12.06.2013 Views

Revista de Direito UPIS volume 6

Revista de Direito UPIS volume 6

Revista de Direito UPIS volume 6

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Vale, qualquer que seja o intérprete, o apontamento muitas vezes lançado,<br />

<strong>de</strong> que ele será sempre um sujeito histórico, com suas vivências, sua “localida<strong>de</strong>”<br />

e sua temporalida<strong>de</strong> o que implica que suas <strong>de</strong>cisões hão <strong>de</strong> refletir, em maior ou<br />

menor medida, o mundo em que vive, a forma como nele vive e o modo como o vê,<br />

o que permite afirmar que a hermenêutica é, sobretudo, um processo experiencial.<br />

Parece certo, assim, afirmar que a neutralida<strong>de</strong> hermenêutica é uma<br />

impossibilida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> sua própria historicida<strong>de</strong>. Daí o dilema<br />

doutrinário <strong>de</strong> encontrar a justa medida entre o “po<strong>de</strong>r criador do direito” que<br />

<strong>de</strong>flui da interpretação realizada pelos sujeitos legitimados e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

controlar esse po<strong>de</strong>r.<br />

Sobre o fato <strong>de</strong> que o juiz cria direito, não parece sobejar dúvida séria. O que<br />

se questiona é o limite em que isso se dá e que não po<strong>de</strong> ir a ponto <strong>de</strong> acatar a<br />

afirmação <strong>de</strong> Charles Huges que, à força da repetição inconseqüente, é já um quase<br />

axioma.”A lei não é o que é. Ela é o que o Judiciário disser que ela é.” 36 Ora, se<br />

somente ao Judiciário couber dizer o que é a Constituição e quais leis são ou não<br />

com ela compatíveis, toda a sua conduta, por mais estranha e arbitrária que possa<br />

parecer, po<strong>de</strong>rá ser, em tese, por ele mesmo julgada constitucional. Convém afastar,<br />

pois, esse entendimento que coloca o Judiciário acima da lei, acima do bem e do<br />

mal. A lei é o que ela é, e o Judiciário tem <strong>de</strong> dizer exatamente o que ela é (!) naquele<br />

momento histórico.<br />

É claro que o advérbio exatamente, retrolançado, po<strong>de</strong> constituir <strong>de</strong>masia.<br />

O objetivo, porém, é apenas o <strong>de</strong> chamar a atenção para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efetivo<br />

controle da ativida<strong>de</strong> do intérprete constitucional. Afinal, convém ter presente a<br />

advertência <strong>de</strong>Lord Devlin:<br />

É gran<strong>de</strong> a tentação <strong>de</strong> reconhecer o judiciário como uma elite capaz <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>sviar dos trechos <strong>de</strong>masiadamente embaraçados da estrada do processo<br />

<strong>de</strong>mocrático. Tratar-se-ia, contudo, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviação só aparentemente provisória; em<br />

realida<strong>de</strong>, seria ela a entrada <strong>de</strong> uma via incapaz <strong>de</strong> se reunir à estrada principal,<br />

conduzindo inevitavelmente, por mais longo e tortuoso que seja o caminho, ao<br />

estado totalitário. 37<br />

Por óbvio que a advertência, que tem no Judiciário seu ponto <strong>de</strong> preocupação<br />

maior, é aplicável em maior ou menor grau a outros intérpretes constitucionais,<br />

sendo possível estabelecer, a priori, um critério segundo o qual ela terá sua<br />

pertinência em função da maior ou menor legitimação <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> primeiro grau<br />

(= aferível pelo voto direto, secreto e universal, para o exercício <strong>de</strong> mandato<br />

temporário). Vale, por isso, examinar, os intérpretes da constituição a partir <strong>de</strong> sua<br />

inserção em dois dos principais sistemas <strong>de</strong> verificação <strong>de</strong> constitucionalida<strong>de</strong>.<br />

24 R. Dir. <strong>UPIS</strong>, v. 6, p. 15 – 34, 2008

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!