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Revista de Direito UPIS volume 6

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Elucida tal pensamento Stuart Hall:<br />

A formação do eu no “olhar” do Outro, <strong>de</strong> acordo com Lacan, inicia a<br />

relação da criança com os sistemas simbólicos fora <strong>de</strong>la mesma e é, assim,<br />

o momento <strong>de</strong> sua entrada nos vários sistemas <strong>de</strong> representações simbólicas<br />

– incluindo a língua, a cultura e a diferença sexual. Os sentimentos<br />

contraditórios e não-resolvidos que acompanham essa difícil entrada (o<br />

sentimento dividido entre o amor e ódio pelo pai, o conflito entre o <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> agradar e o impulso para rejeitar a mãe, a divisão do um entre suas<br />

partes “boa” e “má”, negação <strong>de</strong> sua parte masculina ou feminina, e<br />

assim por diante), que são aspectos-chave da “formação inconsciente do<br />

sujeito” e que <strong>de</strong>ixam o sujeito “dividido”, permanecem com a pessoa por<br />

toda a vida. Entretanto, embora o sujeito esteja sempre partido ou dividido,<br />

ele vivencia sua própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como se ela estivesse reunida e<br />

“resolvida”, ou unificada, como resultado da fantasia <strong>de</strong> si mesmo como<br />

uma “pessoa” unificada que ele formou na fase do espelho. Essa, <strong>de</strong> acordo<br />

com esse tipo <strong>de</strong> pensamento psicanalítico, é a origem contraditória<br />

da “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>”.<br />

Destarte, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>certo algo formado ao longo do tempo, por meio<br />

<strong>de</strong> processos inconscientes, e não algo inato e existente na consciência no momento<br />

do nascimento, <strong>de</strong> sorte que permanece sempre incompleta, em processo <strong>de</strong><br />

formação. Em vez, portanto, <strong>de</strong> se falar da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como coisa acabada, insta<br />

compreendê-la como i<strong>de</strong>ntificação (processo em andamento).<br />

O terceiro <strong>de</strong>scentramento é respeitante ao trabalho do lingüista estrutural<br />

Ferdinand <strong>de</strong> Saussure, o qual propalava que nós não somos, em nenhum sentido,<br />

os “autores” das afirmações que fazemos ou dos significados que expressamos na<br />

língua. Assim sendo, po<strong>de</strong>-se utilizar a língua para produzir significados apenas<br />

pelo posicionamento no interior das regras da língua e dos sistemas <strong>de</strong> significado<br />

<strong>de</strong> nossa cultura, sendo a língua um sistema social, preexistente a nós.<br />

Outrossim, os significados das palavras não são fixos, numa relação um-aum<br />

com os objetos ou eventos no mundo existente fora da língua, surgindo o<br />

significado nas relações <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong> e diferença que as palavras têm com outras<br />

palavras no interior do código da língua. Como diria Lacan, segundo Hall, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />

como o inconsciente, está estruturada tal como a língua. O significado é<br />

inerentemente instável: ele procura o fechamento (a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>), mas é constantemente<br />

perturbado (pela diferença).<br />

R. Dir. <strong>UPIS</strong>, v. 6, p. 51 – 69, 2008<br />

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