Caranguejo - Revista Espaço Ambiental
Caranguejo - Revista Espaço Ambiental Caranguejo - Revista Espaço Ambiental
ISSN 1983-2249 ano 2 • nº 5 • junho • julho 2008 Caranguejo o Uçá pede socorro ENTREVISTA Paulo Ruy Carnelli fala sobre Águas Limpas e ES sem lixões DESERTIfIcAção Combate à seca no Espírito Santo ainda esbarra em questões primárias VIlõES Do MEIo AMbIENTE Entenda como os óleos comestíveis podem ser prejudiciais à natureza EcoTuRISMo Um ramo promissor, mas pouco explorado
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ISSN 1983-2249<br />
ano 2 • nº 5 • junho • julho 2008<br />
<strong>Caranguejo</strong><br />
o Uçá pede socorro<br />
ENTREVISTA Paulo Ruy Carnelli fala sobre Águas Limpas e ES sem lixões DESERTIfIcAção Combate à seca<br />
no Espírito Santo ainda esbarra em questões primárias VIlõES Do MEIo AMbIENTE Entenda como os óleos<br />
comestíveis podem ser prejudiciais à natureza EcoTuRISMo Um ramo promissor, mas pouco explorado
Editorial<br />
Apoluição tornou 70% das águas de rios,<br />
lagos e lagoas do Brasil impróprias para<br />
o consumo. É o que aponta relatório editado<br />
pela organização não-governamental Defensoria<br />
da Água, ligada à Conferência Nacional<br />
dos Bispos do Brasil (CNBB). A pesquisa - que<br />
envolveu diretamente mais de 2,7 mil pessoas<br />
entre pesquisadores, monitores e voluntários<br />
- identificou 20.760 áreas de contaminação em<br />
todo o País. Entre as principais causas atribuídas<br />
à contaminação estão o agronegócio e a atividade<br />
industrial. Mas o lançamento de esgotos diretamente<br />
nos rios e a exposição de resíduos em<br />
lixões são também apontadas como causas para<br />
o crescimento contínuo da poluição das águas,<br />
principalmente nas áreas urbanas. Os pesquisadores<br />
dizem que se nada for feito, 90% das águas<br />
estarão impróprias para o consumo humano nos<br />
próximos quatro anos. No Espírito Santo, dois<br />
programas - um que já está em curso há quatro<br />
anos, o Águas Limpas, e o Espírito Santo sem Lixão,<br />
lançado neste ano - prometem acabar com<br />
dois focos deste problema. A julgar pelo fato de<br />
que os lixões estão presentes em 4,7 mil municípios<br />
brasileiros e que a deposição de resíduos<br />
continua ocorrendo nas margens de cursos de<br />
água e proximidades de nascentes, o Estado dá<br />
um importante passo para garantir a qualidade<br />
de sua água e conseqüentemente, caminhar rumo<br />
ao equilíbrio ambiental.<br />
É sobre isso que você vai ler na entrevista<br />
exclusiva com o secretário de Estado de Saneamento,<br />
Habitação e Desenvolvimento Urbano<br />
(Sedurb), Paulo Ruy Carnelli. A quinta edição<br />
de <strong>Espaço</strong> <strong>Ambiental</strong> também fala sobre Ecoturismo,<br />
Corredores Ecológicos e traz uma reportagem<br />
especial a respeito da temida Doença do<br />
<strong>Caranguejo</strong> Letárgico, que exterminou mais da<br />
metade dos caranguejos-uçá do Espírito Santo<br />
e agora volta a preocupar ambientalistas e catadores<br />
ao redor do Estado. Entenda como, onde o<br />
porquê, nas páginas a seguir. Boa leitura.
ExpEdiEntE<br />
Cartas<br />
Quero parabenizá-los pela revista <strong>Espaço</strong> <strong>Ambiental</strong><br />
e também, se possível, recebê-las revistas em<br />
meu endereço. Agradeço desde já pela atenção.<br />
Poliana Freire Ferreira<br />
Bióloga e Subsecretária de Meio Ambiente<br />
Itapemirim-ES<br />
Poliana, envie o seu endereço completo para que possamos<br />
enviar a <strong>Espaço</strong> <strong>Ambiental</strong> para você.<br />
Faço parte do projeto Mundo Jovem Cidadão<br />
(www.mundojovemcidadao.org.br), uma iniciativa<br />
das Nações Unidas e da Prefeitura Municipal<br />
de Vitória. Coordeno um Fórum criado dentro do<br />
projeto que envolve voluntários - jovens líderes<br />
revista@espacoambiental.com.br<br />
www.espacoambiental.com.br<br />
(27) 3317 6569 | (27) 3315 4390<br />
Edição Junho-Julho/2008<br />
ISSN - 1983-2249<br />
Uma publicação<br />
Balaio Comunicação e Design<br />
www.balaiodesign.com.br<br />
JORNALISTA REPONSÁVEL<br />
Wallace Capucho<br />
MTB 1934/ES<br />
jornalismo@balaiodesign.com.br<br />
REDAÇãO<br />
Editor<br />
Wallace Capucho<br />
Repórter<br />
Luiz Alberto Rasseli<br />
Diretor de Arte<br />
Felipe Gama<br />
Diagramação<br />
Felipe Mattar<br />
Thiago Greggory<br />
Arte<br />
Thiago Greggory<br />
Revisão<br />
Luiz Alberto Rasseli<br />
Produção Gráfica<br />
Chico Ribeiro<br />
das mais diversas origens - que atuam em vários<br />
projetos na Grande Vitória. Li a revista na coordenação<br />
do curso de ciências biológicas da Universidade<br />
Vila Velha (UVV). Gostaria de recebê-la para<br />
poder ficar por dentro dos assuntos abordado nas<br />
futuras edições e retribuir de alguma forma.<br />
Atenciosamente,<br />
Marcelo Sathler<br />
Coordenador Mundo Jovem Cidadão<br />
Marcelo, envie o seu endereço completo para que possamos<br />
enviar as próximas edições. Sua colaboração<br />
será bem-vinda.<br />
Escrevo para dar os parabéns à equipe que edita<br />
a ESPAÇO AMBIENTAL. A revista sempre atinge<br />
um ponto importante em suas matérias: a<br />
conscientização da importância de se preservar<br />
o meio ambiente para as gerações futuras. A revista<br />
é nota 10.<br />
Yuri Dantas<br />
Acadêmico de Direito<br />
Em primeiro lugar, quero parabenizá-los por<br />
mais uma edição da revista <strong>Espaço</strong> <strong>Ambiental</strong>.<br />
Agradeço também, em nome da equipe Solares, o<br />
espaço e a atenção dedicada ao nosso projeto na<br />
revista anterior.<br />
Atenciosamente,<br />
Equipe Solares<br />
COLABORADORES<br />
Texto<br />
Mariza Giacomin Lozer<br />
Fotografia<br />
Leonardo Merçon<br />
Pale Zuppani<br />
PUBLICIDADE<br />
Dicape Representações<br />
Serviços LTDA<br />
(27) 3229 1986<br />
dicape@uol.com.br<br />
IMPRESSãO<br />
Esta revista foi impressa em papel reciclado<br />
90g/m². Tiragem 3.500. Periodicidade<br />
bimensal. Distribuição WM<br />
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As matérias e anúncios publicitários, bem<br />
como todo o seu conteúdo de texto e imagens,<br />
são aqui publicadas sob direito de<br />
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responsabilidade de seus autores/<br />
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proibida a reprodução integral ou parcial<br />
desta publicação ou de qualquer um de seus<br />
componentes (texto, imagens, etc.), sem<br />
a prévia e expressa autorização da <strong>Revista</strong><br />
espa ç o ambiental.
Ín d iC E<br />
06 ENtrEVISta Paulo Ruy Carnelli fala sobre Águas Limpas e ES sem lixões 10 ESPE-<br />
CIal Combate à seca no Espírito Santo ainda esbarra em questões primárias 16 VIlõES do<br />
MEIo aMbIENtE Entenda como os óleos comestíveis podem ser prejudiciais à natureza 20<br />
CaPa Quem sofre mais com a volta da Doença do <strong>Caranguejo</strong> Letárgico? 30 CorrEdorES<br />
ECológICoS Conheça o projeto que pretende recuperar a Mata Atlântica capixaba 34 ECo<br />
tUrISMo Um ramo promissor, mas pouco explorado<br />
14 Na MIra | 19 EColEItUra | 19 agENda | 26 EM foCo | 38 artIgo
En t r E v i s ta<br />
Paulo Ruy Carnelli
E<br />
le foi diretor-presidente da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais<br />
(AESBE) no período de 2006 a 2008; e da Companhia Espírito Santense de Saneamento<br />
(Cesan) de 2003 a 2008, período em que a empresa viveu sucessivos superávits depois<br />
de sete anos em crise. Agora, o ex-professor universitário formado em engenharia elétrica e<br />
administrador de empresas, Paulo Ruy Valim Carnelli, tem pela frente um novo desafio: em<br />
abril de 2008 ele tornou-se o segundo secretário a assumir a novíssima Secretaria de Estado<br />
de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb).<br />
Criada em fevereiro de 2007, a Sedurb tem como principal objetivo auxiliar no desenvolvimento<br />
de políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da população através de<br />
programas nas áreas de saneamento, habitação e desenvolvimento das cidades. É a Sedurb<br />
que - ao lado de outras três secretarias - coordena dois programas que prometem ser fundamentais<br />
para o equilíbrio ambiental do Espírito Santo: o Programa Águas Limpas e o Projeto<br />
Espírito Santo sem Lixão.<br />
Como surgiu o Programa Águas Limpas e<br />
qual é a sua finalidade?<br />
O Águas Limpas é derivado de antigos programas<br />
nesta mesma área que há dez anos não se concluíam.<br />
Isso gerou muito descrédito. Assim, quando<br />
o atual governo foi formulado, integramos quatro<br />
secretarias que tem tudo a ver com o assunto, como<br />
forma de aperfeiçoar o modelo de gestão criado para<br />
o programa. Participam as Secretarias de Desenvolvimento,<br />
da Fazenda (Sefaz), de Meio Ambiente e<br />
Recursos Hídricos (Seama) e a própria Sedurb.<br />
Sua finalidade é garantir saúde para a população,<br />
pois segundo relatórios da Organização Mundial da<br />
Saúde para cada R$ 1,00 investido em saneamento<br />
básico, R$ 4,00 são poupados na medicina curativa<br />
nos hospitais. Além disso, o programa possibilitará<br />
um tratamento adequado ao meio ambiente.<br />
Quanto já foi gasto e qual o valor que ainda<br />
será necessário para sua total implantação?<br />
Já foram investidos R$ 280 milhões e nós já<br />
temos assegurados mais R$ 760 milhões para investir<br />
até 2010. Uma parte deste dinheiro é do<br />
Banco Mundial e outra do Programa de Aceleração<br />
do Crescimento (PAC). É um programa que supera<br />
mais de R$ 1 bilhão de investimentos nos dois mandatos<br />
do governador Paulo Hartung.<br />
Quais são as metas estipuladas pelo Águas<br />
Limpas?<br />
A primeira meta é deixar os 52 municípios em<br />
que a Cesan atua, inclusive municípios da Região da<br />
Grande Vitória, com 100% de abastecimento con-<br />
tínuo de água tratada. Digo 100%, pois há algumas<br />
regiões, como topo de morros, em que o fornecimento<br />
de água ainda falha. Para isto, há uma lista<br />
de obras bem extensa em andamento.<br />
A segunda meta é aumentar a porcentagem de<br />
esgoto tratado que atualmente é de 36% para 60%<br />
até o final de 2010. Com estes números, o Espírito<br />
Santo ficará numa situação sui generis no Brasil,<br />
uma vez que o País apresenta uma média de somente<br />
30% do esgoto tratado corretamente. Ou seja,<br />
ficaremos bem acima da média nacional. E nós já<br />
podemos comemorar, pois temos dois exemplos de<br />
que estamos caminhando para isso: As cidades de<br />
Venda Nova do Imigrante e Mantenópolis já ultrapassaram<br />
o que idealizamos nesta fase inicial e já<br />
estão próximas a 100% de esgoto tratado.<br />
Os 60% de esgotamento tratados são suficientes<br />
para garantir balneabilidade das<br />
praias da Grande Vitória?<br />
Ainda não, mas a prefeitura de Vitória entrou<br />
em parceria com o Estado e o seu esgotamento sanitário<br />
irá se aproximar de 100% de tratamento até<br />
2010. Vila Velha e Cariacica, que contribuem para<br />
os índices de poluição nas praias de Vitória - devido<br />
às correntes marinhas que trazem os poluentes<br />
para cá -, irão beirar a 50%. Em Guarapari, iremos<br />
nos aproximar de 90%. A sede de Viana já apresenta<br />
100% de esgoto tratado. Só que quando tivermos<br />
índices beirando a 80%, o efeito nas praias, nos rios<br />
e nos manguezais já será sentido, pois o mar possui<br />
uma capacidade de depuração muito grande. Com<br />
este percentual, já teremos balneabilidade.<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 7
8<br />
Além disso, deixaremos um estudo que ficará<br />
pronto em agosto. Ele custou R$ 2,6 milhões e dirá<br />
exatamente o que precisa ser feito e quanto custará<br />
em obras para deixar 100% da região metropolitana<br />
com esgoto totalmente tratado. É claro que isso<br />
está condicionado a mais empenho do próximo governo.<br />
Para se ter uma idéia, segundo estimativas,<br />
ainda faltam investimentos na ordem de R$ 1,5 bilhão<br />
para se chegar aos 100%.<br />
Críticos do atual governo dizem que o Águas<br />
Limpas não acrescentou nada ao Prodespol e<br />
ao Prodesan, antigos programas semelhantes<br />
a este atual.<br />
A realidade é que as obras destes programas<br />
estavam inacabadas quando os assumimos. No primeiro<br />
ano de mandato investimos R$ 31 milhões e<br />
praticamente dobramos a oferta de esgoto tratado<br />
que pulou de 20% para 36%. A partir daí, começamos<br />
a criar as condições para efetuar as obras atuais<br />
que são caras e de resultados a longo prazo. O próximo<br />
pulo com relação a números será em 2009 com<br />
três grandes obras que estão sendo construídas na<br />
Serra. O que vinha se arrastando há 10 anos, nós<br />
concluímos e ao final de oito anos apresentaremos<br />
todos esses números que já falei.<br />
De qualquer forma, ainda temos obras em andamento<br />
que totalizam R$ 50 milhões e que serão<br />
concluídas em breve. Ainda, dou mais um número:<br />
quando assumimos o governo, tinham 128 mil residências<br />
com água ligada nos 52 municípios em que<br />
a Cesan atua. Da última vez que olhei os números,<br />
já eram 215 mil. Um aumento de quase 70%. Pessoas<br />
que são responsáveis e acompanharam esses<br />
problemas de perto sabem que nosso trabalho está<br />
sendo eficaz. A Cesan tem 40 anos e tudo que foi<br />
construído neste período, nós estamos duplicando.<br />
Mas são obras que infelizmente não aparecem<br />
como outras.<br />
O programa também atingirá o interior?<br />
Sim, hoje temos obras em Muniz Freire, Marechal<br />
Floriano, Afonso Cláudio, Anchieta e Domingos<br />
Martins. Já fizemos Santa Tereza e Castelo. A<br />
idéia é a cada ano trabalharmos mais e mais cidades<br />
do interior. No entanto, a maior parte dos investimentos<br />
será feito na região metropolitana, o alvo<br />
principal do programa.<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
Como o programa se relaciona com os municípios<br />
que possuem empresas de abastecimento<br />
municipal?<br />
Nos primeiros quatro anos o governo recuperou<br />
a Cesan, que atende a 70% da população do Estado.<br />
São mais de 2 milhões de habitantes. Devido à<br />
importância do assunto, o governador criou a Sedurb<br />
para também dar suporte aos municípios que<br />
possuem empresas municipais de abastecimentos,<br />
como o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae).<br />
Assim que o Rodrigo Chamoun assumiu, iniciou<br />
conversações com estes municípios. Alguns Saae´s<br />
estão caminhando bem, uns melhores que os outros,<br />
mas todos conseguem manter uma boa oferta<br />
de água tratada. Contudo, quando se fala em esgoto<br />
tratado, eles não conseguem suprir a demanda.<br />
Nossa proposta é ajudá-los com este problema.<br />
Os serviços de captação e tratamento de água e<br />
esgoto estão cada vez mais complexos devido à poluição<br />
dos rios e o número crescente da população.<br />
Precisamos de novas engenharias, administração<br />
e técnicos qualificados e, falo com muito pesar, os<br />
Saae´s não estão conseguindo acompanhar esta<br />
evolução. Para isso, já estamos conversando com<br />
alguns municípios para que venham para a Cesan<br />
a partir de 2009. Independentemente de virem ou<br />
não, a Sedurb continuará fazendo a parte dela, que<br />
é auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas<br />
para melhorar a qualidade de vida da população.<br />
Outro projeto que Sedurb participa é o Espírito<br />
Santo sem Lixão, que prevê destinar<br />
corretamente 100% dos Resíduos Sólidos<br />
Urbanos (RSU) e acabar com os lixões a céu<br />
aberto existentes no Estado. O secretário<br />
acredita que é realmente possível?<br />
Sim, tenho certeza. Além das obras físicas, estamos<br />
construindo uma engenharia política muito<br />
importante e que possivelmente não há similar no<br />
País. Ela será responsável por englobar vários municípios<br />
em torno de um objetivo comum, que é<br />
acabar com os lixões. Como a destinação final dos<br />
RSU é, por lei, responsabilidade dos municípios, o<br />
cronograma pode não caminhar da maneira que<br />
gostaríamos, mas o Estado fará a sua parte e isso<br />
não é nenhum bicho de sete cabeças.<br />
Dividimos o Estado em seis regiões, duas estão<br />
na região metropolitana. Estas não são prioridades
“Pessoas que são responsáveis e acompanharam esses problemas<br />
de perto sabem que nosso trabalho está sendo eficaz.”<br />
neste primeiro momento, pois há oferta de aterros<br />
privados na região. Resolvemos atacar aonde<br />
o problema é mais acentuado, isto é, nas regiões<br />
norte e no sul que terão dois aterros cada. Os<br />
municípios foram divididos em conglomerados<br />
de acordo com uma análise econômica e de engenharia<br />
que mostrou qual é o ponto central para<br />
implantarmos o aterro, obviamente um município<br />
mais populoso. Em volta destes aterros principais,<br />
haverá estações de transbordo que captarão<br />
os RSU das demais cidades. Uma estrutura<br />
muito bem feita que já foi visitada por técnicos<br />
do Banco Mundial, da Caixa Econômica Federal e<br />
até de outros estados.<br />
Como está sendo a reação dos prefeitos a<br />
este programa?<br />
Melhor seria impossível. Todos eles, da região<br />
norte e sul, já assinaram um protocolo de intenção,<br />
que foi o primeiro passo. Depois eles apresentaram<br />
o projeto em suas respectivas câmaras municipais.<br />
Os municípios do norte já aprovaram. Faltam os<br />
do sul que já estão em fase de aprovação. Não há<br />
porque não aderir ao projeto, pois isso não trará nenhum<br />
trabalho a mais para as prefeituras que, de<br />
qualquer forma, têm que dar uma destinação final<br />
ao lixo. É melhor para todos que seja em um local<br />
correto. Além disso, eles terão menos problemas<br />
com os órgãos ambientais e o Ministério Público<br />
que a cada dia aperta mais o cerco.<br />
Quando começam as obras dos aterros?<br />
Quanto custará e quem irá bancar?<br />
A Sedurb está preparando os editais de licitação<br />
para a construção dos aterros. Eles custarão<br />
R$ 60 milhões entre obras e gerenciamento. A<br />
empresa que ganhar a licitação ficará responsável<br />
pela escolha de um local, dentro da região que já<br />
foi pré-definida nos estudos, para nossa avaliação<br />
e também dos órgãos de licenciamento ambiental.<br />
Só depois destes trâmites, é que as obras terão<br />
início. Elas estão previstas para 2009.<br />
E quanto aos resíduos perigosos, como pilhas,<br />
baterias, lixo hospitalar, lâmpadas,<br />
metais pesados, embalagens de agrotóxico,<br />
entre outros? Eles ganharão aterros especiais?<br />
O projeto ES sem Lixão é voltado para os chamados<br />
resíduos domiciliares e de alguns comércios.<br />
Os “lixos perigosos” continuarão de responsabilidade<br />
das prefeituras. Mas à medida que o projeto<br />
avançar, ele criará capacidade técnica e política para<br />
que os municípios resolvam mais este problema de<br />
forma associativa. Estamos focando inicialmente<br />
nos RSU para não dispersarmos esforços nesta primeira<br />
fase.<br />
Outro problema são os resíduos da construção<br />
civil e de outras empresas. A legislação diz que eles<br />
são de responsabilidade do gerador. No entanto, os<br />
prefeitos têm que ter coragem de cobrar e fazer a<br />
lei ser obedecida. A Cesan, por exemplo, envia seus<br />
resíduos, como das estações de lodo ativado, para<br />
aterros privados.<br />
Com relação à coleta seletiva e à educação<br />
ambiental. O ES sem Lixão contempla ações<br />
nesta área?<br />
O ES sem Lixão é um projeto de engenharia ambiental.<br />
Criaremos os aterros que resolverá 95% dos<br />
problemas. A Seama e o Iema, que também fazem<br />
parte do projeto, trabalharão a questão de educação<br />
ambiental que é fundamental para os programas de<br />
coleta seletiva e reciclagem.<br />
Mas é bom dizer que a coleta seletiva ainda é um<br />
tanto complexa, não só aqui, mas no Brasil inteiro.<br />
É muito difícil realizá-la individualmente. Além disso,<br />
não é só fazer a seleção, é preciso comercializar<br />
e este mercado é complicado, pois os compradores<br />
só querem negociar em larga escala. O ES sem Lixão<br />
facilitará aos municípios trabalharem de forma associativa.<br />
Com isso, eles terão mais facilidade para<br />
avançar nesta e em outras áreas.<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 9
10<br />
Es p E C i a l<br />
desert<br />
no dia mundial de combate à desertificação, o<br />
á foi dito que as florestas vieram antes dos<br />
seres humanos. Muitos dizem que os desertos<br />
seguirão os dois. Especulação ou não,<br />
o fato é que mais e mais superfícies do globo<br />
vêm se transformando em desertos. O problema é<br />
que as áreas desertificadas não estão aparecendo,<br />
necessariamente, em lugares quentes, secos e arenosos,<br />
mas sim em regiões onde antes se via cobertura<br />
florestal, nascentes e cursos de águas. No<br />
dia 17 de junho, comemorou-se o Dia Mundial de<br />
Combate à Desertificação e à Seca. Para o Brasil,<br />
País que possui a região semi-árida mais populosa<br />
do mundo, refletir com seriedade sobre as políticas<br />
públicas implantadas nesses locais não é tarefa<br />
para um único dia.<br />
Processo de degradação de terras nas zonas<br />
áridas e semi-áridas, a desertificação é resultante<br />
da ação de vários fatores, inclusive atividades<br />
humanas. A exploração desordenada dos recursos<br />
naturais, desmatamentos e a organização<br />
social estão entre eles. O Ministério do Meio<br />
Ambiente (MMA) reconhece 11 estados brasileiros<br />
com terras afetadas e sujeitas à desertificação<br />
que se enquadram na Convenção das Nações<br />
Unidas para o Combate à Desertificação (UNC-<br />
CD). Nove são do Nordeste. Para fechar o número,<br />
entram o Espírito Santo e Minas Gerais.<br />
Ao todo, são 980.711,58 km2 J<br />
que representam<br />
11,5% do território nacional.<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
No Espírito Santo, segundo o MMA, há 24<br />
áreas em processo de desertificação (confira box).<br />
Além das regiões norte e noroeste, que possuem<br />
características geográficas e sócio-econômicas<br />
semelhantes às do Nordeste - fato este que possibilitou<br />
o Estado entrar na área de abrangência<br />
da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste<br />
(Sudene), em 1998 - municípios da região<br />
sul como Cachoeiro do Itapemirim, Marataízes,<br />
Alegre, entre outros, também têm enfrentado o<br />
mesmo problema.<br />
De acordo com a Secretaria de Agricultura<br />
(Seag) o Estado tem, no total, 600 mil hectares<br />
de terras degradadas. São antigas pastagens e<br />
cafezais que estão se transformando em deserto.<br />
“Este levantamento foi feito há dez anos, e extraoficialmente<br />
é possível que esse número já tenha<br />
aumentado para 800 mil hectares”-, explica Pedro<br />
Galveas, coordenador do programa de Sivicultura,<br />
do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência<br />
Técnica e Extensão Rural (Incaper).<br />
Preocupado com o avanço do problema, principalmente<br />
na região sul e do Parque Nacional do
ificação<br />
Espírito Santo tem poucos motivos para comemorar<br />
Caparaó, o Instituto Estadual de Meio Ambiente<br />
e Recursos Hídricos (Iema) apresentou um panorama<br />
preliminar dessas áreas ao Governo Federal,<br />
pois uma parte destes territórios possui fatores<br />
que facilitam o avanço da desertificação. Eventos<br />
climáticos extremos como a estiagem em 2007 -<br />
que se estendeu por oito meses e apresentou índices<br />
de pluviosidade reduzidos em 66% no sul e<br />
48% no norte do Estado -; problemas de erodibilidade<br />
do solo; déficit hídrico e Índice de Desenvolvimento<br />
Humano (IDH) insatisfatório contribuem,<br />
junto a outros fatores, para o desenvolvimento do<br />
processo de degradação. “Temos cumprido todas<br />
as demandas do MMA para que o Espírito Santo<br />
participe dos programas nacionais de combate<br />
à desertificação. Contudo, até esse momento, o<br />
Ministério não nos deu prioridade”, reclama Sueli<br />
Tonini, diretora-presidente do Iema.<br />
PAN-BRASIL - Instrumento norteador que busca<br />
harmonizar ações e maior cooperação entre os<br />
envolvidos quanto à questão da desertificação, o<br />
Programa de Ação Nacional de Combate à Deserti-<br />
ficação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN-Brasil)<br />
foi criado em 2003 após encontros, oficinas e<br />
reuniões que envolveram mais de 1200 pessoas e<br />
cerca de 400 organizações governamentais e nãogovernamentais.<br />
O intuito? Estabelecer diretrizes<br />
e instrumentos institucionais legais que permitam<br />
otimizar a formulação e execução de políticas<br />
públicas e investimentos privados nestas áreas.<br />
Ou seja, o PAN-Brasil serve de referência para leis<br />
e ações do governo e da sociedade no combate e<br />
redução dos efeitos negativos da seca, além de<br />
promover o desenvolvimento sustentável dessas<br />
regiões suscetíveis à desertificação.<br />
Sueli Tonini concorda que o PAN-Brasil foi<br />
desenvolvido de forma inteligente e democrática,<br />
pois ouviu os interessados no combate à desertificação.<br />
Isso trouxe esperança para administradores<br />
públicos e para 31,6 milhões de habitantes<br />
destas regiões. Até agora, contudo, o programa<br />
parece não estar indo à frente. “A implementação<br />
do Pan -Brasil ainda não aconteceu. Temos participado<br />
de alguns seminários sobre o problema da<br />
desertificação e esta é nossa principal reivindicação”,<br />
conta Sueli.<br />
Um dos subprojetos destinados à implantação<br />
do PAN-Brasil são os Planos de Ação Estadual<br />
(Paes), nos quais, segundo a diretora-presidente<br />
do Iema, o Espírito Santo é um dos estados mais<br />
avançados. No entanto, o Estado vem enfrentan-<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 11
12<br />
22% da produção mundial de alimentos são oriundos<br />
de áreas suscetíveis à desertificação<br />
do problemas relacionados à liberação de verba<br />
de convênios, por conta de uma suposta inadimplência<br />
do Governo capixaba. “Nossa procuradoria<br />
em Brasília já conseguiu uma primeira liminar<br />
e agora busca outra ação cautelar para resolver<br />
este impasse”, explica Sueli Tonini. O problema<br />
relaciona-se a uma antiga empresa estadual da<br />
qual o governo era sócio. Quando as atividades<br />
foram encerradas, a empresa deixou passivos que<br />
vêm prejudicando a assinatura de novos convênios.<br />
A Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento<br />
Sustentável, que é responsável pelos convênios<br />
do PAN-Brasil, aguarda, por sua vez, uma<br />
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
ações do governo Estadual<br />
no combate à desertificação<br />
A ausência de técnicas modernas na preparação<br />
e utilização do solo, seja ela feita em qualquer tipo<br />
de topografia, causa degradação, erosão e assoreamento<br />
dos rios, fato este que influencia diretamente<br />
na qualidade do processo de irrigação. “Por<br />
falta de formação e tecnologia correta, tivemos<br />
que utilizar as mesmas técnicas de preparação do<br />
solo em regiões com características completamente<br />
diferentes. Essa fórmula, que foi amplamente<br />
usada nas últimas décadas, mostrou-se danosa ao<br />
meio ambiente”, explica Pedro Galveas, do Inca-<br />
Municícpios afetados pela desertificação
per. Segundo ele, no Estado existem cerca de 150<br />
mil hectares de terras que já estão completamente<br />
abandonadas por seus proprietários.<br />
Para tentar mudar este panorama, o governo<br />
estadual vem trabalhando na gestão dos recursos<br />
hídricos, principalmente no fortalecimento dos<br />
Comitês das Bacias Hidrográficas e em projetos de<br />
recuperação florestal como os Corredores Ecológicos.<br />
Além disso, a Secretaria da Agricultura do<br />
Estado (Seag), o Iema, o Incaper e o Instituto de<br />
Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo<br />
(Idaf) estão desenvolvendo, em conjunto, o Programa<br />
de Adequação <strong>Ambiental</strong> das Propriedades<br />
Agrícolas que planeja, até o final de 2008, contemplar<br />
400 propriedades.<br />
Na opinião de Galveas, outro trabalho que tem<br />
causado impactos positivos na área de conservação<br />
ambiental é o Programa de Fomento Florestal<br />
do Estado. O Incaper distribui, anualmente, 5<br />
milhões de mudas de eucalipto, sendo 2 mil para<br />
cada produtor. Além disso, neste ano, o instituto<br />
distribuirá 350 mil de mudas de floresta nativa.<br />
Apesar de ambientalistas criticarem a monocultura<br />
do eucalipto, Galveas diz que para propriedades<br />
com terras bastante castigadas, espécies<br />
de florestas plantadas como o pinus e o eucalipto<br />
mostram-se como excelentes alternativas pela<br />
capacidade de adaptação a áreas degradas. Além<br />
disso, tal fato alivia a pressão sobre a floresta nativa,<br />
pois a utilização de madeiras para obras como<br />
cercamentos, currais, casas e outras utilidades,<br />
passam a ser feitas de floresta plantadas e não de<br />
mata nativa.<br />
OUTROS PROGRAMAS - Desenvolvidos pela<br />
Seag, programas como “Caminhos do Campo”; o<br />
de Proteção de Nascentes Olhos D’água; o de Defesa<br />
Florestal e o Programa de Unidades de Conservação<br />
possuem um objetivo em comum: preservar,<br />
recuperar a biodiversidade da Mata Atlântica e implementar<br />
ações que combatam os vários processos<br />
de desertificação existentes no Estado. Mas o<br />
que o “Caminhos do Campo”, que é um programa<br />
de pavimentação de estradas rurais e municipais,<br />
tem haver com processos de desertificação? Pedro<br />
Galveas explica que um dos maiores fatores de<br />
degradação ambiental são as estradas do interior,<br />
pois sem pavimentação e sem aplicar as tecnologias<br />
de contenção, como as caixas secas, a água da<br />
chuva provoca voçorocas - fenômeno que consiste<br />
na formação de grandes buracos, destruindo terras<br />
cultiváveis e assoreando os leitos dos rios.<br />
Conhecer as novas pesquisas e tecnologias neste<br />
segmento e, principalmente, trocar experiências<br />
são fundamentais para que as políticas públicas de<br />
combate a desertificação possam ser atualizadas,<br />
bem como suas estratégias. Um passo para isso foi<br />
dado pelo governo brasileiro e pesquisadores de<br />
23 países latino-americanos que se reuniram, no<br />
início de julho, em Salvador, Bahia.<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 13
14<br />
n a m i r a<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
As fotos fazem parte<br />
da coletânea do<br />
fotógrafo capixaba<br />
Leonardo Merçon.<br />
“Um projeto voltado<br />
para a conscientização<br />
ambiental é<br />
feito a duras penas.<br />
Porém, a sensação<br />
que se tem quando<br />
se consegue uma<br />
fotografia muito<br />
desejada, é recompensa<br />
para todos<br />
os sacrifícios que o<br />
fotógrafo de natureza<br />
faz.”<br />
Centopéia vermelha com aproximadamente<br />
15cm - Bananal/ES<br />
Pôr-do-Sol - Presidente Kennedy/ES
“A fotografia exige,<br />
além de simplesmente<br />
fotografar,<br />
muita pesquisa e<br />
busca de soluções<br />
para os desafios<br />
que surgem a cada<br />
projeto. O processo<br />
fotográfico segue<br />
uma metodologia<br />
de ação, aprendizado<br />
e aplicação<br />
deste aprendizado,<br />
superando dificuldades<br />
com idéias,<br />
experimentações e<br />
alcançando resultados.”<br />
Sapo boi - Bananal/ES<br />
Árvores à margem da estrada de chão - Regência/ES<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 15
16<br />
Útil à cozinha,<br />
mas nem tanto ao<br />
meio ambiente<br />
Sabe aquele óleo de fritura que você joga no ralo?<br />
Seu destino não é muito ecológico.<br />
Q<br />
uando uma dona-de-casa prepara o<br />
almoço ou quando o funcionário da<br />
lanchonete frita seus salgados, há algo<br />
comum entre eles. Eles utilizam um velho conhecido<br />
de quem trabalha na cozinha: o óleo comestível.<br />
Produzido a partir de soja, milho, girassol ou canola,<br />
o produto é indispensável para um sem número<br />
de atividades culinárias.<br />
Nem tão conhecido assim, é o fato de que esse<br />
mesmo óleo de cozinha causa uma série de danos<br />
ao meio ambiente quando descartado de forma<br />
incorreta. Comumente despejado no ralo da pia,<br />
na cesta de lixo, no solo e até mesmo, acredite, no<br />
vaso sanitário, o óleo vegetal não é tão inofensivo<br />
quanto se pensa. “Além de formar crostas de<br />
gordura na tubulação, facilitando o entupimento<br />
e a proliferação de ratos e baratas, o óleo, ao ser<br />
despejado no ralo, alcança as redes de drenagem<br />
pluvial e de esgoto poluindo o mar, riachos e rios”,<br />
alerta a engenheira ambiental Déa Magalhães, da<br />
Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan).<br />
A empresa, responsável pela captação, tratamento<br />
e distribuição de água, além da coleta e do<br />
tratamento de esgotos em 52 dos 78 municípios<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008 Série vilões do meio ambiente<br />
capixabas, há tempos encara o descarte incorreto<br />
do óleo como um inimigo a ser combatido. Segundo<br />
Déa, a Cesan, em todos os eventos dos quais<br />
participa, orienta a população a não despejar o<br />
óleo na rede de esgoto. “Além de obstruí-la, o óleo<br />
encarece e prejudica o processo de tratamento do<br />
esgoto, trazendo prejuízos para a empresa e a população”,<br />
garante.<br />
Como se não bastasse, a poluição causada pelo<br />
óleo de cozinha agrava o efeito estufa. A água poluída<br />
pelo óleo, ao ser despejada no mar, sofre uma<br />
reação que emite gás metano, componente ainda<br />
mais agressivo que o temido dióxido de carbono<br />
(CO 2 ) que, junto com o metano, são os principais<br />
gases formadores do efeito estufa. A afirmação se<br />
torna ainda mais preocupante se considerarmos<br />
o fato de que, segundo os ambientalistas, apenas<br />
um litro de óleo é suficiente para contaminar até<br />
um milhão de litros de água, quantidade equivalente<br />
ao consumo de um ser humano por 14 anos.<br />
Atualmente, segundo dados da empresa Marca<br />
<strong>Ambiental</strong>, o Espírito Santo tem um consumo<br />
anual de 150 milhões de litros de óleo. “O quadro<br />
é preocupante, mas dificilmente o consumo será<br />
reduzido”, aponta o deputado estadual licenciado
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 17
18<br />
Lata neles!<br />
Até o ano 2000, a maioria dos óleos comestíveis<br />
utilizava latas de aço. De lá para cá, contudo,<br />
as garrafas plásticas e sua transparência ganharam<br />
o mercado de óleos especiais, chegando,<br />
principalmente a partir de 2004, ao óleo de soja.<br />
Para se ter uma idéia da dimensão da mudança,<br />
em 97 foram produzidas 1,9 bilhão<br />
de embalagens de 900 ml para óleo<br />
comestível. Desse total, 88% eram<br />
latas de aço. Em 2000, esse percentual<br />
já caíra para 78%. No ano passado,<br />
do total de 2,36 bilhões de<br />
embalagens com 900 ml, cerca de<br />
dois bilhões (85%) eram garrafas<br />
PET e apenas 400 milhões (17%),<br />
latas de aço.<br />
Agora, por conta da preocupação<br />
em proteger o meio ambiente,<br />
Givaldo Vieira. Para o parlamentar, atualmente Secretário<br />
de Estado do Trabalho, Assistência e Desenvolvimento<br />
Social, a solução está na criação de<br />
consciência ambiental e na reciclagem desses produtos.<br />
Saída óbvia que, porém, requer esforços.<br />
Por isso, na tentativa de minimizar os danos<br />
causados pelo descarte do óleo de cozinha, Vieira<br />
criou no ano passado um Projeto de Lei (PL) que<br />
prevê a criação do Programa Estadual de Tratamento<br />
e Reciclagem de Óleos e Gorduras de Origem<br />
Vegetal ou Animal e Uso Culinário. “Penso<br />
que o Governo pode e deve adotar medidas que incentivem<br />
a prática de reciclagem desses materiais,<br />
instalar e administrar postos de coleta, e ainda realizar<br />
campanhas educativas”, aponta. A intenção<br />
inicial do projeto, segundo o autor, será despertar<br />
a população para os prejuízos ocasionados quando<br />
o óleo é, erradamente, jogado fora. Somente depois<br />
disso seriam instalados os postos de coleta,<br />
ação que ficaria a cargo das prefeituras municipais.<br />
Atualmente o PL aguarda aprovação da Comissão<br />
de Finanças da Assembléia Legislativa e sua sanção<br />
deve ocorrer nos próximos meses.<br />
Enquanto isso não acontece, um projeto desenvolvido<br />
pela Marca <strong>Ambiental</strong> se apresenta<br />
como principal iniciativa capixaba para o recolhi-<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
Série vilões do meio ambiente<br />
as latas podem novamente dominar as prateleiras<br />
dos supermercados. É que segundo ambientalistas,<br />
embora não pareçam, as embalagens de aço<br />
são muito mais ecológicas do que as garrafas PET.<br />
Além de 100% recicláveis, são também degradáveis.<br />
De acordo com um estudo do consultor da<br />
ONU e pesquisador na área de resíduos<br />
sólidos Sabetai Calderoni,<br />
a lata de aço leva em média cinco<br />
anos para se decompor totalmente.<br />
Ainda por cima, aquelas que eventualmente<br />
não forem separadas<br />
e acabarem dispensadas no meio<br />
ambiente são absorvidas como óxido<br />
de ferro, enriquecendo o solo.<br />
Já as garrafas plásticas, segundo o<br />
mesmo estudo, tem tempo de degradação<br />
superior a 100 anos.<br />
mento e tratamento do óleo vegetal descartado. É<br />
o Biomarca, que recicla o óleo de fritura para a produção<br />
de biodiesel e, em menor escala, de sabão.<br />
Funcionando desde 2006, o projeto conta com<br />
um disk-coleta que atualmente atende exclusivamente<br />
a grandes condomínios e estabelecimentos<br />
comerciais. “O atendimento à população, por<br />
demandar maior estrutura e logística, ainda não<br />
está em funcionamento”, revela o coordenador do<br />
projeto, Humberto Martins. Por conta disso, em<br />
locais onde não existe o beneficiamento dessas sobras<br />
de frituras é recomendado armazená-las em<br />
garrafas plásticas, em vez de descartá-las no ralo,<br />
na lixeira ou mesmo no solo. A coleta municipal<br />
as encaminha para locais adequados como aterros<br />
sanitários. Segundo o engenheiro, o próximo passo<br />
da empresa é a implantação de uma microrrefinaria<br />
de biodiesel modular que terá capacidade<br />
inicial de produzir 30 mil litros desse combustível<br />
por mês.<br />
Pena que somente agora, com os rios e mananciais<br />
praticamente esgotados pela poluição, uma<br />
questão tão importante comece a ser debatida.<br />
Felizmente, a solução para o problema ainda depende<br />
exclusivamente da conscientização popular<br />
e da ação de instituições que executem o manejo<br />
adequado do óleo de cozinha.
EC o l E i t u r a<br />
Jornada de amor<br />
à terra<br />
Laura Roizman e Aparecida<br />
Ferreira - Editora Palas Athena<br />
Para quem se interessa por educação<br />
ambiental, o livro “Jornada<br />
de Amor à Terra: ética e educação<br />
em valores universais”<br />
traz os princípios básicos da<br />
Ecologia que norteiam a compreensão<br />
que se tem hoje das<br />
mudanças ambientais em curso.<br />
De maneira didática, simples<br />
e atraente o livro aborda<br />
os conceitos relativos às trocas<br />
energéticas nos ecossistemas,<br />
à dinâmica de populações, à<br />
adaptação e à evolução.<br />
ag E n d a<br />
Curso de Métodos e téCniCas<br />
eM estudos PaleoaMbientais<br />
Data: 14 a 18 de julho<br />
Realização: Instituto Vale <strong>Ambiental</strong><br />
Local: Linhares - ES<br />
Info.: (27) 3371-9726 / 9702<br />
Curso de Gestão de resíduos<br />
sólidos<br />
Data: 12 a 26 de julho<br />
Realização: Tendência <strong>Ambiental</strong><br />
Local: Vitória - ES<br />
Info.: www.tendenciaconsult.com.br<br />
Educação ambiental<br />
Empresarial no brasil<br />
Alexandre de Gusmão<br />
Pedrini - Editora Rima<br />
Uma vez que o contexto<br />
empresarial é o principal<br />
contribuinte para o caos socioambiental,<br />
torna-se fundamental<br />
e premente mapear<br />
o que vem sendo realizado<br />
com a denominação de Educação<br />
<strong>Ambiental</strong> Empresarial<br />
no Brasil (EAEB) e investigar<br />
sua eficácia e impacto. Lançado<br />
no final de junho, o livro<br />
apresenta o que os principais<br />
atores da EAEB têm<br />
realizado nesta área.<br />
Ciência ambiental:<br />
questões e abordagens<br />
Marta Dora Grostein<br />
Editora Annablume<br />
A complexidade é um atributo das<br />
questões da pesquisa em ciência<br />
ambiental e, portanto, a transversalidade<br />
disciplinar é a abordagem<br />
mais eficiente para a análise que<br />
visa desvendar os fenômenos associados<br />
à ação antrópica sobre o<br />
meio ambiente no mundo contemporâneo.<br />
É este desafio que enfrentaram<br />
os autores dos artigos desta<br />
coletânea que sumarizam suas<br />
dissertações e teses produzidas no<br />
Programa de Pós Graduação em<br />
Ciência <strong>Ambiental</strong> (Procam) da<br />
Universidade de São Paulo.<br />
Curso sobre reCursos HídriCos<br />
do Meio aMbiente<br />
Data: 29 de julho<br />
Realização: Incaper, Semder e Idaf<br />
Local: Cachoeiro do Itapemirim<br />
Informações: (28) 3155 5004<br />
Curso sobre reCuPeração<br />
de Áreas deGradadas<br />
Data: 17 de julho<br />
Realização: Incaper e Prefeitura de<br />
Pedro Canário<br />
Local: Pedro Canário<br />
Informações: (27) 3764 1145<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 19
Ca pa
o Mangue em alerta<br />
Doença do <strong>Caranguejo</strong><br />
Letárgico reaparece em<br />
Aracruz, expondo a fragilidade<br />
da espécie e do<br />
próprio homem.<br />
n<br />
a fauna há várias espécies de rara beleza.<br />
Mas, decididamente, a mãe natureza<br />
não foi nada generosa ao criar o<br />
caranguejo. Olhos saltados; patas peludas; pinças<br />
potentes e aterradoras; jeito esquisito de se locomover,<br />
enfim, atributos físicos nada dadivosos.<br />
Para muita gente, contudo, nada disso importa<br />
muito. Conta sim, o sabor que o faz ser chamado,<br />
por alguns, de “manjar dos mangues” e também<br />
sua importância como recurso pesqueiro que fornece<br />
sustento para milhares de pessoas onde a<br />
espécie existe.<br />
Há três anos, contudo, o comércio desta espécie<br />
não é mais suficiente para garantir o sustento<br />
de pessoas que vivem de sua cata aqui no Espírito<br />
Santo. Em setembro de 2005, uma doença atingiu<br />
os caranguejos do povoado de Campo Grande<br />
da Barra Nova, no norte do Espírito Santo, e<br />
matou centenas deles. Daquele dia em diante, a<br />
Doença do <strong>Caranguejo</strong> Letárgico (DCL), logo<br />
identificada por ambientalistas, se espalhou pelos<br />
manguezais do Estado exterminando 70% dos<br />
caranguejos de São Mateus, Conceição da Barra e<br />
outros tantos espalhados nos mangues da Grande<br />
Vitória e Aracruz. “Nossa comunidade passou<br />
por oito meses de sofrimento. Vi muitos amigos<br />
abandonarem a cata. Até hoje, sofremos com as<br />
seqüelas de 2005”, conta Adecir Sena, presidente<br />
da Associação de Catadores de Campo Grande da<br />
Barra Nova.<br />
A situação se estendeu até o início de 2007.<br />
Após esta data, a natureza seguiu o seu curso e<br />
a população de caranguejos começou a dar sinais<br />
de recuperação. No entanto, em maio passado, o<br />
equilíbrio do manguezal foi mais uma vez abalado.<br />
Quando tudo parecia estabilizado, um catador<br />
da região do mangue Piraquê-Mirim, em<br />
Aracruz, encontrou caranguejos com os mesmos<br />
sintomas da DCL. Depois de enviar uma equipe<br />
ao local, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente<br />
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), regional<br />
Espírito Santo, confirmou a suspeita.<br />
HiSTóRiCO - Surgida em Pernambuco há 11<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 21
22<br />
anos e batizada com este nome em 2004, pelo<br />
pesquisador paranaense Walter Boeger, a Doença<br />
do <strong>Caranguejo</strong> Letárgico afeta somente os caranguejos-uçá<br />
(ucides cordatus), espécie de maior<br />
valor comercial do litoral brasileiro. Causada pelo<br />
fungo Exophiala, uma levedura negra muito comum<br />
no ambiente dos manguezais, a DCL ataca<br />
o sistema nervoso dos bichos, deixando-os lentos<br />
e sem reação a estímulos. De acordo com estudos,<br />
poucos caranguejos conseguem sobreviver à doença.<br />
O animal contaminado, além de não se alimentar,<br />
não resiste à manipulação, morrendo em<br />
até 12 horas.<br />
De acordo com o diretor do Grupo Gestor do<br />
<strong>Caranguejo</strong> do Ibama, Iberê Sassi, a DCL, embora<br />
não pareça, tem tudo a ver com a influência<br />
humana no ambiente. Encontrado nas folhas<br />
caídas do mangue – principal alimento dos caranguejos-,<br />
o Exophiala, por tabela, acaba fazendo<br />
parte da alimentação dos animais. Segundo<br />
Sassi, contudo, o fungo, a princípio inofensivo,<br />
sofreu mutações causadas pelo contato com antibióticos<br />
e fungicidas utilizados na criação de<br />
camarões em tanques nos manguezais. Por conta<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
disso, tornou-se prejudicial ao caranguejo. “Na<br />
limpeza dos tanques, a água misturada a essas<br />
substâncias era indiscriminadamente despejada<br />
nos manguezais”, afirma Sassi.<br />
A atividade, conhecida como carcinicultura,<br />
está temporariamente suspensa. Uma portaria do<br />
Ibama restringiu a abertura de novos empreendimentos<br />
e solicita a revisão de licenciamentos das<br />
empresas que já faziam a criação dos camarões<br />
nos mangues. Para Walter Boeger, no entanto,<br />
não há fundamentação científica para assegurar<br />
que a DCL é realmente causada pela carcinicultura.<br />
Ele conta que esgoto, óleo industrial e até<br />
mesmo coliformes fecais já foram apontados<br />
como causadores da mutação do Exophiala. Hipóteses<br />
rechaçadas por ele e outros pesquisadores.<br />
“Desde o ano do primeiro registro da doença, tentam<br />
arrumar culpados para a DCL, mas nada há<br />
de concreto. Temos estudado a linhagem genética<br />
desse fungo para descobrir qual pode ser o real<br />
motivo da mutação.” Alheia ao debate sobre suas<br />
causas, a DCL exterminou, somente no Espírito<br />
Santo, quase 70% dos caranguejos-uçá.<br />
Apesar do declínio populacional, a extinção
Catadores Desinformados?<br />
Deraldo de Jesus, presidente da Ascapenha,<br />
criticou um suposto descaso por parte do Grupo<br />
Gestor do <strong>Caranguejo</strong> (GGC) para com os catadores<br />
do Estado. Após participar de um debate<br />
sobre políticas públicas para gestão do manguezal,<br />
durante a última Feira <strong>Ambiental</strong> de Cariacica,<br />
ele falou à revista <strong>Espaço</strong> <strong>Ambiental</strong>. “Os<br />
catadores são os últimos a saber sobre a doença.<br />
Até hoje não entendemos muito bem como ela<br />
funciona. Falta apoio do GGC. Eles avisam primeiramente<br />
à mídia e depois a nós.”<br />
da espécie é uma possibilidade remota. Como<br />
forma de evitar seu desaparecimento, o uçá passa<br />
a se reproduzir cada vez mais cedo, em maiores<br />
quantidades e menor tamanho. Entretanto, tal<br />
fato põe em risco não só o sustento dos catadores<br />
como a economia de restaurantes que comercializam<br />
o crustáceo. A diminuição no tamanho dos<br />
bichos acarreta em perda do valor do produto<br />
e na sua inadequação comercial, uma vez que a<br />
legislação brasileira só permite a cata e a venda<br />
de caranguejos com mais de seis centímetros de<br />
carapaça. Assim é o homem, e não o caranguejo,<br />
o maior prejudicado pela DCL.<br />
Ao todo, cerca de 950 trabalhadores vivem<br />
exclusivamente da cata e venda do caranguejo<br />
no Estado. Antes do aparecimento da doença, a<br />
quantia gerada pelo comércio do crustáceo - em<br />
todas as esferas do comércio capixaba - era de<br />
quase 45 milhões de reais por ano. A arrecadação<br />
média de cada catador era de 800 reais mensais.<br />
“Depois que a doença apareceu, nosso lucro diminuiu<br />
em quase 50%”, desabafa Deraldo de Jesus,<br />
presidente da Associação de Catadores de Nova<br />
Rosa da Penha (Ascapenha), em Cariacica. Indi-<br />
Iberê Sassi, no entanto, negou as acusações e<br />
rechaçou qualquer tipo de irresponsabilidade por<br />
parte do Ibama e do Grupo Gestor do <strong>Caranguejo</strong>.<br />
“É uma inverdade dizer que os catadores estão<br />
desinformados a respeito do problema. Antes de<br />
repassar qualquer informação à imprensa, marcamos<br />
reuniões com as associações existentes no<br />
Estado para explicar o que se passa. O problema<br />
é que alguns - principalmente os da Grande Vitória<br />
- são relapsos e não participam das reuniões”<br />
rebate.<br />
retamente, outras quatro mil pessoas foram e podem<br />
ser novamente afetadas pela doença, como<br />
garçons e comerciantes. “Para nós, do comércio,<br />
havia a possibilidade de comprar caranguejos de<br />
estados não afetados. Mesmo assim, as vendas<br />
caíram demais. As pessoas viam na TV que o caranguejo<br />
estava doente e optavam por outro tipo<br />
de refeição”, conta Paulo Lourenço, gerente do<br />
restaurante <strong>Caranguejo</strong> do Gil.<br />
PREOCUPAçãO - Com o reaparecimento da<br />
DCL em Aracruz e outro caso confirmado em Caravelas,<br />
na Bahia, a apreensão sobre o futuro do<br />
caranguejo e das atividades comerciais que o envolvem<br />
volta a pairar sobre a cabeça de catadores,<br />
comerciantes e ambientalistas ao redor do Espírito<br />
Santo. O medo agora é que a doença atinja<br />
novamente os demais mangues capixabas e avance<br />
sobre estados ainda não atingidos, como Santa<br />
Catarina, Maranhão, Amapá e Pará. Somente na<br />
grande Belém, por exemplo, o número de pessoas<br />
sustentadas, direta ou indiretamente, pelo caranguejo<br />
é de mais de 150 mil.<br />
Diante da tendência de declínio populacio-<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 23
24<br />
Conheça o <strong>Caranguejo</strong><br />
Primeiros bichos da Terra a terem o corpo<br />
articulado, ou seja, com patas e pinças móveis,<br />
os caranguejos são crustáceos invertebrados da<br />
categoria dos artrópodes. Terrestres ou aquáticos,<br />
marinhos ou de água doce, vivem, em sua<br />
maioria, dentro de tocas escavadas por eles próprios<br />
nos manguezais, alimentando-se de folhas<br />
e outros detritos orgânicos.<br />
Por conta disso, é espécie chave<br />
<strong>Caranguejo</strong> Aranha Gigante<br />
para o perfeito funcionamento do<br />
ecossistema, pois através da bioturbação,<br />
causada por seus buracos, influencia<br />
fortemente o caminho, taxa<br />
e extensão da remineralização da matéria orgânica<br />
e reações associadas aos sedimentos marinhos<br />
importantes para a manutenção da vida<br />
dos mangues.<br />
Algumas espécies do caranguejo possuem<br />
longevidade de até dez anos. Quanto ao tamanho,<br />
suas carapaças podem medir, no caso dos<br />
caranguejos gigantes - também chamados de<br />
caranguejos de profundidade –, até 16 centímetros<br />
e pesar impressionantes 1,6 quilos. Ao<br />
todo, são mais de 200 espécies de caranguejos<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
somente no Brasil.<br />
Comercialmente, o caranguejo não é aproveitado<br />
somente na culinária. Além de sua<br />
carne, a quitina do exoesqueleto (carapaça que<br />
envolve o corpo do animal) tem ampla utilização<br />
industrial na fabricação de emulsões fotográficas,<br />
bandagens e cosméticos. Suas vísceras<br />
também podem ser aproveitadas no preparo de<br />
rações para animais.<br />
Na África, por caminhar para<br />
trás, o caranguejo é considerado<br />
um símbolo do mal. Já entre<br />
os cristãos, é considerado<br />
um símbolo da ressurreição<br />
por trocar constantemente<br />
de casca durante seu desenvolvimento.<br />
O caranguejo-uçá, é encontrado desde o estado<br />
da Flórida, nos Estados Unidos, até o litoral<br />
de Santa Catarina.<br />
O Espírito Santo tem aproximadamente 30<br />
mil hectares de manguezais, Destes, cerca de 15<br />
mil hectares estão na Grande Vitória.
nal que a espécie tem apresentado, fica cada vez<br />
mais claro que as medidas oficiais de proteção ao<br />
caranguejo-uçá - mesmo no Espírito Santo, estado<br />
tido com referência na proteção do crustáceo,<br />
- vêm sendo insuficientes. Até hoje ninguém sabe<br />
ao certo como se controla a DCL. “Orientamos<br />
aos catadores que evitem transitar entre mangues,<br />
mas na prática, isso é impossível. A pouca<br />
preocupação em higienizar as roupas e utensílios<br />
quando transitam de um mangue para o outro<br />
colabora para a disseminação do fungo”, aponta<br />
Roberto Gallucci, gerente de Gestão de Recursos<br />
Pesqueiros do Núcleo da Zona Costeira e Marinha<br />
da Secretaria de Biodiversidade e Florestas<br />
do Ministério do Meio Ambiente. Frente à impossibilidade<br />
de fiscalizar a movimentação nos<br />
mangues, a melhor opção, segundo os ambientalistas,<br />
é que tanto catadores quando compradores<br />
respeitem o tamanho regulamentar de seis centímetros.<br />
Face às notícias sobre novos focos da DCL e<br />
das dificuldades que têm o poder público e a própria<br />
sociedade em zelar pela exploração racional e<br />
sustentada do caranguejo, fica-se a poucos passos<br />
de um quadro de agravamento social e econômico<br />
para milhares de famílias que dependem desse<br />
recurso ao longo do litoral brasileiro. Questionado<br />
se a doença é uma resposta da natureza ao<br />
homem, Iberê Sassi é enfático. “Não. Não é uma<br />
resposta. É simplesmente a seqüela do mau uso<br />
do ecossistema, da ganância humana. São nossas<br />
ações voltando contra nós mesmos”.<br />
Foto Carf<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 25
26<br />
Em Fo C o<br />
atlas de<br />
Ecossistemas ES<br />
Informações sobre o meio físico,<br />
biótico, aspectos históricos, cliclos<br />
econômicos, dentre outros<br />
assuntos que mostram a riqueza<br />
ambiental do Espírito Santo, estão<br />
presentes no livro “Atlas de<br />
Ecossistemas do Espírito Santo”,<br />
uma publicação lançada em<br />
comemoração ao Dia Mundial<br />
do Meio Ambiente pela Secretaria<br />
Estadual de Meio Ambiente<br />
e Recursos Hídricos (Seama).<br />
O Atlas foi fruto de um trabalho<br />
de 30 pesquisadores e levou<br />
cinco anos para ser concluído. A<br />
coordenação do projeto foi feita<br />
pelo professor da Universidade<br />
Federal de Viçosa (UFV), João<br />
Luiz Lani.<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
Estádios solares<br />
Já pensando na Copa de 2014, especialistas<br />
em energias alternativas<br />
tentarão<br />
transformar<br />
os estádios<br />
brasileiros em<br />
fontes de aproveitamento<br />
de<br />
energia solar. O<br />
projeto “Estádios<br />
Solares” propõe a<br />
instalação de painéis<br />
fotovoltaicos nos locais<br />
que receberão os jogos,<br />
começando pelo Maracanã, no<br />
Rio de Janeiro. Estádios com este<br />
tipo de tecnologia já são velhos conhecidos<br />
no exterior. Alguns jogos<br />
da Euro Copa 2008, por exemplo,<br />
foram realizados no maior estádio<br />
solar do mundo, o Stade de Suisse<br />
Wankdorf, em Berna, na Suíça.<br />
Com 10.738 células solares, o estádio<br />
gera 1,134 gigawatts hora<br />
(GWh) de energia por ano.<br />
II Edital Costa<br />
atlântica<br />
A Fundação SOS Mata Atlântica recebe<br />
até 31 de julho propostas de projetos<br />
novos ou em andamento de criação e<br />
consolidação de Unidades de Conservação<br />
Marinhas Públicas. Trata-se do<br />
“II Edital Costa Atlântica” que neste<br />
ano disponibilizará até 200 mil reais<br />
em verbas . No ano passado, cinco projetos<br />
foram contemplados num total de<br />
R$ 180 mil. A iniciativa da<br />
Fundação é importante,<br />
pois menos de 0,5%<br />
do mar territorial brasileiro<br />
está protegido<br />
sob a forma de alguma<br />
categoria de Unidade<br />
de Conservação. Mais<br />
informações: costa@<br />
sosma.org.br
Invertebrados em extinção<br />
O Espírito Santo ocupa o 4º lugar na lista dos Estados com o maior<br />
número de invertebrados em extinção, juntamente com a Bahia.<br />
São 24 tipos de animais ameaçados de desaparecer, segundo o Instituto<br />
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Um mapa, lançado pelo<br />
instituto, apresenta 130 nomes baseado na Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção<br />
preparada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). São Paulo<br />
aparece com o maior número de ocorrência de espécies em extinção (46), seguido de Rio de Janeiro (41) e Minas<br />
Gerais (35).<br />
Incêndios florestais<br />
Depois de atender 16 ocorrências de incêndios<br />
em um único fim de semana de junho, o Corpo<br />
de Bombeiros do Espírito Santo está em alerta.<br />
Neste ano, de janeiro a maio, foram registrados<br />
154 incêndios, mas a expectativa é de<br />
que este número aumente no entre junho e setembro,<br />
em função da diminuição das chuvas,<br />
da baixa umidade relativa do ar e das festas de<br />
São João, que tem por tradição o uso de fogos<br />
de artifício e balões. Durante o ano de 2007,<br />
a Corporação combateu, na região da Grande<br />
Vitória, 693 incêndios em vegetação.<br />
animais de circo<br />
O uso de animais em circos no Brasil<br />
pode estar com os dias contados. Uma<br />
audiência pública no Congresso Nacional<br />
definirá, neste mês de julho, o futuro<br />
do Projeto de Lei 7291/06 que propõe o<br />
fim do uso de animais em apresentações<br />
circenses. O relator do projeto, deputado<br />
Antônio Carlos Biffi (PT-MS), já apresentou<br />
parecer favorável à proibição. Entretanto,<br />
a pressão dos proprietários de circos<br />
pela manutenção da prática é grande<br />
e tem influenciado<br />
muitos políticos. Atualmente,<br />
o PL está sob<br />
análise da Comissão<br />
de Educação e Cultura<br />
(CEC) da Câmara<br />
dos Deputados, que<br />
o votará em breve.<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 27
28<br />
Em Fo C o<br />
trilha da Pedra azul<br />
Fechada desde 1997, a trilha que leva até o topo da Pedra<br />
Azul, no município de Domingos Martins, será reaberta<br />
ao público no mês de julho. Com um total de 2,5 quilômetros<br />
e a 1.822 metros de altitude, a trilha é o local ideal<br />
para aqueles que gostam de aventura, esportes radicais e<br />
de apreciar as belezas naturais do Parque Estadual da Pedra<br />
Azul, administrado pelo Iema. Corrimões<br />
e mosquetões, instalados<br />
nos trechos íngremes, garantirão<br />
mais segurança aos visitantes<br />
que quiserem escalar o pico.<br />
Outras informações pelo telefone<br />
(27) 3248-1156.<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
Foto Divulgação Secom<br />
Cetas<br />
Para viabilizar a construção<br />
do Centro de Triagem<br />
de Animais Silvestres (Cetas),<br />
programa nacional<br />
que incentiva a criação e<br />
manutenção de centros<br />
de auxílio de combate ao<br />
tráfico de animais, o município<br />
da Serra acertou<br />
a doação de um terreno<br />
no bairro Barcelona para<br />
o Ibama. O objetivo desta<br />
nova unidade de triagem é<br />
minimizar o impacto ambiental<br />
causado pelo tráfico<br />
de animais e dinamizar<br />
as ações de fiscalização. A capacidade inicial mínima<br />
deste centro será de 800 animais silvestres<br />
ao ano.<br />
teatro ambiental da Serra<br />
Grupos formados por alunos de 3ª a 8ª séries<br />
de escolas municipais, estaduais e privadas da<br />
Serra, estudantes do Ensino de Jovens e Adultos<br />
(EJA) e agentes ambientais comunitários<br />
formados pelo Projeto Florescer, podem se inscrever<br />
no 2º Festival de Teatro <strong>Ambiental</strong> da<br />
Serra, que tem o tema “Mudanças Climáticas e<br />
Cidadania <strong>Ambiental</strong>”. As inscrições acontecem<br />
até o dia 25 de julho na Secretaria de Meio Ambiente<br />
da Prefeitura da Serra (Semma), situada<br />
no Centro da Serra. Informações nos telefones<br />
3291-7421 e 3251-7196.
Convênio Cesan - arcelorMittal<br />
Visando o reuso da chamada “água de processo”, a ArcelorMittal Brasil<br />
assinou convênio com a Companhia Espírito Santense de Saneamento<br />
(Cesan). Em protocolo de intenções assinado no último dia 4 de junho,<br />
ficou acertado um estudo conjunto de viabilidade de suprimento<br />
de água de reuso para uso industrial pela ArcelorMittal bem como<br />
por outras empresas do Grupo Arcelor. A água é obtida a partir das<br />
unidades de tratamento de esgoto e dos efluentes de lavagem dos<br />
filtros das Estações de Tratamento de Esgoto da Cesan, que atendem<br />
a região da Grande Vitória.<br />
Foto Divulgação Secom<br />
Foto Luiz Roberto<br />
Impacto Profundo<br />
A operação Impacto Profundo, do Ibama, esteve<br />
presente no dia 27 de junho na Lagoa Jacunem,<br />
na Serra, em mais uma etapa de fiscalização do<br />
período de defeso do robalo e contra a pesca<br />
predatória. O objetivo foi apreender redes consideradas<br />
ilegais e utilizadas para impedir a passagem<br />
dos peixes dentro de lagoas e rios. A lagoa,<br />
que vem sofrendo danos ambientais gravíssimos,<br />
amanheceu coberta de peixes mortos no mês de<br />
abril. O fenômeno ainda está sendo estudado por<br />
técnicos do órgão. A operação foi apoiada pelo<br />
Iema e pela Polícia <strong>Ambiental</strong> da Serra.<br />
Foto Divulgação<br />
Nova lei ambiental<br />
O governador Paulo Hartung assinou no último dia<br />
5 de junho o projeto de lei que cria o Fundo Estadual<br />
de Recursos Hídricos. O Fundo usará como principal<br />
fonte de recursos 3% dos royalties de petróleo a que<br />
o Estado tem direito e funciona como uma conta específica<br />
que vai possibilitar o financiamento de ações<br />
e programas relacionados à água. Um dos principais<br />
aspectos do Fundo é o pagamento de serviços ambientais<br />
a proprietários rurais que contribuírem para a recuperação e conservação<br />
de áreas próximas a nascentes e a mananciais hídricos. Sessenta<br />
por cento dos recursos do Fundo serão utilizados com esse objetivo.<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 29
30<br />
Uma nova chance<br />
para a natureza<br />
Com o slogan “Conectando pessoas e florestas”, o<br />
projeto Corredores Ecológicos inicia sua segunda fase<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
Foto Pale Zuppani
Um dos maiores refúgios de biodiversidade<br />
da Terra, a Mata Atlântica é também<br />
um dos biomas mais devastados.<br />
A floresta, que já cobriu mais de 135 milhões de<br />
hectares em 17 estados brasileiros, foi reduzida<br />
em quase 10 vezes e hoje ocupa apenas 8% de seu<br />
território original. No Espírito Santo, o panorama<br />
não é muito diferente. Ciclos e mais ciclos de<br />
extração de madeira, cafeicultura, pastagens e<br />
industrialização reduziram, principalmente durante<br />
o século XX, a presença da floresta que já<br />
cobriu 90% do território capixaba.<br />
Hoje, há vários “pequenos pedaços de floresta”<br />
espalhados pelo Estado. Na tentativa de conter<br />
o avanço degradatório de uma das principais<br />
florestas tropicais do planeta, o Espírito Santo<br />
desenvolve, desde o fim de 2003, o projeto Corredores<br />
Ecológicos.<br />
Executado pelo Governo do Estado, por meio<br />
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos<br />
Hídricos (Iema), em parceria com o Institu-<br />
to de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), o<br />
Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural<br />
(Incaper), a Companhia de Polícia <strong>Ambiental</strong> e o<br />
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos<br />
Naturais Renováveis (Ibama), os Corredores<br />
Ecológicos têm o objetivo de recuperar, por<br />
meio do plantio de mudas nativas, 604 mil hectares<br />
divididos em 10 corredores ecológicos existentes<br />
no Estado. “O que se pretende é conectar<br />
o que restou da Mata Atlântica. Com isso, facilitaremos<br />
o deslocamento de animais, a disseminação<br />
de sementes e, conseqüentemente, o fluxo<br />
genético entre os animais”, explica a coordenadora<br />
do Projeto no Espírito Santo, Gerusa Bueno.<br />
A iniciativa faz parte do projeto Corredor Central<br />
da Mata Atlântica, criado pelo Ministério do<br />
Meio Ambiente e que cobre as regiões da Bahia,<br />
Espírito Santo e Minas Gerais. Ação semelhante é<br />
desenvolvida no estado de Amazonas, com o Corredor<br />
Central da Amazônia. Juntos, os dois corredores<br />
têm o propósito de testar e abordar diferentes<br />
condições de proteção da biodiversidade<br />
nos dois biomas. As lições aprendidas serão úteis<br />
na criação e geração de corredores adicionais.<br />
A primeira etapa de ações no Estado foi realizada<br />
entre 2004 e 2006. Durante o período, a<br />
preocupação maior dos órgãos envolvidos foi de<br />
sistematizar e divulgar as bases do projeto. “Antes<br />
de ir a campo era preciso identificar as áreas<br />
devastadas, mobilizar os proprietários, elaborar<br />
os projetos executivos e os processos licitatórios<br />
das empresas para execução dos serviços”, explica<br />
Gerusa Bueno. Depois de quase três anos de<br />
trabalho nos bastidores, o ‘Corredores Ecológicos’<br />
teve seu primeiro ato efetivo no fim do ano<br />
passado. Em dezembro, por meio de um convênio<br />
firmado entre o Iema e a empresa Vale, os corredores<br />
Córrego do Veado e Burarama-Pacotuba-<br />
Cafundó, em Pinheiros e Cachoeiro do Itapemirim<br />
respectivamente, receberam a primeira etapa<br />
dos plantios.<br />
Quase sete meses depois, a natureza começa<br />
a colher os frutos dessas ações. Os animais voltaram,<br />
há água por todos os cantos e as mudas<br />
se tornaram árvores com mais de quatro metros<br />
de altura. É o que garante o produtor José Calegari.<br />
Dono de uma propriedade cadastrada no<br />
distrito de Pacotuba, o agricultor, aos 70 anos,<br />
vibra como criança ao comentar os resultados<br />
Foto Pale Zuppani<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 31
32<br />
Subprojetos<br />
Buscando envolver as organizações da sociedade<br />
civil e o poder público local de forma ativa<br />
na recuperação do bioma, o Ministério do Meio<br />
Ambiente (MMA) selecionou, no início do ano,<br />
12 subprojetos a serem realizados no Corredor<br />
Ecológico Central da Mata Atlântica. Deste total,<br />
o Espírito Santo tem cinco: o Instituto de Pesquisa<br />
da Mata Atlântica, o Mosteiro ZEN Morro<br />
da Vargem, em Ibiraçu; a Prefeitura Municipal<br />
de Santa Maria de Jetibá, a Sociedade de Amigos<br />
da Reserva Biológica Augusto Ruschi (Sarar),<br />
Região Serrana; e a Fundação Bionativa, em Sooretama.<br />
“A vertente principal desses subprojetos<br />
é contribuir para o sucesso dos Corredores Ecológicos<br />
aqui no Estado, incentivando o manejo<br />
correto do solo e as práticas econômicas de baixo<br />
impacto ambiental, como a agricultura orgânica.<br />
do projeto. “Sempre quis proteger a natureza e<br />
agora tenho esta chance. Já é possível ver a mata<br />
crescendo e se reestruturando. É algo fascinante,<br />
realmente bonito de ser ver. É uma nova chance<br />
para a natureza”, comemora. Com o projeto, há a<br />
expectativa de se restaurar 100 hectares de Mata<br />
Atlântica em 19 propriedades do Corredor Córrego<br />
do Veado e outros 46 hectares em 12 propriedades<br />
de Burarama-Pacotuba-Cafundó.<br />
Ações em curso - Desde janeiro, após o término<br />
da primeira rodada de plantios, as equipes<br />
do projeto se concentram no cercamento de nascentes<br />
e margens de rios nas regiões prioritárias,<br />
e nos estudos sobre as condições ambientais dos<br />
corredores Córrego do Veado e Burarama-Paco-<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
Nossa iniciativa, em específico, visa a formação<br />
de microcorredores ecológicos na região serrana<br />
do Estado”, explica Felipe Saiter, técnico ambiental<br />
e colaborador do projeto Sarar.<br />
A assinatura dos contratos para o início das<br />
atividades, contudo, ainda não aconteceu. Prevista<br />
inicialmente para junho, a capacitação das<br />
instituições proponentes vem esbarrando em<br />
questões burocráticas. “Enviamos o projeto ao<br />
MMA, que sugeriu algumas mudanças. Já as fizemos<br />
e agora aguardamos uma resposta que<br />
deverá sair nos próximos meses. A situação está<br />
sendo resolvida e não há risco de cancelamento”,<br />
garante Saiter. De acordo com informações oficiais<br />
do Incaper, a assinatura dos contratos com a<br />
Caixa Econômica Federal para o início do repasse<br />
de recursos está prevista para o final de julho.<br />
tuba-Cafundó. Além dessas ações, o estímulo à<br />
criação de Reservas Particulares do Patrimônio<br />
Natural (RPPN) e ao cadastramento de novas<br />
propriedades para intervenção também vêm<br />
sendo amplamente trabalhados. Novos plantios,<br />
contudo, ainda não foram programados. “Estamos<br />
focados nessas ações que são tão importantes<br />
quanto os cultivos. Durante os próximos meses,<br />
realizaremos quase 40 km de cercamento nas<br />
propriedades. Com essas e outras obras, o projeto<br />
segue sua fase de implantação”, garante a coordenadora<br />
de Meio Ambiente do Incaper, Maria da<br />
Penha Padovan.<br />
Mobilizar os produtores a ceder as terras para<br />
os plantios e cercamentos, porém, nem sempre
é tarefa das mais fáceis.<br />
Alguns temem prejuízos financeiros<br />
e relutam em colaborar com o programa.<br />
Apesar dessa dificuldade, a aceitação do<br />
projeto entre os agricultores é considerada boa e<br />
pode ser medida pelas mais de 300 propriedades<br />
já cadastradas.<br />
A isso, juntam-se o crescente interesse por<br />
parte de instituições públicas, privadas e não<br />
governamentais no projeto, e sua inclusão no<br />
planejamento estratégico do governo estadual,<br />
chamado de “Espírito Santo 2025”. Perspectivas<br />
que, ao menos por enquanto, garantem o prosseguimento<br />
do projeto. “Estamos aprendendo<br />
com os erros e testando formas. Ainda não temos<br />
resposta conclusivas sobre o sucesso no alcance<br />
dos objetivos, mas acredito que estamos avançando”,<br />
finaliza Gerusa Bueno.<br />
idaf elabora ‘Projeto reserva le-<br />
Gal’ Para aMPliar Cobertura de<br />
Mata nativa do estado - No último<br />
mês, a Mata Atlântica capixaba ganhou mais um<br />
aliado. Em fase de elaboração, o projeto “Reser-<br />
va Legal” é iniciativa<br />
do Instituto de Defesa<br />
Agropecuária<br />
e Florestal (Idaf),<br />
e assim como o<br />
“ C o r r e d o r e s ” ,<br />
tem o objetivo de<br />
ampliar a cobertura<br />
de mata nativa e conservar<br />
solos, recursos<br />
hídricos e a biodiversidade<br />
capixaba. “Embora não tenham<br />
ligação direta, os Corredores e o Reserva<br />
Legal se complementam”, destaca<br />
o chefe do Departamento de Recursos<br />
Naturais Renováveis do Instituto (DRNRE),<br />
Robson de Almeida Britto.<br />
Para cumprir a missão de recuperar a floresta,<br />
o IDAF realizará a demarcação e averbação de<br />
reservas nas propriedades rurais. As reservas legais<br />
são áreas de vegetação nativa, obrigatórias<br />
por lei, que devem ocupar, no mínimo, 20% das<br />
propriedades. Até 2016, todos os proprietários<br />
devem ter as reservas registradas em cartório<br />
e trabalhar para recuperar as áreas degradadas,<br />
com plantios e outras ações.<br />
Foto Pale Zuppani<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 33
34<br />
Sustentável,<br />
lucrativo<br />
e pouco explorado<br />
Ramo da atividade turística que mais cresce no planeta,<br />
o Ecoturismo ainda procura espaço no Espírito Santo.<br />
DEm todas as estações o Espírito Santo<br />
encanta. Serras, praias e florestas compõem<br />
exuberantes quadros naturais<br />
que fazem do Estado um lugar perfeito para investimento<br />
em um dos maiores segmentos da indústria<br />
do entretenimento: o turismo. Com uma<br />
movimentação de cerca de US$ 3,5 trilhões anuais,<br />
o turismo é a atividade que apresenta os mais<br />
elevados índices de crescimento no contexto econômico<br />
mundial. Na última década, ele expandiu<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
em 57%. Dentre todas as modalidades praticadas,<br />
nenhuma se desenvolveu tanto quanto o ecoturismo.<br />
O número de visitantes de áreas naturais – em<br />
especial áreas protegidas ou unidades de conservação<br />
– aumentou vertiginosamente em várias<br />
partes do mundo.<br />
A Organização Mundial do Turismo (OMT) estima<br />
que 10% das pessoas que viajam pelo mundo<br />
são ecoturistas. Nesse ramo do turismo, não há hotéis<br />
de luxo, visitas a shopping centers ou fast food.<br />
Quem se rende aos atrativos naturais de destinos<br />
preservados, procura interação com o meio<br />
ambiente e com as comunidades<br />
envolvidas no meio.
As cifras que o segmento movimenta mundialmente<br />
são estimadas em US$ 260 bilhões anuais.<br />
Desse montante, o Brasil fica com uma fatia de<br />
cerca de US$ 70 milhões deixados por aproximadamente<br />
meio milhão de turistas que percorrem,<br />
anualmente, as rotas ecológicas do País. Otimistas,<br />
empresários do setor projetam um crescimento<br />
de 20% ao ano.<br />
Entretanto, especialistas são unânimes ao afirmar<br />
que o ecoturismo não traz só benefício. Há<br />
também impactos negativos que, se não forem<br />
monitorados e avaliados com freqüência, podem<br />
ser tão devastadores quanto os causados pelo turismo<br />
convencional. Maior consumo dos recursos<br />
naturais, tratamento inadequado do lixo produzido,<br />
perda de valores tradicionais, aumento do custo<br />
de vida e adensamento populacional são alguns<br />
inconvenientes que crescem na mesma proporção<br />
que os investimentos.<br />
No Espírito Santo, assim como em várias partes<br />
do País, o ecoturismo carece de maior estruturação.<br />
Tanto a Secretaria de Turismo do Estado<br />
(Setur), o Espírito Santo Convention & Visitors Bureau<br />
como a Secretaria de Meio Ambiente e Recur-<br />
sos Hídricos (Seama) - que é responsável pela fiscalização<br />
e preservação dos parques naturais - não<br />
possuem dados sobre esta modalidade de turismo<br />
no Estado. Por isso, durante a Expotur ES 2008,<br />
foi assinado um termo de cooperação técnica entre<br />
Setur e a Seama, com o intuito de fomentar ações<br />
integradas de desenvolvimento sustentável deste<br />
importante filão no turismo.<br />
A implantação de um programa de Certificação<br />
do Turismo de Aventura; a implementação de<br />
uma Política Estadual de Ecoturismo; programas<br />
de capacitação em Unidades de Conservação; e a<br />
dinamização, nos casos cabíveis, dos processos de<br />
licenciamento ambiental para os empreendimentos<br />
turísticos, são algumas atividades que o termo<br />
estabelece. Marcos Sossai, gerente de Recursos<br />
Naturais, informa que o convênio prevê como atividade<br />
inicial a elaboração de um plano de trabalho<br />
que o operacionalize. Além disso, o Instituto<br />
irá mapear e incentivar o desenvolvimento de atividades<br />
ecoturística de modo que elas valorizem<br />
ao máximo as comunidades locais ao entorno das<br />
regiões dotadas de atributos ecoturístico. “Faremos<br />
isso de forma sustentável e consciente, pois<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 35
36<br />
trata-se de um ecossistema delicado, tanto é que<br />
um dos pontos que deverá entrar nesta planificação<br />
de trabalho será a avaliação de suporte de<br />
trilha. Assim, poderemos definir as diretrizes para<br />
visitação de pessoas que atualmente é feita de forma<br />
prática”, salienta.<br />
Para a Gerente de Estudos e Negócios Turísticos<br />
da Setur, Carla Rezende, o ecoturismo vem<br />
se tornando, nas últimas décadas, uma excelente<br />
possibilidade de geração de impostos para algumas<br />
prefeituras e também um mecanismo de fixação<br />
do homem no interior com uma qualidade<br />
de vida melhor. “Bem estruturado, o ecoturismo<br />
poderá constituir-se em um dos alicerces na tenta-<br />
Rota do Caparaó<br />
Um importante aliado no desenvolvimento<br />
do ecoturismo, turismo rural e turismo de aventura<br />
são as Rotas Turísticas criadas pela Setur,<br />
que contemplam praias, vales, serras e regiões<br />
de colonização por imigrantes, entre outras.<br />
Inicialmente, elas nasceram para levar o capixaba<br />
a conhecer mais suas próprias belezas naturais.<br />
Mas após visitas de técnicos do Ministério<br />
do Turismo (MTur), deixaram de ser produtos<br />
locais e ganharam projeção nacional, devido tamanha<br />
relevância para o setor.<br />
Das oito rotas de turismo, uma destaca-se por<br />
belezas naturais praticamente intocadas. Trata-se<br />
da Rota do Caparaó, que é formada por 11 municípios<br />
que ficam no entorno do Parque Nacional<br />
do Caparaó.<br />
Ibatiba<br />
br 262<br />
Pequiá<br />
Irupê<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
Iúna<br />
Santa<br />
Clara<br />
São joão<br />
do Príncipe<br />
Manhumirim<br />
Pedra<br />
roxa<br />
alto<br />
Caparaó<br />
Pico da<br />
bandeira<br />
alto<br />
Jequitibá<br />
tiva de alcançar um modelo sustentável de desenvolvimento.<br />
Mas para isso, ele precisa harmonizar<br />
os seguintes fatores: resultados econômicos, mínimos<br />
impactos ambientais e culturais, satisfação do<br />
ecoturista e da comunidade.<br />
Sabrina Klein, diretora executiva do Espírito<br />
Santo Convention & Visitors Bureau, tem a mesma<br />
opinião que Carla Rezende. Ela diz que o ecoturismo,<br />
bem como o turismo de lazer, está em processo<br />
de desenvolvimento no Estado. “O Espírito<br />
Santo, por muito tempo, ficou focado apenas no<br />
turismo de negócio. “Agora, o Governo e as prefeituras<br />
municipais atentaram para a importância<br />
deste segmento”, informa Sabrina.<br />
Localizado na divisa do Espírito Santo com<br />
Minas Gerais, o Parque Nacional do Caparaó é<br />
uma das mais importantes áreas de preservação<br />
da Mata Atlântica do País. São mais de 2000 km2<br />
de área, sendo que 75% estão em terras capixabas.<br />
É exatamente em solo espírito-santense que se<br />
encontra o ponto culminante do Estado e terceiro<br />
maior do Brasil: o Pico da Bandeira, com 2.890<br />
metros de altitude.<br />
A região, que abriga uma população de aproximadamente<br />
380 mil habitantes – somente do lado<br />
capixaba -, é uma das áreas verdes mais bonitas do<br />
Estado. São mais de 200 cachoeiras, trilhas, mirantes,<br />
ou seja, atrativos mais que perfeitos para o<br />
ecoturismo e também para realização de eventos<br />
culturais e ambientais.<br />
Ibitirama<br />
Santa<br />
Marta Patrimômio<br />
da Penha<br />
Caparaó<br />
Paraíso<br />
Pedra<br />
Menina<br />
acesso Mg<br />
acesso ES<br />
Cachoeira<br />
da fumaça<br />
Mundo<br />
Novo<br />
Estrada Parque Modelo<br />
Estradas regionais<br />
rodovias federais<br />
alegre<br />
Jão José<br />
do Calçado<br />
Espera<br />
feliz<br />
br 102
Projeto Cama & Café<br />
Saborear um delicioso café da manhã colonial<br />
com geléias e sucos feitos de frutas exóticas,<br />
acompanhados de bolos, biscoitos e outras<br />
iguarias de dar água na boca, tudo isso em meio<br />
a muito verde da Mata Atlântica, é uma experiência<br />
que ecoturista que se preze não pode perder.<br />
Desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento<br />
Econômico e Turismo (Sedetur), em parceria<br />
com o Sebrae-ES, Bandes e prefeituras municipais,<br />
o projeto Cama & Café consiste em catalogar,<br />
capacitar e certificar propriedades rurais da região<br />
dos Imigrantes e do Caparaó para promover a hospedagem<br />
alternativa nos municípios que não possuem<br />
um sistema de hospedagem formal.<br />
Criado em 1988, tendo como cidades pioneiras<br />
Dores do Rio Preto, Mimoso do Sul e Divino<br />
São Lourenço, o projeto já certificou mais de 30<br />
propriedades. Pousadas como a da professora<br />
aposentada, e agora ambientalista, Ângela Ri-<br />
ghetti propõe ao turista a imersão no cotidiano<br />
rural do tipo prosa em volta do fogão à lenha<br />
- obviamente lenha de madeira reflorestada - banhos<br />
de cachoeira, comida caseira feita a partir<br />
de produtos orgânicos produzidos na propriedade<br />
e sítios vizinhos, fabricação artesanal de<br />
alimentos como licores, geléias e também de<br />
artesanato que seguem princípios rigorosos de<br />
preservação ambiental.<br />
Com o intuito de que outras gerações possam<br />
desfrutar do privilégio das belezas naturais do<br />
local, a família Righetti já deu entrada nas documentações<br />
para transformar 2/3 dos 28 hectares<br />
da propriedade em Reserva Particular do Patrimônio<br />
Natural (RPPN). “Contratamos biólogos,<br />
com apoio da Fundação SOS Mata Atlântica, que<br />
fizeram todos os levantamentos necessários que<br />
justifiquem ações de conservação da fauna e flora.<br />
Os estudos encontram-se no Ibama, em Brasília,<br />
aguardando o reconhecimento oficial”, informou<br />
Emanuele Righetti, filha de Ângela.<br />
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 37
38<br />
ar t i g o<br />
Mariza Giacomin Lozer<br />
Advogada e Bacharel em Ciências Contábeis, Pós-Graduada em Administração<br />
Financeira e Mestranda em Tecnologia <strong>Ambiental</strong> pela Faculdade<br />
de Aracruz. Atualmente é Assessora Jurídica Parlamentar na Assembléia<br />
Legislativa do Espírito Santo.<br />
POLUIÇÃO SONORA<br />
Aspectos Legais na<br />
Legislação Brasileira<br />
Q<br />
Um dos mais graves problemas urbanos<br />
contemporâneos é o representado<br />
pela Poluição Sonora. Tratada<br />
como uma contaminação atmosférica através da<br />
energia (mecânica ou acústica), este tipo de poluição<br />
tem reflexos em todo o organismo e não<br />
apenas no aparelho auditivo. Ruídos intensos e<br />
permanentes podem causar vários distúrbios, alterando<br />
significativamente o humor e a capacidade<br />
de concentração nas ações humanas.<br />
A natureza emergencial e localizada desse<br />
tipo de poluição tornou necessária a criação, pelo<br />
Governo Federal, de um programa que estabelecesse<br />
normas, métodos e ações para controlar o<br />
ruído excessivo e seus reflexos sobre a saúde e<br />
bem-estar da população. Trata-se do Programa<br />
Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora<br />
– Silêncio, instituído pelo CONAMA através<br />
da Resolução 01/90 e 02/90, sob a coordenação<br />
do IBAMA.<br />
Por se tratar de um problema social e difuso,<br />
a Poluição Sonora deve ser combatida pelo poder<br />
público e pela sociedade, mediante ações judiciais<br />
de cada prejudicado ou através da ação civil pública<br />
(Lei nº 7.347/85) – pela coletividade - para<br />
garantir o sossego público resguardado no art.<br />
225, da Constituição Federal. Este artigo diz ser<br />
direito de todos um meio ambiente equilibrado,<br />
ou seja, sem poluição urbana, doméstica, industrial<br />
ou mesmo sonora.<br />
Para o sons de carros, existem limites estipulados<br />
por lei, previsto no art. 228 do CTB. O não<br />
cumprimento prevê infração grave e multa. É claro<br />
que há exceções que são regulamentadas por<br />
leis específicas.<br />
ESPAço AMbiEntAL | Junho e Julho 2008<br />
Já a Lei das Contravenções Penais (Art. 42)<br />
dispõe sobre a perturbação do trabalho ou do<br />
sossego alheio, estabelecendo pena de prisão<br />
simples - 15 dias a 3 meses - ou multa. Por sua<br />
vez, o Código Civil (Lei nº 10.406/02) no Art.<br />
1.277 estabelece os Direitos de Vizinhança, onde<br />
é resguardado ao proprietário ou o possuidor de<br />
um prédio fazer cessar as interferências prejudiciais<br />
à segurança, ao sossego e à saúde dos que o<br />
habitam em propriedades vizinhas.<br />
Além das legislações enfocadas acima, existe<br />
a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), que diz<br />
configurar-se crime “causar poluição de qualquer<br />
natureza em níveis tais que resultem ou possam<br />
resultar em danos à saúde humana...”. Podemos<br />
inserir aí a questão da poluição sonora, que causa<br />
problemas auditivos, desconcentra o motorista e<br />
pode causar acidentes. O uso adequado do som<br />
no carro permite ao condutor ouvir não só as músicas<br />
preferidas, como também alarmes de emergência<br />
tais como: bombeiros, polícia, ambulância<br />
ou até mesmo uma buzina de alerta.<br />
Existem outros aspectos legais estabelecidos<br />
por órgãos ligados ao Governo Federal, como o<br />
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONA-<br />
MA) que regula várias questões ligadas ao meio<br />
ambiente. Para finalizar, a discussão em torno<br />
dos aspectos legais é de extrema importância,<br />
pois não se trata apenas de uma questão de barulho,<br />
mas sim, de manutenção do meio ambiente<br />
saudável e equilibrado, sendo passível, inclusive,<br />
a punibilidade de quem prejudicar esse equilíbrio<br />
ecológico. Contribuindo para a redução do ruído<br />
no meio ambiente, cada órgão do corpo humano<br />
estará sendo beneficiado.
Junho e Julho 2008 | ESPAço AMbiEntAL 39