida</strong>tos que os partidos (ou pseudopar-<<strong>br</strong> />
tidos) lhe apresentam. O jogo <strong>de</strong>mocrático<<strong>br</strong> />
é assim mesmo e parece melhor do que<<strong>br</strong> />
outros em que não há essa possibil<strong>ida</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Passemos ao segundo aspecto acima<<strong>br</strong> />
mencionado: quais são as conseqüências<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> elevados índices <strong>de</strong> abstenção e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
iííifSS<<strong>br</strong> />
Os nulos, os <strong>br</strong>mcos e as abstenções<<strong>br</strong> />
votos nulos e <strong>br</strong>ancos? Na med<strong>ida</strong> em que<<strong>br</strong> />
as principais camadas da população que<<strong>br</strong> />
acompanham mais <strong>de</strong> perto o jogo polftico<<strong>br</strong> />
e as elites que concorrem pelo po<strong>de</strong>r estão<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> acordo com relação às regras da dis-<<strong>br</strong> />
puta, os prejuízos <strong>para</strong> a estabil<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
mocrática não parecem graves. A <strong>de</strong>mo-<<strong>br</strong> />
cracia representativa fundamenta-se <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
jogo dos partidos, O que a <strong>de</strong>fine náo é a<<strong>br</strong> />
extensão e a intens<strong>ida</strong><strong>de</strong> da participação,<<strong>br</strong> />
mas o Estado <strong>de</strong> Direito, a garantia dos di-<<strong>br</strong> />
reitos individuais, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão<<strong>br</strong> />
etc. etc. A participação dos c<strong>ida</strong>dãos,<<strong>br</strong> />
através do voto, é um fator positivo na me-<<strong>br</strong> />
d<strong>ida</strong> em que confere maior legitim<strong>ida</strong><strong>de</strong> e,<<strong>br</strong> />
eventualmente, maior base <strong>de</strong> sustentação<<strong>br</strong> />
ao regime <strong>de</strong>mocrático. Mas a extensão<<strong>br</strong> />
ráp<strong>ida</strong> do direito <strong>de</strong> voto po<strong>de</strong> trazer o au-<<strong>br</strong> />
mento da corrupção, da incompetência, do<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sprezo pelas regras da competição etc.<<strong>br</strong> />
Em muitos casos, a ampliação da partici-<<strong>br</strong> />
pação po<strong>de</strong> constituir um fator <strong>de</strong> enfra-<<strong>br</strong> />
quecimento, até mesmo <strong>de</strong> solapamento<<strong>br</strong> />
da <strong>de</strong>mocracia, se ela se processa contra<<strong>br</strong> />
o sistema <strong>de</strong>mocrático. Conhecemos al-<<strong>br</strong> />
gumas situações como essas, quando se<<strong>br</strong> />
amplia <strong>de</strong> modo <strong>br</strong>usco o corpo eleitoral,<<strong>br</strong> />
quando se out<strong>org</strong>a o direito <strong>de</strong> voto a po-<<strong>br</strong> />
pulações extremamente carente que ne-<<strong>br</strong> />
cessitam <strong>de</strong> proteção vinda "<strong>de</strong> cima", e,<<strong>br</strong> />
principalmente, quando nessas circuns-<<strong>br</strong> />
tâncias surgem elites anti-sistemas dis-<<strong>br</strong> />
postas a canalizar a participação justa-<<strong>br</strong> />
mente <strong>para</strong> a <strong>de</strong>struição da <strong>de</strong>mocracia.<<strong>br</strong> />
No caso <strong>br</strong>asileiro, houve certamente al-<<strong>br</strong> />
gum esforço <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> aperfeiçoa-<<strong>br</strong> />
mento dos mecanismos <strong>de</strong> funcionamento<<strong>br</strong> />
das instituições <strong>de</strong>mocráticas (voto se-<<strong>br</strong> />
creto, cédula única, eliminação dos currais<<strong>br</strong> />
eleitorais, da compra <strong>de</strong> voto, tentativa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
minimizar a influência do fator dinheiro etc.)<<strong>br</strong> />
Mas esse esforço foi, em parte, contraria-<<strong>br</strong> />
do pelo rápido crescimento do eleitorado e<<strong>br</strong> />
pela ênfase out<strong>org</strong>ada à ampliação da par-<<strong>br</strong> />
ticipação: direito <strong>de</strong> voto ao analfabeto, aos<<strong>br</strong> />
adolescentes, o<strong>br</strong>igatorieda<strong>de</strong> do voto etc.<<strong>br</strong> />
Nas condições da socieda<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira, a<<strong>br</strong> />
Folha <strong>de</strong> Sáo Paulo -21.10.90<<strong>br</strong> />
ampSação do eleitorado significou o reoai-<<strong>br</strong> />
xamento do nível <strong>de</strong> informação e, como<<strong>br</strong> />
não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> acontecer, aumen-<<strong>br</strong> />
tou a distância entre a classe política e o<<strong>br</strong> />
corpo eleitoral. Conseqüentemente, au-<<strong>br</strong> />
mentou também a probabil<strong>ida</strong><strong>de</strong> dos votos<<strong>br</strong> />
nulos e <strong>br</strong>ancos e da abstenção. Nas con-<<strong>br</strong> />
dições especificas da transição <strong>de</strong>mocrá-<<strong>br</strong> />
tica <strong>br</strong>asileira, a sucessão <strong>de</strong> eleições,<<strong>br</strong> />
acompanhada das inevitáveis promessas<<strong>br</strong> />
que não po<strong>de</strong>m ser cumpr<strong>ida</strong>s, contribui<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> a <strong>de</strong>scrença na importância do voto.<<strong>br</strong> />
Nâo é um fenôme<strong>no</strong> catastrófico. As ten-<<strong>br</strong> />
dências contemporâneas vão nessa dire-<<strong>br</strong> />
ção <strong>no</strong>s países <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia consol<strong>ida</strong>-<<strong>br</strong> />
da. Não necessariamente isso significa um<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sinteresse pela política. Ao contrário.<<strong>br</strong> />
Po<strong>de</strong>-se mesmo consi<strong>de</strong>rar que, quanto<<strong>br</strong> />
mais firme o regime <strong>de</strong>mocrático, mais<<strong>br</strong> />
uma parte dos c<strong>ida</strong>dãos terá me<strong>no</strong>s inte-<<strong>br</strong> />
resse em exercer o direito <strong>de</strong> voto,<<strong>br</strong> />
Como <strong>no</strong>ta Inglehart, a participaçáo<<strong>br</strong> />
eleitoral e outras formas tradicionais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ativ<strong>ida</strong><strong>de</strong> política estimulada e controlada<<strong>br</strong> />
pelas li<strong>de</strong>ranças políticas ten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>cinar<<strong>br</strong> />
e ser substituídas por ações políticas não<<strong>br</strong> />
convencionais <strong>de</strong> pressão so<strong>br</strong>e as autori-<<strong>br</strong> />
da<strong>de</strong>s e so<strong>br</strong>e as elites políticas, Nem por<<strong>br</strong> />
isso a <strong>de</strong>mocracia <strong>de</strong>sses países parece<<strong>br</strong> />
correr riscos,<<strong>br</strong> />
Certamente, o Brasil não é exatamente<<strong>br</strong> />
um caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia consol<strong>ida</strong>da. Mas,<<strong>br</strong> />
com o fim dos regimes miítares e a crise<<strong>br</strong> />
terminal do socialismo, a polarização<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong>cli<strong>no</strong>u consi<strong>de</strong>ravelmente.<<strong>br</strong> />
Nenhuma força política relevante contesta<<strong>br</strong> />
hoje as regras das disputas <strong>de</strong>mocráticas.<<strong>br</strong> />
Convém, pois, enten<strong>de</strong>r os votos <strong>br</strong>ancos,<<strong>br</strong> />
nulos e as abstenções como componentes<<strong>br</strong> />
legítimos e inerentes dos regimes repre-<<strong>br</strong> />
sentativos.<<strong>br</strong> />
LEÔNCIO MARTINS ROGRIGUES, é profes-<<strong>br</strong> />
sor titular <strong>de</strong> ciência política da Unicamp e da USP<<strong>br</strong> />
e pesquisador do Cento <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Cultura<<strong>br</strong> />
Contemporânea (Ce<strong>de</strong>c).<<strong>br</strong> />
A responsabil<strong>ida</strong><strong>de</strong> da esquerda<<strong>br</strong> />
André Singer<<strong>br</strong> />
Os resultados eleitorais <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
outu<strong>br</strong>o, mesmo com as incertezas <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
correntes da apuração incompleta e do<<strong>br</strong> />
segundo tumo, já balizam o cenário<<strong>br</strong> />
que dominará o pafs <strong>no</strong> próximo pe-<<strong>br</strong> />
ríodo. Não é casual que, após o pleito,<<strong>br</strong> />
o quadro mais competente produzido<<strong>br</strong> />
pelo movimento militar <strong>de</strong> 1964 tenha<<strong>br</strong> />
sido chamado <strong>para</strong> ocupar o Ministé-<<strong>br</strong> />
ííííx-SÍ- íSÍÍSííSS<<strong>br</strong> />
rio da Justiça e a coor<strong>de</strong>nação política<<strong>br</strong> />
do gover<strong>no</strong> Collor. A med<strong>ida</strong> que seus<<strong>br</strong> />
pares foram legitimados pelas umas, o<<strong>br</strong> />
senador Jarfoas Passarinho ganhou,<<strong>br</strong> />
por extensão, passaporte <strong>para</strong> ocupar<<strong>br</strong> />
um lugar central <strong>no</strong> gover<strong>no</strong>. Nada<<strong>br</strong> />
mais justo.<<strong>br</strong> />
Mas, apesar do forte sentido con-<<strong>br</strong> />
servador dos resultados eleitorais, a<<strong>br</strong> />
esquerda, incluindo aí o PT, o PDT,<<strong>br</strong> />
os dois PCs e o PSB, registrou um<<strong>br</strong> />
"" ««»«»M*:&«W;W:W:¥:':V:-; ■<<strong>br</strong> />
.-'
avanço que lhe permitirá ter na Câma-<<strong>br</strong> />
ra uma bancada com cerca <strong>de</strong> cem <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
putados. So<strong>br</strong>etudo o PT, que em <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
terminado momento apareceu como o<<strong>br</strong> />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotado <strong>de</strong>sta eleição, colheu<<strong>br</strong> />
os frutos <strong>de</strong> um trabalho lento, porém<<strong>br</strong> />
constante, e <strong>de</strong>u passos <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
se firmar enquanto um partido nacio-<<strong>br</strong> />
nal possuidor <strong>de</strong> uma estrutura dnica-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> pulverizado sistema partidário <strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />
sileiro.<<strong>br</strong> />
Não apenas o PT elegeu <strong>de</strong>putados<<strong>br</strong> />
fe<strong>de</strong>rais em Estados on<strong>de</strong> antes não os<<strong>br</strong> />
tinha, como espalhou <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
putados estaduais que começarão a fa-<<strong>br</strong> />
zer do partido um participante ativo<<strong>br</strong> />
das disputas regionais, habilitando-o,<<strong>br</strong> />
a médio prazo, aos olhos do eleitorado<<strong>br</strong> />
a ocupar os respectivos Executivos.<<strong>br</strong> />
A diferença entre o crescimento do<<strong>br</strong> />
PT e dos <strong>de</strong>mais partidos <strong>de</strong> esquerda<<strong>br</strong> />
é que se trata <strong>de</strong> um crescimento cujo<<strong>br</strong> />
corte parece ser ao mesmo tempo or-<<strong>br</strong> />
ganizativo e <strong>de</strong> classe. Ou seja, o PT<<strong>br</strong> />
tem mais força on<strong>de</strong> existem trabalha-<<strong>br</strong> />
dores <strong>org</strong>anizados. Não está em jogo,<<strong>br</strong> />
portanto, apenas um corte <strong>de</strong> renda,<<strong>br</strong> />
como o voto dos mais po<strong>br</strong>es em<<strong>br</strong> />
Collor em 89. A votação do PT tam-<<strong>br</strong> />
bém não é apenas resultado da <strong>org</strong>ani-<<strong>br</strong> />
zação, uma vez que ent<strong>ida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> clas-<<strong>br</strong> />
se média têm hoje forte influência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
outras correntes, como por exemplo o<<strong>br</strong> />
PSDB. O que parece ocorrer é um<<strong>br</strong> />
cruzamento dos dois fatores: on<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
houver trabalhadores <strong>de</strong> baixa renda<<strong>br</strong> />
<strong>org</strong>anizados, o PT ten<strong>de</strong>rá a ter força.<<strong>br</strong> />
Esta característica do voto petista<<strong>br</strong> />
dá ao partido um importante diferen-<<strong>br</strong> />
cial em relação ao PDT. Enquanto o<<strong>br</strong> />
PDT se expan<strong>de</strong> regionalmente, na<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pendência do carisma pessoal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Brizola ou <strong>de</strong> alianças realizadas com<<strong>br</strong> />
peque<strong>no</strong> ou nenhum critério i<strong>de</strong>ológi-<<strong>br</strong> />
co, o PT consegue uma inserção na-<<strong>br</strong> />
cional mais homogênea. Foi esse dife-<<strong>br</strong> />
rencial que garantiu a Lula a passa-<<strong>br</strong> />
gem <strong>para</strong> o segundo tur<strong>no</strong> em 89.<<strong>br</strong> />
Nesse contexto, po<strong>de</strong>-se dizer que,<<strong>br</strong> />
apesar da atual inferior<strong>ida</strong><strong>de</strong> numérica<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>putados e governadores do PT<<strong>br</strong> />
em relação do PDT, o PT tem a van-<<strong>br</strong> />
tagem <strong>de</strong> articular interesses sociais<<strong>br</strong> />
mais gerais e, portanto, ter um hori-<<strong>br</strong> />
zonte <strong>de</strong> expansão mais amplo.<<strong>br</strong> />
Não obstante as diferenças entre os<<strong>br</strong> />
partidos <strong>de</strong> esquerda, o fato é que<<strong>br</strong> />
juntos formarão um bloco expressivo<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> Congresso, terão presença em go-<<strong>br</strong> />
ver<strong>no</strong>s estaduais e nas respectivas As-<<strong>br</strong> />
sembléias Legislativas, além <strong>de</strong> per-<<strong>br</strong> />
manecerem nas administrações muni-<<strong>br</strong> />
cipais que já dirigem.<<strong>br</strong> />
Recoloca-se assim <strong>para</strong> esse bloco<<strong>br</strong> />
a tarefa, não cumpr<strong>ida</strong>, que emergiu<<strong>br</strong> />
com os 31 milhões <strong>de</strong> votos a Lula em<<strong>br</strong> />
89: gerar uma oposição junto com o<<strong>br</strong> />
PSDB e parcelas do PMDB capaz <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
dar respostas não mais a um gover<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> transição, como o <strong>de</strong> Samey, mas a<<strong>br</strong> />
um Executivo legitimado pelo voto. O<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 90 foi uma amostra clara <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
como é difícil fazer oposição a um<<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong> disposto a tirar todas as con-<<strong>br</strong> />
seqüências <strong>de</strong> uma vitória eleitoral<<strong>br</strong> />
apertada porém incontestável.<<strong>br</strong> />
Será necessário à esquerda também<<strong>br</strong> />
tirar todas as conseqüências dos votos<<strong>br</strong> />
recebidos em 3 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o. Uma <strong>de</strong>las<<strong>br</strong> />
parece ser a <strong>de</strong> que a oposição, se<<strong>br</strong> />
quiser fazer jus a esse <strong>no</strong>me, está<<strong>br</strong> />
con<strong>de</strong>nada à un<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> nacio-<<strong>br</strong> />
nal. Não haverá como medir forças<<strong>br</strong> />
com o gover<strong>no</strong> isoladamente. A polí-<<strong>br</strong> />
tica <strong>de</strong> alianças é portanto item prio-<<strong>br</strong> />
ritário na agenda <strong>de</strong> discussões <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />
bloco.<<strong>br</strong> />
A segunda conseqüência é <strong>de</strong> que<<strong>br</strong> />
será difícil avançar sem <strong>de</strong>finir as<<strong>br</strong> />
propostas alternativas <strong>para</strong> resolver o<<strong>br</strong> />
problema da inflação sem jogar o país<<strong>br</strong> />
na recessão. Dito <strong>de</strong> outra forma: qual<<strong>br</strong> />
é a política econômica capaz <strong>de</strong>, si-<<strong>br</strong> />
multaneamente, estabilizar os preços e<<strong>br</strong> />
promover o crescimento econômico<<strong>br</strong> />
acelerado sem o qual as graves <strong>de</strong>si-<<strong>br</strong> />
gualda<strong>de</strong>s sociais do Brasil aparente-<<strong>br</strong> />
mente não po<strong>de</strong>m ser significativa-<<strong>br</strong> />
mente mi<strong>no</strong>radas. Até aqui Collor <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
tém a iniciativa absoluta nessa área<<strong>br</strong> />
crucial.<<strong>br</strong> />
No pla<strong>no</strong> propriamente político, o<<strong>br</strong> />
plebiscito <strong>de</strong> 93 exigirá um <strong>de</strong>bate<<strong>br</strong> />
intenso que permita à oposição chegar<<strong>br</strong> />
un<strong>ida</strong> à <strong>de</strong>cisão so<strong>br</strong>e o sistema <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong>. A opção pelo parlamenta-<<strong>br</strong> />
rismo ou a manutenção do presi<strong>de</strong>n-<<strong>br</strong> />
cialismo vai <strong>de</strong>finir todo o arcabouço<<strong>br</strong> />
institucional com que o país enfrenta-<<strong>br</strong> />
rá o século 21. Além disso, o plebis-<<strong>br</strong> />
cito <strong>de</strong> 93 <strong>de</strong>verá ser uma gran<strong>de</strong> pré-<<strong>br</strong> />
via da eleição presi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> 94,<<strong>br</strong> />
quando se re<strong>no</strong>varão também o Con-<<strong>br</strong> />
Linha Direta-12.10.90<<strong>br</strong> />
Marco Aurélio Garcia'<<strong>br</strong> />
Os resultados das eleições <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
outu<strong>br</strong>o não representaram <strong>para</strong> o PT nem<<strong>br</strong> />
a <strong>de</strong>rrota aplastante que a gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
imprensa apressadamente <strong>no</strong>ticiou, nem a<<strong>br</strong> />
vitória que alguns setores do partido<<strong>br</strong> />
comemora. É difícH falar <strong>de</strong> fracasso total<<strong>br</strong> />
quando se constata que o partido do<strong>br</strong>ou<<strong>br</strong> />
sua bancada fe<strong>de</strong>ral e mais do que<<strong>br</strong> />
duplicou seus <strong>de</strong>putados estaduais, elegeu<<strong>br</strong> />
o senador <strong>de</strong> São Paulo e disputa o<<strong>br</strong> />
segundo tur<strong>no</strong> <strong>no</strong> Acre e <strong>no</strong> Amapá.<<strong>br</strong> />
Mas também não se po<strong>de</strong> cantar vitória,<<strong>br</strong> />
quando se constata o estancamento ou o<<strong>br</strong> />
peque<strong>no</strong> crescimento da votação dos<<strong>br</strong> />
cand<strong>ida</strong>tos a governador <strong>no</strong>s Estados<<strong>br</strong> />
mais importantes do país.<<strong>br</strong> />
Poíttíca Nacional<<strong>br</strong> />
gresso c os gover<strong>no</strong>s <strong>de</strong> tstado. Por<<strong>br</strong> />
tudo isso, e diante da montagem con-<<strong>br</strong> />
servadora que está em curso, a oposi-<<strong>br</strong> />
ção, e a esquerda em particular, terá<<strong>br</strong> />
poucas chances <strong>de</strong> aspirar ao po<strong>de</strong>r se<<strong>br</strong> />
não enfrentar esses problemas com<<strong>br</strong> />
clareza.<<strong>br</strong> />
Também <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> i<strong>de</strong>ológico, as<<strong>br</strong> />
respostas ao <strong>de</strong>smoronamento do so-<<strong>br</strong> />
cialismo real não po<strong>de</strong>rão se limitar às<<strong>br</strong> />
que têm sido dadas. Se a esquerda<<strong>br</strong> />
quiser enraizar na socieda<strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo<<strong>br</strong> />
projeto <strong>de</strong> futuro, e em <strong>no</strong>me <strong>de</strong>le se<<strong>br</strong> />
abalizar <strong>para</strong> assumir o gover<strong>no</strong>, pro-<<strong>br</strong> />
vavelmente precisará repudiar com<<strong>br</strong> />
maior vigor as restrições à liberda<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
à <strong>de</strong>mocracia e ao pluralismo pratica-<<strong>br</strong> />
das em <strong>no</strong>me so socialismo e, ao<<strong>br</strong> />
mesmo tempo, trabalhar <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
reconstruir uma utopia capaz <strong>de</strong> dar<<strong>br</strong> />
energia moral a um projeto <strong>de</strong> trans-<<strong>br</strong> />
formação amplo.<<strong>br</strong> />
Apesar da maré conservadora, <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
pla<strong>no</strong> local e internacional, a esquerda<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileira sai da eleição <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> outu-<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>o com possibil<strong>ida</strong><strong>de</strong>s que a colocam<<strong>br</strong> />
diante <strong>de</strong> uma situação possivelmente<<strong>br</strong> />
única em relação a suas congêneres<<strong>br</strong> />
lati<strong>no</strong>-americanas. A presença efetiva<<strong>br</strong> />
que tem <strong>no</strong> cenário político lhe per-<<strong>br</strong> />
mite articular um projeto nacional com<<strong>br</strong> />
propostas <strong>de</strong> transformação social<<strong>br</strong> />
mais ampla e, assim, fazer frente à<<strong>br</strong> />
hegemonia neoliberal <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da po-<<strong>br</strong> />
lítica prática e da luta i<strong>de</strong>ológica<<strong>br</strong> />
maior <strong>de</strong>ste final <strong>de</strong> século.<<strong>br</strong> />
ANDRÉ SINGER, jornalista e cientista<<strong>br</strong> />
social, é professor <strong>de</strong> Departamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Ciência Política da USP e pesquisador do<<strong>br</strong> />
Instituto <strong>de</strong> Estudos Econômicos, Sociais e<<strong>br</strong> />
Políticos <strong>de</strong> São Paulo (I<strong>de</strong>sp).<<strong>br</strong> />
Eleições: entre o passado<<strong>br</strong> />
e o futuro<<strong>br</strong> />
Numericamente, po<strong>de</strong>-se falar em<<strong>br</strong> />
avanço quando se com<strong>para</strong> a eleição atual<<strong>br</strong> />
com a <strong>de</strong> 86 ou mesmo <strong>de</strong> 88. Mas se as<<strong>br</strong> />
referências forem as do a<strong>no</strong> passado, a<<strong>br</strong> />
constatação <strong>de</strong> fracasso é ineiudível. Lula<<strong>br</strong> />
obteve em 1989 mais <strong>de</strong> 15% <strong>no</strong> primeiro<<strong>br</strong> />
tur<strong>no</strong> e 48% <strong>no</strong> segundo, cifras das quais<<strong>br</strong> />
estamos longe agora.<<strong>br</strong> />
Mas é importante tratar <strong>de</strong> combinar<<strong>br</strong> />
uma análise do aspecto quantitativo com<<strong>br</strong> />
uma avaliação qualitativa. Para isso,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ve-se examinar o resultado <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
outu<strong>br</strong>o à luz dos objetivos que o PT se<<strong>br</strong> />
propôs fossem alcançados <strong>no</strong> início da<<strong>br</strong> />
campanha. Ela foi rica <strong>de</strong> ensinamentos.<<strong>br</strong> />
Revelou graves problemas que o partido<<strong>br</strong> />
enfrentou e enfrenta e <strong>de</strong> cuja resolução<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> em multo o futuro do PT. ^^
Quinzena<<strong>br</strong> />
O primeiro erro foi o <strong>de</strong> imaginar que as<<strong>br</strong> />
eleições <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o senam o "terceiro<<strong>br</strong> />
tur<strong>no</strong>" das presi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong> 89, uma<<strong>br</strong> />
espécie <strong>de</strong> revanche da <strong>de</strong>rrota do a<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
passado.<<strong>br</strong> />
Implícita ou explicitamente esta tese<<strong>br</strong> />
partia da idéia <strong>de</strong> que, tendo perdido a<<strong>br</strong> />
eleição <strong>de</strong> 89 por pequena margem (52% /<<strong>br</strong> />
48%), seria possível atrair parte do<<strong>br</strong> />
eleitorado que votou em Collor na med<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
em que o povo fosse se <strong>de</strong>siludindo com a<<strong>br</strong> />
política do gover<strong>no</strong>, so<strong>br</strong>etudo econômica<<strong>br</strong> />
e constatasse o erro que cometera o a<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
passado.<<strong>br</strong> />
Esta foi uma avaliação equivocada da<<strong>br</strong> />
conjuntura nacional. O PT subestimou as<<strong>br</strong> />
transformações operadas <strong>no</strong> país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<<strong>br</strong> />
posse <strong>de</strong> Collor. A inflação sofreu uma<<strong>br</strong> />
redução insuficiente, porém importante,<<strong>br</strong> />
apesar da ameaça <strong>de</strong> vir a crescer <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
futuro. O <strong>no</strong>vo presi<strong>de</strong>nte conseguiu<<strong>br</strong> />
neutralizar em parte os efeitos negativos<<strong>br</strong> />
do arrocho salarial, da recessão e do<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>semprego. Através da utilização <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
colossais meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
massa, o gover<strong>no</strong> tenta com certo êxito<<strong>br</strong> />
criar a imagem <strong>de</strong> estar distribuindo<<strong>br</strong> />
eqüammimente os sacnfícios. Faz alar<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> seu enfrentamento com gran<strong>de</strong> grupos<<strong>br</strong> />
econômicos, pune funcionários ociosos e<<strong>br</strong> />
promete eliminar empresas estatais<<strong>br</strong> />
oeficitánas e ineficientes. Realiza,<<strong>br</strong> />
finalmente, uma hábil ma<strong>no</strong><strong>br</strong>a buscando<<strong>br</strong> />
envolver o movimento sindical <strong>no</strong> chamado<<strong>br</strong> />
entendimento nacional.<<strong>br</strong> />
Com<strong>para</strong>do aos gover<strong>no</strong>s Figueiredo e<<strong>br</strong> />
Sarney, Collor oferece uma imagem<<strong>br</strong> />
"mo<strong>de</strong>rna", <strong>de</strong> governabil<strong>ida</strong><strong>de</strong>. Com isso<<strong>br</strong> />
ele conseguiu neutralizar temporariamente<<strong>br</strong> />
o <strong>de</strong>scontentamento até mesmo dos<<strong>br</strong> />
peque<strong>no</strong>s poupadores que tiveram seus<<strong>br</strong> />
aepósitos confiscados, mas que acreditam<<strong>br</strong> />
que esta med<strong>ida</strong> será compensada pelo<<strong>br</strong> />
fim do processo inflacioná<strong>no</strong>. Não fomos<<strong>br</strong> />
capazes <strong>de</strong> avaliar os efeitos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sagregadores que a inflação tinha so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
o estado <strong>de</strong> ânimo <strong>de</strong> imensos setores da<<strong>br</strong> />
população.<<strong>br</strong> />
A queda <strong>de</strong> popular<strong>ida</strong><strong>de</strong> do gover<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
constatada pelas pesquisas não se<<strong>br</strong> />
traduziu em alteração do comportamento<<strong>br</strong> />
político <strong>de</strong> amplos setores que ainda<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ntificam em Collor um mal me<strong>no</strong>r e<<strong>br</strong> />
necessário.<<strong>br</strong> />
Este conjunto <strong>de</strong> iniciativas<<strong>br</strong> />
governamentais se combi<strong>no</strong>u com uma<<strong>br</strong> />
ofensiva política e i<strong>de</strong>ológica anti-socialista<<strong>br</strong> />
articulada so<strong>br</strong>etudo pelos meios <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
comunicação a partir da ráp<strong>ida</strong> evolução<<strong>br</strong> />
dos países do "socialismo real". O PT,<<strong>br</strong> />
mais uma vez, ficou na <strong>de</strong>fensiva. A<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>speito <strong>de</strong> sua tradição socialista e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocrática e dos avanços em suas<<strong>br</strong> />
formulações recentes, como indica o<<strong>br</strong> />
documento O Socialismo Petista (veja a<<strong>br</strong> />
Quinzena n ç 102) o partido não foi capaz<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> disputar hegemonia na socieda<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
assumindo uma posição ativa nesta<<strong>br</strong> />
discussão, explicando suas posições e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvendo sua elaboração.<<strong>br</strong> />
No pla<strong>no</strong> da tática, a formulação<<strong>br</strong> />
mMmSm^mmmSm<<strong>br</strong> />
equivocada da eleição como "terceiro<<strong>br</strong> />
tur<strong>no</strong>" revelou-se particularmente incorreta<<strong>br</strong> />
na med<strong>ida</strong> em que o partido em alguns<<strong>br</strong> />
Estados não foi capaz <strong>de</strong> tirar as<<strong>br</strong> />
conseqüências <strong>de</strong>ssa onentação.<<strong>br</strong> />
Se se tratava <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo momento da<<strong>br</strong> />
mesma luta era necessário <strong>no</strong> mínimo<<strong>br</strong> />
manter as alianças do segundo tur<strong>no</strong> em<<strong>br</strong> />
89. Não foi o que se viu em Pernambuco,<<strong>br</strong> />
na Bahia e <strong>no</strong> Rio, on<strong>de</strong> <strong>no</strong>s se<strong>para</strong>mos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
outras forças <strong>de</strong> esquerda e <strong>de</strong>mocráticas,<<strong>br</strong> />
enfraquecendo na prática, e do ponto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vista <strong>de</strong> imagem nacional, a idéia <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
gran<strong>de</strong> frente anti-Collor.<<strong>br</strong> />
Apesar das eleições terem<<strong>br</strong> />
proporcionado um avanço das forças<<strong>br</strong> />
conservadoras, muitas ligadas à ditadura,<<strong>br</strong> />
criando uma base <strong>de</strong> sustentação <strong>para</strong> o<<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong>, não se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
correlação <strong>de</strong> forças plenamente<<strong>br</strong> />
cristalizada. Há muitas coisas ainda em<<strong>br</strong> />
jogo. As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controlar <strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
prazos previstos a inflação e as<<strong>br</strong> />
perspectivas <strong>de</strong> um agravamento<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rável da recessão <strong>de</strong>vem afetar a<<strong>br</strong> />
base parlamentar <strong>de</strong> Collor, so<strong>br</strong>etudo se o<<strong>br</strong> />
movimento sindical e outros setores da<<strong>br</strong> />
socieda<strong>de</strong> retomarem a iniciativa contra o<<strong>br</strong> />
gover<strong>no</strong>. Da mesma forma, a política<<strong>br</strong> />
monetária governamental imporá e<strong>no</strong>rmes<<strong>br</strong> />
restrições aos <strong>no</strong>vos governadores que<<strong>br</strong> />
vão encontrar seus Estados altamente<<strong>br</strong> />
endiv<strong>ida</strong>dos e com seus serviços públicos<<strong>br</strong> />
gran<strong>de</strong>mente sucateados.<<strong>br</strong> />
Um problema que não po<strong>de</strong> escapar à<<strong>br</strong> />
análise é o significado do gran<strong>de</strong> número<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> votos <strong>br</strong>ancos e nulos. Eles expressam<<strong>br</strong> />
na maior parte dos casos o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>scontentamento <strong>de</strong> setores<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>s<strong>org</strong>anizados da socieda<strong>de</strong> que<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>positaram gran<strong>de</strong>s esperanças nas<<strong>br</strong> />
últimas eleições e que se encontram<<strong>br</strong> />
totalmente <strong>de</strong>screntes da possibil<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mudança a partir dos partidos e dos<<strong>br</strong> />
políticos. Trata-se <strong>de</strong> um fenôme<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
ambíguo. Se por um lado, expressa a<<strong>br</strong> />
re<strong>volta</strong> e o <strong>de</strong>scontentamento, por outro,<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong> vir a ser a base <strong>para</strong> projetos<<strong>br</strong> />
autoritários, daqueles que querem<<strong>br</strong> />
governar sem partidos dialogando<<strong>br</strong> />
diretamente com os '<strong>de</strong>scamisados",<<strong>br</strong> />
como Collor manif<strong>estou</strong> mais <strong>de</strong> uma vez.<<strong>br</strong> />
O PT e as esquerdas têm <strong>de</strong> a<strong>br</strong>ir<<strong>br</strong> />
alternativas <strong>de</strong> participação <strong>para</strong> estes<<strong>br</strong> />
setores, além <strong>de</strong> impulsionar<<strong>br</strong> />
articuladamente <strong>no</strong>vas formas <strong>de</strong> ação<<strong>br</strong> />
sindical.<<strong>br</strong> />
Ao centrar gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seus<<strong>br</strong> />
esforços na luta social e na <strong>org</strong>anização<<strong>br</strong> />
da socieda<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>scu<strong>ida</strong>r <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>ssos campos <strong>de</strong> intervenção<<strong>br</strong> />
institucional.<<strong>br</strong> />
Nas prefeituras, além do atendimento<<strong>br</strong> />
crescente das <strong>de</strong>mandas dos setores<<strong>br</strong> />
mais <strong>de</strong>sfavorecidos, so<strong>br</strong>etudo dos<<strong>br</strong> />
atingidos pela crise econômica, é<<strong>br</strong> />
fundamental levar adiante um projeto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
reforma e <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do Estado,<<strong>br</strong> />
que perfile agora <strong>no</strong>ssas intenções <strong>de</strong> vir a<<strong>br</strong> />
ser gover<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
mü<<strong>br</strong> />
Polittca Nacional<<strong>br</strong> />
Esta ação <strong>de</strong>sdo<strong>br</strong>a-se <strong>no</strong> pla<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
parlamentar, valorizado pelo crescimento<<strong>br</strong> />
substancial da bancada, e <strong>no</strong>do Gover<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
Paralelo cuia missão é não só esboçar<<strong>br</strong> />
propostas alternativas, mas, ao fazè-b,<<strong>br</strong> />
sinalizar <strong>para</strong> a socieda<strong>de</strong> que somos<<strong>br</strong> />
alternativa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<<strong>br</strong> />
A imprescindível rearticulação <strong>org</strong>ânica<<strong>br</strong> />
do partido <strong>de</strong>ve se produzir em um período<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> efervescência política on<strong>de</strong> ação e<<strong>br</strong> />
reflexão venham justamente encontrar seu<<strong>br</strong> />
melhor eqüílibho •<<strong>br</strong> />
Secretário das Relações Internacionais do PT.<<strong>br</strong> />
Visão-17.10.90<<strong>br</strong> />
Nulo ou<<strong>br</strong> />
Fleury?<<strong>br</strong> />
José Dirceu <strong>de</strong> Oliveira e Silva<<strong>br</strong> />
O mundo político tem muitos as-<<strong>br</strong> />
suntos a analisar com os resultados<<strong>br</strong> />
das umas <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o. O gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
número <strong>de</strong> votos <strong>br</strong>ancos e nulos é um<<strong>br</strong> />
indicativo do <strong>de</strong>scontentamento da<<strong>br</strong> />
população com o <strong>no</strong>sso sistema políti-<<strong>br</strong> />
co. E isto é uma prova <strong>de</strong> que neces-<<strong>br</strong> />
sitamos <strong>de</strong> mudanças. É preciso rever<<strong>br</strong> />
o papel do Senado Fe<strong>de</strong>ral e da Câma-<<strong>br</strong> />
ra dos Deputados. Temos que levar<<strong>br</strong> />
em conta a possibil<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> adotar o<<strong>br</strong> />
parlamentarismo como sistema <strong>de</strong> go-<<strong>br</strong> />
ver<strong>no</strong>. Mas, <strong>para</strong> consol<strong>ida</strong>r a <strong>de</strong>mo-<<strong>br</strong> />
cracia, o fundamental é rever a distri-<<strong>br</strong> />
buição <strong>de</strong> renda do país. Não é possí-<<strong>br</strong> />
vel imaginar que a <strong>de</strong>mocracia está<<strong>br</strong> />
consol<strong>ida</strong>da quando parcela significa-<<strong>br</strong> />
tiva da população vota <strong>de</strong>sinformada e<<strong>br</strong> />
por troca <strong>de</strong> favores. Precisamos tam-<<strong>br</strong> />
bém <strong>de</strong> uma reforma eleitoral, com a<<strong>br</strong> />
adoção do voto facultativo e distrital,<<strong>br</strong> />
além da <strong>de</strong>mocratização do horário<<strong>br</strong> />
eleitoral gratuito e da criação <strong>de</strong> me-<<strong>br</strong> />
canismos <strong>para</strong> impedir o abuso do po-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>r econômico. Não po<strong>de</strong>mos admitir<<strong>br</strong> />
o uso das máquinas administrativas<<strong>br</strong> />
dos gover<strong>no</strong>s nas campanhas dos can-<<strong>br</strong> />
d<strong>ida</strong>tos oficiais.<<strong>br</strong> />
As esquerdas <strong>br</strong>asileiras também te-<<strong>br</strong> />
rão farto material <strong>para</strong> discussão após<<strong>br</strong> />
estas eleições. Não é verda<strong>de</strong> que as<<strong>br</strong> />
tendências políticas sumiram e o que<<strong>br</strong> />
se instaurou foi uma <strong>no</strong>va relação en-<<strong>br</strong> />
tre o capital e a <strong>de</strong>mocracia, como<<strong>br</strong> />
afirma alguns analistas políticos que<<strong>br</strong> />
citam como exemplo <strong>de</strong> suas teses o<<strong>br</strong> />
que vem ocorrendo <strong>no</strong> Leste europeu.<<strong>br</strong> />
A esquerda e a direita ainda estão pre-
sentes <strong>no</strong> país e o resultado das elei-<<strong>br</strong> />
ções comprova isto. As esquerdas não<<strong>br</strong> />
perceberam que estavam acontecendo<<strong>br</strong> />
mudanças <strong>no</strong> eleitorado após a esco-<<strong>br</strong> />
lha do presi<strong>de</strong>nte Collor <strong>de</strong> Mello.<<strong>br</strong> />
Houve alterações <strong>no</strong> país do ponto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vista econômico - com as quais não<<strong>br</strong> />
concordamos, mas que não po<strong>de</strong>mos<<strong>br</strong> />
negar. A esquerda <strong>de</strong>ixou a impressão<<strong>br</strong> />
que per<strong>de</strong>u um pouco do bon<strong>de</strong> da<<strong>br</strong> />
história e foi pun<strong>ida</strong> por isto. Nós não<<strong>br</strong> />
A Classe Operária -2.11.90<<strong>br</strong> />
0 voto anti-Maluf se impõe, em pri-<<strong>br</strong> />
meiro lugar, como uma exigência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>ssa oposição infatigável e intransi-<<strong>br</strong> />
gente ao gover<strong>no</strong> Collor e seu pla<strong>no</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
superação pró-imperialista, pró-mo<strong>no</strong>-<<strong>br</strong> />
polista e pró-latifundiária da crise <strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />
sileira. Qualquer omissão na batalha do<<strong>br</strong> />
segundo tur<strong>no</strong> paulista significa ajudar<<strong>br</strong> />
indiretamente a trama collor<strong>ida</strong>.<<strong>br</strong> />
0 voto anti-Maluf <strong>de</strong>corre, em se-<<strong>br</strong> />
gundo lugar, do conhecimento <strong>de</strong> quem<<strong>br</strong> />
é e o que representa Paulo Salim Maluf,<<strong>br</strong> />
em São Paulo e nacionalmente. Não se<<strong>br</strong> />
trata simplesmente <strong>de</strong> mais um político<<strong>br</strong> />
burguês <strong>de</strong> direita. Maluf é o filho pri-<<strong>br</strong> />
mogênito da ditadura militar, seu último<<strong>br</strong> />
e empe<strong>de</strong>rnido representante paisa<strong>no</strong>.<<strong>br</strong> />
Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> processos e várias<<strong>br</strong> />
co<strong>de</strong>nações nas costas, encarna como<<strong>br</strong> />
ninguém o fascismo tupiniquim. Tru-<<strong>br</strong> />
culento, arrogante, mentiroso, cínico,<<strong>br</strong> />
nunca, em momento algum, por dimi-<<strong>br</strong> />
Linha Direta- 12.10.90<<strong>br</strong> />
Lula (presi<strong>de</strong>nte nacional do PP):<<strong>br</strong> />
"É importante lem<strong>br</strong>ar que é ex-<<strong>br</strong> />
traordinário mostrar <strong>para</strong> aqueles que<<strong>br</strong> />
achavam que o PT estava morto, que<<strong>br</strong> />
sua legenda é mais forte do cjue qual-<<strong>br</strong> />
quer outro partido político. É uma le-<<strong>br</strong> />
genda muito forte ainda muito mal<<strong>br</strong> />
trabalhada por todos nós. Se a tivés-<<strong>br</strong> />
semos utilizado com mais força na te-<<strong>br</strong> />
levisão e usado o símbolo da <strong>no</strong>ssa<<strong>br</strong> />
estrela, po<strong>de</strong>ríamos ter obtido mais<<strong>br</strong> />
votos. Não adianta nada o Maluf ficar<<strong>br</strong> />
dizendo que gan<strong>no</strong>u as eleições <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
AÜC e que o Kl se enfraqueceu.<<strong>br</strong> />
Basta ver a votação do Suplicy e a da<<strong>br</strong> />
legenda. Para o Brasil, as eleições são<<strong>br</strong> />
importantes porque são sempre uma<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s articulamos como <strong>de</strong>víamos. Pre-<<strong>br</strong> />
cisamos rever <strong>no</strong>ssas posturas. O meu<<strong>br</strong> />
partido, o PT, continuará fazendo<<strong>br</strong> />
oposição sistemática ao Pla<strong>no</strong> Collor,<<strong>br</strong> />
mesmo com um resultado eleitoral fa-<<strong>br</strong> />
vorável aos conservadores. E essa<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>ssa postura e eu acredito que está<<strong>br</strong> />
correta. O que nós precisamos redis-<<strong>br</strong> />
cutir é como fazer oposição. Precisa-<<strong>br</strong> />
mos apren<strong>de</strong>r a fazer alianças e aglu-<<strong>br</strong> />
tinar forças. Mas, às vezes, reconhe-<<strong>br</strong> />
0 voto anti-Maluf<<strong>br</strong> />
Aldo Rebelo'<<strong>br</strong> />
nuto e fugaz que fosse, esteve ao lado<<strong>br</strong> />
do povo; ao contrário, sempre comba-<<strong>br</strong> />
teu, ferrenhamente, do outro lado da<<strong>br</strong> />
barricada. Basta ver on<strong>de</strong> estava Paulo<<strong>br</strong> />
Maluf por ocasião do golpe <strong>de</strong> 64, do<<strong>br</strong> />
terrorismo ditatorial, da campanha pela<<strong>br</strong> />
Anistia, das greves dos metalúrgicos do<<strong>br</strong> />
ABC, da campanha das Diretas-Já, da<<strong>br</strong> />
ofensiva final contra o regime militar, da<<strong>br</strong> />
Constituinte, das eleições <strong>de</strong> 89.<<strong>br</strong> />
Esse engendro dos generais alcançou<<strong>br</strong> />
certa popular<strong>ida</strong><strong>de</strong>, entre os me<strong>no</strong>s avi-<<strong>br</strong> />
sados, escon<strong>de</strong>ndo sua face e suas<<strong>br</strong> />
idéias atrás <strong>de</strong> um coração <strong>de</strong> plástico e<<strong>br</strong> />
explorando habilmente as frustações da<<strong>br</strong> />
gente humil<strong>de</strong>. Porém não mudou em<<strong>br</strong> />
nada sua essência. Uma vitória <strong>de</strong> Maluf<<strong>br</strong> />
em São Paulo representaria a revanche,<<strong>br</strong> />
pelo voto, das forças mais tene<strong>br</strong>osas<<strong>br</strong> />
do retrocesso e da ditadura.<<strong>br</strong> />
Ao pregar o voto anti-Maluf, o PC-<<strong>br</strong> />
doB expressa também sua opinião so-<<strong>br</strong> />
O que aconteceu com o PT?<<strong>br</strong> />
oportun<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>para</strong> o povo dizer se está<<strong>br</strong> />
politizado ou não; se está maduro ou<<strong>br</strong> />
não; se tem lógica a sua luta diária<<strong>br</strong> />
com seu voto. Por mais que revolte as<<strong>br</strong> />
pessoas, que querem a solução <strong>de</strong> seus<<strong>br</strong> />
problemas através do voto, vai servin-<<strong>br</strong> />
do <strong>para</strong> politizar, ensinar, <strong>para</strong> que as<<strong>br</strong> />
pessoas tenham um clima <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
suas cabeças <strong>de</strong> como proce<strong>de</strong>r eleito-<<strong>br</strong> />
ralmente".<<strong>br</strong> />
José Dirceu (Secretário-Geral do<<strong>br</strong> />
PT):<<strong>br</strong> />
"O PT precisa apren<strong>de</strong>r a fazer<<strong>br</strong> />
alianças e a analisar melhor as mu-<<strong>br</strong> />
danças que existem <strong>no</strong> Brasil, como a<<strong>br</strong> />
eleição <strong>de</strong> Collor <strong>para</strong> a presidência<<strong>br</strong> />
ço, isso é difícil. Dou como exemplo<<strong>br</strong> />
o segundo tur<strong>no</strong> das eleições paulis-<<strong>br</strong> />
tas. De um lado, o cand<strong>ida</strong>to <strong>de</strong> Col-<<strong>br</strong> />
lor, Paulo Maluf, que até por questões<<strong>br</strong> />
históricas não po<strong>de</strong>mos apoiar. Do<<strong>br</strong> />
outro, "Luiz Antônio Fleury Filho, o<<strong>br</strong> />
cand<strong>ida</strong>to do governador Orestes<<strong>br</strong> />
Quércia, do qual discordamos politi-<<strong>br</strong> />
camente. O militante do PT fica em<<strong>br</strong> />
uma situação difícil entre anular seu<<strong>br</strong> />
voto ou apoiar o cand<strong>ida</strong>to Freury.<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>e a cand<strong>ida</strong>tura Fleury, ao esquema<<strong>br</strong> />
do gover<strong>no</strong> Orestes Quércia. Trata-se<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> um esquema conservador que só se<<strong>br</strong> />
impõe como alternativa ao retrocesso<<strong>br</strong> />
representado por uma eventual vitória<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Maluf. As críticas <strong>de</strong> Fleury ao go-<<strong>br</strong> />
ver<strong>no</strong> Collor não constituem uma opo-<<strong>br</strong> />
sição conseqüente ao projeto do gover-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral. São críticas <strong>de</strong> uma oposição<<strong>br</strong> />
conservadora, das classes dominantes,<<strong>br</strong> />
expressam a disputa da sucessão presi-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ncial em 94, que já se iniciou. Cabe às<<strong>br</strong> />
forças <strong>de</strong>mocráticas e populares explo-<<strong>br</strong> />
rar essas contradições <strong>para</strong> impor uma<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>rrota àquele que melhor expressa o<<strong>br</strong> />
projeto Collor <strong>no</strong> Estado <strong>de</strong> São Paulo.<<strong>br</strong> />
Nesse quadro, a posição do PCdoB <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
votar em Fleury não implica qualquer<<strong>br</strong> />
compromisso com o futuro gover<strong>no</strong> ou<<strong>br</strong> />
com projetos <strong>de</strong> seu esquema político.<<strong>br</strong> />
* da direção nacional do PC do B.<<strong>br</strong> />
da Republica. Precisa também apren-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>r a ser socialista. Consi<strong>de</strong>ro uma<<strong>br</strong> />
das piores eleições em termos <strong>de</strong> dis-<<strong>br</strong> />
puta interna do Partido: máquinas uti-<<strong>br</strong> />
lizadas em favor <strong>de</strong> cand<strong>ida</strong>tos, luta<<strong>br</strong> />
interna durante o período eleitoral,<<strong>br</strong> />
falta <strong>de</strong> sol<strong>ida</strong>rieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> un<strong>ida</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ntro do Partido. O povo <strong>br</strong>asileiro<<strong>br</strong> />
votou <strong>br</strong>anco e nulo, em parte, indu-<<strong>br</strong> />
zido pelos meios <strong>de</strong> comunicação. Em<<strong>br</strong> />
parte, porque repudiou o atual sistema<<strong>br</strong> />
político/eleitoral e a atuação das casas<<strong>br</strong> />
legislativas; ou seja, repudiou o<<strong>br</strong> />
"centrão", o fisiologismo. Não repu-<<strong>br</strong> />
diou o PT e as esquerdas, ainda que o
Quinzena Política Nacional<<strong>br</strong> />
partido tenha sido prejudicado pelo<<strong>br</strong> />
voto <strong>br</strong>anco e nulo e beneficiado pelo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> legenda, o que mostra a força do<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>sso partido em termos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia<<strong>br</strong> />
e <strong>de</strong> símbolo partidário".<<strong>br</strong> />
Luis Gushiken (Vice-Presi<strong>de</strong>nte<<strong>br</strong> />
Nacional do PT):<<strong>br</strong> />
"O gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> votos <strong>br</strong>an-<<strong>br</strong> />
cos e nulos foi um recado muito gran-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> so<strong>br</strong>e a política institucional. Creio<<strong>br</strong> />
que estão dizendo que vários proble-<<strong>br</strong> />
mas que dizem respeito ao cotidia<strong>no</strong><<strong>br</strong> />
das pessoas s+
xista), ou como solução <strong>de</strong> compromisso<<strong>br</strong> />
na superação do capitalismo (social <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
mocracia). Na versão marxista a realiza-<<strong>br</strong> />
ção <strong>de</strong> todos os princípios da <strong>de</strong>mocracia<<strong>br</strong> />
é o que se po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>finir como socieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
comunista. Essa realização é pensada<<strong>br</strong> />
como última etapa do <strong>de</strong>senvolvimento da<<strong>br</strong> />
human<strong>ida</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Democracia e socialismo não são<<strong>br</strong> />
iguais, são diferentes e um não implica ne-<<strong>br</strong> />
cessariamente na realização do outro: o<<strong>br</strong> />
socialismo po<strong>de</strong> não ser <strong>de</strong>mocrático. O<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocrático po<strong>de</strong> não ser socialista e não<<strong>br</strong> />
é capitalista. Essas diferenças resultam<<strong>br</strong> />
tanto da teoria quanto da prática. Em teoria<<strong>br</strong> />
a <strong>de</strong>mocracia é mais radical e a<strong>br</strong>angente<<strong>br</strong> />
do que o socialismo e é nesse sentido que<<strong>br</strong> />
é mais irrealizável na sua plenitu<strong>de</strong>. Os<<strong>br</strong> />
países socialistas, reais ou não, existem.<<strong>br</strong> />
Os países <strong>de</strong>mocráticos não existem ple-<<strong>br</strong> />
namente.<<strong>br</strong> />
A conceituação <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
socialismo é controversa: a <strong>de</strong>mocracia é<<strong>br</strong> />
disputada peto liberalismo e pelo marxis-<<strong>br</strong> />
mo. O liberalismo isola a <strong>de</strong>mocracia na<<strong>br</strong> />
esfera dos direitos e ou das instituições<<strong>br</strong> />
políticas e seus processos. O liberalismo<<strong>br</strong> />
não permite que a <strong>de</strong>mocracia entre <strong>no</strong> ter-<<strong>br</strong> />
re<strong>no</strong> da eco<strong>no</strong>mia, proteg<strong>ida</strong> pelo conceito<<strong>br</strong> />
equívoco <strong>de</strong> livre iniciativa e eco<strong>no</strong>mia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mercado. A <strong>de</strong>mocracia, na versão liberal,<<strong>br</strong> />
pára na porta da fá<strong>br</strong>ica, se<strong>para</strong> o conceito<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> privada <strong>de</strong> sua dimensão e<<strong>br</strong> />
uso sociais. O marxismo, ora cai na arma-<<strong>br</strong> />
dilha liberal e adota frente a <strong>de</strong>mocracia<<strong>br</strong> />
uma postura essencialmente tática, ora<<strong>br</strong> />
busca coincidir socialismo com <strong>de</strong>mocra-<<strong>br</strong> />
cia diminuindo sua a<strong>br</strong>angência e sua radi-<<strong>br</strong> />
cal<strong>ida</strong><strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Nos processos históricos os princípios<<strong>br</strong> />
fundamentais da <strong>de</strong>mocracia (igualda<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
divers<strong>ida</strong><strong>de</strong>, participação, liberda<strong>de</strong>, sol<strong>ida</strong>-<<strong>br</strong> />
neda<strong>de</strong>j são muitas vezes negados <strong>no</strong> so-<<strong>br</strong> />
cialismo, ou realizados <strong>de</strong> forma isolada e<<strong>br</strong> />
não sumultâneos: igualda<strong>de</strong> sem participa-<<strong>br</strong> />
ção, sol<strong>ida</strong>rieda<strong>de</strong> sem liberda<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
A justificação histórica do socialismo<<strong>br</strong> />
está batizada pela <strong>de</strong>mocracia. A própria<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>ção, ou conceito, <strong>de</strong> ditadura do proleta-<<strong>br</strong> />
nado tenta legitimar-se como etapa provi-<<strong>br</strong> />
sória necessária <strong>para</strong> estabelecer os di-<<strong>br</strong> />
reitos da maioria so<strong>br</strong>e a mi<strong>no</strong>ria. Quando<<strong>br</strong> />
não realiza seus princípios, ou segundo<<strong>br</strong> />
seus princípios, per<strong>de</strong> sua legitim<strong>ida</strong><strong>de</strong><<strong>br</strong> />
como socialismo. Razões históricas, con-<<strong>br</strong> />
cretas, são sempre levantadas <strong>para</strong> negar<<strong>br</strong> />
os princípios aa <strong>de</strong>mocracia na realização<<strong>br</strong> />
do socialismo, <strong>de</strong>finindo-se então uma<<strong>br</strong> />
contradição entre ética e política que aca-<<strong>br</strong> />
ba por sacrificar os dois (socialismo e <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
mocracia) e as duas (ética e política).<<strong>br</strong> />
O processo <strong>de</strong>mocrático que se <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
senvolve <strong>no</strong> mundo está recolocando a<<strong>br</strong> />
questão da <strong>de</strong>mocracia <strong>no</strong> centro do <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
bate. Neste contexto a questão do socia-<<strong>br</strong> />
lismo só tem sentido como questão <strong>de</strong>mo-<<strong>br</strong> />
crática. O socialimo submetido à crítica da<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocracia só tem sentido como reinven-<<strong>br</strong> />
ção total. O socialismo só tem sentido co-<<strong>br</strong> />
;.:.K:^.::mí-.;K-:.:.<<strong>br</strong> />
mo <strong>de</strong>mocracia. E ousaria dizer que assim<<strong>br</strong> />
como os PCs estão rediscutindo o seu<<strong>br</strong> />
próprio <strong>no</strong>me, <strong>para</strong> indicar a mudança <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
sua i<strong>de</strong>nt<strong>ida</strong><strong>de</strong> política, o socialismo <strong>de</strong>ve e<<strong>br</strong> />
está rediscutindo também o seu próprio<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>me. O verda<strong>de</strong>iro <strong>no</strong>me do socialismo é<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocracia, assim como a natureza da<<strong>br</strong> />
crise do socialismo está na ausência da<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocracia. Como diz Gorbatchev, <strong>no</strong> li-<<strong>br</strong> />
vro Perestroika: "Em resumo, precisamos<<strong>br</strong> />
da ampla <strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong> todos os as-<<strong>br</strong> />
pectos da socieda<strong>de</strong>. Esta <strong>de</strong>mocratiza-<<strong>br</strong> />
ção é também a principal garantia <strong>de</strong> irre-<<strong>br</strong> />
versibil<strong>ida</strong><strong>de</strong> do curso atual. Sabemos hoje<<strong>br</strong> />
que po<strong>de</strong>ríamos ter evitado muitos proble-<<strong>br</strong> />
mas se o processo <strong>de</strong>mocrático tivesse se<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvido <strong>no</strong>rmalmente. Apren<strong>de</strong>mos<<strong>br</strong> />
essa lição e não a esqueceremos. Agora<<strong>br</strong> />
vamos <strong>no</strong>s ater firmemente à idéia <strong>de</strong> que<<strong>br</strong> />
só po<strong>de</strong>mos ter progresso na produção,<<strong>br</strong> />
ciência, tec<strong>no</strong>logia, cultura e arte, e em to-<<strong>br</strong> />
dos os campos sociais, se promovermos o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento constante das fórmulas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocráticas inerentes ao socialismo e da<<strong>br</strong> />
expansão da autogestão". "A essência da<<strong>br</strong> />
perestroika está <strong>no</strong> fato <strong>de</strong> que une socia-<<strong>br</strong> />
lismc com <strong>de</strong>mocracia e revive o conceito<<strong>br</strong> />
leninista <strong>de</strong> construção socialista na teoria<<strong>br</strong> />
e na prática. Esta é a essência da peres-<<strong>br</strong> />
troika, aquilo que é responsável por seu<<strong>br</strong> />
espírito revolucionário genuí<strong>no</strong> e seu cam-<<strong>br</strong> />
po <strong>de</strong> ação totalmente a<strong>br</strong>angente". "Que-<<strong>br</strong> />
remos mais socialismo e, por isso, mais<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocracia".<<strong>br</strong> />
A solução da social <strong>de</strong>mocracia é um<<strong>br</strong> />
meio caminho e uma solução <strong>de</strong> compro-<<strong>br</strong> />
misso <strong>de</strong> vôo curto, apesar <strong>de</strong> que sempre<<strong>br</strong> />
é melhor que o autoritarismo instalado <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
socialismo.<<strong>br</strong> />
A social <strong>de</strong>mocracia, quando propõe<<strong>br</strong> />
construir a <strong>de</strong>mocracia <strong>no</strong> capitalismo, sa-<<strong>br</strong> />
crifica a <strong>de</strong>mocracia <strong>para</strong> salvar o capita-<<strong>br</strong> />
lismo. Quando se propõe como alternativa<<strong>br</strong> />
ao socialismo sacrifica a <strong>de</strong>mocracia <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
ficar com o meio caminho. A solução não é<<strong>br</strong> />
ficar <strong>no</strong> meio do caminho mas caminhar na<<strong>br</strong> />
única direção que <strong>no</strong>s leva <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo ao ei-<<strong>br</strong> />
xo da revolução: a <strong>de</strong>mocracia.<<strong>br</strong> />
O verbo da revolução, <strong>para</strong> usar uma<<strong>br</strong> />
expressão cara à teologia, é a <strong>de</strong>mocracia.<<strong>br</strong> />
E isso é fundamental num sentido muito<<strong>br</strong> />
particular <strong>para</strong> a própria idéia <strong>de</strong> revolução:<<strong>br</strong> />
só a <strong>de</strong>mocracia é inacabável como pro-<<strong>br</strong> />
jeto, tudo o mais começa como revolução<<strong>br</strong> />
e se nega como or<strong>de</strong>m, começa como li-<<strong>br</strong> />
berda<strong>de</strong> e termina como sua negação.<<strong>br</strong> />
Essa idéia do caráter interminável, ina-<<strong>br</strong> />
cabável, da <strong>de</strong>mocracia como um proces-<<strong>br</strong> />
so que, sendo concreto, não se esgota<<strong>br</strong> />
nunca em suas realizações concretas <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
fine uma contradição irreconcilíavel entre<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocracia e o pensamento dogmático<<strong>br</strong> />
que prosperou <strong>de</strong> forma incontrolável <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
meio da esquerda. Não existe a verda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
do socialismo, a verda<strong>de</strong> da <strong>de</strong>mocracia.<<strong>br</strong> />
Existe um processo <strong>de</strong> realização sempre<<strong>br</strong> />
contraditório e interminável dos princípios<<strong>br</strong> />
da <strong>de</strong>mocracia nas socieda<strong>de</strong>s concretas.<<strong>br</strong> />
Nesse sentido uma socieda<strong>de</strong> nunca é<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocrática. Uma das formas mais efica-<<strong>br</strong> />
Poíitíca Nacional<<strong>br</strong> />
zes encontradas <strong>para</strong> se impedir o <strong>de</strong>sen-<<strong>br</strong> />
volvimento do pensamento revolucionário,<<strong>br</strong> />
socialista foi exatamente o <strong>de</strong> sua conver-<<strong>br</strong> />
são em dogma, ou dogmática. As igrejas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> esque[da crucificaram junto com a dia-<<strong>br</strong> />
lética a própria <strong>de</strong>mocracia. Era como se a<<strong>br</strong> />
teologia tivesse se reencarnado não mais<<strong>br</strong> />
como o ópio do povo mas como ópio do<<strong>br</strong> />
partido. E esse modo <strong>de</strong> pensar e agir<<strong>br</strong> />
certamente tem muito que ver com o auto-<<strong>br</strong> />
ritarismo que não foi exorcizado da cultura<<strong>br</strong> />
dita revolucionária. Quando a <strong>de</strong>mocracia<<strong>br</strong> />
não atinge o próprio modo <strong>de</strong> pensar ela é<<strong>br</strong> />
substituída por seu contrário.<<strong>br</strong> />
A política mo<strong>de</strong>rna, tanto <strong>no</strong> oci<strong>de</strong>nte<<strong>br</strong> />
como <strong>no</strong> oriente, <strong>no</strong> leste como <strong>no</strong> oeste,<<strong>br</strong> />
mantém o culto do tempo e dos homens.<<strong>br</strong> />
No mundo socialista a revolução que se<<strong>br</strong> />
preten<strong>de</strong> permanente, li<strong>de</strong>ranças que se<<strong>br</strong> />
preten<strong>de</strong>m eternas mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mortas, mortos que não se enterram e que<<strong>br</strong> />
são venerados como santos, compõem<<strong>br</strong> />
uma semelhança com o pensamento reli-<<strong>br</strong> />
gioso, dogmático e a-histórico que sacrali-<<strong>br</strong> />
za um tipo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m incompatível com os<<strong>br</strong> />
princípios <strong>de</strong>mocráticos, particularmente<<strong>br</strong> />
os da igualda<strong>de</strong> e da divers<strong>ida</strong><strong>de</strong>. O socia-<<strong>br</strong> />
lismo real está hoje vivendo a <strong>de</strong>rrubaaa<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> seus santos, altares e mortos vivos. Os<<strong>br</strong> />
homens e mulheres concretos que se mo-<<strong>br</strong> />
vem <strong>no</strong> sentido da c<strong>ida</strong>dania e da liberda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
estão jogando esses mitos <strong>no</strong> chão <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>rem ocupar seu lugar.<<strong>br</strong> />
No Brasil, a esquerda per<strong>de</strong>u (se é que<<strong>br</strong> />
já teve algum dia), basicamente, o sentido<<strong>br</strong> />
tanto da <strong>de</strong>mocracia como do socialismo.<<strong>br</strong> />
A perda maior <strong>no</strong> entanto se refere à<<strong>br</strong> />
questão <strong>de</strong>mocrática.<<strong>br</strong> />
Po<strong>de</strong>-se dizer que a esquerda <strong>br</strong>asileira<<strong>br</strong> />
nunca fez um exame e uma crítica global<<strong>br</strong> />
da real<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira sob o prisma da<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mocracia. De modo geral a esquerda foi<<strong>br</strong> />
mais capaz <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>senvolvi-<<strong>br</strong> />
mento do capitalismo do que <strong>de</strong> fazer a<<strong>br</strong> />
crítica <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>senvolvimento sob o pris-<<strong>br</strong> />
ma da <strong>de</strong>mocracia. As melhores histórias<<strong>br</strong> />
econômicas foram feitas sob inspiração <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
categorias marxistas. Nos faltam <strong>no</strong> en-<<strong>br</strong> />
tanto histórias políticas que tenham a<<strong>br</strong> />
questão <strong>de</strong>mocrática como central, apesar<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> tanto autoritarismo e ditadura. Mas não<<strong>br</strong> />
basta lutar contra a ditadura <strong>para</strong> ser for-<<strong>br</strong> />
mado em <strong>de</strong>mocracia. Em gran<strong>de</strong> med<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
isso <strong>de</strong> <strong>de</strong>veu à e<strong>no</strong>rme influência do pen-<<strong>br</strong> />
samento positivista, <strong>de</strong>terminista na cultura<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileira, incluindo a esquerda. Mas tam-<<strong>br</strong> />
bém resultou da assimilação da cultura<<strong>br</strong> />
autoritária dominante que compõe uma<<strong>br</strong> />
concepção <strong>de</strong> política e um modo <strong>de</strong> fazer<<strong>br</strong> />
política. E uma esquerda que não é capaz<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> pensar e praticar a <strong>de</strong>mocracia está<<strong>br</strong> />
con<strong>de</strong>nada a viver sem ela. Estou com is-<<strong>br</strong> />
so também querendo dizer que existe uma<<strong>br</strong> />
crítica autoritária do capitalismo que não<<strong>br</strong> />
leva à <strong>de</strong>mocracia, já que muitas vezes a<<strong>br</strong> />
esquerda se caracteriza mais pela crítica<<strong>br</strong> />
que faz do capitalismo do que pela <strong>de</strong>mo-<<strong>br</strong> />
cracia que propõe.<<strong>br</strong> />
HERBERf DE SOUZÃ^ sociólogo, é diretor do<<strong>br</strong> />
Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Análises Sociais e Econômi-<<strong>br</strong> />
cas (Ibase).
Vermelho e Branco - Setem<strong>br</strong>o/90<<strong>br</strong> />
Trecho da intervenção <strong>de</strong> Mikhail<<strong>br</strong> />
Gortatchev resumindo os <strong>de</strong>bates<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o Relatório do Comitê Central ao<<strong>br</strong> />
28* congresso do PCUS<<strong>br</strong> />
A liberda<strong>de</strong> é o principal resultado da<<strong>br</strong> />
perestroika, que <strong>de</strong>u "luz ver<strong>de</strong>" à iniciati-<<strong>br</strong> />
va do povo, isentou-o dos dogmas obso-<<strong>br</strong> />
letos, <strong>de</strong>spertou-o <strong>para</strong> velar pelo futuro<<strong>br</strong> />
do seu pais e do socialismo, envolveu mi-<<strong>br</strong> />
lhões <strong>de</strong> pessoas na v<strong>ida</strong> política e <strong>de</strong>u<<strong>br</strong> />
início às transformações sem as quais não<<strong>br</strong> />
teremos futuro. Mesmo o presente Con-<<strong>br</strong> />
gresso <strong>de</strong>correria num ambiente diferente<<strong>br</strong> />
sem esta liberda<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
O stalinismo e o <strong>br</strong>ejnevismo criaram<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> país um ambiente abafado e repressivo.<<strong>br</strong> />
Agora, com o advento da liberda<strong>de</strong>, as-<<strong>br</strong> />
siste-se a manifestações pouco ou nada<<strong>br</strong> />
construtivas, que acabam <strong>de</strong> vir à superfí-<<strong>br</strong> />
cie. Temos <strong>de</strong> aceitar este fenôme<strong>no</strong>, pois<<strong>br</strong> />
a tarefa número um <strong>de</strong> qualquer revolução<<strong>br</strong> />
consiste em dar liberda<strong>de</strong> ao povo. A pe-<<strong>br</strong> />
restroika já cumpriu esta tarefa por inter-<<strong>br</strong> />
médio da abertura <strong>de</strong>mocrática e da glas-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>st.<<strong>br</strong> />
O renascimento psicomoral do <strong>no</strong>sso<<strong>br</strong> />
povo é um imperativo que segue a olhos<<strong>br</strong> />
vistos e, apesar <strong>de</strong> todas as suas <strong>de</strong>fi-<<strong>br</strong> />
ciências, exerce uma influência colossal.<<strong>br</strong> />
Todo o país já é diferente, e nós somos<<strong>br</strong> />
também diferentes. Existe, entretanto, um<<strong>br</strong> />
outro aspecto da questão: nenhum <strong>de</strong> nós,<<strong>br</strong> />
nem as <strong>no</strong>vas estruturas do po<strong>de</strong>r ou as<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>vas <strong>org</strong>anizações e movimentos, ainda<<strong>br</strong> />
não apren<strong>de</strong>mos a usufruir <strong>de</strong>v<strong>ida</strong>mente<<strong>br</strong> />
a liberda<strong>de</strong> que acabamos <strong>de</strong> obter, tor-<<strong>br</strong> />
nando-se tarefa prioritária fazê-lo o mais<<strong>br</strong> />
rap<strong>ida</strong>mente possível.<<strong>br</strong> />
A <strong>no</strong>ssa reforma política forneceu re-<<strong>br</strong> />
sultados bastante significativos. Criamos<<strong>br</strong> />
já <strong>no</strong>vas estruturas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r a todos os<<strong>br</strong> />
níveis, com base na livre expressão da<<strong>br</strong> />
vonta<strong>de</strong> do povo por via <strong>de</strong>mocrática.<<strong>br</strong> />
Continuamos a aperfeiçoar estas estrutu-<<strong>br</strong> />
ras, atribuindo um conteúdo concreto à<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>ssa <strong>de</strong>mocracia e à <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> estado <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
direito. Ficou oatente nesta sala, por mais<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> ama vez, o tato <strong>de</strong> raltarem a esrns es-<<strong>br</strong> />
truturas experiência e cultura políticas,<<strong>br</strong> />
competência e conhecimentos nesta ou<<strong>br</strong> />
naquela matéria em especifico. Os <strong>no</strong>vos<<strong>br</strong> />
Sovietes continuam em fase <strong>de</strong> formação:<<strong>br</strong> />
não obstante, já começaram a agir. Está<<strong>br</strong> />
patente o sentido <strong>de</strong> responsabil<strong>ida</strong><strong>de</strong> dos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>putados, o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> passar, o mais<<strong>br</strong> />
rap<strong>ida</strong>mente possível, a tratar <strong>de</strong> assuntos<<strong>br</strong> />
concretos, com <strong>de</strong>staque <strong>para</strong> as neces-<<strong>br</strong> />
s<strong>ida</strong><strong>de</strong>s prementes da população.<<strong>br</strong> />
É assim que se restabelece o po<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />
dos Sovietes. Este é um dos resultados<<strong>br</strong> />
mais importantes da perestroika, <strong>para</strong> o<<strong>br</strong> />
qual as <strong>org</strong>anizações e os militantes do<<strong>br</strong> />
Partido <strong>de</strong>ram uma contribuição <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
peso. Todavia, assiste-se, em algumas re-<<strong>br</strong> />
PERESTROIKA<<strong>br</strong> />
SIGNIFICA LIBERDADE<<strong>br</strong> />
giões, a uma certa alienação entre os<<strong>br</strong> />
PCUS e os Sovietes. Compete aos comu-<<strong>br</strong> />
nistas responsabilizar por este fato a si<<strong>br</strong> />
mesmos, em primeiro lugar, e renunciar,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma vez por todas, à velha atitu<strong>de</strong> <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
com os Sovietes, ao estilo e métodos her-<<strong>br</strong> />
dados do sistema administratlvo-burocràti-<<strong>br</strong> />
co. Os <strong>no</strong>vos órgãos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r reagem a<<strong>br</strong> />
semelhantes reincidências com indigna-<<strong>br</strong> />
ção.<<strong>br</strong> />
Quero repetir, uma vez mais, o que já<<strong>br</strong> />
disse <strong>no</strong> relatório. O reforço da or<strong>de</strong>m e da<<strong>br</strong> />
legal<strong>ida</strong><strong>de</strong>, a formação <strong>de</strong> mecanismos<<strong>br</strong> />
capazes <strong>de</strong> põr em execução as <strong>de</strong>libera-<<strong>br</strong> />
ções dos órgãos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que estão dire-<<strong>br</strong> />
tamente vinculados à <strong>de</strong>volução incondi-<<strong>br</strong> />
cional dos po<strong>de</strong>res e competências aos<<strong>br</strong> />
Sovietes <strong>de</strong> todos os níveis. É <strong>de</strong>ver sa-<<strong>br</strong> />
grado <strong>de</strong> todo o PCUS, das <strong>org</strong>anizações<<strong>br</strong> />
Vermelho e Branco - Outu<strong>br</strong>o/90<<strong>br</strong> />
fala<<strong>br</strong> />
Michael Lowy nasceu em São<<strong>br</strong> />
Paulo em 1938 e saiu exilado do<<strong>br</strong> />
Brasil em 1969, rumo à França,<<strong>br</strong> />
on<strong>de</strong> vive <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então. Colaborador<<strong>br</strong> />
da corrente IV Internacional, diri-<<strong>br</strong> />
g<strong>ida</strong> pelo eco<strong>no</strong>mista Ernest Man-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>i, Lowy tem vários livros publi-<<strong>br</strong> />
cados em português, entre eles<<strong>br</strong> />
Marxismo e religião na América Lati-<<strong>br</strong> />
na e Re<strong>de</strong>nção e utopia: o judaísmo<<strong>br</strong> />
libertário na Europa Central, ambos<<strong>br</strong> />
editados pela Companhia das Le-<<strong>br</strong> />
tras.<<strong>br</strong> />
"É verda<strong>de</strong> que a <strong>de</strong>mocratização<<strong>br</strong> />
libertou os povos do Leste <strong>de</strong> 40 a<strong>no</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> ditadura stalinista. Mas, ao mesmo<<strong>br</strong> />
tempo, há uma espécie <strong>de</strong> revanche<<strong>br</strong> />
das forças neoliberais, restauradoras<<strong>br</strong> />
do capitalismo, e <strong>de</strong> nacionalisipos<<strong>br</strong> />
por vezes perigosos, o que não per-<<strong>br</strong> />
mite previsões mais otimistas". A<<strong>br</strong> />
afirmação é do sociólogo Michael<<strong>br</strong> />
Lowy, que falou ao Vermelho e Bran-<<strong>br</strong> />
co durante o seminário so<strong>br</strong>e Leon<<strong>br</strong> />
Trotsky.<<strong>br</strong> />
Para Lowy, "se há <strong>no</strong> Leste um<<strong>br</strong> />
sentimento autêntico <strong>de</strong> recuperação<<strong>br</strong> />
dos valores nacionais, também existe<<strong>br</strong> />
o 'acerto <strong>de</strong> velhas contas', congela-<<strong>br</strong> />
das pelo stalinismo. Vemos o ressur-<<strong>br</strong> />
e dos comitês do Partido, dos militantes<<strong>br</strong> />
comunistas eleitos <strong>para</strong> os Sovietes e os<<strong>br</strong> />
<strong>org</strong>anismos dirigentes dos coletivos labo-<<strong>br</strong> />
rais, contribuir neste sentido. Simultanea-<<strong>br</strong> />
mente, apelo aos <strong>de</strong>putados dos Sovietes<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> que ajam <strong>de</strong> um modo mais construti-<<strong>br</strong> />
vo, observando as <strong>no</strong>rmas constitucionais<<strong>br</strong> />
e legais, i-aço este apeio, so<strong>br</strong>etudo, como<<strong>br</strong> />
presi<strong>de</strong>nte. Vale ressaltar que alguns <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
putados preferem a cofrontação. Assiste-<<strong>br</strong> />
se a dois males igualmente perigosos: a<<strong>br</strong> />
incompreensão, por parte dos comunistas,<<strong>br</strong> />
da ausência dos <strong>no</strong>vos Sovietes e da sua<<strong>br</strong> />
missão <strong>de</strong> contribuir <strong>para</strong> que a situação<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong> país volte à <strong>no</strong>rmal<strong>ida</strong><strong>de</strong>, por um lado, e<<strong>br</strong> />
a incompreensão, por parte dos <strong>de</strong>puta-<<strong>br</strong> />
dos, da necess<strong>ida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperar com as<<strong>br</strong> />
<strong>org</strong>anizações do PCUS, por outro."<<strong>br</strong> />
Michael Lowy<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> "velhas contas"<<strong>br</strong> />
gimento do anü-semiüsmo, sérvios<<strong>br</strong> />
lutando contra croatas e albaneses na<<strong>br</strong> />
Iugoslávia, armênios contra azeris na<<strong>br</strong> />
URSS, em uma tendência que promete<<strong>br</strong> />
se agravar <strong>no</strong> futuro".<<strong>br</strong> />
"Sem dúv<strong>ida</strong>, a maioria dos povos<<strong>br</strong> />
do Leste, ao eleger gover<strong>no</strong>s conser-<<strong>br</strong> />
vadores, está optando por alternativas<<strong>br</strong> />
econômicas neoliberais, como res-<<strong>br</strong> />
posta a décadas <strong>de</strong> fracasso da plani-<<strong>br</strong> />
ficação burocrática", raciocina. "Mas<<strong>br</strong> />
creio que há uma certa ilusão, que os<<strong>br</strong> />
meios <strong>de</strong> comunicação do Oci<strong>de</strong>nte se<<strong>br</strong> />
encarregam <strong>de</strong> espalhar ainda mais.<<strong>br</strong> />
Muita gente <strong>no</strong> Leste acredita que está<<strong>br</strong> />
entrando <strong>no</strong> primeiro mundo, quando<<strong>br</strong> />
a tendência é a terceiro-mundialização<<strong>br</strong> />
do antigo bloco socialista. A expe-<<strong>br</strong> />
riência fará posteriormente vários paí-<<strong>br</strong> />
ses optarem por um terceiro caminho,<<strong>br</strong> />
o socialismo <strong>de</strong>mocrático, on<strong>de</strong> o Es-<<strong>br</strong> />
tado controle as principais alavancas<<strong>br</strong> />
da eco<strong>no</strong>mia, autoger<strong>ida</strong>s <strong>de</strong>mocrati-<<strong>br</strong> />
camente pelos trabalhadores. Uma so-<<strong>br</strong> />
cieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> as gran<strong>de</strong>» opções - se<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vem ser construídos mais automóvel<<strong>br</strong> />
ou ônibus, por exemplo — sejam <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
terminadas por ela própria, e não por<<strong>br</strong> />
meio dúzia <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>cratas ou capita-<<strong>br</strong> />
listas", acredita Lowy.
Para o sociólogo, "não se po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
confundir o socialismo <strong>de</strong>mocrático<<strong>br</strong> />
com a estatização <strong>de</strong> tudo, incluindo<<strong>br</strong> />
restaurantes, sapatarias ou carrinhos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> pipocas. E creio que um aspecto<<strong>br</strong> />
central do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste ter-<<strong>br</strong> />
ceiro caminho será a preservação do<<strong>br</strong> />
meio ambiente, <strong>de</strong>struído tanto pelo<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>lo estatal burocrático como pelo<<strong>br</strong> />
capitalismo", diz.<<strong>br</strong> />
De acordo com Michael Lowy,<<strong>br</strong> />
"embora o socialismo esteja hoje na<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>fensiva, existem sinais bastante<<strong>br</strong> />
animadores. Muitos capitalistas que<<strong>br</strong> />
investem <strong>no</strong> antigo bloco socialista<<strong>br</strong> />
reclamam <strong>de</strong> uma certa 'tendência<<strong>br</strong> />
igualitária obstinada' das populações;<<strong>br</strong> />
uma resistência a se submeter a <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
Vermelho e Branco - Setem<strong>br</strong>o/90<<strong>br</strong> />
UCRÂNIA E<<strong>br</strong> />
BIELO-RUSSIA<<strong>br</strong> />
As <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> soberania da Ucrânia e<<strong>br</strong> />
Bielo-Russia representam um dos maiores <strong>de</strong>sa-<<strong>br</strong> />
fios já enfrentados pela glas<strong>no</strong>st <strong>de</strong> Mikhail Gor-<<strong>br</strong> />
batchev. A Ucrânia, por exemplo, tem 52 milhões<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> habitantes, produz a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ferro e um<<strong>br</strong> />
quarto do carvão, leite e carne consumidos <strong>no</strong><<strong>br</strong> />
pafs. Por muitos a<strong>no</strong>s a Ucrânia e principalmente a<<strong>br</strong> />
Bielo-Rússia, foram apresentadas como evidên-<<strong>br</strong> />
cias do "sucesso" da política <strong>de</strong> russificação só-<<strong>br</strong> />
cios mi<strong>no</strong>ntá<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Moscou. Até a meta<strong>de</strong> dos<<strong>br</strong> />
a<strong>no</strong>s 80, o Kremlin consi<strong>de</strong>rava o nacionalismo lo-<<strong>br</strong> />
cal extinto.<<strong>br</strong> />
A forma como Bielo-Rússia e Ucrânia <strong>de</strong>cla-<<strong>br</strong> />
raram sua soberania também colocou Gotbatchev<<strong>br</strong> />
em xeque. Conhecendo o fracasso da in<strong>de</strong>pen-<<strong>br</strong> />
dência <strong>de</strong>clarada a seco pelos Litua<strong>no</strong>s, forçados<<strong>br</strong> />
a <strong>volta</strong>r atrás <strong>de</strong>vido às pressões <strong>de</strong> Moscou, as<<strong>br</strong> />
duas repúblicas se apressaram em garantir sua<<strong>br</strong> />
"fi<strong>de</strong>l<strong>ida</strong><strong>de</strong> á fe<strong>de</strong>ração". Nem por isso <strong>de</strong>ixaram<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> adotar med<strong>ida</strong>s radicais, que na prática re<strong>de</strong>fi-<<strong>br</strong> />
nem as relações entre a URSS e as duas repúbli-<<strong>br</strong> />
cas. A Ucrâijia anunciou a formação <strong>de</strong> seu próprio<<strong>br</strong> />
exército e criou sua moeda. Até a Igreja Ucraniana<<strong>br</strong> />
reivindica seu distanciamento do centro moscovita.<<strong>br</strong> />
Ucrania<strong>no</strong>s e blelo-russos têm profundas liga-<<strong>br</strong> />
ções históricas com os poloneses e bâlticos, cujo<<strong>br</strong> />
renascimento nacional <strong>de</strong>ixou reflexos so<strong>br</strong>e os vi-<<strong>br</strong> />
zinhos. A Bielo-Rússia - então autô<strong>no</strong>ma - fez<<strong>br</strong> />
parte do Grâo-Ducado <strong>de</strong> Kiev entre os séculos IX<<strong>br</strong> />
e XIV, junto com outros povos da regiáo. Absorvi-<<strong>br</strong> />
dos pelo império czarista <strong>no</strong> século XVIII, os bie-<<strong>br</strong> />
lo-russos foram submetidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então a um<<strong>br</strong> />
duro processo <strong>de</strong> russiScação, massacre <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
tradições culturais. A república teria um <strong>br</strong>eve mo-<<strong>br</strong> />
mento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência entre 1918 e 1919, <strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
pois da revolução socialista. Mas, como república<<strong>br</strong> />
socialista, seria logo incorporada à URSS.<<strong>br</strong> />
So<strong>br</strong>e o gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> Stalln, a coletivização for-<<strong>br</strong> />
çada na zona rural (1938/41) <strong>de</strong>ixou um saldo ter-<<strong>br</strong> />
rível na Bielo-Rússia: dois milhões <strong>de</strong> mortos, que<<strong>br</strong> />
se somariam a outros 2,2 milhões durante a ocu-<<strong>br</strong> />
pação nazBta (a república tinha lOmilhões<strong>de</strong> ha-<<strong>br</strong> />
bitantes, à época).<<strong>br</strong> />
A glas<strong>no</strong>sl a<strong>br</strong>iu espaço <strong>para</strong> o renascimento<<strong>br</strong> />
nacional bielo-russo. Em 1986, um grupo <strong>de</strong> inte-<<strong>br</strong> />
lectuais enviou uma carta ao Kremlin, exigindo a<<strong>br</strong> />
plena restauração do idioma <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> e nas re-<<strong>br</strong> />
partições públicas. No a<strong>no</strong> seguinte, os mesmos<<strong>br</strong> />
intelectuais estariam à frente da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> fos-<<strong>br</strong> />
sas comuns, com restos <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 500 mil viti-<<strong>br</strong> />
mas do stalinismo.<<strong>br</strong> />
Daf por diante suce<strong>de</strong>ram-se as manifestações<<strong>br</strong> />
em favor da auto<strong>no</strong>mia nacional, por vezes reunin-<<strong>br</strong> />
do centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas <strong>no</strong> centro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Minsk, a capital. Em <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1989, a recém<<strong>br</strong> />
terminadas <strong>no</strong>rmas, usuais na cartilhíu<<strong>br</strong> />
neoliberal. Esse é um excelente ponto<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> part<strong>ida</strong> <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento da<<strong>br</strong> />
alternativa socialista <strong>de</strong>mocrática. E já<<strong>br</strong> />
há correntes que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m este mo-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>lo — são mi<strong>no</strong>ritárias mas não insig-<<strong>br</strong> />
nificantes, como o <strong>no</strong>vo Partido So-<<strong>br</strong> />
cialista, na URSS, e as facções alter-<<strong>br</strong> />
nativas <strong>de</strong>ntro do Fórum Cívico tche-<<strong>br</strong> />
coslovaco".<<strong>br</strong> />
Quanto ao <strong>no</strong>vo mo<strong>de</strong>lo econômico<<strong>br</strong> />
que começa a ser adotado na URSS,<<strong>br</strong> />
Lowy afirma que "o pla<strong>no</strong> ultraliberal<<strong>br</strong> />
elaborado por Boris Yeltsin representa<<strong>br</strong> />
um passo fundamental rumo à restau-<<strong>br</strong> />
ração do capitalismo. Isso <strong>de</strong>monstra<<strong>br</strong> />
que, apesar <strong>de</strong> Mikhail Gorbatchev e<<strong>br</strong> />
sua equipe serem gente bem intencio-<<strong>br</strong> />
-.-.-.-.- Fronteira do Império<<strong>br</strong> />
tzarista em 1914<<strong>br</strong> />
LITUÂNIA<<strong>br</strong> />
Naçéo bíltlc» majorltarl»-<<strong>br</strong> />
mente católica, un<strong>ida</strong> à Po-<<strong>br</strong> />
Ma <strong>de</strong> 1386 a 1795<<strong>br</strong> />
Anexada pela Rússia em<<strong>br</strong> />
1795<<strong>br</strong> />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> 1918 a<<strong>br</strong> />
1940<<strong>br</strong> />
POLÔNIA<<strong>br</strong> />
Em outras épocas, un<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
a Lituânia, foi o maior<<strong>br</strong> />
pais da Europa.<<strong>br</strong> />
Em gran<strong>de</strong> parte anexa-<<strong>br</strong> />
da pela Rússia entre<<strong>br</strong> />
1773 e 1795. In<strong>de</strong>pen-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1918.<<strong>br</strong> />
UCRÂNIA<<strong>br</strong> />
Nação <strong>de</strong> eslavos orientais conhecldlos antiga-<<strong>br</strong> />
mente como rute<strong>no</strong>s, e <strong>de</strong><strong>no</strong>minados "peque-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s russos' pelos teares. Anexada é Rússia em<<strong>br</strong> />
várias etapas entre 1662 e 1795. A Ucrânia Ocl-<<strong>br</strong> />
-dantal, sob o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> Galicla Oriental foi parte<<strong>br</strong> />
da Áustria e da Polônia até'1939. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 1918 a 1920; reconquistada pelo Exército<<strong>br</strong> />
Vermelho.<<strong>br</strong> />
criada Frente Popular Blelo-Russa participou da<<strong>br</strong> />
conferência do Movimento Democrático Nacional<<strong>br</strong> />
dos Povos da URSS, reunindo também represen-<<strong>br</strong> />
tantes da Armênia, Geórgia, Ucrânia, Lituânia,<<strong>br</strong> />
Letônia e Estônia. O enconlro concluiu exigindo a<<strong>br</strong> />
plena restauração dos direitos nacionais e culturais<<strong>br</strong> />
dos povos da URSS. Naquele mesmo a<strong>no</strong>, a<<strong>br</strong> />
Frente Popular elegeu cinco dos sete represen-<<strong>br</strong> />
tantes distritais por Minsk <strong>no</strong> Congresso dos De-<<strong>br</strong> />
putados do Povo, da URSS. E em <strong>no</strong>vem<strong>br</strong>o, o go-<<strong>br</strong> />
ver<strong>no</strong> bielo-russo relnstituia o ensi<strong>no</strong> o<strong>br</strong>igatório<<strong>br</strong> />
do idioma <strong>no</strong> primeiro grau, assim como exames<<strong>br</strong> />
dp bielo-russo <strong>para</strong> o ingresso nas univers<strong>ida</strong><strong>de</strong>s:<<strong>br</strong> />
primeiro passo <strong>para</strong> a soberania <strong>de</strong>clarada em ju-<<strong>br</strong> />
lho passado.<<strong>br</strong> />
ja o renascimento nacional ucrania<strong>no</strong> tem na<<strong>br</strong> />
origem a profunda oposição á russificação e ao<<strong>br</strong> />
stalinismo. Entre quatro e seis milhões <strong>de</strong> ucrania-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s, foram mortos <strong>de</strong> fome, com a coletivização<<strong>br</strong> />
forçada. Dez mil casos <strong>de</strong> antropofagia registra-<<strong>br</strong> />
ram-se à época. E o horror stalinista levou inclusi-<<strong>br</strong> />
ve gran<strong>de</strong> parte da população a apoiar os invaso-<<strong>br</strong> />
nada — o setor mais lúcido da burocra-<<strong>br</strong> />
cia soviética —, eles não têm rumo<<strong>br</strong> />
certo. São extremamente pragmáticos<<strong>br</strong> />
e oscilam seus pla<strong>no</strong>s conforme o<<strong>br</strong> />
momento. Veja que, até o acordo com<<strong>br</strong> />
Yeltsin, "Gorbatchev <strong>de</strong>fendia uma re-<<strong>br</strong> />
forma, conservando a essência do re-<<strong>br</strong> />
gime socialista; agora tudo mudou",<<strong>br</strong> />
afirma.<<strong>br</strong> />
Michael Lowy reconhece que "as<<strong>br</strong> />
tendências hegemônicas favorecem a<<strong>br</strong> />
restauração do capitalismo". Mas faz<<strong>br</strong> />
uma ressalva: "A revolução que <strong>de</strong>s-<<strong>br</strong> />
truiu a burocracia stalinista representa<<strong>br</strong> />
a vitória dos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia e<<strong>br</strong> />
pluralismo. E, nesse sentido, é tam-<<strong>br</strong> />
bém uma vitória póstuma <strong>de</strong> Leon<<strong>br</strong> />
Trotsky", conclui.<<strong>br</strong> />
TRANSCAUCASIA<<strong>br</strong> />
PAÍSES INDEPENDENTES -1918-1921]<<strong>br</strong> />
FINLÂNDIA<<strong>br</strong> />
Andgaments unMa i Suéda.<<strong>br</strong> />
Araiada peta Rúarta em 1918<<strong>br</strong> />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1918<<strong>br</strong> />
ESTÔNIA<<strong>br</strong> />
Historicamente e<<strong>br</strong> />
à Finlândia.<<strong>br</strong> />
Antigamente parte da Suécia até<<strong>br</strong> />
1308, quando foi anexada à Rússia.<<strong>br</strong> />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> 1918 a 1940<<strong>br</strong> />
Antigamente Uvônia e Ducsdo <strong>de</strong> Curian<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Parte da Suécia até 1808. então anexada<<strong>br</strong> />
à Rússia.<<strong>br</strong> />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> 1918 a 1940<<strong>br</strong> />
Mah propriamente "Ruttnto Branca", nsçào es-<<strong>br</strong> />
lava oriental esUeitanieiHe ligada aos ucrania-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s. Historicamente, parte do Gréo-Oucado da<<strong>br</strong> />
Utuânia até 1793.<<strong>br</strong> />
Teoricamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1918<<strong>br</strong> />
C0SSAC0S DO DON<<strong>br</strong> />
Comun<strong>ida</strong><strong>de</strong> autô<strong>no</strong>ma, in<strong>de</strong>pen-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nte por um <strong>br</strong>eve periodo durante<<strong>br</strong> />
a Guerra CMI Russa<<strong>br</strong> />
Anexada pela Rússia <strong>de</strong> 1801 a 1828. A Geórgia e a Armênia sao velhas<<strong>br</strong> />
nações cristãs. A Armênia Oci<strong>de</strong>ntal foi parte do império otoma<strong>no</strong> 0 Aor-<<strong>br</strong> />
baljão (muçulma<strong>no</strong>) era parte da Pérsia (Irã). In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> 1918 a<<strong>br</strong> />
1921<<strong>br</strong> />
res nazistas durante a guerra.<<strong>br</strong> />
Após a expulsão dos alemães, átalin <strong>de</strong>senca-<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ou uma sangrenta represália, que termi<strong>no</strong>u com<<strong>br</strong> />
o assassinato <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> ucrania-<<strong>br</strong> />
<strong>no</strong>s e a transferêneta <strong>para</strong> a república <strong>de</strong> milhões<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> russos étnicos (hoje eles são 21% da popula-<<strong>br</strong> />
ção).<<strong>br</strong> />
As coisas mudaram com a glas<strong>no</strong>st e naciona-<<strong>br</strong> />
listas ucrania<strong>no</strong>s passaram a manter contatos es-<<strong>br</strong> />
treitos com o Sol<strong>ida</strong>rieda<strong>de</strong> polonês e movimentos<<strong>br</strong> />
semelhantes <strong>no</strong> Báltico.<<strong>br</strong> />
O que culmi<strong>no</strong>u com a eleição da Frente Po-<<strong>br</strong> />
pular (Roukh) <strong>para</strong> o gover<strong>no</strong>, e a <strong>de</strong>claração da<<strong>br</strong> />
soberania. A ogeriza ao stalinismo. porém, <strong>de</strong>ixou<<strong>br</strong> />
marcas protundas na memória da população e o<<strong>br</strong> />
próprio Roukh <strong>de</strong>nuncia o ressurgimento <strong>de</strong> gru-<<strong>br</strong> />
pos nazistas em Kiev, a capital. Um dos dirigentes<<strong>br</strong> />
da Frente Popular, Bension Kotlik, que é ju<strong>de</strong>o re-<<strong>br</strong> />
conheceu que a população judaica está atemoriza-<<strong>br</strong> />
da com o fantasma do renascimento do anti-semi-<<strong>br</strong> />
tismo ucrania<strong>no</strong>, e vem solicitando em massa a<<strong>br</strong> />
emigração <strong>para</strong> Israel.
Vermelho e Branco - Setem<strong>br</strong>o/90<<strong>br</strong> />
A COMPLICADA<<strong>br</strong> />
FEDERAÇÃO<<strong>br</strong> />
SOVIÉTICA<<strong>br</strong> />
dos Aga<<strong>br</strong> />
Buriatos<<strong>br</strong> />
dos Komis-<<strong>br</strong> />
Permiaka<<strong>br</strong> />
Em<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>fesa<<strong>br</strong> />
do Socialismo<<strong>br</strong> />
Florestan Fernan<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
A Fe<strong>de</strong>ração Soviética é tão complexa que exige um bom tempo <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
compreensão <strong>de</strong> seu <strong>org</strong>a<strong>no</strong>grama. O território é dividido em 15 Repúbücas<<strong>br</strong> />
Soviéticas, casa uma com o <strong>no</strong>me da nacional<strong>ida</strong><strong>de</strong> dominantes. Estão repre-<<strong>br</strong> />
sentadas <strong>no</strong> círculo centraL Dentro <strong>de</strong>las, <strong>no</strong> entanto, há muitas outras nacio-<<strong>br</strong> />
nal<strong>ida</strong><strong>de</strong>, as mais significativas conando também com <strong>org</strong>anização política<<strong>br</strong> />
própria. São 20 Repúblicas Autô<strong>no</strong>mas, representadas <strong>no</strong> semkJruik) se-<<strong>br</strong> />
guinte, 8 Regiões Autô<strong>no</strong>mas representadas nas extrem<strong>ida</strong><strong>de</strong>s lalenaLv e 10<<strong>br</strong> />
Áreas, ou distritos nacionais, representadas <strong>no</strong> extremo inferior. Ao todo, são<<strong>br</strong> />
53 Un<strong>ida</strong><strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>radas. A relação <strong>de</strong> inclusão é indicada pelos tra^os-<strong>de</strong>-<<strong>br</strong> />
união. As cores ajudam a i<strong>de</strong>ntificar estas relações. Por exemplo, todas as fi-<<strong>br</strong> />
gurás-em <strong>br</strong>anco indicam un<strong>ida</strong><strong>de</strong>s internas à República Soviética Russa.<<strong>br</strong> />
No momento, cada uma <strong>de</strong>ssas nacional<strong>ida</strong><strong>de</strong>s reclama seus direitos, seja<<strong>br</strong> />
contra a União, seja contra a nacional<strong>ida</strong><strong>de</strong> dominante na un<strong>ida</strong><strong>de</strong> a que per-<<strong>br</strong> />
tence.<<strong>br</strong> />
REPÚBLICAS SOCIALISTAS<<strong>br</strong> />
SOVIÉTICAS<<strong>br</strong> />
dos Cacássios<<strong>br</strong> />
lamai-Nenets<<strong>br</strong> />
dos Koriak dos Tchuktches dos Evenks<<strong>br</strong> />
Florestan Fernan<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
ataca com vigor o anacronismo<<strong>br</strong> />
histórico do neoliberalismo,<<strong>br</strong> />
fala so<strong>br</strong>e o futuro da<<strong>br</strong> />
revolução lati<strong>no</strong>-americana;<<strong>br</strong> />
do Partido dos Trabalhadores;<<strong>br</strong> />
combate aqueles que<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>ram que o marxismo morreu,<<strong>br</strong> />
mostra as diferenças entre<<strong>br</strong> />
os processos vividos pela URSS<<strong>br</strong> />
e pelos paises do Leste europeu.<<strong>br</strong> />
Florestan faz un convite<<strong>br</strong> />
muito especial <strong>para</strong> que<<strong>br</strong> />
voltemos a leitura dos clássicos<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> melhor enten<strong>de</strong>rmos seus<<strong>br</strong> />
intérpretes e suas<<strong>br</strong> />
contribuições valiosas.<<strong>br</strong> />
x<<strong>br</strong> />
tn<<strong>br</strong> />
O<<strong>br</strong> />
O<<strong>br</strong> />
O<<strong>br</strong> />
z<<strong>br</strong> />
O<<strong>br</strong> />
>
in "A Poesia Possível" <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
OS DESAPARECIDOS Affonso Roma<strong>no</strong> <strong>de</strong> Santana<<strong>br</strong> />
1<<strong>br</strong> />
De repente, naqueles dias, começaram<<strong>br</strong> />
a <strong>de</strong>saparecer pessoas, estranhamente.<<strong>br</strong> />
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito<<strong>br</strong> />
naqueles dias.<<strong>br</strong> />
Ia-se colher a flor oferta<<strong>br</strong> />
e se esvanecia.<<strong>br</strong> />
Eclipsava-se entre um en<strong>de</strong>reço e outro<<strong>br</strong> />
ou <strong>no</strong> taxi que se ia.<<strong>br</strong> />
Culpado ou não, sumia-se<<strong>br</strong> />
Ao regressar do escritório ou da <strong>org</strong>ia.<<strong>br</strong> />
Entre um trago <strong>de</strong> conhaque<<strong>br</strong> />
e um ace<strong>no</strong> <strong>de</strong> mão, o bebedor sumia.<<strong>br</strong> />
Evaporava o pai<<strong>br</strong> />
ao encontro da filha que não via.<<strong>br</strong> />
Mães segurando filhos e compras,<<strong>br</strong> />
gestantes com tricots ou grupos <strong>de</strong> estudantes<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sapareciam.<<strong>br</strong> />
Desapareciam amantes em ple<strong>no</strong> beijo<<strong>br</strong> />
e médicos em meio a cirurgia.<<strong>br</strong> />
Mecânicos <strong>de</strong> diluiam<<strong>br</strong> />
- mal ligavam o tomo do dia.<<strong>br</strong> />
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito<<strong>br</strong> />
naqueles dias.<<strong>br</strong> />
Desaparecia-se a olhos vistos<<strong>br</strong> />
e não era miopia. Desaparecia-se<<strong>br</strong> />
até à primeira vista. Bastava<<strong>br</strong> />
que alguém visse um <strong>de</strong>saparecido<<strong>br</strong> />
e o <strong>de</strong>saparecido <strong>de</strong>saparecia.<<strong>br</strong> />
Desaparecia o mais conspícuo<<strong>br</strong> />
e o mais obscuro sumia.<<strong>br</strong> />
Até <strong>de</strong>putados e presi<strong>de</strong>ntes esvanesciam.<<strong>br</strong> />
Sacerdotes, igualmente levitando<<strong>br</strong> />
iam, aerefeitos constatas <strong>no</strong> além<<strong>br</strong> />
como os pescadores partiam.<<strong>br</strong> />
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito<<strong>br</strong> />
naqueles dias.<<strong>br</strong> />
Os atores <strong>no</strong> palco<<strong>br</strong> />
entre urn gesto e outro, e os da platéia<<strong>br</strong> />
enquanto riam.<<strong>br</strong> />
Não, não era fácil<<strong>br</strong> />
ser poeta naqueles dias.<<strong>br</strong> />
Porque os poetas, so<strong>br</strong>etudo<<strong>br</strong> />
- <strong>de</strong>sapareciam.<<strong>br</strong> />
Se fosse ao tempo da Bíblia, eu diria<<strong>br</strong> />
que carros <strong>de</strong> fogo arrebatavam os mais puros<<strong>br</strong> />
em mística euforia. Não era. E ironia.<<strong>br</strong> />
E os que estavam perto, em pânico, fingiam<<strong>br</strong> />
que não viam. Se abstraiam.<<strong>br</strong> />
Continuavam seu baralho a conversar <strong>de</strong>mências<<strong>br</strong> />
com o ausente, como se ele estivesse ali sorrindo<<strong>br</strong> />
com roupas e <strong>de</strong>ntes.<<strong>br</strong> />
Em toda família à mesa havia<<strong>br</strong> />
uma ca<strong>de</strong>ira vazia, a qual se dirigiam.<<strong>br</strong> />
Servia-se com<strong>ida</strong> fria ao extinguido parente<<strong>br</strong> />
e isto alimentava ficções<<strong>br</strong> />
- nas salas e mentes<<strong>br</strong> />
enquanto <strong>no</strong> palácio, remorsos vivos<<strong>br</strong> />
boiavam<<strong>br</strong> />
- na sopa do presi<strong>de</strong>nte.<<strong>br</strong> />
As flores olhando a cena, não compreendiam.<<strong>br</strong> />
Indagavam dos pássaros, que emi<strong>de</strong>ciam.<<strong>br</strong> />
As janelas das casas, mal podia crer<<strong>br</strong> />
- <strong>no</strong> que viam.<<strong>br</strong> />
As pedras, <strong>no</strong> entanto,<<strong>br</strong> />
gravavam os <strong>no</strong>mes dos fantasmas<<strong>br</strong> />
pois sabiam que quando chegasse a hora<<strong>br</strong> />
por serem pedras, falariam.<<strong>br</strong> />
O <strong>de</strong>saparecido é como um rio:<<strong>br</strong> />
- se tem nascente, tem foz.<<strong>br</strong> />
Se teve corpo, tem ou terá voz.<<strong>br</strong> />
Não há verme que em sua fome<<strong>br</strong> />
roa totalmente um <strong>no</strong>me. O <strong>no</strong>me<<strong>br</strong> />
habita as vísceras da fera<<strong>br</strong> />
como a vítima corroe o algoz.<<strong>br</strong> />
E surgiram sinais precisos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> que os <strong>de</strong>saparecidos, cansados<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecerem vivos<<strong>br</strong> />
iam aparecer mesmo mortos<<strong>br</strong> />
florescendo com seus corpos<<strong>br</strong> />
a primavera <strong>de</strong> ossos.<<strong>br</strong> />
Brotavam troncos <strong>de</strong> árvore,<<strong>br</strong> />
rios, insetos e nuvens<<strong>br</strong> />
em cujb porte se viam<<strong>br</strong> />
vestígios dos que sumiam.<<strong>br</strong> />
Os <strong>de</strong>saparecidos, enfim,<<strong>br</strong> />
amadureciam sua morte.<<strong>br</strong> />
Desponta um dia uma tíbia<<strong>br</strong> />
na crosta fria dos dias<<strong>br</strong> />
e <strong>no</strong> subsolo da história<<strong>br</strong> />
- coberto por duras botas,<<strong>br</strong> />
faz-se amarga arqueologia.<<strong>br</strong> />
A natureza, como a história,<<strong>br</strong> />
segrega memória e v<strong>ida</strong><<strong>br</strong> />
e cedo ou tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>sova<<strong>br</strong> />
a verda<strong>de</strong> so<strong>br</strong>e a aurora.<<strong>br</strong> />
Não há cova funda<<strong>br</strong> />
que sepulte<<strong>br</strong> />
Não há túmulo que oculte<<strong>br</strong> />
os frutos da rebeldia.<<strong>br</strong> />
Cai um dia em <strong>de</strong>sgraça<<strong>br</strong> />
a mais torpe ditadura<<strong>br</strong> />
quando os vivos saem a praça<<strong>br</strong> />
e os mortos, da sepultura.<<strong>br</strong> />
- a rasa covardia.