Download - Cinemateca Brasileira
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vår / Na primavera da vida (Paul Garbagni,1912), da Pathé de Estocolmo, rodado<br />
nos estúdios da Svenska Biografteatern pois a Pathé não dispunha de estúdios próprios<br />
na Suécia. A característica mais notável deste filme é que Sjöström, Stiller e Klercker<br />
nele desempenham os principais papéis.<br />
exibido na Jornada <strong>Brasileira</strong> de Cinema Silencioso de 2008. Essa “receita” para realizar<br />
filmes de sucesso também foi adotada por outros estúdios na época. Por exemplo, pela<br />
Skandia que, em 1919, adaptou duas famosas novelas do escritor norueguês Bjørnstjerne<br />
Bjørnson: Synnöve Solbakken, e Ett farligt frieri / [Um Namoro perigoso].<br />
A outra figura mais importante do cinema silencioso sueco foi Mauritz Stiller. Como<br />
Sjöström, em seus primeiros anos foi muito prolífico, realizando filmes de gêneros e<br />
estilos variados. O trabalho mais significativo de Stiller, anterior à Idade de Ouro, provavelmente<br />
é Vingarne / As Asas (1916), adaptado do conto “Mikael”, de Herman<br />
Bang (a mesma história foi filmada por Carl Theodore Dreyer na Alemanha em 1924).<br />
O interessante sobre o filme – e no que a versão de Stiller se diferencia da de Dreyer<br />
– é o acréscimo à história de uma moldura autorreflexiva, característica que pode ser<br />
encontrada em outros filmes do diretor, como em Thomas Graals bästa film / O<br />
Melhor filme de Thomas Graal (1917). Stiller adaptou também para a tela duas<br />
novelas finlandesas, Sången om den eldröda blomman / Canção sobre a flor<br />
escarlate (1919) e Johan (1921), ambas rodadas em partes remotas do norte da Suécia<br />
e que contêm cenas de grande impacto visual, como a audaciosa corrida sobre troncos<br />
de árvores que flutuam num rio, feita pelo personagem principal (interpretado por Lars<br />
Hanson), no primeiro dos títulos. Mas a maior fonte literária da Svenska Biografteatern<br />
durante a Idade de Ouro foram as obras de Selma Lagerlöf, sendo a mais importante<br />
delas Herr Arnes pengar / O Tesouro de Arne (1919), de Stiller. Uma história de<br />
cobiça e redenção situada na Suécia do século XVII, com tomadas espetaculares do<br />
fantasma de uma moça assassinada. As histórias de Selma Lagerlöf se revelaram grande<br />
fonte para filmes, frequentemente porque lidam com elementos de um misterioso<br />
mundo, com espíritos de mortos que se manifestam aos vivos – o que forneceu excelente<br />
material visual e ajudou a criar o clima de exotismo desses filmes suecos da época. A<br />
escritora era muito ciosa quanto à adaptação de suas histórias, e sempre manteve uma<br />
boa relação com Sjöström, além de ter Stiller em alta consideração, afirmando ter ele<br />
capturado excelentemente sua escrita em Herr Arnes pengar. No entanto, se revelou<br />
38<br />
menos entusiástica com algumas adaptações que fez posteriormente de seus trabalhos,<br />
como Gunnar Hedes saga / Contra o orgulho (1923). Ela se opôs muito ao roteiro 39<br />
e relutou em aceitar que seu nome fosse associado ao filme. Mas, Stiller, já no roteiro,<br />
criava um lindo conto de perda e sofrimento, e mostrava como se poderiam encontrar<br />
consolo e redenção na arte e no amor. A mais famosa adaptação de Selma Lagerlöf é<br />
Körkarlen / A Carruagem fantasma, rodada por Sjöström em 1920 e lançada em<br />
1o Sjöström e Stiller, as duas figuras mais famosas do trio, rapidamente aprenderam seu<br />
ofício e realizaram um espantoso número de filmes – chegavam a seis ou sete por<br />
ano. Talvez o mais plenamente bem-sucedido desses primeiros tempos seja Ingeborg<br />
Holm, dirigido por Sjöström em 1913, um drama sobre uma mãe solteira que perde a<br />
guarda dos filhos. O filme causou tanto impacto em seu lançamento que desencadeou<br />
um debate e uma modificação na legislação sueca, que então passou a favorecer as mães<br />
solteiras. Mas o filme tem também aspectos visuais interessantes, e o que mais chama<br />
a atenção talvez seja a maneira como Sjöström usa a profundidade de campo – a ação<br />
se desenvolve, numa mesma tomada, em diferentes planos espaciais. Outra surpreendente<br />
característica do filme é o estilo de interpretação contido, que se tornaria uma<br />
das marcas registradas do cinema silencioso sueco.<br />
Terje Vigen, realizado por Sjöström em 1916 e lançado no ano seguinte, é um filme<br />
notável por muitas razões. Não apenas porque é um filme sobre a passagem do tempo<br />
e o comovente retrato de um velho homem (interpretado pelo próprio Sjöström) que<br />
decide enfrentar seus sentimentos de perda e vingança, mas também porque provocou<br />
a mudança da política de produção da Svenska Biografteatern. Ele marca o início<br />
do que se tornou conhecido como Idade de Ouro do Cinema Sueco (período que<br />
se diz habitualmente ter durado até 1924). Foi a produção mais cara feita até então<br />
e, quando o filme se tornou um grande sucesso financeiro e obteve uma boa repercussão<br />
crítica, o estúdio decidiu mudar radicalmente sua política de produção. De vinte<br />
filmes por ano, a produção anual caiu para alguns apenas, que passaram a ter uma<br />
preparação mais longa e cuidadosa, além de um orçamento maior. Como muitos dos<br />
filmes realizados a partir de então, Terje<br />
Vigen se baseava numa famosa obra<br />
literária, no caso, um longo poema do<br />
escritor norueguês Henrik Ibsen (o filme<br />
é talvez a melhor adaptação já vista de<br />
um poema para a tela). Outra característica<br />
marcante é que foi rodado sobretudo<br />
em locações. Sjöström e o renomado<br />
de janeiro de 1921, e que atualmente seja talvez encarada como o melhor filme silen-<br />
diretor de fotografia Julius Jaenzon utilicioso<br />
sueco e um verdadeiro clássico do cinema. O filme tem uma estrutura narrativa<br />
zaram maravilhosos cenários não apenas<br />
complexa: a história de um homem que faz um retrospecto de sua vida, e das injustiças<br />
como pano de fundo espetacular para<br />
e males que infligiu a outros, é contada em flashbacks – eventualmente flashbacks dentro<br />
Julius Jaenzon<br />
o desenvolvimento do drama, mas para<br />
de flashbacks –, criando uma espécie de estrutura de múltiplas camadas que, contudo,<br />
justamente mostrar a interação do homem com a natureza. Todos esses aspectos<br />
parecem cristalinas à medida que o filme se desenrola. Körkarlen também é famoso<br />
– grande orçamento, o uso de uma famosa obra literária e a filmagem em locação<br />
– consubstanciaram a nova política da Svenska Biografteatern.<br />
por seu uso de múltiplas exposições, criadas pelo diretor de fotografia Julius Jaenzon.<br />
Mas devemos ser cuidadosos no uso da expressão Idade de Ouro e na divisão de<br />
filmes feitos antes e depois de Terje Vigen. A Idade de Ouro caracteriza não apenas<br />
uma tal qualidade dos filmes, mas também um certo modo de produção da indústria<br />
cinematográfica do período. Muitas fitas realizadas antes de 1917 têm sido injustamente<br />
negligenciadas, assim como muitas produções de depois de 1917 nada têm de notáveis. A<br />
verdade sobre Terje Vigen, contudo, é que ele contribuiu para que o cinema ganhasse<br />
credibilidade e respeitabilidade culturais. Foi o primeiro filme a ter uma resenha assinada<br />
num jornal sueco, escrita por um crítico literário muito famoso. Teve também muito<br />
sucesso no exterior, e a filmagem em locações, nas quais o homem é visto lutando contra<br />
os elementos, tornou-se parte do “exotismo” ou “originalidade” do cinema sueco, que<br />
pareciam fascinar as plateias estrangeiras. Esse diferencial predominou também no<br />
filme seguinte de Sjöström, Berg-Ejvind och hans hustru / Os Proscritos (1918),<br />
Outras personalidades, além de Sjöström e Stiller, ajudaram a dar forma ao cinema<br />
silencioso sueco. Um dos mais famosos é Gustaf Molander, que começou sua carreira<br />
escrevendo o roteiro de Terje Vigen com Sjöström e continuou fazendo filmes até a<br />
década de 1960 (além de ter sido o diretor que projetou a atriz Ingrid Bergman ao estrelato<br />
em meados dos anos 1930). Durante o período silencioso, Molander demonstrou grande<br />
habilidade na realização de filmes de gêneros variados, desde trabalhos ambientados<br />
em diferentes períodos históricos a dramas e comédias contemporâneos. Provavelmente<br />
sua contribuição mais notável como diretor de filmes silenciosos tenham sido as duas<br />
adaptações componentes do ciclo de filmes feitos a partir da obra Jerusalém, de Selma<br />
Lagerlöf, Ingmarsarvet / A Herança de Ingmar (1925) e Till Österland / [Para o<br />
Oriente] (1926). Esses filmes foram a continuação de Ingmarssönerna / [Os Filhos<br />
de Ingmar] (1919) e Karin Ingmarsdotter / Karin, filha de Ingmar (1920),<br />
dirigidos por Sjöström. Ingmarsarvet é uma comovente descrição da vida em uma