12.06.2013 Views

Revista de Direito UPIS volume 6

Revista de Direito UPIS volume 6

Revista de Direito UPIS volume 6

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

libertaram a consciência individual das instituições religiosas e da Igreja e a expuseram<br />

diretamente aos olhos <strong>de</strong> Deus; o Humanismo Renascentista, que colocou o<br />

homem no centro do universo; as revoluções científicas, que conferiram ao Homem<br />

a faculda<strong>de</strong> e as capacida<strong>de</strong>s para inquirir, investigar e <strong>de</strong>cifrar os mistérios da<br />

Natureza; e o Iluminismo, centrado na imagem do Homem racional, científico, libertado<br />

do dogma e da intolerância, e diante do qual se estendia a totalida<strong>de</strong> da<br />

história humana, para ser compreendida e dominada.<br />

O filósofo francês René Descartes (1596-1650) foi fundamental para se firmar<br />

essa concepção do sujeito, dando sua formulação primária, ao enfatizar o<br />

sujeito racional, pensante e consciente, situado no centro do conhecimento, com<br />

capacida<strong>de</strong> para raciocinar e pensar. “Cogito ergo sum” era a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

Descartes: “Penso, logo existo”.<br />

O sujeito do Iluminismo estava, pois, baseado numa concepção da pessoa<br />

humana como indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> razão, consciência e <strong>de</strong> ação, cujo “centro” consistia em núcleo interior, que<br />

emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se <strong>de</strong>senvolvia, ainda<br />

que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou “idêntico” a ele – ao<br />

longo da existência do indivíduo.<br />

A noção <strong>de</strong> sujeito sociológico refletia a vertiginosa complexida<strong>de</strong> do mundo<br />

mo<strong>de</strong>rno e a consciência <strong>de</strong> que esse núcleo interior do sujeito não era autônomo<br />

e auto-suficiente, mas formado na relação com as gran<strong>de</strong>s estruturas e formações<br />

<strong>de</strong> classe sustentadoras da socieda<strong>de</strong> capitalista mo<strong>de</strong>rna (maquinarias burocráticas<br />

e administrativas). A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> passa a ser formada na “interação” entre o<br />

eu e a socieda<strong>de</strong>.<br />

Tal mo<strong>de</strong>lo sociológico interativo é, em gran<strong>de</strong> parte, produto da primeira<br />

meta<strong>de</strong> do século XX, quando as ciências sociais assumem sua forma disciplinar<br />

atual.<br />

O flaneur (vagabundo) <strong>de</strong> Walter Benjamin – celebrado em seu ensaio sobre<br />

a Paris <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire – que vagueia entre as novas arcadas das lojas, observando<br />

o passageiro espetáculo da metrópole, e cuja contrapartida na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

tardia é provavelmente o turista; e a vítima anônima, confrontada por uma burocracia<br />

sem rosto, na novela O Processo, <strong>de</strong> Kafka, <strong>de</strong>signam imagens proféticas do<br />

que aconteceria ao sujeito cartesiano e ao sujeito sociológico na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

tardia.<br />

Por oportuno, enfocar-se-ão os cinco gran<strong>de</strong>s avanços na teoria social e<br />

nas ciências humanas ocorridos no pensamento e cujo efeito mais contun<strong>de</strong>nte foi<br />

o <strong>de</strong>scentramento <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro do sujeito cartesiano.<br />

R. Dir. <strong>UPIS</strong>, v. 6, p. 51 – 69, 2008<br />

55

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!