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Revista de Direito UPIS volume 6

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O quarto <strong>de</strong>scentramento principal da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e do sujeito ocorre no<br />

trabalho do filósofo e historiador francês Michel Foucault, que em série <strong>de</strong> estudos<br />

produziu uma espécie <strong>de</strong> “genealogia do sujeito mo<strong>de</strong>rno”. Foucault enfatiza novo<br />

tipo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, o qual <strong>de</strong>nomina como “po<strong>de</strong>r disciplinar”, <strong>de</strong>flagrado ao longo do<br />

século XIX, chegando ao seu <strong>de</strong>senvolvimento máximo ao início do século XX. O<br />

po<strong>de</strong>r disciplinar tem como preocupação primeira a regulação pela vigilância (governo<br />

da espécie humana ou <strong>de</strong> populações inteiras) e, em segundo lugar, preocupa-se<br />

com o indivíduo e o corpo, tencionando produzir um ser humano que possa<br />

ser tratado como um corpo dócil. Seus locais são aquelas novas instituições que se<br />

<strong>de</strong>senvolveram no <strong>de</strong>curso do século XIX e que “policiam” e disciplinam as populações<br />

mo<strong>de</strong>rnas — oficinas, quartéis, escolas, prisões, hospitais, clínicas e assim<br />

por diante.<br />

A socieda<strong>de</strong> disciplinar proporcionou instituições <strong>de</strong> natureza sobremaneira<br />

coletiva e organizada, e a leitura das peculiarida<strong>de</strong>s dos regimes disciplinares<br />

compele a conclusão <strong>de</strong> que, quanto mais coletivas e organizadas as instituições<br />

da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tardia, maior o isolamento, vigilância e individualização do sujeito<br />

individual.<br />

O quinto <strong>de</strong>scentramento é relativo ao impacto do feminismo, tanto como<br />

crítica teórica quanto como um movimento social, fazendo parte dos “novos movimentos<br />

sociais” que emergiram durante os anos sessenta (o gran<strong>de</strong> marco da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tardia), juntamente com as revoltas estudantis, os movimentos juvenis<br />

contraculturais e antibelicistas, as lutas pelos direitos civis, os movimentos<br />

revolucionários do “Terceiro Mundo”, os movimentos pela paz e tudo aquilo que<br />

está relacionado com “1968”.<br />

Tais movimentos, os quais <strong>de</strong> per si apelavam para a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social <strong>de</strong><br />

seus sustentadores, fazendo brotar nesse contexto histórico a política <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />

refletiam o enfraquecimento ou fim da classe política e das organizações políticas<br />

<strong>de</strong> massa com ela associadas, bem como sua fragmentação em vários e separados<br />

movimentos sociais.<br />

Importa, além disso, sublinhar que o feminismo também teve relação mais<br />

incisiva com o <strong>de</strong>scentramento conceitual do sujeito cartesiano e sociológico – ao<br />

questionar a clássica distinção entre o “<strong>de</strong>ntro” e o “fora”, o “privado” e o “público”<br />

– abriu para a contestação política arenas inteiramente novas <strong>de</strong> vida social,<br />

como a família, a sexualida<strong>de</strong>, o trabalho doméstico, a divisão doméstica do trabalho,<br />

o cuidado com as crianças etc; e questionou a noção <strong>de</strong> que os homens e<br />

mulheres eram parte da mesma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a “Humanida<strong>de</strong>”, substituindo-a pela<br />

questão da diferença sexual.<br />

58 R. Dir. <strong>UPIS</strong>, v. 6, p. 51 – 69, 2008

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