12 Cadernos UniFOA Edição nº 16 - Agosto/2011
12 Cadernos UniFOA Edição nº 16 - Agosto/2011 12 Cadernos UniFOA Edição nº 16 - Agosto/2011
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CADERNOS <strong>UniFOA</strong><br />
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA<br />
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA<br />
ISSN 1809-9475
CADERNOS <strong>UniFOA</strong><br />
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA<br />
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA<br />
ANO VI - <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
FOA
FOA<br />
Presidente<br />
Dauro Peixoto Aragão<br />
Vice-Presidente<br />
Jairo Conde Jogaib<br />
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Superintendência Geral<br />
José Ivo de Souza<br />
Comitê Editorial<br />
Agamêmnom Rocha de Souza<br />
Rosana Aparecida Ravaglia Soares<br />
Sérgio Elias Vieira Cury<br />
Conselho Editorial<br />
Aline Andrade Pereira<br />
Carlos Alberto Sanches Pereira<br />
Carlos Roberto Xavier<br />
Denise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues<br />
Élcio Nogueira<br />
Fernanda Augusta Oliveira Melo<br />
Júlio César de Almeida Nobre<br />
Pablo Gimenez Serrano<br />
Margareth Lopes Galvão Saron<br />
Mauro César Tavares de Souza<br />
Vitor Barletta Machado<br />
Revisão de textos<br />
Língua Portuguesa<br />
Claudia Maria Gil Silva<br />
Maricinéia Pereira Meireles da Silva<br />
Língua Inglesa<br />
Maria Amália Sarmento Rocha de Carvalho<br />
Conselho Editorial ad hoc<br />
Capa<br />
Daniel Ventura<br />
EXPEDIENTE<br />
<strong>UniFOA</strong><br />
Reitor<br />
Alexandre Fernandes Habibe<br />
Pró-reitora Acadêmica<br />
Cláudia Yamada Utagawa<br />
Pró-reitora de Pós-Graduação,<br />
Pesquisa e Extensão<br />
Daniella Regina Mulinari<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
Editora Executiva<br />
Flávia Lages de Castro<br />
Editora Científica<br />
Maria Auxiliadora Motta Barreto<br />
Claudinei dos Santos<br />
Doutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de<br />
Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP<br />
Diamar Costa Pinto<br />
Doutor em Biologia Parasitária - Fundação Oswaldo Cruz<br />
Fabio Aguiar Alves<br />
Doutor em Biologia Celular e Molecular<br />
Universidade Federal Fluminense<br />
Igor José de Renó Machado<br />
Doutor em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Campinas<br />
- Professor do Departamento de Antropologia - UFSCAR<br />
Maria José Panichi Vieira<br />
Doutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade<br />
Católica do Rio de Janeiro<br />
Ruthberg dos Santos<br />
Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo<br />
Douglas Mansur da Silva<br />
Doutor em Antropologia Social – Universidade Federal de Viçosa<br />
Editoração<br />
Laert dos Santos / Luana Fernandes
Centro Universtitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />
FICHA CATALOGRÁFICA<br />
Bibliotecária Gabriela Leite Ferreira - CRB 7/RJ - 5521<br />
C<strong>12</strong>2 <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> / Centro Universitário de Volta Redonda. –<br />
ano VI, n. <strong>16</strong> (agosto <strong>2011</strong>). – Volta Redonda: FOA, <strong>2011</strong>.<br />
Quadrimestral<br />
ISSN 1809-9475<br />
Campus Três Poços<br />
Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, <strong>nº</strong> 1325<br />
Três Poços, Volta Redonda /RJ<br />
CEP 27240-560<br />
Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404<br />
www.unifoa.edu.br<br />
Versão On-line da Revista <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
http://www.unifoa.edu.br/cadernos<br />
1. Publicação periódica. 2. Ciências exatas e tecnológicas<br />
– Periódicos. 3. Ciências da saúde e biológicas – Periódicos.<br />
3. Ciências humanas e sociais aplicadas – Periódicos. I. Fundação<br />
Oswaldo Aranha. II. Título.<br />
CDD – 050
SUMÁRIO<br />
EDITORIAL ...................................................................................................................................................................... 09<br />
CIÊNCIAS EXATAS<br />
Utilizando recursos das tecnologias da informação e comunicação para apoio ao ensino da disciplina expressão gráfica<br />
nos cursos de engenharia<br />
Carlos Vitor de Alencar Carvalho, Janaina Veiga e Júlio César da Silva ................................................................................................... 11<br />
Utilização da Coluna de Winogradsky para a Demonstração do Efeito dos Metais Pesados na Microbiota Oxidante de<br />
Enxofre em Ambientes Aquáticos: Uma Abordagem Experimental<br />
Márcia Santos da Silva e Venicio Siqueira Filho ...................................................................................................................................... 21<br />
Influência do tolueno na modificação química das fibras de bagaço de cana-de-açúcar<br />
Tatiana Faria Maia e Daniella Regina Mulinari ....................................................................................................................................... 29<br />
Estudo Técnico, Econômico e Ambiental da geração de energia através do biogás de lixo - o caso do aterro sanitário de Gramacho<br />
Fábio Viana de Abreu, Mila Rosendal Avelino e Diego Preza Monâco ..................................................................................................... 37<br />
CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS<br />
História Política e a “Nova História”: um breve acerto de contas.<br />
Rafael Willian Clemente ............................................................................................................................................................................. 45<br />
Link patrocinado: uma nova forma de publicidade na internet<br />
Bruna Viana de Abreu Gonçalves, Douglas Baltazar Gonçalves e Ivanete da Rosa Silva de Oliveira ..................................................... 51<br />
O exercício da tutela na Educação Inclusiva<br />
Rose Jardim Madureira de Araujo, Cláudio Kleina e Marcus Vinicius Faria de Araujo ............................................................................. 59<br />
Desenvolvimento da competência comunicativa: um processo de coconstrução de conhecimento sobre a comunicação humana<br />
Luciana Leitão da Silva .............................................................................................................................................................................. 71<br />
CIÊNCIAS DA SAÚDE<br />
Aprendizagem baseada em problemas: o mito e a realidade<br />
João Ozório R. Neto, Cleize Silveira Cunha, Cristiane Silveira Cunha, Adriana Novaes Rodrigues e Mauro Tavares ..............................79<br />
Karatê e agressividade: possíveis relações<br />
Cláudio Delunardo Severino e Andressa de Oliveira Barbosa ......................................................................................................................85<br />
Doença de Crohn e Sua Relação com a Nefrolitíase: Tratamento Nutricional<br />
Nívea Veiga Almeida e Alden Santos Neves ...............................................................................................................................................99<br />
Ecologia da comunidade de metazoários parasitos do dourado, Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758, (Osteichthyes:<br />
Coryphaenidae) do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.<br />
Livia Castro Marques e Dimitri Ramos Alves ............................................................................................................................................111
LIST OF CONTRIBUTIONS<br />
EDITORIAL ...................................................................................................................................................................... 09<br />
ACCURATE SCIENCES<br />
Using information technologies and communication resources at graphic expression teaching in the enginnering courses<br />
Carlos Vitor de Alencar Carvalho, Janaina Veiga e Júlio César da Silva ................................................................................................... 11<br />
Using Winogradsky Column to the Demonstration of the Effect of Heavy Metals in Sulfur Oxidizing Microorganism in<br />
Aquatic Environments: an Experimental Approach<br />
Márcia Santos da Silva e Venicio Siqueira Filho ...................................................................................................................................... 21<br />
Influence of the toluene in chemical modification of the sugarcane bagasse fibers<br />
Tatiana Faria Maia e Daniella Regina Mulinari ....................................................................................................................................... 29<br />
Technical, economical and enviromental study of energy production through biogas from waste - the case of Gramacho’s landfil<br />
Fábio Viana de Abreu, Mila Rosendal Avelino e Diego Preza Monâco ..................................................................................................... 37<br />
SOCIAL SCIENCES APPLIED AND HUMAN BEINGS<br />
Political History and “New History”: a brief reckoning.<br />
Rafael Willian Clemente ............................................................................................................................................................................. 45<br />
Sponsored link: a new form of advertising on the internet<br />
Bruna Viana de Abreu Gonçalves, Douglas Baltazar Gonçalves e Ivanete da Rosa Silva de Oliveira ..................................................... 51<br />
The exercise of guardianship in Inclusive Education<br />
Rose Jardim Madureira de Araujo, Cláudio Kleina e Marcus Vinicius Faria de Araujo ............................................................................. 59<br />
Developing communicative competence: a co-construction process of knowledge about human communication<br />
Luciana Leitão da Silva .............................................................................................................................................................................. 71<br />
SCIENCES OF THE HEALTH<br />
Learning based on problems: mith and reality<br />
João Ozório R. Neto, Cleize Silveira Cunha, Cristiane Silveira Cunha, Adriana Novaes Rodrigues e Mauro Tavares ..............................79<br />
Karate and aggression: possible relation<br />
Cláudio Delunardo Severino e Andressa de Oliveira Barbosa ......................................................................................................................85<br />
Crohn’s Disease and its Relation with Nephrolithiasis: a Nutritional Treatment<br />
Nívea Veiga Almeida e Alden Santos Neves ...............................................................................................................................................99<br />
Community ecology of the metazoan parasites of common dolphinfish, Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758 (Osteichthyes:<br />
Coryphaenidae) from the coastal zone State of Rio de Janeiro, Brazil.<br />
Livia Castro Marques e Dimitri Ramos Alves ............................................................................................................................................111
Editorial<br />
A Revista <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> – multidisciplinar é uma publicação quadrimestral do Centro<br />
Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong>, cujo objetivo é divulgar as produções científicas de<br />
docentes e discentes, a fim de criar um intercâmbio entre pesquisadores e educadores do Centro<br />
Universitário de Volta Redonda e das Universidades.<br />
Ressalto que, neste número, a Revista <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> apresenta doze artigos com<br />
diversos temas das áreas de exatas, saúde e humanas, os quais demonstram a capacidade científica e<br />
acadêmica de nossos docentes, discentes e da comunidade nacional.<br />
Agradeço a todos os autores que enviaram seus trabalhos para esta edição e aos avaliadores<br />
que, apesar de suas atividades regulares, dispuseram seu tempo e conhecimento para contribuir com<br />
orientações valiosas para os trabalhos.<br />
Como Pró-reitora de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, espero que este veículo<br />
educacional de difusão de pesquisas e análises possa contribuir para o desenvolvimento do<br />
conhecimento.<br />
Boa leitura!<br />
Profa. Dra. Daniella Regina Mulinari<br />
Pró-reitora de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
9<br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong> 9
Utilizando recursos das tecnologias da informação e comunicação para apoio<br />
ao ensino da disciplina expressão gráfica nos cursos de engenharia<br />
Using information technologies and communication resources at graphic<br />
expression teaching in the enginnering courses<br />
Carlos Vitor de Alencar Carvalho 1<br />
Janaina Veiga 2<br />
Júlio César da Silva 3<br />
Palavras-chave:<br />
Software Educativo<br />
Educação Matemática<br />
Geometria Descritiva<br />
Desenho Geométrico<br />
Resumo:<br />
Este trabalho apresenta reflexões da utilização de recursos das Tecnologias<br />
da Informação e Comunicação – TIC – no apoio ao ensino da disciplina<br />
de expressão gráfica nos cursos de Engenharia. A disciplina expressão<br />
gráfica tem no seu conteúdo tópicos de desenho técnico e de geometria<br />
descritiva. A proposta apresenta a utilização das TIC em dois momentos:<br />
um com o uso do software GeoDescritiva e outro com a utilização de<br />
animações geradas especificamente para o curso a partir do software livre<br />
Régua e Compasso. A utilização dessa metodologia foi aplicada com<br />
alunos de cursos de engenharia elétrica, ambiental e de produção. Ao<br />
final do artigo são apresentados e discutidos os resultados do uso dessa<br />
metodologia em sala de aula.<br />
Abstract<br />
This work presents reflection about the use of information technologies<br />
and communication resources – TIC - as support to the teaching at the<br />
discipline graphic expression in the engineering courses. The subject<br />
graphic expression has geometric drawing content and descriptive<br />
geometry in its topics. The proposal presents the use of TIC in two<br />
moments: one with the use of the software GeoDescritiva and other one<br />
with the use of animations specifically generated for the course starting<br />
by the free software Compass and Ruler. The use of this methodology<br />
was applied with students at electric engineering, environmental<br />
engineering and production engineering. The results of the use of this<br />
methodology at the classroom are presented and discussed at the end<br />
of this article.<br />
Key words:<br />
Educational Software<br />
Mathematics Education<br />
Descriptive Geometry<br />
Technical Drawing<br />
1 Docente do Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong> (Volta Redonda – RJ). Docente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado<br />
Profissional em Educação Matemática da Universidade Severino Sombra – USS (Vassouras - RJ). Docente do Instituto Superior de Tecnologia<br />
de Paracambi.<br />
2 Docente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universidade Severino Sombra – USS (Vassouras - RJ)<br />
3 Docente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universidade Severino Sombra – USS<br />
(Vassouras - RJ). Docente do Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO (Teresópolis – RJ). Docente do Instituto Superior de<br />
Tecnologia em Ciências da Computação – IST-Rio (Rio de Janeiro – RJ)<br />
11<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
06/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
<strong>12</strong><br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
1.<br />
Introdução<br />
A utilização das Tecnologias da<br />
Informação e Comunicação (TIC) como apoio<br />
aos processos de ensino e de aprendizagem<br />
não pode mais se ignorada pelos educadores e<br />
estabelecimentos de ensino, uma vez que tais<br />
tecnologias são instrumentos que possuem<br />
um grande potencial pedagógico para os professores.<br />
Com elas as distâncias diminuem,<br />
as informações caminham mais rapidamente<br />
permitindo uma ampliação e integração do conhecimento<br />
e conseqüentemente uma mudança<br />
de postura dos educadores.<br />
Isto torna inegável a importância do<br />
debate sobre as TIC e seus impactos sobre<br />
os processos de construção do conhecimento.<br />
Neste sentido o Professor Nelson Pretto<br />
(2006:18), um dos referencias teóricos desde<br />
trabalho, destaca que “[...] no campo das instituições<br />
escolares precisamos refletir sobre o<br />
fazer pedagógico para conhecermos como os<br />
envolvidos estão recebendo a influência tecnológica<br />
e como reagem no seu dia a dia. A<br />
realidade que se apresenta constituiu um desafio<br />
para a escola como um todo”. As escolas<br />
do século XXI têm que adotar uma nova metodologia<br />
em sala de aula na qual a tecnologia<br />
esteja englobada, entretanto, para que a escola<br />
mude, é necessário que exista uma nova concepção<br />
de construção do conhecimento, uma<br />
nova forma de conceber escola. Uma escola<br />
que prepara o aluno para uma sociedade informatizada.<br />
Outro referencial teórico deste trabalho,<br />
Borba & Penteado (2001) afirma que o<br />
acesso a escola deve ser visto como um direito<br />
e que todos os alunos, sejam de escolar particular<br />
ou pública, devem ter no atual momento,<br />
mínimo, uma “alfabetização tecnológica”, que<br />
não devem ser como um curso de informática,<br />
mas como uma nova mídia.<br />
Especificamente no ensino da engenharia<br />
o uso das TIC é uma realidade em suas diversas<br />
subáreas, como estruturas, elétrica, geotécnica,<br />
hidráulica, etc. Na literatura encontramse<br />
alguns exemplos como em Carvalho et al.<br />
(2008) (Figura 1) que apresenta um software<br />
para estudo de mecanismos de transportes de<br />
contaminantes.<br />
Figura 1 - Simulador VAPD-2D para apoio ao ensino de<br />
processos de transporte por difusão.<br />
Em Guillermo et al. (2005) são apresenta-<br />
dos simuladores computacionais na área de hidráulica<br />
e em Carvalho et al. (2005) (Figura 2)<br />
é apresentado um simulador gráfico e interativo<br />
para estudo de conforto em ambientes construídos<br />
muito utilizado por estudantes e profissionais<br />
de arquitetura. Em Carvalho & Carvalho<br />
(2009) é apresentado outro exemplo sobre um<br />
software educacional para o estudo de tensões<br />
através do Círculo de Mohr (Figura 3).<br />
Figura 2 - FLUXOVENTO - Visualização de linhas de<br />
fluxo em ambientes construídos.<br />
Figura 3 - Estudo do estado de tensões<br />
através do círculo de Mohr.<br />
Em todos os exemplos citados acima o<br />
ponto comum é a visualização. Ela é importante<br />
para o entendimento do fenômeno que<br />
está sendo estudado, estimulando a intuição e<br />
a percepção dos estudantes.
Fischbein (1990) ao analisar a visualiza-<br />
ção, afirmou que freqüentemente o conheci-<br />
mento intuitivo é identificado com a representação<br />
visual. Tendemos a pensar que aquilo<br />
que não conseguimos imaginar visualmente é<br />
difícil de perceber mentalmente. A representação<br />
visual contribui para a organização da informação<br />
em representações sinópticas e desta<br />
assim, constitui um fator para o entendimento<br />
do problema que está sendo trabalhado. Uma<br />
imagem visual organiza os dados em estruturas<br />
significativas, tornando-se fator importante<br />
na orientação do desenvolvimento analítico de<br />
uma solução. No caso da disciplina expressão<br />
gráfica, a visualização é um fator muito importante<br />
para o entendimento dos conteúdos.<br />
Basicamente, no estudo da disciplina expressão<br />
gráfica são envolvidos conceitos de<br />
desenho técnico e geometria descritiva. O desenho<br />
técnico é responsável pela definição das<br />
formas, dimensões e posição dos objetos utilizados<br />
e necessários para a engenharia e arquitetura.<br />
A geometria descritiva, cujas origens remetem<br />
ao método criado por Gaspard Monge,<br />
tem o objetivo de representar de uma maneira<br />
coerente e sem dupla interpretação, objetos tridimensionais<br />
em um plano bidimensional.<br />
Fazendo uma revisão na literatura, podem-se<br />
verificar alguns exemplos do uso de<br />
TIC para estudo do desenho técnico e geometria<br />
descritiva. Por exemplo, em Bolgheroni<br />
et al. (2008) é apresentado um estudo caso do<br />
uso de TIC no ensino de desenho técnico e em<br />
Morgado et al. (2002) apresenta o desenvolvimento<br />
de um software para o estudo da geometria<br />
descritiva e suas potencialidades.<br />
Com base nestas reflexões, a proposta deste<br />
trabalho é apresentar o uso de TIC para apoio<br />
ao ensino da disciplina de expressão gráfica. A<br />
metodologia aborda não somente a utilização<br />
do software GeoDescritiva em sala de aula,<br />
desenvolvido pelos autores deste trabalho, mas<br />
também a utilização de animações desenvolvidas<br />
pelos autores com temas sobre desenho técnico<br />
usando o software livre Régua e Compasso<br />
(RÉGUA E COMPASSO, 2009), sendo esta<br />
integração o diferencial das abordagens encontradas<br />
na literatura. A metodologia proposta<br />
permite aos estudantes visualizar conceitos e,<br />
junto com o professor, experimentar hipóteses<br />
em um mesmo ambiente, propiciando ambiente<br />
de investigação lúdico e significativo.<br />
2.<br />
Metodologia<br />
As atividades propostas neste trabalho<br />
foram realizadas em alunos do primeiro ano<br />
de cursos de Engenharia Ambiental e Elétrica.<br />
A abordagem inicial foi através de questionários<br />
(entrevistas) como técnica privilegiada de<br />
comunicação.<br />
Durante as aulas teóricas foram apresentadas<br />
e disponibilizadas aos alunos o software<br />
GeoDescritiva e animações feitas através do<br />
software Régua e Compasso como indica o<br />
diagrama da Figura 4. A seguir serão detalhadas<br />
as informações da cada uma das ferramentas<br />
utilizadas em sala de aula.<br />
Figura 4 – Estrutura adotada na utilização das TIC na<br />
disciplina de expressão gráfica.<br />
2.1. Animações usando o software Régua<br />
e Compasso<br />
Como dito anteriormente, anima-<br />
ções foram elaboradas usando o softwa-<br />
re Régua e Compasso e todo o processo<br />
de gravação foi feito através do software<br />
AutoScreenRecorder 3.0 versão freeware<br />
(AUTOSCREENRECORDER, 2009). As animações<br />
foram geradas no formato de extensão<br />
avi, e contemplam os seguintes temas:<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Construção de retas perpendiculares;<br />
Construção de triângulos;<br />
Construção de retas paralelas;<br />
Construção de concordâncias;<br />
Traçado de bissetriz;<br />
Divisão de segmentos.<br />
Todas as animações foram gravadas para a<br />
geração e produção de um CD-ROM chamado<br />
“Animações sobre Desenho Técnico” (Figura<br />
5, Figura 6 e Figura 7). A Figura 8 mostra um<br />
exemplo da animação gerada. O aluno pode<br />
verificar e reverificar a sua construção contri-<br />
13<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
14<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
buindo para o entendimento do assunto. Todas<br />
as animações geradas estão disponíveis em<br />
Carvalho (<strong>2011</strong>a, <strong>2011</strong>b, <strong>2011</strong>c, <strong>2011</strong>d, <strong>2011</strong>e,<br />
<strong>2011</strong>f, <strong>2011</strong>g, <strong>2011</strong>h, <strong>2011</strong>i, <strong>2011</strong>j, <strong>2011</strong>k).<br />
Figura 5: Tela inicial do CD-ROM de animações.<br />
Figura 6: Tópicos de estudo. Os vídeos podem ser<br />
visualizados através de hiperlink em cada item.<br />
Figura 7: Tópicos de estudo. Os vídeos podem ser<br />
visualizados através de hiperlink em cada item.<br />
Figura 8: Animação sobre concordância. O aluno<br />
pode observar a construção feita no software Régua e<br />
Compasso verificando suas particularidades.<br />
2.2. O Software GeoDescritiva<br />
A geometria descritiva foi um método<br />
desenvolvido por Monge no século XVIII, e<br />
tornou-se uma importante metodologia para<br />
a formação profissional dos engenheiros.<br />
Entretanto, o ensino e o entendimento dos<br />
conceitos da geometria descritiva, para os alunos<br />
iniciantes, são um grande desafio. A compreensão<br />
do método, apesar da sua eficiência,<br />
requer muito treinamento e exercícios progressivos<br />
e sistematizados. Esta foi uma das<br />
principais motivações para o desenvolvimento<br />
do software GeoDescritiva que se encontra<br />
disponível no website (Figura 9) indicado em<br />
Carvalho (<strong>2011</strong>l).<br />
Figura 9 – Website do software GeoDescritiva.<br />
O software foi desenvolvido usando o am-<br />
biente Delphi (CORNELL, 1995) e o sistema<br />
gráfico OpenGL (COHEN & MANSSOUR,<br />
2006). O GeoDescritiva permite a visualização<br />
tridimensional dos planos: vertical e horizontal<br />
(Figura 10). Na mesma figura é possível<br />
observar a interseção dos planos, chamada linha<br />
de terra. Na Figura 11 é possível identificar<br />
os diedros que são os quadrantes formados<br />
pelos planos.<br />
Figura 10: Interface do sistema GeoDescritiva.
Figura 11: Diedros formados pelos planos: vertical e horizontal.<br />
O software possui um menu no lado es-<br />
querdo onde é possível, utilizando os deslizadores,<br />
rodar os planos nos três eixos coordenados<br />
(x, y e z), além de visualizar ou não a reta e pontos<br />
projetos nos planos: vertical e horizontal. A<br />
partir desses conceitos iniciais o professor pode<br />
iniciar os estudos sobre ponto e reta.<br />
A Figura <strong>12</strong> mostra as características das<br />
projeções de um ponto no plano vertical superior<br />
e plano horizontal posterior. Quando o plano<br />
vertical é rebatido no sentido anti-horário,<br />
ele coincide com o plano horizontal, formando,<br />
o que tecnicamente, se chama épura. Nela<br />
é possível representar um ponto ou figura do<br />
espaço pelas suas projeções no plano. A Figura<br />
13 apresenta a épura como exemplo do ponto<br />
[-3,-4,-5], que poderá ser desenhada pelo professor<br />
usando o quadro negro, uma vez que<br />
nesta versão ainda não está disponível a construção<br />
da épura, sendo este um dos objetivos<br />
das implementações para as futuras versões.<br />
Figura <strong>12</strong>: Característica de um ponto no espaço: seu<br />
afastamento e sua cota.<br />
Figura 13: Exemplo de épura do ponto [-3,-4,-5].<br />
2.3. Utilizando o software em sala de aula<br />
Após a apresentação do software e das<br />
animações para a turma, algumas atividades<br />
foram sugeridas. Primeiramente os alunos,<br />
após a visualização das animações em sala de<br />
aula, foram estimulados a desenvolver as mesmas<br />
construções usando papel, lápis e os instrumentos<br />
régua e compasso. Em seguida com<br />
o software GeoDescritiva foram propostas as<br />
seguintes atividades:<br />
a. Definir dois pontos no 1º diedro especifi-<br />
cando sua cota, afastamento e abscissa. O<br />
sistema disponibiliza uma interface para<br />
tal tarefa (Figura 14).<br />
b.<br />
Figura 14: Definição de dois pontos para compor uma<br />
reta no primeiro diedro.<br />
Ligar as projeções (Figura 15) e verificar<br />
sua visualização e no caderno desenvolver<br />
a épura da reta construída.<br />
c. Repetir os processos para pontos no 2º, 3º<br />
e 4º diedros.<br />
15<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
<strong>16</strong><br />
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Figura 15: Projeções do ponto 1, ponto 2 e da reta no<br />
plano vertical e horizontal.<br />
Número da<br />
questão<br />
3.<br />
Resultados e Discussões<br />
O questionário (Quadro 1) visava obser-<br />
var a aceitação, pelos discentes, do uso de novas<br />
tecnologias em sala de aula e da metodologia<br />
proposta para a disciplina de expressão<br />
gráfica.<br />
Quadro 1: Questões proposta para avaliação do software em sala de aula.<br />
Questão<br />
1 Como você avalia de forma geral o uso de tecnologias em sala de aula?<br />
2<br />
3<br />
4<br />
A metodologia de mostrar os conceitos da disciplina usando o software e animações foi<br />
bem aceita por você?<br />
Você acha que o software e as animações são ferramentas que ajudam no processo de<br />
ensino-aprendizagem das construções geométricas?<br />
Para você foi importante o uso de novas tecnologias para apoio ao processo de ensinoaprendizagem?<br />
5 O quanto você aprendeu com a utilização de tais recursos em sala de aula?<br />
Os estudantes consideram positivo (com<br />
valor máximo de 57.1% considerando excelente)<br />
o uso de novas tecnologias em sala de<br />
aula (Tabela 2 e Figura <strong>16</strong> - primeira questão).<br />
Após as atividades propostas continuaram avaliando<br />
positivamente o uso das novas tecnologias<br />
(Tabela 3 e Figura 17 - quarta questão).<br />
Em relação à metodologia, houve uma<br />
aceitação acima da média do uso dos softwares<br />
Tabela 2 - Dados da Figura <strong>16</strong>.<br />
e animações que pode ser observado nas respostas<br />
da segunda e terceira questões (Tabela<br />
4 e Figura 18 - segunda questão; Tabela 5 e<br />
Figura 19 - terceira questão). Em relação à<br />
aprendizagem em ambas as turmas mais de<br />
um terço da turma (67% e 60.6 %) consideraram<br />
que aprenderam muito com a metodologia<br />
utilizadas nas aulas. (Tabela 6 e Figura 20 -<br />
quinta questão).<br />
Excelente (%) Bom (%) Regular (%) Fraco (%) Insuficiente (%)<br />
Eng. Ambiental 57,1 42,9 0 0 0<br />
Eng. Elétrica 15,2 48,5 30,3 3 3<br />
Figura <strong>16</strong>: Gráfico dos dados obtidos para a primeira questão.
Tabela 3 - Dados da Figura 17.<br />
Sim (%) Não (%)<br />
Eng. Ambiental 100 0<br />
Eng. Elétrica 54,5 45,5<br />
Figura 17: Gráfico dos dados obtidos para a segunda questão.<br />
Tabela 4 - Dados da Figura 18.<br />
Sim (%) Não (%)<br />
Eng. Ambiental 89,3 10,7<br />
Eng. Elétrica 60,6 39,4<br />
Figura 18: Gráfico dos dados obtidos para a terceira questão.<br />
Tabela 5 - Dados da Figura 19.<br />
Sim<br />
(%)<br />
Mais ou<br />
Menos (%)<br />
Não<br />
(%)<br />
Eng. Ambiental 89,3 10,7 0<br />
Eng. Elétrica 60,6 36,3 3,1<br />
Figura 19: Gráfico dos dados obtidos para a quarta questão.<br />
Tabela 6 - Dados da Figura 20.<br />
Muito<br />
(%)<br />
Razoável<br />
(%)<br />
Pouco<br />
(%)<br />
Eng. Ambiental 3,6 64,3 32,1<br />
Eng. Elétrica 18,2 42,4 39,4<br />
Figura 20: Gráfico dos dados obtidos para a quinta questão.<br />
4.<br />
Considerações Finais<br />
A utilização da metodologia descrita<br />
neste trabalho vem ao encontro de uma nova<br />
prática pedagógica que é caracterizada por um<br />
ambiente computacional para a aprendizagem<br />
da geometria descritiva de forma exploratória<br />
aliada a animações das construções geométricas,<br />
construindo conceitos através de um<br />
pensamento consciente. Neste ambiente computacional,<br />
o contexto é altamente exploratório,<br />
onde o aluno constrói soluções através de<br />
uma interface simples e de fácil utilização. É<br />
bom frisar que o uso do computador aplicado<br />
à educação deve ser realizado de tal forma que<br />
o professor seja o dinamizador das experiências<br />
e atividades pedagógicas.<br />
5.<br />
Agradecimentos<br />
O primeiro autor agradece ao CNPq<br />
pelo apoio financeiro através da Bolsa<br />
de Produtividade em Desenvolvimento<br />
Tecnológico e Extensão Inovadora – DT. A<br />
segunda autora agradece à FAPERJ pelo apoio<br />
financeiro através do programa “Apoio à melhoria<br />
do ensino em escolas sediadas no estado<br />
do Rio de Janeiro – 2009”.<br />
17<br />
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18<br />
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6.<br />
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- Informática e Educação Matemática<br />
- coleção tendências em Educação<br />
Matemática – Editora Autêntica, Belo<br />
Horizonte, Minas Gerais, 2001.<br />
4.<br />
5.<br />
6.<br />
7.<br />
8.<br />
CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />
construção de uma reta perpendicular<br />
- modo 2. Disponível em http://www.<br />
youtube.com/watch?v=Us9JbWqDbdI.<br />
Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>a.<br />
CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />
construção dos triângulos a partir dos<br />
lados. Disponível em http://www.youtube.<br />
com/watch?v=3yF9t9ImKKI. Acessado<br />
em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>b.<br />
CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />
concordância entre dois segmentos<br />
convergentes, onde se conhece o<br />
ponto de interseção, com um arco<br />
Disponível em: http://www.youtube.com/<br />
watch?v=h4tQUDOoH3M. Acessado em<br />
30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>c.<br />
CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />
concordância entre duas retas paralelas.<br />
Disponível em: http://www.youtube.com/<br />
watch?v=ndkJ8hl9aI4. Acessado em 30<br />
de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>d.<br />
CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />
concordância entre uma reta e um arco<br />
Disponível em: http://www.youtube.com/<br />
watch?v=OctcTjELVZI. Acessado em 30<br />
de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>e.<br />
9.<br />
CARVALHO, C. V. A. Animação<br />
da construção bissetriz de um<br />
ângulo formado por dois segmentos.<br />
Disponível em http://www.youtube.com/<br />
watch?v=XIuEE38j9mk. Acessado em<br />
30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>f.<br />
10. CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />
construção de uma reta perpendicular<br />
- modo 1. Disponível em http://www.<br />
youtube.com/watch?v=MTbDrkq_BcM.<br />
Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>g.<br />
11. CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />
construção de uma reta perpendicular<br />
- modo 3. Disponível em http://www.<br />
youtube.com/watch?v=XshZ2lGdjak.<br />
Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>h.<br />
<strong>12</strong>. CARVALHO, C. V. A. Animação do<br />
traçado de duas tangentes à um círculo<br />
passando por ponto externo comum as<br />
duas tangentes. Disponível em: http://<br />
www.youtube.com/watch?v=Wz4_<br />
zxDXDYM. Acessado em 30 de maio de<br />
<strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>i.<br />
13. CARVALHO, C. V. A. Animação do<br />
traçado de uma tangente à um círculo.<br />
Disponível em: http://www.youtube.com/<br />
watch?v=6gi0deFsbA4. Acessado em 30<br />
de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>j.<br />
14. CARVALHO, C. V. A. Animação do traço<br />
de uma reta paralela por um ponto exterior<br />
a uma reta. Disponível em http://www.<br />
youtube.com/watch?v=6gU1ygqCjVw.<br />
Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>k.<br />
15. CARVALHO, C. V. A. Software<br />
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Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>l.<br />
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J. V. Um software educacional gráfico e<br />
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Apoio ao ensino da Engenharia Ambiental.<br />
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19. COHEN, M; MANSSOUR, I. OpenGL<br />
– Uma Abordagem Prática e Objetiva.<br />
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20. CORNELL,<br />
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Segredos e Soluções. 1ª Ed. São Paulo:<br />
Makron Books, 1995.<br />
21. DESLANDES,<br />
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Maria Cecília de Souza Minayo<br />
(organizadora). 25ª edição. Revista e<br />
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Endereço para Correspondência:<br />
Carlos Vitor de Alencar Carvalho<br />
cvitorc@gmail.com<br />
Av. Expedicionário Oswaldo de Almeida Ramos, 280<br />
Vassouras - RJ<br />
CEP: 27.700-000<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: CARVALHO,<br />
Carlos Vitor de Alencar; VEIGA, Janaina; SILVA, Júlio César da. Utilizando recursos das tecnologias da informação e comunicação para apoio ao ensino da disciplina expressão gráfica nos<br />
cursos de engenharia <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em: <br />
19<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
Utilização da Coluna de Winogradsky para a Demonstração do Efeito dos<br />
Metais Pesados na Microbiota Oxidante de Enxofre em Ambientes Aquáticos:<br />
Uma Abordagem Experimental<br />
Using Winogradsky Column to the Demonstration of the Effect of Heavy Metals<br />
in Sulfur Oxidizing Microorganism in Aquatic Environments: an Experimental<br />
Approach<br />
Anderson Gomes 1<br />
Lara dos Santos Osório 2<br />
Palavras-chave:<br />
Microbiologia<br />
Coluna de<br />
winogradsky<br />
Metais pesados<br />
Abstract<br />
Resumo<br />
O presente estudo teve por objetivo determinar o efeito dos metais pesados:<br />
mercúrio, cádmio, chumbo e cromo VI, na população de sulfobactérias<br />
presentes em colunas de Winogradsky. As colunas foram preparadas<br />
com água e sedimento do córrego Secades (Volta Redonda/RJ), para<br />
avaliar a contribuição potencial na disponibilidade destes metais pesados<br />
nesta população microbiana. Na avaliação do efeito dos metais pesados<br />
na população de sulfobactérias, foi comparada a diversidade das colônias<br />
desenvolvidas nas colunas contaminadas com metais pesados com uma<br />
coluna contendo apenas amostra e sedimento do manancial. Os resultados<br />
permitiram observar que a presença dos diferentes metais pesados causou<br />
alteração da diversidade biológica presente na coluna de Winogradsky. O<br />
estudo também revelou que o experimento pode ser aplicado nas aulas<br />
práticas de Microbiologia Ambiental, pois permite simular as condições<br />
reais da interação das sulfobactérias com os metais pesados.<br />
The present study aimed to determine the effect of the heavy metals:<br />
mercury, cadmium, lead and chrome VI, in the population of present<br />
sulforbacteria in columns of Winogradsky. The columns were prepared with<br />
water and sediment of the stream Secades (Volta Redonda/RJ), to evaluate<br />
the potential contribution in the availability of these heavy metals in this<br />
microbial population. In the evaluation of the effect of the heavy metals<br />
in the sulforbacteria population, the diversity of the colonies developed in<br />
the contaminated columns with heavy metals was compared to a column<br />
containing just a sample and the stream sediment. The results allowed to<br />
observe that the presence of different heavy metals caused alteration of<br />
the present biological diversity in the column of Winogradsky. The study<br />
also revealed that the experiment can be applied in the practical classes<br />
of Environmental Microbiology, because it allows to simulate the real<br />
conditions of the interaction of the sulforbacteria with the heavy metals.<br />
1 Mestrando, Biólogo, Especialista em Microbiologia, Docente dos Cursos de Ciências Biológicas e Engenharia Ambiental do Centro<br />
Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong><br />
2 Técnica em Química - Centro Integrado de Tecnologia - CIT - Centro Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong>.<br />
Key words:<br />
Microbiology<br />
Winogradsky<br />
column<br />
Heavy metals<br />
21<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
05/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
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1.<br />
Introdução<br />
Com o desenvolvimento das atividades<br />
industriais, ocorreu a introdução de metais<br />
pesados nos corpos hídricos, numa quantidade<br />
muito maior do que ocorre naturalmente, o<br />
que vem causando grandes poluições hídricas.<br />
Essas poluições são causadas principalmente<br />
pela ausência de tratamento dos efluentes industriais<br />
ou por acidentes que levam o despejo<br />
de muitos poluentes nos ambientes aquáticos.<br />
Dos grupos de poluentes gerados nos<br />
processos industriais, podem se destacar os<br />
metais pesados, que são um grande problema<br />
para o meio ambiente, pois estes afetam<br />
a microbiota dos corpos hídricos que recebem<br />
estes poluentes. Os principais problemas que<br />
os metais pesados causam na microbiota são<br />
a bioacumulação (processo através do qual os<br />
seres vivos absorvem e retêm substâncias químicas<br />
no seu organismo) nos microrganismos<br />
na base da cadeia trófica, e a inibição do crescimento<br />
ou morte de algumas espécies microbianas<br />
mais sensíveis.<br />
A importância de conhecer o efeito da ação<br />
de metais pesados aos microrganismos presentes<br />
em ambientes aquáticos nas condições próximas<br />
daquelas existentes na natureza é de vital<br />
importância no ensino da Microbiologia no<br />
curso de Engenharia Ambiental, em contraste<br />
ao estudo dos microrganismos em condições<br />
in vitro. Isso se dá devido à diversidade de espécies<br />
microbianas envolvidas na ciclagem de<br />
nutrientes num ecossistema. Por este motivo<br />
é necessário um instrumento apropriado para<br />
a demonstração dessas condições em ambientes<br />
naturais. A coluna de Winogradsky é um<br />
modelo interessante que simula as condições<br />
de ecossistemas naturais, na qual desenvolve<br />
de populações bacterianas fotossintéticas que<br />
utilizam o sulfeto de hidrogênio como doador<br />
de elétrons durante o metabolismo fotoautotrófico,<br />
onde é possível observar as sucessões<br />
microbianas em um ambiente aquático, uma<br />
vez que as microbiota presente se modificam<br />
ao longo do tempo e sob a ação dos fatores<br />
ecológicos que atuam nesta comunidade.<br />
1.1.<br />
A coluna de Winogradsky<br />
A coluna de Winogradsky foi um sistema<br />
criado pelo microbiologista russo Sergei<br />
Winogradsky, no ano de 1880 para estudar microrganismos<br />
presentes no solo. Até hoje é utilizado<br />
como um sistema que permite demonstrar,<br />
de uma maneira bastante simples, a diversidade<br />
microbiana em ambientes aquáticos.<br />
Tradicionalmente, o modo de desenvolver<br />
este sistema é feito colocando lama do<br />
fundo de um lago ou rio em uma coluna de<br />
vidro ou outro material transparente, complementado<br />
com uma fonte de celulose, seja<br />
na forma de carboximetilcelulose (CMC) ou<br />
através de papel picado, suplementado com<br />
uma fonte de sulfatos e uma solução tamponante<br />
(para manter o pH estável). Essa coluna<br />
então é tampada com uma tela fina (para evitar<br />
proliferação de mosquitos) e colocada em<br />
um local onde receba luz solar. Com o passar<br />
dos dias irão se desenvolver colônias de microrganismos<br />
estratificados ao longo da coluna,<br />
de acordo sua estratégia metabólica (aeróbios<br />
mais na superfície, anaeróbios no fundo,<br />
microaerófilos numa faixa estreita da coluna<br />
e facultativos ao longo da coluna). Conforme<br />
demonstrado na figura 1.
1.2.<br />
Figura 1 – Desenvolvimento de comunidade microbiana em coluna de Winogradsky, disponível em<br />
http://www.qb.fcen.uba.ar/microinmuno/SeminarioBiodiversidad.htm, consultado em 24/04/<strong>2011</strong>.<br />
Estratificação das sulfobactérias ao<br />
longo da coluna d’água<br />
Grant (1989) cita que a distribuição das<br />
bactérias oxidantes de enxofre, ao longo de uma<br />
coluna d’água, é relacionada com a concentração<br />
de sulfetos e oxigênio, bem como a disponibilidade<br />
de luz onde o sulfeto estará presente.<br />
Na superfície da coluna de água, desenvolvem-se<br />
microrganismos fotossintetizantes<br />
e autotróficos, através da fotossíntese oxigênica<br />
(a molécula de água é o doador de elétrons,<br />
tendo como subproduto da fotossíntese<br />
o O ). Também na superfície pode desenvolver<br />
2<br />
um biofilme constituído por bactérias aeróbias<br />
heterotróficas e uma mistura de metabólitos<br />
excretados ou sintetizado por elas, como por<br />
exemplo: lipídeos, proteínas e polissacarídeos.<br />
Numa zona logo abaixo, bactérias fotoheterotróficas,<br />
obtêm energia a partir da luz<br />
solar e usam ácidos orgânicos como fonte de<br />
carbono para a síntese celular. Esses microrganismos<br />
crescem em condições anaeróbias,<br />
no entanto, não suportam elevadas concentrações<br />
de H S. 2<br />
Na zona oxigenada, além das bactérias<br />
fotossintéticas, poderão encontrar-se bactérias<br />
oxidantes de enxofre, que são quimiolitotróficos<br />
(obtêm energia a partir da oxidação do H S e 2<br />
sintetizam a matéria orgânica a partir do CO ). 2<br />
No fundo da coluna, devido à presença da<br />
celulose, haverá um rápido consumo do oxigênio<br />
pelas bactérias heterotróficas, fazendo com<br />
que se tenha uma zona anaeróbica, desta forma,<br />
somente a superfície da coluna será oxigenada.<br />
Na lama depositada no fundo da coluna,<br />
ocorrerão os processos fermentativos, onde as<br />
substâncias geradas servirão de substrato para<br />
as bactérias redutoras de sulfato (BRS’s), favorecendo<br />
seu desenvolvimento. Essas bactérias,<br />
através de respiração anaeróbia, reduzem<br />
os íons sulfatos a sulfetos.<br />
Os sulfetos gerados pelas BRS’s servirão<br />
de substrato para bactérias anaeróbias fototróficas<br />
(BAF’s), sulfobactérias de coloração<br />
verde e púrpura, que se desenvolverão de uma<br />
forma estratificada ao longo da coluna, de<br />
acordo com a gradiente de sulfeto. As BAF’s<br />
obtêm energia a partir da fotossíntese anoxigênica<br />
(processo metabólico no qual as bactérias<br />
utilizam a luz para produzir ATP e produzem<br />
NADPH a partir da oxidação de H S, que age<br />
2<br />
como doador de elétrons, resultando na produção<br />
de enxofre elementar). O enxofre elementar<br />
produzido através da fotossíntese anoxigênica,<br />
precipita-se no sedimento no fundo da<br />
coluna, retornando à coluna d’água pela ação<br />
metabólica das BRS’s. A Tabela 1 mostra os<br />
principais grupos bacterianos que possuem um<br />
papel principal na oxidação do enxofre.<br />
23<br />
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24<br />
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Tabela 1 – Relação dos Principais Grupos de Bactérias Oxidantes<br />
de Enxofre Encontradas na Coluna de Winogradsky<br />
GRUPO GÊNERO CARACTERÍSTICAS<br />
Gram negativa Beggiatoa<br />
Gram negativa Thiobacillus<br />
Gram negativa Chromatium<br />
Gram negativa Chlorobium<br />
Gram positiva Clostridium<br />
Gram negativa Desulfovibrio<br />
1.3.<br />
Metais pesados<br />
O termo metais pesados refere-se aos elementos<br />
e suas formas iônicas que pertencem<br />
ao grupo de transição e não transição da tabela<br />
periódica com densidade maior que 5 g.cm-3 ou que possuem número atômico maior a 20.<br />
Incluem nessa classificação os metais, semimetais<br />
e até não metais, como o Selênio. Esses<br />
elementos possuem a capacidade de acumularem<br />
nos tecidos vivos, pois os seres vivos não<br />
possuem a capacidade de excretá-los. Além<br />
do fato mencionado, esses metais ligam-se as<br />
enzimas, provocando sua inativação ou mesmo<br />
aumentando a atividade de algumas, resultando<br />
em alterações na sua função catalítica.<br />
Com isso, esse elemento vai se acumulando<br />
ao longo da cadeia alimentar numa proporção<br />
crescente e o consumidor do topo da cadeia<br />
terá sempre uma concentração maior de metal<br />
acumulado que indivíduos produtores.<br />
Bactéria deslizante longa e filamentosa, não frutificante, quimiolitotrófica,<br />
não fotossintética e aeróbica. Assemelha-se morfologicamente às<br />
cianobactérias, porém não é fotossintética. Utiliza a oxidação do H S 2<br />
como fonte de energia, acumulando grânulos de enxofre no interior<br />
de seu citoplasma, e utiliza o CO como fonte de carbono. Bactéria<br />
2<br />
deslizante oxidante de enxofre.<br />
Bacilo quimiolitotrófico, não fotossintética e aeróbica. Obtêm<br />
energia pela oxidação do sulfeto de hidrogênio ou enxofre elementar,<br />
produzindo sulfato, e utiliza o CO como fonte de carbono. Bactéria<br />
2<br />
incolor oxidante do enxofre.<br />
Coco ou bacilo, fotoautotrófica púrpura sulfurosa e anaeróbica. Possui<br />
depósitos internos de enxofre. Obtêm energia por meio de reações<br />
fotoquímicas e produz seus materiais celulares a partir do CO . Sua 2<br />
fotossíntese difere da fotossíntese das plantas por não gerar o oxigênio<br />
durante o processo. (fotossíntese anoxigênica). Bactéria púrpura do<br />
enxofre.<br />
Bacilo curvado, sem motilidade, fotoautotrófica púrpura sulfurosa e<br />
anaeróbica. Obtêm energia por meio de reações fotoquímicas e produz<br />
seus materiais celulares a partir do CO 2 . Sua fotossíntese difere da<br />
fotossíntese das plantas por não gerar o oxigênio durante o processo.<br />
(fotossíntese anoxigênica). Bactéria verde do enxofre<br />
Bacilo, quimioheterotrófico, anaeróbico estrito, formador de endoesporo.<br />
Os produtos de seu metabolismo fermentativo são utilizados como<br />
substrato por outros grupos microbianos. Bacilo gram positivo formador<br />
de endoesporo.<br />
Vibrião. Anaeróbica obrigatória, utiliza as formas oxidadas do enxofre,<br />
2– 0 tais como sulfatos (SO ) ou enxofre elementar (S ) como aceptor final<br />
4<br />
de elétron. O produto desta reação é o sulfeto de hidrogênio. Bactéria<br />
dissimilatória redutora do sulfato ou enxofre.<br />
Adaptado de Rogan (2000).<br />
Azevedo (2005) descreve que alguns metais<br />
como o cobre, ferro, manganês, níquel e zinco<br />
são essenciais para o desenvolvimento de todos<br />
os organismos vivos, porém, em pequena quantidade,<br />
em grande quantidade são tóxicos. Metais<br />
como o alumínio, cádmio, chumbo e mercúrio<br />
não possuem funções metabólicas e podem causar<br />
várias disfunções nos seres vivos. A contaminação<br />
ambiental por metais pesados ocorre, principalmente,<br />
por via antrópica, ou seja, através de<br />
resíduos industriais descartados sem tratamento.<br />
2.<br />
Objetivos<br />
2.1.<br />
Objetivos gerais:<br />
O presente trabalho teve como objetivo<br />
a montagem de colunas de Winogradsky, utilizando<br />
as amostras de sedimento e de água<br />
coletadas em um manancial e contaminandoas<br />
com metais pesados.
2.2.<br />
Objetivos específicos:<br />
Observar o desenvolvimento das sulfo-<br />
bactérias em ambientes contaminados com<br />
metais pesados, de forma que possa ser avaliada<br />
a alteração da diversidade da microbiota<br />
presente na coluna de Winogradsky.<br />
Verificar se os efeitos da contaminação por<br />
metais pesados nas colunas de Winogradsky<br />
podem ser observados sem a utilização de instrumentos<br />
ópticos, de forma que possa ser utilizada<br />
como demonstração didática em aulas<br />
práticas de Microbiologia Aplicada.<br />
3.<br />
Materiais e Métodos<br />
O projeto foi desenvolvido nos laboratórios<br />
multidisciplinares do Centro Universitário<br />
2.<br />
de Volta Redonda, <strong>UniFOA</strong>, e seguindo as seguintes<br />
etapas:<br />
1.<br />
Escolha do local que fornecerá o sedimento<br />
e água para a montagem da coluna:<br />
A amostra de sedimento e água para a<br />
confecção da coluna foi retirado no córrego<br />
Secades, bairro Conforto na cidade de Volta<br />
Redonda/RJ, localizada a 22°31'17,20” de latitude<br />
sul e 44°07’00,41” de longitude oeste.<br />
No momento da coleta, foi medido o pH do<br />
córrego, conforme o “Standard Methods for<br />
the Examination of Water and Wastewater” -<br />
APHA (1998), de forma tal que se preparasse<br />
uma solução tampão que representasse o pH<br />
original do manancial, que neste caso foi 6,95.<br />
Figuras 2 (A e B).<br />
A – ponto de coleta da amostra B – Medição do pH do córrego<br />
Confecção das colunas de winogradsky<br />
com o material coletado:<br />
A confecção das colunas de winogradsky<br />
seguiram as etapas, modificadas de Rogan<br />
(2000):<br />
a. Misturar 100 g do sedimento fresco com a<br />
fonte de carbono orgânico (5 g de carboximetilcelulose<br />
- CMC), e a fonte de carbono<br />
inorgânico (2 g CaCO ). Como fonte<br />
3<br />
de enxofre, 2 g de CaSO . Essa mistura foi<br />
4<br />
transferida para o interior da proveta, com<br />
o auxílio de uma espátula. Figura 3A.<br />
Figura 2 – Coleta do lodo para confecção da coluna<br />
b. Adicionado 1 litro da água coletada no ma-<br />
nancial (preservada em geladeira a 5ºC) cuidadosamente,<br />
de forma que houvesse o mínimo<br />
de perturbação na superfície do substrato.<br />
c. Ajustado o pH da solução com solução<br />
tampão de Mcllvaine (fosfato dissódicoácido<br />
cítrico), pH 7,0 confeccionado segundo<br />
Morita (1993).<br />
d. guardado um período de 24 horas para que<br />
os microrganismos presentes na água e remanescentes<br />
no lodo se restabeleçam e o<br />
sedimento decante. Figura 3.<br />
25<br />
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e.<br />
A – Colunas com o substrato para o desenvolvimento microbiano B – Colunas aguardando decantação<br />
Identificada as colunas e feita a adição dos<br />
metais pesados, tendo como referência a<br />
portaria do Ministério do Meio Ambiente,<br />
CONAMA 357 de 2005, tendo como base<br />
o limite máximo de lançamento do metal<br />
como efluente. O valor adicionado à coluna<br />
foi uma concentração dez vezes (10x)<br />
Coluna Elemento<br />
Figura 3 – Preparação das colunas<br />
a concentração máxima estabelecida na<br />
portaria. A concentração adicionada e o<br />
valor de referência encontram-se listados<br />
na Tabela 1, e deixando uma coluna como<br />
teste em branco, que será a referência do<br />
desenvolvimento microbiano no ambiente<br />
sem contaminação. Figura 4.<br />
Tabela 1 – Forma de Adição do Contaminante nas Colunas de Winogradsky<br />
Limite Máximo<br />
Conama 357<br />
Concentração a<br />
ser Adicionada à<br />
Coluna<br />
Forma de Adição<br />
Quantidade<br />
Adicionada à<br />
Coluna<br />
1 - - - - -<br />
2 Hg 0,01 mg.L -1 0,10 mg.L -1 HgCl 2 0,23 mg<br />
3 Pb 0,50 mg.L -1 5,00 mg.L -1 (CH 3 COO) 2 Pb.3H 2 O 9,15 mg<br />
4 Cd 0,20 mg.L -1 2,00 mg.L -1 CdSO 4 .8/3H 2 O 4,56 mg<br />
5 Cr 6+ 0,50 mg.L -1 5,00 mg.L -1 K 2 CrO 4 18,67 mg<br />
Os elementos contaminantes foram adi-<br />
cionados às colunas através da diluição dos<br />
respectivos sais em balões volumétricos e<br />
transferência utilizando pipetas volumétricas.<br />
A – Adição do metal pesado e ajuste do pH B – Colunas com metal pesado adicionado:<br />
Figura 4 – Adição dos Contaminantes<br />
1- branco; 2 - Hg; 3 - Pb; 4 - Cd; 5 – Cr 6+
3.<br />
Desenvolvimento das colônias microbianas<br />
Foi monitorado o desenvolvimento das<br />
colônias por um período de 60 dias e registra-<br />
4.<br />
do as alterações ocorridas nas cinco colunas, e<br />
comparando com a coluna que não recebeu a<br />
contaminação (branco). Figura 5.<br />
A – Colunas após 30 dias de inoculação dos metais pesados: B – Colunas após 60 dias de inoculação dos metais pesados:<br />
1- branco; 2 - Hg; 3 - Pb; 4 - Cd; 5 – Cr 6+<br />
Resultados e discussão<br />
Figura 5 – Desenvolvimento microbiano nas colunas de Winogradsky<br />
Observou-se que nas colunas contamina-<br />
das com mercúrio e cromo VI, as bactérias que<br />
habitam o sedimento e a zona anaeróbia tiveram<br />
o desenvolvimento retardado em relação<br />
à coluna sem contaminação. Na coluna contaminada<br />
com chumbo, houve inibição de bactérias<br />
fotossintetizantes oxigênicas, evidenciado<br />
pelo desenvolvimento de bactérias sulforredutoras,<br />
devido à coloração negra formada ao<br />
longo da coluna, decorrente da precipitação de<br />
sulfetos metálicos, principalmente do sulfeto<br />
de ferro (FeS). A coluna contaminada com<br />
cádmio não apresentou alterações visíveis no<br />
desenvolvimento das colônias microbianas,<br />
quando comparado com a coluna sem contaminação,<br />
sugerindo que a concentração de cádmio<br />
adicionada não causou tanto impacto nos<br />
microrganismos presentes na coluna.<br />
Nas primeiras semanas já se pode observar<br />
a estratificação das comunidades microbianas<br />
ao longo da coluna, de acordo com as<br />
condições ambientais que elas se encontravam,<br />
sendo que a coluna que apresentava contaminação<br />
com cromo foi a que mais demorou para<br />
o desenvolvimento das sulfobactérias.<br />
5.<br />
Conclusões<br />
Através das colunas de Winogradsky foi<br />
possível demonstrar a interdependência da diversidade<br />
microbiana presente num ecossistema<br />
e que a presença de determinados metais<br />
pesados na água afeta a sobrevivência e desenvolvimento<br />
desta comunidade.<br />
A presença do metal pesado simulado na<br />
coluna contaminada causou uma perda de diversidade<br />
microbiológica, principalmente na<br />
coluna contaminada com o cromo, que apresentou<br />
uma considerável diminuição na produção<br />
de biomassa bacteriana, em comparação<br />
às outras colunas, o que leva a considerar<br />
o desequilíbrio ambiental que este elemento<br />
pode causar num corpo d’água, afetando principalmente<br />
as cadeias alimentares, pois impacta<br />
diretamente na base da cadeia.<br />
A coluna de Winogradsky se mostra como<br />
um eficiente instrumento didático a ser adotado<br />
numa aula de microbiologia para um curso<br />
de engenharia ambiental, pois nele é possível<br />
formular infinitas variações de contaminantes<br />
onde se pode verificar virtualmente qualquer<br />
processo de desenvolvimento ou inibição de<br />
comunidades microbianas.<br />
27<br />
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28<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
6.<br />
1.<br />
2.<br />
3.<br />
4.<br />
5.<br />
Referências Bibliográficas<br />
APHA – AMERICAN PUBLIC HEALTH<br />
ASSOCIATION. Standard methods for<br />
examination of water and wastewater.<br />
20 ed. Washington D.C., 1998, 13<strong>16</strong>p.<br />
AZEVEDO, Ricardo A. and LEA, Peter<br />
J.. Preface: Toxic metals in plants. Braz.<br />
J. Plant Physiol. [online]. 2005, vol.17,<br />
n.1, pp. 1-1. ISSN <strong>16</strong>77-0420.<br />
CONSELHO NACIONAL DO<br />
MEIO AMBIENTE - CONAMA.<br />
2005. Resolução Conama <strong>nº</strong><br />
357. Disponível em:< www.mma.<br />
conama.gov.br/conama> Acesso em<br />
24/04/<strong>2011</strong>.<br />
FACULTAT DE CIÊNCIAS EXACTAS<br />
Y NATURALES – UBAEXACTAS<br />
(Argentina). Departamento de Química<br />
Biológica. Disponível em .<br />
em 24/04/<strong>2011</strong>.<br />
Acesso<br />
GRANT, W.D. y LONG, P.E.<br />
Microbiologia Ambiental. Zaragoza,<br />
Espanha: Acribia, 1989.<br />
6. MORITA,<br />
T; ASSUMPÇÃO, R.M.V.<br />
Manual de Soluções, Reagentes e<br />
Solventes. Padronização, Preparação,<br />
Purificação. 2ªed - São Paulo, Brasil:<br />
Edgard Blucher, 1993.<br />
7. ROGAN, Brian. The Woodrow Wilson<br />
Foundation Leadership Program<br />
for Teachers. Disponível em: . Acesso em 24/04/<strong>2011</strong>.<br />
Endereço para Correspondência:<br />
Anderson Gomes<br />
anderson.gomes@foa.org.br<br />
Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />
Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, <strong>nº</strong> 1325<br />
Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />
CEP: 27.240-560<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: GOMES, Anderson;<br />
OSÓRIO, Lara dos Santos. Utilização da Coluna de Winogradsky para a Demonstração do Efeito dos Metais Pesados na Microbiota Oxidante de Enxofre em Ambientes Aquáticos:<br />
Uma Abordagem Experimental. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:
Influência do tolueno na modificação química das fibras de bagaço de cana-de-açúcar<br />
Influence of the toluene in chemical modification of the sugarcane bagasse fibers<br />
Tatiana Faria Maia 1<br />
Daniella Regina Mulinari 2<br />
Palavras-chave:<br />
Fibras de Bagaço de<br />
Cana-de-açúcar<br />
Esterificação<br />
Espectroscopia de<br />
Infravermelho<br />
Abstract<br />
Resumo<br />
Nesta pesquisa foi estudada a influência do tolueno na modificação química<br />
das fibras de bagaço de cana-de-açúcar por esterificação por meio de<br />
sistema anidrido para uso em compósitos. Também foi avaliada a quantidade<br />
de catalisador na reação de esterificação. A modificação química das<br />
fibras provenientes do bagaço de cana de açúcar foi avaliada pela técnica<br />
de Espectroscopia de Infravermelho (FTIR). Os resultados revelaram<br />
que o tolueno influenciou na modificação química realizada nas fibras. A<br />
técnica de FTIR evidenciou esta modificação química.<br />
In this research was studied the effect of toluene the chemical modification<br />
of the sugarcane bagasse fibers by estherification through anhydride<br />
system for use in composites. Also it was evaluated amount cataliser in<br />
estherification reaction. Chemical modification of the sugarcane bagasse<br />
fibers was evaluated by infrared spectroscopy technique (FTIR). The results<br />
revealed the influence toluene in the chemical modification released in the<br />
fibers. FTIR technique showed this chemical modification.<br />
1 Discente do Curso de Ciências Biológicas - 8º período - Centro Universitário de Volta Redonda- <strong>UniFOA</strong><br />
2 Docente do Mestrado Profissional em Materias- MEMAT - Centro Universitário de Volta Redonda- <strong>UniFOA</strong><br />
Key Words:<br />
Sugarcane Bagasse<br />
Fibers<br />
Estherification<br />
Infrared<br />
Spectroscopy<br />
29<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
04/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
1.<br />
Introdução<br />
Nos últimos anos, tem surgido um grande<br />
interesse no desenvolvimento de tecnologias<br />
verdes que possibilitem a utilização de produtos<br />
de menor impacto ambiental. A química<br />
verde, como um todo, implica no desenvolvimento<br />
de processos químicos e produtos que<br />
levem a um ambiente mais limpo, saudável e<br />
sustentável (SILVA et al., 2009).<br />
E dentro desse contexto de sustentabilidade,<br />
as fibras naturais surgem como uma<br />
possível solução para alguns problemas ambientais<br />
(BORDES et al.,2009; MARINELLI<br />
et al., 2008). As fibras naturais são produzidas<br />
em praticamente todos os países, algumas fibras<br />
ocorrem espontaneamente na natureza,<br />
outras são cultivadas como atividade agrícola<br />
e ainda há aquelas que são resíduos gerados,<br />
principalmente, pela agroindústria, como é o<br />
caso do bagaço de cana-de-açúcar.<br />
O bagaço de cana-de-açúcar é um dos<br />
principais materiais lignocelulósicos utilizados<br />
para a bioconversão em etanol, já que este<br />
material apresenta alta concentração de carboidratos,<br />
baixo conteúdo relativo de lignina, fácil<br />
utilização, baixo custo de colheita, transporte e<br />
armazenagem (GOUVEA et al., 2009).<br />
O interesse na utilização desses materiais<br />
lignocelulósicos tem crescido devido à inserção<br />
dessas fibras naturais como reforço em<br />
matrizes poliméricas (HABIBI et al., 2008;<br />
LUZ, 2008; MULINARI, 2009). Além disso,<br />
essas fibras possuem baixo custo, são biodegradáveis,<br />
não são tóxicas, podem ser incineradas<br />
e possuem uma elevada abundância<br />
quando comparadas às fibras de vidro e de<br />
carbono (ALEXANDRE et al., 2010; LEÃO,<br />
2008; MARCON et al., 2009; RAMIRES et<br />
al., 2010; ZAH et al., 2007).<br />
No entanto, a compatibilidade entre um<br />
material lignocelulósico e uma matriz polimérica<br />
possui um papel determinante nas propriedades<br />
mecânicas e físicas dos materiais compósitos,<br />
pois é por meio da interface que ocorre<br />
a transferência da carga da matriz para a fibra<br />
(JOHN e ANANDJIWAL, 2009; LI et al., 2008;<br />
MULINARI et al., 2010; SANCHEZ et al.,<br />
2010). Dessa forma, para melhorar a interação<br />
fibra/matriz, tem sido realizados vários tratamentos<br />
químicos (BECKERMANN & PICKERING,<br />
2009; BERTOTI et al., 2009; XU et al., 2008).<br />
Dentre os diversos tratamentos químicos<br />
realizados nas fibras naturais destacam-se<br />
a reação de esterificação, devido à queda de<br />
hidrofilicidade que este proporciona às fibras<br />
(PASQUINI et al., 2008).<br />
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho<br />
foi analisar a influência do tolueno na modificação<br />
química das fibras provenientes do bagaço<br />
de cana-de-açúcar por esterificação por meio de<br />
sistema anidrido, enfatizando a natureza ecológica<br />
das matérias-primas e contribuindo com a<br />
criação de um material que possui propriedades<br />
satisfatórias para o uso industrial.<br />
2.<br />
Materiais e Metódos<br />
2.1.<br />
Obtenção das Fibras de Bagaço de Cana<br />
As fibras provenientes de bagaço de canade-açúcar<br />
foram gentilmente fornecidas pela<br />
Edras Ecossistemas, localizada em Cosmópolis<br />
– SP. Primeiramente, as fibras foram cortadas<br />
em tamanhos de aproximadamente 5 cm e moídas<br />
em um moinho de facas, em seguida, foram<br />
peneiradas em uma peneira de 25 mesh.<br />
2.2.<br />
Modificação Química das Fibras<br />
A modificação química nas fibras provenientes<br />
de bagaço de cana-de-açúcar foi realizada<br />
por meio de sistema anidrido. O objetivo<br />
dessa esterificação foi diminuir a polaridade<br />
das fibras, tornando-as mais compatíveis com<br />
a matriz apolar.<br />
Inicialmente, 10 g de fibras de bagaço de<br />
cana in natura foram colocadas em um erlenmeyer<br />
de 500 mL, contendo 240 mL de Tolueno<br />
P.A., 80 mL de Anidrido Acético P.A., 80 mL<br />
de Ácido Acético P.A. e 0,5 mL de Ácido<br />
Perclórico P.A. como catalisador. O sistema foi<br />
mantido sob agitação mecânica por cinco horas.<br />
Após essa etapa, o material resultante proveniente<br />
da modificação com anidrido acético foi<br />
lavado com água destilada até que o resíduo da<br />
filtragem atingisse pH neutro, a fim de remover<br />
substâncias solúveis e secas, em uma estufa a<br />
105 ºC por aproximadamente 24 horas.<br />
O mesmo procedimento foi repetido, mas sem<br />
a adição do Tolueno. Também foi estudada a influência<br />
da quantidade de catalisador na reação, em<br />
que se analisou a quantidade de 0,5 mL e 4 mL.
A Figura 1 evidencia o esquema da reação de esterificação realizada nessa modificação química.<br />
2.3.<br />
Análise das fibras após a modificação<br />
Com o propósito de avaliar a modificação<br />
química realizada nas fibras e identificar as vi-<br />
brações e estiramentos das ligações efetivas<br />
dos materiais, foi feita uma análise de espectroscopia<br />
de infravermelho nas fibras in natura<br />
e modificadas com a presença e a ausência do<br />
tolueno. Uma mistura de KBr (300 mg) e cerca<br />
de 1,5 mg de amostra foi macerada em gral e<br />
pistilo de ágata. As pastilhas foram obtidas no<br />
pastilhador, utilizando uma pressão de 10 kgf.<br />
cm-2, sob vácuo durante 5 min, em seguida, foi<br />
efetuada a varredura numa faixa espectral de<br />
4000 a 400 cm-1 com 64 scans.<br />
As análises foram realizadas um espectrofotômetro<br />
Spectrun GX Perkin Elmer, dis-<br />
Figura 1. Esquema da reação de esterificação.<br />
ponível no Departamento de Bioquímica da<br />
Escola de Engenharia de Lorena/USP.<br />
3.<br />
Resultados e Discussão<br />
A presença do tolueno na modificação<br />
química das fibras provenientes do bagaço<br />
de cana-de-açúcar influenciou diretamente<br />
na reação de esterificação, quando foi observado<br />
que a presença do tolueno protegeu<br />
a fibra durante a reação química, de forma<br />
que a fibra não perdesse o aspecto fibroso.<br />
No entanto, ao remover o tolueno da reação,<br />
as fibras perderam o aspecto fibroso,<br />
tornando-se porosa, como pode ser observado<br />
na Figura 2.<br />
(a) 0,5 mL Ac. Perclórico com Tolueno (b) 4 mL Ac. Perclórico com Tolueno<br />
(c) 0,5 mL Ac. Perclórico sem Tolueno (d) 4 mL Ac. Perclórico sem Tolueno<br />
Figura 2. Aspecto visual das fibras.<br />
31<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
Oliveira (2009) estudou- juntamente ao<br />
grupo de pesquisa do Instituto de Materiais<br />
Poliméricos e Tecnologia de Polímeros, da<br />
Universidade Tecnológica de Clausthal,<br />
Alemanha- a modificação química das fibras de<br />
linho por esterificação por meio de sistema anidrido<br />
e observou comportamento semelhante.<br />
Tita e colaboradores (2002) também<br />
estudaram a modificação química das fibras<br />
provenientes do bagaço de cana-de-açúcar por<br />
meio de sistema succínico e observou comportamento<br />
semelhante. Segundo Tita e colaboradores<br />
(2002), durante a reação de esterificação,<br />
ocorre a abertura do anel succínico originando<br />
um grupo –COOH, o qual pode interagir via<br />
ligações de hidrogênio com outro grupo –OH<br />
da celulose da fibra. A Figura 3 evidencia essa<br />
reação claramente.<br />
Figura 3. Representação esquemática da modificação química das fibras de bagaço de cana com anidrido succínico (TITA et AL., 2002).<br />
Outro fator analisado durante a modifica-<br />
ção química foi à influência do catalisador na<br />
reação, a qual pode ser confirmada pela técnica<br />
de espectroscopia de infravermelho.<br />
As Figuras 4 a 6 evidenciam os espectros<br />
obtidos das fibras modificadas com a presença<br />
e a ausência do tolueno, em diferentes quantidades<br />
de catalisador.<br />
Figura 4. Espectros na região do infravermelho (500 – 4000 cm -1 ) das fibras de bagaço de cana-de-açúcar in natura.<br />
Figura 5. Espectros na região do infravermelho (500 – 4000 cm -1 ) das fibras de bagaço de cana-de-açúcar na presença de tolueno.
Figura 6. Espectros na região do infravermelho (500 – 4000 cm -1 ) das fibras de bagaço de cana-de-açúcar na ausência de tolueno.<br />
Como as fibras de bagaço de cana in na-<br />
tura foram submetidas à modificação química,<br />
os espectros de FTIR fornecem evidências de<br />
que houve uma mudança nos grupos hidroxila<br />
das fibras de bagaço de cana in natura e modificada.<br />
A análise comparativa dos espectros de<br />
FTIR das fibras mostra características relevantes,<br />
quanto à modificação, tais como: diminuição<br />
das absorções na região de 3300 cm-1 , referente<br />
ao estiramento da hidroxila (O-H) e na<br />
região de 2885 cm-1 , referente ao estiramento<br />
simétrico da ligação C-H presente em polissa-<br />
carídeos; e diminuição da absorção na região<br />
de 1732 cm-1 , referente ao estiramento da ligação<br />
C=O presentes em xilanas.<br />
Matuana e colaboradores (2001) observaram<br />
resultados semelhantes ao estudarem<br />
a modificação química das fibras de celulose<br />
provenientes da madeira, por meio de sistema<br />
anidrido ftálico.<br />
As principais bandas observadas nos espectros<br />
de FTIR das fibras de provenientes do<br />
bagaço de cana-de-açúcar, em geral, são sumarizadas<br />
na Tabela 1, em concordância com<br />
a literatura (COLOM et al., 2003).<br />
Tabela 1. Principais vibrações na região do FTIR observados nas fibras provenientes do bagaço de cana 24 .<br />
Número de onda (cm -1 ) Vibrações Fonte<br />
3300 O-H deformação axial Polissacarídeos<br />
2885 C-H estiramento simétrico Polissacarídeos<br />
1732 C=O estiramento Xilanas<br />
1<strong>16</strong>2 C-O-C estiramento assimétrico Celulose<br />
Analisando-se a influência do tolueno na<br />
modificação química das fibras, foi observado<br />
que a ausência do tolueno na reação causou um<br />
aumento das absorções na região de 3300 cm-1 ,<br />
referente ao estiramento da hidroxila (O-H); da<br />
absorção na região de 1732 cm-1 , referente ao estiramento<br />
da ligação C=O presentes em xilanas<br />
e da absorção na região de 1<strong>16</strong>2 cm-1 , referente<br />
ao estiramento assimétrico da ligação C-O-C.<br />
A quantidade de catalisador também influenciou<br />
nessa análise, pois se notou que o<br />
aumento do catalisador na reação causou uma<br />
mudança nas bandas observadas anteriormente,<br />
fazendo com que as mesmas aumentassem<br />
suas absorções.<br />
Dessa forma, pode-se afirmar que a presença<br />
do catalisador e do tolueno nessa reação<br />
de esterificação, por meio de sistema anidrido,<br />
influenciou diretamente na modificação<br />
química das fibras provenientes do bagaço de<br />
cana-de-açúcar, mas, que a presença do tolueno<br />
causou uma menor hidrofilicidade da fibra.<br />
4.<br />
Conclusões<br />
Com base nos resultados obtidos, foi<br />
possível concluir que o tolueno influenciou na<br />
modificação química realizada nas fibras provenientes<br />
do bagaço de cana-de-açúcar por es-<br />
33<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
terificação. A técnica de espectroscopia de infravermelho<br />
confirmou esse dado, bem como<br />
deixou evidente que a presença do tolueno na<br />
reação de esterificação causa uma menor hidrofilicidade<br />
nas fibras.<br />
A quantidade de catalisador também influenciou<br />
diretamente na modificação química<br />
das fibras.<br />
5.<br />
Agradecimentos<br />
Os autores agradecem a FAPERJ no processo<br />
102.335/2010 pelo apoio financeiro.<br />
6.<br />
1.<br />
2.<br />
3.<br />
4.<br />
5.<br />
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Endereço para Correspondência:<br />
Daniella Regina Mulinari<br />
daniella.mulinari@foa.org.br<br />
Departamento do Curso de Ciências Biológicas - <strong>UniFOA</strong><br />
Centro Universitário de Volta Redonda<br />
Departamento de Engenharia - <strong>UniFOA</strong><br />
Av. Paulo Erley Abrantes, 1325<br />
Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />
CEP: 27.240-560<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: MAIA, Tatiana<br />
Faria; MULINARI, Daniella Regina. Influência do tolueno na modificação química das fibras de bagaço de cana-de-açúcar. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto<br />
<strong>2011</strong>. Disponível em: <br />
35<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
Estudo Técnico, Econômico e Ambiental da geração de energia através do<br />
biogás de lixo - o caso do aterro sanitário de Gramacho<br />
Technical, economical and enviromental study of energy production through<br />
biogas from waste - the case of Gramacho’s landfill<br />
Fábio Viana de Abreu 1<br />
Mila Rosendal Avelino 2<br />
Diego Preza Monâco 3<br />
Palavras-chave:<br />
Biogás<br />
Aterros Sanitários<br />
Mecanismo de<br />
Desenvolvimento<br />
Limpo (MDL)<br />
Energia elétrica<br />
Abstract<br />
1 M.Sc. e Petrobras .<br />
2 D.Sc. e Professora Adjunta da UERJ<br />
Resumo<br />
3 Mestrando em Engenharia Mecânica UERJ<br />
A geração de energia através do biogás do lixo em aterros sanitários é uma alternativa<br />
para produção energia elétrica limpa, visando à redução dos impactos<br />
ambientais globais gerados pela queima dos resíduos sólidos urbanos. Neste<br />
trabalho, são definidas as condições operacionais do biogás, além do estudo e<br />
análise das áreas mais adequadas para o projeto e a vazão mínima de biogás,<br />
em m³/h, para viabilizar o mesmo. A contribuição ambiental mais relevante é a<br />
redução de emissões dos gases de efeito estufa (GEE), por meio da conversão<br />
do metano gerado em dióxido de carbono. De acordo com o Mecanismo de<br />
Desenvolvimento Limpo (MDL), os países denominados desenvolvidos podem<br />
comprar créditos de carbono dos países em desenvolvimento (que possuam projetos<br />
verdes) para cumprir suas metas e objetivos ambientais. Essa alternativa<br />
de obtenção de receitas é uma linha de pesquisa deste estudo. São analisadas as<br />
tecnologias de conversão energética, com o estudo da melhor alternativa para<br />
a conversão energética do biogás de aterros sanitários. São realizados estudos<br />
comparativos, análises de sensibilidades e os resultados demonstraram que os<br />
grupos geradores, com o uso de motores a combustão interna (ciclos Otto ou<br />
Diesel), são mais viáveis no viés técnico e econômico para conversão energética<br />
do biogás de aterros sanitários no Brasil através de Termoelétricas a biogás.<br />
The generation of energy through biogas from waste in landfill is a way to<br />
produce clean electric energy, searching to reduce the global impacts generated<br />
by the burning of the urban solid wastes (USW). In this paper the operational<br />
conditions of biogas are defined, and the study and analysis of the appropriated<br />
areas to the project and the minimum flow of biogas in m³/h, to enable this<br />
project. The most significant environmental contribution is the reduction of<br />
the emissions of greenhouse gases (GEE) by the conversion of the methane in<br />
carbon dioxide. In accordance to the Clean Development Mechanism (CDM),<br />
the developed countries can acquire carbon credits from the in development<br />
countries (the ones that possess green projects) in order to reach their goals and<br />
environmental aims. The alternative of obtaining incomes is the research line<br />
in this study. The technologies of energy conversion are analyzed altogether<br />
with the study of the best alternative to the energetic conversion of biogas in the<br />
landfill. Comparative studies and sensitivity analysis are done and the results<br />
showed that the generating groups, using motor of internal combustion (cycles<br />
Otto or Diesel), are more able in a technical and economical part to the biogas<br />
energy conversion in the landfills in Brazil through biogas thermoelectric.<br />
Key words:<br />
Biogas<br />
Landfill<br />
Urban Solid Waste<br />
Clean Development<br />
Mechanism (CDM)<br />
Eletrical Energy<br />
37<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
04/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
38<br />
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1.<br />
Introdução<br />
A geração de desperdício e excessos no<br />
Brasil são reflexos da adoção de um desenvolvimento<br />
com a característica de alto padrão<br />
consumista. Por isso, a busca de soluções<br />
adequadas para a disposição final dos resíduos<br />
sólidos de forma integrada, da sua origem até<br />
a disposição final, é essencial para o desenvolvimento<br />
sustentável [Abreu, 2009].<br />
A gestão adequada do lixo e a geração de<br />
energia através do biogás de lixo em aterros sanitários<br />
são soluções ambientalmente sustentáveis<br />
(gerando energia elétrica renovável e limpa).<br />
Além disso, o estudo da geração de energia<br />
elétrica a partir do biogás permite a redução de<br />
fugas dos gases de efeito estufa (GEE) e a maximização<br />
do índice de conversão do metano,<br />
contabilizado no cálculo para emissão de créditos<br />
de carbono dentro do mecanismo de desenvolvimento<br />
limpo (MDL) [Abreu, 2009].<br />
A negociação de créditos de carbono é a<br />
forma transacional do MDL [UNFCCC, 2007].<br />
Tais iniciativas induzem investimentos em projetos<br />
sustentáveis em que pode haver redução<br />
de emissões e/ou sequestro de carbono, assegurando<br />
um modelo de desenvolvimento limpo<br />
para os países emergentes, onde os custos<br />
de implementação de tais projetos são maiores<br />
[Cebds, 2001]. O Brasil, enquanto país signatário<br />
do Tratado de Kyoto, está habilitado a desenvolver<br />
projetos de redução dos GEE e emitir<br />
os créditos aos países industrializados que devam<br />
reduzir suas emissões até o ano 20<strong>12</strong>.<br />
O biogás gerado nos aterros sanitários é<br />
composto basicamente por metano (CH – de 4<br />
55 a 65%), dióxido de carbono (CO – de 30 a<br />
2<br />
40%), nitrogênio (N – de 0 a 1%), hidrogênio<br />
2<br />
(H – de 0 a 2%) e gás sulfídrico (H S - de 0 a<br />
2 2<br />
1%) [Polprasert, 1996]. Em um período de 100<br />
anos, 1 grama de metano contribui 21 vezes<br />
mais para a formação do efeito estufa do que<br />
1 grama de dióxido de carbono [UNFCCC,<br />
2007]. A combustão completa do metano produz<br />
dióxido de carbono e vapor d’água.<br />
A geração de biogás em um aterro sanitário<br />
é iniciada algumas semanas após o início do<br />
depósito dos resíduos e continua por 15 anos<br />
após seu encerramento. Uma tonelada de resíduo<br />
disposto em um aterro sanitário gera em<br />
média 200 Nm3 de biogás. Para comercializar<br />
o biogás, através da recuperação energética, o<br />
aterro sanitário deverá receber no mínimo 200<br />
toneladas/dia de resíduos, com capacidade mínima<br />
de recepção da ordem de 500.000 toneladas<br />
em sua vida útil e altura mínima de carregamento<br />
de 10 metros [World Bank, 2005].<br />
O aterro de Gramacho, situado na cidade<br />
de Duque de Caxias (RJ), foi escolhido como<br />
o estudo de caso. Originalmente, era um lixão<br />
que, a partir do início dos anos da década de<br />
1990, passou a receber alguns cuidados para<br />
minimizar a agressão que causava ao meio<br />
ambiente. O mais recente foi a conclusão da<br />
primeira fase da Estação de Tratamento de<br />
Efluentes Líquidos, que trata diariamente,<br />
segundo a Comlurb [Comlurb, 2009], 960<br />
metros cúbicos de chorume, que era uma das<br />
principais preocupações dos ambientalistas<br />
os quais temiam a contaminação da Baía de<br />
Guanabara. O próximo passo é a produção de<br />
energia através do biogás do lixo.<br />
Atualmente, a cidade do Rio de Janeiro<br />
tem a sua produção de 8 a 9,3 mil ton./dia de<br />
lixo. Considerando o valor de 263.370 toneladas/mês,<br />
pode-se concluir que a produção<br />
diária da cidade do Rio de Janeiro encontra-se<br />
em aproximadamente no valor de 8.779 toneladas/dia<br />
(Araruna, 2008).<br />
De acordo com Araruna (2008), “a coleta<br />
e a destinação de resíduos sólidos comprometem<br />
de 7% a 15% dos orçamentos municipais”.<br />
Como as prefeituras costumam gastar cerca de<br />
60% de seus recursos com folha de pagamento,<br />
o lixo muitas vezes lidera a lista de outras<br />
despesas. Com isso, destaca-se a importância<br />
de estudos técnicos e científicos que resultem<br />
em soluções e/ou alternativas para minimizar o<br />
problema dos resíduos sólidos urbanos.<br />
2.<br />
Materiais e Métodos<br />
O aterro de Gramacho é o estudo de caso<br />
escolhido, devido à sua importância para a cidade<br />
do Rio de Janeiro e seu entorno.<br />
Para a realização do EVTE, foram levantados<br />
os dados técnicos para estudo das alternativas<br />
de geração de eletricidade a partir de biogás,<br />
bem como a determinação do potencial de biogás<br />
a ser produzido e do potencial de eletricidade a<br />
ser gerado. Para isso, o modelo utilizado foi o recomendado<br />
pela Agência de Proteção Ambiental<br />
dos Estados Unidos (USEPA) [EPA, 2005].
A estimativa de produção de metano está<br />
expressa na Eq. (1):<br />
(1)<br />
O modelo da USEPA requer o conheci-<br />
mento do histórico da deposição dos resíduos<br />
(ou, no mínimo, da quantidade de lixo depositado<br />
e da data de abertura do aterro sanitário);<br />
usa uma função exponencial de degradação de<br />
primeira ordem, que presume que a geração de<br />
biogás alcance o ponto máximo após um intervalo<br />
de tempo que representa o período antes<br />
da geração de metano. O modelo da USEPA<br />
supõe um intervalo de um ano entre a deposição<br />
dos resíduos e a geração de biogás. Após<br />
um ano, o modelo prevê que a geração de biogás<br />
decresça exponencialmente à medida que<br />
é consumida a fração orgânica dos resíduos.<br />
Os dados de quantidade de lixo anual são<br />
inseridos e os parâmetros de velocidade de degradação<br />
(k = 0,060) e potencial de metano (L0 = 84,6) são adotados de acordo com as condições<br />
da região estudada. E para a realização da<br />
análise econômica utilizou-se os parâmetros<br />
Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna<br />
de Retorno (TIR).<br />
2.1.<br />
Valor Presente Líquido (VPL)<br />
É o somatório dos custos e das receitas<br />
líquidas do projeto (ou previstas) durante sua<br />
vida econômica, trazidos a data de atualização<br />
do fluxo de caixa, utilizando-se para isso a taxa<br />
de desconto apropriada: a taxa mínima de atratividade<br />
- TMA - do segmento de negócio. A<br />
fórmula do VPL é definida pela Eq. (2), como:<br />
(2)<br />
Onde:<br />
E Valor esperado;<br />
CF Valor genérico do fluxo de caixa liquido<br />
no período k (positivo se for beneficio,<br />
negativo se for custo);<br />
i Taxa de desconto: TMA;<br />
k Período no instante k do fluxo de caixa;<br />
j Posição do vetor no período (inicio= 0)<br />
2.2.<br />
Taxa Interna de Retorno (TIR)<br />
A taxa interna de retorno considera os desembolsos<br />
da empresa - valores negativos - para<br />
fazer um projeto como um “empréstimo” a ser<br />
“pago” posteriormente com os embolsos ou receitas<br />
- valores positivos - proporcionados pelo<br />
mesmo projeto. Com essa metodologia, a TIR é<br />
a taxa de retorno implícita no fluxo de caixa, que<br />
só depende da relação entre os valores positivos<br />
e negativos, a qual iguala esses desembolsos aos<br />
embolsos com isso tornando o VPL=0.<br />
A TIR é uma taxa média que considera<br />
toda a vida econômica do projeto e é expressa<br />
em termos anuais. Esta taxa é calculada obtendo-se<br />
as raízes da Eq. (3):<br />
2.3.<br />
Tributos<br />
(3)<br />
Para a elaboração do Estudo de<br />
Viabilidade Técnica e Econômica do projeto<br />
é essencial o estudo e análise dos tributos incidentes<br />
nas receitas provenientes da venda de<br />
energia elétrica produzida e créditos de carbono.<br />
De acordo com a Tab. (1) (MME, 2005),<br />
serão apresentados os tributos que serão incluídos<br />
no fluxo de caixa.<br />
Tabela 1: Tributos incidentes em projetos de energia<br />
Tributos<br />
Tributos Alíquota Incidência Competência<br />
1 COFINS 3,0% Receitura Bruta FEDERAL<br />
2 PIS 0,65% Receitura Bruta FEDERAL<br />
3 ICMS 0% Receitura Bruta ESTADUAL<br />
4 IR* 15 + 10% Lucro antes dos impostos FEDERAL<br />
5 CSLL 9% Lucro antes dos impostos FEDERAL<br />
IR* = 15% de até R$ 240.000/ano + 10% acima de R$ 240.000/ano<br />
Nota-se: COFINS: Contribuição Permanente sobre Movimentações Financeiras - PIS: Programa de Integração Social - ICMS:<br />
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços -IR: Imposto de Renda - CSLL: Contribuição Social sobre o Lucro.<br />
39<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
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3.<br />
Resultados<br />
Com a aplicação da metodologia USEPA<br />
no aterro de Gramacho, sua recuperação de<br />
Figura 1: Recuperação projetada de biogás no Aterro Sanitário de Gramacho<br />
Na Tab. (2) é apresentado um sumário das taxas de recuperação de biogás e capacidade (Bruta)<br />
da Usina Termoelétrica (UTE).<br />
4.<br />
Ano Taxa de Recuperação de Biogás<br />
projetada (m 3 /h)<br />
biogás de lixo em 2009, foi de 30.000 m³/h.<br />
Após o fechamento do local, estima-se hoje<br />
que a recuperação do gás de lixo venha a se<br />
declinar rapidamente, conforme o Fig. (1).<br />
Capacidade Bruta da Usina de<br />
Motor de Combustão Interna (kW)<br />
20<strong>12</strong> 23.404 10.031<br />
2013 19.973 10.031<br />
2014 17.045 10.031<br />
2015 14.546 10.031<br />
20<strong>16</strong> <strong>12</strong>.414 10.031<br />
2017 10.594 10.031<br />
2018 9.041 7.<strong>16</strong>5<br />
2019 7.7<strong>16</strong> 7.<strong>16</strong>5<br />
2020 6.585 7.<strong>16</strong>5<br />
2021 5.619 4.299<br />
2022 4.796 4.299<br />
2023 4.093 4.299<br />
2024 3.493 4.299<br />
Tabela 2: Sumário das Taxas de Recuperação de Biogás e Capacidade (Bruta) da Usina Termoelétrica<br />
Discussão<br />
Das tecnologias convencionais para a<br />
conversão energética do biogás, destacam-se<br />
as turbinas a gás e os motores de combustão<br />
interna (ciclos Otto e Diesel). Para geração de<br />
energia a capacidades pequenas e médias, os<br />
motores a combustão interna são mais adequados<br />
devido ao seu menor custo e maior<br />
eficiência nesta faixa. Somente para altas capacidades,<br />
as turbinas a gás passam a ter economicidade,<br />
melhorada quando utilizadas em<br />
ciclos combinados. Os motores a combustão<br />
interna de ciclos Otto ou Diesel possuem maior<br />
eficiência na faixa de operação deste projeto.<br />
Motores de ciclo Diesel trabalham com taxas<br />
de compressão mais elevadas, sendo necessário<br />
operar nestes com o biogás misturado ao<br />
diesel ou biodiesel; o que representaria um insumo<br />
adicional para o Aterro Sanitário.<br />
A seguir, é apresentada na Tab. (3), a<br />
comparação da potência e rendimento para as<br />
tecnologias de conversão energética Motor a<br />
Combustão Interna e Turbinas.
Tabela 3: Tecnologias de Conversão<br />
Tecnologia de Conversão Potência Instalada Rendimento Elétrico<br />
Motores a Gás (Ciclo Otto) 30kW - 1MW 25% - 30%<br />
Motores a Gás (Ciclo Diesel) 40kW - 20MW 30% - 40%<br />
Tubina a Gás (Médio Porte) 500kW - 150MW 35 - 42%<br />
A Tab. (4) mostra um sumário dos re-<br />
sultados da avaliação econômica no cenário<br />
com tributos da UTE, apresentando o Valor<br />
Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de<br />
CER<br />
(US$ / ton. CO 2 eq )<br />
Retorno (TIR) do projeto, realizando uma análise<br />
de sensibilidade, utilizando valores diversos<br />
as receitas oriundas das taxas de créditos<br />
de carbono (CER).<br />
Tabela 4: Sumário da Avaliação Econômica com UTE e tributos<br />
Investimento inicial de 100% = 15.514.880<br />
TIR VPL<br />
TAXA DE VENDAS FORA<br />
DO LOCAL ($/KWh)<br />
10 14,71% $8.880.2<strong>12</strong> 0,045<br />
10 15,96% $11.476.556 0,055<br />
10 17,07% $14.072.901 0,065<br />
10 18,06% $<strong>16</strong>.669.246 0,075<br />
CER<br />
(US$ / ton. CO 2 eq )<br />
Investimento inicial de 25% = 3.878.720<br />
TIR VPL<br />
TAXA DE VENDAS FORA<br />
DO LOCAL ($/KWh)<br />
10 20,95% $10.<strong>12</strong>9.089 0,045<br />
10 22,56% $<strong>12</strong>.725.434 0,055<br />
10 23,96% $15.321.779 0,065<br />
10 25,22% $17.918.<strong>12</strong>3 0,075<br />
CER<br />
(US$ / ton. CO 2 eq )<br />
Investimento inicial de 100% = 15.514.880<br />
TIR VPL<br />
TAXA DE VENDAS FORA<br />
DO LOCAL ($/KWh)<br />
17 23,81% $27.232.359 0,045<br />
17 24,47% $29.828.704 0,055<br />
17 25,09% $32.425.049 0,065<br />
17 25,67% $35.021.393 0,075<br />
CER<br />
(US$ / ton. CO 2 eq )<br />
Investimento inicial de 25% = 3.878.720<br />
TIR VPL<br />
TAXA DE VENDAS FORA<br />
DO LOCAL ($/KWh)<br />
17 34,31% $28.481.237 0,045<br />
17 35,05% $31.077.582 0,055<br />
17 35,75% $33.673.926 0,065<br />
17 36,42% $36.270.271 0,075<br />
Com isso, cenários com os créditos de<br />
carbono a U.S. $10 ton. CO 2 eq. e o valor da<br />
energia elétrica no patamar de no mínimo U.S.<br />
$/kWh 0,045 o projeto também é viável, mesmo<br />
com a inclusão dos tributos.<br />
5.<br />
Conclusão<br />
O presente trabalho investigou as condições<br />
de produção e viabilidade técnica e econômica<br />
de biogás de lixo em aterros sanitários,<br />
41<br />
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com a escolha do aterro de Gramacho para o<br />
estudo. Com isso, foi proposta uma destinação<br />
final de RSU’s mais adequação, proporcionando<br />
a redução do chorume, dos odores<br />
e da poluição ambiental. Como consequência,<br />
elevou-se a vida útil do aterro sanitário e segurança<br />
ambiental local.<br />
A produção de energia através do biogás<br />
do lixo em aterros sanitários representa ganhos<br />
para a sociedade (geração de empregos e<br />
redução de subempregos), para as prefeituras<br />
(representam uma fonte extra de renda com a<br />
comercialização da energia gerada pelo biogás)<br />
e para o meio ambiente com a contenção<br />
de emissões de CH , redução do uso de com-<br />
4<br />
bustíveis fósseis, no caso de aproveitamento<br />
energético, redução de odores e vetores nos<br />
aterros devido a boas práticas de gerenciamento,<br />
dentre outras (Abreu, 2009).<br />
Para a cidade do Rio de Janeiro, onde os<br />
resíduos sólidos urbanos representam uma despesa<br />
de cerca de 6% a 8% do orçamento público<br />
anual, uma Usina a Biogás seria uma oportunidade<br />
de transformar um passivo contábil, financeiro<br />
e ambiental em receitas para município de<br />
acordo com as taxas de VPL e TIR calculadas<br />
para cada hipótese da análise financeira.<br />
Com a produção de 10 MW de energia<br />
no início do projeto, seria possível atender às<br />
necessidades energéticas da própria Usina de<br />
Biogás e mais uma parcela da população fluminense,<br />
de acordo com o perfil do consumo<br />
energético das famílias atendidas.<br />
Realizando um estudo da matriz energética<br />
nacional para o setor, constata-se que conforme<br />
a Cetesb (1999), a geração de metano em depósitos<br />
de resíduos sólidos urbanos brasileiros<br />
está na ordem de 677 Gg., cuja densidade padrão<br />
definida é de 0,7<strong>16</strong> Kg/m³, o que significa<br />
cerca de 945 milhões de metros cúbicos anuais.<br />
Como o metano representa cerca de 50 a 55%<br />
do volume de biogás, têm-se 1.718 milhões de<br />
metros cúbicos anuais desse gás, considerando<br />
uma recuperação típica de 90%, sendo que estariam<br />
disponíveis 1.546 Mm³ de biogás para<br />
geração de energia elétrica. Isso representaria<br />
ao País, utilizando usinas termoelétricas baseadas<br />
em motores a combustão interna com eficiência<br />
na faixa de 20% (caso do ciclo Otto), uma<br />
energia disponível de 2,1TWh, que alimentaria<br />
1750 mil residências com o consumo médio<br />
mensal de 100kWh, o que equivale a uma ci-<br />
dade de mais de 3 milhões de habitantes. Como<br />
muitos aterros não têm economicidade para<br />
produção de energia através do biogás de lixo, a<br />
energia disponível seria um patamar ainda bem<br />
menor que os 2,1 TWh.<br />
Diante do exposto, é possível constatar<br />
que o biogás não tem um impacto significativo<br />
na matriz brasileira mesmo considerando<br />
o valor de 2,1 TWh com relação a oferta total<br />
de 497,4 TWh que não representa nem 1% da<br />
matriz energética brasileira. Mas se todas as<br />
cidades brasileiras utilizassem o biogás de lixo<br />
em detrimento de outras fontes de energias<br />
mais poluentes, seria possível contribuir para<br />
redução das consequências das mudanças climáticas<br />
visto que o gás metano é mais nocivo<br />
que o gás carbônico (CO2). Outra vantagem<br />
do biogás de lixo com relação às hidroelétricas<br />
seria sua utilização para gerar energia elétrica<br />
próximo ao centro consumidor, evitando assim<br />
investimentos em novas linhas de transmissão<br />
de energia elétrica.<br />
Por fim, a implantação de uma termelétrica<br />
a partir do biogás do lixo, gera diversas<br />
contribuições para o País (principalmente para<br />
a região atendida), dentre as quais, serão listadas<br />
as principais abaixo:<br />
a. contribuição para a sustentabilidade am-<br />
biental local;<br />
b. contribuição para o desenvolvimento das<br />
condições de trabalho e a geração líquida<br />
de empregos;<br />
c. contribuição para a distribuição de renda;<br />
d. contribuição para capacitação e desen-<br />
volvimento tecnológico (possibilidade<br />
de reprodução da tecnologia empregada,<br />
observando o seu efeito demonstrativo,<br />
avaliando, ainda, a origem dos equipamentos,<br />
a existência de royalties e de licenças<br />
tecnológicas e a necessidade de assistência<br />
técnica internacional);<br />
e. contribuição para o desenvolvimento re-<br />
gional, que pode ser medida a partir da<br />
integração do projeto com outras atividades<br />
sócioeconômicas na região de sua<br />
implantação.<br />
f. conscientização da população com relação<br />
ao desenvolvimento de práticas sustentável<br />
e produção de energia renovável e limpa<br />
(Abreu, 2009).
6.<br />
Agradecimentos<br />
Ao CNPQ, Conselho Nacional de<br />
Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a<br />
Universidade do Estado do Rio de Janeiro<br />
7.<br />
1.<br />
2.<br />
3.<br />
4.<br />
Referências<br />
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ABREU, F. V.; Dissertação de Mestrado,<br />
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ABREU, F. V.; <br />
acessado em Abril de <strong>2011</strong>.<br />
5. ABREU, F. V.; < http://biogasdelixo.<br />
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6.<br />
7.<br />
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em 20 de maio de 2010.<br />
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Endereço para Correspondência:<br />
Fábio Viana de Abreu<br />
fabio.viana.abreu@gmail.com<br />
Rua Gonzaga Bastos, <strong>nº</strong> 131, apto 504<br />
Vila Isabel - Rio de Janeiro<br />
CEP: 20541-000<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: ABREU, Fábio<br />
Viana; AVELINO, Mila Rosendal; MONâCO, Diego Preza. Estudo Técnico, Econômico e Ambiental da geração de energia através do biogás de lixo - o caso do aterro<br />
sanitário de Gramacho. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em: <br />
43<br />
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História Política e a “Nova História”: um breve acerto de contas.<br />
Political History and “New History”: a brief reckoning.<br />
Rafael Willian Clemente 1<br />
Palavras-chave:<br />
História política<br />
Annales<br />
Historiografia.<br />
Abstract<br />
Resumo<br />
O estudo aqui exposto traz uma reflexão sobre a história política mais detalhadamente<br />
sobre seu processo de renovação, juntamente com a renovada<br />
historiografia proposta melo movimento dos Annales, durante o século<br />
XIX na França. A história política hoje se faz um campo aberto, é difícil –<br />
e este nem é nosso interesse – de delimitar seu campo de atuação, sua área<br />
fronteiriça. Porém, o que se mostra no presente, como uma característica<br />
dos métodos e objetos da história política não era nem de longe um traço<br />
em seu modo de discutir e demonstrar o conhecimento histórico. Cabe,<br />
então, várias perguntas, mas uma delas torna-se mais pertinente: como<br />
entender essa nova história política? O presente artigo pretende contribuir<br />
para o debate historiográfico em torno da história política.<br />
The study presented here brings a reflection about the political history,<br />
more specifically about its process of renovation, and the renewed<br />
historiography proposed by the Annales movement during the nineteenth<br />
century in France. The political history nowadays makes use of an open<br />
field which is hard to delimit its action field, its border area, but this is<br />
not our interest. However, what is shown at present as a feature of the<br />
methods and objects of the political history was not far from a stroke on<br />
its way to discuss and demonstrate historical knowledge. Then, several<br />
questions can be done, but one of them is more relevant: how can this<br />
new political history be understood? This article aims to contribute to the<br />
historiographical debate surrounding the political history.<br />
Key words:<br />
Political history<br />
Annales<br />
Historiography<br />
1 Mestrando em História pela Universidade Severino Sombra - USS, Especialista em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense - UFF,<br />
Graduado em História pelo Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />
45<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
03/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
1.<br />
Introdução<br />
O presente escrito é uma reflexão sobre<br />
duas renovações no estudo de história, mais<br />
precisamente em seus métodos, em sua forma<br />
de entender e analisar os fatos sociais, culturais<br />
e políticos. Ambos os três de maneira<br />
relacionada sob o manto da história política.<br />
Tendo como material básico as publicações<br />
de historiadores franceses como Le Goff e<br />
Rémond, que proporcionaram tanto à disciplina<br />
história quanto à historiografia várias reflexões<br />
sobre as problemáticas que carregava<br />
quando se tratava da história política, as linhas<br />
aqui apresentadas tratam dessa renovação.<br />
Uma renovação para além do movimento dos<br />
Annales, que, em síntese, trabalharemos para<br />
confrontar com a história política. Logo, existem<br />
dois lados a serem distinguidos.<br />
De um lado a “nova história”, surgida<br />
pela via francesa da “Escola dos Annales”,<br />
tida como outra forma de se entender a história<br />
– tanto a disciplina em si, quanto as práticas<br />
factuais do processo de estudo. Do outro, a<br />
história política, corrente vista, a priori, como<br />
amálgama dos problemas historiográficos –<br />
geralmente relacionada como forma ultrapassada<br />
e a ser superada de se entender a história<br />
e praticar os métodos historiográficos nas análises<br />
da sociedade. Portanto, repensar nossos<br />
métodos é tarefa frequente. Para historiadores,<br />
a história não poderá nunca estar fechada em<br />
si e somente para si, deve ter os tentáculos de<br />
polvo e alcançar sempre objetivos e públicos<br />
cada vez mais distantes, unindo áreas do saber<br />
– respeitando suas particularidades – e dialogando<br />
com métodos, externos e internos que<br />
possibilitem a construção do conhecimento<br />
bem como sua produção. Colocar o debate em<br />
história é reproduzir o que Le Goff expôs, com<br />
muita propriedade, na abertura de seu livro sobre<br />
história e memória:<br />
A história está sempre no centro das<br />
controvérsias. De que assuntos deve<br />
tratar? Os acontecimentos apenas, ou<br />
também os desígnios da providência, os<br />
progressos da humanidade, os fenômenos<br />
repetitivos, as estruturas? Deve pôr<br />
tônica na continuidade ou, pelo contrário,<br />
nas revoluções, nas rupturas, nas<br />
catástrofes? Deve ocupar-se priorita-<br />
riamente dos indivíduos promovidos ao<br />
papel de heróis ou de massa? De quem<br />
tem poder e autoridade no Estado ou na<br />
Igreja ou, ao contrário, dos camponeses,<br />
do proletariado, dos burgueses, da<br />
população no seu conjunto e de todas<br />
as classes que a compõem? (LE GOFF,<br />
2003: 17)<br />
Corrente historiográfica que esteve ligada<br />
intimamente às visualizações do poder no<br />
Estado, a historiografia política começou por<br />
uma análise das pessoas importantes e de grande<br />
poder na sociedade. Assim, era o alvo mais<br />
fácil e mesmo o ideal para historiadores que,<br />
num dado momento, ansiavam por renovações<br />
nos olhares da história, a ponto de marcar a<br />
vida historiográfica com estudos que usavam<br />
como veículo uma revista e transformou-se<br />
em um movimento. Nascia os Annales e com<br />
ele uma crítica aos velhos métodos para o estudo<br />
da história.<br />
Se a história política foi alvo de críticas,<br />
que a bem da verdade auxiliaram em sua renovação,<br />
ela soube também se apropriar de muitas<br />
características de outros campos do saber,<br />
a exemplo de seus contatos com a economia, a<br />
psicologia e o que hoje chamamos de ciência<br />
política. Uma história que se tornou relevante<br />
para as ciências humanas não deve ser alvo só<br />
de revisões e de um alto grau de criticidade,<br />
mas deve reconhecer também o que os historiadores<br />
do político fizeram para que seus objetos<br />
fossem vistos pela sociedade como uma<br />
ferramenta utilizável na constante construção<br />
do homem político, enfim, do homem em sociedade.<br />
2.<br />
Uma história de renovação: os<br />
Annales<br />
Desde sua utilização como disciplina<br />
anexa aos conhecimentos de latim, retórica ou<br />
a filosofia clássica, o ensino de história estava<br />
calcado no âmbito das grandes narrativas,<br />
compostas basicamente pelas questões das<br />
causas, origens e consequências, como explicitou<br />
Weinstein (2003: 185). A problematização<br />
dos fatos não era relevante para o debate<br />
sobre a vida em sociedade, sobre os homens<br />
e sua vivência na trilha social, seus percalços
em outros âmbitos sociais que não o econômico;<br />
o homem comum estava excluído da<br />
história e, logo, seus nomes e memórias não<br />
entrariam no conhecimento repassado aos que<br />
do ensino se serviam, ou mesmo à história,<br />
como disciplina.<br />
Com o advento de uma nova geração de<br />
historiadores franceses, a disciplina foi oxigenada<br />
e seus rumos sofreram uma guinada<br />
irascível. A “Escola dos Analles” inaugurou<br />
em meados de 1929 outra maneira de pensar<br />
o conhecimento histórico, bem como seus métodos<br />
de pesquisa e ensino. Veremos a diante<br />
como esse movimento influenciou as futuras<br />
gerações de historiadores, que, mesmo não estando<br />
em territórios franceses e fora do convívio<br />
dos “annalistès”, assimilaram a revolução<br />
na historiografia que o movimento em questão<br />
proporcionou. A verdade é que mesmo com<br />
algumas dificuldades causadas pelas novas<br />
proposições feitas pelos historiadores dos<br />
Annales, ainda hoje colhemos os frutos de tal<br />
aperfeiçoamento da disciplina histórica, embora<br />
reconheçamos que a história-disciplina continua<br />
a sofrer duros golpes de muitos dos que<br />
dela tiram seu sustento. Portanto, assim como<br />
Marc Bloch – um dos historiadores fundadores<br />
dos Annales – travamos diariamente nosso<br />
combate pela história; muitas dessas batalhas<br />
vão além da disciplina e dos seus processos<br />
didáticos de ensino-aprendizagem, recaem sobre<br />
a história como movimento incessante de<br />
dinamismo do mundo, na movimentação de<br />
todos os fenômenos típicos da humanidade, e<br />
na movimentação do homem em seu tempo.<br />
Nosso combate vai além da história, é a<br />
batalha do homem, pelo homem, em seu recorte<br />
temporal, em sua luta cotidiana.<br />
Chamada de “a revolução francesa da<br />
historiografia” por Burke (1990) a “Escola<br />
dos Annales” foi e ainda é a maior referência<br />
na modificação dos conceitos historiográficos<br />
contemporâneos. Vista por muitos, inclusive<br />
pelos seus fundadores, mais como um movimento<br />
do que como uma escola - ainda que<br />
Guriêvitch (2003) compartilhe dessa ideia, ressalta<br />
também a posição de escola dos Annales,<br />
não no sentido institucional, mas no âmbito<br />
de renovação e disseminação de um conhecimento,<br />
no caso, da ciência histórica - os annalistès<br />
propagaram pelo universo acadêmico<br />
uma visão disciplinar da história que naquele<br />
momento se contrapunha às experiências dos<br />
historiadores tradicionais.<br />
Marc Bloch e Lucien Febvre, através<br />
da revista Annales. Economies. Sociétés.<br />
Civilizations. agruparam em torno do novo<br />
movimento, também citado como “nova história”<br />
- um olhar sobre a disciplina que foi<br />
de encontro às antigas correntes historiográficas,<br />
vigentes até aquele momento. Estas não<br />
se vinculavam à vida cotidiana dos homens,<br />
importando apenas com os grandes fatos e os<br />
grandes personagens, uma história conclusa<br />
aos grandes feitos e às grandes narrativas, que,<br />
ao contrário das novas propostas, afirmavam<br />
que a história era um movimento quase que<br />
inerte. Em contrapartida, os annalistès atestavam<br />
“a história como uma ciência em marcha”<br />
(BLOCH, 2001: 21), ou seja, uma ciência em<br />
mutação; voltada “aos homens, à sociedade, às<br />
crises momentâneas ou elementos mais duradouros”<br />
(BLOCH 2001: 51), e por isso, dinâmica.<br />
Como destacou Rémond (2003), a história<br />
política era a encarnação perfeita para a<br />
contraproposta historiográfica realizada pelos<br />
“novos historiadores”, aliás, toda nova escola<br />
necessita de um inimigo, para que tendo contra<br />
quem lutar, possa afirmar, por meio dessa<br />
batalha, seus novos argumentos e sua práxis.<br />
3.<br />
História política: uma corrente<br />
antiquada?<br />
Correntes historiográficas são nada mais<br />
que possíveis histórias da história, reflexões<br />
sobre as “transformações da sociedade e as<br />
modificações das ideias.” (RÉMOND 2003:<br />
13). Portanto, o trabalho de um historiador que<br />
pesquisa objetos mais intimamente ligados ao<br />
econômico terá características distintas do historiador<br />
que analisa dados de história cultural.<br />
Contudo, esses objetos, esses fatos, circulam<br />
sob a órbita de vários campos da história enquanto<br />
disciplina. Logo, o que a princípio é<br />
político afeta o social, o cultural, o econômico<br />
e assim por diante, pois as relações no campo<br />
da história são como átomos agitados que percorrem<br />
os mais variados caminhos e na estrada<br />
da história estamos em uma via de mão dupla,<br />
em que os encontros e desencontros metodológicos<br />
são inevitáveis.<br />
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Nessa ótica, dizer que o estudo do políti-<br />
co influenciou e sofreu influências de muitos<br />
outros campos da história é o óbvio. Porém,<br />
a análise dos objetos políticos, ou da política,<br />
iniciou-se, como já observamos, com os olhares<br />
voltados para os grandes nomes da política,<br />
as instituições, o Estado, que perdurou durante<br />
muito tempo como “objeto por excelência na<br />
produção histórica”. (FALCON 1997: 65). Se<br />
com os gregos a história estava voltada para<br />
as grandes narrativas, durante os séculos mais<br />
recentes, algo em torno entre o XXIII e o XX<br />
a guinada de seu leme foi modesta; tanto que<br />
na modernidade ainda tinha “o Estado como<br />
objeto por excelência na produção histórica”<br />
(MOMMSEM apud FALCON, 1997). Isso fez<br />
com que os métodos de história política fossem<br />
presa fácil para os “novos historiadores”<br />
que iam contra a hegemonia do político em<br />
história. Ela amalgamava todos os problemas<br />
da história tradicional, era “factual, subjetivista,<br />
psicologizante e idealista” (RÉMOND,<br />
2003: 18), enfim, todos os defeitos que a<br />
“nova história” procurava findar, a história<br />
política possuía em suas finalidades. Mas de<br />
fato, esse não era um problema de má intenção<br />
dos historiadores políticos. Estes – homens do<br />
seu tempo, que em si agrupavam as ideias e as<br />
inclinações de sua época – só utilizavam daquilo<br />
que ela podia oferecer e a própria política<br />
se fazia como algo superficial. Entretanto,<br />
há uma tendência em se negar o conhecimento<br />
de gerações anteriores para se fazer afirmar<br />
a da geração contemporânea, como bem<br />
cita Rémond (2003, p. 13), que “avanços se<br />
operam muitas vezes em detrimento de outro<br />
ramo, como se todo avanço devesse ser pago<br />
com algum abandono, duradouro ou passageiro,<br />
e o espírito só pudesse progredir rejeitando<br />
a herança da geração anterior.” Assim, a história<br />
política fora negada pelos novos historiadores,<br />
como uma maneira arcaica e obsoleta<br />
de se fazer história.<br />
4.<br />
História política em perspectiva<br />
Como podemos distinguir o que é político<br />
do cultural, do social e do econômico, já<br />
que essas esferas se ligam intimamente e entre<br />
si dialogam? Ainda Rémond (2003) argumenta<br />
que “o político não tem fronteiras na-<br />
turais,” ora elas se retraem, ora se dilatam, ou<br />
seja, permeiam outros domínios delimitando<br />
sua área de atuação, mas sem fixar territórios.<br />
Essa mesma história política que agora realiza<br />
intercessão com outras áreas, outrora estava<br />
intimamente ligada às análises do econômico.<br />
Ela também nasceu muito próxima ao caráter<br />
do poder nas esferas econômicas, como bem<br />
se julgava a política como a busca pelo poder<br />
social. Segundo Falcon (1997) história e poder<br />
caminham juntos, sendo “irmãos siameses”,<br />
ou seja, de difícil, ou impossível separação.<br />
Isso também demonstra uma problemática<br />
quando se trata da análise sobre a produção<br />
do poder na oficina da história, pois há aí uma<br />
equivalência entre o político e o poder exercido.<br />
Nesse âmbito, inicia-se um percalço, visto<br />
que a análise do político perpassa pelas questões<br />
de poder, mas este não poderá encerrar as<br />
características na análise da história política,<br />
já que esta não se delimita simplesmente pelo<br />
poder em esfera política.<br />
Se a história política possuía, em seu início,<br />
um viés muito acentuado quando a suas<br />
análises do poder no Estado, ao decorrer dos<br />
anos, entre 1945 e 1968/1970, a crise final da<br />
história política se mostra como uma possibilidade<br />
de modificação nas estruturas dessa corrente<br />
historiográfica. De acordo com Falcon<br />
(1997), contribuíram imensamente para esses<br />
processos intelectuais os que vieram de fora<br />
da ciência histórica. Sociólogos, principalmente<br />
como Foucault e Bourdieu, realizaram<br />
outra forma de análise do poder. Sob a ótica<br />
desses dois autores, de grande influência nas<br />
ciências humanas e sociais, o poder ganharia<br />
um aspecto simbólico, ou seja, suas relações<br />
não estavam ad stricto ao político, enquanto<br />
alcance de poder estatal, mas esse poder relacionava-se<br />
por entre as instituições sociais<br />
e suas maneiras de “pensar” e transmitir os<br />
valores institucionais em regras sociais. Daí<br />
Foucault ter um vasto material sobre diversas<br />
instituições como o cárcere, os manicômios,<br />
as escolas e etc., e Bourdieu ter pensado sobre<br />
o poder simbólico das grifes de alta costura<br />
e o poder das trocas econômicas simbólicas.<br />
Assim, são análises da política, do poder, mas<br />
em outra linha de raciocínio, contendo representações<br />
das mentalidades, das ideias, bem<br />
como da memória, sem as amarras do poder<br />
como ao inerente ao status econômico, mas
visto dessa forma e como uma relação das<br />
representações sociais dos indivíduos e suas<br />
instituições. Concordamos, entretanto, que o<br />
foco da história política demorou a se alterar a<br />
fim de que se concentrasse em outros objetos.<br />
A história política privava-se da possibilidade<br />
metodológica em criar uma história comparada,<br />
olhando os fatos em uma perspectiva espacial<br />
paralela, portanto, fitava o fato, dando<br />
prioridade ao particular.<br />
5.<br />
As revoluções que derrubaram os regimes<br />
monárquicos não destronaram a<br />
história política de sua posição preeminente,<br />
apenas mudaram seu objeto. Em<br />
vez de fixar-se na figura do monarca, a<br />
história política voltou-se para o Estado<br />
e a nação, consagrando daí em diante<br />
suas obras à formação dos Estados nacionais...<br />
(RÉMOND, 2003: 15)<br />
Conclusão: um breve acerto de<br />
contas<br />
As duas correntes que se mostraram de<br />
formas antagônicas, a “Nova História” e a<br />
História Política merecem um olhar todo especial<br />
dos estudiosos, tanto historiadores como<br />
outros cientistas sociais. A política é campo<br />
de análise em que podem ocorrer algumas armadilhas<br />
que exigem desses profissionais um<br />
preparo metodológico rigoroso, daí torna-se<br />
importantes muitos esclarecimentos, que, às<br />
vezes, por motivo de espaço, foram aqui omitidos.<br />
Contudo, ao longo de uma vasta bibliografia<br />
essas temáticas poderão ser consultadas<br />
e debatidas em outros estudos ou mesmo eventos<br />
que tenham a história política como tema.<br />
A política está em tudo? Tudo é político?<br />
A pertinência de tais questionamentos é atual,<br />
ainda que muito anteriormente já tenha sido<br />
exposta, principalmente aos historiadores do<br />
político. Vemos então que a resolução para os<br />
problemas sociais estaria, na esfera do político,<br />
do poder. Assim, “algumas pessoas passaram<br />
[...] da constatação de que o político está<br />
em toda parte à ideia de que tudo é político.”<br />
(RÉMOND, 2003: 25). Se isso trouxe problemas<br />
à história política, pois “a política (é) responsável<br />
por tudo o que deixa a desejar na sociedade”,<br />
também foi um modo de renovar os<br />
ares dessa corrente. Exemplo disso é o fato de<br />
as grandes guerras terem servido para os historiadores<br />
do político como exemplo de que só o<br />
econômico não daria conta da explicação dos<br />
fatores de tomada de território, a motivação<br />
para tais ações passava pelo fator social.<br />
Se os Annales em muito contribuíram,<br />
mediante o enfrentamento, para o amadurecimento<br />
da história política, esta também não se<br />
fechou em si, no seu casulo contra as influências.<br />
Seu maior amadurecimento foi entender<br />
que o processo em que estava necessitava de<br />
mudanças, não só recebidas pela pressão externa,<br />
mas mesmo uma mudança interior em<br />
seus procedimentos e visões.<br />
Embora o embate entre os “novos historiadores”<br />
e a história política tenha acontecido<br />
de maneira muito marcante, forte impressão<br />
causou Fernand Braudel – um dos expoentes<br />
da geração dos Annales – quando lamentou<br />
que a história política tenha possuído o rótulo<br />
de uma história événementielle – “que fica nas<br />
superfícies das coisas e esquece de vincular<br />
os acontecimentos às suas causas profundas”<br />
(RÉMOND, 2003: 17) – já que para ele essa<br />
não era a intenção dos historiadores políticos.<br />
Isso mostra que a luta da nova escola, a qual<br />
surgiu na França - com as duras críticas e às<br />
vezes, injustas - servira para a movimentação<br />
dos historiadores do político, o que resultou<br />
em uma nova direção dessa corrente que hoje<br />
além de notável, é também louvável.<br />
6.<br />
1.<br />
Referências bibliográficas<br />
BERSTEIN, Serge. Culturas políticas e<br />
historiografia. In: AZEVEDO, Cecília<br />
(Org.). Cultura política, memória e<br />
historiografia. Rio de Janeiro: FGV,<br />
2009. p. 29-46.<br />
2. BURKE, Peter. A escola dos Annales<br />
(1929-1989): a revolução francesa da<br />
historiografia. São Paulo: UNESP, 1990.<br />
3.<br />
GOMES, ângela de Castro. Política:<br />
história, ciência, cultura etc. Revista<br />
Estudos históricos, Rio de Janeiro, n.<br />
17, v. 9, 1996. Disponível em: .<br />
Acesso em: 10 jan. <strong>2011</strong>.<br />
49<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
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4.<br />
5.<br />
FALCON, Francisco. História e poder.<br />
In: CARDOSO, Ciro Flamarion (Org.).<br />
Domínios da história: ensaios de teoria<br />
e metodologia. Rio de Janeiro: Campus,<br />
1997. p. 61-89.<br />
LE GOFF, Jacques. A política sera ainda<br />
a ossatura da história? In: ________. O<br />
maravilhoso e o quotidiano no Ocidente<br />
medieval. Lisboa: Edições 70, 1990. p.<br />
221-242.<br />
6. ________. História e memória.<br />
Campinas: Ed. Unicamp, 2003.<br />
7. REIS, José Carlos. A história, entre a<br />
filosofia e a ciência. 3. ed. Belo Horizonte:<br />
Autêntica, 2004.<br />
8.<br />
9.<br />
RÉMOND, René. Uma história presente.<br />
In: ________ (Org.). Por uma história<br />
política. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV,<br />
2003. p. 13-36.<br />
RÉMOND, René. Do político. In:<br />
________ (Org.). Por uma história<br />
política. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV,<br />
2003. p. 441-454.<br />
10. WINOCK, Michel. As ideias políticas.<br />
In: RÉMOND, René. (Org.). Por uma<br />
história política. 2. ed. Rio de Janeiro:<br />
FGV, 2003. p. 271-294.<br />
Endereço para Correspondência:<br />
Rafael Willian Clemente<br />
rwclemente@id.uff.br<br />
Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />
Avenida Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325<br />
Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />
CEP: 27240-560<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />
CLEMENTE, Rafael Willian. História Política e a “Nova História”: um breve acerto de contas. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:<br />
Link patrocinado: uma nova forma de publicidade na internet<br />
Sponsored link: a new form of advertising on the internet<br />
Bruna Viana de Abreu Gonçalves 1<br />
Douglas Baltazar Gonçalves 2<br />
Ivanete da Rosa Silva de Oliveira 3<br />
Palavras-chave:<br />
Link Patrocinado<br />
Publicidade na<br />
Internet<br />
AdWords<br />
Propaganda na<br />
Internet.<br />
Abstract<br />
Resumo<br />
O Link Patrocinado é uma nova e diferenciada forma de publicidade na<br />
internet. Este artigo procura levantar as tendências sobre o uso do Link<br />
Patrocinado pelas empresas da Região Sul Fluminense, analisando como<br />
este estilo de publicidade pode atingir mais clientes para o negócio e<br />
fortalecer a marca perante os consumidores.<br />
Sponsored Link is a new and different form of Internet advertising. This<br />
article seeks to raise the trends on the use of Link Sponsored by businesses<br />
in the South Fluminense, analyzing how this style of advertising can reach<br />
more customers for the business and strengthen the brand for consumers.<br />
Key words:<br />
Sponsored Link<br />
Internet<br />
Advertising<br />
AdWords<br />
Internet<br />
Propaganda<br />
1 MBA em Gestão Empresarial e Negócios, Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda - <strong>UniFOA</strong><br />
2 Mestrando em História; Pós Graduação em Comunicação Empresarial, Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo - <strong>UniFOA</strong><br />
3 Doutoranda em Políticas Públicas; Mestrado em Educação Física, Graduação em Pedagogia e em Educação Física - <strong>UniFOA</strong><br />
51<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
06/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
1.<br />
Introdução<br />
O Link Patrocinado é uma nova forma de<br />
publicidade que chega trazendo um diferencial<br />
para as empresas, pois alia preço e benefício e<br />
pode ser disponibilizado a qualquer mercado<br />
no ambiente da internet.<br />
Segundo Monteiro (2006) a internet possui<br />
mais de um bilhão de internautas no mundo,<br />
assim, não se pode desconsiderar o fato de<br />
que a web possui mais de um bilhão de consumidores.<br />
Como a internet hoje é extensiva a milhares<br />
de pessoas, para que os usuários possam<br />
procurar assuntos de seus interesses com<br />
mais eficácia e rapidez, são utilizados os sites<br />
de busca. Esses sites, chamados de Links<br />
Patrocinados, são formas de publicidade mais<br />
acessíveis ao empreendedor, além de ser rentáveis,<br />
já que os sites buscadores têm cerca de<br />
200 milhões de visitantes por dia.<br />
Contudo, a dificuldade de achar assuntos<br />
que são relevantes para os usuários é enorme,<br />
pois o leque de opções é de tamanho inimaginável.<br />
Então, de acordo Leitão (2006) foram<br />
criados os sites buscadores para servirem de<br />
filtro para o usuário ir direto no seu foco.<br />
Monteiro (2006) mostra que 90% dos<br />
usuários americanos de Internet usam diariamente<br />
os instrumentos de pesquisa, perdendo<br />
somente para o uso do e-mail. De acordo com<br />
essas informações, o uso de buscadores vêm<br />
crescendo rapidamente.<br />
Foi constatado, de acordo com as análises<br />
de Monteiro (2006), que o Google, Yahoo,<br />
AOL e MSN estão entre os principais instrumentos<br />
de busca no mundo com grande investimento<br />
em divulgação on-line.<br />
Oikawa (2005) afirma, porém, que quando<br />
a empresa está na internet fora das primeiras<br />
páginas de resultado na busca dessa empresa,<br />
para os internautas, fica na condição de<br />
“invisível”.<br />
O incremento incontrolável de concorrentes,<br />
dentro e fora da Web, abriu a necessidade<br />
de implementar uma nova forma de destaque<br />
para as empresas: o Link Patrocinado. Essa<br />
ferramenta é uma forma simples e acessível de<br />
publicidade, que facilita a busca por determinado<br />
tema de interesse ao público na internet.<br />
Ele pode ser contratado por qualquer segmento<br />
de mercado e ajuda o público chegar direta-<br />
mente ao que ele procura. Seu foco é destacar<br />
peças publicitárias que estejam na internet.<br />
Esse novo formato de publicidade foi<br />
criado pelo empresário americano Bill Gross,<br />
que utilizava o site www.goto.com para a comercialização<br />
de espaços. Esse foi o primeiro<br />
site a praticar a venda de publicidade em<br />
forma de Link Patrocinado e que demonstrou<br />
aos seus clientes que o usuário se decide pelo<br />
produto ou marca que já lhe é familiar. Após o<br />
ano de 2001, quando o site foi adquirido pelo<br />
Yahoo, a Google passou a utilizar seu próprio<br />
sistema de Link Patrocinado, chamado Google<br />
Adwords, que hoje é a principal fonte de receita<br />
do Google (MONTEIRO, 2006).<br />
O Google é a maior referência em sites<br />
de busca, atualmente, sendo ele a empresa que<br />
cresceu mais rápido na história, no período de<br />
2001 a 2005.<br />
Toda publicidade tem como objetivo evidenciar<br />
a marca e o Link Patrocinado faz isso,<br />
por um orçamento acessível a qualquer investidor,<br />
atingindo também as diversas classes<br />
que têm acesso a rede.<br />
De acordo com Monteiro (2006), os Links<br />
patrocinados possuem uma forma de publicidade<br />
original para o internauta, pois, o resultado<br />
aparece a partir de uma palavra-chave de<br />
seu interesse.<br />
Sendo assim, o Link Patrocinado é a publicidade<br />
feita dentro dos sites de busca, em<br />
forma de texto, aparecendo através da segmentação<br />
na escolha de termos relacionados<br />
ao assunto.<br />
O modelo de negócio de geração de receita,<br />
utilizado pelos instrumentos de pesquisa<br />
on-line, é baseado nos Links patrocinados.<br />
Portanto, essa metodologia é focada em anúncios<br />
de textos, apresentados em conjunto com<br />
as páginas de resposta, onde o anunciante paga<br />
apenas quando algum internauta clica em seu<br />
anúncio. O anunciante não é mais cobrado<br />
pela exposição, é cobrado pelo desempenho<br />
da sua campanha.<br />
Esse novo modelo de negócios usa a incrível<br />
força que os instrumentos de pesquisa<br />
têm ganhado como pontos de partida da sua<br />
navegação on-line. Por outro lado, os instrumentos<br />
de pesquisa desenvolveram sistemas<br />
de gerenciamento de campanhas de Links patrocinados,<br />
nos quais o anunciante escolhe entre<br />
centenas de opções o seu mercado-alvo.
Dessa forma, Links patrocinados passa-<br />
ram a ser uma opção viável para veiculação<br />
de campanhas nacionais ou internacionais,<br />
através dos seus respectivos instrumentos de<br />
pesquisa com inúmeras vantagens para o mercado<br />
anunciante.<br />
Conforme defendido por Montardo<br />
(2006), os anúncios no Link patrocinado são<br />
um novo canal de veiculação que possui 234<br />
mercados-alvo diferentes que podem ser facilmente<br />
gerenciados.<br />
Diante do exposto, constitui-se um fato<br />
inquestionável que o mercado publicitário se<br />
expandiu muito com a Internet e, com isso,<br />
empresas pequenas conseguiram conquistar<br />
seu espaço e atingir seu público específico, investindo<br />
um valor não abusivo em relação ao<br />
seu orçamento.<br />
A hipótese levantada neste trabalho é que<br />
as pequenas, médias e grandes empresas da<br />
região Sul Fluminense estão preparadas para<br />
o uso do Link patrocinado, encontrando nele<br />
uma alternativa rentável. Para aferir essa hipótese,<br />
realizar-se-á uma pesquisa com usuários<br />
da Internet na região Sul Fluminense e também<br />
com empresas que têm interesse em colocar<br />
o seu negócio em evidência na Internet.<br />
A estrutura deste trabalho contempla a<br />
metodologia aplicada à pesquisa, a descrição<br />
dos resultados obtidos com o uso da metodologia<br />
e os resultados obtidos pela pesquisa. A<br />
conclusão do artigo apresenta as vantagens e<br />
desvantagens do uso do Link patrocinado nas<br />
empresas da região Sul Fluminense.<br />
2.<br />
Metodologia<br />
De acordo com o objeto da análise, foram<br />
definidas duas etapas para captar resultados e<br />
defender a hipótese principal, a qual sugere-se<br />
que o Link patrocinado é um estilo de publicidade<br />
que pode agregar muito para empresas de<br />
diversos tamanhos e segmentos.<br />
A utilização de questionários foi definida<br />
a partir da teoria proposta por Günter (2003),<br />
na qual uma comprovação determinada, a partir<br />
da análise do comportamento humano, é<br />
efetuada por meio de questionamentos delimitados<br />
através de situações.<br />
A escolha do questionário fechado para a<br />
pesquisa com os estudantes é justificada pelo<br />
fato de abordar, de forma mais direta, o objetivo<br />
de análise com maios eficácia e precisão.<br />
Dessa forma, a objetividade, ao invés da subjetividade,<br />
constitui-se em referência teóricometodológica<br />
para conhecer os usuários da<br />
região, seus hábitos e costumes.<br />
Nesse caso, Günter (2003), afirma que<br />
esse tipo de perguntas utilizadas em questionários<br />
mostra mais respeito aos entrevistados,<br />
pois lhe dá as direções que ele pode tomar para<br />
a resposta, classificando-as como positivas,<br />
negativas ou neutras, diminuindo o tempo de<br />
análise do pesquisador.<br />
Contudo, para os empresários, foi escolhido<br />
o questionário aberto, pois era necessário<br />
apreender com exatidão qual era o método<br />
de divulgação utilizado pelas empresas locais<br />
e se o uso da internet era potencializado devido<br />
ao fato de ser um meio de comunicação<br />
de fácil acesso e que atinge uma quantidade<br />
considerável de possíveis clientes.<br />
O questionário aberto também é apropriado<br />
(GÜNTER, 2003) para uma pesquisa<br />
inicial em que não se conhece a variabilidade<br />
das possíveis respostas.<br />
Na primeira etapa, que é quantitativa,<br />
será desenvolvido um questionário fechado,<br />
ou seja, em que as respostas já estão pré-definidas,<br />
sendo mais objetivos e permitindo apenas<br />
que o usuário escolha uma das existentes.<br />
Esse método visa à comparação entre as respostas<br />
das pessoas analisadas.<br />
Nessa etapa estar-se-á analisando o universo<br />
de universitários, a partir de uma amostragem<br />
de 50 alunos de distintas cidades -<br />
Barra Mansa, Volta Redonda, Resende, Barra<br />
do Piraí e Quatis. A escolha desse universo é<br />
propícia, já que este segmento possui poder<br />
aquisitivo e independência para fazer escolhas<br />
em relação a lojas que deseja obter produtos e/<br />
ou serviços.<br />
A segunda etapa é qualitativa, quando será<br />
entrevistado o universo dos empresários da região<br />
Sul Fluminense, a partir de uma amostra<br />
de três empresas, para coletar resultados sobre<br />
o investimento dessas empresas em publicidade<br />
na internet. A análise será a partir de questões<br />
em que os empresários possam proporcionar<br />
respostas de maior profundidade, com maior<br />
liberdade para que se consigam resultados minuciosos<br />
e detalhados sobre toda ação das empresas<br />
em relação à publicidade na internet.<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
A seguir, são mostradas as características<br />
das três empresas pesquisadas:<br />
A primeira empresa possui duas décadas<br />
de experiência profissional no ramo da saúde,<br />
a profissional responsável apostou na internet<br />
como um novo canal para a conquista de novos<br />
pacientes. Ela é referência no tratamento<br />
bucal, já que trabalha para prefeitura de diversos<br />
municípios da região sul fluminense.<br />
A segunda empresa possui muitos anos<br />
de experiência na área de publicidade para internet,<br />
a empresa se destaca por oferecer um<br />
leque grande de serviços a clientes de todo o<br />
país. A empresa se diferencia por atuar pela<br />
internet, seus valores são mais acessíveis do<br />
que a maioria das agências, já que há uma despesa<br />
menor em gastos, pois todo o trâmite é<br />
online.<br />
Novata no ramo de publicidade, a terceira<br />
empresa visa tanto à publicidade impressa<br />
quanto a online. Seus trabalhos já foram reconhecidos<br />
e se encontram expostos em lugares<br />
privilegiados como o Sider Shopping. A conquista<br />
de novos clientes é essencial, por isso a<br />
empresa expande seus canais de atendimento<br />
para diversos lugares como a internet.<br />
3.<br />
Resultados Obtidos<br />
3.1.<br />
Questionário Fechado<br />
A pesquisa confirma que mais 56% das<br />
pessoas ficam mais de 5 horas online diariamente,<br />
sendo que 30% ficam de 3 a 5 horas e<br />
14% de 1 a 2 horas, com esses dados captados,<br />
foi possível atingir o objetivo dessa análise.<br />
Como ilustra i gráfico 1, a maioria dos entrevistados,<br />
quando entra na Internet, acessa em<br />
30% sites de busca, sendo que 22% acessam email;<br />
18%, o Orkut e <strong>16</strong>% , sites de notícias.<br />
Portais e outros ficaram abaixo de 10%.<br />
Gráfico 1. Representação Gráfica do primeiro site<br />
acessado ao entrar na Internet.<br />
A maioria dos entrevistados (gráfico 2),<br />
quando carrega seu browser, o site inicial em 48%<br />
dos pesquisados acessam o site de busca Google;<br />
10% acessam o site da Uol, sendo 14% outros<br />
navegadores não citados na pesquisa. Outros sites<br />
de busca como: Orkut, Gmail, Yahoo, Globo.<br />
com e Hotmail ficaram abaixo de 10%.<br />
Gráfico 2.<br />
Representação Gráfica da página inicial do navegador.<br />
O site mais acessado pelos entrevistados,<br />
em 80%, é o Google. Sendo que, MSN, Cadê,<br />
Yahoo, Uol Busca e Outros ficaram abaixo de<br />
10% (gráfico 3).<br />
Gráfico 3.<br />
Representação Gráfica do site de busca mais acessado.<br />
Os entrevistados costumam exibir uma<br />
quantidade razoável das páginas de resultados<br />
das buscas feitas na web, com isso, 32% exibem<br />
somente as 2ª e 3ª páginas, seguido de um<br />
empate nos resultados ficando com 28% tanto<br />
da 4ª a 6ª página como a da 7ª página ou mais.<br />
Sendo que, somente <strong>12</strong>% exibem somente a<br />
primeira página de pesquisa (gráfico 4).<br />
Gráfico 4. Representação Gráfica<br />
da quantidade de página de exibição.<br />
Feita essa pesquisa, foi possível notar que<br />
uma quantidade considerada de entrevistados,<br />
quando tem interesse em algum produto ou<br />
serviço, costumam procurar pela web.
Dos entrevistados, 68% já procura-<br />
ram alguma categoria de lojas na região Sul<br />
Fluminense, 72% já procuraram por uma loja<br />
específica na mesma região; mas, da mesma<br />
forma, houve um empate de 50% quando a situação<br />
foi entrar em contato ou visitar a loja.<br />
Mesmo obtendo todos esses resultados,<br />
conforme descrito no gráfico 5, 64% afirmaram<br />
que não efetuam a compra. Somente 36%<br />
realizam a compra.<br />
Gráfico 5. Representação Gráfica da efetuação de compra.<br />
3.2.<br />
Questionário Aberto<br />
Essa comprovação entre as três empresas<br />
participantes desta pesquisa é demonstrada<br />
na tabela 1. Na região Sul Fluminense, quanto<br />
mais tempo de atuação a empresa possui,<br />
maior o seu investimento em propaganda.<br />
Com isso, a empresa de 22 anos investe em<br />
cartão de visita e mala direta para clientes, em<br />
datas especiais, sendo que, em internet, é feita<br />
somente a divulgação em classificados gratuitos.<br />
A empresa que possui sete anos de atuação<br />
investe ardualmente no mercado livre e<br />
em Links patrocinados, de onde obtém maior<br />
número de clientes. Também possui flyers, folders,<br />
cartões e participa de várias feiras, além,<br />
do Link patrocinado do Google e do Yahoo,<br />
com parcerias de banners com clientes e a divulgação<br />
no Mercado Livre e Toda Oferta.<br />
A empresa de somente um ano investe<br />
em cartões e flyers, além de divulgação na<br />
internet; seu investimento na internet é feita<br />
apenas com anúncios em sites de divulgação<br />
gratuito, como o google maps, anúncio no que<br />
barato, toda oferta e outros similares.<br />
Tempo de<br />
Atuação<br />
Investimento<br />
em<br />
Propaganda<br />
Investimento<br />
na Internet<br />
22 anos R$ 1.000,00 Zero<br />
7 anos R$ 500,00 /mês R$ 200,00 /mês<br />
1 ano R$ 300,00 / mês Zero<br />
Tabela 1. Investimento das empresas.<br />
Todas as empresas entrevistadas possuem<br />
site, sendo que, nem todas fazem a divulgação<br />
do seu serviço através do Link Patrocinado (tabela<br />
2).<br />
O site da empresa de 22 anos possui página<br />
principal, perfil, casos clínicos, contato e<br />
orçamento, sendo que, alguns clientes já contrataram<br />
a empresa pelo site. O Link contato é<br />
de fácil acesso, possuindo endereço, telefone<br />
e e-mail. O site da empresa aparece na quarta<br />
página em sites de busca. Segundo o empresário<br />
entrevistado, ele já ouviu falar sobre o<br />
Link Patrocinado, tem interesse em investir,<br />
mas não tem o conhecimento necessário sobre<br />
o assunto.<br />
A homepage da empresa de sete anos<br />
possui página principal, conheça-nos, serviços,<br />
amostra de serviços, orçamento, portifólio,<br />
equipe e contato. Possui o máximo de<br />
informação possível como skype, msn, e-mail,<br />
telefone, celular e endereço. O site ainda conta<br />
com um formulário de contato e um atendimento<br />
online. A maioria dos clientes contrata<br />
os serviços pela Internet, possuindo muitos<br />
que já visitaram a empresa pelo contato feito<br />
pela internet. O site da empresa aparece nos<br />
sites de busca, principalmente, por estar localizado<br />
entre o Link patrocinado. O entrevistado<br />
investe em Link patrocinado por ser um<br />
investimento barato, eficaz e que ele mesmo<br />
pode estar controlando.<br />
A página online da empresa de um ano<br />
possui a página principal, quem somos portfolio<br />
com amostras de alguns serviços, índice<br />
de serviços, página de orçamento e contato. A<br />
página de contato é simples, contendo dados<br />
como e-mail, msn, skype, google talk, endereço<br />
e telefone. Além disso, o rodapé das<br />
páginas possui essas informações. De acordo<br />
com o empresário entrevistado, ele conhece<br />
o Link patrocinado e pretende investir porque<br />
tem concorrentes que estão conseguindo bons<br />
resultados utilizando este serviço.<br />
Tempo de<br />
Atuação<br />
Possui Site<br />
Link<br />
Patrocinado<br />
22 anos Sim Não<br />
7 anos Sim Sim<br />
1 ano Sim Sim<br />
Tabela 2. Divulgação na Internet<br />
55<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
4.<br />
Resultados<br />
Foi possível comprovar que o número de<br />
usuários a internet na região Sul Fluminense é<br />
realmente significante e tende a crescer. Assim,<br />
as empresas devem atentar a isso, pois, o fato<br />
de produtos e serviços serem ofertados pela internet<br />
tornou-se uma tendência obrigatória para<br />
a maioria. Entretanto, ressalta-se que a maioria<br />
não chega a finalizar a compra, apenas a pesquisa.<br />
Acredita-se que esse fato ocorra por causa<br />
da grande variedade de opções e também porque<br />
as empresas da região Sul fluminense não<br />
disponibilizam em seus sites as informações<br />
necessárias sobre seus produtos e serviços.<br />
Outro fato que se destaca é a utilização<br />
do Google como navegador padrão por 80%<br />
dos entrevistados, indicando assim a força e<br />
a presença deste no cotidiano dos usuários de<br />
234 países, conforme destacado por Monteiro<br />
(2006), e mostrando que as ações no Link patrocinado<br />
nestas empresas podem ser definitivas<br />
para a conquista do cliente.<br />
Constata-se que o investimento em publicidade<br />
na internet é característica das empresas<br />
mais novas, que se mantém mais atualizadas<br />
em relação às questões emergentes do mercado.<br />
Como comprovação, encontramos uma entrevistada<br />
que divide em respectivamente 60% e<br />
40% do seu orçamento em publicidade impressa<br />
e publicidade veiculada em sites de internet.<br />
Foi possível comprovar também que as<br />
empresas conhecem o Link patrocinado e sabem<br />
os benefícios que essa forma de publicidade<br />
pode trazer para o seu negócio. Fica claro<br />
que as empresas estão preocupada em se expor<br />
na internet, assim elas aproveitam dos sites com<br />
cadastro gratuito para colocarem sua marca. As<br />
empresas também investem em seus próprios<br />
sites, exibindo diversos canais de comunicação<br />
para que o usuário sinta-se livre para escolher o<br />
melhor caminho para chegar até a empresa.<br />
4.1.<br />
Vantagens e Desvantagens<br />
Seguindo os pontos expostos por<br />
Monteiro (2006), as maiores vantagens do<br />
Link patrocinado são:<br />
• O risco de investimento é inferior assim<br />
como o custo, já que a empresa que investe<br />
paga apenas pelo acesso do usuário ao seu<br />
site, enquanto a exibição não é cobrada.<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Ele pode ser contratado por pequenas,<br />
médias e grandes empresas.<br />
A campanha vai para o ar quase instantaneamente.<br />
Basta a empresa programá-la ou<br />
contratar uma agencia que o faça. E mesmo<br />
assim, a maioria dos prestadores deste serviço<br />
ensina passo a passo a desenvolvê-lo.<br />
Não há um contrato de veiculação, sendo<br />
que a campanha pode ser paralisada e ativada<br />
no momento que o anunciante desejar.<br />
Os anúncios aparecem em função das palavras-chave<br />
e o público está propício a vê-la,<br />
já que tem interesse no termo.<br />
•<br />
O anunciante tem total controle sobre a<br />
campanha, diferente de outras mídias que<br />
as estatísticas não são 100% confiáveis.<br />
Porém, as desvantagens que foram expostas<br />
por Oikawa (2005) são que:<br />
•<br />
•<br />
5.<br />
Existe uma concorrência desleal, pois empresas<br />
que não são autorizadas podem utilizar<br />
um termo e conseguir clientes de uma empresa<br />
oficial, por confusão na hora da busca.<br />
O fato de a maior parte do público não<br />
ter conhecimento real de que o Link patrocinado<br />
é uma forma de publicidade que<br />
pode ser considerado invasão de privacidade,<br />
pois a pessoa é interceptada pela<br />
publicidade sem a sua autorização.<br />
Conclusão<br />
Foi possível perceber que a publicidade<br />
para internet não se difere de outros segmentos<br />
da publicidade, já que, de acordo com Petit<br />
(2006), para atrair os clientes, é preciso conseguir<br />
que seu anúncio seja objetivo, envolva o<br />
cliente, seja direto e, acima de tudo, persuasivo.<br />
O Link patrocinado consegue envolver<br />
o cliente, pois é conciso, e por isso, objetivo.<br />
Além disso, geralmente é disponibilizado<br />
em um momento em que o consumidor está<br />
propício ao anúncio. Portanto, se utilizado da<br />
maneira correta, consegue atingir todos os objetivos<br />
descritos por Petit (2006).<br />
É possível afirmar que a região sul fluminense<br />
está propícia ao uso dessa nova forma de publicidade,<br />
pois, segundo Negócios Online // Links
Patrocinados, 2005, sua maior função é incentivar<br />
o consumidor potencial a acessar o site da empresa<br />
e a região em destaque possui um público<br />
potencial com conhecimento em internet, que faz<br />
uso por mais de 5 horas por dia e estão, por sua<br />
maioria, acessando em um primeiro momento os<br />
sites de busca e repetindo este procedimento durante<br />
sua permanência em todo o período.<br />
A região também possui empresários que<br />
já estão encaminhando os investimentos publicitários<br />
para a internet, vendo que esse leque de<br />
oportunidades pode ampliar e gerar mais resultados<br />
positivos para a empresa. De acordo com<br />
Negócios Online // Links Patrocinados, 2005, a<br />
publicidade online cresceu em função da performance,<br />
porém, a única forma de publicidade que<br />
garante e gerencia essa performance corretamente,<br />
separando a exibição do anúncio da estatística<br />
de acesso real ao site é o Link patrocinado.<br />
No Brasil, as grandes agências já estão montando<br />
setores especializados em publicidade para<br />
internet com ênfase as mais diversas formas de<br />
publicidade, e o Link patrocinado é uma delas.<br />
A disseminação do Link patrocinado pelo<br />
Brasil é contínua, pois ele – segundo Negócios<br />
Online // Publicidade Inteligente, 2005 – a flexibilidade<br />
é o ponto-chave de diferenciação,<br />
sendo atrativo fundamental para a aquisição<br />
em relação às mídias tradicionais que têm períodos<br />
e preços definidos.<br />
Diversas pequenas, médias, grandes empresas<br />
e marcas consagradas investem nessa<br />
modalidade como: Suzuki, Mercedes Benz,<br />
Pepsi, Ades e Claro.<br />
6.<br />
Referências Bibliográficas<br />
1. CARPENTER, Phil. E-Brands: Como<br />
se constrói uma empresa na Internet à<br />
velocidade máxima. Tradução de Everaldo<br />
Lyra. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.<br />
2. EPPERLEIN, Marcelo. Caro leitor.<br />
Revista UOL Empresa. São Paulo: ano 1,<br />
<strong>nº</strong>. 1, p. 6-7, maio/junho. 2005. Bimestral.<br />
3. GÜNTER, 2003, Hartmut. Como elaborar<br />
um questionário. Série: Planejamento<br />
de Pesquisa nas Ciências Sociais, <strong>nº</strong><br />
01. Brasília, DF: UnB, Laboratório de<br />
Psicologia Ambiental, 2003.<br />
4.<br />
LEITÃO, Antônio; LOBO, Arthur;<br />
BRUNO, Fernanda; ALBUQUERQUE,<br />
Luciana Guilhon; GUIMARÃES, Natália;<br />
BIANCOVILLI, Priscila (Org). O<br />
oráculo de Mountain View: o Google e<br />
sua cartografia do ciberespaço. Revista<br />
da Associação Nacional dos Programas de<br />
Pós-Graduação em Comunicação, 2006.<br />
5. MEMÓRIA, Felipe. Design para a Internet:<br />
projetando a experiência perfeita. Rio de<br />
Janeiro: Elsevier, 2005. - 2ª reimpressão.<br />
6. MONTARDO, Sandra Portella. A busca<br />
é a mensagem: Links patrocinados e<br />
marketing de otimização de busca. Centro<br />
Universitário Feevale.<br />
7. MONTEIRO, Ricardo Vaz. Google Adwords<br />
– A Arte da Guerra. Brasport Editora, 2006.<br />
8. NEGÓCIOS ONLINE // No Mundo. Links<br />
patrocinados são realidade no exterior.<br />
Revista Uol Empresa. São Paulo, ano 1, <strong>nº</strong>.<br />
1, p. 14-15, maio/junho. 2005. Bimestral.<br />
9.<br />
NEGÓCIOS ONLINE // Publicidade Inteligente.<br />
Uma mídia que se faz pelas diferenças.<br />
Revista Uol Empresa. São Paulo: ano 1, <strong>nº</strong>. 1,<br />
p. <strong>16</strong>-18, maio/junho. 2005. Bimestral.<br />
10. NEGÓCIOS ONLINE // Links Patrocinados.<br />
A publicidade online tem nova cara.<br />
Revista Uol Empresa. São Paulo: ano 1,<br />
<strong>nº</strong>. 1, p. 8-<strong>12</strong>, maio/junho. 2005. Bimestral.<br />
11. OIKAWA, A. H. Considerações acerca<br />
da possibilidade de concorrência desleal<br />
nos Links patrocinados em serviços de<br />
busca na Internet. Jus Navigandi, Teresina,<br />
ano 9, n. 613. Disponível em: .<br />
Acesso em: 08 de Novembro de 2008.<br />
<strong>12</strong>. PETIT, Francesc. Propaganda ilimitada.<br />
<strong>12</strong> ed. São Paulo: Futura, 2006.<br />
Endereço para Correspondência:<br />
Ivanete da Rosa Silva de Oliveira<br />
ivanete.oliveira@foa.org.br<br />
Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />
Beco São Vicente - <strong>nº</strong> 36, apt. 101<br />
Centro - Pinheiral - RJ<br />
CEP: 27197-000<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: GONÇALVES,<br />
Bruna Vianna de abreu; GONÇALVES, Douglas Baltazar; OLIVEIRA, Ivanete da Rosa de. Link patrocinado: uma nova forma de publicidade na internet. <strong>Cadernos</strong><br />
<strong>UniFOA</strong> Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:
O exercício da tutela na Educação Inclusiva<br />
The exercise of guardianship in Inclusive Education<br />
Rose Jardim Madureira de Araujo 1<br />
Cláudio Kleina 2<br />
Marcus Vinicius Faria de Araujo 3<br />
Palavras-chave:<br />
Inclusão<br />
Opressão<br />
LIBRAS<br />
Abstract<br />
Resumo<br />
O exercício da tutela na educação inclusiva é o tema do presente trabalho<br />
e está baseado nas políticas inclusivas no ensino de surdos, visando<br />
à capacitação deste no exercício de sua cidadania. O objetivo principal<br />
é o de explicitar a importância do conhecer e do aplicar a cultura surda<br />
como pré-requisito para a construção dos projetos político-pedagógicos<br />
das instituições de ensino em suas gestões inclusivas. A metodologia<br />
utilizada foi a de fazer um contraponto entre a cultura surda e as políticas<br />
educacionais de inclusão vigentes no Brasil. Para o desenvolvimento<br />
de tal abordagem foi feito um paralelo entre as duas faces da<br />
inclusão, a saber: a inclusão opressora e a inclusão libertadora. Concluise<br />
após a pesquisa feita, que as políticas educacionais de inclusão na<br />
realidade produzem uma aculturação do surdo porque desconsideram<br />
a sua cultura e seu potencial construtivo, inventivo e criativo, devido<br />
a um rótulo preconceituoso de deficiência. Por fim, o presente artigo<br />
apresenta sugestões que contribuam para a viabilização de uma educação<br />
construtiva, igualitária e, de fato, inclusiva.<br />
The exercise of guardianship in inclusive education is the theme of this<br />
work and is based on inclusive policies in education of the deaf, aiming<br />
to make him/her able to exercise his/her citizenship. The aim is to explain<br />
the importance of knowing and applying the deaf culture as a requirement<br />
to the construction of the political-pedagogical projects in the teaching<br />
institution inclusive administration. The methodology used aimed to<br />
make a comparison between the deaf culture and the educational politics<br />
of inclusion in Brazil. In order to develop such an approach a parallel<br />
between oppressive inclusion and liberty inclusion were made. The results<br />
of this research show that the inclusion educational politics in fact produce<br />
an acculturation of the deaf because they disregard their culture and their<br />
constructive, inventive and creative potential, due to a preconceived label<br />
of deficiency. Finally this paper presents suggestions that contribute to the<br />
viability of a constructive, equal, and, indeed, inclusive.<br />
1 Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Geraldo Di Biase - UGB. Pós-Graduanda em Educação Inclusiva - LIBRAS pela Faculdade<br />
Educacional da Lapa – FAEL<br />
Key words:<br />
Inclusion<br />
Oppression<br />
LIBRAS<br />
2 Graduado em Sistemas de Informação pela Sociedade Paranaense de Ensino e Informática. Pós-graduado em Formação de Tutores e<br />
Orientadores Acadêmicos em EAD pela Uninter. Pós-graduado em Desenvolvimento em Ambiente WEB pela PUC/PR. Mestre em Educação<br />
pela PUC/PR.<br />
3 Professor do Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong>. Mestre em Planejamento Energético pela UFRJ, Pós-Graduado em Ensino<br />
Superior pelo <strong>UniFOA</strong> e Graduado em Engenharia Química pela UFF.<br />
59<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
04/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
60<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
1.<br />
Introdução<br />
A Lei Magna do Brasil determina a<br />
igualdade para todos e assegura o direito de<br />
acesso à educação como dever do estado.<br />
Considerando que no ano de 2000, o Censo do<br />
IBGE e o INEP apresentaram que nas grandes<br />
cidades do Brasil, os surdos se organizam por<br />
meio de associações de surdos, tornou-se hipótese<br />
do presente trabalho aferir até que ponto<br />
as escolas e as pessoas que fazem parte delas<br />
estão comprometidas com o desenvolvimento<br />
de habilidades e competências visando à capacitação<br />
do surdo no exercício de sua cidadania<br />
e formação profissional.<br />
O objetivo que emergiu a partir da hipótese<br />
despertada foi o de explicitar a importância<br />
do conhecer e do aplicar a cultura surda<br />
como pré-requisito para a construção dos projetos<br />
político-pedagógicos das instituições de<br />
ensino em suas gestões inclusivas.<br />
A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS<br />
é uma das línguas faladas no Brasil com reconhecimento<br />
oficial do governo brasileiro<br />
pela Lei 10.436/ 2002. O reconhecimento da<br />
LIBRAS inicia um processo de consolidação<br />
de políticas educacionais inclusivas no Brasil,<br />
pois veio reforçar a identidade dos surdos, sua<br />
língua e seu jeito de perceber o mundo.<br />
Como limite final é mostrado um diagnóstico<br />
sobre a efetividade dos projetos políticopedagógicos<br />
na construção do desenvolvimento<br />
e capacitação do surdo visando sua autoconfiança<br />
e formação profissional que irá permitir<br />
plenamente o exercício de sua cidadania.<br />
Ao final do trabalho, percebe-se a existência<br />
de um gap entre o que a Lei estabelece<br />
e o que a prática obtém como resultado.<br />
A metodologia utilizada foi a de fazer um<br />
contraponto entre a cultura surda e as políticas<br />
educacionais de inclusão vigentes no Brasil.<br />
Para o desenvolvimento de tal abordagem foi<br />
feito um paralelo entre as duas faces da inclusão,<br />
a saber: a inclusão opressora e a inclusão<br />
libertadora.<br />
2.<br />
Libras: Uma questão de Cultura<br />
Conhecer a história da cultura surda<br />
vai muito mais além do que reconhecer que<br />
existam leis que os amparam em seus direitos<br />
como cidadãos. Precisamos acima de tudo nos<br />
importar com eles, conviver, incluí-los de fato<br />
na sociedade, de forma que estes se sintam<br />
valorizados e indispensáveis. Nessa leitura,<br />
se faz necessário refletirmos sobre as diversas<br />
faces do universo da educação dos surdos ao<br />
longo de sua trajetória e questionar seus erros<br />
e seus acertos, suas conquistas e seus desafios.<br />
Surge então um questionamento do porquê da<br />
existência de uma política de inclusão tão difícil<br />
de ser operacionalizada na sala de aula, já<br />
que o surdo continua excluído.<br />
2.1.<br />
A Gênesis da Cultura Surda<br />
Ao longo da história, a educação de surdos<br />
evoluiu continuamente, apesar das turbulências,<br />
pois, apresentando sempre oportunidades<br />
e mudanças progressivas em alguns<br />
contextos educacionais, foi passando por caminhos<br />
estreitos e limitados pela cultura ouvinista.<br />
Haja vista a educação de surdos ser sempre<br />
determinada por sujeitos ouvintes, já que<br />
os surdos sempre foram minoria linguística, o<br />
foco central sempre girou em torno da língua.<br />
Isto é: Língua de Sinais ou Língua Oral?<br />
2.1.1. Uma cultura, dois olhares<br />
A cultura surda, em sua origem, pode<br />
ser percebida pelo menos sob dois olhares, a<br />
saber: o olhar histórico sob a cultura surda e<br />
o olhar do sujeito surdo frente à realidade do<br />
mundo oralista.<br />
Sacks (1998, p.27) relata que foi no período<br />
compreendido entre 17<strong>12</strong> e 1789, na<br />
França que surgiu pela primeira vez uma escola<br />
para crianças surdas, onde um esboço da<br />
cultura surda começou a se formar. O método<br />
de ensino dessa escola combinava a língua de<br />
sinais com a gramática francesa, culminando<br />
num acesso efetivo bem sucedido à educação<br />
dos surdos.<br />
Tal método ficou conhecido como Método<br />
de L’Eppée em homenagem ao abade Michel<br />
de L’Eppée que foi mentor do início desse processo<br />
de educação inclusiva. A escola citada<br />
acabou por se transformar no Instituto Francês<br />
de Surdos. Posteriormente, no século XIX, nos<br />
Estados Unidos da América (EUA), segundo<br />
Strobel (2006), surgiu a língua de sinais americana<br />
(ASL) deveras influenciada pela língua
francesa de sinais . Num movimento pioneiro,<br />
Thomas H. Gallaudet e Laurent Clerc fundaram<br />
a primeira escola para surdos nos EUA,<br />
a qual foi a base para a fundação da única<br />
Universidade para Surdo no mundo, hoje conhecida<br />
como Universidade de Gallaudet.<br />
É importante ressaltar que no contexto<br />
histórico dos séculos XVIII e XIX qualquer<br />
tipo de deficiência era naturalmente associada<br />
a misticismo e ocultismo, conforme Mazzotta<br />
(1999, p.<strong>16</strong>) afirmou que “[...] até o século<br />
XVIII, as noções a respeito da deficiência<br />
eram basicamente ligadas a misticismo e a<br />
ocultismo, não havendo base científica para o<br />
desenvolvimento de noções realísticas”.<br />
As políticas educacionais para o surdo foram<br />
grandemente impulsionadas no final do século<br />
XIX, mais precisamente em 1880, com o<br />
advento ocorrido na cidade de Milão, na Itália,<br />
conhecido como I Congresso Internacional de<br />
Professores de Surdos. Naquela oportunidade,<br />
travou-se algo similar a um embate entre<br />
defensores do oralismo e os defensores das<br />
línguas de sinais. Sendo a grande maioria dos<br />
participantes defensores do oralismo, segundo<br />
Lacerda (1998, pp. 68-80), a única oposição<br />
significativa ao oralismo foi apresentada por<br />
Gallaudet, que, entretanto, não foi suficiente<br />
para evitar que o oralismo prevalecesse praticamente<br />
de 1880 até por volta de 1970 (<br />
FILIETAZ, 2006, p.20). Os surdos foram condenados<br />
a abdicar de sua própria língua e forçados<br />
a adaptar-se a cultura ouvinte.<br />
Em 1857, foi fundada, no Brasil, a primeira<br />
escola para surdos: O Instituto dos Surdos-<br />
Mudos, hoje, Instituto Nacional da Educação<br />
de Surdos (INES). Tal iniciativa decorreu do<br />
convite de Dom Pedro II ao professor Huet,<br />
formado no Instituto Francês de Surdo.<br />
Soares (1999 apud FILIETAZ, 2006,<br />
p.21), relata que em 1896 o governo brasileiro<br />
enviou o professor do INES, A.J. de Moura<br />
e Silva, ao Instituto Francês de Surdos visando<br />
avaliar a metodologia oralista indicada no<br />
Congresso de Milão.<br />
O resultado prático dessa avaliação<br />
foi adoção no Brasil do oralismo puro<br />
(OLIVEIRA, 2006 apud FILIETAZ, 2006,<br />
p.22). Isso não significou que o ensino de<br />
LIBRAS tenha sido banido, em sua íntegra,<br />
no Brasil, mas que tenha ficado em uma espécie<br />
de “estágio esporulado”.<br />
No decorrer do séc. XX, diversos estudos<br />
e experiências sobre linguagem, educação e<br />
surdez mostraram grandes brechas no método<br />
oralista, pois este acabava por reforçar que o<br />
surdo na verdade era um ouvinte deficiente. De<br />
certo modo era uma manifestação daquilo que<br />
M.Foucalt (1984, p.28) afirmou em sua obra<br />
intitulada Doença Mental e Psicologia: “É próprio<br />
à nossa cultura dar à doença o sentido do<br />
desvio e ao doente um status que o exclui”.<br />
Segundo Perlin (1997, p.56), ser surdo é<br />
pertencer a um mundo de experiência visual e<br />
não auditiva. Essa afirmativa parece ter sido<br />
inspirada na mobilização da comunidade surda,<br />
que ocorreu a partir de meados de 1960,<br />
cujo objeto era o reconhecimento do surdo<br />
como sujeito social.<br />
2.1.2. O olhar do sujeito surdo<br />
Certamente que uma criança não nasce<br />
surda-muda: elas são surdas ou ouvintes.<br />
Segundo a Secretaria de Educação Especial<br />
do MEC(Brasil, 2005), as competências e deficiências<br />
provenientes dos diferentes níveis<br />
de surdez incluem as seguintes características:<br />
surdez leve, surdez moderada, surdez severa<br />
e surdez profunda. Como surdez leve entende-se<br />
que a mesma ocorre quando a criança é<br />
capaz de perceber os sons da fala adquire e desenvolve<br />
linguagem oral espontaneamente e o<br />
problema geralmente é descoberto tardiamente.<br />
Dificilmente, nesse caso, há necessidade<br />
de uso de aparelho de amplificação, uma vez<br />
que a audição é próxima do nível considerado<br />
normal; Na surdez moderada, a criança pode<br />
apresentar algum atraso no desenvolvimento<br />
da fala e da linguagem; apresenta também<br />
alterações articulatórias (trocas na fala) por<br />
não perceber todos os sons com clareza, tem<br />
dificuldade em perceber a fala em ambientes<br />
ruidosos; apresentam desatenção e dificuldade<br />
no aprendizado da leitura e da escrita.<br />
Na surdez severa, a criança apresenta<br />
dificuldade em adquirir a fala e a linguagem<br />
espontaneamente, podendo, porém, adquirir<br />
vocabulário próprio de seu contexto familiar<br />
e, por fim, a surdez profunda quando a criança<br />
dificilmente desenvolverá linguagem oral espontaneamente;<br />
responde auditivamente apenas<br />
a sons muitos intensos (vibrações). Apesar<br />
dos níveis de surdez, devemos observar a rea-<br />
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lidade inicial do ser humano em suas primei-<br />
ras experiências sociais.<br />
Ao chorar, o bebê prova que tem cordas<br />
vocais; ou seja, ele emite sons. Na medida em<br />
que vai desenvolvendo seu relacionamento<br />
com os pais, vai observando e respondendo<br />
aos estímulos recebidos. Mas se não puder<br />
ouvir a voz que o estimula não haverá resposta<br />
de aprendizado oral, pois não pode imitar<br />
algo que não foi percebido. Por isso não fala.<br />
Já uma criança ouvinte vai reproduzir o que<br />
ouviu. Para ilustrar melhor o dilema enfrentado<br />
pelo sujeito surdo ,na construção da sua<br />
identidade, citamos um exemplo dado por<br />
Santana, Bergamo (2005 apud FAEL, apostila<br />
de Cultura Surda, 2010, p.3).<br />
Paula: // escreve “ pensei que eu era a<br />
única surda no mundo”// porque ouvinte<br />
fala. Eu olhava para a sua boca e não<br />
compreendia. Não sabia por que eu não<br />
podia falar. Ficava decepcionada // escreve<br />
“decepcionada”// Tentei descobrir<br />
por que eu não podia falar (...) Surdo<br />
nasce. A mãe ensina a falar, a estudar.<br />
Não sabe sinais. Não pode fazer sinais.<br />
Fazer sinais implica ser acomodado e<br />
não falar. Assim, ele cresce sem conhecer<br />
sinais sem nunca ter encontrado outro<br />
surdo. Um dia, ele vai passando pela<br />
rua e encontra um surdo fazendo sinais.<br />
Ele olha para os movimentos das mãos e<br />
estranha. Pergunta ao surdo: “você não<br />
ouve?”. “Não. Sou surdo. Todos aqui<br />
são.” “Eu também sou. Eu não escuto.<br />
Eu só falo. “ Vê os sinais e pergunta: “O<br />
que é isso? Eu não sei. Eu queria aprender”.<br />
Ele começa a aprender língua de<br />
sinais. Depois, em casa, com a família,<br />
não se sente bem em falar. Quer aprender<br />
a língua de sinais. Como podemos<br />
ver é imprescindível o envolvimento<br />
dos pais na identidade cultural de seus<br />
filhos, a família, a escola, as instituições,<br />
todos devem se incluir na cultura<br />
do outro para haver troca de experimentações<br />
e aprendizagem.<br />
Daí a importância de famílias de surdos<br />
que possuam cultura ouvinte perceberem, o<br />
mais rápido possível, a surdez, respeitando a<br />
possibilidade de comunicação do filho com<br />
outra cultura, a saber: a cultura surda. Além<br />
disso, é mister introduzir o filho surdo na comunidade<br />
surda local o quanto antes, bem<br />
como os próprios familiares participarem dessa<br />
comunidade de modo a fortalecer vínculos<br />
familiares e libertarem-se de preconceitos.<br />
2.2.<br />
Língua e Identidade Surda<br />
A linguagem é essencial para a construção<br />
da identidade, pois é através dela que o<br />
homem se percebe e percebe o outro. A leitura<br />
do sujeito em suas percepções do mundo processa<br />
e fundamenta sua cultura. Assim, uma<br />
criança surda precisa se integrar o mais rápido<br />
possível à Comunidade Surda de sua cidade<br />
para poder ficar com um bom desempenho na<br />
língua de sinais dessa comunidade. Isso facilitará<br />
a compreensão da outra língua em sua<br />
modalidade escrita e quando possível na sua<br />
modalidade falada. É mister então que seja<br />
dada à criança surda, a possibilidade plena de<br />
interação social, alicerçada no fortalecimento<br />
de sua identidade surda. Sendo assim, a Libras<br />
é a ferramenta essencial para o bom desempenho<br />
das atividades do sujeito surdo.<br />
Existe um mito de que as línguas de sinais<br />
são somente um conjunto de gestos que interpretam<br />
as línguas orais. Assim como existe também<br />
o mito de que as línguas de sinais são iguais<br />
em todo o mundo, o que não é verdade, pois as<br />
pessoas surdas de cada parte do mundo têm sua<br />
língua de sinais, assim como a língua oral. Os<br />
usuários de qualquer língua podem expressar<br />
seus pensamentos de formas variadas, assim, a<br />
pessoa que fala uma determinada língua utilizaa<br />
de acordo com o contexto, portanto, o modo<br />
de se falar com seus amigos não é o mesmo<br />
de falar com estranhos. Todas as línguas possuem<br />
diferenças quanto ao seu uso em relação<br />
ao grupo social, ao gênero e a idade. A língua<br />
de sinais, embora seja de modalidade diferente<br />
(gestual visual) também possui essas características<br />
em sua estrutura, porque elas também são<br />
compostas pelos níveis descritos acima.<br />
Uma peculiaridade da língua de sinais<br />
é que embora ela seja diferente da língua de<br />
sinais de outro país, os surdos têm maior facilidade<br />
em comunicar-se com os surdos de<br />
outros países, fato que não acontece entre os<br />
falantes de línguas orais,os quais necessitam<br />
de um tempo bem maior para o entendimento.
O fato de os surdos terem habilidades e<br />
competências para o desenvolvimento e o aproveitamento<br />
de gestos, bem como a sensibilidade<br />
e percepção das expressões faciais e corporais<br />
das pessoas, faz com que a aprendizagem<br />
seja de fácil entendimento. Quando uma pessoa<br />
aprende uma língua, apreende também os hábitos<br />
culturais e os contextos aos quais certas expressões<br />
estão vinculadas. Os comportamentos<br />
das pessoas, diante de eventos diversos, produzem<br />
diferentes modalidades comunicativas.<br />
Segundo a linguista surda Carol Padden<br />
(1989, p.5) existe uma diferença entre cultura<br />
e comunidade. Para ela, “ uma cultura é um<br />
conjunto de comportamentos aprendidos de<br />
um grupo de pessoas que possuem sua própria<br />
língua, valores, regras de comportamento e tradições”.<br />
Ao passo que “ uma comunidade é um<br />
sistema social geral, no qual as pessoas vivem<br />
juntas, compartilham metas comuns e partilham<br />
certas responsabilidades umas com as outras”.<br />
Acrescente-se a esse fato, ser necessário, a observância<br />
na dimensão espacial, isto é: a forma<br />
de ocupação de um grupo de pessoas, via de<br />
regra, faz com que comecem a emergir objetivos<br />
comuns e consequentemente, estratégias<br />
comuns para o alcance de tais objetivos.<br />
Em uma comunidade surda é possível a<br />
interação e a presença de ouvintes. Dessa possibilidade<br />
surgem expectativas promissoras em<br />
relação ao compartilhamento de culturas e metas<br />
comuns de seus membros. Sendo assim, é<br />
possível inferir que uma comunidade surda seja<br />
mais aberta para o novo do que a cultura surda.<br />
Obviamente que ser uma pessoa surda não quer<br />
dizer que esta faça parte de uma cultura e de<br />
uma comunidade surda. Isso ocorre devido ao<br />
fato de que a maioria dos surdos, descendentes<br />
de ouvintes, em sua maioria, não aprendem sua<br />
língua e não convivem com outros surdos nas<br />
associações de surdos. Por conseguinte, formata-se<br />
aí uma crise de identidade em que o surdo<br />
recebe o rótulo de “deficiente auditivo”.<br />
O termo deficiente atribui ao surdo um<br />
jeito de ser, de ver e perceber o mundo de forma<br />
incompleta e inaceitável aos olhos de uma<br />
outra cultura: a cultura ouvinte. Estabelecese,<br />
desse modo, a encarnação de uma pedagogia<br />
opressora, que pretende eternizar o<br />
domínio sobre as minorias, mutatis mutantis,<br />
o sistema de castas existentes em algumas<br />
culturas do mundo.<br />
3.<br />
As Faces da Inclusão<br />
O termo inclusão tem sua origem na expressão<br />
inglesa “full inclusion” e implica, portanto,<br />
em algo pleno, completo. Não é possível<br />
pensar em inclusão e praticá-la de forma<br />
incompleta. Sendo assim, a inclusão deve ser<br />
vista seja através de sua face legal, seja através<br />
de sua face operacional. Entenda-se como face<br />
legal o conjunto de instrumentos regulatórios<br />
que doutrinam o sistema de educação especial;<br />
como face operacional, a prática daquilo que<br />
está estabelecido na legislação.<br />
3.1.<br />
A Face Legal<br />
Devido à tendência natural do homem a<br />
excluir tudo aquilo que não compreende, a inclusão<br />
social necessitou de adaptações legais<br />
em seus diversos níveis a fim de nortear todo<br />
processo construtivo. Desse modo, na esfera<br />
internacional, surgiu, em 1948, a Declaração<br />
Universal dos Direitos Humanos, que fundamentalmente<br />
apregoa que todos somos iguais<br />
perante a Lei sem distinção, possuindo os<br />
mesmos direitos inclusive o da instrução.<br />
A Declaração de Salamanca, em 1994,<br />
na Espanha, é outro instrumento norteador em<br />
âmbito internacional, constituindo-se em um<br />
dos mais importantes compromissos em relação<br />
a direitos educacionais. Em tal documento,<br />
encontramos a declaração de que as escolas<br />
regulares inclusivas seriam o meio mais eficaz<br />
de combater a exclusão de crianças cujas<br />
características diferem daquelas consideradas<br />
normais. No âmbito nacional, em 1988, temos<br />
a Constituição Federal Brasileira que em seu<br />
artigo 208 diz:<br />
O dever do Estado com a educação será<br />
efetivado mediante a garantia de:<br />
I - ensino fundamental obrigatório e<br />
gratuito, assegurada, inclusive, sua<br />
oferta gratuita para todos os que a ele<br />
não tiveram acesso na idade própria;<br />
II - progressiva universalização do ensino<br />
médio gratuito;<br />
III - atendimento educacional especializado<br />
aos portadores de deficiência,<br />
preferencialmente na rede regular de<br />
ensino;<br />
IV - atendimento em creche e pré-es-<br />
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cola às crianças de zero a seis anos de<br />
idade;<br />
V - acesso aos níveis mais elevados de<br />
ensino, da pesquisa e da criação artística,<br />
segundo a capacidade de cada um;<br />
Vl - oferta de ensino noturno regular<br />
adequado às condições do educando;<br />
VII - atendimento ao educando no ensino<br />
fundamental através de programas<br />
suplementares de material didáticoescolar,<br />
transporte, alimentação e assistência<br />
à saúde.<br />
§ 1° O acesso ao ensino obrigatório e<br />
gratuito é direito público subjetivo;<br />
§ 2° O não-oferecimento do ensinoobrigatório<br />
pelo Poder Público, ou sua<br />
oferta irregular importa responsabilidade<br />
da autoridade competente;<br />
§ 3° Compete ao Poder Público<br />
recensear os educandos no ensino<br />
fundamental, fazer lhes a chamada<br />
e zelar, junto aos pais ou responsáveis,<br />
pela frequência à escola.<br />
Outro instrumento normativo de âmbito<br />
nacional é a Lei de Diretrizes e Bases<br />
da Educação – LDBN, que, através da lei<br />
9394/96, determinou que a educação especial,<br />
sendo uma modalidade de educação, deve ser<br />
oferecida, preferencialmente, na rede regular<br />
de ensino aos alunos com necessidades educacionais<br />
especiais.<br />
3.2.<br />
A Face Operacional<br />
Nesse momento de transição metodológica<br />
que é sugerido por uma pedagogia inclusiva<br />
surge a necessidade de conhecer a cultura do<br />
povo surdo, suas aspirações, suas metas sua<br />
diferença cultural e linguística.<br />
Skutnabb-Kangas (1994, p.152) apresenta<br />
os direitos humanos linguísticos:<br />
Todos os seres humanos têm direito de<br />
identificarem-se com uma língua materna<br />
e de serem aceitos e respeitados<br />
por isso.<br />
Todos têm o direito de aprender a língua<br />
materna completamente, nas suas<br />
formas oral (quando fisiologicamente<br />
possível) e escrita (pressupondo que a<br />
minoria linguística seja educada na sua<br />
língua materna).<br />
Todos têm o direito de usar sua língua<br />
materna em todas as situações oficiais<br />
(inclusive na escola);<br />
Qualquer mudança que ocorra na<br />
língua materna deve ser voluntária<br />
e nunca imposta.<br />
A LIBRAS é a língua de sinais natural<br />
dos surdos brasileiros com estruturas gramaticais<br />
necessárias e é reconhecida pela linguística.<br />
Pesquisas já comprovaram que quanto<br />
mais cedo o surdo entrar em contato com<br />
sua língua natural - a LIBRAS - mais eficaz<br />
e facilitada será sua integração na sociedade.<br />
Segundo o IBGE (Censo de 2000), para cada<br />
100 mil homens em 2000, 103,4 eram surdos,<br />
enquanto entre as mulheres a relação era de<br />
92,7. Em 1991, esses valores correspondiam a<br />
<strong>12</strong>5,1 e 111,5, respectivamente. A incidência<br />
da surdez em 2000 era mais comum nos estados<br />
de Piauí, Paraíba, Pernambuco e Sergipe<br />
(Nordeste), no Tocantins (Norte) e em Goiás<br />
(Centro-Oeste).<br />
É notório que a presença da comunidade<br />
surda no Brasil é mais concentrada nos grandes<br />
centros onde os surdos se organizam por<br />
meio das associações onde se estabelecem os<br />
vínculos culturais.<br />
A face operacional nos mostra que devemos<br />
olhar a inclusão e reconhecer que, ao se<br />
pensar em incluir o outro, é fundamental estar<br />
disposto a se incluir na realidade da cultura<br />
surda para haver o processo de troca, gerador<br />
de aprendizagem efetiva. Desse modo, a face<br />
operacional da inclusão pode ser vista por dois<br />
lados distintos, como se fora uma moeda; de<br />
um lado da moeda, se apresenta uma inclusão<br />
opressora, e de outro lado da mesma moeda,<br />
uma inclusão libertadora, conforme podemos<br />
observar na figura 1.<br />
Figura 1: Os olhares para a inclusão.<br />
Fonte: Ilustração proposta por ARAUJO, Rose J. M. de, <strong>2011</strong>.
Percebe-se assim que uma política educa-<br />
cional inclusiva necessita ser verificada, avaliada<br />
periodicamente de modo a sofrer ajustes<br />
que corrijam eventuais distorções que somente<br />
aparecem no transcorrer da face operacional.<br />
A existência de dois olhares diametralmente<br />
opostos para o mesmo desafio, que é a<br />
inclusão do sujeito surdo, demonstra que ações<br />
corretivas tutoriais devem ser tomadas de modo<br />
a fazer com que a inclusão opressora seja devidamente<br />
banida e dê lugar à inclusão libertadora,<br />
construída sobre os dois fundamentos, a<br />
saber: a cultura surda e a cultura ouvinte.<br />
3.2.1. A inclusão opressora<br />
Chamamos aqui de inclusão opressora<br />
àquela em que sugere que o surdo deve migrar<br />
para outra cultura que não é de sua natureza<br />
linguística. Sobre a questão da opressão Freire<br />
(1996, p.67) disse:<br />
“O respeito à autonomia e à dignidade<br />
de cada um é um imperativo ético e não<br />
um favor que podemos ou não conceder<br />
uns aos outros. (...) É nesse sentido<br />
também que a dialogicidade verdadeira,<br />
em que os sujeitos dialógicos aprendem<br />
e crescem na diferença, sobretudo, no<br />
respeito a ela, é a forma de estar sendo<br />
coerentemente exigida por seres que,<br />
inacabados, assumindo-se como tais, se<br />
tornam radicalmente éticos. É preciso<br />
deixar claro que a transgressão da eticidade<br />
jamais pode ser vista como virtude,<br />
mas como ruptura com a decência.<br />
O que quero dizer é o seguinte: que<br />
alguém se torne machista, racista, classista,<br />
sei lá o quê, mas se assuma como<br />
transgressor da natureza humana. Não<br />
me venha com justificativas genéticas,<br />
sociológicas ou históricas ou filosóficas<br />
para explicar a superioridade da branquitude<br />
sobre a negritude, dos homens<br />
sobre as mulheres, dos patrões sobre os<br />
empregados. Qualquer discriminação é<br />
imoral e lutar contra ela é um dever por<br />
mais que se reconheça a força dos condicionamentos<br />
a enfrentar.”<br />
Desse modo, é preciso transgredir esse<br />
processo opressor que inclui o surdo na es-<br />
cola para o excluir em sala de aula, gerando<br />
sentimentos de menos valia, desprezando e<br />
considerando a identidade surda inferior à<br />
identidade ouvinte. Segundo Perlin (1998,<br />
apud APOSTILA DE CULTURA SURDA<br />
DA FAEL, 2010, p. 1) os defensores da língua<br />
de sinais para os surdos afirmam que é só de<br />
posse desta, considerada “natural”, adquirida<br />
em qualquer idade, que o surdo construirá uma<br />
identidade surda, já que ele não é ouvinte.<br />
3.2.2. A Inclusão libertadora<br />
O verso da moeda ao qual chamamos de<br />
inclusão libertadora está fundamentado no<br />
fato de o sujeito surdo, assim como o sujeito<br />
ouvinte, poder se expressar com confiança em<br />
sua própria identidade, por meio de uma comunhão<br />
com outras línguas. Essa comunhão<br />
com outras línguas pode ser vista como uma<br />
forma de libertação do modelo de inclusão<br />
existente, apresentando um sentido construtivista<br />
e interacional, conforme propuseram<br />
Piaget em 1998 e Vigotsky em 2005.<br />
A inclusão libertadora, portanto, oportuniza<br />
a emancipação do sujeito surdo ante a<br />
opressão de um sistema inclusivo raso e embaçado.<br />
Tal emancipação se dá na migração<br />
da teoria legal para a intervenção prática no<br />
cotidiano de sala de aula.<br />
Fonseca (2007) afirma que a proposta de<br />
Paulo Freire sempre foi pautada nas experiências<br />
do ambiente extra escolar de cada aluno,<br />
como forma de estimular novas práticas educacionais.<br />
Bello(1993) afirmou que para Paulo<br />
Freire, o diálogo seria o elemento chave para<br />
acionar a efetiva troca entre professor e aluno.<br />
Esse diálogo, quando consideramos a relação<br />
surdo-ouvinte pode ser expresso como a necessidade<br />
do bilinguismo. Para a realização da<br />
inclusão libertadora, é necessário então que as<br />
políticas educacionais e inclusivas admitam a<br />
necessidade de amalgamar a cultura ouvinte à<br />
cultura surda. Sobre isso trataremos no próximo<br />
capítulo.<br />
4.<br />
Políticas Públicas para a<br />
Educação Inclusiva<br />
O estabelecimento de políticas públicas<br />
para a educação inclusiva sinaliza<br />
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para o reconhecimento da necessidade<br />
de se tutelar o sujeito surdo de modo a,<br />
verdadeiramente, inseri-lo na sociedade.<br />
Nesse capítulo, discutiremos a efetividade<br />
das políticas públicas para a educação inclusiva,<br />
abordando a evidente defasagem<br />
entre recursos humanos capacitados para<br />
facilitar a construção educativa e as adaptações<br />
curriculares necessárias à sustentação<br />
educacional do sujeito tutelado.<br />
Segundo Frey (2000, pp. 232-233) o termo<br />
política pública é uma referência direta ao<br />
conjunto de leis, regulamentos, diretrizes, planos,<br />
orçamentos e demais decisões originadas<br />
no seio do poder público, tendo em vista o alcance<br />
da satisfação das demandas sociais.<br />
A gestão escolar pautada nessas diretrizes<br />
tem obrigação de valorizar a língua de sinais<br />
em seus currículos, proporcionando ofertar ao<br />
surdo, métodos de ensino de natureza visual<br />
e espacial em que o oralismo é substituído<br />
pelo letramento bilíngue. É importante ressaltar<br />
que as políticas públicas voltadas para<br />
a educação, notadamente a educação inclusiva,<br />
precisa considerar as diferentes realidades<br />
de um país de dimensões continentais como o<br />
Brasil. Somos um povo com alto nível de miscigenação<br />
com grandes diversidades culturais<br />
em todas as regiões do Brasil. Além disso, as<br />
políticas públicas devem considerar a defasagem<br />
entre recursos humanos capacitados para<br />
facilitar a construção educativa e adaptações<br />
curriculares.<br />
Quanto à inclusão em sala de aula, a obra<br />
“Bilinguismo” (FAEL, 2010, p. 4) cita que:<br />
“Com a percepção dos estudiosos<br />
acerca do ensino para surdos, surgiram,<br />
paulatinamente, pontos de vista<br />
mais coerentes com a realidade dos<br />
alunos surdos. Passou-se a reconhecer<br />
que o mais correto é que o ensino<br />
seja oferecido por meio de uma<br />
linguagem visual-espacial (língua<br />
de sinais). É sabido que as escolas<br />
devem desenvolver esta metodologia<br />
de ensino em turmas homogêneas,<br />
para que os alunos possam estar<br />
no mesmo grau de aprendizado,<br />
enfrentando as mesmas situações e<br />
aprendendo a vencê-las. Em contrapartida,<br />
a heterogeneidade (surdos<br />
e ouvintes) nas turmas faz com que<br />
o surdo não acompanhe a maioria<br />
ouvinte, ficando sempre para trás e<br />
se auto julgando impotente diante<br />
das adversidades encontradas em<br />
seu caminho. Para que essa realidade<br />
seja mudada, é importante que<br />
os professores dominem a Libras,<br />
pois assim, terão trabalho e relação<br />
escolar efetiva com seus alunos.”<br />
Figura 2: Cobertura das Políticas Públicas ao<br />
sujeito tutelado.<br />
A figura 2 ilustra as diferentes camadas<br />
de cobertura das Políticas Públicas para a sustentação<br />
educacional do sujeito tutelado.<br />
Fonte: Ilustração proposta por ARAUJO, Rose J. M. de, <strong>2011</strong>.<br />
Um exemplo de sucesso na prática inclu-<br />
siva, relatado por QUADROS (2006, pp. 154-<br />
155), ocorria no Estado de Santa Catarina, o<br />
qual contratava professores de Libras para<br />
atuarem nas escolas. Os depoimentos dos alunos<br />
em relação à presença do professor surdo<br />
eram de muita satisfação. A própria professora<br />
reconhecia o valor desse momento, pois<br />
observava o quanto os alunos desfrutavam da<br />
relação com esse professor. A prática, entretanto,<br />
verificou que, sendo poucos os instrutores<br />
e/ ou professores surdos contratados para<br />
aquela tarefa, eles acabavam reduzindo o seu<br />
envolvimento com cada grupo. Dessa forma,<br />
continuava-se a limitar o acesso dos alunos ao<br />
conhecimento em língua de sinais, pois o tempo<br />
era tão escasso para esta experiência que o<br />
professor ou interprete dominava tão pouco a<br />
língua, que o aluno continuava a não ter modelos<br />
linguísticos adequados, comprometendo,<br />
com isto, o seu processo de aquisição. Além<br />
disso, esse mesmo instrutor/professor teria a<br />
função de preparar o professor e o intérprete
de língua de sinais, bem como ministrar os<br />
cursos para familiares.<br />
Nos cursos de capacitação de língua de<br />
sinais, todos os professores e intérpretes tiveram<br />
a oportunidade de ter contato com instrutores<br />
surdos, mas estamos referindo, aqui, o<br />
trabalho sistemático que envolve a periodicidade<br />
no próprio ambiente escolar. Esse esforço<br />
estaria previsto, mas não foram contratados<br />
os instrutores ou professores surdos para assumir<br />
essas funções (QUADROS, 2006, p. 155).<br />
Veja que não houve inclusão de professores<br />
nem funcionários surdos no ambiente escolar.<br />
Isso viria reforçar a autoestima do sujeito surdo,<br />
bem como possibilitar a inclusão de outros<br />
surdos na sociedade, e ainda, iria oportunizar<br />
aos ouvintes o conhecimento e aquisição de<br />
uma nova experiência social e inclusiva. O<br />
professor de língua de sinais assume o papel<br />
do integrador nas escolas, com a tarefa de<br />
orientar os professores e a comunidade escolar<br />
quanto à língua de sinais e às formas de<br />
ensinar e aprender dos alunos surdos. É uma<br />
tarefa que está relacionada diretamente com os<br />
próprios surdos.<br />
Assim, os professores surdos, formados<br />
nas áreas específicas, conseguem passar as experiências<br />
visuais de uma forma diferenciada.<br />
O fato de ser surdo já traz uma vivência das<br />
relações com surdos para alunos de ambos os<br />
contextos.<br />
Stainback & Stainback (1999, pp. 22-31)<br />
afirma que a política de inclusão educativa<br />
embora seja um vetor para o ensino de alunos<br />
deficientes, a efetiva implantação da mesma<br />
no Brasil ainda carece de muitos avanços.<br />
Concordamos com o disposto em BRASIL<br />
(2006 c, p.29) que diz:<br />
Políticas educacionais deveriam levar<br />
em total consideração as diferenças e<br />
situações individuais. A importância da<br />
linguagem de signos como meio de comunicação<br />
entre os surdos, por exemplo,<br />
deveria ser reconhecida e provisão<br />
deveria ser feita no sentido de garantir<br />
que todas as pessoas surdas tenham<br />
acesso a educação em sua língua nacional<br />
de signos. Devido às necessidades<br />
particulares de comunicação dos surdos<br />
e das pessoas surdas/cegas, a educação<br />
deles pode ser mais adequadamente<br />
provida em escolas especiais ou classes<br />
especiais e unidades em escolas regulares.<br />
(BRASIL, 2006c, p. 29).<br />
Visando exemplificar o alcance que a<br />
política pública inclusiva tem permitido, tomemos<br />
como o exemplo alguns programas<br />
televisivos diversos que, ao iniciarem sua programação,<br />
informam a censura em Libras e ao<br />
longo de seu conteúdo nada mais é traduzido<br />
para os surdos. Outro exemplo que podemos<br />
levantar é o fato que muitas vezes o intérprete<br />
fica sem ter como atuar em competências de<br />
ordem pedagógicas que não são suas.<br />
Existem vários problemas que surgem<br />
em sala de aula que não caberia na função do<br />
intérprete, tais como: apresentar informações<br />
pedagógicas a respeito do desenvolvimento<br />
do aluno, realizar atividade extraclasse, acompanhar<br />
e disciplinar os alunos. Essas práticas<br />
acabam reforçando a exclusão, uma sala dividida,<br />
em que se apresenta um “professor<br />
- intérprete”, que dá sua aula para os surdos<br />
(minoria) independente do outro professor que<br />
dá sua aula para os ouvintes (maioria), criando<br />
dois grupos que não interagem entre si.<br />
4.1.<br />
A Tutela do Estado<br />
As políticas públicas educacionais e inclusivas<br />
no Brasil estão amparadas em pelo<br />
menos dois grandes pilares, a saber: o Decreto<br />
no 5.626, de 22 de dezembro de 2005 e a Lei no <strong>12</strong>.319 de 1º de setembro de 2010.<br />
O Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de<br />
2005 regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril<br />
de 2002, que reconhece a Libras como meio legal<br />
de comunicação e estabelece, entre outras<br />
coisas, a obrigação de o poder público tutelar a<br />
formação de intérpretes de língua de sinais.<br />
Já a Lei no <strong>12</strong>.319, de 1º de setembro de<br />
2010, regulamenta a profissão de tradutor e intérprete<br />
da língua brasileira de sinais – Libras.<br />
Essa tem sido então a base da tutela do<br />
Estado para promover a inclusão do sujeito surdo<br />
na escola regular. Essa é, sem dúvida, uma<br />
iniciativa louvável do ponto de vista estrutural,<br />
pois valoriza a função do profissional intérprete<br />
de língua de sinais. Sem esse reconhecimento<br />
instalava-se um remendo onde o intérprete funcionava<br />
desvinculado da instituição de ensino<br />
e, por conseguinte, dos projetos político peda-<br />
67<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
gógicos das instituições onde era solicitado.<br />
Isso demonstrava que o compromisso prático<br />
das escolas visava mais o cumprimento da lei<br />
do que viabilizar as necessidades específicas<br />
dos alunos surdos. A partir da Lei no <strong>12</strong>.319<br />
de 1º de setembro de 2010, oportuniza-se a admissão<br />
desses profissionais, possibilitando o<br />
alcance da prática inclusiva. Isso se dá devido<br />
à forma mais prática e eficiente de oportunizar<br />
ao intérprete conviver com os demais docentes<br />
proporcionando uma genuína interdisciplinaridade,<br />
dando maior chance de sucesso ao projeto<br />
político pedagógico da escola.<br />
Entretanto bias ocorrem na execução dessa<br />
tutela devido ao fato do sujeito surdo continuar<br />
a ser rotulado como deficiente, desconsiderando<br />
a existência de sua cultura. Tal prática fomenta<br />
uma insustentabilidade inclusiva revelando um<br />
perverso sistema educacional opressor que, em<br />
tese, considera iguais todos os indivíduos, mas<br />
na prática ele reforça a desigualdade.<br />
4.2. Adaptações curriculares no contexto<br />
Da Tutela<br />
Freire (1987) afirma que a violência dos<br />
opressores, que os faz desumanizados, não<br />
instaura outra vocação: a do ser menos. Isto<br />
é: quando a práxis da tutela da educação inclusiva<br />
pretende que se alcance “o ser mais”,<br />
promovendo o sujeito surdo a patamares superiores<br />
pelo acesso comum aos conteúdos<br />
curriculares; na realidade essa mesma práxis,<br />
de forma perversa, impõe aos sujeitos surdos<br />
a sensação de “ser menos”, que mais cedo ou<br />
mais tarde, os incentivará a se rebelarem contra<br />
quem os fez menos.<br />
A adaptação curricular deve expressar a<br />
necessidade de confluência das culturas ouvinte<br />
e surda e não se materializar como uma<br />
benesse ao deficiente. Tal confluência deve<br />
respeitar e possuir simetria para fazer com que<br />
o sujeito ouvinte interaja com a cultura surda<br />
e o sujeito surdo interaja com a cultura ouvinte.<br />
Assim sendo, certamente alcançaremos um<br />
tipo de cultura elevada, epistêmica e ética tanta<br />
intratemporal quanto intertemporalmente.<br />
5.<br />
Considerações Finais<br />
É notória a necessidade de uma reforma<br />
nas políticas públicas de educação inclusiva,<br />
que passem a limpo os projetos político-pedagógicos<br />
das instituições de ensino, de modo a<br />
introduzir novos paradigmas para o exercício<br />
da tutela da educação inclusiva. Ao longo da<br />
avaliação da trajetória histórica da educação<br />
inclusiva, foi possível perceber que as oportunidades<br />
de desenvolvimento cognitivo do sujeito<br />
surdo sempre estiveram na dependência<br />
da ditadura da cultura ouvinte. A desconsideração<br />
da relevância da cultura surda é perversa e<br />
opressora, estabelecendo assim, uma ordem em<br />
que o potencial construtivo, inventivo e criativo<br />
do surdo é sufocado por um tipo de pedagogia<br />
bancária, a qual parece se importar muito mais<br />
com estatísticas do que resultados práticos.<br />
O rótulo preconceituoso de deficiência,<br />
então, precisa ser revisto, transformado por<br />
meio de ações conjuntas entre as duas culturas:<br />
ouvinte e surda. Nesse sentido, é importante<br />
ressaltar que tais ações não devem ser<br />
apenas uma sobreposição de valores, mas uma<br />
sinergia de culturas.<br />
Com vistas a contribuir para a viabilização<br />
de uma educação verdadeiramente construtiva,<br />
igualitária e, de fato, inclusiva, sugerese<br />
que a cultura surda passe a fazer parte do<br />
interesse da cultura ouvinte. Obviamente, que<br />
as autoridades competentes precisam agir desenvolvendo<br />
planos e programas que fomentem<br />
o interesse dos ouvintes para esta cultura<br />
oprimida e oculta. É claro que tais planos e<br />
programas deverão suceder a formulação de<br />
políticas públicas educacionais inclusivas<br />
calcadas numa concepção problematizadora<br />
e participativa em que o povo surdo seja<br />
ouvido e inserido nesse processo libertador de<br />
construção social.
6.<br />
1.<br />
2.<br />
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3. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da<br />
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de dezembro de 1996.<br />
4.<br />
5.<br />
6.<br />
7.<br />
8.<br />
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Endereço para Correspondência:<br />
Marcus Vinicius Faria de Araujo<br />
marcus.araujo@foa.org.br<br />
Rua 18-B, n° 43, sala 104,<br />
Vila Santa Cecília - Volta Redonda - RJ<br />
CEP: 27260-100.<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />
ARAUJO, Rose Jardim Madureira de; KLEINA, Cláudio; ARAUJO, Marcus Vinicius Faria de. O exercício da tutela na Educação Inclusiva. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda,<br />
Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:
Desenvolvimento da competência comunicativa: um processo de coconstrução<br />
de conhecimento sobre a comunicação humana<br />
Developing communicative competence: a co-construction process of knowledge<br />
about human communication<br />
Luciana Leitão da Silva 1<br />
Palavras-chave:<br />
Coconstrução<br />
Interação<br />
Estratégia<br />
Abstract<br />
Resumo<br />
O propósito deste trabalho é averiguar o processo de desenvolvimento<br />
da competência comunicativa de alunos de inglês como língua estrangeira<br />
segundo a implementação de uma série de atividades que visam<br />
a coconstrução de conhecimento sobre a interação e comunicação humanas<br />
(Fabrício, 1996; Hall, 1993). Os dados gerados são sobre um<br />
trabalho de pesquisa-ação (Moita Lopes, 2003) encaminhado junto a<br />
alunos intermediários participantes de um projeto de ensino de idiomas<br />
em uma universidade do Rio de Janeiro. Os resultados mostram que é<br />
possível que alunos de nível intermediário possam interagir e produzir<br />
conhecimento em inglês apesar de seu repertório linguístico limitado<br />
quando se dão conta de que há mais em jogo num diálogo do que meras<br />
estruturas sintáticas e lexicais.<br />
This article discusses the process of development of the communicative<br />
competence among English students about the co-construction of<br />
knowledge about the human interaction and communication (Fabrício,<br />
1996; Hall, 1993). The data generated result from an action-research<br />
project with intermediate students (Moita Lopes, 2003). This project<br />
aims to offer affordable foreign language learning for students and is<br />
located in a university in Rio de Janeiro. The results show that it is<br />
possible that intermediate students can interact and construct knowledge<br />
in English despite their limited linguistic repertoire when they become<br />
aware that there is more at stake in a dialogue than just syntactic and<br />
lexical structures.<br />
Key words:<br />
Co-construction<br />
Interaction<br />
Strategy<br />
1 Doutoranda em Linguística Aplicada, Mestre em Linguística Aplicada - UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Especialista em Literaturas<br />
de Língua Inglesa - UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Graduada em Letras (Português/Inglês) UFRJ – Universidade Federal do Rio<br />
de Janeiro.<br />
71<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
01/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
72<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
1.<br />
Introdução<br />
Desenvolver a competência comunicati-<br />
va de aprendizes de uma língua estrangeira,<br />
neste caso o inglês, envolve processos interacionais<br />
e comunicacionais, visto que, durante<br />
uma aula de língua estrangeira, doravante LE,<br />
o professor dialoga constantemente com seus<br />
alunos seja sobre a gramática, sobre um texto<br />
ou sobre um tema específico. Entretanto, grande<br />
parte dos alunos, e até alguns professores,<br />
acreditam que, para que ocorra um adequado<br />
desenvolvimento da competência comunicativa,<br />
principalmente da habilidade oral, os<br />
alunos devem possuir muito domínio do nível<br />
sistêmico da LE a fim de que eles possam se<br />
comunicar. Essa é uma crença forte que faz<br />
com que as atividades de conversação nos<br />
níveis iniciantes sejam submetidas a um alto<br />
grau de controle temático, vocabular, estrutural<br />
e interacional.<br />
O objetivo deste trabalho é relatar uma<br />
experiência pedagógica de desenvolvimento<br />
da habilidade oral em aulas de inglês como<br />
língua estrangeira para alunos intermediários,<br />
através da coconstrução de conhecimento sobre<br />
a interação e a comunicação humanas. A<br />
pesquisa está dividida em cinco partes: a seção<br />
2 introduz os pressupostos teóricos que orientaram<br />
a pesquisa; a seção 3 descreve o contexto<br />
de observação e aborda a metodologia<br />
adotada; a seção 4 discute os dados gerados<br />
e a última seção apresenta as considerações<br />
finais.<br />
2.<br />
Pressupostos teóricos<br />
2.1. Visão sóciointeracional da linguagem<br />
De acordo com uma visão sóciointeracional<br />
da linguagem, um grupo de pessoas<br />
se comporta de uma dada maneira devido ao<br />
contexto sócio-cultural em que se encontram<br />
(Hall, 1993). Isso se dá pelo fato de que os<br />
significados convencionalizados, linguísticos<br />
e não linguísticos existentes orientam o comportamento<br />
das pessoas de acordo com a situação.<br />
Esses significados, compartilhados pelos<br />
sujeitos, servem a diferentes propósitos comunicativos<br />
que, durante a interação e dependen-<br />
do do contexto ao qual se situam, são (re)negociados<br />
pelos mesmos. Portanto, a recorrente<br />
participação em eventos comunicativos específicos<br />
é necessária para que os participantes<br />
coconstruam significados que sirvam aos seus<br />
objetivos comunicativos, i.e., aprendam em<br />
uma dada ação contextualizada.<br />
Pensemos em um exemplo. As mesmas<br />
pessoas não se comportarão em um almoço<br />
de negócios da mesma maneira que em um almoço<br />
de família. Há diferentes propósitos comunicativos<br />
a serem alcançados em ambas as<br />
ocasiões: em um almoço de família, geralmente<br />
colocamos os assuntos em dia enquanto em<br />
um almoço de negócios, temos como objetivo<br />
tratar de assuntos que podem até definir uma<br />
possível promoção. Logo, não só os aspectos<br />
linguísticos mudam como também os não linguísticos,<br />
i.e., expressões faciais e contato visual.<br />
Além disso, é necessário que estejamos<br />
vestidos levando em consideração a ocasião,<br />
saibamos ouvir e falar na hora certa e falar em<br />
um tom de voz adequado em um almoço de<br />
negócios. Por outro lado, em um almoço de família,<br />
as pessoas sempre acabam falando mais<br />
alto do que a música, se vestem informalmente<br />
e se interrompem constantemente.<br />
Dessa forma, é possível perceber que o<br />
contexto institucional e o não institucional em<br />
que nos encontramos possuem certos significados<br />
que foram coconstruídos ao longo do<br />
tempo pelos próprios participantes ou pelos<br />
contextos sócio-históricos nos quais se inserem.<br />
2.2.<br />
Competência comunicativa<br />
O conceito de “competência comunicativa”<br />
é bastante utilizado atualmente para<br />
orientar a prática pedagógica de muitos professores<br />
de LE e diz respeito à habilidade de<br />
se usar uma língua efetivamente visando um<br />
dado propósito comunicativo. Entretanto,<br />
acredita-se, erroneamente, que a competência<br />
comunicativa refere-se apenas à compreensão<br />
e ao domínio de regras de interação de um determinado<br />
grupo social, ou seja, o falante deve<br />
dominar o conhecimento sistêmico e pragmático<br />
de uma língua, a fim de participar adequadamente<br />
de uma interação.
De acordo com a noção de competência<br />
comunicativa (Johnson & Johnson, 1998), esta<br />
deve ser dividida em três competências:<br />
a. uma competência gramatical que se refere ao<br />
conhecimento sistêmico de uma língua tais<br />
como: itens lexicais, regras de morfologia,<br />
sintaxe, fonologia, fonética, e semântica;<br />
b. uma competência sociolinguística que se re-<br />
fere à linguagem em uso, subdividida em:<br />
b.1) competência sócio-cultural, i.e., o conhecimento<br />
das normas sociais interacionais<br />
que regem uma dada situação; e<br />
b.2) competência discursiva, i.e., o conhecimento<br />
equivalente à correta construção<br />
de sentido entre palavras e sentenças,<br />
responsável pela coesão e coerência;<br />
c. uma competência estratégica que se refe-<br />
re à habilidade de negociar significados<br />
em contexto de uso através de estratégias<br />
de comunicação verbais e não verbais que<br />
podem ser utilizadas quando surgir algum<br />
“obstáculo” ou mal entendido durante a<br />
comunicação.<br />
Contudo, as atividades propostas nos materiais<br />
didáticos, classificados como “comunicativos”,<br />
não passam de exercícios que focalizam<br />
a abordagem funcional da linguagem a<br />
partir de um significado previamente estabelecido.<br />
Ou seja, não é requisitado aos alunos<br />
que negociem significados, já que as situações<br />
de uso não surgem de uma real necessidade<br />
de usar a língua, mas de uma imposição referente<br />
à função da linguagem que deve ser<br />
praticada em um determinado momento.<br />
Consequentemente, não há coconstrução de<br />
conhecimento da competência estratégica em<br />
sala de aula, já que o professor geralmente, seguindo<br />
o livro didático, decide o que praticar<br />
e quando praticar, transformando a linguagem<br />
em sala de LE em um fenômeno controlado<br />
e previsível, isto é, não negociável. Portanto,<br />
torna-se necessário que, no contexto formal<br />
de sala de aula, seja estimulada a negociação<br />
de significados, para que os alunos coconstruam<br />
os conhecimentos referentes à competência<br />
estratégica relacionada à comunicação<br />
humana que possibilitará o desenvolvimento<br />
da competência comunicativa, articulando as<br />
três dimensões/níveis propostos por Johnson<br />
& Johnson (1998).<br />
Seguindo essa linha de pensamento, para<br />
que os alunos sejam capazes de negociar significados,<br />
eles precisam se familiarizar com<br />
os recursos linguísticos, paralinguísticos e<br />
estratégicos da linguagem em uso, coconstruindo<br />
conhecimento sobre o funcionamento<br />
da linguagem, o que os possibilitará usá-la<br />
socialmente. Para isso, o professor precisa<br />
abandonar o paradigma de transmissão, visão<br />
tradicional de linguagem e ensino-aprendizagem,<br />
que costuma fornecer os parâmetros para<br />
o trabalho de ensino de inglês como LE.<br />
2.3. Paradigma de transmissão X<br />
Paradigma interacional<br />
O paradigma de transmissão entende que<br />
a comunicação ocorre através da transmissão<br />
de mensagens por um falante/emissor, seguida<br />
da decodificação por parte dos ouvinte(s)/<br />
receptor(es) (Schiffrin, 1994). Aplicando esse<br />
conceito ao processo de ensino-aprendizagem,<br />
o professor transmite conhecimento e o aluno<br />
o processa. Desse modo, o professor é<br />
considerado o possuidor do conhecimento e,<br />
portanto, responsável por transmiti-lo aos alunos.<br />
O mestre possui o papel ativo, já que é<br />
o responsável pela transmissão da informação<br />
através da linguagem. Consequentemente, os<br />
alunos possuem apenas o papel de receptores,<br />
ou seja, são passivos. Espera-se que os estudantes<br />
decodifiquem a mensagem transmitida<br />
pelo professor durante a aula e reproduzamna.<br />
Uma consequência desse paradigma é a<br />
crença de que o professor deve possuir o total<br />
controle da interação na sala de aula, ideal realizado<br />
através do padrão “Iniciação-Resposta-<br />
Avaliação”. Não há possibilidade nem necessidade<br />
de negociação de significados, já que<br />
o professor é que deve solucionar todos os<br />
problemas. Portanto, esse modelo de aula não<br />
favorece a negociação de significados, pois se<br />
entende que a comunicação é dependente apenas<br />
do código da língua, i.e., do sistêmico.<br />
Por outro lado, o paradigma interacional<br />
estabelece que o significado não é transmitido<br />
de um participante ativo para outro passivo,<br />
mas negociado constantemente, entre os interlocutores,<br />
esses ativos, através da coconstrução<br />
de conhecimento entre eles. Trazendo<br />
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essa ideia para o contexto educacional, tanto<br />
o professor quanto os alunos são responsáveis<br />
pela coconstrução de conhecimento sobre a<br />
LE que ocorre na interação; o professor não é<br />
o dono de todo o conhecimento. Além disso,<br />
o mesmo não possui total controle da interação<br />
e pode dar voz aos alunos, favorecendo a<br />
coconstrução de conhecimento sobre a comunicação<br />
humana relacionado à competência<br />
estratégica. Para isso, primeiramente, torna-se<br />
necessário que ocorra a identificação dos significados<br />
compartilhados pelos alunos sobre<br />
o contexto institucional, ou seja, o professor<br />
precisa descobrir quais os significados que<br />
o aluno já possui com relação à sala de aula<br />
para, em seguida, procurar favorecer que, durante<br />
os eventos comunicativos dentro da sala,<br />
ocorra a desconstrução dos significados que o<br />
estudante traz e a coconstrução de novos valores.<br />
Isso se torna necessário, pois o contexto da<br />
sala de aula tradicional não favorece o desenvolvimento<br />
da habilidade oral dos aprendizes<br />
de uma língua estrangeira visto, por exemplo,<br />
o total controle da interação entre os alunos<br />
estar nas mãos do professor.<br />
3.<br />
Contexto e metodologia de<br />
pesquisa<br />
Esta pesquisa foi encaminhada segundo<br />
os princípios da pesquisa-ação (Moita Lopes,<br />
2003), metodologia na qual o professor investiga<br />
sua própria prática. Utilizo como material<br />
de pesquisa notas de campo, que contêm minhas<br />
observações das atividades implementadas<br />
durante o semestre, e gravações em áudio<br />
das mesmas propostas à turma.<br />
A investigação foi realizada no projeto de<br />
ensino de idiomas localizado em um projeto<br />
de ensino de línguas estrangeiras localizado<br />
em uma das universidades do Rio de Janeiro<br />
em uma turma de inglês que continha 15 alunos<br />
entre 19 e 35 anos, pertencentes ao nível<br />
2, intermediário.<br />
Apesar de não serem teoricamente alunos<br />
iniciantes, os alunos em questão apresentavam<br />
grande dificuldade em falar. Os mesmos corroboravam<br />
a crença de que deveriam dominar<br />
todo o nível sistêmico da língua estrangeira<br />
relacionada a um determinado assunto para<br />
que conseguissem se comunicar sem quais-<br />
quer obstáculos. Essa crença constituiu a motivação<br />
principal para o encaminhamento do<br />
presente estudo.<br />
Realizei, portanto, uma pesquisa de cunho<br />
intervencionista (Fabrício, 1996) que passo a<br />
descrever a seguir. Em um primeiro momento,<br />
a turma e eu coconstruímos conhecimento<br />
sobre a comunicação e interação humanas referente<br />
à competência estratégica focalizando<br />
nos seguintes aspectos:<br />
a. Sistema de troca de turnos: quando e como<br />
tomamos a vez de falar, por exemplo, falando<br />
mais alto, falando mais rápido, levantando<br />
a mão e dizendo “Excuse me”;<br />
b. Gestos: como utilizá-los e compensar o<br />
pouco domínio de nível sistêmico da língua;<br />
c. Contato visual: importante durante a co-<br />
municação humana, pois denota interesse;<br />
d. Expressões faciais: dizem muito a respeito<br />
do diálogo, por exemplo, denotando o grau<br />
de interesse dos interlocutores envolvidos<br />
com relação ao que se está falando;<br />
e. Sustentação de um diálogo: o que deve-<br />
mos fazer para manter a conversa: fazer<br />
perguntas a alguém ou tomar a vez de falar<br />
e dizer algo – por exemplo;<br />
f.<br />
Engajamento de todos os participantes:<br />
como “garantir” que todos os interlocutores<br />
estejam engajados na conversa, fazendo<br />
perguntas – por exemplo. Eles mesmos<br />
podem fazer isso, já que são responsáveis<br />
pelo desenvolvimento da tarefa;<br />
g. Tarefas de observação da interação: não só<br />
através da prática, mas também da observação<br />
via análise crítica e construtiva de<br />
terceiros que desenvolvemos a capacidade<br />
de compreendermos melhor nossa própria<br />
prática (Hall, 1993).<br />
Esses procedimentos (Fabrício, 1996)<br />
foram selecionados com o intuito de conscientizar<br />
os alunos de que muito mais está envolvido<br />
em uma conversa do que apenas a necessidade<br />
de dominar o léxico de uma língua
estrangeira. Além disso, esses aspectos estão<br />
relacionados ao desenvolvimento da autonomia<br />
do aluno em relação ao seu conhecimento<br />
sobre a LE, pois, através desses recursos comunicacionais,<br />
eles podem vir a desenvolver<br />
um diálogo e coconstruir conhecimento sobre<br />
a língua entre si, acabando com o mito “Eu<br />
não sei falar inglês”.<br />
Em um segundo momento, os alunos<br />
foram estimulados a desenvolver atividades<br />
conversacionais. Para tal, eles se sentavam em<br />
círculos, para que pudessem manter contato<br />
visual com todos os interlocutores. Essas tarefas<br />
conversacionais eram observadas pelos<br />
próprios alunos. Em outras palavras, nesse<br />
momento, a professora dividia a turma em dois<br />
grupos: metade dos alunos recebia a tarefa de<br />
desenvolver a conversação baseada em um tópico<br />
proposto pela professora relacionado ao<br />
conteúdo da lição, enquanto a outra metade da<br />
turma possuía a tarefa de observar o trabalho<br />
dos colegas a fim de:<br />
a. observar e avaliar a performance interacio-<br />
nal do aluno durante a atividade; e<br />
b. desenvolver no observador uma consciên-<br />
cia do que é necessário fazer quando trocar<br />
de posição com os colegas observados.<br />
Para isso, foi proposto um questionário<br />
(adaptado de Fabrício, 1996) que continha as<br />
seguintes perguntas:<br />
a. Does the student keep eye contact<br />
while talking?<br />
b. Does the student make use of facial<br />
expressions to show interest in the<br />
conversation?<br />
c. Does the student make use of gestures<br />
to facilitate conversation whenever necessary?<br />
d. Does the student try to take the turn,<br />
i.e., speak when s/he wants to? If yes,<br />
which strategies does s/he use?<br />
Cada aluno do grupo de observadores observava<br />
o trabalho de um determinado membro<br />
do grupo de conversação, anotando suas<br />
observações na ficha. Depois, ele fornecia sua<br />
avaliação e trocava de posição.<br />
À época da geração dos dados a serem<br />
analisados neste trabalho, os alunos já vinham<br />
utilizando os procedimentos mencionados acima<br />
por três meses.<br />
Reconheço o caráter ético desta pesquisa<br />
devido ao fato de se tratar de um estudo interacional<br />
dos seres humanos em questão. Afirmo,<br />
então, que a identidade dos participantes foi<br />
preservada visto os nomes usados neste artigo<br />
serem fictícios e não terem nenhuma semelhança<br />
com os reais nomes dos sujeitos da<br />
pesquisa.<br />
4.<br />
Análise dos dados<br />
Os dados a seguir dizem respeito a uma<br />
atividade de conversação, envolvendo 14 alunos.<br />
Antes do início da interação, relembrei<br />
junto aos alunos as estratégias que eles poderiam<br />
vir a usar, a fim de sustentar uma conversa.<br />
Os alunos coconstruíram conhecimento<br />
com relação aos recursos que já vinham sendo<br />
abordados, que, de fato, já vinham sendo coconstruídos<br />
no decorrer das aulas anteriores,<br />
e que poderiam ser incorporados e analisados<br />
pelos observadores.<br />
Em seguida, dividi os alunos em dois círculos:<br />
um interno e um externo, ambos com<br />
sete alunos conforme a figura abaixo:<br />
Os alunos do círculo interno possuíam a<br />
tarefa de desenvolver uma conversa enquanto<br />
os do círculo externo foram orientados a avaliar<br />
um dado integrante do grupo interno de acordo<br />
com a ficha que lhes havia sido entregue, baseada<br />
no modelo explicitado previamente. Nesse<br />
momento, assumi o papel de observadora também<br />
e sentei fora do círculo enquanto anotava<br />
todos os “problemas” relacionados ao léxico,<br />
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à gramática e às regras de interação, para que<br />
pudesse dar meu feedback depois junto aos<br />
alunos-observadores. Eu, então, sentei fora do<br />
círculo para observar os alunos de longe e não<br />
manter contato visual com os mesmos a fim de<br />
que eles interagissem entre si e “esquecessem”<br />
de minha presença. Ou seja, já que o objetivo<br />
da tarefa era desenvolver a habilidade oral dos<br />
alunos e favorecer sua autonomia, foi necessário<br />
que eu me posicionasse fora de ambos os<br />
círculos para que os aprendizes não procuras-<br />
sem por meu auxílio diante de imprevistos devido<br />
à crença de que eu que deveria solucionar<br />
todos os problemas que surgissem.<br />
O tema proposto por mim para a conversa<br />
foi o da lição do livro didático que eles estavam<br />
estudando no momento: “What changed<br />
in your life last year?”. Os alunos sustentaram<br />
a conversa por 13 minutos. A seguir, segue<br />
um determinado momento desse diálogo, que<br />
ilustra as mudanças ocorridas a partir dos procedimentos<br />
implementados:<br />
(14) Eduardo What changed in your life last year? (olhando para Márcia)<br />
(15) Márcia Change?<br />
(<strong>16</strong>) Eduardo Change<br />
(17) Márcia Hum..<br />
(18) Eduardo<br />
(19) Márcia<br />
(20) Eduardo Why?<br />
You don’t live here in Rio de Janeiro<br />
No I live in Paraná …<br />
big change… move<br />
(21) Márcia Why? Why… My state is very different Rio… mais….<br />
(22) Eduardo Is more<br />
(23) Márcia Isso! Is more....<br />
(24) Eduardo Is more clean?<br />
(25) Márcia Clean, silence, not, not very violent..<br />
(26) Eduardo And the weather?<br />
(27) Márcia What?<br />
(28) Eduardo The weather!<br />
(29) Hiran It’s very cold<br />
(30) Eduardo Hot cold? (olhando para Márcia)<br />
(31) Hiran Oh it’s very cold (risos)<br />
(32) Márcia<br />
(33) Eduardo Hot<br />
Cold, is very, very cold yes… Rio is<br />
very hot.<br />
(34) Márcia I… difficulty... adaptação...<br />
(35) Eduardo Adaptation.<br />
(36) Márcia é... My adaptation in Rio because....<br />
(37) Vários alunos Different<br />
(38) Márcia Different Yes
O primeiro ponto a ressaltar é que os alu-<br />
nos conseguiram sustentar o diálogo apesar do<br />
pouco domínio da língua por um período de<br />
13 minutos.<br />
É possível perceber também que o gerenciamento<br />
do sistema de troca de turnos está<br />
nas mãos dos alunos. Apesar de apenas dois<br />
deles, Márcia e Eduardo, estarem controlando<br />
o sistema de troca de turnos ao se questionarem<br />
mutuamente, o aluno Hiran demonstra<br />
interesse na conversa e toma o turno duas vezes<br />
(linhas 29 e 31). Ele aproveita que Márcia<br />
não respondeu a pergunta de Eduardo e dá sua<br />
opinião. Portanto, é possível perceber que, os<br />
estudantes estavam controlando livremente o<br />
sistema de troca de turnos sem a minha ajuda.<br />
Além disso, houve colaboração entre os<br />
alunos na tentativa de coconstruir conhecimento<br />
sobre a LE sem a minha ajuda também,<br />
pois quando ocorria algum obstáculo de nível<br />
sistêmico, por exemplo, Márcia fazia gestos<br />
ou falava a palavra em português, a fim de que<br />
seus colegas pudessem auxiliá-la com o vocabulário<br />
em inglês, aumentando, assim, o uso<br />
da LE (linhas 21, 22, 34 e 35). Em outro momento,<br />
os interlocutores envolvidos na atividade<br />
conversacional a ajudaram a completar seu<br />
pensamento (linhas 36 e 37), o que demonstra<br />
que todos estavam engajados na atividade.<br />
Outra mudança positiva no excerto apresentado<br />
refere-se à negociação entre os próprios<br />
alunos de novos tópicos, ou seja, não foi<br />
necessário que eu sugerisse outro tópico para<br />
a conversação. Por exemplo, no início, eles estavam<br />
conversando sobre mudanças na vida,<br />
sugerido por mim para iniciar a conversa. Em<br />
seguida, eles começaram a falar da diferença<br />
entre o Rio e o Paraná, sobre violência e o<br />
tempo (linhas 24-32).<br />
Finalmente, mas não menos importante,<br />
a avaliação do grupo observador após a realização<br />
da atividade foi muito enriquecedora,<br />
pois os alunos-observadores haviam percebido<br />
como as estratégias de sustentação de uma<br />
conversa e de negociação de significados empregadas<br />
realmente funcionavam e que não era<br />
necessário que eles dominassem totalmente o<br />
vocabulário relacionado ao assunto, para que a<br />
comunicação entre eles fosse possível.<br />
5.<br />
Considerações finais<br />
Concluo, portanto, nesta pesquisa, que<br />
é possível que alunos de nível intermediário<br />
desenvolvam competência estratégica e conversacional<br />
na LE a partir da coconstrução de<br />
conhecimento sobre a comunicação humana.<br />
Porém, para que isso seja possível, primeiramente,<br />
é necessário que o professor perceba<br />
que o paradigma de transmissão, muitas vezes<br />
utilizado por ele, não favorece um amplo desenvolvimento<br />
da competência comunicativa<br />
dos alunos, visto que o total controle da interação<br />
em sala de aula, depositado em suas mãos,<br />
não possibilita um desejável desenvolvimento<br />
da habilidade oral dos alunos.<br />
Depois de todo o trabalho em torno da coconstrução<br />
de conhecimento referente à comunicação<br />
humana junto aos alunos, pude verificar<br />
vários efeitos positivos. Em primeiro lugar, notei<br />
a intensificação do uso da LE pelos próprios<br />
alunos haja vista o estímulo que eles receberam<br />
de mim ao tentar resolver os obstáculos que<br />
surgissem entre eles mesmos com respeito ao<br />
nível sistêmico – por exemplo. Pude observar<br />
também a negociação de novos tópicos sem a<br />
necessidade de que eu sugerisse outro. Além do<br />
mais, fica claro que os alunos tornaram-se capazes<br />
de gerenciar tanto o sistema de troca de turnos<br />
a partir do conhecimento de como e quando<br />
fazê-lo, quanto desenvolver a autonomia e colaboração<br />
na resolução de “problemas”.<br />
Aponto, portanto, que a coconstrução de<br />
conhecimento sobre a comunicação humana<br />
traz repercussões positivas para o desenvolvimento<br />
da competência comunicativa em LE.<br />
6.<br />
Convenções para transcrição<br />
? indica entoação crescente<br />
. indica entoação decrescente<br />
: seguindo vogais indicam alongamento de som<br />
.. indicam pausa breve, menos de meio segundo<br />
... indicam pausa de mais de meio segundo;<br />
mais pontos indicam pausas mais longas<br />
Adaptado de Gumperz, 1998; Fabrício,<br />
1996; e Schnack, Pisoni & Osterman, 2005.<br />
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7.<br />
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Inglesa) – PUC RIO, 2002.<br />
2. FABRÍCIO, B. F. Interação em contexto<br />
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1996. Dissertação (Mestrado no Curso<br />
Interdisciplinar de Lingüística Aplicada) –<br />
Faculdade de Letras, Universidade Federal<br />
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1996.<br />
3.<br />
4.<br />
5.<br />
6.<br />
GUMPERZ, J. Convenções de<br />
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GARCEZ, P.M. (Orgs.) Sociolinguística<br />
Interacional: Antropologia, Linguística<br />
e Sociologia em Analise do Discurso.<br />
Porto Alegre: AGE, 1998, p. 98-119.<br />
HALL, J. K. The Role of Oral Practice<br />
in the Accomplishment of our Everyday<br />
Lives: The Sociocultural Dimension<br />
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Linguistics, vol. 14, no. 2, Oxford<br />
University Press, 1993, p. 145-<strong>16</strong>5.<br />
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teaching. Oxford, Blackwell: 1998, p.<br />
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Paulo, vol. 19, no. 2, 2003, p. 145-<strong>16</strong>7.<br />
7. SCHIFFRIN, D. Approaches to<br />
Discourse. Oxford: Blackwell, 1994.<br />
8.<br />
SCHNACK, C. M., PISONI, T. D.,<br />
OSTERMAN, A. C. Transcrição da fala:<br />
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Revista Entrelinhas, Ano II, no. 2, maio/agosto,<br />
2005. Disponível em: http://www.entrelinhas.<br />
unisinos.br/index.php?e=2&s=9&a=<strong>12</strong>.<br />
Acesso em 15 jan. 2008.<br />
Endereço para Correspondência:<br />
Luciana Leitão da Silva<br />
lucianacarter2002@yahoo.com.br<br />
Rua Enaldo dos Santos Araújo, <strong>nº</strong> 735, casa 04<br />
Cavalcante - Rio de Janeiro - RJ<br />
CEP: 21370-200<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />
SILVA, Luciana Leitão da. Desenvolvimento da competência comunicativa: um processo de coconstrução de conhecimento sobre a comunicação humana. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>.<br />
Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:
Aprendizagem baseada em problemas: o mito e a realidade<br />
Learning based on problems: mith and reality<br />
João Ozório R. Neto 1<br />
Cleize Silveira Cunha 2<br />
Cristiane Silveira Cunha 1<br />
Adriana Novaes Rodrigues 1<br />
Mauro Tavares 3<br />
Palavras-chave:<br />
Métodos<br />
Educação médica<br />
Aprendizado<br />
Abstract<br />
Resumo<br />
Os autores avaliam de forma crítica, aspectos da chegada ao Brasil deste<br />
novo método de ensino nas escolas médicas. Comentam aspectos relacionados<br />
à sua implantação e analisam os resultados disponíveis na<br />
literatura sobre as avaliações do processo de ensino e das reais qualidades<br />
desta nova metodologia.<br />
The authors analyze aspects of this new method of teaching at medical<br />
schools in Brazil. They discuss the aspects related to its implementation<br />
and analyze the results available in literature about the evaluation of<br />
the learning process and the real qualities of this new method.<br />
1 Professor MsC (Ciências da Saúde – <strong>UniFOA</strong>)<br />
2 Professora Esp. (Ciências da Saúde – <strong>UniFOA</strong>)<br />
3 Professor PhD. (Ciências da Saúde – <strong>UniFOA</strong>)<br />
Key words:<br />
Methods<br />
Medical education<br />
Learning<br />
79<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
09/2010<br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
1.<br />
Introdução<br />
A aprendizagem baseada em problemas<br />
(APB) é um dos mais bem descritos métodos<br />
de aprendizagem interativa e muitos acham<br />
até que é mais eficaz que o método tradicional<br />
de ensino da medicina em termos de habilidades<br />
de aprendizagem em longo prazo, além do<br />
mais, é mais divertida. (SMITS, 2002).<br />
Esse método revolucionário de ensino foi<br />
criado na década de 60 pelo Professor Howard<br />
Barrows para a Universidade MacMaster,<br />
Ontário, Canadá. Ele fundamenta todo o<br />
aprendizado, inclusive o das ciências básicas,<br />
na discussão de casos clínicos de papel, como<br />
forma de motivar e mobilizar o aluno para a<br />
solução de problemas reais. Barrows admitiu<br />
que sua maior motivação para desenvolver a<br />
ABP foi o ínfimo aproveitamento verificado<br />
por ele, entre seus alunos, nas disciplinas do<br />
curso básico de graduação em Medicina do<br />
currículo tradicional. Atribuiu esta constatação,<br />
não a incompetência dos docentes do<br />
curso básico, mas, principalmente, a falha do<br />
método de ensino. (VOLTARELLI, 1998).<br />
No contexto da Escola Médica, a ABP ainda<br />
é uma ação de contracultura, na medida em<br />
que se traduz em uma forma de aprendizagem<br />
ativa que procura compreender os princípios e<br />
os processos dos fenômenos investigados e que,<br />
portanto, estimula o interesse pela investigação.<br />
A ABP pressupõe a cooperação em pequenos<br />
grupos, condução por um tutor, estudo<br />
autodirigido, educação multidisciplinar e avaliações<br />
progressivas. (BARROS, 2006).<br />
No Brasil, no início dos anos 90, as<br />
Faculdades de Medicina de Londrina e Marília<br />
adotaram uma nova proposta curricular para<br />
a Educação Médica, sob a tutela da Fundação<br />
Kellog. Essa proposta adotava a ABP com<br />
uma orientação para a medicina comunitária<br />
conhecida como Educação Baseada na<br />
Comunidade (em inglês - Community Based<br />
Education). Fundamentava-se em documento<br />
da Organização Mundial de Saúde conhecido<br />
como: "Changing Medical Education: an<br />
agenda for action”. Esse documento conclamava<br />
a adaptação do ensino médico às<br />
novas exigências, indicando como o principal<br />
motivo de insatisfação da sociedade em<br />
relação aos médicos e a outros profissionais<br />
de saúde, sua incompetência para enfrentar<br />
os novos desafios: Humanização da atenção,<br />
cuidados integrados, maior penetração social,<br />
equidade, contenção de custos, uso inadequado<br />
da tecnologia, proteção do meio ambiente<br />
e promoção do estilo de vida mais saudável<br />
(FEUERWERKER, 2002).<br />
Na visão de FLEXNER (1910), o currículo<br />
médico tradicional deveria ser dividido em<br />
duas partes (básico e clínico) e ser conduzido<br />
no laboratório e no hospital (RAW, 2007).<br />
Embora fosse um modelo pedagógico proposto<br />
para eliminar a passividade do aluno por meio<br />
de métodos ativos de aprendizagem, a lógica<br />
fazia supor que, na prática, desapareceriam os<br />
elementos autoritários considerados intrínsecos<br />
à didática. Porém, ao final de um século de experiência<br />
com métodos nominalmente ativos, verifica-se<br />
que foram adotados para ostentar uma<br />
pretensa modernidade (SALGADO,1997).<br />
A ABP foi estruturada para romper com<br />
esses modelos ultrapassados. Mais de uma<br />
década após a implementação da ABP nos<br />
Estados Unidos da América e em outros países<br />
do mundo, o debate sobre seus méritos ainda<br />
persiste. Porque a ABP falhou em cumprir<br />
as suas promessas e expectativas? (GLEW,<br />
2003). Existiriam outros fatores envolvidos na<br />
disseminação de um modelo de ensino, criado<br />
em um país desenvolvido, com uma escola<br />
médica totalmente diferente daquelas dos países<br />
em desenvolvimento?<br />
Assim, o presente artigo se propõe a discutir<br />
e refletir sobre os fatores que procurariam<br />
explicar tais questões.<br />
2.<br />
Metodologia<br />
Através da busca, seleção e avaliação<br />
sistemática da literatura sobre a ABP, além<br />
de sua origem e consequências, pretende-se<br />
avaliar suas transformações e sua chegada aos<br />
países em desenvolvimento, com a finalidade<br />
de emitir juízo de valor sobre essa nova metodologia<br />
de ensino.<br />
3.<br />
Discussão<br />
A busca, a seleção, a avaliação crítica e<br />
a aquisição de conhecimento visando a uma<br />
aplicação prática ou a uma reflexão consti-
tuem um processo ao longo da vida do indiví-<br />
duo (KOMATSU, 1998). Quando em alguma<br />
época as opções disponíveis são escassas não<br />
se precisa desenvolver capacidade de escolha;<br />
na verdade não há muito a escolher. Na medida<br />
em que se tem mais de uma opção exige-se<br />
a capacidade de distinguir a mais adequada.<br />
(PORTO, 1987).<br />
A evolução do conhecimento é muito<br />
rápida e não uniforme. No campo da ciência,<br />
a verdade, pelo seu caráter transitório, é permanentemente<br />
posta à prova graças à aquisição<br />
de novos conhecimentos. Embora hoje se<br />
tenha a sensação de envelhecimento precoce<br />
dos objetos, aparelhos, máquinas e até mesmo<br />
das ideias, uma observação adequada permite<br />
distinguir ocorrências paradoxais e desdobramentos<br />
decorrentes do próprio progresso.<br />
(MORAES, 2007).<br />
Uma análise pouco passional da criação<br />
da ABP indica que o objetivo principal<br />
era econômico. A supressão do ciclo básico<br />
e a justificativa da incorporação das disciplinas<br />
básicas no ciclo clínico para a solução de<br />
problemas de papel é no mínimo inquietante.<br />
Esse modelo serviria a escolas que almejariam<br />
grandes lucros com grandes reduções<br />
de despesa pela diminuição do corpo docente.<br />
Seu aparecimento coincide com um aumento<br />
maciço no número de matrículas na educação<br />
superior, no hemisfério Norte do pós-guerra<br />
devido a uma dinâmica de democratização do<br />
ensino secundário norte-americano graças ao<br />
desenvolvimento do sistema público de ensino<br />
superior e universitário.<br />
Uma população importante e diversificada<br />
teve acesso a estudos superiores. No decorrer<br />
das décadas seguintes, sob pressão das<br />
novas políticas governamentais de ajuda aos<br />
estudantes sem dinheiro, do movimento dos<br />
direitos civis dos negros e das lutas feministas,<br />
as instituições privadas tiveram que fazer<br />
coexistirem os que eram socialmente bem<br />
colocados e os que eram escolarmente bem<br />
preparados. Com a multiplicação dos estabelecimentos<br />
públicos de qualidade e uma escolaridade<br />
a baixo custo, o aparecimento de<br />
bolsistas nas universidades fortaleceu a ideia<br />
de um ensino superior aberto a (quase) todos,<br />
bastava trabalhar muito. (FANTASIA, 2004).<br />
Entre 1940 e 1970 as matrículas na universidade<br />
americana multiplicaram-se por<br />
cinco, evoluindo de 1,5 milhão para quase<br />
8,0 milhões.Nos 30 anos seguintes, as inscrições<br />
dobrariam outra vez. (NEWFIELD,<br />
2007) Harvard introduziu a ABP através de<br />
Alexander Leaf que justificava sua implantação<br />
como auxílio para desenvolver a educação<br />
continuada baseada na curiosidade aumentando<br />
a automotivação dos estudantes.<br />
Ao contrário do esperado, os estudantes<br />
desse novo currículo tornaram-se muito<br />
mais passivos, aceitando tudo o que lhes era<br />
dito de forma autoritária, nunca questionando<br />
a forma de dizer (GOLDHABER, 1973).<br />
Segundo esse mesmo autor, após seis anos de<br />
utilização, Harvard retornou ao currículo tradicional.<br />
O fator decisivo para o retorno foi o<br />
péssimo desempenho dos alunos nos exames<br />
do National Board . Sempre acostumada aos<br />
primeiros lugares, Harvard ficou em terceiro<br />
lugar na classificação geral e em relação às cadeiras<br />
básicas ficou em 15º em farmacologia e<br />
10º lugar em patologia; algo nunca antes pensado.<br />
Coincidentemente, nesta mesma época,<br />
foi proposta pelo governo militar instituído<br />
após o golpe de 1964, no Brasil, uma proposta<br />
de reforma curricular para a universidade brasileira,<br />
incluindo o ensino médico.<br />
A reforma de 1968 aboliu o sistema de<br />
cátedra e ainda que a participação política em<br />
nossas universidades estivesse sempre presente,<br />
ela não conduziria a polarizações partidárias<br />
insuperáveis, sendo possível evitar os problemas<br />
da admissão em massa de estudantes<br />
sem um mínimo de qualificação. Houve uma<br />
explosão de matrículas entre 1965 e 1980 - de<br />
150 mil para 1,5 milhão de estudantes em 15<br />
anos. (SCHAWARTZMAN, 1988).<br />
O golpe militar de 1964 foi o resultado<br />
da contradição entre o econômico e o político.<br />
Contradição entre um processo que pretendia<br />
a internacionalização da economia brasileira e<br />
a ideologia nacionalista da maioria da classe<br />
política. O plano educacional de o governo<br />
militar-autoritário foi aumentar a produtividade<br />
da escola pública com a adoção de<br />
princípios empresariais, acenando com uma<br />
tendência privatizadora da educação. (SILVA<br />
JUNIOR, 2005).<br />
É nesse panorama do mundo neoliberal,<br />
pautado e regido pela economia de mercado,<br />
que surge a ABP como nova metodologia de<br />
ensino médico. No Brasil, a implementação da<br />
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nova proposta pedagógica implicou em grande<br />
esforço de mobilização. O nível necessário<br />
de apropriação em termos conceituais e metodológicos,<br />
para construir e efetuar a nova proposta,<br />
foi sendo atualizada na prática. Havia<br />
clara consciência das limitações existentes sobre<br />
a consistência conceitual e as experiências<br />
acumuladas.<br />
O grupo coordenador investiu profundamente<br />
em capacitação (na sua própria e na dos<br />
demais docentes). (FEUERWERKER, 2002).<br />
Essa mesma autora relata que o processo de<br />
construção do novo currículo foi complexo,<br />
configurando novos espaços, novas relações<br />
de poder, novos papéis e muitos desafios.<br />
Especialmente porque nessa nova construção,<br />
nem todas as respostas estão dadas e nem todas<br />
as ferramentas disponíveis. Em Harvard,<br />
as sessões de reforma curricular foram resolvidas<br />
em quartos de motel, nos fins de semana,<br />
onde os professores reunidos podiam expor<br />
suas ideias e contradições sobre o novo currículo.<br />
(GOLDHABER, 1973).<br />
Nas décadas de 80 e 90, a ABP apresentou<br />
leves mudanças com um reajuste positivo para<br />
se adaptar às novas necessidades dos alunos.<br />
(KAUFMAN, 1995). Essa mudança se tornou<br />
mais evidente no currículo desenvolvido pela<br />
Universidade Maastricht, na Holanda, e o aparecimento<br />
do ensino baseado na comunidade (EBC).<br />
Um modelo muito parecido com a EBC<br />
foi proposto na reforma universitária dos militares<br />
em 1968, conhecido como Integração<br />
Docente Assistencial (IDA) cuja expressão<br />
máxima foi conseguida no Internato Rural da<br />
Universidade Federal de Minas Gerais. A IDA<br />
representaria um meio através do qual se poderia<br />
gerar uma prática médica que procurasse<br />
transformar as condições de saúde da população,<br />
implicando na participação da comunidade,<br />
não como receptor passivo, mas como um<br />
elemento ativo desse processo. Seria, juntamente<br />
com a extensão de cobertura da assistência<br />
médica do setor público de saúde, uma<br />
resposta à crise interna do setor saúde devido<br />
à expansão capitalista e ao processo de acumulação<br />
de capital pela indústria de equipamentos<br />
médicos e pela indústria farmacêutica<br />
(INTERNATO RURAL, 2007).<br />
O ensino baseado na comunidade que<br />
chegou ao Brasil no início da década de 90 é<br />
muito parecido com a proposta da IDA, só que<br />
utilizando a ABP e centrado na comunidade.<br />
Assim como a ABP pode ser descrita como<br />
arma da estratégia neoliberal para a expansão<br />
de escolas médicas que aufeririam grandes<br />
lucros através de drásticas reduções do corpo<br />
docente e a colocação de cada vez mais médicos<br />
no mercado, meros agentes de consumo<br />
dos equipamentos e medicamentos produzidos<br />
pela indústria detentora das patentes , a EBC<br />
poderia representar , na visão de alguns escritores<br />
românticos, a aplicação da pedagogia<br />
libertadora de Paulo Freire e uma importante<br />
estratégia de inclusão social. Porém seu papel<br />
apresenta outra origem.<br />
A forte influência exercida pelo Banco<br />
Mundial na política macroeconômica brasileira<br />
irradia-se sobre diversos setores, entre<br />
eles, a educação. A política educacional desse<br />
banco, que se autodenomina: política de cooperação<br />
ou de assistência técnica; nada mais<br />
representa que uma mera relação comercial,<br />
caracterizada por um empréstimo convencional<br />
com pesados encargos, rigidez de regras,<br />
precondições financeiras e cláusulas inerentes<br />
ao financiamento comercial da educação.<br />
Os créditos concedidos por essa instituição à<br />
educação são parte de projetos econômicos<br />
que integram a dívida externa dos devedores<br />
com as grandes corporações multilaterais. A<br />
estratégia do banco consiste em garantir a estabilidade<br />
econômica de nações em desenvolvimento<br />
colocando em foco os gastos sociais e<br />
o ataque à pobreza e, por isso, recomenda aos<br />
governos, o fornecimento de serviços básicos<br />
aos pobres: Saúde elementar, planejamento familiar,<br />
nutrição e educação primária.<br />
A educação é tratada pelo banco como<br />
medida compensatória para proteger os pobres<br />
e aliviar as tensões sociais. Ela também<br />
é necessária para a contenção demográfica e<br />
o aumento da produtividade das populações<br />
carentes, gerando mais lucros. O controle da<br />
natalidade prepara a população feminina para<br />
o planejamento familiar e para a vida produtiva.<br />
(ALTMANN, 2002).<br />
Que melhor estratégia para a política neoliberal<br />
do banco do que a implantação de um<br />
currículo em EBC, centrado na comunidade<br />
carente. A presença do aluno da escola médica<br />
seria o instrumento de prestação de assistência,<br />
provendo a saúde elementar dos pobres,<br />
reduzindo e apaziguando os conflitos sociais.
Essa estratégia curricular serviria não<br />
só à retórica neoliberal típica da economia<br />
de mercado do mundo globalizado, mas fundamentalmente<br />
serviria a governos de cunho<br />
populista-eleitoreiro, que são comuns nos países<br />
em desenvolvimento; em outras palavras,<br />
serviria ao credor e ao devedor.<br />
O Banco Mundial como financiador<br />
da Organização das Nações Unidas para a<br />
Educação, a Saúde e o Trabalho (UNESCO),<br />
órgão responsável pelo planejamento estratégico<br />
de ações educacionais, recomendou, através<br />
de reuniões de seus filósofos como Edgar<br />
Morin, a disseminação da EBC para a Ásia, a<br />
África e a América Latina.<br />
Outra perspectiva sombria, que merece<br />
reflexão, é uma entrevista do Professor<br />
Antonio Carlos Lopes, da Secretaria de<br />
Educação Superior do Ministério da Educação,<br />
ao jornal eletrônico do Conselho Regional de<br />
Medicina do Estado de São Paulo, quando ele<br />
explica que no momento existem propostas de<br />
abertura de 78 novos cursos de medicina na<br />
Secretaria, a maioria, fundamentada na ferramenta<br />
ABP. Ele manifesta sua desaprovação<br />
a isso e afirma “Querem implantar a ABP no<br />
Brasil simplesmente porque não têm professores<br />
nem tampouco hospitais de ensino’’.<br />
(LOPES, 2007).<br />
Para finalizar, a única justificativa plausível<br />
para a mudança tão radical na grade<br />
curricular da escola médica seria a pretensa<br />
superioridade do aluno formado em ABP sobre<br />
aquele egresso do currículo tradicional.<br />
Poucos são os trabalhos randomizados que<br />
estabelecem tal relação, os que existem não<br />
notaram diferenças marcantes entre os dois tipos<br />
de aluno. (BERKSON, 1993; KWIZERA,<br />
2003; CARRERO, 2006).<br />
4.<br />
Conclusão<br />
Importa uma palavra de cautela na avaliação<br />
rápida e superficial do novo, em tempos<br />
de mundo globalizado, com imensos interesses<br />
econômicos em jogo diariamente. Não é possível<br />
vislumbrar a possibilidade de libertação<br />
do mercado, nem com as reflexões filosóficas<br />
de educadores do terceiro mundo, muito menos<br />
com o pensamento romântico de filósofos<br />
franceses encarregados de pensar a educação.<br />
Tudo faz parte do mesmo jogo estratégico macroeconômico<br />
cuja única finalidade é o lucro<br />
financeiro a qualquer custo.<br />
5.<br />
1.<br />
2.<br />
3.<br />
4.<br />
5.<br />
6.<br />
7.<br />
8.<br />
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31(2): Editorial.<br />
Endereço para Correspondência:<br />
João Ozório R. Neto<br />
joaoozorio@globo.com<br />
Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />
Avenida Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325<br />
Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />
CEP: 27240-560<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />
NETO, João Ozório R; CUNHA, Cleize Silveira; CUNHA, Cristiane Silveira; RODRIGUES, Adriana Novaes; TAVARES, Mauro. Aprendizagem baseada em problemas: o mito<br />
e a realidade. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:
Karatê e agressividade: possíveis relações<br />
Karate and aggression: possible relation<br />
Cláudio Delunardo Severino 1<br />
Andressa de Oliveira Barbosa 2<br />
Palavras-chave:<br />
Karatê<br />
Agressividade<br />
Relações<br />
Resumo<br />
O presente estudo objetiva analisar possíveis relações entre a prática<br />
do Karatê e o comportamento, algumas vezes, agressivo por parte de<br />
seus adeptos. Para tal, investigaram-se as linhas teóricas do Karatê, seu<br />
histórico, ensino, conceitos e as suas abordagens gerais e, sendo assim,<br />
buscou-se compreender como os professores de Karatê trabalham com<br />
seus alunos a questão da agressividade, bem como as suas consequências.<br />
Além disso, procurou-se estabelecer uma maior compreensão<br />
acerca da agressividade, bem como suas principais características e<br />
conceitos específicos. A metodologia empregada tratou-se de uma pesquisa<br />
exploratória, discursiva, de cunho bibliográfico, além de pesquisa<br />
de campo para coleta de dados. O instrumento para a coleta de dados<br />
foi um questionário contendo perguntas acerca do desenvolvimento do<br />
Karatê, por parte dos professores, e também a relação destes com a<br />
temática da agressividade, através do qual delineamos a pesquisa a fim<br />
de obter o subsídio necessário para a análise proposta. Os participantes<br />
da pesquisa tiveram as suas respostas analisadas para que as mesmas<br />
pudessem ser generalizadas e projetadas, identificando-se a melhor<br />
forma de aproveitar as informações. Considerando que existem possíveis<br />
relações entre a prática do Karatê por crianças e adolescentes e o<br />
comportamento agressivo, eventualmente, apresentado pelos mesmos.<br />
A elaboração deste estudo justifica-se pela relevância de investigações<br />
relacionadas às linhas teóricas do Karatê. Consideramos também os aspectos<br />
culturais associados à agressividade e à contribuição que os seus<br />
resultados possam vir a apresentar aos profissionais ligados ao processo<br />
de ensino-aprendizagem desta arte marcial. Alguns professores consideram<br />
que condutas agressivas podem contribuir para o rendimento do<br />
aluno, e é esse equívoco que faz com que o indivíduo não seja capaz de<br />
lidar com o insucesso, ocasionando algumas vezes ações agressivas e<br />
até mesmo a violência. Sendo assim, notamos que podem existir relações<br />
entre a prática do Karatê e a agressividade, mas que não é o esporte<br />
o causador direto desse comportamento agressivo.<br />
1 Professor graduado em Licenciatura Plena em Educação Física; Pós-graduado em Docência para o Ensino Superior; Mestre em Ensino em<br />
Ciências da Saúde e do Meio Ambiente – Centro Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong><br />
2 Discente do 6° período dos Cursos de Educação Física do <strong>UniFOA</strong> – Bacharelado e Licenciatura<br />
85<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
05/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
86<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
Abstract<br />
The present study aims to analyze possible relations between the<br />
practice of Karate and the aggressive behavior on the part of its adepts.<br />
The theoretical lines of the Karate, description, education, concepts<br />
and general border has been investigated, and thus searched in order<br />
to understand how the Karate teachers can work with their pupils<br />
the question of aggression and its consequences. Moreover a better<br />
understanding concerning aggression as well as its main characteristics<br />
and specific concepts were done. An exploratory, discursive, in a<br />
bibliographical matrix and a data collection were employed. The<br />
instruments to the data collection was a questionnaire about the<br />
development of Karate, by the teachers, and also the relation between<br />
them and the aggression topic, and through these we delineate the<br />
research in order to get the necessary subsidy to the proposed analysis.<br />
The participants in the research had their answers analyzed in a way<br />
that they could be generalized and projected, identifying the best form to<br />
use its information. Considering that there are possible relation between<br />
the practice of Karate by children and adolescents and the aggressive<br />
behavior eventually presented by them, the elaboration of this study is<br />
justified by the relevance of inquiries related to the theoretical lines of<br />
Karate. We also consider the cultural aspects associated to aggression<br />
and the contribution that its results can present to the professionals<br />
related to the teaching and learning process of this martial art. Some<br />
teachers consider that the aggressive behaviors can contribute to the<br />
income of the pupil, and this mistake makes the individual not able to<br />
deal with failure, sometimes causing aggressive actions even though<br />
violence. Thus, we notice that some relation between the practice of<br />
Karate and aggression can exist but the sport is not the guilt for this<br />
aggressive behavior.<br />
1.<br />
Introdução<br />
O Karatê é uma arte marcial praticada<br />
em todo mundo e que, com o tempo, tornouse<br />
também uma modalidade esportiva. Isso faz<br />
com que os professores de Karatê venham a<br />
se tornar também técnicos, podendo exercer<br />
influências positivas ou negativas sobre seus<br />
atletas.<br />
Ao entender que existem possíveis relações<br />
entre a prática do Karatê por crianças<br />
e adolescentes e o comportamento agressivo<br />
eventualmente apresentado pelos mesmos, a<br />
elaboração deste estudo justifica-se pela relevância<br />
de investigações relacionadas às linhas<br />
teóricas do Karatê e à contribuição que<br />
os seus resultados possam vir a apresentar aos<br />
profissionais ligados ao processo de ensinoaprendizagem<br />
da referida arte marcial.<br />
O presente estudo objetiva analisar possíveis<br />
relações entre a prática do Karatê e o<br />
comportamento, algumas vezes agressivo, por<br />
parte de seus adeptos. Para tal, investigaramse<br />
as linhas teóricas do Karatê, seu histórico,<br />
ensino, conceitos e as suas abordagens gerais<br />
Key words:<br />
Karate<br />
Aggression<br />
Relations<br />
e, sendo assim, buscou-se compreender como<br />
os professores de Karatê trabalham com seus<br />
alunos a questão da agressividade, além de<br />
suas consequências. Procurou-se também estabelecer<br />
uma maior compreensão acerca da<br />
agressividade, bem como suas principais características<br />
e conceitos específicos.<br />
O estudo é caracterizado por uma revisão<br />
bibliográfica de cunho descritivo acerca do<br />
objeto de investigação. Além disso, foi feita<br />
uma pesquisa quali-quantitativa com o intuito<br />
de abranger a relação entre o contexto e o processo.<br />
Sendo assim, o instrumento para a coleta<br />
de dados foi um questionário contendo perguntas<br />
acerca do desenvolvimento do Karatê<br />
por parte dos professores e também a relação<br />
destes com a temática da agressividade.<br />
Para Vianna (1996), a partir da compreensão<br />
de que a prática do Karatê pode representar<br />
riscos para o praticante e para a sociedade, torna-se<br />
necessária a realização de pesquisas que<br />
abordem a cultura dos praticantes de Karatê e<br />
suas consequências individuais e coletivas.
2.<br />
Metodologia<br />
O estudo é caracterizado por uma revi-<br />
são bibliográfica, de cunho descritivo, acerca<br />
do objeto de investigação, no sentido de apresentar<br />
os conceitos obtidos por outros autores.<br />
Além disso, foi feita uma pesquisa qualiquantitativa<br />
com o intuito de abranger a relação<br />
entre o contexto e o processo. O processo<br />
refere-se a como o desenvolvimento acontece<br />
e o contexto no qual ele ocorre.<br />
Sendo assim, o instrumento para a coleta<br />
de dados foi um questionário contendo perguntas<br />
acerca do desenvolvimento do Karatê<br />
por parte dos professores e também a relação<br />
destes com a temática da agressividade.<br />
Para a realização da pesquisa, foram contactados<br />
diversos professores de Karatê que<br />
atuam na região Sul Fluminense do estado<br />
do Rio de Janeiro, além de profissionais de<br />
outros estados, participantes do Campeonato<br />
Brasileiro da Federação Brasileira de Karatê<br />
(FBK), realizado na cidade de Duque de<br />
Caxias-RJ em 2010. O período de realização<br />
da pesquisa ocorreu entre os meses de março e<br />
setembro de 2010 e o questionário foi respondido<br />
por 33 professores.<br />
A análise dos dados foi desenvolvida de<br />
acordo com os resultados obtidos por meio do<br />
instrumento de coleta de dados. Os participantes<br />
da pesquisa tiveram as suas respostas<br />
analisadas para que as mesmas pudessem ser<br />
generalizadas e projetadas, identificando a melhor<br />
forma de se aproveitar as informações.<br />
3.<br />
Agressividade e Violência<br />
A agressividade é característica de atuação<br />
normal em fase inicial do desenvolvimento<br />
do indivíduo (SANTOS, 2008). Tal<br />
comportamento, embora possa ser transitório<br />
ou efêmero, pode ter suas consequências refletidas<br />
durante toda a vida do indivíduo.<br />
Goldberg (2004, p. 22), em seus apontamentos<br />
voltados para a violência, cita Einstein,<br />
que disse que a “violência fascina os seres moralmente<br />
mais fracos”. Para Gauer (2008), a<br />
agressão e a impulsividade estão relacionadas à<br />
violência que encontramos em nossa sociedade<br />
e são multifatoriais, não tornando, por isso, tal<br />
comportamento completamente elucidado.<br />
Sobre a violência, Birman (2009, p. 61)<br />
afirma que:<br />
Não resta dúvida de que a violência é<br />
uma marca que perpassa a história humana,<br />
estando presente não apenas em<br />
diversas tradições culturais como também<br />
em todas as sociedades. Não obstante<br />
as múltiplas diferenças existentes<br />
nessas e naquelas, nos registros político,<br />
religioso e simbólico, a violência<br />
está sempre lá, como traço indelével da<br />
experiência social, regulando e desregulando<br />
ao mesmo tempo as relações<br />
entre as subjetividades. Trata-se, enfim,<br />
de uma invariante que caracteriza a história<br />
social de maneira irrefutável<br />
O autor supracitado observa que é necessário<br />
destacar que se pode constatar a existência,<br />
na atualidade, de formas inéditas de<br />
violência, que ultrapassam tudo o que nos antecedeu<br />
historicamente. As novas modalidades<br />
de violência não apenas agridem a sociedade,<br />
mas principalmente chocam, devido a sua intensidade.<br />
Birman (2009, p. 61) também aponta<br />
que “nos registros - social, político, militar,<br />
familiar e amoroso- a violência se revela com<br />
tais características. Daí sua originalidade, que<br />
evidencia ainda por sua disseminação e por<br />
sua banalização”.<br />
Porém, diferente da violência, que é a<br />
aplicação intencional de uma ação para fins<br />
destrutivos e/ou prejudiciais ao outro, Santos<br />
(2005) define a agressividade como uma reação<br />
relacionada com a imaginação, o pensamento<br />
e ações, podendo estas ocorrerem de<br />
formas verbais ou não verbais.<br />
Mas como a agressão se manifesta no homem?<br />
Segundo Morris (2008), o organismo se<br />
prepara para uma ação por meio do sistema<br />
nervoso autônomo, que se subdivide em dois<br />
subsistemas: simpático e parassimpático. O<br />
subsistema simpático é responsável pela preparação<br />
para atividades consideradas violentas,<br />
enquanto o segundo possui a função direta<br />
de manter e reconstituir as reservas do corpo.<br />
De acordo com mesmo autor, na maioria das<br />
ocasiões, o organismo responde aos dois subsistemas.<br />
Porém, num momento de agressividade,<br />
o corpo responde apenas ao sistema sim-<br />
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pático que, estimulado, aumenta a adrenalina,<br />
afetando assim todo o sistema circulatório.<br />
Morris (2008, p. 158) complementa:<br />
O coração bate mais depressa e o sangue<br />
que circula na pele e nas vísceras<br />
é desviado para os músculos e para o<br />
cérebro. A pressão arterial aumenta.<br />
Acelera-se a produção de glóbulos vermelhos.<br />
O sangue coagula mais rapidamente<br />
do que em condições normais.<br />
Além disso, interrompem-se os processos<br />
de digestão e de armazenamento de<br />
alimentos. A salivação é inibida, assim<br />
como os movimentos do estômago [...]<br />
A atividade respiratória aumenta. A<br />
respiração torna-se mais rápida e profunda.<br />
Os cabelos põem-se em pé e há<br />
intensa sudação.<br />
Quanto à agressividade no esporte, na<br />
perspectiva de Samulsky (1992), este é o<br />
campo social em que há a maior importância<br />
acerca do confronto físico entre indivíduos.<br />
Associando essa consideração à agressividade,<br />
Gabler (1987, p. 94 apud SAMULSKY,<br />
1992, p. 101) a define como:<br />
Uma disposição permanente (motivo)<br />
de uma pessoa para comportar-se numa<br />
determinada situação de forma agressiva.<br />
Um comportamento é denominado<br />
agressivo quando existe só uma intenção<br />
ou o desejo de prejudicar outra pessoa<br />
independentemente da realização<br />
da ação agressiva e dos efeitos prejudiciais<br />
pretendidos.<br />
Próximos a esta definição, Baron e<br />
Richardson (1994, p. 7 apud WEINBERG;<br />
GOULD, 2008) consideram que a agressividade<br />
pode ser considerada como qualquer forma<br />
de comportamento que apresente “o objetivo<br />
de prejudicar ou ferir outro ser vivo que está<br />
motivado a evitar tal tratamento”.<br />
Weinberg e Gould (2008) entendem que a<br />
agressividade é caracterizada por um comportamento<br />
verbal ou físico, não devendo ser interpretado<br />
como uma simples atitude ou emoção. Além<br />
disso, tal comportamento também apresenta a<br />
evidência do envolvimento de danos ou ferimentos<br />
que podem ser psicológicos ou físicos.<br />
Isso posto, percebemos a necessidade de<br />
investigar possíveis causas e consequências<br />
do comportamento agressivo em modalidades<br />
esportivas, aqui, especificamente, o Karatê.<br />
3.1.<br />
Teorias da agressão<br />
Samulsky (1992) estabelece algumas teorias<br />
relacionadas ao comportamento agressivo.<br />
A primeira delas é a de instintos e impulsos,<br />
quando o autor observa que a agressão<br />
é proveniente de um instinto inato e espontâneo,<br />
provocando assim um acúmulo contínuo<br />
de energia agressiva no organismo e que, por<br />
necessidade, deve ser eventualmente descarregada.<br />
Para Gill (2000 apud WEINBERG;<br />
GOULD, 2008), quanto a essa mesma teoria, o<br />
indivíduo tem um instinto inato voltado para a<br />
agressividade que se desenvolve até o momento<br />
em que ele seja manifestado diretamente ou<br />
por meio de catarse, em que a agressividade é<br />
exposta por intermédio de ações socialmente<br />
aceitáveis.<br />
Na teoria frustração-agressão, também<br />
conhecida como teoria do impulso, há a hipótese<br />
de que situações relacionadas a algum<br />
tipo de frustração possam ocasionar agressões.<br />
Nesse caso, a frustração é definida “como um<br />
impedimento de uma atividade atual dirigida a<br />
uma meta” (SAMULSKY, 1992, p. 99).<br />
O referido autor ressalta que:<br />
O objetivo do comportamento agressivo<br />
é prejudicar intencionalmente outra<br />
pessoa ou outro objeto. Frustrações não<br />
provocam automaticamente condutas<br />
agressivas. Comportamento agressivo é<br />
uma das reações possíveis em presença<br />
de frustrações. Outras reações são, por<br />
exemplo, regressão, resignação e decepção<br />
(p. 99).<br />
Nessa teoria, a agressividade é compreendida<br />
como o resultado direto de uma frustração<br />
ocasionada pelo fracasso do objetivo<br />
(DOLLARD et al, 1939 apud WEINBERG;<br />
GOULD, 2008).<br />
Samulsky (1992) complementa que a conduta<br />
agressiva está relacionada a tendências<br />
agressivas, causas da frustração e intensidade<br />
das frustrações passadas, além da quantidade<br />
e intensidade das mesmas. Entretanto, essa te-
oria, atualmente, vem perdendo adeptos, pois,<br />
segundo Weinberg e Gould (2008), pesquisas<br />
e experiências comprovam que os indivíduos<br />
em diversas ocasiões convivem com suas frustrações<br />
ou as demonstram de maneiras pouco<br />
o nada agressivas.<br />
Outra teoria voltada para a questão da<br />
agressividade é a da aprendizagem social, que<br />
entende essa questão como um comportamento<br />
o qual o indivíduo assimila comportamentos<br />
agressivos por meio da observação de outros,<br />
exibindo assim atitudes semelhantes. Segundo<br />
Weinberg e Gould (2008), a observação da<br />
violência na mídia se encontra diretamente<br />
relacionada a algumas atitudes agressivas, sugerindo<br />
que, por esse caminho, as pessoas, em<br />
especial as crianças, são expostas a inúmeras<br />
situações de violência, aprendendo assim diversas<br />
maneiras de serem agressivos.<br />
Essa teoria reforça o importante papel que<br />
alguns elementos, dentre eles os professores,<br />
possuem acerca do controle do comportamento<br />
agressivo, tendo em vista não somente a sua capacidade<br />
de influência, mas a percepção de que<br />
a modelagem é uma maneira veemente de se<br />
assimilar comportamentos agressivos ou não.<br />
3.2.<br />
As causas da agressividade<br />
Samulski (1992) aponta fatores importantes<br />
para a existência de posturas agressivas por<br />
parte de atletas, entre eles, o nível de rendimento<br />
dos mesmos e o comportamento dos técnicos.<br />
Balbino et al (1997 apud TRAMONTIN;<br />
PERES, 2008) também elencam algumas causas<br />
de comportamentos agressivos envolvendo<br />
atletas, incluindo as pressões exercidas pelos<br />
técnicos e a questão financeira.<br />
Percebemos que os autores acima citados<br />
mencionam em seus respectivos estudos a influência<br />
que o técnico pode exercer sobre seus<br />
alunos/atletas. Consideramos que esse fato deva<br />
ser sempre levado em consideração quando se<br />
trata de uma preparação esportiva relacionada<br />
a qualquer modalidade, bem como a precaução<br />
que o professor deve ter ao abordar a questão da<br />
agressividade junto aos seus alunos.<br />
Na perspectiva de Weinberg e Gould<br />
(2008), muitos técnicos e atletas acreditam<br />
que a agressão contribui para a melhora do<br />
rendimento, na maioria das vezes por meio<br />
de ameaças e ações intimidadoras em relação<br />
aos adversários, garantindo assim, a diminuição<br />
do rendimento destes em contraste com a<br />
autopreservação do agressor. Percebemos que<br />
se tal postura esteja baseada em orientações<br />
vindas por parte dos técnicos, a agressividade<br />
encontrará cada vez mais na prática esportiva<br />
um dos seus principais alicerces.<br />
4.<br />
Karatê e Agressividade<br />
Santos (2005) afirma que são cinco os<br />
mandamentos do Karatê-Dô: a formação do<br />
caráter do praticante, a sabedoria e o senso de<br />
justiça, a formação ética na produção de resultados,<br />
a formação do respeito à hierarquia<br />
e às regras sociais e a reprovação dos atos de<br />
violência. Mesmo reconhecendo a importância<br />
de todos os mandamentos no que tange à<br />
formação global do praticante do Karatê, consideraremos<br />
apenas o quinto, a reprovação dos<br />
atos de violência, por ser o mais relevante a<br />
respeito do presente estudo.<br />
Santos (2005, p. 6) o aponta na seguinte<br />
interpretação:<br />
Pronúncia em japonês: Hitotsu. Kekki no<br />
Yu o Imashimuru Koto. Em português:<br />
Sempre. Conter o espírito de agressão<br />
destrutiva. O Karatê-Dô Tradicional<br />
cultua a não agressão destrutiva. Trabalha-se<br />
o controle da agressividade,<br />
redobrando-se o cuidado nos treinos e<br />
atividades, colocando o estado de atenção<br />
não apenas conosco, mas também<br />
com o outro. Respeitando-se sempre a<br />
dignidade de todo ser humano.<br />
Para que o controle acima mencionado<br />
esteja sempre presente nas atividades voltadas<br />
para a prática dessa arte marcial, as suas regras<br />
impõem um rígido controle. Além do código<br />
de ética do Karatê-Dô Tradicional, o Dojo<br />
Kum, a modalidade também possui os regulamentos<br />
da Federação Internacional de Karatê-<br />
Dô Tradicional – ITKF e os da Confederação<br />
Brasileira de Karatê-Dô Tradicional – CBKT,<br />
além das Federações Estaduais e diversas<br />
Associações. As punições para ações como<br />
violação premeditada, desrespeito ao professor<br />
ou conduta agressiva, associadas ou não<br />
às atividades ligadas ao Karatê, podem ir da<br />
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advertência verbal à exclusão, conforme podemos<br />
perceber nas regras estabelecidas pelos<br />
parâmetros oficiais da CBKT (1997 apud<br />
SANTOS, 2005, p. <strong>12</strong>):<br />
I – Violação premeditada e deliberada<br />
das regras da categoria de competição;<br />
II – Agitação ou emoção excessiva que<br />
ameace a continuação segura da luta;<br />
III – Recebimento de duas advertências<br />
graves enquanto compete na mesma<br />
categoria na competição; IV – (...) por<br />
falta de habilidade para competir. Isto<br />
indica que o competidor não tem habilidade<br />
suficiente (...).<br />
Além desse controle feito pelas regras e<br />
pelo código de ética do Karatê-Dô, esta modalidade<br />
apresenta, como uma de suas características,<br />
a disposição evidente em assegurar<br />
que o comportamento agressivo não é tolerado,<br />
punindo os seus praticantes que agem<br />
de maneira agressiva (WIDMEYER apud<br />
WEINBERG; GOULD, 2008). É importante<br />
ressaltar que essa punição não revela a consciência<br />
de estar lidando com um culpado, mas<br />
sim, com um causador de danos. No entendimento<br />
de Nietzsche (2009, p. 64), isso nos<br />
leva à reflexão de que “o castigo teria valor de<br />
despertar no culpado o sentimento de culpa”.<br />
Santos (2005) observa, ainda, que o adversário<br />
jamais deva ser tratado como um inimigo,<br />
e que qualquer abuso verbal ou contato<br />
que cause dano à integridade física a este é<br />
motivo suficiente para a aplicação das sanções<br />
presentes nas regras oficiais.<br />
Percebendo ainda a preocupação com<br />
que o Karatê sempre teve com o comportamento<br />
agressivo, Funakoshi (2005), em seus<br />
princípios fundamentais do Karatê, observa<br />
que essa arte marcial não deve ser usada injusta<br />
ou inadequadamente. “Seus praticantes<br />
devem permanecer do lado da justiça em todas<br />
as ocasiões e apenas em situações em que não<br />
haja outra escolha devem expressar a sua força<br />
pelo uso das mãos e dos pés como armas”<br />
(FUNAKOSHI, 2005, p. 30).<br />
A formação do Karatê baseia-se na experiência<br />
de esvaziamento que, gradativamente,<br />
o praticante deve fazer (BARREIRA, 2006).<br />
O mesmo autor observa que, de acordo com o<br />
relato de diversos mestres, invariavelmente, o<br />
principiante compreende o Karatê como uma<br />
possibilidade de fortalecimento que o leva a ir<br />
ao encontro com situações de agressividade e<br />
violência, concepção que não costuma suportar<br />
alguns anos de prática. Esses mesmos mestres<br />
observam que o praticante se coloca entre<br />
duas claras alternativas, que é a transformação<br />
dessa concepção ou o abandono do Karatê.<br />
Funakoshi (1994, p. 1<strong>12</strong> apud<br />
BARREIRA, 2006, p. 111) observa que, acerca<br />
disso:<br />
[...] sempre há aqueles que têm como<br />
desejo único aprender Karatê para utilizá-lo<br />
numa luta. [...] Esses quase inevitavelmente<br />
abandonam o curso, porque<br />
é quase impossível que qualquer jovem<br />
com objetivo tão tolo continue por muito<br />
tempo no Karatê.<br />
Para Barreira (2006), a partir do momento<br />
em que o praticante do Karatê enfatiza a<br />
agressividade durante o kumitê, isso implica<br />
poucas condições de controle, tanto no plano<br />
pessoal como no interpessoal. O tempo de prática,<br />
bem como certa quantidade de kumitês<br />
assumem a condição de estabelecer a necessidade<br />
de reflexão acerca disso.<br />
Por meio dessas observações, percebemos<br />
que o professor, amparado nos próprios<br />
conceitos filosóficos do Karatê, pode cumprir<br />
importante papel no que tange à percepção<br />
de comportamentos que, caracterizados pela<br />
agressividade, apresentam sérios problemas<br />
ao desenvolvimento biopsicossocial do praticante.<br />
Diante disso, notamos a necessidade do<br />
professor em assumir o compromisso de, ao<br />
observar tais comportamentos, não abrir mão<br />
da sua responsabilidade de indicar os rumos<br />
que se deseja para uma sociedade mais justa e<br />
com igualdade de oportunidades,o que certamente,<br />
a prática consciente de uma modalidade<br />
como o Karatê contribuirá de forma positiva<br />
se for aplicada de maneira coerente.<br />
5.<br />
Análise e Discussão de Resultados<br />
A pesquisa acerca do desenvolvimento<br />
do Karatê por parte dos professores e também<br />
a relação destes com a temática da agressividade<br />
foi norteadora para se alcançar alguns
esultados. Esses resultados foram obtidos a<br />
partir dos dados coletados por intermédio da<br />
pesquisa e dos conceitos desenvolvidos na revisão<br />
bibliográfica.<br />
Acerca da formação dos professores que<br />
responderam o questionário associado a esta<br />
pesquisa, dados incluídos no Gráfico 1, apontam<br />
que, dos 33 participantes, 11 são graduados<br />
em Educação Física, além de 7 com especialização<br />
(lato sensu). Contudo, os resultados<br />
indicam que 15 professores apresentam como<br />
formação o título de mestre em Karatê (4) ou<br />
outras especificações, como por exemplo, a<br />
condição de ex-atletas.<br />
Atualmente, existem casos que apontam<br />
decisões judiciais favoráveis a não cobrança de<br />
registros nos Conselhos Regionais ou Federal<br />
de Educação Física (CREF e CONFEF).<br />
Porém, entendemos ser relevante o estabelecimento<br />
de conceitos que abordam o papel do<br />
professor de Educação Física e as circunstâncias<br />
que o envolvem, além da sua importância<br />
dentro da própria prática docente.<br />
No entendimento de Magalhães e Arantes<br />
(2007), espera-se que docente de Educação<br />
Física esteja apto em relação ao que a práxis<br />
exigirá. Ele deve, acerca das aulas, planejar<br />
e disseminar conhecimentos relacionados à<br />
construção de um saber ligado à motricidade<br />
humana. Contudo, mesmo sendo um especialista<br />
em movimento, é necessário que se observem<br />
outras dimensões humanas. Então, para<br />
que as aulas e treinamentos de modalidades<br />
esportivas atinjam os seus objetivos, torna-se<br />
interessante que se aprofunde os estudos além<br />
do aspecto motor, itens tais como a relação interpessoal,<br />
a liderança e a comunicação.<br />
Piaget apud NEIRA (2006) considera a<br />
atuação do professor indispensável na medida<br />
em que deve ter um papel ativo na estruturação<br />
do processo de aquisição de conhecimento<br />
de seus alunos, ajudando-os a construir e organizar<br />
suas ideias, ampliando-lhes o olhar, sempre<br />
que possível, e estimulando a pesquisa e<br />
as ações. O papel do professor é fundamental,<br />
sendo que suas atitudes interferirão na relação<br />
que este irá estabelecer com o conhecimento.<br />
O professor capacitado é aquele que apresenta<br />
o nível do desafio proposto, devendo, portanto,<br />
saber gerenciar o que acontece e tornar o<br />
meio o mais favorável possível para reflexões<br />
e descobertas (NEIRA, 2006).<br />
Em observação feita pelo autor supracitado,<br />
a formação adequada do professor é fator<br />
fundamental, uma vez que corresponde a<br />
um dos eixos básicos da educação: formar os<br />
futuros cidadãos de uma sociedade; cidadãos,<br />
em princípio, comprometidos com valores de<br />
sua cultura, com os saberes acumulados, e,<br />
ao mesmo tempo, cidadãos atualizados com<br />
técnicas e problemas, em função de projetos<br />
pessoais e coletivos.<br />
Diante disso, Ghiraldelli Junior (2001)<br />
complementa com a proposta de que o papel<br />
do profissional de Educação Física deva ser<br />
o de um agente transformador que estabeleça<br />
uma nova direção sócio-política e cultural.<br />
Na prática, isso significa que o trabalho<br />
do professor deva ir além da simples transmissão<br />
de técnicas esportivas. Torna-se necessário<br />
que, a partir de ações pedagógicas promovidas<br />
diretamente pelo professor, a aula seja<br />
transformada num ambiente onde a cultura se<br />
estabeleça como um caminho para o desenvolvimento<br />
crítico por parte dos discentes.<br />
GRÁFICO 1 – Resultados relacionados à formação<br />
dos professores participantes da pesquisa.<br />
A análise referente à priorização das lu-<br />
tas (kumitês) aplicada em aulas indica que 18<br />
dos professores entrevistados priorizam as<br />
lutas durante as aulas por meio de simulação<br />
de competições. Dos outros participantes, sete<br />
não priorizam as lutas, cinco o fazem por intermédio<br />
de práticas recreativas e apenas três<br />
trabalham as lutas de outras formas, como por<br />
exemplo, por meio de combinações de golpes<br />
de ataque e defesa (Gráfico 2).<br />
Para Ferreira (2006), a prática de tal<br />
ação pode trazer inúmeros benefícios ao<br />
usuário, destacando-se o desenvolvimento<br />
motor, o cognitivo e o afetivo-social. O<br />
mesmo autor complementa (2006, pp. 4-5):<br />
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No aspecto motor, observamos o desenvolvimento<br />
da lateralidade, o controle<br />
do tônus muscular, a melhora do<br />
equilíbrio e da coordenação global, o<br />
aprimoramento da ideia de tempo e espaço,<br />
bem como da noção de corpo. No<br />
aspecto cognitivo, as lutas favorecem a<br />
percepção, o raciocínio, a formulação<br />
de estratégias e a atenção. No que se<br />
refere ao aspecto afetivo e social, podese<br />
observar em alunos alguns aspectos<br />
importantes, como a reação a determinadas<br />
atitudes, a postura social, a socialização,<br />
a perseverança, o respeito e a<br />
determinação.<br />
O fato de grande quantidade de professores<br />
(18) trabalharem as lutas por<br />
intermédio de simulação de competições<br />
evidencia duas questões. A primeira delas<br />
e atribuída ao imenso fascínio que as lutas<br />
provocam nos alunos (Ibid, 2006). Além<br />
disso, outro aspecto a ser considerado é a<br />
forte penetração que a competição exerce<br />
no cotidiano.<br />
Nessa perspectiva, Bourg apud Assis<br />
(2005) afirma que, na competição, é preciso<br />
vencer a qualquer custo. O público anseia por<br />
vitórias que elevam os atletas à condição de<br />
verdadeiros heróis patrocinados por grandes<br />
empresas, que investem em tecnologia para<br />
esses homens se superarem cada vez mais e<br />
venderem cada vez mais os seus produtos,<br />
fechando-se o ciclo.<br />
Kunz e Trebels (2006), mesmo reconhecendo<br />
a relevância da prática do esportecompetição,<br />
também defendem que a prática<br />
por si só não é capaz de formar um cidadão e<br />
que o esporte não deve ser visto somente com<br />
bons olhos, já que, muitas vezes, os indivíduos<br />
não se dão conta das situações ocorridas como<br />
as tentativas de burlar as regras, a exclusão<br />
das pessoas menos habilidosas, as constantes<br />
tentativas de levar vantagem e os negócios<br />
e vícios da publicidade. Portanto, se faz necessário<br />
prever quais são as possibilidades de<br />
aprendizado daquele conteúdo, inclusive os<br />
ocultos, e, quais os objetivos deverão será alcançados,<br />
para que se possa então utilizar as<br />
práticas esportivas.<br />
Contrariando essa abordagem, Dietrich e<br />
Landau apud Kunz e Trebels (2006), partem<br />
do princípio de que o esporte não é algo naturalmente<br />
oferecido aos seus praticantes, mas<br />
sim, uma forma de construção social. Eles defendem<br />
a ideia de que o esporte deve desenvolver<br />
uma estrutura cognitiva para que assim<br />
os praticantes possam entender as opressões<br />
sociais que existem ocultas no esporte, com<br />
isso, eles defendem a ideia de que as interações<br />
no esporte não devem acontecer ao acaso<br />
e sim planejadas com tal objetivo.<br />
GRÁFICO 2 – A prioridade das lutas nas aulas de<br />
Karatê.<br />
Como dissemos anteriormente, a violên-<br />
cia é caracterizada pela utilização desejada<br />
da agressividade para fins destrutivos. Para<br />
Santos (2005), a agressividade está na constituição<br />
da violência, porém, não é o único<br />
fator que a justifica. A inclusão dessa questão<br />
no instrumento de avaliação associado a esta<br />
pesquisa justifica-se pelo fato de percebermos<br />
que a crescente violência, descontrolada, pode<br />
mobilizar no indivíduo um comportamento<br />
agressivo na condição de uma ação destrutiva<br />
por parte dos praticantes do Karatê.<br />
Biaggio (1991 apud SANTOS, 2005, p.<br />
11) acrescenta:<br />
Como o aumento progressivo nas últimas<br />
décadas dos instrumentos de destruição,<br />
como as circunstâncias da vida<br />
urbana e da superpopulação nas grandes<br />
cidades, o potencial destrutivo do<br />
homem tornou-se ainda mais perigoso.<br />
Mesmo reconhecendo que as regras oficiais<br />
do Karatê e o seu próprio código de ética<br />
possuem normas rígidas contra a prática<br />
de ações agressivas por parte dos praticantes,<br />
percebemos, conforme dados apresentados<br />
no Gráfico 3, que mais da metade dos parti-
cipantes (17) consideram que a presença de<br />
ações violentas nesta modalidade depende do<br />
professor. Sendo assim, a postura do professor<br />
pode ser o principal caminho para que, no<br />
combate à violência, os impulsos agressivos<br />
sejam controlados.<br />
Um dos objetivos do professor deve ser<br />
o de promover ações em que os seus alunos,<br />
além de assimilar os movimentos específicos<br />
do Karatê, percebam, com prazer, a razão de<br />
executar os mesmos. Contudo, apresenta-se<br />
como questionável a metodologia utilizada<br />
para se alcançar tal propósito.<br />
Consideramos que muitos professores<br />
ainda necessitam da percepção de que o ato<br />
de ensinar não se limita apenas a transmitir<br />
conteúdos. Ensinar deve estar ligado ao ato de<br />
educar, a contribuir para o despertar da consciência<br />
crítica do indivíduo, oportunizando um<br />
maior juízo de valores, uma visão de mundo<br />
mais ampla e o um maior discernimento acerca<br />
das questões sociais.<br />
Sendo assim, percebe-se que o professor,<br />
consciente da importância do seu papel, não<br />
pode contentar-se com a educação bancária,<br />
ou seja, não deve se limitar apenas à transmissão<br />
de conteúdos para que os mesmos possam<br />
ser assimilados e arquivados pelos alunos<br />
(FREIRE, 2008). Deve, também, despertar<br />
nos seus alunos a consciência crítica e um pleno<br />
exercício da cidadania. Neste caso, partindo<br />
desse exercício, o professor passa a assumir<br />
uma postura que contribui efetivamente para<br />
o repúdio à crueldade, incentivando os seus<br />
alunos ao combate a todas as formas de agressividade.<br />
GRÁFICO 3 – Relação da prática do Karatê com a<br />
agressividade.<br />
Em relação aos alunos se tornarem mais<br />
agressivos ao praticarem lutas, 29 dos parti-<br />
cipantes da coleta de dados responderam ne-<br />
gativamente a essa questão, enquanto 4 professores<br />
apenas consideram tal possibilidade.<br />
(Gráfico 4).<br />
Sousa et al (2010) observam que a tradição<br />
das artes marciais, de origem oriental,<br />
valoriza princípios de não agressão e condenam<br />
a violência, devendo o combate ocorrer<br />
apenas em última instância. Contudo, esse<br />
conceito carece de rigor e análise científica<br />
para que possa ser verificada e enunciada com<br />
propriedade.<br />
Com a popularização do Karatê que cada<br />
vez mais se afirma como desporto de combate<br />
e com todas as características desportivas que<br />
lhe são atribuídas, essa arte marcial obteve outras<br />
necessidades que excedem os ensinamentos<br />
originais, sendo questionável em alguns<br />
aspectos, como por exemplo, a necessidade da<br />
vitória enfatizada por alguns professores.<br />
Os dados identificados no Gráfico 7<br />
contrastam, de certa maneira, com os resultados<br />
obtidos pela pesquisa realizada<br />
por Sousa et al (2010), na qual verificase<br />
que os praticantes de Karatê apresentam<br />
valores mais elevados na dimensão<br />
agressão física quando comparados com<br />
um grupo de não praticantes.<br />
GRÁFICO 4 – A relação entre a prática da luta e o<br />
comportamento agressivo por parte dos alunos.<br />
A importância da mídia no mundo atual<br />
é, para Betti (2003), evidente. Sendo assim, a<br />
sua influência acaba por ditar conceitos acerca<br />
de práticas corporais, reproduzindo-as,<br />
transformando-as e constituindo novas modalidades<br />
de consumo (BETTI, 2003). Diante de<br />
tal afirmação, percebemos a necessidade, por<br />
parte do professor, de estabelecer a busca pela<br />
compreensão dessa questão e como lidar com<br />
ela no cotidiano profissional.<br />
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Quando foram questionados se durante<br />
as aulas, os alunos costumam associar a luta<br />
a situações de violência apresentadas na mídia,<br />
27 dos professores entrevistados afirmaram<br />
que não, enquanto apenas 6 responderam<br />
afirmativamente (Gráfico 5). Um resultado até<br />
certo ponto curioso, partindo da premissa de<br />
que as mídias estão em toda parte e nos concedem<br />
inúmeras informações por intermédio de<br />
imagens, sons e palavras.<br />
No que tange às lutas de maneira geral,<br />
Ferreira (2006, p. 5) afirma que:<br />
Nos dias atuais, constata-se que o tema<br />
está em moda, seja em desenhos animados,<br />
em filmes ou em academias. Não<br />
é difícil encontrar crianças brincando<br />
de luta nos intervalos das aulas ou colecionando<br />
figurinhas dos heróis que<br />
lutam em seus desenhos animados. Os<br />
adolescentes compram revistas que<br />
se referem ao tema, adquirem<br />
livros de técnicas de luta e matriculam-se<br />
em academias para<br />
realizar a prática da luta.<br />
É necessário considerar que, mesmo se<br />
dizendo neutras, as mídias se amparam numa<br />
linguagem audiovisual que alimentam o imaginário<br />
coletivo. Porém, principalmente em se<br />
tratando de crianças, ela pode ser uma influência<br />
negativa. Para Train apud Bittencourt<br />
(2000), quanto mais novas as crianças, mais<br />
suscetíveis elas serão às influências da mídia.<br />
Podemos entender essa situação devido ao fato<br />
de que, para a criança, nem sempre é possível<br />
diferenciar a realidade da fantasia.<br />
No entendimento de Bittencourt (2000),<br />
quanto mais a criança agressiva é exposta às<br />
ações de violência mostradas na mídia, mais<br />
ela se identificará com os personagens ali<br />
apresentados, pois são semelhantes aos atos<br />
vivenciados por ela. Neste caso, a mesma autora<br />
conclui que a criança começa a aceitar<br />
soluções violentas para a resolução de seus<br />
problemas e conflitos.<br />
Nesse contexto, percebemos que mesmo<br />
que a maioria dos professores participantes<br />
não considere tal realidade, é necessário refletir<br />
sobre as consequências da influência da mídia<br />
não somente para o Karatê, mas também<br />
para a educação em geral.<br />
GRÁFICO 5 – A associação da luta com situações de<br />
violência apresentadas na mídia.<br />
Acerca da realização de trabalhos volta-<br />
dos para a questão da agressividade com os<br />
alunos, o Gráfico 6 indica que 26 participantes<br />
os realizam constantemente, 4 o fazem esporadicamente<br />
e 3 executam poucas ações no que<br />
tange a este tema.<br />
Consideramos que a prática do Karatê<br />
pode ser compreendida como uma possibilidade<br />
reprodutora de manifestações de agressividade,<br />
as quais podem ser desencadeadas por<br />
alguns fatores como relações interpessoais,<br />
características individuais, o contexto social o<br />
qual o aluno está inserido e a mídia. Nesse caso,<br />
quando o professor não promove ações que não<br />
lhe oportunizam a lidar com a agressividade,<br />
isso poderá acarretar um aumento do contexto<br />
da agressão (CANDREVA et al, 2007).<br />
Compete aos professores- no entendimento<br />
de Candreva et al (2007), por meio de ações<br />
contextualizadas- produzirem a compreensão,<br />
por parte de seus alunos, e que priorizem o ser<br />
humano na sua globalidade, contribuindo para<br />
a superação do conceito de que as artes marciais,<br />
aqui em especial o Karatê, remetem o<br />
seu praticante à apresentação de um comportamento<br />
agressivo.<br />
GRÁFICO 6 – Realização junto aos alunos de trabalhos<br />
voltados para a questão da agressividade.
Outro ponto abordado na pesquisa diz<br />
respeito à realização de um trabalho de conscientização<br />
junto aos pais sobre questões relacionadas<br />
à agressividade. Os resultados apresentados<br />
no gráfico 7 indicam que 15 dos 33<br />
participantes realizam esse trabalho e <strong>12</strong> o fazem<br />
esporadicamente. Dos outros participantes,<br />
4 pouco realizam um trabalho voltado para<br />
a conscientização dos pais acerca da agressividade<br />
e 2 simplesmente não o fazem.<br />
Nas aulas de Karatê, podemos perceber<br />
que, de acordo com o planejamento de professor,<br />
os estímulos dados podem propiciar uma<br />
variedade de vivências significativas, os objetivos<br />
das atividades estimulam no aluno a confiança<br />
e integram o mesmo ao meio social.<br />
Esses objetivos podem ser observados<br />
pela família por intermédio da convivência e<br />
do contato com o professor, quando a postura<br />
do aluno vai passando por modificações consideráveis.<br />
Tal situação possibilita uma expectativa<br />
que se faz presente a partir do momento<br />
em que a família se insere de alguma forma no<br />
ambiente de treinamento da criança.<br />
Szymanski (2009) evidencia que os encontros<br />
entre pais e professores ocorrem<br />
primordialmente e em função de problemas<br />
comportamentais. Tais contatos entre pais e<br />
professores ocorrem por intermédio de uma<br />
possível solução, em que o pai torna-se ciente<br />
do problema e de certa forma intervém por<br />
meio da correção.<br />
O professor, ao tomar determinada atitude,<br />
está dando sequência a todo um trabalho<br />
de avaliação. Estabelecida tal relação e respeitando-se<br />
os valores e a individualidade de cada<br />
um, entendemos que ela propiciará futuras melhoras<br />
no desenvolvimento global do aluno, em<br />
decorrência do trabalho em conjunto.<br />
GRÁFICO 7 – Realização junto aos pais de trabalhos<br />
voltados para a questão da agressividade.<br />
Conforme os dados apresentados no<br />
Gráfico 8, dos 33 participantes da pesquisa,<br />
20 professores consideram que busca por resultados<br />
positivos em competições não é associada<br />
a comportamentos agressivos por parte<br />
dos alunos, enquanto <strong>12</strong> deles acreditam que<br />
tal condição depende da postura apresentada<br />
pelo professor.<br />
De acordo com Tani et al (2006), alguns<br />
pedagogos não apresentam posições favoráveis<br />
à presença do desporto na formação de<br />
crianças e jovens. Esses pedagogos encaram<br />
a competição como o lado mais perverso da<br />
prática do esporte, pois oferece aos alunos<br />
valores relacionados à concorrência e individualismo.<br />
Mesmo assim, os mesmos autores<br />
veem, na competição, a possibilidade de a<br />
mesma ser um instrumento de aproximação,<br />
de cooperação e diálogo entre todos os seus<br />
participantes.<br />
Para que a competição tenha sua contribuição<br />
na formação de crianças e jovens,<br />
segundo Tani, Bento e Petersen (2006), devem-se<br />
encontrar propostas mais adequadas<br />
para o efeito em fases do processo de desenvolvimento,<br />
criar competições para crianças e<br />
adolescentes sem exigir o desempenho de modelos<br />
de alto nível, organizando formas convenientes<br />
de práticas competitivas, a fim de<br />
que a mesma possa vir a ter sua contribuição<br />
para a formação do jovem.<br />
Marques (2004) afirma que muitos profissionais<br />
ligados ao processo educacional<br />
apresentam resistência à adoção da prática<br />
desportiva como um modelo de formação e<br />
educação dos jovens. O mesmo autor aponta<br />
que a origem de tal concepção está ligada à<br />
competição, considerada por muitos como o<br />
aspecto mais perverso do desporto. O principal<br />
argumento relacionado a esse quadro<br />
aponta para o fato de que a prática formal de<br />
atividades esportivas promove a formação de<br />
valores distorcidos de concorrência e de individualismo,<br />
em detrimento de questões voltadas<br />
para a solidariedade, o companheirismo e<br />
a igualdade.<br />
O desporto e a competição confundem-se<br />
no entendimento do jovem sobre o significado<br />
da prática. O principal sentido do desporto<br />
para a criança, por exemplo, é a competição<br />
(DE ROSE JUNIOR, 2009). Neste caso, tratase<br />
da possibilidade que ela – a criança – tem<br />
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de avaliar as suas capacidades, de mostrar, aos<br />
outros, aquilo do que é capaz, de se superar.<br />
A competição tem o seu valor independente<br />
do contexto o qual está inserido. Porém,<br />
ela só poderá encontrar alguma relevância se o<br />
seu objetivo for o de preparar os jovens para a<br />
vida e contribuir para a formação dos mesmos.<br />
6.<br />
GRÁFICO 8 – A busca por resultados positivos em<br />
competições a sua associação a comportamentos<br />
agressivos por parte dos alunos.<br />
Considerações Finais<br />
Consideramos que a prática do Karatê<br />
objetiva a formação do indivíduo tanto no que<br />
diz respeito ao aspecto físico como moral.<br />
Juntamente com a prática desse esporte, estão<br />
agregados valores de respeito ao ser humano,<br />
autocontrole, disciplina e reprovação aos atos<br />
de violência.<br />
Partindo do pressuposto de que um comportamento<br />
é considerado agressivo- desde<br />
que exista um desejo de prejudicar outra pessoa,<br />
sendo este realizado ou não- podemos<br />
considerar que o Karatê em si não contribui<br />
para esse comportamento, mas que a utilização<br />
do mesmo para fins esportivos inadequados<br />
pode resultar em condutas agressivas por<br />
parte de seus praticantes.<br />
Existem algumas causas para a agressividade,<br />
dentre elas a frustração. Alguns professores<br />
consideram que condutas agressivas<br />
podem contribuir para o rendimento do aluno<br />
e é esse equívoco que faz com que o indivíduo<br />
não seja capaz de lidar com o insucesso, ocasionando<br />
algumas vezes ações agressivas e até<br />
mesmo a violência.<br />
O Karatê não contempla apenas a questão<br />
da luta, no entanto, esta tende a ser a grande<br />
preferência por parte dos seus praticantes e professores.<br />
De acordo com os resultados obtidos<br />
pela pesquisa, percebemos que há priorização<br />
das lutas por intermédio de simulações de competições,<br />
o que, se for realizado de maneira adequada,<br />
ou seja, sendo apenas uma preparação<br />
para campeonatos, sem que haja uma obrigatoriedade<br />
de vencer, não causa frustração e, portanto,<br />
não contribui para um comportamento<br />
agressivo por parte dos atletas.<br />
As crianças não costumam diferenciar a<br />
realidade da fantasia, isso faz com que elas sejam<br />
mais suscetíveis a incorporar situações de<br />
violência. A mídia tende a exercer grande influência<br />
nessas crianças, por meio de desenhos<br />
que mostram situações de agressividade e até<br />
mesmo filmes de artes marciais que mostram as<br />
lutas como pura violência, entretanto, as situações<br />
de violência exibidas na mídia não apresentaram<br />
grande influência para os praticantes.<br />
A realização de trabalhos a respeito da<br />
agressividade é muito importante tanto para<br />
os praticantes de artes marciais quanto para<br />
os pais. A mídia muitas vezes mostra as artes<br />
marciais com situações de agressão física e isso<br />
pode formar uma imagem conturbada do que realmente<br />
é o Karatê. Indivíduos podem ter uma<br />
imagem equivocada do que é essa arte marcial<br />
por desconhecerem a sua filosofia e entenderem<br />
sua prática meramente como uma luta. Devido<br />
a isso, trabalhos, tanto com os alunos quanto<br />
com os pais, tornam-se relevantes, pois transmitem<br />
conhecimentos acerca do Karatê, reduzindo<br />
os possíveis equívocos sobre essa prática,<br />
além trazerem os pais para um ambiente onde<br />
os filhos passam uma boa parte do tempo.<br />
Como vimos, o Karatê não exerce influência<br />
direta sobre comportamento agressivo<br />
por parte dos seus praticantes. Tanto as teorias<br />
sobre a agressividade quanto os resultados obtidos<br />
no questionário mostram que o Karatê<br />
não é o responsável por esses comportamentos<br />
considerados hostis. A competição exacerbada<br />
e a obrigatoriedade de resultados positivos<br />
podem causar frustrações nos atletas, podendo<br />
ocasionar comportamentos agressivos. Além<br />
disso, o técnico, neste caso o professor de<br />
Karatê, possui grande influência sobre seus<br />
alunos, podendo muitas vezes ser o responsável<br />
pelos comportamentos inadequados<br />
por parte destes, logo, não devemos atribuir<br />
à modalidade esportiva ou a prática de lutas<br />
a responsabilidade por esses comportamentos<br />
agressivos.
7.<br />
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e do exercício. 4. ed. Porto Alegre:<br />
Artmed, 2008.<br />
Endereço para Correspondência:<br />
Cláudio Delunardo Severino<br />
claudiodelunardo@gmail.com<br />
Avenida Nove de Julho, 171<br />
Retiro - Volta Redonda - RJ<br />
CEP: 27275-230<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />
SEVERINO, Cláudio Delunardo; BARBOSA, Andressa de Oliveira. Karatê e agressividade: possíveis relações. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>.<br />
Disponível em:
Doença de Crohn e sua relação com a Nefrolitíase: Tratamento Nutricional<br />
Crohn’s Disease and its Relation with Nephrolithiasis: a Nutritional Treatment<br />
Nívea Veiga Almeida 1<br />
Alden Santos Neves 2<br />
Palavras-chave:<br />
Doença de Crohn<br />
Nefrolitíase<br />
Hiperoxalúria<br />
Abstract<br />
Resumo<br />
1 Graduada em Nutrição (Ciências da Saúde – UniFoa)<br />
2 Professor Orientador (Ciências da Saúde – UniFoa)<br />
A Doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória intestinal de causa desconhecida<br />
que acomete pessoas de 20 á 50 anos de idade de ambos os sexos e está associada<br />
á manifestações extraintestinais secundárias ao processo inflamatório de base,<br />
sendo a nefrolitíase a manifestação urogenital mais comum acometendo de <strong>12</strong> a<br />
28% dos pacientes, devido a alterações na mucosa intestinal e, consequentemente,<br />
má absorção, esses cálculos estão associados à hiperoxalúria, além de outras<br />
alterações metabólicas associadas. Por esse motivo torna-se importante o<br />
conhecimento das alterações metabólicas existentes, para que se possa oferecer<br />
o acompanhamento nutricional adequado, e, em específico, no presente estudo,<br />
o tratamento nutricional oral que objetiva o controle da ingestão de glutamina,<br />
ácidos graxos ômega 3, proteínas, citrato, fibras, magnésio, líquidos, probióticos,<br />
fibras solúveis, oxalato e citrato, aumentando assim uma melhor qualidade de<br />
vida para estes pacientes. Objetivo:descrever a relação existente entre a DC e<br />
Nefrolitíase, e analisar o tratamento nutricional mais adequado.Metodologia:<br />
revisão bibliográfica de artigos científicos e sites oficiais. Conclusão: apesar de<br />
existir relação entre as doenças citadas, há necessidade de maiores estudos, pois<br />
não existem ainda diretrizes nutricionais para nefrolitíase em pacientes DC.<br />
Crohn’s disease is an intestinal inflammatory disease of unknown cause that affects<br />
people from 20 to 50 years of age on both sex and is associated to extra-intestinal<br />
manifestations and to the basic inflammatory process, which nephrolithiasis is the<br />
most common urogenital manifestation affecting <strong>12</strong> to 28% of the patients, due to<br />
alterations in the intestinal mucosa and, consequently, bad absorption, these are<br />
associated to Hyperoxaluria and other metabolic alterations. For this reason the<br />
knowledge of the existing metabolic alterations becomes important, in order to<br />
offer an adequate nutritional treatment, and specifically in the present study, the<br />
oral nutritional treatment that aims to control the ingestion of glutamine, greasy<br />
acid Omega 3, proteins, citrate, fibers, magnesium, liquids, probiotics, staple<br />
fibers, oxalate and citrate, thus increasing these patients quality of life. Aim:<br />
describe the relationship between DC and nephrolithiasis and analyze the most<br />
adequate nutritional treatment .Methodology: review of scientific articles and<br />
official sites. Conclusion: Although there is a correlation between the diseases<br />
mentioned, there is a need for further studies, because there aren’t nutritional<br />
guidelines for nephrolithiasis in patients DC.<br />
Key words:<br />
Crohn’s disease<br />
Nephrolithiasis<br />
Hyperoxaluria<br />
99<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
05/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
1.<br />
Introdução<br />
A doença de Crohn (DC) é uma das prin-<br />
cipais formas de doença inflamatória intesti-<br />
nal, que, segundo estudo realizado em um hospital<br />
universitário da região sudeste do Brasil,<br />
acomete pessoas de 20 á 50 anos de idade em<br />
ambos os sexos 1 .<br />
Essa doença acomete pessoas de diferentes<br />
classes socioeconômicas, e nacionalidade,<br />
afetando aproximadamente 1,4 milhões de<br />
pessoas nos Estados Unidos2 .<br />
No Brasil, de acordo com Associação<br />
Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de<br />
Crohn (ABCD), ainda não se sabe a incidência<br />
exata de Doença Inflamatória Intestinal (DII).<br />
Uma possível explicação para esse fato<br />
seria que, em nosso meio, essas doenças não<br />
são consideradas de notificação compulsória, o<br />
que nos leva a pensar que as DII podem não estar<br />
sendo diagnosticadas, uma vez que os prontuários<br />
médicos registram altas taxas de diarreias<br />
de etiologia bacteriana ou parasitária3 .<br />
A etiologia da DC não é completamente<br />
conhecida, mas parece envolver interações de<br />
fatores comportamentais, microflora do hospedeiro,<br />
predisposição genética acometendo<br />
resposta imune anormal ou autoimune na parede<br />
intestinal. Tem evolução crônica, e gera<br />
repercussões importantes na qualidade de vida<br />
dos doentes4 .<br />
Devido a alterações na mucosa intestinal,<br />
a formação de cálculo renal é favorecida tornando-a<br />
mais comum em relação à população<br />
geral, em que a frequência em pacientes com<br />
DC varia de <strong>12</strong> a 28%, enquanto que na população<br />
em geral afeta 1 a 14% das pessoas5 .<br />
A formação de cálculos no trato urinário<br />
é um processo multifatorial que envolve o balanço<br />
entre os fatores promotores da formação<br />
de cálculo e os inibidores da cristalização6 .<br />
Cálculos urinários podem ser detectados<br />
em um número significativo de pacientes com<br />
DC, principalmente os que se submetem á cirurgia<br />
de ressecção parcial do intestino delgado,<br />
sendo esses cálculos associados à hiperoxalúria,<br />
hipomagnesúria e hipocitratúria, além<br />
de outras alterações metabólicas associadas7 .<br />
Por esse motivo torna-se importante o<br />
acompanhamento nutricional desses pacientes,<br />
com adequado conhecimento sobre as alterações<br />
metabólicas e a devida correção desses<br />
distúrbios, evitando assim, além de possíveis<br />
exacerbações da DC, a formação de cálculos<br />
renais, condição por si só bastante agressiva<br />
e que desencadeia alterações importantes na<br />
vida das pessoas por ela acometidas.<br />
Devido ao grande número de complicações<br />
encontradas em portadores de Doença de<br />
Crohn no Brasil, este estudo se justifica pelo<br />
fato de que a relação desta doença com a formação<br />
de litíase renal ainda está pouco esclarecida<br />
e muitos estudos ainda são necessários<br />
para se estabelecer esta relação e melhorar a<br />
qualidade de vida dos pacientes acometidos<br />
pela doença.<br />
O objetivo do presente estudo é compreender<br />
a relação existente entre a Doença de<br />
Crohn e Nefrolitíase, sendo objetivos específicos<br />
descrever a fisiopatologia dessa relação e<br />
relacionar o tratamento nutricional por via oral<br />
mais adequado.<br />
2.<br />
Metodologia<br />
Este trabalho baseou-se em revisão bibliográfica<br />
de artigos científicos indexados em bases<br />
de dados da internet, como MedLine, LILACS<br />
e SCIELO, e sites oficiais, livros e periódicos,<br />
compreendendo principalmente o período de<br />
1999 a março de <strong>2011</strong>. Foram utilizados como<br />
palavras-chave os termos “Doença de Chron”,<br />
“nefrolitíase”,”hiperoxalúria” e “tratamento<br />
nutricional da Doença de Chron”.<br />
3.<br />
Doença de Crohn e Nefrolitíase<br />
A DC é uma manifestação intestinal inflamatória<br />
que acomete igualmente pacientes<br />
de 20 a 50 anos de ambos os sexos podendo<br />
envolver qualquer parte do trato gastrintestinal<br />
(TGI), da boca ao ânus. Sua causa é desconhecida,<br />
porém, a predisposição genética e<br />
o fenômeno autoimune estão envolvidos. Até<br />
o momento, o principal fator de risco para DII<br />
é ter história familiar positiva em um parente<br />
de primeiro grau. Os gatilhos para o estabelecimento<br />
inicial da doença e exacerbações<br />
subsequentes são desconhecidos, mas, provavelmente,<br />
envolvem interações virais ou bacterianas<br />
com células imunes que recobrem a<br />
parede mucosa do trato intestinal8 .
O intestino delgado e, especialmente, o<br />
íleo terminal estão envolvidos em cerca de<br />
75% dos casos e apenas cerca de 15 a 25%<br />
dos casos envolvem apenas o cólon. Nos segmentos<br />
do intestino envolvidos, a inflamação<br />
pode ser contínua, não atingindo certas áreas,<br />
sendo o envolvimento da mucosa transmuda<br />
na medida em que afeta todas as camadas da<br />
mucosa intestinal4 .<br />
A atividade inflamatória crônica recorrente<br />
reflete uma resposta apropriada a um<br />
estímulo persistentemente anormal ou uma<br />
resposta anormalmente prolongada a um estímulo<br />
normal. A forte resposta inflamatória em<br />
excesso, com envolvimento local e sistêmico<br />
dos leucócitos, resulta na liberação de proteases,<br />
prostaglandinas, leucotrienos, eicosanoides<br />
e radicais de oxigênio livre. Tal resposta<br />
parece ser grandemente responsável pelo dano<br />
ocorrido no tecido gastrointestinal o que modifica<br />
a permeabilidade da parede intestinal às<br />
moléculas de alimento e fragmentos de células8<br />
. Portanto, há evidências de que o aumento<br />
da permeabilidade intestinal ocorre antes do<br />
estabelecimento da inflamação com marcante<br />
significado etiopatogênico 9 .<br />
As manifestações clínicas são decorrentes<br />
tanto do acometimento do trato gastrointestinal<br />
pela doença, como pelo surgimento de<br />
manifestações extraintestinais, que ocorrem<br />
em cerca de 35% dos pacientes10 .<br />
Ainda no mesmo estudo, ao analisar o<br />
perfil dos pacientes com DC, os autores verificaram<br />
que a nefrolitíase foi a complicação<br />
urogenital mais comum.<br />
Para confirmação, foram observados 40<br />
pacientes com DC estudados; 18% apresentaram<br />
litíase renal e os autores concluíram que<br />
esse resultado é mais comum em pacientes que<br />
foram submetidos à cirurgia de ressecção parcial<br />
do intestino, sendo que, quanto maior for<br />
a ressecção, maior a formação e a quantidade<br />
de cálculos formados, e que o aparecimento de<br />
cálculos ocorre aproximadamente após 2 anos<br />
de cirurgia7 .<br />
A complicação secundária mais frequente<br />
em portadores de DC é a nefrolitíase sob a<br />
forma de oxalato de cálcio e ácido úrico11 .<br />
A formação de cálculos no trato urinário<br />
é um processo multifatorial que envolve o balanço<br />
entre os fatores promotores da formação<br />
de cálculo e os inibidores da cristalização, ou<br />
seja, quando os mecanismos de inibição estão<br />
reduzidos ou ausentes, fatores físicos – químicos<br />
que governam a litogênese- transformam<br />
a urina de saturada em supersaturada, levando<br />
á nucleação, cristalização e ao crescimento do<br />
cristal6 .<br />
A DC e outras doenças inflamatórias<br />
intestinais têm sido associadas á nefrolitíase,<br />
devido , principalmente, à hiperoxalúria<br />
entérica, por consequência da má absorção de<br />
gorduras, levando a hiperabsorção de oxalato<br />
da dieta<strong>12</strong> .<br />
Em indivíduo normal de 3% a 5% do oxalato<br />
ingerido são absorvidos, principalmente<br />
no cólon, sendo a hiperoxalúria definida pela<br />
excreção de oxalato maior que 40mg/ dia13 .<br />
Pesquisadores verificaram a excreção<br />
de 49,2 mg/24h de oxalato em pacientes que<br />
apresentaram litíase renal após ressecção parcial<br />
do intestino delgado7 .<br />
A formação de cálculos de oxalato de cálcio<br />
é devido à maior absorção e excreção urinária<br />
de oxalato, que normalmente não é absorvido<br />
quando ligado ao cálcio no intestino,<br />
porém, em casos de má absorção ou ressecção<br />
cirúrgica do intestino, permanece livre devido<br />
á fixação do cálcio aos ácidos graxos, podendo<br />
ocorrer também pela redução da quantidade<br />
de Oxalobacter formingens, bactéria intestinal<br />
responsável pela degradação do oxalato.<br />
Ademais, os ácidos biliares e os próprios<br />
ácidos graxos aumentam a permeabilidade do<br />
cólon ao oxalato. Associado a essas alterações<br />
é comum que ocorra uma redução do volume<br />
urinário em consequência da diarreia5 .<br />
A Oxalobacter formingens é uma bactéria<br />
anaeróbica gram – negativa que participa<br />
da metabolização de oxalato no trato intestinal,<br />
através da degradação do oxalato pela enzima<br />
oxalyl-CoA descarboxilase14 , e sua colonização<br />
está associada com uma redução em<br />
70% do risco de se desenvolver litíase renal<br />
por oxalato de cálcio, já que o oxalato urinário<br />
está diretamente proporcional á nefrolitíase15 .<br />
Indivíduos com excreção urinária maior<br />
de oxalato apresentam níveis mais baixos de<br />
Oxalobacter formingens, sendo a ausência da<br />
bactéria degradante do oxalato na flora intestinal<br />
um fator de risco para hiperoxalúria e,<br />
consequentemente, aumento na probabilidade<br />
de urolitíase14; <strong>16</strong> .<br />
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Além da deficiência de fatores que con-<br />
tribuem para prevenção da nefrolitíase, pacientes<br />
com DC apresentam uma perda líquida<br />
significativa, sendo este fator promotor para<br />
tal complicação, confirmando, portanto, a perda<br />
líquida em excesso que ocorre nessas situações<br />
é verificada em estudos a ocorrência de 6<br />
á 9 evacuações por dia nesses pacientes17 .<br />
Com a diarreia constante e, consequentemente,<br />
a perda líquida, ocorre ainda alterações<br />
em vários outros nutrientes importantes na gênese<br />
da litíase.<br />
Os pacientes perdem grande quantidade<br />
de líquido intestinal alcalino e os rins respondem<br />
secretando urina ácida e concentrada.<br />
Esses fatos colaboram para o aparecimento de<br />
cálculos de ácido úrico. A hiperuricemia nesses<br />
doentes predispõe à formação de cálculos<br />
de cálcio18 devido á maior reabsorção óssea<br />
e menor reabsorção tubular renal de cálcio<br />
por consequência da queda no pH endógeno,<br />
como forma de controlar a acidez.<br />
As condições como doença inflamatória<br />
intestinal resultam em urina ácida por desidratação<br />
e perda gastrointestinal de bicarbonato<br />
por diarreia, predispondo a formação de<br />
cálculos de ácido úrico19 .<br />
Os fatores mais frequentemente implicados<br />
na litogênese são: desidratação, oligúria, menor<br />
absorção de água, obstrução e/ou infecção do<br />
trato urinário, excreção anormal de ácido úrico,<br />
urina ácida, alterações na absorção e excreção<br />
de oxalatos, uso de corticoides, hipercalciúria,<br />
absorção intestinal diminuída de sódio com<br />
concomitante decréscimo no sódio urinário18 .<br />
De acordo com o estudo citado, em pacientes<br />
submetidos à ressecção de algum segmento<br />
ileal à excreção de fatores inibidores<br />
(citrato e magnésio) foi menor e dos fatores<br />
promotores (cálcio, oxalato, ácido úrico, fósforo<br />
e sódio) foi maior. Considerando que<br />
tanto o citrato quanto o magnésio são importantes<br />
agentes inibidores da cristalização, suas<br />
deficiências podem favorecer o processo de<br />
crescimento e agregação dos cristais, principalmente<br />
dos sais de cálcio5 .<br />
Entre as diversas causas de hipocitratúria<br />
provavelmente a mais importante no presente<br />
contexto é a hipomagnesúria. A explicação<br />
seria que nos túbulos renais ocorre a formação<br />
de citrato de magnésio reduzindo assim a<br />
reabsorção urinária de citrato e aumentando a<br />
excreção urinária de citrato. Na deficiência de<br />
magnésio, uma maior concentração de citrato<br />
está disponível para reabsorção, resultando assim<br />
em menor excreção urinária de citrato20 .<br />
Ocorre hipocitratúria para valores de<br />
citrato urinário inferiores a 320 mg/dia21 . O<br />
citrato tem dois efeitos importantes na prevenção<br />
da nefrolitíase conhecidos como efeitos<br />
solubilizante e inibidor da cristalização dos<br />
sais de cálcio22 , dessa forma, a hipocitratúria<br />
isolada ou combinada com outras alterações<br />
metabólicas é um agente da nefrolitíase.<br />
O mecanismo pelo qual o citrato é um fator<br />
inibidor seria que o mesmo forma um cálcio<br />
complexo na urina, dessa forma, menos cálcio<br />
está disponível para ligar o oxalato urinário, o<br />
que ajuda a prevenir a formação de cálculos de<br />
oxalato de cálcio ou de fosfato de cálcio19 .<br />
Com relação às proteínas e ao sódio, eles<br />
são implicados como importantes fatores de<br />
risco para a formação de cálculos. O sódio<br />
pode provocar hipercalciúrias por intercâmbio<br />
tubular renal com o cálcio, e as proteínas<br />
determinam uma sobrecarga ácida, afetando a<br />
composição da urina, ao aumentar a excreção<br />
de cálcio e oxalato e diminuir a excreção de<br />
citrato e o pH urinário. A acidez urinária pode<br />
ser um fator determinante, pois para um pH<br />
sintomas.Portanto, o diagnóstico nutricional<br />
dietético é de extrema importância, pois, confirma<br />
a relação entre a adequação da ingestão<br />
de calorias e nutrientes x déficit nutricional/<br />
metabólico e/ou a queda no estado geral apresentado<br />
pelo doente23 .<br />
É crucial a determinação do grau de severidade<br />
ou atividade da doença. A severidade, a<br />
duração e a localização da doença são importantes<br />
na resposta ao tratamento.<br />
É importante ressaltar que a tolerância individual<br />
deve ser considerada, sempre com o<br />
objetivo de preservar um bom estado nutricional,<br />
pois, este pode ser fator de agravamento<br />
da doença, ou influir positivamente na recuperação<br />
24 .<br />
Para que isso ocorra, é fundamental a escolha<br />
da via de administração da dieta adequada<br />
para cada fase da doença de acordo com<br />
paciente, neste estudo será abordado somente<br />
a via oral.<br />
A melhor maneira de melhorar a ingestão<br />
oral é evitar grandes restrições dietéticas<br />
e estimular a utilização de alimentos que sejam<br />
preferência do paciente, evitando retirar<br />
da dieta alimentos cujo efeito nocivo não têm<br />
sido demonstrado ser capaz de agravar a doença,<br />
a fim de atingir, com maior facilidade, as<br />
necessidades calórico-proteicas 25 .<br />
Uma ingestão calórica diária de 35 a 40<br />
Kcal/dia de peso ideal e 1 á 1,5g/kg do peso<br />
ideal de proteína/dia satisfaz as demandas de<br />
proteína e energia da maioria dos pacientes<br />
adultos com a doença ativa e existem ainda<br />
novas possibilidades de intervenção nutricional<br />
com a utilização dos ácidos graxos ômega<br />
3 e probióticos 26 .<br />
A terapia nutricional deve ser da seguinte<br />
maneira: hipolipídica (< 20% das calorias totais);<br />
na fase aguda, evitar alimentos fonte de<br />
lactose e controlar mono e dissacarídeos, dieta<br />
rica em fibras solúveis e pobre em insolúveis;<br />
na fase de remissão, evoluir o teor de fibras insolúveis;<br />
evitar alimentos flatulentos, oferecer<br />
nutrientes específicos (glutamina, ácido graxo<br />
ômega 3 e arginina e glutamina) 27 .<br />
4.1.<br />
Glutamina<br />
A glutamina participa de processos metabólicos<br />
importantes tais como: síntese de<br />
proteínas, gliconeogênese, homeostase ácido-<br />
base e biossíntese de ácidos nucleicos, sendo<br />
utilizada também como substrato pelas células<br />
da mucosa intestinal (enterócitos) e células<br />
imunológicas28 .<br />
Em contrapartida, há relatos da piora da<br />
atividade da DC e aumento da permeabilidade<br />
intestinal em pacientes com uso de glutamina.<br />
Parece que o mecanismo responsável por esta<br />
piora é a síntese de arginina á partir da glutamina,<br />
com consequente liberação de óxido<br />
nítrico, que provocaria o aumento da permeabilidade<br />
vascular intestinal29 .<br />
Nesse ponto, entende-se, portanto, a necessidade<br />
de mais estudos científicos para real<br />
contribuição e recomendações de ingestão diária<br />
da glutamina em pacientes com DC.<br />
4.2.<br />
Probióticos<br />
Os probióticos podem, portanto, inibir<br />
a proliferação de organismos patogênicos,<br />
diminuir a incidência, duração e gravidade<br />
de doenças gástricas e intestinais. Na função<br />
imunológica, estimulam a resposta específica<br />
e inespecífica, mediada pelo aumento da concentração<br />
de imunoglobulinas 30 ; amenizam<br />
a intolerância á lactose; controlam a diarreia<br />
aguda; melhoram a atividade clínica da doença<br />
e previnem as recidivas 26 .<br />
Para que ocorra a manutenção da saúde<br />
do trato gastrintestinal, é recomendado a ingestão<br />
de 1 a 2 bilhões de unidades formadoras<br />
de colônia/ dia, existentes em leites fermentados31<br />
.<br />
4.3.<br />
Fibras solúveis e Citrato<br />
Com relação às fibras solúveis, sua ingestão<br />
diária recomendada é de 5 a 10g/dia,<br />
sendo representadas pela pectina (frutas) e pelas<br />
gomas (aveia, cevada e leguminosas: feijão,<br />
grão de bico, lentilha e ervilha) 32. . Esse<br />
nutriente sofre fermentação no interior intestinal<br />
produzindo os ácidos graxos de cadeia<br />
curta (acetato, propionato e butirato) nutrientes<br />
imunomuduladores que atuam como fonte<br />
de energia para os colonócitos, estimulando o<br />
trofismo intestinal e aumentando a reabsorção<br />
de água e eletrólitos pelas células intestinais33e complementando a deficiência de fibras dietéticas,<br />
exercem papel na gênese da nefrolitíase<br />
por metabolismo do citrato, uma vez que exis-<br />
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te relação positiva entre a baixa excreção de<br />
citrato e baixa ingestão de fibras34 .<br />
Ao aumentar os níveis de citrato urinário,<br />
determina-se uma redução da saturação de<br />
oxalato e fosfato de cálcio21 .<br />
4.4.<br />
Carboidratos<br />
O consumo de carboidratos pode elevar<br />
a excreção urinária de cálcio e oxalato.<br />
Acredita-se que o excesso de carboidratos na<br />
alimentação diminuiria a absorção de fosfato<br />
intestinal, levando a hipofosfatemia e, consequentemente,<br />
aumento do calcitriol plasmático<br />
implicando em aumento da absorção intestinal<br />
de cálcio e simultâneo aumento de absorção<br />
de oxalato. Parece também que os carboidratos<br />
estimulariam a síntese endógena de oxalato,<br />
que será posteriormente, excretado na urina.<br />
Além do mais, muitos alimentos ricos em<br />
carboidrato são ricos em oxalato34 .<br />
Além disso, devido a DC existem lesões<br />
nas vilosidades da mucosa intestinal que leva<br />
a uma diminuição de diversas enzimas, modificando<br />
a abrsorção intestinal de carboidratos,<br />
sendo a lactase a última a se regenerar35 , o que<br />
torna prejudicada a absorção de derivados do<br />
leite .<br />
Portanto, é necessário que se controle a<br />
ingestão de carboidratos nesses pacientes a<br />
fim de evitar maiores desconfortos gastrintestinais<br />
e urogenitais.<br />
Sabe-se que o intervalo de concordância<br />
usualmente aceito á respeito da recomendação<br />
da ingestão diária de carboidrato é de 50 á<br />
60% do valor energético total (VET) e de 4 a 6<br />
gramas/Kg de peso ideal /dia sendo utilizado<br />
para indivíduos saudáveis.<br />
Na DC existe uma deficiência de estudos<br />
que informe tal recomendação, o que torna necessárias<br />
mais investigações atendendo a DC<br />
e Nefrolitíase.<br />
4.5.<br />
Ácido graxo ômega 3<br />
Em se tratando de ácido graxo ômega 3<br />
(AGn – 3), em estudo realizado com ratos,<br />
concluiu-se que os animais com DII que receberam<br />
suplementação de AGn – 3 apresentaram<br />
menos alterações inflamatórias, maior<br />
preservação da integridade da mucosa e ausência<br />
de úlceras36 .<br />
A suplementação de óleo de peixe em<br />
2,7g de ácido graxo n-3 distribuídos em 9<br />
cápsulas, pode ser necessária, pois, reduzem a<br />
frequência dos surtos da doença e aumentando<br />
os intervalos37 .<br />
Os Ácidos graxos poli-insaturados (AGPI)<br />
do tipo ômega-3 produzem mediadores lipídicos<br />
chamados eicosanoides com potencial de<br />
diminuir/inibir o efeito das citocinas pró-inflamatórias.<br />
Dessa maneira, tem sido proposto<br />
que a suplementação ou ingestão adequada<br />
desse tipo de AGPI pode beneficiar pessoas<br />
com doenças inflamatórias crônicas, portanto,<br />
sua utilização pode ser efetiva na manutenção<br />
da remissão da doença de Crohn38 .<br />
Os benefícios são muitos, porém, são necessários<br />
mais estudos para investigar o papel<br />
desse nutriente como suplemento dietético.<br />
4.6.<br />
Vitamina C, Oxalato e Cálcio<br />
O oxalato é o produto final do metabolismo<br />
da glicina, (40% a 50% da síntese hepática)<br />
e 40% resultante do metabolismo do<br />
ácido ascórbico, sendo que o oxalato dietético<br />
contribui com uma fração de 20% do oxalato<br />
urinário39.<br />
Por isso, indivíduos formadores de cálculo<br />
são frequentemente aconselhados a evitar<br />
suplementos de vitamina C, não ultrapassando<br />
a recomendação de 60mg/dia. No entanto,<br />
estudos sobre a excreção urinária de oxalato,<br />
após carga de vitamina C, têm produzido resultados<br />
inconsistentes, pois, o aumento de<br />
oxalato urinário observado após experimental<br />
administração de altas doses de vitamina C<br />
parece ser devido à conversão in vitro de ascorbato<br />
para oxalato durante o procedimento<br />
analítico e não in vivo40 .<br />
Apesar de estudos identificarem maior<br />
excreção de oxalato em indivíduos que ingerem<br />
suplemento de vitamina C, são necessários<br />
mais estudos para identificar a real atuação<br />
desse nutriente na nefrolitíase.<br />
Dessa forma, além da contribuição do<br />
oxalato dietético, o cálcio dietético influencia<br />
na biodisponibilidade do oxalato ingerido,<br />
sendo importante fator na formação de cálculos<br />
de oxalato de cálcio.<br />
O oxalato é absorvível somente na sua<br />
forma solúvel, e sua absorção é possível no<br />
estômago, intestino delgado e cólon41 .
Percebe-se que embora a DC possa aco-<br />
meter qualquer parte do trato gastrintestinal,<br />
esta se instala com maior frequência no intestino<br />
delgado e a absorção de oxalato ocorre<br />
também nesta área, o que favorece a alteração<br />
absortiva citada anteriormente.<br />
Os alimentos de alto teor de oxalato não<br />
devem ser evitados com base apenas no seu<br />
teor de oxalato já que uma quantidade limitada<br />
é biodisponível, entretanto, os alimentos com<br />
baixo teor de oxalato e uma maior biodisponibilidade<br />
podem aumentar notavelmente o<br />
oxalato urinário19 .<br />
O oxalato está presente em grande quantidade<br />
nos alimentos de origem vegetal, somente<br />
espinafre e ruibarbo são considerados<br />
alimentos de alto risco, pois apresentam grande<br />
concentração de oxalato biodisponível.<br />
Amendoim, amêndoa, chocolate, noz pecã e<br />
chá instantâneo são considerados alimentos de<br />
moderado risco42 .<br />
Complementando, muitos alimentos à<br />
base de soja apresentam alta concentração de<br />
oxalato (mais de 10 mg/porção), o que seria<br />
contraindicado para pacientes formadores de<br />
cálculos. Contudo, por apresentarem alta concentração<br />
de fitato, um provável protetor na<br />
gênese da litíase, os alimentos à base de soja<br />
que contêm menores concentrações de oxalato<br />
podem ser benéficos nesses pacientes43 .<br />
Uma boa estratégia nutricional seria<br />
então oferecer <strong>12</strong>00mg de cálcio/dia como<br />
preconiza a Organização Mundial da Saúde<br />
(OMS) e diminuir a oferta de alimentos fonte<br />
de oxalato, prevenindo assim a hiperoxalúria.<br />
Outra opção seria a submissão dos alimentos<br />
fontes de oxalato á cocção a fim de reduzir<br />
seus níveis44 .<br />
É importante destacar que em fases ativas<br />
da DC, a absorção de lactose fica prejudicada,<br />
tornando necessário a substituição por outros<br />
alimentos toleráveis fonte de cálcio, como a<br />
sardinha.<br />
4.7.<br />
Líquidos<br />
Outro fator importante é a oferta de líquidos,<br />
já que na medida em que se aumenta a<br />
ingestão de líquido diminui a supersaturação<br />
urinária de oxalato45 .<br />
O risco de formação de cálculo aumenta<br />
quando o volume urinário é menor que 1L/dia<br />
e reduz quando é maior que 2,5L/dia46 .<br />
Deve-se orientar o paciente a ingerir<br />
aproximadamente 30ml/kg/dia de líquidos, de<br />
preferência água, sucos de fruta como os de<br />
limão e laranja, por conter elevado teor de citrato,<br />
e chás de frutas, flores ou ervas a fim de<br />
elevar o volume urinário e diminuir o risco de<br />
formação de cálculos47 .<br />
Com relação á ingestão de água mineral-<br />
esta, apesar de aumentar a hipercalciúria,<br />
o magnésio e o bicarbonato, devido aos seus<br />
componentes -leva a mudanças favoráveis<br />
no pH urinário, com aumento da excreção de<br />
magnésio e citrato, inibidores da formação de<br />
cálculo por oxalato de cálcio48 .<br />
Além da prevenção da litíase renal, a ingestão<br />
de líquido é importante também para<br />
manter ou recuperar a quantidade perdida nas<br />
evacuações frequentes.<br />
4.8.<br />
Magnésio<br />
A ingestão de cálcio e magnésio pode<br />
moldar a absorção intestinal de oxalato49 , sendo<br />
que a ingestão de magnésio pode diminuir<br />
a excreção de oxalato de maneira semelhante<br />
ao cálcio50 , ou seja, se ligando ao oxalato e<br />
aumentando assim a excreção de citrato e pH<br />
urinário51 .<br />
As quantidades recomendadas de magnésio<br />
em pessoas adultas saudáveis são de<br />
400mg/dia para sexo masculino e 310 mg/dia<br />
para sexo feminino, sendo que não existem recomendações<br />
especiais para doenças específicas,<br />
porém, em pacientes que apresentam uma<br />
ou mais das condições que aumentam as perdas<br />
de magnésio, recomenda-se um acompanhamento<br />
sistemático dos níveis sanguíneos,<br />
suplementando sempre que necessário 52 .<br />
4.9.<br />
Proteína<br />
A ingestão protéica está diretamente relacionada<br />
com aumento dos fatores de risco<br />
litogênicos. Os principais fatores envolvidos<br />
seriam a ingestão de proteínas como causa de<br />
hiperuricosúria,devido à sobrecarga de purinas;<br />
hiperoxalúria pelo aumento da síntese de<br />
oxalato;e hipocitratúria em função da maior<br />
reabsorção tubular de citrato. Pode levar ainda<br />
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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
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à hipercalciúria por promover aumento da reabsorção<br />
óssea e diminuir a reabsorção tubular<br />
renal de cálcio, devido a uma maior excreção<br />
de ácidos diminuindo o pH urinário42; 51; 53 .<br />
Uma explicação para redução de citrato<br />
seria que este é um componente chave no<br />
Ciclo de Krebs46 .<br />
Existem três teorias para a formação de<br />
cálculo renal: a primeira seria que o ácido<br />
úrico absorve os inibidores do oxalato de cálcio;<br />
a segunda, é que na urina supersaturada,<br />
a semelhança na estrutura do cristal promove<br />
o crescimento epitaxial do oxalato de cálcio<br />
no ácido úrico e a terceira seria que o ácido<br />
glutâmico adere á sobreface do cristal de ácido<br />
úrico, ajudando íons de cálcio e oxalato a se<br />
agregarem e cristalizarem.<br />
Portanto, sua ingestão deve ser controlada<br />
a quantidades citadas anteriormente, em casos<br />
em que o paciente não apresenta desnutrição.<br />
4.10. Sódio<br />
O sódio eleva a excreção de cálcio já que<br />
ambos são reabsorvidos no túbulo proximal e<br />
alça de Henle, provocando, consequentemente,<br />
hipercalciúria, sendo este um fator de risco<br />
para litogênese, além de reduzir a excreção<br />
urinária de citrato. Esse efeito é aditivo quando<br />
associado ao aumento no consumo de proteínas.<br />
Sugere-se a redução do sódio na dieta<br />
para 4 a 5 g/dia, para que não ocorra excreção<br />
superior a 100 mEq51 .<br />
Para cada 100 mEq de aumento no consumo<br />
de sódio pela dieta, há um aumento da<br />
excreção urinária de cálcio em 25 mg42 .<br />
4.11. Potássio<br />
Com relação à ingestão de potássio, sua ingestão<br />
é inversamente proporcional ao risco de<br />
cálculos renais, já que, aumenta a reabsorção tubular<br />
de cálcio e aumenta a excreção de citrato,<br />
portanto, formadores de cálculo devem aumentar<br />
esse nutriente em suas dietas, escolhendo<br />
frutas e vegetais de baixo teor de oxalato19 .<br />
4.<strong>12</strong>. Suplementos alimentares<br />
Os suplementos nutricionais especializados<br />
auxiliam o manejo nutricional de pacientes<br />
em situações clínicas que seriam dificilmente<br />
contornadas com os alimentos e suplementos<br />
convencionais 23 .<br />
As vitaminas e minerais suplementares podem<br />
ser necessários devido ao fato de pacientes<br />
cronicamente doentes ter necessidade de evitar<br />
alguns tipos de alimentos ou certos grupos<br />
alimentares ou para corrigir as interações de<br />
drogas e nutrientes.Pequenas quantidades de<br />
suplementos isotônicos, líquidos, orais podem<br />
restaurar a ingestão, e, em casos de má absorção<br />
de gorduras, a suplementação ou alimentos<br />
fonte de triglicerídeos de cadeia média (TCM)<br />
podem ser eficazes no fornecimento de calorias<br />
e como veículos para nutrientes lipossolúveis 4 .<br />
Dentre a deficiência de vitaminas lipossolúveis,<br />
a mais relatada é a vitamina D, graças<br />
a deficiência absortiva de gordura, podendo<br />
predispor uma suplementação.<br />
Pode ocorrer também deficiência de vitamina<br />
B<strong>12</strong> devido à má absorção tornando<br />
necessária a suplementação deste mineral.<br />
Além da vitamina B<strong>12</strong>, é indicado também<br />
a oferta de B6, já que o uso fisiológico<br />
ou farmacológico na dose de 10 a 500mg/dia<br />
pode está relacionada com a diminuição da hiperoxalúria40<br />
.<br />
A suplementação de citrato como terapia<br />
farmacológica é muito interessante, pois, este<br />
age como um quelante que se liga ao cálcio<br />
ionizado disponível na urina, inibindo o crescimento<br />
e a agregação de cristais urinários<br />
com oxalato de cálcio, além de promover a alcalinização<br />
urinária e consequentemente repor<br />
o citrato em pacientes com hipocitratúria54 .<br />
Porém epigastralgia, pirose, diarreia e plenitude<br />
gástrica são queixas frequentes e limitam<br />
a terapêutica13 .<br />
5.<br />
Conclusão<br />
Conclui – se neste artigo que a DC possui<br />
correlação com a nefrolitíase, devido às alterações<br />
absortivas encontradas, sendo necessário<br />
que as deficiências nutricionais sejam detectadas<br />
o mais cedo possível, para que se possa<br />
traçar um plano alimentar individualizado de<br />
acordo com o estado nutricional do paciente.<br />
Assim, os efeitos deletérios da doença poderão<br />
ser atenuados, proporcionando a recuperação e<br />
manutenção do estado nutricional do paciente<br />
e melhorando a sua qualidade de vida.
É importante salientar que há necessida-<br />
des de maiores estudos, pois não existem ainda<br />
diretrizes nutricionais para nefrolitíase em pacientes<br />
com DC, contudo, parece ser possível<br />
conseguir uma resposta satisfatória desses pacientes<br />
com relação ao tratamento nutricional,<br />
retardando assim, o aparecimento da nefrolitíase<br />
e proporcionando uma vida normal durante<br />
um maior período, pois, a dieta adequada<br />
ás necessidades do indivíduo traz importantes<br />
benefícios para a evolução e tratamento da DC<br />
e nefrolitíase, apresentando, portanto, um efeito<br />
direto na progressão das doenças.<br />
É importante ressaltar ainda a importância<br />
da atuação do nutricionista na elaboração de<br />
dietas que atendam ás necessidades nutricionais,<br />
devido às características restritivas na alimentação<br />
impostas pelas duas doenças isoladamente<br />
e em conjunto. Dessa forma, as dietas devem<br />
ser individualizadas para que se possa adquirir a<br />
adesão ao tratamento de forma adequada.<br />
6.<br />
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Alden Santos Neves<br />
aldens@uol.com.br<br />
Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />
Avenida Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325<br />
Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />
CEP: 27240-560<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />
ALMEIDA, Nívea Veiga; NEVES, Alden Santos. Doença de Crohn e sua relação com a Nefrolitíase: Tratamento Nutricional. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>,<br />
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Palavras-chave:<br />
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Abstract<br />
Resumo<br />
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were necropsied to study their infracommunities of metazoan parasites.<br />
Seventeen species of metazoan parasites were collected. All fish were<br />
parasitized by one or more metazoan. The digeneans were the majority of<br />
the specimens collected, with 90.7%. Dinurus tornatus (Rudolphi, 1819)<br />
was the dominant species with highest abundance, prevalence, frequency<br />
of dominance and mean relative dominance. The parasites species of C.<br />
hippurus showed a typical aggregate pattern of distribution. None metazoan<br />
parasites species showed correlation between total length and<br />
prevalence and parasite abundance. The metazoan parasite infracommunities<br />
C. hippurus showed dominance of endoparasites (digeneans) and<br />
no correlation between abundance and parasite species richness and the<br />
total length of the host.<br />
From April 2009 and July 2010, 68 specimens of common dolphinfish<br />
Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758 (Osteichthyes: Coryphaenidae)<br />
collected from coast of the state of Rio de Janeiro (21-23° S, 41-45° W),<br />
were necropsied to study their infracommunities of metazoan parasites.<br />
Seventeen species of metazoan parasites were collected. All fish were<br />
parasitized by one or more metazoan. The digeneans were the majority<br />
of the specimens collected, with 90.7%. Dinurus tornatus (Rudolphi,<br />
1819) was the dominant species with highest abundance, prevalence,<br />
frequency of dominance and media relative dominance. The parasites<br />
species of C. hippurus showed a typical aggregate pattern of distribution.<br />
None of the metazoan parasites species showed correlation among total<br />
length and prevalence and parasite abundance. The metazoan parasite<br />
infracommunities C. hippurus showed dominance of endoparasites<br />
(digeneans) and no correlation among abundance and parasite species<br />
richness and the total length of the host.<br />
1 Discente do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong>;<br />
2 Docente do Curso de Ciências Biológicas – <strong>UniFOA</strong>.<br />
Key words:<br />
Metazoan parasites<br />
Coryphaenidae<br />
Coryphaena<br />
hippurus<br />
Brazil<br />
111<br />
Artigo<br />
Original<br />
Original<br />
Paper<br />
Recebido em<br />
05/<strong>2011</strong><br />
Aprovado em<br />
08/<strong>2011</strong><br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
1<strong>12</strong><br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
1.<br />
Introdução<br />
A família Coryphaenidae é composta<br />
por um único gênero com apenas duas espécies<br />
Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758<br />
e C. equiselis Linnaeus, 1758. Ambas são<br />
cosmopolitas sendo encontradas em mares<br />
tropicais e subtropicais (MENEZES;<br />
FIGUEIREDO, 1980; COLLETTE, 2000,<br />
2003; MENEZES et al., 2003). Essas espécies<br />
constituem um importante recurso pesqueiro<br />
no litoral sudeste brasileiro, sendo<br />
responsáveis por uma parcela significativa<br />
das pescarias comerciais, artesanais e recreacionais<br />
em todo o mundo (MENEZES;<br />
FIGUEIREDO, 1980; OXENFORD;<br />
HUNTE, 1986; KRAUL, 1999; MAHON,<br />
1999; ZAQUALI; MISSAQUI, 1999;<br />
DALLAGNOLO; ANDRADE, 2008).<br />
O dourado, C. hippurus, é um peixe ósseo<br />
marinho, oceânico de superfície, caracterizado<br />
como uma espécie altamente voraz,<br />
que pode chegar até dois metros de comprimento.<br />
Esse peixe apresenta amplo espectro<br />
trófico e hábitos alimentares estritamente ligados<br />
com o ambiente epipelágico, alimentando-se<br />
principalmente de peixes, crustáceos<br />
e cefalópodos (GIBBS; COLLETTE,<br />
1959; MENEZES; FIGUEIREDO, 1980;<br />
MANOOCH et al., 1984; PALOMINO et al.,<br />
1998; OXENFORD, 1999; FIQUEIREDO et<br />
al., 2002; NELSON, 2006).<br />
No Brasil, estudos sobre a fauna parasitária<br />
de C. hippurus foram realizados por<br />
Diesing (1850), Viana (1924), Travassos<br />
et al. (1967) (1969), Fernandes (1970) e<br />
Kohn et al. (2007) com digenéticos; Kohn<br />
et al. (2006) com monogenéticos; Silva e<br />
São Clemente (2001) e São Clemente et al.<br />
(2001) com cestóides; Barros e Cavalcante<br />
(1998) com nematóides e Boxshall e Montú<br />
(1997), Luque et al. (1998) e Luque e<br />
Tavares (2007) com copépodes.<br />
Nas últimas décadas, os estudos sobre<br />
a biodiversidade de parasitos de peixes<br />
marinhos da região Neotropical aumentaram<br />
significativamente, principalmente no<br />
Brasil (LUQUE; CHAVES 1999; POULIN;<br />
LUQUE, 2003; LUQUE et. al., 2004;<br />
ALVES; LUQUE, 2006; LUQUE; POULIN,<br />
2007; LUQUE; TAVARES, 2007; LUQUE,<br />
2008; POULIN et al., 2008; TAVARES;<br />
LUQUE, 2008; MUNIZ-PEREIRA et al.,<br />
2009; LUQUE et al., 2010; TIMI et al.,<br />
2010).<br />
Luque (2008) chamou atenção para dois<br />
aspectos relevantes no que concerne o estudo<br />
da biodiversidade parasitária de peixes<br />
dessa região. O primeiro está relacionado<br />
com a alta biodiversidade ictiológica, com<br />
subregiões que incluem o maior número de<br />
espécies de peixes conhecidas no planeta e<br />
com alto grau de endemismo, consequentemente,<br />
com elevada diversidade parasitária;<br />
o segundo está associado ao ótimo modelo<br />
de estudo que o sistema formado pelos metazoários<br />
parasitos dos peixes pode apresentar,<br />
isso devido à facilidade de coleta dos<br />
hospedeiros e pela possibilidade de obter um<br />
grande número de réplicas. Segundo o autor,<br />
os parasitos de peixes são os mais estudados<br />
em relação aos demais grupos de vertebrados.<br />
Tal fato vem a ressaltar a importância<br />
da realização de estudos dessa natureza.<br />
Partindo desse princípio, o presente<br />
trabalho tem o objetivo contribuir com conhecimentos<br />
sobre a comunidade de metazoários<br />
parasitos do dourado, Coryphaena<br />
hippurus, proveniente do litoral do Estado<br />
do Rio de Janeiro, realizando uma análise<br />
ao nível de infracomunidade e comunidade<br />
componente.<br />
2.<br />
Material e Métodos<br />
Entre abril de 2009 e julho de 2010<br />
foram necropsiados 68 espécimes de C. hippurus<br />
coletados no litoral do Estado do Rio<br />
de Janeiro (21-23°S, 41-45°W). Os peixes<br />
foram adquiridos de pescadores artesanais.<br />
Uma vez obtidos, os mesmos foram acondicionados<br />
em caixas de isopor contendo gelo,<br />
para assegurar boas condições da coleta dos<br />
parasitos e protegê-los durante o transporte<br />
até o laboratório de Zoologia do <strong>UniFOA</strong>,<br />
onde foram realizadas as necropsias. A determinação<br />
dos peixes foi feita de acordo com<br />
Menezes e Figueiredo (1980) e Figueiredo et<br />
al. (2002). A coleta, registro e processamento<br />
dos parasitos foram realizados de acordo com<br />
os procedimentos indicados por Eiras et al.<br />
(2000). A análise incluiu somente as espécies
com prevalência maior que 10% (BUSH et<br />
al., 1990). O cálculo da frequência de dominância<br />
e da dominância relativa (número de<br />
espécimes de uma espécie/número total de<br />
espécimes de todas as espécies de cada infracomunidade)<br />
foi feito seguindo a metodologia<br />
de Rohde et al. (1995). O quociente entre<br />
a variância e a abundância média (índice de<br />
dispersão) foi calculado para cada espécie<br />
de parasito com o intuito de determinar seu<br />
padrão de distribuição, sendo sua significância<br />
testada com o estatístico d (LUDWIG;<br />
REYNOLDS, 1988). O coeficiente de correlação<br />
por postos de Spearman, rs, foi usado<br />
para determinar possíveis correlações entre o<br />
comprimento total do hospedeiro e a abundância<br />
de infecção/infestação. O coeficiente<br />
de correlação de Pearson, r, foi usado para<br />
determinar a possível correlação entre o comprimento<br />
total do hospedeiro e a prevalência<br />
da infecção/infestação parasitária, com prévia<br />
transformação angular dos dados de prevalência<br />
(ZAR, 1996).<br />
As amostras dos hospedeiros foram separadas<br />
em cinco intervalos de classe com<br />
amplitude de 5 cm. A terminologia ecológica<br />
usada é a recomendada por Bush et al.<br />
(1997). Todos os valores que correspondem à<br />
média de alguma variável são acompanhados<br />
do respectivo desvio padrão. O nível de significância<br />
estatística adotado foi P < 0,05.<br />
3.<br />
Resultados<br />
3.1. Componentes da comunidade parasitária<br />
Os espécimes de C. hippurus mediram 53,7<br />
± 4,4 (43 – 68) cm de comprimento total. O comprimento<br />
total dos machos (54,3 ± 3,9)(n = 11) e<br />
das fêmeas (53,5 ± 4,7)(n = 48) não apresentou diferença<br />
significativa (t = 0,492; P = 0,624). O sexo<br />
foi indeterminado nos outros nove hospedeiros.<br />
Todos os espécimes de C. hippurus estavam<br />
parasitados por pelo menos uma espécie de metazoário.<br />
Um total de 3746 espécimes de parasitos<br />
pertencentes a 17 espécies foi coletado, com abundância<br />
média de 55,1 ± 62,2. O digenético Dinurus<br />
tornatus Ludolphi, 1819 foi o mais prevalente e<br />
abundante (Tabela 1). Os digenéticos, copépodes<br />
e nematóides corresponderam a 90,7%, 8,1% e<br />
1,1%, respectivamente, dos parasitos coletados.<br />
Os componentes da comunidade parasitária de C.<br />
hippurus apresentaram o típico padrão de distribuição<br />
superdispersa (Tabela 2). Dinurus tornatus<br />
apresentou a maior frequência de dominância e o<br />
maior valor de dominância relativa média (Tabela<br />
3). Nenhuma espécie de metazoário parasito apresentou<br />
correlação entre o comprimento total e a<br />
prevalência e abundância. A abundância média (rs = 0,042, P = 0,733) e a riqueza parasitária (3,8 ±<br />
1,35; r = 0,068, P = 0,579) não apresentaram rela-<br />
s<br />
ção com o comprimento do hospedeiro.<br />
113<br />
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114<br />
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Tabela 1. Prevalência, amplitude da intensidade, intensidade média, abundância média e local<br />
de infecção/infestação dos metazoários parasitos de Coryphaena hippurus do litoral do Estado do<br />
Rio de Janeiro, Brasil.<br />
Digenea<br />
Parasitos<br />
Prevalência<br />
(%)<br />
Amplitude da<br />
intensidade<br />
Intensidade<br />
média<br />
Abundância<br />
média<br />
Local<br />
de<br />
infecção<br />
Aponurus laguncula 92 1 - 2<strong>16</strong> 21,7 ± 31,8 20,08 ± 31,2 Estômago<br />
Didymozoídeo imaturo 1,4 1 - 2 1 0,02±0,24 Intestino<br />
Dinurus tornatus 97 1 - 234 30 ± 34,6 29,11 ± 34,5 Estômago<br />
Opecoeloides sp. 4,4 1 - 41 15,7 ± 21,9 0,69 ± 5 Intestino<br />
Stephanostomum coryphaenae 2,9 - 1 0,02 ± 0,17 Intestino<br />
Cestoidea<br />
Scolex pleuronectis (metacestóide) 1,4 1 - 2 1 0,02 ± 0,24 Intestino<br />
Trypanorhyncha não ident. (pleurocercóide) 1,4 - 1 0,14 ± 0,<strong>12</strong> Mesentério<br />
Acanthocephala<br />
Corynosoma sp. (Cistacanto) 1,4 - 1 0,01 ± 0,<strong>12</strong> Mesentério<br />
Nematoda<br />
Cucullanus sp. 1,5 - 1 0,01 ± 0,<strong>12</strong> Intestino<br />
Hysterothylacium sp. (larva) 2,9 1 - 2 1,3 ± 0,5 0,05 ± 0,3 Mesentério<br />
Raphidascaris sp. (larva) 13,2 1 - 6 3,6 ± 1,8 0,52 ± 1,4 Mesentério<br />
Copepoda<br />
Caligus bonito 54,4 1 - 10 3,7 ± 2,4 2 ± 2,6 Brânquias<br />
Caligus balistae 1,5 - 1 0,01 ± 0,<strong>12</strong> Brânquias<br />
Charopinopsis sp. 14,7 1 - 7 2,6 ± 2 0,57 ± 1,4 Brânquias<br />
Euryphorus brachypterus 22,05 1 - 10 2,4 ± 2,3 0,52 ± 1,5 Brânquias<br />
Euryphorus nordmanni 35,3 1 - 18 3,1 ± 3,5 1,1 ± 2,5 Brânquias<br />
Pennella sp. 17,6 1 - 3 1,2 ± 0,6 0,26 ± 0,6 Brânquias<br />
Tabela 2. Índice de dispersão (ID) e do estatístico d dos metazoários parasitos de Coryphaena<br />
hippurus do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.<br />
Parasitos Índice de dispersão (ID) d<br />
Aponurus laguncula 45,687 66,713*<br />
Dinurus tornatus 40,903 62,503*<br />
Raphidascaris sp. (larva) 3,920 11,388*<br />
Caligus bonito 3,433 9,918*<br />
Charopinopsis sp. 3,506 10,144*<br />
Euryphorus brachypterus 4,145 <strong>12</strong>,037*<br />
Euryphorus nordmanni 6,0 <strong>16</strong>,824*<br />
Pennella sp. 1,314 1,739<br />
(*) Valores significativos.
Tabela 3. Frequência de dominância, frequência de dominância compartilhada e dominância<br />
relativa média dos componentes das infracomunidades de metazoários parasitos de Coryphaena<br />
hippurus do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.<br />
4.<br />
Parasitos<br />
Frequência de<br />
dominância<br />
Frequência de<br />
dominância<br />
compartilhada<br />
Dominância<br />
relativa média<br />
Aponurus laguncula 22 2 0,342 ± 0,2<strong>12</strong><br />
Dinurus tornatus 44 1 0,510 ± 0,245<br />
Raphidascaris sp. (larva) 0 0 0,0<strong>12</strong> ± 0,036<br />
Caligus bonito 1 1 0,058 ± 0,105<br />
Charopinopsis sp. 0 0 0,054 ± 0,363<br />
Euryphorus brachypterus 0 0 0,013 ± 0,036<br />
Euryphorus nordmanni 1 0 0,024 ± 0,056<br />
Pennella sp. 0 0 0,008 ± 0,022<br />
Discussão<br />
Os resultados obtidos no presente traba-<br />
lho indicam a dominância dos digenéticos na<br />
comunidade de metazoários de Coryphaena<br />
hippurus. Os mesmos corresponderam a<br />
90,7% do total de parasitos coletados, sendo<br />
as espécies Aponurus laguncula Looss,<br />
1907 (Lecithasteridae) e Dinurus tornatus<br />
(Hemiuridae) os principais componentes.<br />
Esse fato corrobora com os estudos realizados<br />
por Manooch et al. (1984), Dyer et al.<br />
(1997) e Carbonell et al. (1999) em que os<br />
digenéticos constituíram os principais componentes<br />
da comunidade parasitária de C.<br />
hippurus. A maioria dos estudos sobre a comunidade<br />
parasitária de peixes marinhos do<br />
litoral do Rio de Janeiro relata o padrão de<br />
dominância de endoparasitos, sejam estes digenéticos<br />
(LUQUE et al., 1996; TAKEMOTO<br />
et al., 1996; KNOFF et al., 1997; LUQUE;<br />
CHAVES, 1999; SILVA et al., 2000; ALVES<br />
et al., 2004; TAVARES et al., 2004; LUQUE<br />
et al., 2008), nematóides adultos (ALVES;<br />
LUQUE, 2001; ALVES et al., 2002a, b) ou<br />
larvas de nematóides (LUQUE et al., 2002,<br />
2003; SABAS; LUQUE, 2003) apresentando<br />
similaridade com o resultado encontrado. Esse<br />
fato pode ser atribuído ao hábito alimentar, ao<br />
nível trófico e a distribuição geográfica dos<br />
hospedeiros. Entretanto, a dominância de um<br />
determinado táxon ou de uma infracomunidade<br />
parasitária pode variar em decorrência da<br />
densidade e do desenvolvimento ontogênico<br />
dos hospedeiros definitivos, da disponibilidade<br />
dos hospedeiros intermediários e/ou das variações<br />
ambientais (MARCOGLIESE, 2002).<br />
O caráter carnívoro e altamente especializado<br />
da dieta de C. hippurus está bem documentado.<br />
Esse peixe possui um amplo espectro<br />
alimentar predando moluscos, crustáceos<br />
e peixes (MENEZES; FIGUEIREDO, 1980;<br />
MANOOCH et al., 1984; PALOMINO et al.,<br />
1998; OXENFORD, 1999; FIQUEIREDO et<br />
al., 2002), os quais podem atuar como hospedeiros<br />
intermediários ou paratênicos (LUQUE;<br />
POULIN, 2004). Nelson et al. (1984) relataram a<br />
significativa ocorrência de Cerataspis monstrosa<br />
(Decapoda: Penaeidae) no conteúdo estomacal de<br />
2.219 espécimes de C. hippurus coletados no sudeste<br />
dos Estados Unidos e no Golfo do México.<br />
Esse crustáceo, segundo Lefebvre e Poulin (2005),<br />
atua como segundo hospedeiro intermediário de<br />
D. tornatus, sendo os peixes (Perciformes) seus<br />
hospedeiros definitivos. Sendo assim, a alta prevalência<br />
de D. tornatus em C. hippurus pode estar<br />
diretamente ligada ao seu hábito alimentar, assim<br />
como à distribuição geográfica de C. monstrosa.<br />
A presença de larvas de parasitos (Scolex<br />
pleuronectis, Trypanorhyncha não ident.,<br />
Corynosoma sp., Hysterothylacium sp. e<br />
Raphidascarias sp.) em C. hippurus pode<br />
ser considerada um reflexo do nível trófico<br />
intermediário dessas espécies (GEORGE-<br />
NASCIMENTO, 1987; SILVA; SÃO<br />
CLEMETE, 2001; LUQUE; POULIN, 2004).<br />
Segundo Oxenford (1999), C. hippurus,<br />
particularmente os juvenis (10 - 40 cm),<br />
115<br />
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1<strong>16</strong><br />
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fazem parte da dieta de várias espécies de<br />
peixes oceânicos (Thunnus albacares, T. alalunga,<br />
Makaria nigircans, Istiophorus platypturus<br />
e Xiphias gladius) e de elasmobrânquios<br />
(Hexanchus griseus e Prionace glauca), os<br />
quais são hospedeiros definitivos de anisaquídeos<br />
e trinpanorinquídeos (SÃO CLEMENTE<br />
et al., 2001; KNOFF et al., 2004).<br />
O caráter agregado ou superdisperso da<br />
distribuição dos parasitos na amostra de C.<br />
hippurus, do presente trabalho, é considerado<br />
um aspecto típico do parasitismo em função<br />
da amplitude das dimensões dos nichos e da<br />
heterogeneidade das diversas populações de<br />
hospedeiros. Luque et al. (1996) citaram vários<br />
exemplos relacionados com a dispersão<br />
de parasitos de peixes marinhos. O valor de<br />
dispersão não significativo determinado para<br />
Pennella sp. pode ser atribuído à baixa abundância<br />
desse copépode em C. hippurus. Fato<br />
semelhante foi observado por Alves et al.<br />
(2004) com o condracantídeo Acanthochondria<br />
triangularis Alves, Luque & Paraguassú, 2003<br />
(Copepoda: Condracanthidae).<br />
Segundo Tavares et al. (2004), a ausência<br />
de correlações significativas entre a abundância,<br />
prevalência e a riqueza parasitária e o<br />
comprimento total do hospedeiro pode estar<br />
associada à homogeneidade da amostra de<br />
hospedeiros examinada. No presente estudo<br />
foram coletados espécimes de C. hippurus com<br />
o intervalo de comprimento total de 25 cm (43-<br />
68)(53,7 ± 4,4), estreito, se considerarmos que<br />
esse peixe tem como comprimento padrão 100<br />
cm, podendo medir até 210 cm (MENEZES;<br />
FIGUEIREDO, 1980; COLLETTE, 2000,<br />
2003; MENEZES et al., 2003).<br />
Ao observarmos o estudo realizado por<br />
Manooch et al. (1984) verificamos que essa<br />
premissa se aplica. Os autores examinaram<br />
2632 espécimes de C. hippurus com um intervalo<br />
de comprimento padrão maior (25<br />
– 153 cm) e observaram a relação positiva<br />
entre o comprimento total dos hospedeiros<br />
e a abundância e prevalência do nematóide<br />
Hysterothylacium pelagicum (Anisakidae) e<br />
de uma espécie de digenético não identificado.<br />
Semelhante resultado foi observado por<br />
Carbonell et al. (1999), quando os espécimes<br />
de C. hippurus apresentaram maior intervalo<br />
de comprimento padrão (60 – <strong>12</strong>4 cm), consequentemente,<br />
correlação positiva entre os va-<br />
lores parasitários de Dinurus spp. e em relação<br />
aos espécimes de C. equiselis (32 – 52cm ),<br />
com intervalo de comprimento menor, não foi<br />
observado correlação. A influência do comprimento<br />
do hospedeiro na composição qualitativa<br />
e quantitativa das infracomunidades parasitárias<br />
é um tópico bastante discutido (LUQUE<br />
et al., 2004). Entretanto, o que se observa nos<br />
estudos sobre comunidades de metazoários<br />
parasitos de peixes marinhos do litoral do<br />
Estado do Rio de Janeiro é uma considerável<br />
heterogeneidade de resultados (TAVARES et<br />
al., 2004; ALVES; LUQUE, 2006).<br />
Os fatores ecológicos dos hospedeiros,<br />
tais como, dieta, gregarismo, densidade, nível<br />
trófico e tamanho corporal podem afetar a fauna<br />
parasitária. Indivíduos adultos podem apresentar<br />
maior riqueza parasitária por estarem a<br />
mais tempo expostos às infecções e por possuírem<br />
maior variedade de nichos (MUÑOZ et al.,<br />
2002). O aumento do comprimento corporal do<br />
hospedeiro está relacionado com o aumento do<br />
tamanho da boca, que por consequência passa<br />
a ingerir uma maior diversidade de alimentos,<br />
fazendo com que o mesmo venha a explorar<br />
novos recursos ou outro nível trófico na cadeia<br />
alimentar. Outro fator que pode contribuir para<br />
o aumento da riqueza parasitária é a capacidade<br />
do hospedeiro de ingerir uma maior variedade<br />
de potenciais hospedeiros intermediários<br />
(KARPOUZI; STERGIOU, 2003).<br />
A fauna parasitária de C. hippurus apresentou<br />
semelhança qualitativa na sua composição<br />
ao compararmos os resultados do presente<br />
trabalho com outros estudos (MANOOCH et<br />
al., 1984; DYER et al.; 1997; CARBONELL et<br />
al., 1999; WILLIAMS; WILLIAMS, 2010) realizados<br />
com esse peixe. Entretanto, a escassez<br />
de trabalhos que abordam os aspectos quantitativos<br />
da fauna parasitária de C. hippurus dificulta<br />
uma análise comparativa mais detalhada.<br />
Em relação aos endoparasitos, os digenéticos<br />
do gênero Dinurus foram registrados<br />
por diversos autores parasitando C. hippurus<br />
e C. equiselis (VIANA, 1924; MANTER,<br />
1934, 1947, 1954; FERNANDES, 1970;<br />
FISCHTHAL; THOMAS, 1971; FISCHTHAL,<br />
1972; OLIVA, 1984; LÓPEZ; TANTALEÁN,<br />
1985; WILLIAMS; WILLIAMS, 1994, 1996;<br />
CARBONELL et al., 1999; KOHN et al.,<br />
2007; WILLIAMS; WILLIAMS, 2010).
Carbonell et al. (1999) abordam a ele-<br />
vada ocorrência do gênero Dinurus em C.<br />
hippurus e C. equiselis, encontrando, no tra-<br />
balho realizado por eles, 100% de prevalência<br />
deste endoparasito em 70% dos espécimes de<br />
C. hippurus estudados. Nahhas e Cable (1964)<br />
e Dyer et al. (1997) registraram três espécies<br />
desse parasito enquanto Williams e Williams<br />
(2010) registraram seis espécies. Dyer et al.<br />
(1997) observaram que o digenético Dinurus<br />
barbatus (Cohn, 1902), com prevalência de<br />
100% e abundância média de 659,6, foi principal<br />
componente da comunidade parasitária de<br />
C. hippurus, corroborando com os resultados<br />
obtidos no presente.<br />
Os cestóides, principalmente os tripanorinquídeos,<br />
foram pouco abundantes e prevalentes<br />
em relação aos estudos realizados<br />
por Dyer et al. (1997), Williams e Williams<br />
(1996), Carbonell et al., 1999 e São Clemente<br />
et al. (2001).<br />
Em relação os ectoparasitos, observamos<br />
similaridade nos táxons que compõem<br />
essas infracomunidades (LUQUE et al.; 1998;<br />
CRESSEY, 1991; WILLIAMS; WILLIAMS,<br />
1996, 2010). No Brasil, Luque et al. (1998)<br />
registraram os copépodes Caligus quadratus<br />
Shiino, 1954 (Caligidae) e Euryphotus nordmanni<br />
Milne Edwards, 1840 (Euryphoridae)<br />
em C. hippurus, indicando serem esses, ectoparasitos<br />
de ampla distribuição geográfica.<br />
O estudo realizado por Carbonell et al.,<br />
1999, com espécimes de C. hippurus e C.<br />
equiselis provenientes do mar Mediterrâneo e<br />
da costa das Ilhas Canárias, reforça essa similaridade.<br />
Nesse, foram registrados os ectoparasitos<br />
Caligus spp., E. nynphae Steenstrup &<br />
Lütken, 1861, Neobrachiella coryphaenidae<br />
Pearse, 1952 (Lernaeopodidade) e Pennella<br />
filosa Linnaeus, 1758 (Pennellidae).<br />
5.<br />
Agradecimento<br />
Agradecemos ao Centro Universitário de<br />
Volta Redonda (<strong>UniFOA</strong>) pelo apoio financeiro.<br />
6.<br />
1.<br />
2.<br />
3.<br />
4.<br />
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Rico. New York Academy of Sciences, v.<br />
17, p. 257-369, 1960.<br />
70. SILVA, L. G. O.; LUQUE, J. L.; ALVES,<br />
D. R.; PARAGUASSÚ, A. R. Ecologia<br />
da comunidade parasitária do peixeespada<br />
Trichiurus lepturus (Osteichthyes:<br />
Trichiuridae) do litoral do estado do Rio<br />
de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de<br />
Zoociências, v. 2, p. 115-133, 2000.<br />
71. SILVA, C. M.; SÃO CLEMENTE, S.<br />
C. Nematóides da família Anisakidae e<br />
cestóides da Ordem Trypanorhyncha em<br />
filés de dourado (Coryphaena hippurus)<br />
e ariocó (Lutjanus synagris) e sua<br />
importância na inspeção de pescado.<br />
Higiene Alimentar, v. 15, n. 80-81, p. 75-<br />
79, 2001.<br />
72. TAKEMOTO, R. M.; AMATO, J. F.<br />
R.; LUQUE, J. L. Comparative analysis<br />
of the metazoan parasite communities<br />
of Leatherjackets, Oligoplites palometa.<br />
O. saurus,O. saliens (Osteichthyes:<br />
Carangidae) from Sepetiba bay, Rio de<br />
Janeiro, Brazil. Revista Brasileira de<br />
Biologia, v.56, n.4, p. 639-650, 1996.<br />
<strong>12</strong>1<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
<strong>12</strong>2<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
73. TAVARES, L. E. R.; BICUDO, A. J.<br />
A.; LUQUE, J. L. Metazoan parasites<br />
of needlefish Tylosurus acus (Lacépède,<br />
1803) (Osteichthyes: Belonidae) from<br />
the coastal zone of the State of Rio de<br />
Janeiro, Brazil. Revista Brasileira de<br />
Parasitologia Veterinária, v. 13, n.1, p.<br />
36-40, 2004.<br />
74. TAVARES, L. E. R.; LUQUE, J. L.<br />
Similarity Between Metazoan Parasite<br />
Communities of Two Sympatric Brackish<br />
Fish Species From Brazil. Journal of<br />
Parasitology, v. 94, n. 4, p. 985–989, 2008.<br />
75. TIMI, J. T.; LANFRANCHI, A. L.;<br />
LUQUE, J. L. Similarity in parasite<br />
communities of the teleost fish Pinguipes<br />
brasilianus in the southwestern Atlantic:<br />
Infracommunities as a tool to detect<br />
geographical patterns. International<br />
Journal for Parasitology, v. 40, p. 243–<br />
254, 2010.<br />
76. TRAVASSOS, L.; FREITAS, J. F.<br />
T; BÜHRNHEIM, P. F. Relatório da<br />
excursão do Instituto Oswaldo Cruz ao<br />
estado do Espírito Santo em novembro<br />
de 1964. Boletim do Museu de Biologia<br />
Professor Mello Leitão, v. 31, p. 1-5,<br />
1967.<br />
77. TRAVASSOS, L.; FREITAS, J. F.<br />
T; KOHN, A. Trematódeos do Brasil.<br />
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.<br />
67, 886pp., 1969<br />
78. VIANA, L. Tentativa de catalogação<br />
das espécies brasileiras de trematódeos.<br />
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.<br />
17, p. 95-227, 1924.<br />
79. WILLIAMS, E. H. Jr; WILLIAMS, L.<br />
B. Checklists of the Parasites of Dolphin,<br />
Coryphaena hippurus, and Pompano Dolphin,<br />
C. equiselis with New Records, Corrections,<br />
and Comments on the Literature. Fisheries<br />
Science, v. 18, p. 73-93, 2010<br />
80. WILLIAMS, E. H. Jr; WILLIAMS, L.<br />
B. Parasites of offshore big game fishes<br />
of Puerto Rico and the Western Atlantic.<br />
382p., 1996.<br />
81. WILLIAMS, E. H., Jr.; WILLIAMS, L.<br />
B.; RAND, T. G. Rand. Some copepod<br />
and isopod parasites of Bermuda marine<br />
fishes. Journal of Aquatic Animal Health,<br />
v. 6, p. 279-280, 1994.<br />
82. ZAOUALI, J.; MISSAOUI, H. Small<br />
scale Tunisian fishery for dolphinfish.<br />
Scientia Marina, v. 63, n. 3-4, p. 1-4.<br />
1999.<br />
83. ZAR, J.H. Biostatistical Analysis. Upper<br />
Saddle River: Prentice-Hall, 662p., 1996.<br />
Endereço para Correspondência:<br />
Dimitri Ramos Alves<br />
dimitri_ralves@yahoo.com.br<br />
Centro Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong><br />
Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, <strong>nº</strong> 1325<br />
Três Poços, Volta Redonda - RJ<br />
CEP 27240-560.<br />
Informações bibliográficas:<br />
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />
MARQUES, Livia Castro; ALVES, Dimitri Ramos. Ecologia da comunidade de metazoários parasitos do dourado, Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758, (Osteichthyes:<br />
Coryphaenidae) do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:
Instruções para Autores<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> é uma publicação<br />
quadrimestral arbitrada. Visa sustentar um espaço<br />
editorial de natureza inter e multidisciplinar.<br />
Publica prioritariamente pesquisas originais e<br />
contribuições de caráter descritivo e interpretativo,<br />
baseadas na literatura recente, bem como<br />
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breves sobre temas relevantes e<br />
inéditos desenvolvidos em nível de Graduação,<br />
e Pós-graduação Lato e Stricto Sensu.<br />
Seleção de artigos: na seleção de artigos<br />
para publicação, avaliam-se a originalidade,<br />
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científica utilizada, além da adequação<br />
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Revisão por pareceristas: todos os<br />
artigos publicados são revisados por pareceristas<br />
resguardado o anonimato dos autores<br />
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<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> não pode ter sido publicado<br />
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e declarações contidos nos trabalhos são de<br />
total responsabilidade dos autores.<br />
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ser concedidos exclusivamente para a<br />
Revista <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Para tanto é solicitado<br />
ao autor principal que assine declaração<br />
sobre o Conflito de interesses e Transferência<br />
de Direitos Autorais e envie para Editora FOA<br />
- Campus Três Poços - Av. Paulo Erlei Alves<br />
Abrantes, <strong>nº</strong> 1325, Três Poços, Volta Redonda<br />
- RJ. CEP: 27240-560. (Conferir anexo).<br />
Serão aceitos trabalhos para as seguintes<br />
seções:<br />
(1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre<br />
temas pertinentes à saúde pública (máximo de<br />
10.000 palavras); (2) Artigos - resultado de<br />
pesquisa de natureza empírica, experimental<br />
ou conceitual (máximo de 10.000 palavras);<br />
(3) Notas - nota prévia, relatando resultados<br />
parciais ou preliminares de pesquisa (máximo<br />
de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha<br />
crítica de livro relacionado ao campo temático<br />
de CSP, publicado nos últimos dois anos<br />
(máximo de 1.200 palavras); (5) Cartas -<br />
crítica a artigo publicado em fascículo anterior<br />
do <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> – Pós-graduação ou<br />
nota curta, relatando observações de campo<br />
ou laboratório (máximo de 1.200 palavras);<br />
(6) Artigos especiais – os interessados em<br />
contribuir com artigos para estas seções<br />
deverão consultar previamente o Editor: (7)<br />
Debate - artigo teórico que se faz acompanhar<br />
de cartas críticas assinadas por autores de<br />
diferentes instituições, convidados pelo<br />
Editor, seguidas de resposta do autor do artigo<br />
principal (máximo de 6.000 palavras); (8)<br />
Fórum - seção destinada à publicação de 2 a<br />
3 artigos coordenados entre si, de diferentes<br />
autores, e versando sobre tema de interesse<br />
atual (máximo de <strong>12</strong>.000 palavras no total).<br />
O limite de palavras inclui texto e referências<br />
bibliográficas (folha de rosto, resumos e<br />
ilustrações serão considerados à parte).<br />
Apresentação do Texto:<br />
Serão aceitas contribuições em português<br />
ou inglês. O original deve ser apresentado em<br />
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<strong>12</strong>, com margens superiores de 3,0 cm e<br />
as demais em 2,5 cm. Entre linhas deve-se<br />
respeitar o espaçamento de 2,0 cm. Deve<br />
ser enviado com uma página de rosto, onde<br />
constará título completo (no idioma original<br />
e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s)<br />
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por extenso, com endereço completo apenas<br />
do autor responsável pela correspondência.<br />
Notas de rodapé não serão aceitas.<br />
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em alta qualidade, em preto-e-branco e/ou<br />
diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os<br />
custos adicionais para publicação de figuras<br />
em cores serão de total responsabilidade dos<br />
autores. É necessário o envio dos gráficos,<br />
separadamente, no formato do programa em<br />
que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard<br />
Graphics etc.), acompanhados de seus<br />
parâmetros quantitativos, em forma de tabela<br />
e com nome de todas as variáveis. Também<br />
é necessário o envio de mapas no formato<br />
WMF, observando que os custos daqueles em<br />
cores serão de responsabilidade dos autores.<br />
O número de tabelas e/ou figuras deverá ser<br />
mantido ao mínimo (máximo de sete tabelas<br />
e/ou figuras).<br />
Resumos: Com exceção das contribuições<br />
enviadas às seções Resenha ou Cartas, todos<br />
os artigos submetidos em português deverão<br />
ter resumo na língua principal e em inglês.<br />
Os artigos submetidos em inglês deverão vir<br />
acompanhados de resumo em português, além<br />
do abstract em inglês. Os resumos não deverão<br />
exceder o limite de 500 palavras e deverão ser<br />
acompanhados de 3 a 5 palavras-chave.<br />
<strong>12</strong>3<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
<strong>12</strong>4<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
Nomenclatura: devem ser observadas<br />
rigidamente as regras de nomenclatura zoológica<br />
e botânica, assim como abreviaturas e convenções<br />
adotadas nas disciplinas especializadas.<br />
Pesquisas envolvendo seres humanos:<br />
A publicação de artigos que trazem resultados<br />
está condicionada ao cumprimento dos<br />
princípios éticos contidos na Declaração<br />
de Helsinki (1964, reformulada em 1975,<br />
1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical<br />
Association (http://www.wma.net/e/policy/<br />
b3.htm), além do atendimento a legislações<br />
específicas (quando houver) do país no qual a<br />
pesquisa foi realizada. Artigos que apresentem<br />
resultados de pesquisas envolvendo seres<br />
humanos deverão conter uma clara afirmação<br />
deste cumprimento (tal afirmação deverá<br />
constituir o último parágrafo da seção<br />
Metodologia do artigo). Em caso de dúvida e<br />
em não havendo Comitê especializado na IES<br />
de origem, o(s) autor(res) pode(m) entrar em<br />
contato com coeps@foa.org.br (Comitê de<br />
Ética em Pesquisa em Seres Humanos) para<br />
maiores esclarecimentos e possível envio da<br />
pesquisa para avaliação neste.<br />
Agradecimentos - Contribuições de<br />
pessoas que prestaram colaboração intelectual<br />
ao trabalho como assessoria científica, revisão<br />
crítica da pesquisa, coleta de dados entre<br />
outras, mas que não preencham os requisitos<br />
para participar de autoria devem constar dos<br />
“Agradecimentos”. Também podem constar<br />
desta parte agradecimentos a instituições pelo<br />
apoio econômico, material ou outros.<br />
Referências: as referências devem<br />
ser identificadas indicando-se autor(es), ano<br />
de publicação e número de página, quando<br />
for o caso. Todas as referências devem ser<br />
apresentadas de modo correto e completo. A<br />
veracidade das informações contidas na lista de<br />
referências é de responsabilidade do(s) autor(es)<br />
e devem seguir o estabelecido pela Associação<br />
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).<br />
Exemplos:<br />
1 Livro:<br />
MOREIRA FILHO, A. A. Relação médico<br />
paciente: teoria e prática. 2. ed. Belo Horizonte:<br />
Coopmed Editora Médica, 2005.<br />
2 Capítulo de Livros:<br />
RIBEIRO, R. A.; CORRÊA, M. S. N. P.;<br />
COSTA, L. R. R. S. Tratamento pulpar em<br />
dentes decíduos. In:<br />
CORRÊA, M. S. N. P. Odontopediatria na<br />
primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos,<br />
2005. p. 581-605.<br />
3 Dissertação e Tese:<br />
EZEQUIEL, Oscarina da Silva. Avaliação<br />
da acarofauna do ecossitema domiciliar no<br />
município de Juiz de Fora, estado de Minas<br />
Gerais, Brasil. 2000. Dissertação (Mestrado<br />
em Biologia Parasitária)___FIOCRUZ,<br />
Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000.<br />
CUPOLILO, Sonia Maria Neumann.<br />
Reinfecção por Leishmania L amazonensis no<br />
modelo murino: um estudo histopatológico e<br />
imunohistoquímico. 2002. Tese (Doutorado<br />
em Patologia)___FIOCRUZ, Instituto<br />
Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002.<br />
4 Artigos:<br />
ALVES, M. S.; RILEY, L. W.; MOREIRA, B.<br />
M. A case of severe pancreatitis complicated<br />
by Raoultella planticola infection. Journal of<br />
Medical Microbiology, Edinburgh, v. 56, p.<br />
696-698, 2007.<br />
COOPER, C. W.; FALB, R. D. Surgical<br />
adhesives. Annals of the New York Academy<br />
of Sciences, New York, v. 146, p. 214-224,<br />
1968.<br />
5 Documentos eletrônicos:<br />
INSTITUTO NACIONAL DO CâNCER<br />
(Brasil). Estimativa 2006: incidência de câncer<br />
no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. Disponível<br />
em: . Acesso em 4<br />
ago. 2007.<br />
Envio de manuscritos:<br />
Os artigos devem ser enviados exclusivamente<br />
para o seguinte endereço eletrônico:<br />
cadernosunifoa@foa.org.br.<br />
Documentos adicionais, devem ser enviados<br />
para <strong>UniFOA</strong> - Campus Universitário Olezio<br />
Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, <strong>nº</strong><br />
1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP:<br />
27240-560 – Prédio 15 –EDITORA FOA.<br />
OBS: Se professor do <strong>UniFOA</strong>, informar<br />
em quais cursos leciona.
Instructions For Authors<br />
<strong>UniFOA</strong> Reports is a six-monthly<br />
journal that publishes original publishes original<br />
research and contributions of descriptive<br />
character, based in recent literature, as well as<br />
articles on current or emergent subjects and<br />
brief communications on developed excellent<br />
and unknown subjects in level of Lato and<br />
Stricto Sensu pos graduation programs.<br />
The journal accepts articles for the<br />
following sections: (1) Literature reviews<br />
- critical reviews of the literature on themes<br />
pertaining to public health (maximum 10,000<br />
words); (2) Articles - results of empirical, experimental,<br />
or conceptual research (maximum<br />
8,000 words); (3) Research notes - short communications<br />
on partial or preliminary research<br />
results (maximum 2,000 words); (4) Book<br />
reviews - critical reviews of books related to<br />
the journal’s thematic field, published in the<br />
last two years (maximum 1,200 words); (5)<br />
Letters - critiques of articles published in<br />
previous issues of the journal or short notes<br />
reporting on field or laboratory observations<br />
(maximum 1,200 words); (6) Special articles<br />
- authors interested in contributing articles<br />
to this section should consult the Editor<br />
in advance; (7) Debate - theoretical articles<br />
accompanied by critiques signed by authors<br />
from different institutions at the Editor’s invitation,<br />
followed by a reply by the author of the<br />
principal article (maximum 6,000 words); and<br />
(8) Forum - section devoted to the publication<br />
of 2 or 3 interrelated articles by different authors,<br />
focusing on a theme of current interest<br />
(maximum <strong>12</strong>,000 words for the combined articles).<br />
The above-mentioned maximum<br />
word limits include the main text and bibliographic<br />
references (the title page, abstracts,<br />
and illustrations are considered separately).<br />
Presentations of Papers<br />
Contributions in Portuguese or English<br />
are welcome. The original should be double-spaced<br />
and submitted eletronically, using<br />
Arial or Times New Roman size <strong>12</strong> font with<br />
2.5cm margins. All manuscripts should be submitted<br />
with a title page, including the complete<br />
title (in the original language and English)<br />
and running title, name(s) of the author(s) and<br />
institutional affiliation(s) in full and the complete<br />
address for the corresponding author<br />
only. All manuscripts should be submitted<br />
with a diskette or CD containing the article’s<br />
file and identifying the software program and<br />
version used (Windows-compatible programs<br />
only). Footnotes will not be accepted. Authors<br />
are required to send a letter informing whether<br />
the article is being submitted for the first time<br />
or re-submitted to our Secretariat.<br />
When sending a second version of<br />
the article, one print copy should be sent, together<br />
with the diskette or CD.<br />
Illustrations: figures should be sent<br />
in a high-quality print version in black-andwhite<br />
and/or different tones of gray and/or hachure.<br />
Any additional cost for publication of<br />
color figures will be covered entirely by the<br />
author(s). Graphs should be submitted separately<br />
in the format of the program in which<br />
they were generated (SPSS, Excel, Harvard<br />
Graphics, etc.), accompanied by their quantitative<br />
parameters in table form and with the<br />
names of all the variables. Maps should also<br />
be submitted in WMF format, and the cost of<br />
colored maps will be covered by the author(s).<br />
Maps that have not been generated electronically<br />
must be submitted on white paper (do<br />
not use tracing paper). Tables and/or figures<br />
should be kept to a minimum (maximum seven<br />
tables and/or figures).<br />
Abstracts: with the exception of<br />
contributions submitted to the Book review or<br />
Letters sections, all manuscripts submitted in<br />
Portuguese should include an abstract in both<br />
the principal language and English. Articles<br />
submitted in English should include an abstract<br />
in Portuguese, in addition to the English<br />
abstract. The abstracts should not exceed 250<br />
words and should include 3 to 5 key words.<br />
Nomenclature: rules for zoological<br />
and botanical nomenclature should be strictly<br />
followed, as well as abbreviations and conventions<br />
adopted by specialized disciplines.<br />
Research involving Ethical Principles:<br />
publication of articles with the results of<br />
research involving human beings is conditioned<br />
on the ethical principles contained in the<br />
Helsinki Declaration (1964, revised in 1975,<br />
1983, 1989, 1996, and 2000), of the World<br />
Medical Association (http://www.wma.net/e/<br />
policy/b3.htm), in addition to complying with<br />
the specific legislation (when existing) of the<br />
country in which the research was performed.<br />
Articles presenting the results of research involving<br />
human beings must contain a clear<br />
statement of such compliance (this statement<br />
should be the last paragraph of the article’s<br />
Methodology section). After acceptance of the<br />
article for publication, all the authors are required<br />
to sign a form provided by the Editorial<br />
Secretariat of <strong>UniFOA</strong> Reposts – Pos graduation<br />
stating their full compliance with the specific<br />
ethical principles and legislation.<br />
Acknowledgements: Contributions<br />
of people, grants and institutions must consist<br />
the section of Acknowledgements.<br />
Declaration: the main author must<br />
send, by post office, declaration on the Conflict<br />
of Interests and Transference of Copyrights.<br />
<strong>12</strong>5<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
<strong>12</strong>6<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
References<br />
References should be numbered consecutively<br />
according to the order in which<br />
they appear in the manuscript. They should<br />
be identified by superscript Arabic numerals<br />
(e.g., Oliveira1). References cited only in tables<br />
and figures should be numbered according<br />
to the last reference cited in the body of<br />
the text. Cited references should be listed at<br />
the end of the article in numerical order. All<br />
references should be presented in correct and<br />
complete form. The veracity of the information<br />
contained in the list of references is the<br />
responsibility of the author(s).<br />
Examples:<br />
a) Periodical articles<br />
Hedberg B, Cederborg AC, Johanson M.<br />
Care-planning meetings with stroke survivors:<br />
nurses as moderators of the communication.<br />
J Nurs Manag, 15(2):214-21,<br />
2007.<br />
b) Institution as author<br />
European Cardiac Arrhythmia Society -<br />
2nd Annual Congress, April 2-4, 2006,<br />
Marseille, France.<br />
Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-<br />
103, 2006.<br />
c) Without author specification<br />
Rubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-camptothecin,<br />
9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamptothecin,<br />
RFS 2000, RFS2000. Drugs R D.<br />
5(5):305-11, 2004.<br />
d) Books and other monographs<br />
FREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O<br />
cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janeiro:<br />
Ed. Paz e Terra, 2000.<br />
· Editor or organizer as author<br />
Duarte LFD, Leal OF, organizers. Doença,<br />
sofrimento, perturbação: perspectivas<br />
etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz;<br />
1998.<br />
· Institution as author and publisher<br />
Institute of Medicine recommends new P4P<br />
system for Medicare. Healthcare Benchmarks<br />
Qual Improv., 13(<strong>12</strong>):133-7, 2006.<br />
e) Chapter of book<br />
Aggio A. A revolução passiva como hipótese<br />
interpretativa da história política latino-<br />
americana. In: Aggio, Alberto (org.).<br />
Gramsci: a vitalidade de um pensamento.<br />
São Paulo: Unesp, 1998.<br />
f) Events (conference proceedings)<br />
Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso<br />
Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMI-<br />
NÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍ-<br />
COLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill,<br />
p. <strong>16</strong>1-201, 1985.<br />
g) Paper presented at an event<br />
Bengtson S, Solheim BG. Enforcement of<br />
data protection, privacy and security in me-<br />
dical informatics. In: Lun KC, Degoulet P,<br />
Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDIN-<br />
FO 92. Proceedings of the 7th World Congress<br />
on Medical Informatics; 1992 Sep<br />
6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam:<br />
North Holland; 1992. p. 1561-5.<br />
h) Theses and dissertations<br />
Rodriques GL. Poeira e ruído na produção<br />
de brita a partir de basalto e gnaisse nas<br />
regiões de Londrina e Curitiba, Paraná:<br />
Incidência sobre os trabalhadores e Meio<br />
Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade<br />
Federal do Paraná.Curitiba, 2004.<br />
i) Other published work<br />
· Journal article<br />
Lee G. Hospitalizations tied to ozone<br />
pollution: study estimates 50,000 admissions<br />
annually. The Washington Post 1996<br />
Jun 21; Sect. A:3.<br />
· Legal documents<br />
MTE] Ministério do Trabalho e Emprego.<br />
Secretaria de Segurança do Trabalho. Portaria<br />
N°. 25 de 29/<strong>12</strong>/1994. Norma Regulamentadora<br />
N° 9: Programas de Prevenção<br />
de Riscos Ambientais.<br />
j) Electronic material<br />
· CD-ROM<br />
Severino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva<br />
MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Repicagem<br />
de plântulas de mamoneira visando<br />
à produção de mudas. In: I Congresso<br />
Brasileiro de Mamona - Energia e Sustentabilidade<br />
(CD-ROM). Campina Grande:<br />
Embrapa Algodão, 2004<br />
· Internet<br />
UMI ProQuest Digital Dissertations. Disponível<br />
em: .<br />
Acesso em: 20 Nov. 2001.<br />
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electronic address: cadernosunifoa@foa.<br />
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Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes,<br />
<strong>nº</strong> 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ.<br />
CEP: 27240-560 – A/C Núcleo de Pesquisa/<br />
NUPE.<br />
OBS: If <strong>UniFOA</strong> professor, inform the<br />
courses in which teaches.
Permutas Institucionais<br />
informações sobre permuta<br />
gabriela.ferreira@foa.org.br<br />
ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF<br />
ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ<br />
Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO<br />
Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP<br />
Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP<br />
Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ<br />
Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO<br />
Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO<br />
Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS<br />
Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC<br />
Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP<br />
Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP<br />
Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP<br />
CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO<br />
CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA<br />
EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ<br />
Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ<br />
FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ<br />
FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG<br />
FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA<br />
Facudade 2 de Julho - Salvador/BA<br />
Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS<br />
Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ<br />
Faculdade de Ciências - Bauru/SP<br />
Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE<br />
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA<br />
Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG<br />
Faculdade de Minas - Muriaé/MG<br />
Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO<br />
Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA<br />
Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR<br />
Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS<br />
Faculdade SPEI - Curitiba/PR<br />
Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA<br />
Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP<br />
Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR<br />
Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS<br />
Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE<br />
Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP<br />
Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR<br />
FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG<br />
FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA<br />
<strong>12</strong>7<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>
<strong>12</strong>8<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />
<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />
Permutas Institucionais<br />
FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP<br />
FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG<br />
FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE<br />
FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP<br />
informações sobre permuta<br />
gabriela.ferreira@foa.org.br<br />
FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ<br />
FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE<br />
FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF<br />
Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG<br />
Fundação Santo André - Santo André/SP<br />
Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS<br />
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação<br />
de Informações - Rio de Janeiro/RJ<br />
Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS<br />
Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC<br />
Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ<br />
Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA<br />
Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP<br />
Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS<br />
MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF<br />
MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ<br />
Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP<br />
PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP<br />
PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP<br />
TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG<br />
The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA<br />
TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ<br />
TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ<br />
Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ<br />
UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ<br />
UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ<br />
UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ<br />
UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF<br />
UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ<br />
União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT<br />
Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR<br />
Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP<br />
Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP<br />
UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS<br />
UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP<br />
Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ<br />
UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM<br />
Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SP
Formando para vida.