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Pondo sons e imagens nos trilhos...<br />

Livio Tragtenberg<br />

Curador musical<br />

A seleção de fi lmes suecos apresentados este ano na Jornada, por sua densidade e<br />

refi namento, coloca a questão do uso da música no cinema silencioso num patamar de<br />

linguagem mais complexo e sofi sticado.<br />

O refi namento dos recursos utilizados nesses fi lmes, como tratamento de cores,<br />

fotografi a, montagem, enquadramentos, soa como música das imagens em movimento.<br />

Me assombraram o ritmo e o envolvimento sensorial que eles propiciam. Apesar da<br />

diversidade estilística – épico-poético, drama, comédia, policial – essa qualidade rítmica<br />

está sempre presente.<br />

A questão colocada pelo compositor de música de cinema David Raksin – “No que,<br />

exatamente, a música contribui para um fi lme?” – torna-se ainda mais instigante quando<br />

nos deparamos com o cinema silencioso e suas relações com o espectador de hoje. Assim,<br />

no que a música ao vivo pode contribuir para o fi lme silencioso?<br />

Para o fi lósofo esloveno Slavoj Zizek, a “música de cinema possui uma dimensão superior<br />

para causar distúrbios na ordem simbólica do fi lme”. (Zizek, Slavoj, The Metasteses of<br />

Enjoyment, New York,1994.)<br />

De certa forma, esse é um dos objetivos que perseguimos na Jornada (complementando<br />

a curadoria de Carlos Roberto), no sentido de uma revitalização – mais do que uma<br />

pretensa “atualização” que, de resto, soa ridículo quando se trata de criação artística – do<br />

cinema silencioso, ao buscarmos, ao lado de condições ideais de exibição e sonorização,<br />

uma leitura sonora do cinema silencioso através da escolha de criadores musicais que<br />

possam estabelecer diálogos instigantes com as plateias de hoje.<br />

Assim, a ideia de que a música ao vivo possa criar refl exos, e refl exões paralelas ao fi lme,<br />

tem sido um dos vetores na escolha dos músicos participantes. Seja por aproximação ou<br />

por distanciamento (irônico ou conceitual) as musicalizações buscam sobretudo estabelecer<br />

uma conversa criativa, ao invés de uma moldura decorativa, com as narrativas fílmicas.<br />

A Janela para a América Latina apresenta o fi lme silencioso boliviano Wara Wara, que<br />

já vem sonorizado com a música do importante compositor contemporâneo, também<br />

boliviano, Cergio Prudencio (1955). Ele é criador da Orquestra Experimental de<br />

Instrumentos Nativos, em seu país, nos anos de 1980. Realizou música para mais de<br />

quarenta fi lmes, tendo recebido vários prêmios. Será, portanto, uma oportunidade única<br />

para se travar contato com sua obra.<br />

Este ano, o Auditório Ibirapuera acolhe uma sessão da Jornada, que tem tudo para ser<br />

especialíssima, iniciando uma parceria que, esperamos, perdure e se integre à própria<br />

Jornada. O fi lme sueco Häxan / A Feitiçaria através dos tempos (1922) irá encantar<br />

com luzes e visões fantasmagóricas.<br />

Filmes que documentam a ferrovia no Brasil também são destaque na programação,<br />

repercutindo a imagem-fetiche dos Irmãos Lumière nos primórdios do cinema, e que<br />

terão um tratamento sonoro diversifi cado, seja na sonoplastia ou na colagem musical,<br />

compondo um painel de sonoridades que dialogam com a memória do espectador. Temos<br />

músicos representativos da chamada música popular musicando fi lmes na homenagem aos<br />

80 anos da Cinédia, ampliando assim a palheta de timbre e estilos musicais.<br />

Mais uma vez, a seleção musical da Jornada apresenta uma ampla diversidade sonora,<br />

não apenas no sentido de estilos e gêneros musicais, mas também nas diferentes formas de<br />

abordagem das imagens.Literalmente, este ano as imagens e sons estão nos trilhos...<br />

Músicos e Artistas Convidados<br />

Ana Fridman<br />

Formada em Música e Dança pela Unicamp, atua como compositora, pianista, arranjadora,<br />

bailarina e professora de Percepção e Harmonia. Em 2002 ganhou a bolsa Virtuose em<br />

Composição para estagiar com o grupo londrino Kinetic Concert. Lançou em 2004,<br />

pelo selo Zabumba Records / Rob Digital, o CD O Tempo, a Distância e a Contradança, com<br />

músicas e arranjos de sua autoria, incluindo trilhas que compôs para teatro e dança. Entre<br />

os lugares que lecionou estão: Instituto de Artes da Califórnia, Unicamp, unidades do Sesc<br />

de São Paulo, Ongs e Companhias Teatrais. Em 2007 foi convidada pela Guildhall School<br />

de Londres para ministrar um workshop sobre ritmos brasileiros.<br />

André Abujamra<br />

Multiinstrumentista, compositor, produtor e ator paulistano. Na década de 1980 montou a<br />

banda Os Mulheres Negras, que o projetou no cenário musical alternativo em São Paulo.<br />

Depois passou pelo Karnak e hoje está em carreira solo. Compõe para cinema e teatro;<br />

entre seus trabalhos recentes estão uma participação na trilha de O Bicho de 7 cabeças<br />

e a trilha toda de Carandiru. Abujamra também atua como produtor musical, e trabalha<br />

junto com artistas como Pato-Fu e Duo Portal. Recentemente lançou seu terceiro CD solo,<br />

intitulado Mafaro, que tem recebido excelentes críticas, e já está com shows marcados por<br />

todo o mundo até 2011.<br />

Basavizi<br />

Grupo formado em 2008 para desenvolver pesquisas sobre a improvisação livre como<br />

forma de processo criativo e de composição, que resultaram também em outra pesquisa<br />

sobre o uso de tecnologia digital e analógica para performances ao vivo. Formado por um<br />

trio paulistano, o grupo desenvolveu diversos arranjos instrumentais. Sempre focado<br />

na interação entre instrumentos tradicionais, ainda que tocados de forma não usual, e<br />

tecnologias high e low-tech.<br />

Daniel Murray<br />

Violonista. Em 1997 conquistou o segundo prêmio no Concours International de Guitarre<br />

de Trédrez-Locquémeau, na Bretanha, França. Há 15 anos trabalha como intérprete,<br />

arranjador e compositor. Em 2007 gravou Suíte Retratos de Radamés Gnatalli com o Trio Opus<br />

12, de violões. Em 2008, lançou seu primeiro CD solo ...universos sonoros para violão e tape..., com<br />

patrocínio da Petrobras. Integrou em 2009 o Quarteto Tau de violões, com Breno Chaves,<br />

José Henrique Rosa Campos e Fabio Bartoloni, e formou com o violonista e compositor<br />

Chico Saraiva o Duo Saraiva-Murray, que acaba de voltar de uma turnê pela Europa.<br />

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