12 Cadernos UniFOA Edição nº 16 - Agosto/2011

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CADERNOS <strong>UniFOA</strong><br />

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA<br />

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA<br />

ISSN 1809-9475


CADERNOS <strong>UniFOA</strong><br />

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA<br />

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA<br />

ANO VI - <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

FOA


FOA<br />

Presidente<br />

Dauro Peixoto Aragão<br />

Vice-Presidente<br />

Jairo Conde Jogaib<br />

Diretor Administrativo - Financeiro<br />

Iram Natividade Pinto<br />

Diretor de Relações Institucionais<br />

José Tarcísio Cavaliere<br />

Superintendente Executivo<br />

Eduardo Guimarães Prado<br />

Superintendência Geral<br />

José Ivo de Souza<br />

Comitê Editorial<br />

Agamêmnom Rocha de Souza<br />

Rosana Aparecida Ravaglia Soares<br />

Sérgio Elias Vieira Cury<br />

Conselho Editorial<br />

Aline Andrade Pereira<br />

Carlos Alberto Sanches Pereira<br />

Carlos Roberto Xavier<br />

Denise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues<br />

Élcio Nogueira<br />

Fernanda Augusta Oliveira Melo<br />

Júlio César de Almeida Nobre<br />

Pablo Gimenez Serrano<br />

Margareth Lopes Galvão Saron<br />

Mauro César Tavares de Souza<br />

Vitor Barletta Machado<br />

Revisão de textos<br />

Língua Portuguesa<br />

Claudia Maria Gil Silva<br />

Maricinéia Pereira Meireles da Silva<br />

Língua Inglesa<br />

Maria Amália Sarmento Rocha de Carvalho<br />

Conselho Editorial ad hoc<br />

Capa<br />

Daniel Ventura<br />

EXPEDIENTE<br />

<strong>UniFOA</strong><br />

Reitor<br />

Alexandre Fernandes Habibe<br />

Pró-reitora Acadêmica<br />

Cláudia Yamada Utagawa<br />

Pró-reitora de Pós-Graduação,<br />

Pesquisa e Extensão<br />

Daniella Regina Mulinari<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

Editora Executiva<br />

Flávia Lages de Castro<br />

Editora Científica<br />

Maria Auxiliadora Motta Barreto<br />

Claudinei dos Santos<br />

Doutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de<br />

Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP<br />

Diamar Costa Pinto<br />

Doutor em Biologia Parasitária - Fundação Oswaldo Cruz<br />

Fabio Aguiar Alves<br />

Doutor em Biologia Celular e Molecular<br />

Universidade Federal Fluminense<br />

Igor José de Renó Machado<br />

Doutor em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Campinas<br />

- Professor do Departamento de Antropologia - UFSCAR<br />

Maria José Panichi Vieira<br />

Doutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade<br />

Católica do Rio de Janeiro<br />

Ruthberg dos Santos<br />

Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo<br />

Douglas Mansur da Silva<br />

Doutor em Antropologia Social – Universidade Federal de Viçosa<br />

Editoração<br />

Laert dos Santos / Luana Fernandes


Centro Universtitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />

FICHA CATALOGRÁFICA<br />

Bibliotecária Gabriela Leite Ferreira - CRB 7/RJ - 5521<br />

C<strong>12</strong>2 <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> / Centro Universitário de Volta Redonda. –<br />

ano VI, n. <strong>16</strong> (agosto <strong>2011</strong>). – Volta Redonda: FOA, <strong>2011</strong>.<br />

Quadrimestral<br />

ISSN 1809-9475<br />

Campus Três Poços<br />

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, <strong>nº</strong> 1325<br />

Três Poços, Volta Redonda /RJ<br />

CEP 27240-560<br />

Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404<br />

www.unifoa.edu.br<br />

Versão On-line da Revista <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

http://www.unifoa.edu.br/cadernos<br />

1. Publicação periódica. 2. Ciências exatas e tecnológicas<br />

– Periódicos. 3. Ciências da saúde e biológicas – Periódicos.<br />

3. Ciências humanas e sociais aplicadas – Periódicos. I. Fundação<br />

Oswaldo Aranha. II. Título.<br />

CDD – 050


SUMÁRIO<br />

EDITORIAL ...................................................................................................................................................................... 09<br />

CIÊNCIAS EXATAS<br />

Utilizando recursos das tecnologias da informação e comunicação para apoio ao ensino da disciplina expressão gráfica<br />

nos cursos de engenharia<br />

Carlos Vitor de Alencar Carvalho, Janaina Veiga e Júlio César da Silva ................................................................................................... 11<br />

Utilização da Coluna de Winogradsky para a Demonstração do Efeito dos Metais Pesados na Microbiota Oxidante de<br />

Enxofre em Ambientes Aquáticos: Uma Abordagem Experimental<br />

Márcia Santos da Silva e Venicio Siqueira Filho ...................................................................................................................................... 21<br />

Influência do tolueno na modificação química das fibras de bagaço de cana-de-açúcar<br />

Tatiana Faria Maia e Daniella Regina Mulinari ....................................................................................................................................... 29<br />

Estudo Técnico, Econômico e Ambiental da geração de energia através do biogás de lixo - o caso do aterro sanitário de Gramacho<br />

Fábio Viana de Abreu, Mila Rosendal Avelino e Diego Preza Monâco ..................................................................................................... 37<br />

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS<br />

História Política e a “Nova História”: um breve acerto de contas.<br />

Rafael Willian Clemente ............................................................................................................................................................................. 45<br />

Link patrocinado: uma nova forma de publicidade na internet<br />

Bruna Viana de Abreu Gonçalves, Douglas Baltazar Gonçalves e Ivanete da Rosa Silva de Oliveira ..................................................... 51<br />

O exercício da tutela na Educação Inclusiva<br />

Rose Jardim Madureira de Araujo, Cláudio Kleina e Marcus Vinicius Faria de Araujo ............................................................................. 59<br />

Desenvolvimento da competência comunicativa: um processo de coconstrução de conhecimento sobre a comunicação humana<br />

Luciana Leitão da Silva .............................................................................................................................................................................. 71<br />

CIÊNCIAS DA SAÚDE<br />

Aprendizagem baseada em problemas: o mito e a realidade<br />

João Ozório R. Neto, Cleize Silveira Cunha, Cristiane Silveira Cunha, Adriana Novaes Rodrigues e Mauro Tavares ..............................79<br />

Karatê e agressividade: possíveis relações<br />

Cláudio Delunardo Severino e Andressa de Oliveira Barbosa ......................................................................................................................85<br />

Doença de Crohn e Sua Relação com a Nefrolitíase: Tratamento Nutricional<br />

Nívea Veiga Almeida e Alden Santos Neves ...............................................................................................................................................99<br />

Ecologia da comunidade de metazoários parasitos do dourado, Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758, (Osteichthyes:<br />

Coryphaenidae) do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.<br />

Livia Castro Marques e Dimitri Ramos Alves ............................................................................................................................................111


LIST OF CONTRIBUTIONS<br />

EDITORIAL ...................................................................................................................................................................... 09<br />

ACCURATE SCIENCES<br />

Using information technologies and communication resources at graphic expression teaching in the enginnering courses<br />

Carlos Vitor de Alencar Carvalho, Janaina Veiga e Júlio César da Silva ................................................................................................... 11<br />

Using Winogradsky Column to the Demonstration of the Effect of Heavy Metals in Sulfur Oxidizing Microorganism in<br />

Aquatic Environments: an Experimental Approach<br />

Márcia Santos da Silva e Venicio Siqueira Filho ...................................................................................................................................... 21<br />

Influence of the toluene in chemical modification of the sugarcane bagasse fibers<br />

Tatiana Faria Maia e Daniella Regina Mulinari ....................................................................................................................................... 29<br />

Technical, economical and enviromental study of energy production through biogas from waste - the case of Gramacho’s landfil<br />

Fábio Viana de Abreu, Mila Rosendal Avelino e Diego Preza Monâco ..................................................................................................... 37<br />

SOCIAL SCIENCES APPLIED AND HUMAN BEINGS<br />

Political History and “New History”: a brief reckoning.<br />

Rafael Willian Clemente ............................................................................................................................................................................. 45<br />

Sponsored link: a new form of advertising on the internet<br />

Bruna Viana de Abreu Gonçalves, Douglas Baltazar Gonçalves e Ivanete da Rosa Silva de Oliveira ..................................................... 51<br />

The exercise of guardianship in Inclusive Education<br />

Rose Jardim Madureira de Araujo, Cláudio Kleina e Marcus Vinicius Faria de Araujo ............................................................................. 59<br />

Developing communicative competence: a co-construction process of knowledge about human communication<br />

Luciana Leitão da Silva .............................................................................................................................................................................. 71<br />

SCIENCES OF THE HEALTH<br />

Learning based on problems: mith and reality<br />

João Ozório R. Neto, Cleize Silveira Cunha, Cristiane Silveira Cunha, Adriana Novaes Rodrigues e Mauro Tavares ..............................79<br />

Karate and aggression: possible relation<br />

Cláudio Delunardo Severino e Andressa de Oliveira Barbosa ......................................................................................................................85<br />

Crohn’s Disease and its Relation with Nephrolithiasis: a Nutritional Treatment<br />

Nívea Veiga Almeida e Alden Santos Neves ...............................................................................................................................................99<br />

Community ecology of the metazoan parasites of common dolphinfish, Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758 (Osteichthyes:<br />

Coryphaenidae) from the coastal zone State of Rio de Janeiro, Brazil.<br />

Livia Castro Marques e Dimitri Ramos Alves ............................................................................................................................................111


Editorial<br />

A Revista <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> – multidisciplinar é uma publicação quadrimestral do Centro<br />

Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong>, cujo objetivo é divulgar as produções científicas de<br />

docentes e discentes, a fim de criar um intercâmbio entre pesquisadores e educadores do Centro<br />

Universitário de Volta Redonda e das Universidades.<br />

Ressalto que, neste número, a Revista <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> apresenta doze artigos com<br />

diversos temas das áreas de exatas, saúde e humanas, os quais demonstram a capacidade científica e<br />

acadêmica de nossos docentes, discentes e da comunidade nacional.<br />

Agradeço a todos os autores que enviaram seus trabalhos para esta edição e aos avaliadores<br />

que, apesar de suas atividades regulares, dispuseram seu tempo e conhecimento para contribuir com<br />

orientações valiosas para os trabalhos.<br />

Como Pró-reitora de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, espero que este veículo<br />

educacional de difusão de pesquisas e análises possa contribuir para o desenvolvimento do<br />

conhecimento.<br />

Boa leitura!<br />

Profa. Dra. Daniella Regina Mulinari<br />

Pró-reitora de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

9<br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong> 9


Utilizando recursos das tecnologias da informação e comunicação para apoio<br />

ao ensino da disciplina expressão gráfica nos cursos de engenharia<br />

Using information technologies and communication resources at graphic<br />

expression teaching in the enginnering courses<br />

Carlos Vitor de Alencar Carvalho 1<br />

Janaina Veiga 2<br />

Júlio César da Silva 3<br />

Palavras-chave:<br />

Software Educativo<br />

Educação Matemática<br />

Geometria Descritiva<br />

Desenho Geométrico<br />

Resumo:<br />

Este trabalho apresenta reflexões da utilização de recursos das Tecnologias<br />

da Informação e Comunicação – TIC – no apoio ao ensino da disciplina<br />

de expressão gráfica nos cursos de Engenharia. A disciplina expressão<br />

gráfica tem no seu conteúdo tópicos de desenho técnico e de geometria<br />

descritiva. A proposta apresenta a utilização das TIC em dois momentos:<br />

um com o uso do software GeoDescritiva e outro com a utilização de<br />

animações geradas especificamente para o curso a partir do software livre<br />

Régua e Compasso. A utilização dessa metodologia foi aplicada com<br />

alunos de cursos de engenharia elétrica, ambiental e de produção. Ao<br />

final do artigo são apresentados e discutidos os resultados do uso dessa<br />

metodologia em sala de aula.<br />

Abstract<br />

This work presents reflection about the use of information technologies<br />

and communication resources – TIC - as support to the teaching at the<br />

discipline graphic expression in the engineering courses. The subject<br />

graphic expression has geometric drawing content and descriptive<br />

geometry in its topics. The proposal presents the use of TIC in two<br />

moments: one with the use of the software GeoDescritiva and other one<br />

with the use of animations specifically generated for the course starting<br />

by the free software Compass and Ruler. The use of this methodology<br />

was applied with students at electric engineering, environmental<br />

engineering and production engineering. The results of the use of this<br />

methodology at the classroom are presented and discussed at the end<br />

of this article.<br />

Key words:<br />

Educational Software<br />

Mathematics Education<br />

Descriptive Geometry<br />

Technical Drawing<br />

1 Docente do Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong> (Volta Redonda – RJ). Docente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado<br />

Profissional em Educação Matemática da Universidade Severino Sombra – USS (Vassouras - RJ). Docente do Instituto Superior de Tecnologia<br />

de Paracambi.<br />

2 Docente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universidade Severino Sombra – USS (Vassouras - RJ)<br />

3 Docente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universidade Severino Sombra – USS<br />

(Vassouras - RJ). Docente do Centro Universitário Serra dos Órgãos - UNIFESO (Teresópolis – RJ). Docente do Instituto Superior de<br />

Tecnologia em Ciências da Computação – IST-Rio (Rio de Janeiro – RJ)<br />

11<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

06/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


<strong>12</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

A utilização das Tecnologias da<br />

Informação e Comunicação (TIC) como apoio<br />

aos processos de ensino e de aprendizagem<br />

não pode mais se ignorada pelos educadores e<br />

estabelecimentos de ensino, uma vez que tais<br />

tecnologias são instrumentos que possuem<br />

um grande potencial pedagógico para os professores.<br />

Com elas as distâncias diminuem,<br />

as informações caminham mais rapidamente<br />

permitindo uma ampliação e integração do conhecimento<br />

e conseqüentemente uma mudança<br />

de postura dos educadores.<br />

Isto torna inegável a importância do<br />

debate sobre as TIC e seus impactos sobre<br />

os processos de construção do conhecimento.<br />

Neste sentido o Professor Nelson Pretto<br />

(2006:18), um dos referencias teóricos desde<br />

trabalho, destaca que “[...] no campo das instituições<br />

escolares precisamos refletir sobre o<br />

fazer pedagógico para conhecermos como os<br />

envolvidos estão recebendo a influência tecnológica<br />

e como reagem no seu dia a dia. A<br />

realidade que se apresenta constituiu um desafio<br />

para a escola como um todo”. As escolas<br />

do século XXI têm que adotar uma nova metodologia<br />

em sala de aula na qual a tecnologia<br />

esteja englobada, entretanto, para que a escola<br />

mude, é necessário que exista uma nova concepção<br />

de construção do conhecimento, uma<br />

nova forma de conceber escola. Uma escola<br />

que prepara o aluno para uma sociedade informatizada.<br />

Outro referencial teórico deste trabalho,<br />

Borba & Penteado (2001) afirma que o<br />

acesso a escola deve ser visto como um direito<br />

e que todos os alunos, sejam de escolar particular<br />

ou pública, devem ter no atual momento,<br />

mínimo, uma “alfabetização tecnológica”, que<br />

não devem ser como um curso de informática,<br />

mas como uma nova mídia.<br />

Especificamente no ensino da engenharia<br />

o uso das TIC é uma realidade em suas diversas<br />

subáreas, como estruturas, elétrica, geotécnica,<br />

hidráulica, etc. Na literatura encontramse<br />

alguns exemplos como em Carvalho et al.<br />

(2008) (Figura 1) que apresenta um software<br />

para estudo de mecanismos de transportes de<br />

contaminantes.<br />

Figura 1 - Simulador VAPD-2D para apoio ao ensino de<br />

processos de transporte por difusão.<br />

Em Guillermo et al. (2005) são apresenta-<br />

dos simuladores computacionais na área de hidráulica<br />

e em Carvalho et al. (2005) (Figura 2)<br />

é apresentado um simulador gráfico e interativo<br />

para estudo de conforto em ambientes construídos<br />

muito utilizado por estudantes e profissionais<br />

de arquitetura. Em Carvalho & Carvalho<br />

(2009) é apresentado outro exemplo sobre um<br />

software educacional para o estudo de tensões<br />

através do Círculo de Mohr (Figura 3).<br />

Figura 2 - FLUXOVENTO - Visualização de linhas de<br />

fluxo em ambientes construídos.<br />

Figura 3 - Estudo do estado de tensões<br />

através do círculo de Mohr.<br />

Em todos os exemplos citados acima o<br />

ponto comum é a visualização. Ela é importante<br />

para o entendimento do fenômeno que<br />

está sendo estudado, estimulando a intuição e<br />

a percepção dos estudantes.


Fischbein (1990) ao analisar a visualiza-<br />

ção, afirmou que freqüentemente o conheci-<br />

mento intuitivo é identificado com a representação<br />

visual. Tendemos a pensar que aquilo<br />

que não conseguimos imaginar visualmente é<br />

difícil de perceber mentalmente. A representação<br />

visual contribui para a organização da informação<br />

em representações sinópticas e desta<br />

assim, constitui um fator para o entendimento<br />

do problema que está sendo trabalhado. Uma<br />

imagem visual organiza os dados em estruturas<br />

significativas, tornando-se fator importante<br />

na orientação do desenvolvimento analítico de<br />

uma solução. No caso da disciplina expressão<br />

gráfica, a visualização é um fator muito importante<br />

para o entendimento dos conteúdos.<br />

Basicamente, no estudo da disciplina expressão<br />

gráfica são envolvidos conceitos de<br />

desenho técnico e geometria descritiva. O desenho<br />

técnico é responsável pela definição das<br />

formas, dimensões e posição dos objetos utilizados<br />

e necessários para a engenharia e arquitetura.<br />

A geometria descritiva, cujas origens remetem<br />

ao método criado por Gaspard Monge,<br />

tem o objetivo de representar de uma maneira<br />

coerente e sem dupla interpretação, objetos tridimensionais<br />

em um plano bidimensional.<br />

Fazendo uma revisão na literatura, podem-se<br />

verificar alguns exemplos do uso de<br />

TIC para estudo do desenho técnico e geometria<br />

descritiva. Por exemplo, em Bolgheroni<br />

et al. (2008) é apresentado um estudo caso do<br />

uso de TIC no ensino de desenho técnico e em<br />

Morgado et al. (2002) apresenta o desenvolvimento<br />

de um software para o estudo da geometria<br />

descritiva e suas potencialidades.<br />

Com base nestas reflexões, a proposta deste<br />

trabalho é apresentar o uso de TIC para apoio<br />

ao ensino da disciplina de expressão gráfica. A<br />

metodologia aborda não somente a utilização<br />

do software GeoDescritiva em sala de aula,<br />

desenvolvido pelos autores deste trabalho, mas<br />

também a utilização de animações desenvolvidas<br />

pelos autores com temas sobre desenho técnico<br />

usando o software livre Régua e Compasso<br />

(RÉGUA E COMPASSO, 2009), sendo esta<br />

integração o diferencial das abordagens encontradas<br />

na literatura. A metodologia proposta<br />

permite aos estudantes visualizar conceitos e,<br />

junto com o professor, experimentar hipóteses<br />

em um mesmo ambiente, propiciando ambiente<br />

de investigação lúdico e significativo.<br />

2.<br />

Metodologia<br />

As atividades propostas neste trabalho<br />

foram realizadas em alunos do primeiro ano<br />

de cursos de Engenharia Ambiental e Elétrica.<br />

A abordagem inicial foi através de questionários<br />

(entrevistas) como técnica privilegiada de<br />

comunicação.<br />

Durante as aulas teóricas foram apresentadas<br />

e disponibilizadas aos alunos o software<br />

GeoDescritiva e animações feitas através do<br />

software Régua e Compasso como indica o<br />

diagrama da Figura 4. A seguir serão detalhadas<br />

as informações da cada uma das ferramentas<br />

utilizadas em sala de aula.<br />

Figura 4 – Estrutura adotada na utilização das TIC na<br />

disciplina de expressão gráfica.<br />

2.1. Animações usando o software Régua<br />

e Compasso<br />

Como dito anteriormente, anima-<br />

ções foram elaboradas usando o softwa-<br />

re Régua e Compasso e todo o processo<br />

de gravação foi feito através do software<br />

AutoScreenRecorder 3.0 versão freeware<br />

(AUTOSCREENRECORDER, 2009). As animações<br />

foram geradas no formato de extensão<br />

avi, e contemplam os seguintes temas:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Construção de retas perpendiculares;<br />

Construção de triângulos;<br />

Construção de retas paralelas;<br />

Construção de concordâncias;<br />

Traçado de bissetriz;<br />

Divisão de segmentos.<br />

Todas as animações foram gravadas para a<br />

geração e produção de um CD-ROM chamado<br />

“Animações sobre Desenho Técnico” (Figura<br />

5, Figura 6 e Figura 7). A Figura 8 mostra um<br />

exemplo da animação gerada. O aluno pode<br />

verificar e reverificar a sua construção contri-<br />

13<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


14<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

buindo para o entendimento do assunto. Todas<br />

as animações geradas estão disponíveis em<br />

Carvalho (<strong>2011</strong>a, <strong>2011</strong>b, <strong>2011</strong>c, <strong>2011</strong>d, <strong>2011</strong>e,<br />

<strong>2011</strong>f, <strong>2011</strong>g, <strong>2011</strong>h, <strong>2011</strong>i, <strong>2011</strong>j, <strong>2011</strong>k).<br />

Figura 5: Tela inicial do CD-ROM de animações.<br />

Figura 6: Tópicos de estudo. Os vídeos podem ser<br />

visualizados através de hiperlink em cada item.<br />

Figura 7: Tópicos de estudo. Os vídeos podem ser<br />

visualizados através de hiperlink em cada item.<br />

Figura 8: Animação sobre concordância. O aluno<br />

pode observar a construção feita no software Régua e<br />

Compasso verificando suas particularidades.<br />

2.2. O Software GeoDescritiva<br />

A geometria descritiva foi um método<br />

desenvolvido por Monge no século XVIII, e<br />

tornou-se uma importante metodologia para<br />

a formação profissional dos engenheiros.<br />

Entretanto, o ensino e o entendimento dos<br />

conceitos da geometria descritiva, para os alunos<br />

iniciantes, são um grande desafio. A compreensão<br />

do método, apesar da sua eficiência,<br />

requer muito treinamento e exercícios progressivos<br />

e sistematizados. Esta foi uma das<br />

principais motivações para o desenvolvimento<br />

do software GeoDescritiva que se encontra<br />

disponível no website (Figura 9) indicado em<br />

Carvalho (<strong>2011</strong>l).<br />

Figura 9 – Website do software GeoDescritiva.<br />

O software foi desenvolvido usando o am-<br />

biente Delphi (CORNELL, 1995) e o sistema<br />

gráfico OpenGL (COHEN & MANSSOUR,<br />

2006). O GeoDescritiva permite a visualização<br />

tridimensional dos planos: vertical e horizontal<br />

(Figura 10). Na mesma figura é possível<br />

observar a interseção dos planos, chamada linha<br />

de terra. Na Figura 11 é possível identificar<br />

os diedros que são os quadrantes formados<br />

pelos planos.<br />

Figura 10: Interface do sistema GeoDescritiva.


Figura 11: Diedros formados pelos planos: vertical e horizontal.<br />

O software possui um menu no lado es-<br />

querdo onde é possível, utilizando os deslizadores,<br />

rodar os planos nos três eixos coordenados<br />

(x, y e z), além de visualizar ou não a reta e pontos<br />

projetos nos planos: vertical e horizontal. A<br />

partir desses conceitos iniciais o professor pode<br />

iniciar os estudos sobre ponto e reta.<br />

A Figura <strong>12</strong> mostra as características das<br />

projeções de um ponto no plano vertical superior<br />

e plano horizontal posterior. Quando o plano<br />

vertical é rebatido no sentido anti-horário,<br />

ele coincide com o plano horizontal, formando,<br />

o que tecnicamente, se chama épura. Nela<br />

é possível representar um ponto ou figura do<br />

espaço pelas suas projeções no plano. A Figura<br />

13 apresenta a épura como exemplo do ponto<br />

[-3,-4,-5], que poderá ser desenhada pelo professor<br />

usando o quadro negro, uma vez que<br />

nesta versão ainda não está disponível a construção<br />

da épura, sendo este um dos objetivos<br />

das implementações para as futuras versões.<br />

Figura <strong>12</strong>: Característica de um ponto no espaço: seu<br />

afastamento e sua cota.<br />

Figura 13: Exemplo de épura do ponto [-3,-4,-5].<br />

2.3. Utilizando o software em sala de aula<br />

Após a apresentação do software e das<br />

animações para a turma, algumas atividades<br />

foram sugeridas. Primeiramente os alunos,<br />

após a visualização das animações em sala de<br />

aula, foram estimulados a desenvolver as mesmas<br />

construções usando papel, lápis e os instrumentos<br />

régua e compasso. Em seguida com<br />

o software GeoDescritiva foram propostas as<br />

seguintes atividades:<br />

a. Definir dois pontos no 1º diedro especifi-<br />

cando sua cota, afastamento e abscissa. O<br />

sistema disponibiliza uma interface para<br />

tal tarefa (Figura 14).<br />

b.<br />

Figura 14: Definição de dois pontos para compor uma<br />

reta no primeiro diedro.<br />

Ligar as projeções (Figura 15) e verificar<br />

sua visualização e no caderno desenvolver<br />

a épura da reta construída.<br />

c. Repetir os processos para pontos no 2º, 3º<br />

e 4º diedros.<br />

15<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


<strong>16</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

Figura 15: Projeções do ponto 1, ponto 2 e da reta no<br />

plano vertical e horizontal.<br />

Número da<br />

questão<br />

3.<br />

Resultados e Discussões<br />

O questionário (Quadro 1) visava obser-<br />

var a aceitação, pelos discentes, do uso de novas<br />

tecnologias em sala de aula e da metodologia<br />

proposta para a disciplina de expressão<br />

gráfica.<br />

Quadro 1: Questões proposta para avaliação do software em sala de aula.<br />

Questão<br />

1 Como você avalia de forma geral o uso de tecnologias em sala de aula?<br />

2<br />

3<br />

4<br />

A metodologia de mostrar os conceitos da disciplina usando o software e animações foi<br />

bem aceita por você?<br />

Você acha que o software e as animações são ferramentas que ajudam no processo de<br />

ensino-aprendizagem das construções geométricas?<br />

Para você foi importante o uso de novas tecnologias para apoio ao processo de ensinoaprendizagem?<br />

5 O quanto você aprendeu com a utilização de tais recursos em sala de aula?<br />

Os estudantes consideram positivo (com<br />

valor máximo de 57.1% considerando excelente)<br />

o uso de novas tecnologias em sala de<br />

aula (Tabela 2 e Figura <strong>16</strong> - primeira questão).<br />

Após as atividades propostas continuaram avaliando<br />

positivamente o uso das novas tecnologias<br />

(Tabela 3 e Figura 17 - quarta questão).<br />

Em relação à metodologia, houve uma<br />

aceitação acima da média do uso dos softwares<br />

Tabela 2 - Dados da Figura <strong>16</strong>.<br />

e animações que pode ser observado nas respostas<br />

da segunda e terceira questões (Tabela<br />

4 e Figura 18 - segunda questão; Tabela 5 e<br />

Figura 19 - terceira questão). Em relação à<br />

aprendizagem em ambas as turmas mais de<br />

um terço da turma (67% e 60.6 %) consideraram<br />

que aprenderam muito com a metodologia<br />

utilizadas nas aulas. (Tabela 6 e Figura 20 -<br />

quinta questão).<br />

Excelente (%) Bom (%) Regular (%) Fraco (%) Insuficiente (%)<br />

Eng. Ambiental 57,1 42,9 0 0 0<br />

Eng. Elétrica 15,2 48,5 30,3 3 3<br />

Figura <strong>16</strong>: Gráfico dos dados obtidos para a primeira questão.


Tabela 3 - Dados da Figura 17.<br />

Sim (%) Não (%)<br />

Eng. Ambiental 100 0<br />

Eng. Elétrica 54,5 45,5<br />

Figura 17: Gráfico dos dados obtidos para a segunda questão.<br />

Tabela 4 - Dados da Figura 18.<br />

Sim (%) Não (%)<br />

Eng. Ambiental 89,3 10,7<br />

Eng. Elétrica 60,6 39,4<br />

Figura 18: Gráfico dos dados obtidos para a terceira questão.<br />

Tabela 5 - Dados da Figura 19.<br />

Sim<br />

(%)<br />

Mais ou<br />

Menos (%)<br />

Não<br />

(%)<br />

Eng. Ambiental 89,3 10,7 0<br />

Eng. Elétrica 60,6 36,3 3,1<br />

Figura 19: Gráfico dos dados obtidos para a quarta questão.<br />

Tabela 6 - Dados da Figura 20.<br />

Muito<br />

(%)<br />

Razoável<br />

(%)<br />

Pouco<br />

(%)<br />

Eng. Ambiental 3,6 64,3 32,1<br />

Eng. Elétrica 18,2 42,4 39,4<br />

Figura 20: Gráfico dos dados obtidos para a quinta questão.<br />

4.<br />

Considerações Finais<br />

A utilização da metodologia descrita<br />

neste trabalho vem ao encontro de uma nova<br />

prática pedagógica que é caracterizada por um<br />

ambiente computacional para a aprendizagem<br />

da geometria descritiva de forma exploratória<br />

aliada a animações das construções geométricas,<br />

construindo conceitos através de um<br />

pensamento consciente. Neste ambiente computacional,<br />

o contexto é altamente exploratório,<br />

onde o aluno constrói soluções através de<br />

uma interface simples e de fácil utilização. É<br />

bom frisar que o uso do computador aplicado<br />

à educação deve ser realizado de tal forma que<br />

o professor seja o dinamizador das experiências<br />

e atividades pedagógicas.<br />

5.<br />

Agradecimentos<br />

O primeiro autor agradece ao CNPq<br />

pelo apoio financeiro através da Bolsa<br />

de Produtividade em Desenvolvimento<br />

Tecnológico e Extensão Inovadora – DT. A<br />

segunda autora agradece à FAPERJ pelo apoio<br />

financeiro através do programa “Apoio à melhoria<br />

do ensino em escolas sediadas no estado<br />

do Rio de Janeiro – 2009”.<br />

17<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


18<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

6.<br />

Referências<br />

1. AUTOSCREENRECORDER.<br />

Disponível<br />

em: http://www.wisdom-soft.com/.<br />

Acessado em 10 de outubro de 2009. 2009.<br />

2. BOLGHERONI,<br />

W. & SILVEIRA, I. F.<br />

Software Livre Aplicado ao Ensino de<br />

Geometria e Desenho Geométrico. Anais<br />

do XXVIII Congresso da SBC – WIE<br />

– Workshop sobre Informática na<br />

Escola, Belém, Pará, 2008.<br />

3. BORBA,<br />

M. C. & PENTEADO, M. G.<br />

- Informática e Educação Matemática<br />

- coleção tendências em Educação<br />

Matemática – Editora Autêntica, Belo<br />

Horizonte, Minas Gerais, 2001.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

7.<br />

8.<br />

CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />

construção de uma reta perpendicular<br />

- modo 2. Disponível em http://www.<br />

youtube.com/watch?v=Us9JbWqDbdI.<br />

Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>a.<br />

CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />

construção dos triângulos a partir dos<br />

lados. Disponível em http://www.youtube.<br />

com/watch?v=3yF9t9ImKKI. Acessado<br />

em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>b.<br />

CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />

concordância entre dois segmentos<br />

convergentes, onde se conhece o<br />

ponto de interseção, com um arco<br />

Disponível em: http://www.youtube.com/<br />

watch?v=h4tQUDOoH3M. Acessado em<br />

30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>c.<br />

CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />

concordância entre duas retas paralelas.<br />

Disponível em: http://www.youtube.com/<br />

watch?v=ndkJ8hl9aI4. Acessado em 30<br />

de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>d.<br />

CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />

concordância entre uma reta e um arco<br />

Disponível em: http://www.youtube.com/<br />

watch?v=OctcTjELVZI. Acessado em 30<br />

de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>e.<br />

9.<br />

CARVALHO, C. V. A. Animação<br />

da construção bissetriz de um<br />

ângulo formado por dois segmentos.<br />

Disponível em http://www.youtube.com/<br />

watch?v=XIuEE38j9mk. Acessado em<br />

30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>f.<br />

10. CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />

construção de uma reta perpendicular<br />

- modo 1. Disponível em http://www.<br />

youtube.com/watch?v=MTbDrkq_BcM.<br />

Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>g.<br />

11. CARVALHO, C. V. A. Animação da<br />

construção de uma reta perpendicular<br />

- modo 3. Disponível em http://www.<br />

youtube.com/watch?v=XshZ2lGdjak.<br />

Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>h.<br />

<strong>12</strong>. CARVALHO, C. V. A. Animação do<br />

traçado de duas tangentes à um círculo<br />

passando por ponto externo comum as<br />

duas tangentes. Disponível em: http://<br />

www.youtube.com/watch?v=Wz4_<br />

zxDXDYM. Acessado em 30 de maio de<br />

<strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>i.<br />

13. CARVALHO, C. V. A. Animação do<br />

traçado de uma tangente à um círculo.<br />

Disponível em: http://www.youtube.com/<br />

watch?v=6gi0deFsbA4. Acessado em 30<br />

de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>j.<br />

14. CARVALHO, C. V. A. Animação do traço<br />

de uma reta paralela por um ponto exterior<br />

a uma reta. Disponível em http://www.<br />

youtube.com/watch?v=6gU1ygqCjVw.<br />

Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>k.<br />

15. CARVALHO, C. V. A. Software<br />

GeoDescritiva. Disponível em: http://<br />

www.cvac.eng.br/Geodescritiva/.<br />

Acessado em 30 de maio de <strong>2011</strong>. <strong>2011</strong>l.<br />

<strong>16</strong>. CARVALHO, C. V. A., CARVALHO,<br />

J. V. Um software educacional gráfico e<br />

interativo para apoio ao estudo de tensões<br />

planas através do círculo de Mohr.<br />

Revista de Informática Mater Dei, v.4,<br />

p.1-<strong>12</strong>, 2008.


17. CARVALHO, C. V. A., CARVALHO, J. V.,<br />

SILVA, J. C. da VAPD-2D - Simulador para<br />

Apoio ao ensino da Engenharia Ambiental.<br />

Revista Eletrônica TECCEN (on-line)<br />

Disponível em: http://www.uss.br/page/<br />

revistateccen.asp. , v.1, p.1 - 8, 2008.<br />

18. CARVALHO, C. V. A.; MARTHA, L. F.;<br />

TEIXEIRA, W. FLUXOVENTO - Um<br />

simulador gráfico interativo para o estudo<br />

de ventilação em ambientes construídos.<br />

In: VII Encontro Nacional sobre<br />

Conforto no Ambiente Construído<br />

(ENCAC), Maceió. ISBN: 85-89478-<br />

<strong>12</strong>-2. Maceió, v. 1. p. 350-360, 2005.<br />

19. COHEN, M; MANSSOUR, I. OpenGL<br />

– Uma Abordagem Prática e Objetiva.<br />

Novatec, 2006.<br />

20. CORNELL,<br />

G., STRAIN, T. Delphi<br />

Segredos e Soluções. 1ª Ed. São Paulo:<br />

Makron Books, 1995.<br />

21. DESLANDES,<br />

S. F., GOMES, R. Pesquisa<br />

social: teoria, método e criatividade.<br />

Maria Cecília de Souza Minayo<br />

(organizadora). 25ª edição. Revista e<br />

atualizada. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.<br />

22. FISCHBEIN,<br />

E. Psycology and<br />

mathematics In: Nesher, P. &<br />

Kilpatrick, J. (ed.). Mathematics and<br />

cognition: a research synthesis by the<br />

international group for the psychology<br />

of mathematics education. Cambridge:<br />

Cambrige University Press, 1990. p. 1-13.<br />

ICMI Study Series, 1990.<br />

23. GUILLERMO,<br />

O. E. P., TAROUCO,<br />

L. M. R.; ENDRES, L. A. M. O Poder<br />

das Simulações no ensino de hidráulica.<br />

RENOTE. Revista Novas Tecnologias<br />

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Acessado em 10 de outubro de 2009.<br />

24. MORGADO,<br />

F.; ALMEIDA, P.,<br />

Ambiente Interactivo para o Ensino<br />

da Geometria Descritiva, Actas do<br />

VI Congresso Iberoamericano de<br />

Informática Educativa, Vigo, 2002.<br />

25. PRETTO,<br />

N., Políticas Públicas<br />

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Liinc em Revista, v.2, n.1, março 2006,<br />

p.10 – 27. Disponível em: http://www.<br />

liinc.ufrj.br/revista/index-revista.htm.<br />

Acessado em 01 de outubro de 2009.<br />

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Software Régua<br />

e Compasso, Disponível em: http://www.<br />

rene-grothmann.de/. Acessado em 10 de<br />

outubro de 2009, 2009.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

Carlos Vitor de Alencar Carvalho<br />

cvitorc@gmail.com<br />

Av. Expedicionário Oswaldo de Almeida Ramos, 280<br />

Vassouras - RJ<br />

CEP: 27.700-000<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: CARVALHO,<br />

Carlos Vitor de Alencar; VEIGA, Janaina; SILVA, Júlio César da. Utilizando recursos das tecnologias da informação e comunicação para apoio ao ensino da disciplina expressão gráfica nos<br />

cursos de engenharia <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em: <br />

19<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


Utilização da Coluna de Winogradsky para a Demonstração do Efeito dos<br />

Metais Pesados na Microbiota Oxidante de Enxofre em Ambientes Aquáticos:<br />

Uma Abordagem Experimental<br />

Using Winogradsky Column to the Demonstration of the Effect of Heavy Metals<br />

in Sulfur Oxidizing Microorganism in Aquatic Environments: an Experimental<br />

Approach<br />

Anderson Gomes 1<br />

Lara dos Santos Osório 2<br />

Palavras-chave:<br />

Microbiologia<br />

Coluna de<br />

winogradsky<br />

Metais pesados<br />

Abstract<br />

Resumo<br />

O presente estudo teve por objetivo determinar o efeito dos metais pesados:<br />

mercúrio, cádmio, chumbo e cromo VI, na população de sulfobactérias<br />

presentes em colunas de Winogradsky. As colunas foram preparadas<br />

com água e sedimento do córrego Secades (Volta Redonda/RJ), para<br />

avaliar a contribuição potencial na disponibilidade destes metais pesados<br />

nesta população microbiana. Na avaliação do efeito dos metais pesados<br />

na população de sulfobactérias, foi comparada a diversidade das colônias<br />

desenvolvidas nas colunas contaminadas com metais pesados com uma<br />

coluna contendo apenas amostra e sedimento do manancial. Os resultados<br />

permitiram observar que a presença dos diferentes metais pesados causou<br />

alteração da diversidade biológica presente na coluna de Winogradsky. O<br />

estudo também revelou que o experimento pode ser aplicado nas aulas<br />

práticas de Microbiologia Ambiental, pois permite simular as condições<br />

reais da interação das sulfobactérias com os metais pesados.<br />

The present study aimed to determine the effect of the heavy metals:<br />

mercury, cadmium, lead and chrome VI, in the population of present<br />

sulforbacteria in columns of Winogradsky. The columns were prepared with<br />

water and sediment of the stream Secades (Volta Redonda/RJ), to evaluate<br />

the potential contribution in the availability of these heavy metals in this<br />

microbial population. In the evaluation of the effect of the heavy metals<br />

in the sulforbacteria population, the diversity of the colonies developed in<br />

the contaminated columns with heavy metals was compared to a column<br />

containing just a sample and the stream sediment. The results allowed to<br />

observe that the presence of different heavy metals caused alteration of<br />

the present biological diversity in the column of Winogradsky. The study<br />

also revealed that the experiment can be applied in the practical classes<br />

of Environmental Microbiology, because it allows to simulate the real<br />

conditions of the interaction of the sulforbacteria with the heavy metals.<br />

1 Mestrando, Biólogo, Especialista em Microbiologia, Docente dos Cursos de Ciências Biológicas e Engenharia Ambiental do Centro<br />

Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong><br />

2 Técnica em Química - Centro Integrado de Tecnologia - CIT - Centro Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong>.<br />

Key words:<br />

Microbiology<br />

Winogradsky<br />

column<br />

Heavy metals<br />

21<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

05/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


22<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

Com o desenvolvimento das atividades<br />

industriais, ocorreu a introdução de metais<br />

pesados nos corpos hídricos, numa quantidade<br />

muito maior do que ocorre naturalmente, o<br />

que vem causando grandes poluições hídricas.<br />

Essas poluições são causadas principalmente<br />

pela ausência de tratamento dos efluentes industriais<br />

ou por acidentes que levam o despejo<br />

de muitos poluentes nos ambientes aquáticos.<br />

Dos grupos de poluentes gerados nos<br />

processos industriais, podem se destacar os<br />

metais pesados, que são um grande problema<br />

para o meio ambiente, pois estes afetam<br />

a microbiota dos corpos hídricos que recebem<br />

estes poluentes. Os principais problemas que<br />

os metais pesados causam na microbiota são<br />

a bioacumulação (processo através do qual os<br />

seres vivos absorvem e retêm substâncias químicas<br />

no seu organismo) nos microrganismos<br />

na base da cadeia trófica, e a inibição do crescimento<br />

ou morte de algumas espécies microbianas<br />

mais sensíveis.<br />

A importância de conhecer o efeito da ação<br />

de metais pesados aos microrganismos presentes<br />

em ambientes aquáticos nas condições próximas<br />

daquelas existentes na natureza é de vital<br />

importância no ensino da Microbiologia no<br />

curso de Engenharia Ambiental, em contraste<br />

ao estudo dos microrganismos em condições<br />

in vitro. Isso se dá devido à diversidade de espécies<br />

microbianas envolvidas na ciclagem de<br />

nutrientes num ecossistema. Por este motivo<br />

é necessário um instrumento apropriado para<br />

a demonstração dessas condições em ambientes<br />

naturais. A coluna de Winogradsky é um<br />

modelo interessante que simula as condições<br />

de ecossistemas naturais, na qual desenvolve<br />

de populações bacterianas fotossintéticas que<br />

utilizam o sulfeto de hidrogênio como doador<br />

de elétrons durante o metabolismo fotoautotrófico,<br />

onde é possível observar as sucessões<br />

microbianas em um ambiente aquático, uma<br />

vez que as microbiota presente se modificam<br />

ao longo do tempo e sob a ação dos fatores<br />

ecológicos que atuam nesta comunidade.<br />

1.1.<br />

A coluna de Winogradsky<br />

A coluna de Winogradsky foi um sistema<br />

criado pelo microbiologista russo Sergei<br />

Winogradsky, no ano de 1880 para estudar microrganismos<br />

presentes no solo. Até hoje é utilizado<br />

como um sistema que permite demonstrar,<br />

de uma maneira bastante simples, a diversidade<br />

microbiana em ambientes aquáticos.<br />

Tradicionalmente, o modo de desenvolver<br />

este sistema é feito colocando lama do<br />

fundo de um lago ou rio em uma coluna de<br />

vidro ou outro material transparente, complementado<br />

com uma fonte de celulose, seja<br />

na forma de carboximetilcelulose (CMC) ou<br />

através de papel picado, suplementado com<br />

uma fonte de sulfatos e uma solução tamponante<br />

(para manter o pH estável). Essa coluna<br />

então é tampada com uma tela fina (para evitar<br />

proliferação de mosquitos) e colocada em<br />

um local onde receba luz solar. Com o passar<br />

dos dias irão se desenvolver colônias de microrganismos<br />

estratificados ao longo da coluna,<br />

de acordo sua estratégia metabólica (aeróbios<br />

mais na superfície, anaeróbios no fundo,<br />

microaerófilos numa faixa estreita da coluna<br />

e facultativos ao longo da coluna). Conforme<br />

demonstrado na figura 1.


1.2.<br />

Figura 1 – Desenvolvimento de comunidade microbiana em coluna de Winogradsky, disponível em<br />

http://www.qb.fcen.uba.ar/microinmuno/SeminarioBiodiversidad.htm, consultado em 24/04/<strong>2011</strong>.<br />

Estratificação das sulfobactérias ao<br />

longo da coluna d’água<br />

Grant (1989) cita que a distribuição das<br />

bactérias oxidantes de enxofre, ao longo de uma<br />

coluna d’água, é relacionada com a concentração<br />

de sulfetos e oxigênio, bem como a disponibilidade<br />

de luz onde o sulfeto estará presente.<br />

Na superfície da coluna de água, desenvolvem-se<br />

microrganismos fotossintetizantes<br />

e autotróficos, através da fotossíntese oxigênica<br />

(a molécula de água é o doador de elétrons,<br />

tendo como subproduto da fotossíntese<br />

o O ). Também na superfície pode desenvolver<br />

2<br />

um biofilme constituído por bactérias aeróbias<br />

heterotróficas e uma mistura de metabólitos<br />

excretados ou sintetizado por elas, como por<br />

exemplo: lipídeos, proteínas e polissacarídeos.<br />

Numa zona logo abaixo, bactérias fotoheterotróficas,<br />

obtêm energia a partir da luz<br />

solar e usam ácidos orgânicos como fonte de<br />

carbono para a síntese celular. Esses microrganismos<br />

crescem em condições anaeróbias,<br />

no entanto, não suportam elevadas concentrações<br />

de H S. 2<br />

Na zona oxigenada, além das bactérias<br />

fotossintéticas, poderão encontrar-se bactérias<br />

oxidantes de enxofre, que são quimiolitotróficos<br />

(obtêm energia a partir da oxidação do H S e 2<br />

sintetizam a matéria orgânica a partir do CO ). 2<br />

No fundo da coluna, devido à presença da<br />

celulose, haverá um rápido consumo do oxigênio<br />

pelas bactérias heterotróficas, fazendo com<br />

que se tenha uma zona anaeróbica, desta forma,<br />

somente a superfície da coluna será oxigenada.<br />

Na lama depositada no fundo da coluna,<br />

ocorrerão os processos fermentativos, onde as<br />

substâncias geradas servirão de substrato para<br />

as bactérias redutoras de sulfato (BRS’s), favorecendo<br />

seu desenvolvimento. Essas bactérias,<br />

através de respiração anaeróbia, reduzem<br />

os íons sulfatos a sulfetos.<br />

Os sulfetos gerados pelas BRS’s servirão<br />

de substrato para bactérias anaeróbias fototróficas<br />

(BAF’s), sulfobactérias de coloração<br />

verde e púrpura, que se desenvolverão de uma<br />

forma estratificada ao longo da coluna, de<br />

acordo com a gradiente de sulfeto. As BAF’s<br />

obtêm energia a partir da fotossíntese anoxigênica<br />

(processo metabólico no qual as bactérias<br />

utilizam a luz para produzir ATP e produzem<br />

NADPH a partir da oxidação de H S, que age<br />

2<br />

como doador de elétrons, resultando na produção<br />

de enxofre elementar). O enxofre elementar<br />

produzido através da fotossíntese anoxigênica,<br />

precipita-se no sedimento no fundo da<br />

coluna, retornando à coluna d’água pela ação<br />

metabólica das BRS’s. A Tabela 1 mostra os<br />

principais grupos bacterianos que possuem um<br />

papel principal na oxidação do enxofre.<br />

23<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

Tabela 1 – Relação dos Principais Grupos de Bactérias Oxidantes<br />

de Enxofre Encontradas na Coluna de Winogradsky<br />

GRUPO GÊNERO CARACTERÍSTICAS<br />

Gram negativa Beggiatoa<br />

Gram negativa Thiobacillus<br />

Gram negativa Chromatium<br />

Gram negativa Chlorobium<br />

Gram positiva Clostridium<br />

Gram negativa Desulfovibrio<br />

1.3.<br />

Metais pesados<br />

O termo metais pesados refere-se aos elementos<br />

e suas formas iônicas que pertencem<br />

ao grupo de transição e não transição da tabela<br />

periódica com densidade maior que 5 g.cm-3 ou que possuem número atômico maior a 20.<br />

Incluem nessa classificação os metais, semimetais<br />

e até não metais, como o Selênio. Esses<br />

elementos possuem a capacidade de acumularem<br />

nos tecidos vivos, pois os seres vivos não<br />

possuem a capacidade de excretá-los. Além<br />

do fato mencionado, esses metais ligam-se as<br />

enzimas, provocando sua inativação ou mesmo<br />

aumentando a atividade de algumas, resultando<br />

em alterações na sua função catalítica.<br />

Com isso, esse elemento vai se acumulando<br />

ao longo da cadeia alimentar numa proporção<br />

crescente e o consumidor do topo da cadeia<br />

terá sempre uma concentração maior de metal<br />

acumulado que indivíduos produtores.<br />

Bactéria deslizante longa e filamentosa, não frutificante, quimiolitotrófica,<br />

não fotossintética e aeróbica. Assemelha-se morfologicamente às<br />

cianobactérias, porém não é fotossintética. Utiliza a oxidação do H S 2<br />

como fonte de energia, acumulando grânulos de enxofre no interior<br />

de seu citoplasma, e utiliza o CO como fonte de carbono. Bactéria<br />

2<br />

deslizante oxidante de enxofre.<br />

Bacilo quimiolitotrófico, não fotossintética e aeróbica. Obtêm<br />

energia pela oxidação do sulfeto de hidrogênio ou enxofre elementar,<br />

produzindo sulfato, e utiliza o CO como fonte de carbono. Bactéria<br />

2<br />

incolor oxidante do enxofre.<br />

Coco ou bacilo, fotoautotrófica púrpura sulfurosa e anaeróbica. Possui<br />

depósitos internos de enxofre. Obtêm energia por meio de reações<br />

fotoquímicas e produz seus materiais celulares a partir do CO . Sua 2<br />

fotossíntese difere da fotossíntese das plantas por não gerar o oxigênio<br />

durante o processo. (fotossíntese anoxigênica). Bactéria púrpura do<br />

enxofre.<br />

Bacilo curvado, sem motilidade, fotoautotrófica púrpura sulfurosa e<br />

anaeróbica. Obtêm energia por meio de reações fotoquímicas e produz<br />

seus materiais celulares a partir do CO 2 . Sua fotossíntese difere da<br />

fotossíntese das plantas por não gerar o oxigênio durante o processo.<br />

(fotossíntese anoxigênica). Bactéria verde do enxofre<br />

Bacilo, quimioheterotrófico, anaeróbico estrito, formador de endoesporo.<br />

Os produtos de seu metabolismo fermentativo são utilizados como<br />

substrato por outros grupos microbianos. Bacilo gram positivo formador<br />

de endoesporo.<br />

Vibrião. Anaeróbica obrigatória, utiliza as formas oxidadas do enxofre,<br />

2– 0 tais como sulfatos (SO ) ou enxofre elementar (S ) como aceptor final<br />

4<br />

de elétron. O produto desta reação é o sulfeto de hidrogênio. Bactéria<br />

dissimilatória redutora do sulfato ou enxofre.<br />

Adaptado de Rogan (2000).<br />

Azevedo (2005) descreve que alguns metais<br />

como o cobre, ferro, manganês, níquel e zinco<br />

são essenciais para o desenvolvimento de todos<br />

os organismos vivos, porém, em pequena quantidade,<br />

em grande quantidade são tóxicos. Metais<br />

como o alumínio, cádmio, chumbo e mercúrio<br />

não possuem funções metabólicas e podem causar<br />

várias disfunções nos seres vivos. A contaminação<br />

ambiental por metais pesados ocorre, principalmente,<br />

por via antrópica, ou seja, através de<br />

resíduos industriais descartados sem tratamento.<br />

2.<br />

Objetivos<br />

2.1.<br />

Objetivos gerais:<br />

O presente trabalho teve como objetivo<br />

a montagem de colunas de Winogradsky, utilizando<br />

as amostras de sedimento e de água<br />

coletadas em um manancial e contaminandoas<br />

com metais pesados.


2.2.<br />

Objetivos específicos:<br />

Observar o desenvolvimento das sulfo-<br />

bactérias em ambientes contaminados com<br />

metais pesados, de forma que possa ser avaliada<br />

a alteração da diversidade da microbiota<br />

presente na coluna de Winogradsky.<br />

Verificar se os efeitos da contaminação por<br />

metais pesados nas colunas de Winogradsky<br />

podem ser observados sem a utilização de instrumentos<br />

ópticos, de forma que possa ser utilizada<br />

como demonstração didática em aulas<br />

práticas de Microbiologia Aplicada.<br />

3.<br />

Materiais e Métodos<br />

O projeto foi desenvolvido nos laboratórios<br />

multidisciplinares do Centro Universitário<br />

2.<br />

de Volta Redonda, <strong>UniFOA</strong>, e seguindo as seguintes<br />

etapas:<br />

1.<br />

Escolha do local que fornecerá o sedimento<br />

e água para a montagem da coluna:<br />

A amostra de sedimento e água para a<br />

confecção da coluna foi retirado no córrego<br />

Secades, bairro Conforto na cidade de Volta<br />

Redonda/RJ, localizada a 22°31'17,20” de latitude<br />

sul e 44°07’00,41” de longitude oeste.<br />

No momento da coleta, foi medido o pH do<br />

córrego, conforme o “Standard Methods for<br />

the Examination of Water and Wastewater” -<br />

APHA (1998), de forma tal que se preparasse<br />

uma solução tampão que representasse o pH<br />

original do manancial, que neste caso foi 6,95.<br />

Figuras 2 (A e B).<br />

A – ponto de coleta da amostra B – Medição do pH do córrego<br />

Confecção das colunas de winogradsky<br />

com o material coletado:<br />

A confecção das colunas de winogradsky<br />

seguiram as etapas, modificadas de Rogan<br />

(2000):<br />

a. Misturar 100 g do sedimento fresco com a<br />

fonte de carbono orgânico (5 g de carboximetilcelulose<br />

- CMC), e a fonte de carbono<br />

inorgânico (2 g CaCO ). Como fonte<br />

3<br />

de enxofre, 2 g de CaSO . Essa mistura foi<br />

4<br />

transferida para o interior da proveta, com<br />

o auxílio de uma espátula. Figura 3A.<br />

Figura 2 – Coleta do lodo para confecção da coluna<br />

b. Adicionado 1 litro da água coletada no ma-<br />

nancial (preservada em geladeira a 5ºC) cuidadosamente,<br />

de forma que houvesse o mínimo<br />

de perturbação na superfície do substrato.<br />

c. Ajustado o pH da solução com solução<br />

tampão de Mcllvaine (fosfato dissódicoácido<br />

cítrico), pH 7,0 confeccionado segundo<br />

Morita (1993).<br />

d. guardado um período de 24 horas para que<br />

os microrganismos presentes na água e remanescentes<br />

no lodo se restabeleçam e o<br />

sedimento decante. Figura 3.<br />

25<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

e.<br />

A – Colunas com o substrato para o desenvolvimento microbiano B – Colunas aguardando decantação<br />

Identificada as colunas e feita a adição dos<br />

metais pesados, tendo como referência a<br />

portaria do Ministério do Meio Ambiente,<br />

CONAMA 357 de 2005, tendo como base<br />

o limite máximo de lançamento do metal<br />

como efluente. O valor adicionado à coluna<br />

foi uma concentração dez vezes (10x)<br />

Coluna Elemento<br />

Figura 3 – Preparação das colunas<br />

a concentração máxima estabelecida na<br />

portaria. A concentração adicionada e o<br />

valor de referência encontram-se listados<br />

na Tabela 1, e deixando uma coluna como<br />

teste em branco, que será a referência do<br />

desenvolvimento microbiano no ambiente<br />

sem contaminação. Figura 4.<br />

Tabela 1 – Forma de Adição do Contaminante nas Colunas de Winogradsky<br />

Limite Máximo<br />

Conama 357<br />

Concentração a<br />

ser Adicionada à<br />

Coluna<br />

Forma de Adição<br />

Quantidade<br />

Adicionada à<br />

Coluna<br />

1 - - - - -<br />

2 Hg 0,01 mg.L -1 0,10 mg.L -1 HgCl 2 0,23 mg<br />

3 Pb 0,50 mg.L -1 5,00 mg.L -1 (CH 3 COO) 2 Pb.3H 2 O 9,15 mg<br />

4 Cd 0,20 mg.L -1 2,00 mg.L -1 CdSO 4 .8/3H 2 O 4,56 mg<br />

5 Cr 6+ 0,50 mg.L -1 5,00 mg.L -1 K 2 CrO 4 18,67 mg<br />

Os elementos contaminantes foram adi-<br />

cionados às colunas através da diluição dos<br />

respectivos sais em balões volumétricos e<br />

transferência utilizando pipetas volumétricas.<br />

A – Adição do metal pesado e ajuste do pH B – Colunas com metal pesado adicionado:<br />

Figura 4 – Adição dos Contaminantes<br />

1- branco; 2 - Hg; 3 - Pb; 4 - Cd; 5 – Cr 6+


3.<br />

Desenvolvimento das colônias microbianas<br />

Foi monitorado o desenvolvimento das<br />

colônias por um período de 60 dias e registra-<br />

4.<br />

do as alterações ocorridas nas cinco colunas, e<br />

comparando com a coluna que não recebeu a<br />

contaminação (branco). Figura 5.<br />

A – Colunas após 30 dias de inoculação dos metais pesados: B – Colunas após 60 dias de inoculação dos metais pesados:<br />

1- branco; 2 - Hg; 3 - Pb; 4 - Cd; 5 – Cr 6+<br />

Resultados e discussão<br />

Figura 5 – Desenvolvimento microbiano nas colunas de Winogradsky<br />

Observou-se que nas colunas contamina-<br />

das com mercúrio e cromo VI, as bactérias que<br />

habitam o sedimento e a zona anaeróbia tiveram<br />

o desenvolvimento retardado em relação<br />

à coluna sem contaminação. Na coluna contaminada<br />

com chumbo, houve inibição de bactérias<br />

fotossintetizantes oxigênicas, evidenciado<br />

pelo desenvolvimento de bactérias sulforredutoras,<br />

devido à coloração negra formada ao<br />

longo da coluna, decorrente da precipitação de<br />

sulfetos metálicos, principalmente do sulfeto<br />

de ferro (FeS). A coluna contaminada com<br />

cádmio não apresentou alterações visíveis no<br />

desenvolvimento das colônias microbianas,<br />

quando comparado com a coluna sem contaminação,<br />

sugerindo que a concentração de cádmio<br />

adicionada não causou tanto impacto nos<br />

microrganismos presentes na coluna.<br />

Nas primeiras semanas já se pode observar<br />

a estratificação das comunidades microbianas<br />

ao longo da coluna, de acordo com as<br />

condições ambientais que elas se encontravam,<br />

sendo que a coluna que apresentava contaminação<br />

com cromo foi a que mais demorou para<br />

o desenvolvimento das sulfobactérias.<br />

5.<br />

Conclusões<br />

Através das colunas de Winogradsky foi<br />

possível demonstrar a interdependência da diversidade<br />

microbiana presente num ecossistema<br />

e que a presença de determinados metais<br />

pesados na água afeta a sobrevivência e desenvolvimento<br />

desta comunidade.<br />

A presença do metal pesado simulado na<br />

coluna contaminada causou uma perda de diversidade<br />

microbiológica, principalmente na<br />

coluna contaminada com o cromo, que apresentou<br />

uma considerável diminuição na produção<br />

de biomassa bacteriana, em comparação<br />

às outras colunas, o que leva a considerar<br />

o desequilíbrio ambiental que este elemento<br />

pode causar num corpo d’água, afetando principalmente<br />

as cadeias alimentares, pois impacta<br />

diretamente na base da cadeia.<br />

A coluna de Winogradsky se mostra como<br />

um eficiente instrumento didático a ser adotado<br />

numa aula de microbiologia para um curso<br />

de engenharia ambiental, pois nele é possível<br />

formular infinitas variações de contaminantes<br />

onde se pode verificar virtualmente qualquer<br />

processo de desenvolvimento ou inibição de<br />

comunidades microbianas.<br />

27<br />

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6.<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

Referências Bibliográficas<br />

APHA – AMERICAN PUBLIC HEALTH<br />

ASSOCIATION. Standard methods for<br />

examination of water and wastewater.<br />

20 ed. Washington D.C., 1998, 13<strong>16</strong>p.<br />

AZEVEDO, Ricardo A. and LEA, Peter<br />

J.. Preface: Toxic metals in plants. Braz.<br />

J. Plant Physiol. [online]. 2005, vol.17,<br />

n.1, pp. 1-1. ISSN <strong>16</strong>77-0420.<br />

CONSELHO NACIONAL DO<br />

MEIO AMBIENTE - CONAMA.<br />

2005. Resolução Conama <strong>nº</strong><br />

357. Disponível em:< www.mma.<br />

conama.gov.br/conama> Acesso em<br />

24/04/<strong>2011</strong>.<br />

FACULTAT DE CIÊNCIAS EXACTAS<br />

Y NATURALES – UBAEXACTAS<br />

(Argentina). Departamento de Química<br />

Biológica. Disponível em .<br />

em 24/04/<strong>2011</strong>.<br />

Acesso<br />

GRANT, W.D. y LONG, P.E.<br />

Microbiologia Ambiental. Zaragoza,<br />

Espanha: Acribia, 1989.<br />

6. MORITA,<br />

T; ASSUMPÇÃO, R.M.V.<br />

Manual de Soluções, Reagentes e<br />

Solventes. Padronização, Preparação,<br />

Purificação. 2ªed - São Paulo, Brasil:<br />

Edgard Blucher, 1993.<br />

7. ROGAN, Brian. The Woodrow Wilson<br />

Foundation Leadership Program<br />

for Teachers. Disponível em: . Acesso em 24/04/<strong>2011</strong>.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

Anderson Gomes<br />

anderson.gomes@foa.org.br<br />

Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, <strong>nº</strong> 1325<br />

Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />

CEP: 27.240-560<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: GOMES, Anderson;<br />

OSÓRIO, Lara dos Santos. Utilização da Coluna de Winogradsky para a Demonstração do Efeito dos Metais Pesados na Microbiota Oxidante de Enxofre em Ambientes Aquáticos:<br />

Uma Abordagem Experimental. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:


Influência do tolueno na modificação química das fibras de bagaço de cana-de-açúcar<br />

Influence of the toluene in chemical modification of the sugarcane bagasse fibers<br />

Tatiana Faria Maia 1<br />

Daniella Regina Mulinari 2<br />

Palavras-chave:<br />

Fibras de Bagaço de<br />

Cana-de-açúcar<br />

Esterificação<br />

Espectroscopia de<br />

Infravermelho<br />

Abstract<br />

Resumo<br />

Nesta pesquisa foi estudada a influência do tolueno na modificação química<br />

das fibras de bagaço de cana-de-açúcar por esterificação por meio de<br />

sistema anidrido para uso em compósitos. Também foi avaliada a quantidade<br />

de catalisador na reação de esterificação. A modificação química das<br />

fibras provenientes do bagaço de cana de açúcar foi avaliada pela técnica<br />

de Espectroscopia de Infravermelho (FTIR). Os resultados revelaram<br />

que o tolueno influenciou na modificação química realizada nas fibras. A<br />

técnica de FTIR evidenciou esta modificação química.<br />

In this research was studied the effect of toluene the chemical modification<br />

of the sugarcane bagasse fibers by estherification through anhydride<br />

system for use in composites. Also it was evaluated amount cataliser in<br />

estherification reaction. Chemical modification of the sugarcane bagasse<br />

fibers was evaluated by infrared spectroscopy technique (FTIR). The results<br />

revealed the influence toluene in the chemical modification released in the<br />

fibers. FTIR technique showed this chemical modification.<br />

1 Discente do Curso de Ciências Biológicas - 8º período - Centro Universitário de Volta Redonda- <strong>UniFOA</strong><br />

2 Docente do Mestrado Profissional em Materias- MEMAT - Centro Universitário de Volta Redonda- <strong>UniFOA</strong><br />

Key Words:<br />

Sugarcane Bagasse<br />

Fibers<br />

Estherification<br />

Infrared<br />

Spectroscopy<br />

29<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

04/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

Nos últimos anos, tem surgido um grande<br />

interesse no desenvolvimento de tecnologias<br />

verdes que possibilitem a utilização de produtos<br />

de menor impacto ambiental. A química<br />

verde, como um todo, implica no desenvolvimento<br />

de processos químicos e produtos que<br />

levem a um ambiente mais limpo, saudável e<br />

sustentável (SILVA et al., 2009).<br />

E dentro desse contexto de sustentabilidade,<br />

as fibras naturais surgem como uma<br />

possível solução para alguns problemas ambientais<br />

(BORDES et al.,2009; MARINELLI<br />

et al., 2008). As fibras naturais são produzidas<br />

em praticamente todos os países, algumas fibras<br />

ocorrem espontaneamente na natureza,<br />

outras são cultivadas como atividade agrícola<br />

e ainda há aquelas que são resíduos gerados,<br />

principalmente, pela agroindústria, como é o<br />

caso do bagaço de cana-de-açúcar.<br />

O bagaço de cana-de-açúcar é um dos<br />

principais materiais lignocelulósicos utilizados<br />

para a bioconversão em etanol, já que este<br />

material apresenta alta concentração de carboidratos,<br />

baixo conteúdo relativo de lignina, fácil<br />

utilização, baixo custo de colheita, transporte e<br />

armazenagem (GOUVEA et al., 2009).<br />

O interesse na utilização desses materiais<br />

lignocelulósicos tem crescido devido à inserção<br />

dessas fibras naturais como reforço em<br />

matrizes poliméricas (HABIBI et al., 2008;<br />

LUZ, 2008; MULINARI, 2009). Além disso,<br />

essas fibras possuem baixo custo, são biodegradáveis,<br />

não são tóxicas, podem ser incineradas<br />

e possuem uma elevada abundância<br />

quando comparadas às fibras de vidro e de<br />

carbono (ALEXANDRE et al., 2010; LEÃO,<br />

2008; MARCON et al., 2009; RAMIRES et<br />

al., 2010; ZAH et al., 2007).<br />

No entanto, a compatibilidade entre um<br />

material lignocelulósico e uma matriz polimérica<br />

possui um papel determinante nas propriedades<br />

mecânicas e físicas dos materiais compósitos,<br />

pois é por meio da interface que ocorre<br />

a transferência da carga da matriz para a fibra<br />

(JOHN e ANANDJIWAL, 2009; LI et al., 2008;<br />

MULINARI et al., 2010; SANCHEZ et al.,<br />

2010). Dessa forma, para melhorar a interação<br />

fibra/matriz, tem sido realizados vários tratamentos<br />

químicos (BECKERMANN & PICKERING,<br />

2009; BERTOTI et al., 2009; XU et al., 2008).<br />

Dentre os diversos tratamentos químicos<br />

realizados nas fibras naturais destacam-se<br />

a reação de esterificação, devido à queda de<br />

hidrofilicidade que este proporciona às fibras<br />

(PASQUINI et al., 2008).<br />

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho<br />

foi analisar a influência do tolueno na modificação<br />

química das fibras provenientes do bagaço<br />

de cana-de-açúcar por esterificação por meio de<br />

sistema anidrido, enfatizando a natureza ecológica<br />

das matérias-primas e contribuindo com a<br />

criação de um material que possui propriedades<br />

satisfatórias para o uso industrial.<br />

2.<br />

Materiais e Metódos<br />

2.1.<br />

Obtenção das Fibras de Bagaço de Cana<br />

As fibras provenientes de bagaço de canade-açúcar<br />

foram gentilmente fornecidas pela<br />

Edras Ecossistemas, localizada em Cosmópolis<br />

– SP. Primeiramente, as fibras foram cortadas<br />

em tamanhos de aproximadamente 5 cm e moídas<br />

em um moinho de facas, em seguida, foram<br />

peneiradas em uma peneira de 25 mesh.<br />

2.2.<br />

Modificação Química das Fibras<br />

A modificação química nas fibras provenientes<br />

de bagaço de cana-de-açúcar foi realizada<br />

por meio de sistema anidrido. O objetivo<br />

dessa esterificação foi diminuir a polaridade<br />

das fibras, tornando-as mais compatíveis com<br />

a matriz apolar.<br />

Inicialmente, 10 g de fibras de bagaço de<br />

cana in natura foram colocadas em um erlenmeyer<br />

de 500 mL, contendo 240 mL de Tolueno<br />

P.A., 80 mL de Anidrido Acético P.A., 80 mL<br />

de Ácido Acético P.A. e 0,5 mL de Ácido<br />

Perclórico P.A. como catalisador. O sistema foi<br />

mantido sob agitação mecânica por cinco horas.<br />

Após essa etapa, o material resultante proveniente<br />

da modificação com anidrido acético foi<br />

lavado com água destilada até que o resíduo da<br />

filtragem atingisse pH neutro, a fim de remover<br />

substâncias solúveis e secas, em uma estufa a<br />

105 ºC por aproximadamente 24 horas.<br />

O mesmo procedimento foi repetido, mas sem<br />

a adição do Tolueno. Também foi estudada a influência<br />

da quantidade de catalisador na reação, em<br />

que se analisou a quantidade de 0,5 mL e 4 mL.


A Figura 1 evidencia o esquema da reação de esterificação realizada nessa modificação química.<br />

2.3.<br />

Análise das fibras após a modificação<br />

Com o propósito de avaliar a modificação<br />

química realizada nas fibras e identificar as vi-<br />

brações e estiramentos das ligações efetivas<br />

dos materiais, foi feita uma análise de espectroscopia<br />

de infravermelho nas fibras in natura<br />

e modificadas com a presença e a ausência do<br />

tolueno. Uma mistura de KBr (300 mg) e cerca<br />

de 1,5 mg de amostra foi macerada em gral e<br />

pistilo de ágata. As pastilhas foram obtidas no<br />

pastilhador, utilizando uma pressão de 10 kgf.<br />

cm-2, sob vácuo durante 5 min, em seguida, foi<br />

efetuada a varredura numa faixa espectral de<br />

4000 a 400 cm-1 com 64 scans.<br />

As análises foram realizadas um espectrofotômetro<br />

Spectrun GX Perkin Elmer, dis-<br />

Figura 1. Esquema da reação de esterificação.<br />

ponível no Departamento de Bioquímica da<br />

Escola de Engenharia de Lorena/USP.<br />

3.<br />

Resultados e Discussão<br />

A presença do tolueno na modificação<br />

química das fibras provenientes do bagaço<br />

de cana-de-açúcar influenciou diretamente<br />

na reação de esterificação, quando foi observado<br />

que a presença do tolueno protegeu<br />

a fibra durante a reação química, de forma<br />

que a fibra não perdesse o aspecto fibroso.<br />

No entanto, ao remover o tolueno da reação,<br />

as fibras perderam o aspecto fibroso,<br />

tornando-se porosa, como pode ser observado<br />

na Figura 2.<br />

(a) 0,5 mL Ac. Perclórico com Tolueno (b) 4 mL Ac. Perclórico com Tolueno<br />

(c) 0,5 mL Ac. Perclórico sem Tolueno (d) 4 mL Ac. Perclórico sem Tolueno<br />

Figura 2. Aspecto visual das fibras.<br />

31<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

Oliveira (2009) estudou- juntamente ao<br />

grupo de pesquisa do Instituto de Materiais<br />

Poliméricos e Tecnologia de Polímeros, da<br />

Universidade Tecnológica de Clausthal,<br />

Alemanha- a modificação química das fibras de<br />

linho por esterificação por meio de sistema anidrido<br />

e observou comportamento semelhante.<br />

Tita e colaboradores (2002) também<br />

estudaram a modificação química das fibras<br />

provenientes do bagaço de cana-de-açúcar por<br />

meio de sistema succínico e observou comportamento<br />

semelhante. Segundo Tita e colaboradores<br />

(2002), durante a reação de esterificação,<br />

ocorre a abertura do anel succínico originando<br />

um grupo –COOH, o qual pode interagir via<br />

ligações de hidrogênio com outro grupo –OH<br />

da celulose da fibra. A Figura 3 evidencia essa<br />

reação claramente.<br />

Figura 3. Representação esquemática da modificação química das fibras de bagaço de cana com anidrido succínico (TITA et AL., 2002).<br />

Outro fator analisado durante a modifica-<br />

ção química foi à influência do catalisador na<br />

reação, a qual pode ser confirmada pela técnica<br />

de espectroscopia de infravermelho.<br />

As Figuras 4 a 6 evidenciam os espectros<br />

obtidos das fibras modificadas com a presença<br />

e a ausência do tolueno, em diferentes quantidades<br />

de catalisador.<br />

Figura 4. Espectros na região do infravermelho (500 – 4000 cm -1 ) das fibras de bagaço de cana-de-açúcar in natura.<br />

Figura 5. Espectros na região do infravermelho (500 – 4000 cm -1 ) das fibras de bagaço de cana-de-açúcar na presença de tolueno.


Figura 6. Espectros na região do infravermelho (500 – 4000 cm -1 ) das fibras de bagaço de cana-de-açúcar na ausência de tolueno.<br />

Como as fibras de bagaço de cana in na-<br />

tura foram submetidas à modificação química,<br />

os espectros de FTIR fornecem evidências de<br />

que houve uma mudança nos grupos hidroxila<br />

das fibras de bagaço de cana in natura e modificada.<br />

A análise comparativa dos espectros de<br />

FTIR das fibras mostra características relevantes,<br />

quanto à modificação, tais como: diminuição<br />

das absorções na região de 3300 cm-1 , referente<br />

ao estiramento da hidroxila (O-H) e na<br />

região de 2885 cm-1 , referente ao estiramento<br />

simétrico da ligação C-H presente em polissa-<br />

carídeos; e diminuição da absorção na região<br />

de 1732 cm-1 , referente ao estiramento da ligação<br />

C=O presentes em xilanas.<br />

Matuana e colaboradores (2001) observaram<br />

resultados semelhantes ao estudarem<br />

a modificação química das fibras de celulose<br />

provenientes da madeira, por meio de sistema<br />

anidrido ftálico.<br />

As principais bandas observadas nos espectros<br />

de FTIR das fibras de provenientes do<br />

bagaço de cana-de-açúcar, em geral, são sumarizadas<br />

na Tabela 1, em concordância com<br />

a literatura (COLOM et al., 2003).<br />

Tabela 1. Principais vibrações na região do FTIR observados nas fibras provenientes do bagaço de cana 24 .<br />

Número de onda (cm -1 ) Vibrações Fonte<br />

3300 O-H deformação axial Polissacarídeos<br />

2885 C-H estiramento simétrico Polissacarídeos<br />

1732 C=O estiramento Xilanas<br />

1<strong>16</strong>2 C-O-C estiramento assimétrico Celulose<br />

Analisando-se a influência do tolueno na<br />

modificação química das fibras, foi observado<br />

que a ausência do tolueno na reação causou um<br />

aumento das absorções na região de 3300 cm-1 ,<br />

referente ao estiramento da hidroxila (O-H); da<br />

absorção na região de 1732 cm-1 , referente ao estiramento<br />

da ligação C=O presentes em xilanas<br />

e da absorção na região de 1<strong>16</strong>2 cm-1 , referente<br />

ao estiramento assimétrico da ligação C-O-C.<br />

A quantidade de catalisador também influenciou<br />

nessa análise, pois se notou que o<br />

aumento do catalisador na reação causou uma<br />

mudança nas bandas observadas anteriormente,<br />

fazendo com que as mesmas aumentassem<br />

suas absorções.<br />

Dessa forma, pode-se afirmar que a presença<br />

do catalisador e do tolueno nessa reação<br />

de esterificação, por meio de sistema anidrido,<br />

influenciou diretamente na modificação<br />

química das fibras provenientes do bagaço de<br />

cana-de-açúcar, mas, que a presença do tolueno<br />

causou uma menor hidrofilicidade da fibra.<br />

4.<br />

Conclusões<br />

Com base nos resultados obtidos, foi<br />

possível concluir que o tolueno influenciou na<br />

modificação química realizada nas fibras provenientes<br />

do bagaço de cana-de-açúcar por es-<br />

33<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

terificação. A técnica de espectroscopia de infravermelho<br />

confirmou esse dado, bem como<br />

deixou evidente que a presença do tolueno na<br />

reação de esterificação causa uma menor hidrofilicidade<br />

nas fibras.<br />

A quantidade de catalisador também influenciou<br />

diretamente na modificação química<br />

das fibras.<br />

5.<br />

Agradecimentos<br />

Os autores agradecem a FAPERJ no processo<br />

102.335/2010 pelo apoio financeiro.<br />

6.<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

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Endereço para Correspondência:<br />

Daniella Regina Mulinari<br />

daniella.mulinari@foa.org.br<br />

Departamento do Curso de Ciências Biológicas - <strong>UniFOA</strong><br />

Centro Universitário de Volta Redonda<br />

Departamento de Engenharia - <strong>UniFOA</strong><br />

Av. Paulo Erley Abrantes, 1325<br />

Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />

CEP: 27.240-560<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: MAIA, Tatiana<br />

Faria; MULINARI, Daniella Regina. Influência do tolueno na modificação química das fibras de bagaço de cana-de-açúcar. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto<br />

<strong>2011</strong>. Disponível em: <br />

35<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


Estudo Técnico, Econômico e Ambiental da geração de energia através do<br />

biogás de lixo - o caso do aterro sanitário de Gramacho<br />

Technical, economical and enviromental study of energy production through<br />

biogas from waste - the case of Gramacho’s landfill<br />

Fábio Viana de Abreu 1<br />

Mila Rosendal Avelino 2<br />

Diego Preza Monâco 3<br />

Palavras-chave:<br />

Biogás<br />

Aterros Sanitários<br />

Mecanismo de<br />

Desenvolvimento<br />

Limpo (MDL)<br />

Energia elétrica<br />

Abstract<br />

1 M.Sc. e Petrobras .<br />

2 D.Sc. e Professora Adjunta da UERJ<br />

Resumo<br />

3 Mestrando em Engenharia Mecânica UERJ<br />

A geração de energia através do biogás do lixo em aterros sanitários é uma alternativa<br />

para produção energia elétrica limpa, visando à redução dos impactos<br />

ambientais globais gerados pela queima dos resíduos sólidos urbanos. Neste<br />

trabalho, são definidas as condições operacionais do biogás, além do estudo e<br />

análise das áreas mais adequadas para o projeto e a vazão mínima de biogás,<br />

em m³/h, para viabilizar o mesmo. A contribuição ambiental mais relevante é a<br />

redução de emissões dos gases de efeito estufa (GEE), por meio da conversão<br />

do metano gerado em dióxido de carbono. De acordo com o Mecanismo de<br />

Desenvolvimento Limpo (MDL), os países denominados desenvolvidos podem<br />

comprar créditos de carbono dos países em desenvolvimento (que possuam projetos<br />

verdes) para cumprir suas metas e objetivos ambientais. Essa alternativa<br />

de obtenção de receitas é uma linha de pesquisa deste estudo. São analisadas as<br />

tecnologias de conversão energética, com o estudo da melhor alternativa para<br />

a conversão energética do biogás de aterros sanitários. São realizados estudos<br />

comparativos, análises de sensibilidades e os resultados demonstraram que os<br />

grupos geradores, com o uso de motores a combustão interna (ciclos Otto ou<br />

Diesel), são mais viáveis no viés técnico e econômico para conversão energética<br />

do biogás de aterros sanitários no Brasil através de Termoelétricas a biogás.<br />

The generation of energy through biogas from waste in landfill is a way to<br />

produce clean electric energy, searching to reduce the global impacts generated<br />

by the burning of the urban solid wastes (USW). In this paper the operational<br />

conditions of biogas are defined, and the study and analysis of the appropriated<br />

areas to the project and the minimum flow of biogas in m³/h, to enable this<br />

project. The most significant environmental contribution is the reduction of<br />

the emissions of greenhouse gases (GEE) by the conversion of the methane in<br />

carbon dioxide. In accordance to the Clean Development Mechanism (CDM),<br />

the developed countries can acquire carbon credits from the in development<br />

countries (the ones that possess green projects) in order to reach their goals and<br />

environmental aims. The alternative of obtaining incomes is the research line<br />

in this study. The technologies of energy conversion are analyzed altogether<br />

with the study of the best alternative to the energetic conversion of biogas in the<br />

landfill. Comparative studies and sensitivity analysis are done and the results<br />

showed that the generating groups, using motor of internal combustion (cycles<br />

Otto or Diesel), are more able in a technical and economical part to the biogas<br />

energy conversion in the landfills in Brazil through biogas thermoelectric.<br />

Key words:<br />

Biogas<br />

Landfill<br />

Urban Solid Waste<br />

Clean Development<br />

Mechanism (CDM)<br />

Eletrical Energy<br />

37<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

04/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


38<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

A geração de desperdício e excessos no<br />

Brasil são reflexos da adoção de um desenvolvimento<br />

com a característica de alto padrão<br />

consumista. Por isso, a busca de soluções<br />

adequadas para a disposição final dos resíduos<br />

sólidos de forma integrada, da sua origem até<br />

a disposição final, é essencial para o desenvolvimento<br />

sustentável [Abreu, 2009].<br />

A gestão adequada do lixo e a geração de<br />

energia através do biogás de lixo em aterros sanitários<br />

são soluções ambientalmente sustentáveis<br />

(gerando energia elétrica renovável e limpa).<br />

Além disso, o estudo da geração de energia<br />

elétrica a partir do biogás permite a redução de<br />

fugas dos gases de efeito estufa (GEE) e a maximização<br />

do índice de conversão do metano,<br />

contabilizado no cálculo para emissão de créditos<br />

de carbono dentro do mecanismo de desenvolvimento<br />

limpo (MDL) [Abreu, 2009].<br />

A negociação de créditos de carbono é a<br />

forma transacional do MDL [UNFCCC, 2007].<br />

Tais iniciativas induzem investimentos em projetos<br />

sustentáveis em que pode haver redução<br />

de emissões e/ou sequestro de carbono, assegurando<br />

um modelo de desenvolvimento limpo<br />

para os países emergentes, onde os custos<br />

de implementação de tais projetos são maiores<br />

[Cebds, 2001]. O Brasil, enquanto país signatário<br />

do Tratado de Kyoto, está habilitado a desenvolver<br />

projetos de redução dos GEE e emitir<br />

os créditos aos países industrializados que devam<br />

reduzir suas emissões até o ano 20<strong>12</strong>.<br />

O biogás gerado nos aterros sanitários é<br />

composto basicamente por metano (CH – de 4<br />

55 a 65%), dióxido de carbono (CO – de 30 a<br />

2<br />

40%), nitrogênio (N – de 0 a 1%), hidrogênio<br />

2<br />

(H – de 0 a 2%) e gás sulfídrico (H S - de 0 a<br />

2 2<br />

1%) [Polprasert, 1996]. Em um período de 100<br />

anos, 1 grama de metano contribui 21 vezes<br />

mais para a formação do efeito estufa do que<br />

1 grama de dióxido de carbono [UNFCCC,<br />

2007]. A combustão completa do metano produz<br />

dióxido de carbono e vapor d’água.<br />

A geração de biogás em um aterro sanitário<br />

é iniciada algumas semanas após o início do<br />

depósito dos resíduos e continua por 15 anos<br />

após seu encerramento. Uma tonelada de resíduo<br />

disposto em um aterro sanitário gera em<br />

média 200 Nm3 de biogás. Para comercializar<br />

o biogás, através da recuperação energética, o<br />

aterro sanitário deverá receber no mínimo 200<br />

toneladas/dia de resíduos, com capacidade mínima<br />

de recepção da ordem de 500.000 toneladas<br />

em sua vida útil e altura mínima de carregamento<br />

de 10 metros [World Bank, 2005].<br />

O aterro de Gramacho, situado na cidade<br />

de Duque de Caxias (RJ), foi escolhido como<br />

o estudo de caso. Originalmente, era um lixão<br />

que, a partir do início dos anos da década de<br />

1990, passou a receber alguns cuidados para<br />

minimizar a agressão que causava ao meio<br />

ambiente. O mais recente foi a conclusão da<br />

primeira fase da Estação de Tratamento de<br />

Efluentes Líquidos, que trata diariamente,<br />

segundo a Comlurb [Comlurb, 2009], 960<br />

metros cúbicos de chorume, que era uma das<br />

principais preocupações dos ambientalistas<br />

os quais temiam a contaminação da Baía de<br />

Guanabara. O próximo passo é a produção de<br />

energia através do biogás do lixo.<br />

Atualmente, a cidade do Rio de Janeiro<br />

tem a sua produção de 8 a 9,3 mil ton./dia de<br />

lixo. Considerando o valor de 263.370 toneladas/mês,<br />

pode-se concluir que a produção<br />

diária da cidade do Rio de Janeiro encontra-se<br />

em aproximadamente no valor de 8.779 toneladas/dia<br />

(Araruna, 2008).<br />

De acordo com Araruna (2008), “a coleta<br />

e a destinação de resíduos sólidos comprometem<br />

de 7% a 15% dos orçamentos municipais”.<br />

Como as prefeituras costumam gastar cerca de<br />

60% de seus recursos com folha de pagamento,<br />

o lixo muitas vezes lidera a lista de outras<br />

despesas. Com isso, destaca-se a importância<br />

de estudos técnicos e científicos que resultem<br />

em soluções e/ou alternativas para minimizar o<br />

problema dos resíduos sólidos urbanos.<br />

2.<br />

Materiais e Métodos<br />

O aterro de Gramacho é o estudo de caso<br />

escolhido, devido à sua importância para a cidade<br />

do Rio de Janeiro e seu entorno.<br />

Para a realização do EVTE, foram levantados<br />

os dados técnicos para estudo das alternativas<br />

de geração de eletricidade a partir de biogás,<br />

bem como a determinação do potencial de biogás<br />

a ser produzido e do potencial de eletricidade a<br />

ser gerado. Para isso, o modelo utilizado foi o recomendado<br />

pela Agência de Proteção Ambiental<br />

dos Estados Unidos (USEPA) [EPA, 2005].


A estimativa de produção de metano está<br />

expressa na Eq. (1):<br />

(1)<br />

O modelo da USEPA requer o conheci-<br />

mento do histórico da deposição dos resíduos<br />

(ou, no mínimo, da quantidade de lixo depositado<br />

e da data de abertura do aterro sanitário);<br />

usa uma função exponencial de degradação de<br />

primeira ordem, que presume que a geração de<br />

biogás alcance o ponto máximo após um intervalo<br />

de tempo que representa o período antes<br />

da geração de metano. O modelo da USEPA<br />

supõe um intervalo de um ano entre a deposição<br />

dos resíduos e a geração de biogás. Após<br />

um ano, o modelo prevê que a geração de biogás<br />

decresça exponencialmente à medida que<br />

é consumida a fração orgânica dos resíduos.<br />

Os dados de quantidade de lixo anual são<br />

inseridos e os parâmetros de velocidade de degradação<br />

(k = 0,060) e potencial de metano (L0 = 84,6) são adotados de acordo com as condições<br />

da região estudada. E para a realização da<br />

análise econômica utilizou-se os parâmetros<br />

Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna<br />

de Retorno (TIR).<br />

2.1.<br />

Valor Presente Líquido (VPL)<br />

É o somatório dos custos e das receitas<br />

líquidas do projeto (ou previstas) durante sua<br />

vida econômica, trazidos a data de atualização<br />

do fluxo de caixa, utilizando-se para isso a taxa<br />

de desconto apropriada: a taxa mínima de atratividade<br />

- TMA - do segmento de negócio. A<br />

fórmula do VPL é definida pela Eq. (2), como:<br />

(2)<br />

Onde:<br />

E Valor esperado;<br />

CF Valor genérico do fluxo de caixa liquido<br />

no período k (positivo se for beneficio,<br />

negativo se for custo);<br />

i Taxa de desconto: TMA;<br />

k Período no instante k do fluxo de caixa;<br />

j Posição do vetor no período (inicio= 0)<br />

2.2.<br />

Taxa Interna de Retorno (TIR)<br />

A taxa interna de retorno considera os desembolsos<br />

da empresa - valores negativos - para<br />

fazer um projeto como um “empréstimo” a ser<br />

“pago” posteriormente com os embolsos ou receitas<br />

- valores positivos - proporcionados pelo<br />

mesmo projeto. Com essa metodologia, a TIR é<br />

a taxa de retorno implícita no fluxo de caixa, que<br />

só depende da relação entre os valores positivos<br />

e negativos, a qual iguala esses desembolsos aos<br />

embolsos com isso tornando o VPL=0.<br />

A TIR é uma taxa média que considera<br />

toda a vida econômica do projeto e é expressa<br />

em termos anuais. Esta taxa é calculada obtendo-se<br />

as raízes da Eq. (3):<br />

2.3.<br />

Tributos<br />

(3)<br />

Para a elaboração do Estudo de<br />

Viabilidade Técnica e Econômica do projeto<br />

é essencial o estudo e análise dos tributos incidentes<br />

nas receitas provenientes da venda de<br />

energia elétrica produzida e créditos de carbono.<br />

De acordo com a Tab. (1) (MME, 2005),<br />

serão apresentados os tributos que serão incluídos<br />

no fluxo de caixa.<br />

Tabela 1: Tributos incidentes em projetos de energia<br />

Tributos<br />

Tributos Alíquota Incidência Competência<br />

1 COFINS 3,0% Receitura Bruta FEDERAL<br />

2 PIS 0,65% Receitura Bruta FEDERAL<br />

3 ICMS 0% Receitura Bruta ESTADUAL<br />

4 IR* 15 + 10% Lucro antes dos impostos FEDERAL<br />

5 CSLL 9% Lucro antes dos impostos FEDERAL<br />

IR* = 15% de até R$ 240.000/ano + 10% acima de R$ 240.000/ano<br />

Nota-se: COFINS: Contribuição Permanente sobre Movimentações Financeiras - PIS: Programa de Integração Social - ICMS:<br />

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços -IR: Imposto de Renda - CSLL: Contribuição Social sobre o Lucro.<br />

39<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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3.<br />

Resultados<br />

Com a aplicação da metodologia USEPA<br />

no aterro de Gramacho, sua recuperação de<br />

Figura 1: Recuperação projetada de biogás no Aterro Sanitário de Gramacho<br />

Na Tab. (2) é apresentado um sumário das taxas de recuperação de biogás e capacidade (Bruta)<br />

da Usina Termoelétrica (UTE).<br />

4.<br />

Ano Taxa de Recuperação de Biogás<br />

projetada (m 3 /h)<br />

biogás de lixo em 2009, foi de 30.000 m³/h.<br />

Após o fechamento do local, estima-se hoje<br />

que a recuperação do gás de lixo venha a se<br />

declinar rapidamente, conforme o Fig. (1).<br />

Capacidade Bruta da Usina de<br />

Motor de Combustão Interna (kW)<br />

20<strong>12</strong> 23.404 10.031<br />

2013 19.973 10.031<br />

2014 17.045 10.031<br />

2015 14.546 10.031<br />

20<strong>16</strong> <strong>12</strong>.414 10.031<br />

2017 10.594 10.031<br />

2018 9.041 7.<strong>16</strong>5<br />

2019 7.7<strong>16</strong> 7.<strong>16</strong>5<br />

2020 6.585 7.<strong>16</strong>5<br />

2021 5.619 4.299<br />

2022 4.796 4.299<br />

2023 4.093 4.299<br />

2024 3.493 4.299<br />

Tabela 2: Sumário das Taxas de Recuperação de Biogás e Capacidade (Bruta) da Usina Termoelétrica<br />

Discussão<br />

Das tecnologias convencionais para a<br />

conversão energética do biogás, destacam-se<br />

as turbinas a gás e os motores de combustão<br />

interna (ciclos Otto e Diesel). Para geração de<br />

energia a capacidades pequenas e médias, os<br />

motores a combustão interna são mais adequados<br />

devido ao seu menor custo e maior<br />

eficiência nesta faixa. Somente para altas capacidades,<br />

as turbinas a gás passam a ter economicidade,<br />

melhorada quando utilizadas em<br />

ciclos combinados. Os motores a combustão<br />

interna de ciclos Otto ou Diesel possuem maior<br />

eficiência na faixa de operação deste projeto.<br />

Motores de ciclo Diesel trabalham com taxas<br />

de compressão mais elevadas, sendo necessário<br />

operar nestes com o biogás misturado ao<br />

diesel ou biodiesel; o que representaria um insumo<br />

adicional para o Aterro Sanitário.<br />

A seguir, é apresentada na Tab. (3), a<br />

comparação da potência e rendimento para as<br />

tecnologias de conversão energética Motor a<br />

Combustão Interna e Turbinas.


Tabela 3: Tecnologias de Conversão<br />

Tecnologia de Conversão Potência Instalada Rendimento Elétrico<br />

Motores a Gás (Ciclo Otto) 30kW - 1MW 25% - 30%<br />

Motores a Gás (Ciclo Diesel) 40kW - 20MW 30% - 40%<br />

Tubina a Gás (Médio Porte) 500kW - 150MW 35 - 42%<br />

A Tab. (4) mostra um sumário dos re-<br />

sultados da avaliação econômica no cenário<br />

com tributos da UTE, apresentando o Valor<br />

Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de<br />

CER<br />

(US$ / ton. CO 2 eq )<br />

Retorno (TIR) do projeto, realizando uma análise<br />

de sensibilidade, utilizando valores diversos<br />

as receitas oriundas das taxas de créditos<br />

de carbono (CER).<br />

Tabela 4: Sumário da Avaliação Econômica com UTE e tributos<br />

Investimento inicial de 100% = 15.514.880<br />

TIR VPL<br />

TAXA DE VENDAS FORA<br />

DO LOCAL ($/KWh)<br />

10 14,71% $8.880.2<strong>12</strong> 0,045<br />

10 15,96% $11.476.556 0,055<br />

10 17,07% $14.072.901 0,065<br />

10 18,06% $<strong>16</strong>.669.246 0,075<br />

CER<br />

(US$ / ton. CO 2 eq )<br />

Investimento inicial de 25% = 3.878.720<br />

TIR VPL<br />

TAXA DE VENDAS FORA<br />

DO LOCAL ($/KWh)<br />

10 20,95% $10.<strong>12</strong>9.089 0,045<br />

10 22,56% $<strong>12</strong>.725.434 0,055<br />

10 23,96% $15.321.779 0,065<br />

10 25,22% $17.918.<strong>12</strong>3 0,075<br />

CER<br />

(US$ / ton. CO 2 eq )<br />

Investimento inicial de 100% = 15.514.880<br />

TIR VPL<br />

TAXA DE VENDAS FORA<br />

DO LOCAL ($/KWh)<br />

17 23,81% $27.232.359 0,045<br />

17 24,47% $29.828.704 0,055<br />

17 25,09% $32.425.049 0,065<br />

17 25,67% $35.021.393 0,075<br />

CER<br />

(US$ / ton. CO 2 eq )<br />

Investimento inicial de 25% = 3.878.720<br />

TIR VPL<br />

TAXA DE VENDAS FORA<br />

DO LOCAL ($/KWh)<br />

17 34,31% $28.481.237 0,045<br />

17 35,05% $31.077.582 0,055<br />

17 35,75% $33.673.926 0,065<br />

17 36,42% $36.270.271 0,075<br />

Com isso, cenários com os créditos de<br />

carbono a U.S. $10 ton. CO 2 eq. e o valor da<br />

energia elétrica no patamar de no mínimo U.S.<br />

$/kWh 0,045 o projeto também é viável, mesmo<br />

com a inclusão dos tributos.<br />

5.<br />

Conclusão<br />

O presente trabalho investigou as condições<br />

de produção e viabilidade técnica e econômica<br />

de biogás de lixo em aterros sanitários,<br />

41<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


42<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

com a escolha do aterro de Gramacho para o<br />

estudo. Com isso, foi proposta uma destinação<br />

final de RSU’s mais adequação, proporcionando<br />

a redução do chorume, dos odores<br />

e da poluição ambiental. Como consequência,<br />

elevou-se a vida útil do aterro sanitário e segurança<br />

ambiental local.<br />

A produção de energia através do biogás<br />

do lixo em aterros sanitários representa ganhos<br />

para a sociedade (geração de empregos e<br />

redução de subempregos), para as prefeituras<br />

(representam uma fonte extra de renda com a<br />

comercialização da energia gerada pelo biogás)<br />

e para o meio ambiente com a contenção<br />

de emissões de CH , redução do uso de com-<br />

4<br />

bustíveis fósseis, no caso de aproveitamento<br />

energético, redução de odores e vetores nos<br />

aterros devido a boas práticas de gerenciamento,<br />

dentre outras (Abreu, 2009).<br />

Para a cidade do Rio de Janeiro, onde os<br />

resíduos sólidos urbanos representam uma despesa<br />

de cerca de 6% a 8% do orçamento público<br />

anual, uma Usina a Biogás seria uma oportunidade<br />

de transformar um passivo contábil, financeiro<br />

e ambiental em receitas para município de<br />

acordo com as taxas de VPL e TIR calculadas<br />

para cada hipótese da análise financeira.<br />

Com a produção de 10 MW de energia<br />

no início do projeto, seria possível atender às<br />

necessidades energéticas da própria Usina de<br />

Biogás e mais uma parcela da população fluminense,<br />

de acordo com o perfil do consumo<br />

energético das famílias atendidas.<br />

Realizando um estudo da matriz energética<br />

nacional para o setor, constata-se que conforme<br />

a Cetesb (1999), a geração de metano em depósitos<br />

de resíduos sólidos urbanos brasileiros<br />

está na ordem de 677 Gg., cuja densidade padrão<br />

definida é de 0,7<strong>16</strong> Kg/m³, o que significa<br />

cerca de 945 milhões de metros cúbicos anuais.<br />

Como o metano representa cerca de 50 a 55%<br />

do volume de biogás, têm-se 1.718 milhões de<br />

metros cúbicos anuais desse gás, considerando<br />

uma recuperação típica de 90%, sendo que estariam<br />

disponíveis 1.546 Mm³ de biogás para<br />

geração de energia elétrica. Isso representaria<br />

ao País, utilizando usinas termoelétricas baseadas<br />

em motores a combustão interna com eficiência<br />

na faixa de 20% (caso do ciclo Otto), uma<br />

energia disponível de 2,1TWh, que alimentaria<br />

1750 mil residências com o consumo médio<br />

mensal de 100kWh, o que equivale a uma ci-<br />

dade de mais de 3 milhões de habitantes. Como<br />

muitos aterros não têm economicidade para<br />

produção de energia através do biogás de lixo, a<br />

energia disponível seria um patamar ainda bem<br />

menor que os 2,1 TWh.<br />

Diante do exposto, é possível constatar<br />

que o biogás não tem um impacto significativo<br />

na matriz brasileira mesmo considerando<br />

o valor de 2,1 TWh com relação a oferta total<br />

de 497,4 TWh que não representa nem 1% da<br />

matriz energética brasileira. Mas se todas as<br />

cidades brasileiras utilizassem o biogás de lixo<br />

em detrimento de outras fontes de energias<br />

mais poluentes, seria possível contribuir para<br />

redução das consequências das mudanças climáticas<br />

visto que o gás metano é mais nocivo<br />

que o gás carbônico (CO2). Outra vantagem<br />

do biogás de lixo com relação às hidroelétricas<br />

seria sua utilização para gerar energia elétrica<br />

próximo ao centro consumidor, evitando assim<br />

investimentos em novas linhas de transmissão<br />

de energia elétrica.<br />

Por fim, a implantação de uma termelétrica<br />

a partir do biogás do lixo, gera diversas<br />

contribuições para o País (principalmente para<br />

a região atendida), dentre as quais, serão listadas<br />

as principais abaixo:<br />

a. contribuição para a sustentabilidade am-<br />

biental local;<br />

b. contribuição para o desenvolvimento das<br />

condições de trabalho e a geração líquida<br />

de empregos;<br />

c. contribuição para a distribuição de renda;<br />

d. contribuição para capacitação e desen-<br />

volvimento tecnológico (possibilidade<br />

de reprodução da tecnologia empregada,<br />

observando o seu efeito demonstrativo,<br />

avaliando, ainda, a origem dos equipamentos,<br />

a existência de royalties e de licenças<br />

tecnológicas e a necessidade de assistência<br />

técnica internacional);<br />

e. contribuição para o desenvolvimento re-<br />

gional, que pode ser medida a partir da<br />

integração do projeto com outras atividades<br />

sócioeconômicas na região de sua<br />

implantação.<br />

f. conscientização da população com relação<br />

ao desenvolvimento de práticas sustentável<br />

e produção de energia renovável e limpa<br />

(Abreu, 2009).


6.<br />

Agradecimentos<br />

Ao CNPQ, Conselho Nacional de<br />

Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a<br />

Universidade do Estado do Rio de Janeiro<br />

7.<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

Referências<br />

ABREU, F. V.; COSTA FILHO, M. A.<br />

F.; SOUZA, M. C. L.. Technical and<br />

economical feasibility analysis of energy<br />

generation though the biogas from garbage<br />

in landfill - an alternative of renewable<br />

energy generation. In: 20th International<br />

Congress of Mechanical Engineering<br />

(COBEM), Gramado - RS, 2009.<br />

ABREU, F. V.; COSTA FILHO, M. A.<br />

F.; SOUZA, M. C. L.. Biogás de aterros<br />

sanitários para geração de energia<br />

renovável e limpa - um estudo de<br />

viabilidade técnica e econômica. In: IX<br />

Congreso Iberoamericano de Ingeniería<br />

Mecânica (CIBIM), 2009.<br />

ABREU, F. V.; Dissertação de Mestrado,<br />

“Análise de Viabilidade Técnica e<br />

Econômica da Geração de Energia<br />

Através do Biogás de Lixo em Aterros<br />

Sanitários”, UERJ - Universidade do<br />

Estado do Rio de Janeiro - 2009<br />

ABREU, F. V.; <br />

acessado em Abril de <strong>2011</strong>.<br />

5. ABREU, F. V.; < http://biogasdelixo.<br />

blogspot.com/> acessado em Abril de <strong>2011</strong>.<br />

6.<br />

7.<br />

8.<br />

ARARUNA, José - Reportagem sobre<br />

Resíduos Sólidos Urbanos com Prof. José<br />

Araruna, pag. 20 - Jornal O Globo, 2008.<br />

COMLURB: Companhia Municipal de<br />

Limpeza Urbana , acessado<br />

em 20 de maio de 2010.<br />

DUARTE, Adriana Carneiro; Braga, Maria<br />

Cristina Borba – Brazilian projects of<br />

MDL in Landfill. 24º Brazilian congress<br />

of Sanitary and Ambient Engineers, 2007.<br />

9. EPA, 2005. Landfill Gas Emissions<br />

Model (LandGEM) Version 3.02<br />

User’s Guide. EPA-600/R05/047 (May<br />

2005), Research Triangle Park, NC. U.S.<br />

Environmental Protection Agency.<br />

10. FERREIRA, J.A. Solid Wast: Current<br />

perspectives In: Sisinno, C.L.S. & Oliveira,<br />

R.M de (Org.). Solid residues, Environment<br />

and Health: a vision to multidiscipline. Rio<br />

de Janeiro: Fiocruz, 2000. p. 19-40.<br />

11. LORA, E. E. S.; Nascimento, M. A. R. coord..<br />

Thermoelectric generation: Planning,<br />

Project and Operation, 2004, 457 - 461 pp.<br />

<strong>12</strong>. POLPRASERT, C. Organic Waste Recyclin<br />

Technology And Management. 2nd Edition.<br />

John Wiley & Sons. 4<strong>12</strong> P. Chichester, 1996.<br />

13. SCS Engineers, 2005. , access in the 15 of mar 2009.<br />

14. UN. United Nations. Conference on<br />

Environment and Development - 1992.<br />

15. UN. United Nations. Kyoto Protocol<br />

to The United Nations Framework<br />

Convention On Climate Change. United<br />

Nations. 21 P. Washington – Dc, 2002.<br />

<strong>16</strong>. UNFCCC.<br />

United Nations Framework<br />

Convention on Climate Change. Kyoto<br />

Protocol Http://Unfccc.Int/2860.Php<br />

Access in the 26 Nov. 2007a.<br />

17. UNFCCC. United Nations Framework<br />

Convention on Climate Change. Overview<br />

of Project Activity Cycle. Access in the 25 Nov. 2007b.<br />

18. World Bank. Guidance Note on<br />

Recuperation of Landfill Gas From<br />

Municipal Solid Waste Landfills, 2005.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

Fábio Viana de Abreu<br />

fabio.viana.abreu@gmail.com<br />

Rua Gonzaga Bastos, <strong>nº</strong> 131, apto 504<br />

Vila Isabel - Rio de Janeiro<br />

CEP: 20541-000<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: ABREU, Fábio<br />

Viana; AVELINO, Mila Rosendal; MONâCO, Diego Preza. Estudo Técnico, Econômico e Ambiental da geração de energia através do biogás de lixo - o caso do aterro<br />

sanitário de Gramacho. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em: <br />

43<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


História Política e a “Nova História”: um breve acerto de contas.<br />

Political History and “New History”: a brief reckoning.<br />

Rafael Willian Clemente 1<br />

Palavras-chave:<br />

História política<br />

Annales<br />

Historiografia.<br />

Abstract<br />

Resumo<br />

O estudo aqui exposto traz uma reflexão sobre a história política mais detalhadamente<br />

sobre seu processo de renovação, juntamente com a renovada<br />

historiografia proposta melo movimento dos Annales, durante o século<br />

XIX na França. A história política hoje se faz um campo aberto, é difícil –<br />

e este nem é nosso interesse – de delimitar seu campo de atuação, sua área<br />

fronteiriça. Porém, o que se mostra no presente, como uma característica<br />

dos métodos e objetos da história política não era nem de longe um traço<br />

em seu modo de discutir e demonstrar o conhecimento histórico. Cabe,<br />

então, várias perguntas, mas uma delas torna-se mais pertinente: como<br />

entender essa nova história política? O presente artigo pretende contribuir<br />

para o debate historiográfico em torno da história política.<br />

The study presented here brings a reflection about the political history,<br />

more specifically about its process of renovation, and the renewed<br />

historiography proposed by the Annales movement during the nineteenth<br />

century in France. The political history nowadays makes use of an open<br />

field which is hard to delimit its action field, its border area, but this is<br />

not our interest. However, what is shown at present as a feature of the<br />

methods and objects of the political history was not far from a stroke on<br />

its way to discuss and demonstrate historical knowledge. Then, several<br />

questions can be done, but one of them is more relevant: how can this<br />

new political history be understood? This article aims to contribute to the<br />

historiographical debate surrounding the political history.<br />

Key words:<br />

Political history<br />

Annales<br />

Historiography<br />

1 Mestrando em História pela Universidade Severino Sombra - USS, Especialista em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense - UFF,<br />

Graduado em História pelo Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />

45<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

03/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


46<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

O presente escrito é uma reflexão sobre<br />

duas renovações no estudo de história, mais<br />

precisamente em seus métodos, em sua forma<br />

de entender e analisar os fatos sociais, culturais<br />

e políticos. Ambos os três de maneira<br />

relacionada sob o manto da história política.<br />

Tendo como material básico as publicações<br />

de historiadores franceses como Le Goff e<br />

Rémond, que proporcionaram tanto à disciplina<br />

história quanto à historiografia várias reflexões<br />

sobre as problemáticas que carregava<br />

quando se tratava da história política, as linhas<br />

aqui apresentadas tratam dessa renovação.<br />

Uma renovação para além do movimento dos<br />

Annales, que, em síntese, trabalharemos para<br />

confrontar com a história política. Logo, existem<br />

dois lados a serem distinguidos.<br />

De um lado a “nova história”, surgida<br />

pela via francesa da “Escola dos Annales”,<br />

tida como outra forma de se entender a história<br />

– tanto a disciplina em si, quanto as práticas<br />

factuais do processo de estudo. Do outro, a<br />

história política, corrente vista, a priori, como<br />

amálgama dos problemas historiográficos –<br />

geralmente relacionada como forma ultrapassada<br />

e a ser superada de se entender a história<br />

e praticar os métodos historiográficos nas análises<br />

da sociedade. Portanto, repensar nossos<br />

métodos é tarefa frequente. Para historiadores,<br />

a história não poderá nunca estar fechada em<br />

si e somente para si, deve ter os tentáculos de<br />

polvo e alcançar sempre objetivos e públicos<br />

cada vez mais distantes, unindo áreas do saber<br />

– respeitando suas particularidades – e dialogando<br />

com métodos, externos e internos que<br />

possibilitem a construção do conhecimento<br />

bem como sua produção. Colocar o debate em<br />

história é reproduzir o que Le Goff expôs, com<br />

muita propriedade, na abertura de seu livro sobre<br />

história e memória:<br />

A história está sempre no centro das<br />

controvérsias. De que assuntos deve<br />

tratar? Os acontecimentos apenas, ou<br />

também os desígnios da providência, os<br />

progressos da humanidade, os fenômenos<br />

repetitivos, as estruturas? Deve pôr<br />

tônica na continuidade ou, pelo contrário,<br />

nas revoluções, nas rupturas, nas<br />

catástrofes? Deve ocupar-se priorita-<br />

riamente dos indivíduos promovidos ao<br />

papel de heróis ou de massa? De quem<br />

tem poder e autoridade no Estado ou na<br />

Igreja ou, ao contrário, dos camponeses,<br />

do proletariado, dos burgueses, da<br />

população no seu conjunto e de todas<br />

as classes que a compõem? (LE GOFF,<br />

2003: 17)<br />

Corrente historiográfica que esteve ligada<br />

intimamente às visualizações do poder no<br />

Estado, a historiografia política começou por<br />

uma análise das pessoas importantes e de grande<br />

poder na sociedade. Assim, era o alvo mais<br />

fácil e mesmo o ideal para historiadores que,<br />

num dado momento, ansiavam por renovações<br />

nos olhares da história, a ponto de marcar a<br />

vida historiográfica com estudos que usavam<br />

como veículo uma revista e transformou-se<br />

em um movimento. Nascia os Annales e com<br />

ele uma crítica aos velhos métodos para o estudo<br />

da história.<br />

Se a história política foi alvo de críticas,<br />

que a bem da verdade auxiliaram em sua renovação,<br />

ela soube também se apropriar de muitas<br />

características de outros campos do saber,<br />

a exemplo de seus contatos com a economia, a<br />

psicologia e o que hoje chamamos de ciência<br />

política. Uma história que se tornou relevante<br />

para as ciências humanas não deve ser alvo só<br />

de revisões e de um alto grau de criticidade,<br />

mas deve reconhecer também o que os historiadores<br />

do político fizeram para que seus objetos<br />

fossem vistos pela sociedade como uma<br />

ferramenta utilizável na constante construção<br />

do homem político, enfim, do homem em sociedade.<br />

2.<br />

Uma história de renovação: os<br />

Annales<br />

Desde sua utilização como disciplina<br />

anexa aos conhecimentos de latim, retórica ou<br />

a filosofia clássica, o ensino de história estava<br />

calcado no âmbito das grandes narrativas,<br />

compostas basicamente pelas questões das<br />

causas, origens e consequências, como explicitou<br />

Weinstein (2003: 185). A problematização<br />

dos fatos não era relevante para o debate<br />

sobre a vida em sociedade, sobre os homens<br />

e sua vivência na trilha social, seus percalços


em outros âmbitos sociais que não o econômico;<br />

o homem comum estava excluído da<br />

história e, logo, seus nomes e memórias não<br />

entrariam no conhecimento repassado aos que<br />

do ensino se serviam, ou mesmo à história,<br />

como disciplina.<br />

Com o advento de uma nova geração de<br />

historiadores franceses, a disciplina foi oxigenada<br />

e seus rumos sofreram uma guinada<br />

irascível. A “Escola dos Analles” inaugurou<br />

em meados de 1929 outra maneira de pensar<br />

o conhecimento histórico, bem como seus métodos<br />

de pesquisa e ensino. Veremos a diante<br />

como esse movimento influenciou as futuras<br />

gerações de historiadores, que, mesmo não estando<br />

em territórios franceses e fora do convívio<br />

dos “annalistès”, assimilaram a revolução<br />

na historiografia que o movimento em questão<br />

proporcionou. A verdade é que mesmo com<br />

algumas dificuldades causadas pelas novas<br />

proposições feitas pelos historiadores dos<br />

Annales, ainda hoje colhemos os frutos de tal<br />

aperfeiçoamento da disciplina histórica, embora<br />

reconheçamos que a história-disciplina continua<br />

a sofrer duros golpes de muitos dos que<br />

dela tiram seu sustento. Portanto, assim como<br />

Marc Bloch – um dos historiadores fundadores<br />

dos Annales – travamos diariamente nosso<br />

combate pela história; muitas dessas batalhas<br />

vão além da disciplina e dos seus processos<br />

didáticos de ensino-aprendizagem, recaem sobre<br />

a história como movimento incessante de<br />

dinamismo do mundo, na movimentação de<br />

todos os fenômenos típicos da humanidade, e<br />

na movimentação do homem em seu tempo.<br />

Nosso combate vai além da história, é a<br />

batalha do homem, pelo homem, em seu recorte<br />

temporal, em sua luta cotidiana.<br />

Chamada de “a revolução francesa da<br />

historiografia” por Burke (1990) a “Escola<br />

dos Annales” foi e ainda é a maior referência<br />

na modificação dos conceitos historiográficos<br />

contemporâneos. Vista por muitos, inclusive<br />

pelos seus fundadores, mais como um movimento<br />

do que como uma escola - ainda que<br />

Guriêvitch (2003) compartilhe dessa ideia, ressalta<br />

também a posição de escola dos Annales,<br />

não no sentido institucional, mas no âmbito<br />

de renovação e disseminação de um conhecimento,<br />

no caso, da ciência histórica - os annalistès<br />

propagaram pelo universo acadêmico<br />

uma visão disciplinar da história que naquele<br />

momento se contrapunha às experiências dos<br />

historiadores tradicionais.<br />

Marc Bloch e Lucien Febvre, através<br />

da revista Annales. Economies. Sociétés.<br />

Civilizations. agruparam em torno do novo<br />

movimento, também citado como “nova história”<br />

- um olhar sobre a disciplina que foi<br />

de encontro às antigas correntes historiográficas,<br />

vigentes até aquele momento. Estas não<br />

se vinculavam à vida cotidiana dos homens,<br />

importando apenas com os grandes fatos e os<br />

grandes personagens, uma história conclusa<br />

aos grandes feitos e às grandes narrativas, que,<br />

ao contrário das novas propostas, afirmavam<br />

que a história era um movimento quase que<br />

inerte. Em contrapartida, os annalistès atestavam<br />

“a história como uma ciência em marcha”<br />

(BLOCH, 2001: 21), ou seja, uma ciência em<br />

mutação; voltada “aos homens, à sociedade, às<br />

crises momentâneas ou elementos mais duradouros”<br />

(BLOCH 2001: 51), e por isso, dinâmica.<br />

Como destacou Rémond (2003), a história<br />

política era a encarnação perfeita para a<br />

contraproposta historiográfica realizada pelos<br />

“novos historiadores”, aliás, toda nova escola<br />

necessita de um inimigo, para que tendo contra<br />

quem lutar, possa afirmar, por meio dessa<br />

batalha, seus novos argumentos e sua práxis.<br />

3.<br />

História política: uma corrente<br />

antiquada?<br />

Correntes historiográficas são nada mais<br />

que possíveis histórias da história, reflexões<br />

sobre as “transformações da sociedade e as<br />

modificações das ideias.” (RÉMOND 2003:<br />

13). Portanto, o trabalho de um historiador que<br />

pesquisa objetos mais intimamente ligados ao<br />

econômico terá características distintas do historiador<br />

que analisa dados de história cultural.<br />

Contudo, esses objetos, esses fatos, circulam<br />

sob a órbita de vários campos da história enquanto<br />

disciplina. Logo, o que a princípio é<br />

político afeta o social, o cultural, o econômico<br />

e assim por diante, pois as relações no campo<br />

da história são como átomos agitados que percorrem<br />

os mais variados caminhos e na estrada<br />

da história estamos em uma via de mão dupla,<br />

em que os encontros e desencontros metodológicos<br />

são inevitáveis.<br />

47<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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Nessa ótica, dizer que o estudo do políti-<br />

co influenciou e sofreu influências de muitos<br />

outros campos da história é o óbvio. Porém,<br />

a análise dos objetos políticos, ou da política,<br />

iniciou-se, como já observamos, com os olhares<br />

voltados para os grandes nomes da política,<br />

as instituições, o Estado, que perdurou durante<br />

muito tempo como “objeto por excelência na<br />

produção histórica”. (FALCON 1997: 65). Se<br />

com os gregos a história estava voltada para<br />

as grandes narrativas, durante os séculos mais<br />

recentes, algo em torno entre o XXIII e o XX<br />

a guinada de seu leme foi modesta; tanto que<br />

na modernidade ainda tinha “o Estado como<br />

objeto por excelência na produção histórica”<br />

(MOMMSEM apud FALCON, 1997). Isso fez<br />

com que os métodos de história política fossem<br />

presa fácil para os “novos historiadores”<br />

que iam contra a hegemonia do político em<br />

história. Ela amalgamava todos os problemas<br />

da história tradicional, era “factual, subjetivista,<br />

psicologizante e idealista” (RÉMOND,<br />

2003: 18), enfim, todos os defeitos que a<br />

“nova história” procurava findar, a história<br />

política possuía em suas finalidades. Mas de<br />

fato, esse não era um problema de má intenção<br />

dos historiadores políticos. Estes – homens do<br />

seu tempo, que em si agrupavam as ideias e as<br />

inclinações de sua época – só utilizavam daquilo<br />

que ela podia oferecer e a própria política<br />

se fazia como algo superficial. Entretanto,<br />

há uma tendência em se negar o conhecimento<br />

de gerações anteriores para se fazer afirmar<br />

a da geração contemporânea, como bem<br />

cita Rémond (2003, p. 13), que “avanços se<br />

operam muitas vezes em detrimento de outro<br />

ramo, como se todo avanço devesse ser pago<br />

com algum abandono, duradouro ou passageiro,<br />

e o espírito só pudesse progredir rejeitando<br />

a herança da geração anterior.” Assim, a história<br />

política fora negada pelos novos historiadores,<br />

como uma maneira arcaica e obsoleta<br />

de se fazer história.<br />

4.<br />

História política em perspectiva<br />

Como podemos distinguir o que é político<br />

do cultural, do social e do econômico, já<br />

que essas esferas se ligam intimamente e entre<br />

si dialogam? Ainda Rémond (2003) argumenta<br />

que “o político não tem fronteiras na-<br />

turais,” ora elas se retraem, ora se dilatam, ou<br />

seja, permeiam outros domínios delimitando<br />

sua área de atuação, mas sem fixar territórios.<br />

Essa mesma história política que agora realiza<br />

intercessão com outras áreas, outrora estava<br />

intimamente ligada às análises do econômico.<br />

Ela também nasceu muito próxima ao caráter<br />

do poder nas esferas econômicas, como bem<br />

se julgava a política como a busca pelo poder<br />

social. Segundo Falcon (1997) história e poder<br />

caminham juntos, sendo “irmãos siameses”,<br />

ou seja, de difícil, ou impossível separação.<br />

Isso também demonstra uma problemática<br />

quando se trata da análise sobre a produção<br />

do poder na oficina da história, pois há aí uma<br />

equivalência entre o político e o poder exercido.<br />

Nesse âmbito, inicia-se um percalço, visto<br />

que a análise do político perpassa pelas questões<br />

de poder, mas este não poderá encerrar as<br />

características na análise da história política,<br />

já que esta não se delimita simplesmente pelo<br />

poder em esfera política.<br />

Se a história política possuía, em seu início,<br />

um viés muito acentuado quando a suas<br />

análises do poder no Estado, ao decorrer dos<br />

anos, entre 1945 e 1968/1970, a crise final da<br />

história política se mostra como uma possibilidade<br />

de modificação nas estruturas dessa corrente<br />

historiográfica. De acordo com Falcon<br />

(1997), contribuíram imensamente para esses<br />

processos intelectuais os que vieram de fora<br />

da ciência histórica. Sociólogos, principalmente<br />

como Foucault e Bourdieu, realizaram<br />

outra forma de análise do poder. Sob a ótica<br />

desses dois autores, de grande influência nas<br />

ciências humanas e sociais, o poder ganharia<br />

um aspecto simbólico, ou seja, suas relações<br />

não estavam ad stricto ao político, enquanto<br />

alcance de poder estatal, mas esse poder relacionava-se<br />

por entre as instituições sociais<br />

e suas maneiras de “pensar” e transmitir os<br />

valores institucionais em regras sociais. Daí<br />

Foucault ter um vasto material sobre diversas<br />

instituições como o cárcere, os manicômios,<br />

as escolas e etc., e Bourdieu ter pensado sobre<br />

o poder simbólico das grifes de alta costura<br />

e o poder das trocas econômicas simbólicas.<br />

Assim, são análises da política, do poder, mas<br />

em outra linha de raciocínio, contendo representações<br />

das mentalidades, das ideias, bem<br />

como da memória, sem as amarras do poder<br />

como ao inerente ao status econômico, mas


visto dessa forma e como uma relação das<br />

representações sociais dos indivíduos e suas<br />

instituições. Concordamos, entretanto, que o<br />

foco da história política demorou a se alterar a<br />

fim de que se concentrasse em outros objetos.<br />

A história política privava-se da possibilidade<br />

metodológica em criar uma história comparada,<br />

olhando os fatos em uma perspectiva espacial<br />

paralela, portanto, fitava o fato, dando<br />

prioridade ao particular.<br />

5.<br />

As revoluções que derrubaram os regimes<br />

monárquicos não destronaram a<br />

história política de sua posição preeminente,<br />

apenas mudaram seu objeto. Em<br />

vez de fixar-se na figura do monarca, a<br />

história política voltou-se para o Estado<br />

e a nação, consagrando daí em diante<br />

suas obras à formação dos Estados nacionais...<br />

(RÉMOND, 2003: 15)<br />

Conclusão: um breve acerto de<br />

contas<br />

As duas correntes que se mostraram de<br />

formas antagônicas, a “Nova História” e a<br />

História Política merecem um olhar todo especial<br />

dos estudiosos, tanto historiadores como<br />

outros cientistas sociais. A política é campo<br />

de análise em que podem ocorrer algumas armadilhas<br />

que exigem desses profissionais um<br />

preparo metodológico rigoroso, daí torna-se<br />

importantes muitos esclarecimentos, que, às<br />

vezes, por motivo de espaço, foram aqui omitidos.<br />

Contudo, ao longo de uma vasta bibliografia<br />

essas temáticas poderão ser consultadas<br />

e debatidas em outros estudos ou mesmo eventos<br />

que tenham a história política como tema.<br />

A política está em tudo? Tudo é político?<br />

A pertinência de tais questionamentos é atual,<br />

ainda que muito anteriormente já tenha sido<br />

exposta, principalmente aos historiadores do<br />

político. Vemos então que a resolução para os<br />

problemas sociais estaria, na esfera do político,<br />

do poder. Assim, “algumas pessoas passaram<br />

[...] da constatação de que o político está<br />

em toda parte à ideia de que tudo é político.”<br />

(RÉMOND, 2003: 25). Se isso trouxe problemas<br />

à história política, pois “a política (é) responsável<br />

por tudo o que deixa a desejar na sociedade”,<br />

também foi um modo de renovar os<br />

ares dessa corrente. Exemplo disso é o fato de<br />

as grandes guerras terem servido para os historiadores<br />

do político como exemplo de que só o<br />

econômico não daria conta da explicação dos<br />

fatores de tomada de território, a motivação<br />

para tais ações passava pelo fator social.<br />

Se os Annales em muito contribuíram,<br />

mediante o enfrentamento, para o amadurecimento<br />

da história política, esta também não se<br />

fechou em si, no seu casulo contra as influências.<br />

Seu maior amadurecimento foi entender<br />

que o processo em que estava necessitava de<br />

mudanças, não só recebidas pela pressão externa,<br />

mas mesmo uma mudança interior em<br />

seus procedimentos e visões.<br />

Embora o embate entre os “novos historiadores”<br />

e a história política tenha acontecido<br />

de maneira muito marcante, forte impressão<br />

causou Fernand Braudel – um dos expoentes<br />

da geração dos Annales – quando lamentou<br />

que a história política tenha possuído o rótulo<br />

de uma história événementielle – “que fica nas<br />

superfícies das coisas e esquece de vincular<br />

os acontecimentos às suas causas profundas”<br />

(RÉMOND, 2003: 17) – já que para ele essa<br />

não era a intenção dos historiadores políticos.<br />

Isso mostra que a luta da nova escola, a qual<br />

surgiu na França - com as duras críticas e às<br />

vezes, injustas - servira para a movimentação<br />

dos historiadores do político, o que resultou<br />

em uma nova direção dessa corrente que hoje<br />

além de notável, é também louvável.<br />

6.<br />

1.<br />

Referências bibliográficas<br />

BERSTEIN, Serge. Culturas políticas e<br />

historiografia. In: AZEVEDO, Cecília<br />

(Org.). Cultura política, memória e<br />

historiografia. Rio de Janeiro: FGV,<br />

2009. p. 29-46.<br />

2. BURKE, Peter. A escola dos Annales<br />

(1929-1989): a revolução francesa da<br />

historiografia. São Paulo: UNESP, 1990.<br />

3.<br />

GOMES, ângela de Castro. Política:<br />

história, ciência, cultura etc. Revista<br />

Estudos históricos, Rio de Janeiro, n.<br />

17, v. 9, 1996. Disponível em: .<br />

Acesso em: 10 jan. <strong>2011</strong>.<br />

49<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

4.<br />

5.<br />

FALCON, Francisco. História e poder.<br />

In: CARDOSO, Ciro Flamarion (Org.).<br />

Domínios da história: ensaios de teoria<br />

e metodologia. Rio de Janeiro: Campus,<br />

1997. p. 61-89.<br />

LE GOFF, Jacques. A política sera ainda<br />

a ossatura da história? In: ________. O<br />

maravilhoso e o quotidiano no Ocidente<br />

medieval. Lisboa: Edições 70, 1990. p.<br />

221-242.<br />

6. ________. História e memória.<br />

Campinas: Ed. Unicamp, 2003.<br />

7. REIS, José Carlos. A história, entre a<br />

filosofia e a ciência. 3. ed. Belo Horizonte:<br />

Autêntica, 2004.<br />

8.<br />

9.<br />

RÉMOND, René. Uma história presente.<br />

In: ________ (Org.). Por uma história<br />

política. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV,<br />

2003. p. 13-36.<br />

RÉMOND, René. Do político. In:<br />

________ (Org.). Por uma história<br />

política. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV,<br />

2003. p. 441-454.<br />

10. WINOCK, Michel. As ideias políticas.<br />

In: RÉMOND, René. (Org.). Por uma<br />

história política. 2. ed. Rio de Janeiro:<br />

FGV, 2003. p. 271-294.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

Rafael Willian Clemente<br />

rwclemente@id.uff.br<br />

Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />

Avenida Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325<br />

Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />

CEP: 27240-560<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />

CLEMENTE, Rafael Willian. História Política e a “Nova História”: um breve acerto de contas. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:<br />


Link patrocinado: uma nova forma de publicidade na internet<br />

Sponsored link: a new form of advertising on the internet<br />

Bruna Viana de Abreu Gonçalves 1<br />

Douglas Baltazar Gonçalves 2<br />

Ivanete da Rosa Silva de Oliveira 3<br />

Palavras-chave:<br />

Link Patrocinado<br />

Publicidade na<br />

Internet<br />

AdWords<br />

Propaganda na<br />

Internet.<br />

Abstract<br />

Resumo<br />

O Link Patrocinado é uma nova e diferenciada forma de publicidade na<br />

internet. Este artigo procura levantar as tendências sobre o uso do Link<br />

Patrocinado pelas empresas da Região Sul Fluminense, analisando como<br />

este estilo de publicidade pode atingir mais clientes para o negócio e<br />

fortalecer a marca perante os consumidores.<br />

Sponsored Link is a new and different form of Internet advertising. This<br />

article seeks to raise the trends on the use of Link Sponsored by businesses<br />

in the South Fluminense, analyzing how this style of advertising can reach<br />

more customers for the business and strengthen the brand for consumers.<br />

Key words:<br />

Sponsored Link<br />

Internet<br />

Advertising<br />

AdWords<br />

Internet<br />

Propaganda<br />

1 MBA em Gestão Empresarial e Negócios, Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda - <strong>UniFOA</strong><br />

2 Mestrando em História; Pós Graduação em Comunicação Empresarial, Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo - <strong>UniFOA</strong><br />

3 Doutoranda em Políticas Públicas; Mestrado em Educação Física, Graduação em Pedagogia e em Educação Física - <strong>UniFOA</strong><br />

51<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

06/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

O Link Patrocinado é uma nova forma de<br />

publicidade que chega trazendo um diferencial<br />

para as empresas, pois alia preço e benefício e<br />

pode ser disponibilizado a qualquer mercado<br />

no ambiente da internet.<br />

Segundo Monteiro (2006) a internet possui<br />

mais de um bilhão de internautas no mundo,<br />

assim, não se pode desconsiderar o fato de<br />

que a web possui mais de um bilhão de consumidores.<br />

Como a internet hoje é extensiva a milhares<br />

de pessoas, para que os usuários possam<br />

procurar assuntos de seus interesses com<br />

mais eficácia e rapidez, são utilizados os sites<br />

de busca. Esses sites, chamados de Links<br />

Patrocinados, são formas de publicidade mais<br />

acessíveis ao empreendedor, além de ser rentáveis,<br />

já que os sites buscadores têm cerca de<br />

200 milhões de visitantes por dia.<br />

Contudo, a dificuldade de achar assuntos<br />

que são relevantes para os usuários é enorme,<br />

pois o leque de opções é de tamanho inimaginável.<br />

Então, de acordo Leitão (2006) foram<br />

criados os sites buscadores para servirem de<br />

filtro para o usuário ir direto no seu foco.<br />

Monteiro (2006) mostra que 90% dos<br />

usuários americanos de Internet usam diariamente<br />

os instrumentos de pesquisa, perdendo<br />

somente para o uso do e-mail. De acordo com<br />

essas informações, o uso de buscadores vêm<br />

crescendo rapidamente.<br />

Foi constatado, de acordo com as análises<br />

de Monteiro (2006), que o Google, Yahoo,<br />

AOL e MSN estão entre os principais instrumentos<br />

de busca no mundo com grande investimento<br />

em divulgação on-line.<br />

Oikawa (2005) afirma, porém, que quando<br />

a empresa está na internet fora das primeiras<br />

páginas de resultado na busca dessa empresa,<br />

para os internautas, fica na condição de<br />

“invisível”.<br />

O incremento incontrolável de concorrentes,<br />

dentro e fora da Web, abriu a necessidade<br />

de implementar uma nova forma de destaque<br />

para as empresas: o Link Patrocinado. Essa<br />

ferramenta é uma forma simples e acessível de<br />

publicidade, que facilita a busca por determinado<br />

tema de interesse ao público na internet.<br />

Ele pode ser contratado por qualquer segmento<br />

de mercado e ajuda o público chegar direta-<br />

mente ao que ele procura. Seu foco é destacar<br />

peças publicitárias que estejam na internet.<br />

Esse novo formato de publicidade foi<br />

criado pelo empresário americano Bill Gross,<br />

que utilizava o site www.goto.com para a comercialização<br />

de espaços. Esse foi o primeiro<br />

site a praticar a venda de publicidade em<br />

forma de Link Patrocinado e que demonstrou<br />

aos seus clientes que o usuário se decide pelo<br />

produto ou marca que já lhe é familiar. Após o<br />

ano de 2001, quando o site foi adquirido pelo<br />

Yahoo, a Google passou a utilizar seu próprio<br />

sistema de Link Patrocinado, chamado Google<br />

Adwords, que hoje é a principal fonte de receita<br />

do Google (MONTEIRO, 2006).<br />

O Google é a maior referência em sites<br />

de busca, atualmente, sendo ele a empresa que<br />

cresceu mais rápido na história, no período de<br />

2001 a 2005.<br />

Toda publicidade tem como objetivo evidenciar<br />

a marca e o Link Patrocinado faz isso,<br />

por um orçamento acessível a qualquer investidor,<br />

atingindo também as diversas classes<br />

que têm acesso a rede.<br />

De acordo com Monteiro (2006), os Links<br />

patrocinados possuem uma forma de publicidade<br />

original para o internauta, pois, o resultado<br />

aparece a partir de uma palavra-chave de<br />

seu interesse.<br />

Sendo assim, o Link Patrocinado é a publicidade<br />

feita dentro dos sites de busca, em<br />

forma de texto, aparecendo através da segmentação<br />

na escolha de termos relacionados<br />

ao assunto.<br />

O modelo de negócio de geração de receita,<br />

utilizado pelos instrumentos de pesquisa<br />

on-line, é baseado nos Links patrocinados.<br />

Portanto, essa metodologia é focada em anúncios<br />

de textos, apresentados em conjunto com<br />

as páginas de resposta, onde o anunciante paga<br />

apenas quando algum internauta clica em seu<br />

anúncio. O anunciante não é mais cobrado<br />

pela exposição, é cobrado pelo desempenho<br />

da sua campanha.<br />

Esse novo modelo de negócios usa a incrível<br />

força que os instrumentos de pesquisa<br />

têm ganhado como pontos de partida da sua<br />

navegação on-line. Por outro lado, os instrumentos<br />

de pesquisa desenvolveram sistemas<br />

de gerenciamento de campanhas de Links patrocinados,<br />

nos quais o anunciante escolhe entre<br />

centenas de opções o seu mercado-alvo.


Dessa forma, Links patrocinados passa-<br />

ram a ser uma opção viável para veiculação<br />

de campanhas nacionais ou internacionais,<br />

através dos seus respectivos instrumentos de<br />

pesquisa com inúmeras vantagens para o mercado<br />

anunciante.<br />

Conforme defendido por Montardo<br />

(2006), os anúncios no Link patrocinado são<br />

um novo canal de veiculação que possui 234<br />

mercados-alvo diferentes que podem ser facilmente<br />

gerenciados.<br />

Diante do exposto, constitui-se um fato<br />

inquestionável que o mercado publicitário se<br />

expandiu muito com a Internet e, com isso,<br />

empresas pequenas conseguiram conquistar<br />

seu espaço e atingir seu público específico, investindo<br />

um valor não abusivo em relação ao<br />

seu orçamento.<br />

A hipótese levantada neste trabalho é que<br />

as pequenas, médias e grandes empresas da<br />

região Sul Fluminense estão preparadas para<br />

o uso do Link patrocinado, encontrando nele<br />

uma alternativa rentável. Para aferir essa hipótese,<br />

realizar-se-á uma pesquisa com usuários<br />

da Internet na região Sul Fluminense e também<br />

com empresas que têm interesse em colocar<br />

o seu negócio em evidência na Internet.<br />

A estrutura deste trabalho contempla a<br />

metodologia aplicada à pesquisa, a descrição<br />

dos resultados obtidos com o uso da metodologia<br />

e os resultados obtidos pela pesquisa. A<br />

conclusão do artigo apresenta as vantagens e<br />

desvantagens do uso do Link patrocinado nas<br />

empresas da região Sul Fluminense.<br />

2.<br />

Metodologia<br />

De acordo com o objeto da análise, foram<br />

definidas duas etapas para captar resultados e<br />

defender a hipótese principal, a qual sugere-se<br />

que o Link patrocinado é um estilo de publicidade<br />

que pode agregar muito para empresas de<br />

diversos tamanhos e segmentos.<br />

A utilização de questionários foi definida<br />

a partir da teoria proposta por Günter (2003),<br />

na qual uma comprovação determinada, a partir<br />

da análise do comportamento humano, é<br />

efetuada por meio de questionamentos delimitados<br />

através de situações.<br />

A escolha do questionário fechado para a<br />

pesquisa com os estudantes é justificada pelo<br />

fato de abordar, de forma mais direta, o objetivo<br />

de análise com maios eficácia e precisão.<br />

Dessa forma, a objetividade, ao invés da subjetividade,<br />

constitui-se em referência teóricometodológica<br />

para conhecer os usuários da<br />

região, seus hábitos e costumes.<br />

Nesse caso, Günter (2003), afirma que<br />

esse tipo de perguntas utilizadas em questionários<br />

mostra mais respeito aos entrevistados,<br />

pois lhe dá as direções que ele pode tomar para<br />

a resposta, classificando-as como positivas,<br />

negativas ou neutras, diminuindo o tempo de<br />

análise do pesquisador.<br />

Contudo, para os empresários, foi escolhido<br />

o questionário aberto, pois era necessário<br />

apreender com exatidão qual era o método<br />

de divulgação utilizado pelas empresas locais<br />

e se o uso da internet era potencializado devido<br />

ao fato de ser um meio de comunicação<br />

de fácil acesso e que atinge uma quantidade<br />

considerável de possíveis clientes.<br />

O questionário aberto também é apropriado<br />

(GÜNTER, 2003) para uma pesquisa<br />

inicial em que não se conhece a variabilidade<br />

das possíveis respostas.<br />

Na primeira etapa, que é quantitativa,<br />

será desenvolvido um questionário fechado,<br />

ou seja, em que as respostas já estão pré-definidas,<br />

sendo mais objetivos e permitindo apenas<br />

que o usuário escolha uma das existentes.<br />

Esse método visa à comparação entre as respostas<br />

das pessoas analisadas.<br />

Nessa etapa estar-se-á analisando o universo<br />

de universitários, a partir de uma amostragem<br />

de 50 alunos de distintas cidades -<br />

Barra Mansa, Volta Redonda, Resende, Barra<br />

do Piraí e Quatis. A escolha desse universo é<br />

propícia, já que este segmento possui poder<br />

aquisitivo e independência para fazer escolhas<br />

em relação a lojas que deseja obter produtos e/<br />

ou serviços.<br />

A segunda etapa é qualitativa, quando será<br />

entrevistado o universo dos empresários da região<br />

Sul Fluminense, a partir de uma amostra<br />

de três empresas, para coletar resultados sobre<br />

o investimento dessas empresas em publicidade<br />

na internet. A análise será a partir de questões<br />

em que os empresários possam proporcionar<br />

respostas de maior profundidade, com maior<br />

liberdade para que se consigam resultados minuciosos<br />

e detalhados sobre toda ação das empresas<br />

em relação à publicidade na internet.<br />

53<br />

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A seguir, são mostradas as características<br />

das três empresas pesquisadas:<br />

A primeira empresa possui duas décadas<br />

de experiência profissional no ramo da saúde,<br />

a profissional responsável apostou na internet<br />

como um novo canal para a conquista de novos<br />

pacientes. Ela é referência no tratamento<br />

bucal, já que trabalha para prefeitura de diversos<br />

municípios da região sul fluminense.<br />

A segunda empresa possui muitos anos<br />

de experiência na área de publicidade para internet,<br />

a empresa se destaca por oferecer um<br />

leque grande de serviços a clientes de todo o<br />

país. A empresa se diferencia por atuar pela<br />

internet, seus valores são mais acessíveis do<br />

que a maioria das agências, já que há uma despesa<br />

menor em gastos, pois todo o trâmite é<br />

online.<br />

Novata no ramo de publicidade, a terceira<br />

empresa visa tanto à publicidade impressa<br />

quanto a online. Seus trabalhos já foram reconhecidos<br />

e se encontram expostos em lugares<br />

privilegiados como o Sider Shopping. A conquista<br />

de novos clientes é essencial, por isso a<br />

empresa expande seus canais de atendimento<br />

para diversos lugares como a internet.<br />

3.<br />

Resultados Obtidos<br />

3.1.<br />

Questionário Fechado<br />

A pesquisa confirma que mais 56% das<br />

pessoas ficam mais de 5 horas online diariamente,<br />

sendo que 30% ficam de 3 a 5 horas e<br />

14% de 1 a 2 horas, com esses dados captados,<br />

foi possível atingir o objetivo dessa análise.<br />

Como ilustra i gráfico 1, a maioria dos entrevistados,<br />

quando entra na Internet, acessa em<br />

30% sites de busca, sendo que 22% acessam email;<br />

18%, o Orkut e <strong>16</strong>% , sites de notícias.<br />

Portais e outros ficaram abaixo de 10%.<br />

Gráfico 1. Representação Gráfica do primeiro site<br />

acessado ao entrar na Internet.<br />

A maioria dos entrevistados (gráfico 2),<br />

quando carrega seu browser, o site inicial em 48%<br />

dos pesquisados acessam o site de busca Google;<br />

10% acessam o site da Uol, sendo 14% outros<br />

navegadores não citados na pesquisa. Outros sites<br />

de busca como: Orkut, Gmail, Yahoo, Globo.<br />

com e Hotmail ficaram abaixo de 10%.<br />

Gráfico 2.<br />

Representação Gráfica da página inicial do navegador.<br />

O site mais acessado pelos entrevistados,<br />

em 80%, é o Google. Sendo que, MSN, Cadê,<br />

Yahoo, Uol Busca e Outros ficaram abaixo de<br />

10% (gráfico 3).<br />

Gráfico 3.<br />

Representação Gráfica do site de busca mais acessado.<br />

Os entrevistados costumam exibir uma<br />

quantidade razoável das páginas de resultados<br />

das buscas feitas na web, com isso, 32% exibem<br />

somente as 2ª e 3ª páginas, seguido de um<br />

empate nos resultados ficando com 28% tanto<br />

da 4ª a 6ª página como a da 7ª página ou mais.<br />

Sendo que, somente <strong>12</strong>% exibem somente a<br />

primeira página de pesquisa (gráfico 4).<br />

Gráfico 4. Representação Gráfica<br />

da quantidade de página de exibição.<br />

Feita essa pesquisa, foi possível notar que<br />

uma quantidade considerada de entrevistados,<br />

quando tem interesse em algum produto ou<br />

serviço, costumam procurar pela web.


Dos entrevistados, 68% já procura-<br />

ram alguma categoria de lojas na região Sul<br />

Fluminense, 72% já procuraram por uma loja<br />

específica na mesma região; mas, da mesma<br />

forma, houve um empate de 50% quando a situação<br />

foi entrar em contato ou visitar a loja.<br />

Mesmo obtendo todos esses resultados,<br />

conforme descrito no gráfico 5, 64% afirmaram<br />

que não efetuam a compra. Somente 36%<br />

realizam a compra.<br />

Gráfico 5. Representação Gráfica da efetuação de compra.<br />

3.2.<br />

Questionário Aberto<br />

Essa comprovação entre as três empresas<br />

participantes desta pesquisa é demonstrada<br />

na tabela 1. Na região Sul Fluminense, quanto<br />

mais tempo de atuação a empresa possui,<br />

maior o seu investimento em propaganda.<br />

Com isso, a empresa de 22 anos investe em<br />

cartão de visita e mala direta para clientes, em<br />

datas especiais, sendo que, em internet, é feita<br />

somente a divulgação em classificados gratuitos.<br />

A empresa que possui sete anos de atuação<br />

investe ardualmente no mercado livre e<br />

em Links patrocinados, de onde obtém maior<br />

número de clientes. Também possui flyers, folders,<br />

cartões e participa de várias feiras, além,<br />

do Link patrocinado do Google e do Yahoo,<br />

com parcerias de banners com clientes e a divulgação<br />

no Mercado Livre e Toda Oferta.<br />

A empresa de somente um ano investe<br />

em cartões e flyers, além de divulgação na<br />

internet; seu investimento na internet é feita<br />

apenas com anúncios em sites de divulgação<br />

gratuito, como o google maps, anúncio no que<br />

barato, toda oferta e outros similares.<br />

Tempo de<br />

Atuação<br />

Investimento<br />

em<br />

Propaganda<br />

Investimento<br />

na Internet<br />

22 anos R$ 1.000,00 Zero<br />

7 anos R$ 500,00 /mês R$ 200,00 /mês<br />

1 ano R$ 300,00 / mês Zero<br />

Tabela 1. Investimento das empresas.<br />

Todas as empresas entrevistadas possuem<br />

site, sendo que, nem todas fazem a divulgação<br />

do seu serviço através do Link Patrocinado (tabela<br />

2).<br />

O site da empresa de 22 anos possui página<br />

principal, perfil, casos clínicos, contato e<br />

orçamento, sendo que, alguns clientes já contrataram<br />

a empresa pelo site. O Link contato é<br />

de fácil acesso, possuindo endereço, telefone<br />

e e-mail. O site da empresa aparece na quarta<br />

página em sites de busca. Segundo o empresário<br />

entrevistado, ele já ouviu falar sobre o<br />

Link Patrocinado, tem interesse em investir,<br />

mas não tem o conhecimento necessário sobre<br />

o assunto.<br />

A homepage da empresa de sete anos<br />

possui página principal, conheça-nos, serviços,<br />

amostra de serviços, orçamento, portifólio,<br />

equipe e contato. Possui o máximo de<br />

informação possível como skype, msn, e-mail,<br />

telefone, celular e endereço. O site ainda conta<br />

com um formulário de contato e um atendimento<br />

online. A maioria dos clientes contrata<br />

os serviços pela Internet, possuindo muitos<br />

que já visitaram a empresa pelo contato feito<br />

pela internet. O site da empresa aparece nos<br />

sites de busca, principalmente, por estar localizado<br />

entre o Link patrocinado. O entrevistado<br />

investe em Link patrocinado por ser um<br />

investimento barato, eficaz e que ele mesmo<br />

pode estar controlando.<br />

A página online da empresa de um ano<br />

possui a página principal, quem somos portfolio<br />

com amostras de alguns serviços, índice<br />

de serviços, página de orçamento e contato. A<br />

página de contato é simples, contendo dados<br />

como e-mail, msn, skype, google talk, endereço<br />

e telefone. Além disso, o rodapé das<br />

páginas possui essas informações. De acordo<br />

com o empresário entrevistado, ele conhece<br />

o Link patrocinado e pretende investir porque<br />

tem concorrentes que estão conseguindo bons<br />

resultados utilizando este serviço.<br />

Tempo de<br />

Atuação<br />

Possui Site<br />

Link<br />

Patrocinado<br />

22 anos Sim Não<br />

7 anos Sim Sim<br />

1 ano Sim Sim<br />

Tabela 2. Divulgação na Internet<br />

55<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


56<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

4.<br />

Resultados<br />

Foi possível comprovar que o número de<br />

usuários a internet na região Sul Fluminense é<br />

realmente significante e tende a crescer. Assim,<br />

as empresas devem atentar a isso, pois, o fato<br />

de produtos e serviços serem ofertados pela internet<br />

tornou-se uma tendência obrigatória para<br />

a maioria. Entretanto, ressalta-se que a maioria<br />

não chega a finalizar a compra, apenas a pesquisa.<br />

Acredita-se que esse fato ocorra por causa<br />

da grande variedade de opções e também porque<br />

as empresas da região Sul fluminense não<br />

disponibilizam em seus sites as informações<br />

necessárias sobre seus produtos e serviços.<br />

Outro fato que se destaca é a utilização<br />

do Google como navegador padrão por 80%<br />

dos entrevistados, indicando assim a força e<br />

a presença deste no cotidiano dos usuários de<br />

234 países, conforme destacado por Monteiro<br />

(2006), e mostrando que as ações no Link patrocinado<br />

nestas empresas podem ser definitivas<br />

para a conquista do cliente.<br />

Constata-se que o investimento em publicidade<br />

na internet é característica das empresas<br />

mais novas, que se mantém mais atualizadas<br />

em relação às questões emergentes do mercado.<br />

Como comprovação, encontramos uma entrevistada<br />

que divide em respectivamente 60% e<br />

40% do seu orçamento em publicidade impressa<br />

e publicidade veiculada em sites de internet.<br />

Foi possível comprovar também que as<br />

empresas conhecem o Link patrocinado e sabem<br />

os benefícios que essa forma de publicidade<br />

pode trazer para o seu negócio. Fica claro<br />

que as empresas estão preocupada em se expor<br />

na internet, assim elas aproveitam dos sites com<br />

cadastro gratuito para colocarem sua marca. As<br />

empresas também investem em seus próprios<br />

sites, exibindo diversos canais de comunicação<br />

para que o usuário sinta-se livre para escolher o<br />

melhor caminho para chegar até a empresa.<br />

4.1.<br />

Vantagens e Desvantagens<br />

Seguindo os pontos expostos por<br />

Monteiro (2006), as maiores vantagens do<br />

Link patrocinado são:<br />

• O risco de investimento é inferior assim<br />

como o custo, já que a empresa que investe<br />

paga apenas pelo acesso do usuário ao seu<br />

site, enquanto a exibição não é cobrada.<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Ele pode ser contratado por pequenas,<br />

médias e grandes empresas.<br />

A campanha vai para o ar quase instantaneamente.<br />

Basta a empresa programá-la ou<br />

contratar uma agencia que o faça. E mesmo<br />

assim, a maioria dos prestadores deste serviço<br />

ensina passo a passo a desenvolvê-lo.<br />

Não há um contrato de veiculação, sendo<br />

que a campanha pode ser paralisada e ativada<br />

no momento que o anunciante desejar.<br />

Os anúncios aparecem em função das palavras-chave<br />

e o público está propício a vê-la,<br />

já que tem interesse no termo.<br />

•<br />

O anunciante tem total controle sobre a<br />

campanha, diferente de outras mídias que<br />

as estatísticas não são 100% confiáveis.<br />

Porém, as desvantagens que foram expostas<br />

por Oikawa (2005) são que:<br />

•<br />

•<br />

5.<br />

Existe uma concorrência desleal, pois empresas<br />

que não são autorizadas podem utilizar<br />

um termo e conseguir clientes de uma empresa<br />

oficial, por confusão na hora da busca.<br />

O fato de a maior parte do público não<br />

ter conhecimento real de que o Link patrocinado<br />

é uma forma de publicidade que<br />

pode ser considerado invasão de privacidade,<br />

pois a pessoa é interceptada pela<br />

publicidade sem a sua autorização.<br />

Conclusão<br />

Foi possível perceber que a publicidade<br />

para internet não se difere de outros segmentos<br />

da publicidade, já que, de acordo com Petit<br />

(2006), para atrair os clientes, é preciso conseguir<br />

que seu anúncio seja objetivo, envolva o<br />

cliente, seja direto e, acima de tudo, persuasivo.<br />

O Link patrocinado consegue envolver<br />

o cliente, pois é conciso, e por isso, objetivo.<br />

Além disso, geralmente é disponibilizado<br />

em um momento em que o consumidor está<br />

propício ao anúncio. Portanto, se utilizado da<br />

maneira correta, consegue atingir todos os objetivos<br />

descritos por Petit (2006).<br />

É possível afirmar que a região sul fluminense<br />

está propícia ao uso dessa nova forma de publicidade,<br />

pois, segundo Negócios Online // Links


Patrocinados, 2005, sua maior função é incentivar<br />

o consumidor potencial a acessar o site da empresa<br />

e a região em destaque possui um público<br />

potencial com conhecimento em internet, que faz<br />

uso por mais de 5 horas por dia e estão, por sua<br />

maioria, acessando em um primeiro momento os<br />

sites de busca e repetindo este procedimento durante<br />

sua permanência em todo o período.<br />

A região também possui empresários que<br />

já estão encaminhando os investimentos publicitários<br />

para a internet, vendo que esse leque de<br />

oportunidades pode ampliar e gerar mais resultados<br />

positivos para a empresa. De acordo com<br />

Negócios Online // Links Patrocinados, 2005, a<br />

publicidade online cresceu em função da performance,<br />

porém, a única forma de publicidade que<br />

garante e gerencia essa performance corretamente,<br />

separando a exibição do anúncio da estatística<br />

de acesso real ao site é o Link patrocinado.<br />

No Brasil, as grandes agências já estão montando<br />

setores especializados em publicidade para<br />

internet com ênfase as mais diversas formas de<br />

publicidade, e o Link patrocinado é uma delas.<br />

A disseminação do Link patrocinado pelo<br />

Brasil é contínua, pois ele – segundo Negócios<br />

Online // Publicidade Inteligente, 2005 – a flexibilidade<br />

é o ponto-chave de diferenciação,<br />

sendo atrativo fundamental para a aquisição<br />

em relação às mídias tradicionais que têm períodos<br />

e preços definidos.<br />

Diversas pequenas, médias, grandes empresas<br />

e marcas consagradas investem nessa<br />

modalidade como: Suzuki, Mercedes Benz,<br />

Pepsi, Ades e Claro.<br />

6.<br />

Referências Bibliográficas<br />

1. CARPENTER, Phil. E-Brands: Como<br />

se constrói uma empresa na Internet à<br />

velocidade máxima. Tradução de Everaldo<br />

Lyra. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.<br />

2. EPPERLEIN, Marcelo. Caro leitor.<br />

Revista UOL Empresa. São Paulo: ano 1,<br />

<strong>nº</strong>. 1, p. 6-7, maio/junho. 2005. Bimestral.<br />

3. GÜNTER, 2003, Hartmut. Como elaborar<br />

um questionário. Série: Planejamento<br />

de Pesquisa nas Ciências Sociais, <strong>nº</strong><br />

01. Brasília, DF: UnB, Laboratório de<br />

Psicologia Ambiental, 2003.<br />

4.<br />

LEITÃO, Antônio; LOBO, Arthur;<br />

BRUNO, Fernanda; ALBUQUERQUE,<br />

Luciana Guilhon; GUIMARÃES, Natália;<br />

BIANCOVILLI, Priscila (Org). O<br />

oráculo de Mountain View: o Google e<br />

sua cartografia do ciberespaço. Revista<br />

da Associação Nacional dos Programas de<br />

Pós-Graduação em Comunicação, 2006.<br />

5. MEMÓRIA, Felipe. Design para a Internet:<br />

projetando a experiência perfeita. Rio de<br />

Janeiro: Elsevier, 2005. - 2ª reimpressão.<br />

6. MONTARDO, Sandra Portella. A busca<br />

é a mensagem: Links patrocinados e<br />

marketing de otimização de busca. Centro<br />

Universitário Feevale.<br />

7. MONTEIRO, Ricardo Vaz. Google Adwords<br />

– A Arte da Guerra. Brasport Editora, 2006.<br />

8. NEGÓCIOS ONLINE // No Mundo. Links<br />

patrocinados são realidade no exterior.<br />

Revista Uol Empresa. São Paulo, ano 1, <strong>nº</strong>.<br />

1, p. 14-15, maio/junho. 2005. Bimestral.<br />

9.<br />

NEGÓCIOS ONLINE // Publicidade Inteligente.<br />

Uma mídia que se faz pelas diferenças.<br />

Revista Uol Empresa. São Paulo: ano 1, <strong>nº</strong>. 1,<br />

p. <strong>16</strong>-18, maio/junho. 2005. Bimestral.<br />

10. NEGÓCIOS ONLINE // Links Patrocinados.<br />

A publicidade online tem nova cara.<br />

Revista Uol Empresa. São Paulo: ano 1,<br />

<strong>nº</strong>. 1, p. 8-<strong>12</strong>, maio/junho. 2005. Bimestral.<br />

11. OIKAWA, A. H. Considerações acerca<br />

da possibilidade de concorrência desleal<br />

nos Links patrocinados em serviços de<br />

busca na Internet. Jus Navigandi, Teresina,<br />

ano 9, n. 613. Disponível em: .<br />

Acesso em: 08 de Novembro de 2008.<br />

<strong>12</strong>. PETIT, Francesc. Propaganda ilimitada.<br />

<strong>12</strong> ed. São Paulo: Futura, 2006.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

Ivanete da Rosa Silva de Oliveira<br />

ivanete.oliveira@foa.org.br<br />

Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />

Beco São Vicente - <strong>nº</strong> 36, apt. 101<br />

Centro - Pinheiral - RJ<br />

CEP: 27197-000<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: GONÇALVES,<br />

Bruna Vianna de abreu; GONÇALVES, Douglas Baltazar; OLIVEIRA, Ivanete da Rosa de. Link patrocinado: uma nova forma de publicidade na internet. <strong>Cadernos</strong><br />

<strong>UniFOA</strong> Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:


O exercício da tutela na Educação Inclusiva<br />

The exercise of guardianship in Inclusive Education<br />

Rose Jardim Madureira de Araujo 1<br />

Cláudio Kleina 2<br />

Marcus Vinicius Faria de Araujo 3<br />

Palavras-chave:<br />

Inclusão<br />

Opressão<br />

LIBRAS<br />

Abstract<br />

Resumo<br />

O exercício da tutela na educação inclusiva é o tema do presente trabalho<br />

e está baseado nas políticas inclusivas no ensino de surdos, visando<br />

à capacitação deste no exercício de sua cidadania. O objetivo principal<br />

é o de explicitar a importância do conhecer e do aplicar a cultura surda<br />

como pré-requisito para a construção dos projetos político-pedagógicos<br />

das instituições de ensino em suas gestões inclusivas. A metodologia<br />

utilizada foi a de fazer um contraponto entre a cultura surda e as políticas<br />

educacionais de inclusão vigentes no Brasil. Para o desenvolvimento<br />

de tal abordagem foi feito um paralelo entre as duas faces da<br />

inclusão, a saber: a inclusão opressora e a inclusão libertadora. Concluise<br />

após a pesquisa feita, que as políticas educacionais de inclusão na<br />

realidade produzem uma aculturação do surdo porque desconsideram<br />

a sua cultura e seu potencial construtivo, inventivo e criativo, devido<br />

a um rótulo preconceituoso de deficiência. Por fim, o presente artigo<br />

apresenta sugestões que contribuam para a viabilização de uma educação<br />

construtiva, igualitária e, de fato, inclusiva.<br />

The exercise of guardianship in inclusive education is the theme of this<br />

work and is based on inclusive policies in education of the deaf, aiming<br />

to make him/her able to exercise his/her citizenship. The aim is to explain<br />

the importance of knowing and applying the deaf culture as a requirement<br />

to the construction of the political-pedagogical projects in the teaching<br />

institution inclusive administration. The methodology used aimed to<br />

make a comparison between the deaf culture and the educational politics<br />

of inclusion in Brazil. In order to develop such an approach a parallel<br />

between oppressive inclusion and liberty inclusion were made. The results<br />

of this research show that the inclusion educational politics in fact produce<br />

an acculturation of the deaf because they disregard their culture and their<br />

constructive, inventive and creative potential, due to a preconceived label<br />

of deficiency. Finally this paper presents suggestions that contribute to the<br />

viability of a constructive, equal, and, indeed, inclusive.<br />

1 Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Geraldo Di Biase - UGB. Pós-Graduanda em Educação Inclusiva - LIBRAS pela Faculdade<br />

Educacional da Lapa – FAEL<br />

Key words:<br />

Inclusion<br />

Oppression<br />

LIBRAS<br />

2 Graduado em Sistemas de Informação pela Sociedade Paranaense de Ensino e Informática. Pós-graduado em Formação de Tutores e<br />

Orientadores Acadêmicos em EAD pela Uninter. Pós-graduado em Desenvolvimento em Ambiente WEB pela PUC/PR. Mestre em Educação<br />

pela PUC/PR.<br />

3 Professor do Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong>. Mestre em Planejamento Energético pela UFRJ, Pós-Graduado em Ensino<br />

Superior pelo <strong>UniFOA</strong> e Graduado em Engenharia Química pela UFF.<br />

59<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

04/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


60<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

A Lei Magna do Brasil determina a<br />

igualdade para todos e assegura o direito de<br />

acesso à educação como dever do estado.<br />

Considerando que no ano de 2000, o Censo do<br />

IBGE e o INEP apresentaram que nas grandes<br />

cidades do Brasil, os surdos se organizam por<br />

meio de associações de surdos, tornou-se hipótese<br />

do presente trabalho aferir até que ponto<br />

as escolas e as pessoas que fazem parte delas<br />

estão comprometidas com o desenvolvimento<br />

de habilidades e competências visando à capacitação<br />

do surdo no exercício de sua cidadania<br />

e formação profissional.<br />

O objetivo que emergiu a partir da hipótese<br />

despertada foi o de explicitar a importância<br />

do conhecer e do aplicar a cultura surda<br />

como pré-requisito para a construção dos projetos<br />

político-pedagógicos das instituições de<br />

ensino em suas gestões inclusivas.<br />

A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS<br />

é uma das línguas faladas no Brasil com reconhecimento<br />

oficial do governo brasileiro<br />

pela Lei 10.436/ 2002. O reconhecimento da<br />

LIBRAS inicia um processo de consolidação<br />

de políticas educacionais inclusivas no Brasil,<br />

pois veio reforçar a identidade dos surdos, sua<br />

língua e seu jeito de perceber o mundo.<br />

Como limite final é mostrado um diagnóstico<br />

sobre a efetividade dos projetos políticopedagógicos<br />

na construção do desenvolvimento<br />

e capacitação do surdo visando sua autoconfiança<br />

e formação profissional que irá permitir<br />

plenamente o exercício de sua cidadania.<br />

Ao final do trabalho, percebe-se a existência<br />

de um gap entre o que a Lei estabelece<br />

e o que a prática obtém como resultado.<br />

A metodologia utilizada foi a de fazer um<br />

contraponto entre a cultura surda e as políticas<br />

educacionais de inclusão vigentes no Brasil.<br />

Para o desenvolvimento de tal abordagem foi<br />

feito um paralelo entre as duas faces da inclusão,<br />

a saber: a inclusão opressora e a inclusão<br />

libertadora.<br />

2.<br />

Libras: Uma questão de Cultura<br />

Conhecer a história da cultura surda<br />

vai muito mais além do que reconhecer que<br />

existam leis que os amparam em seus direitos<br />

como cidadãos. Precisamos acima de tudo nos<br />

importar com eles, conviver, incluí-los de fato<br />

na sociedade, de forma que estes se sintam<br />

valorizados e indispensáveis. Nessa leitura,<br />

se faz necessário refletirmos sobre as diversas<br />

faces do universo da educação dos surdos ao<br />

longo de sua trajetória e questionar seus erros<br />

e seus acertos, suas conquistas e seus desafios.<br />

Surge então um questionamento do porquê da<br />

existência de uma política de inclusão tão difícil<br />

de ser operacionalizada na sala de aula, já<br />

que o surdo continua excluído.<br />

2.1.<br />

A Gênesis da Cultura Surda<br />

Ao longo da história, a educação de surdos<br />

evoluiu continuamente, apesar das turbulências,<br />

pois, apresentando sempre oportunidades<br />

e mudanças progressivas em alguns<br />

contextos educacionais, foi passando por caminhos<br />

estreitos e limitados pela cultura ouvinista.<br />

Haja vista a educação de surdos ser sempre<br />

determinada por sujeitos ouvintes, já que<br />

os surdos sempre foram minoria linguística, o<br />

foco central sempre girou em torno da língua.<br />

Isto é: Língua de Sinais ou Língua Oral?<br />

2.1.1. Uma cultura, dois olhares<br />

A cultura surda, em sua origem, pode<br />

ser percebida pelo menos sob dois olhares, a<br />

saber: o olhar histórico sob a cultura surda e<br />

o olhar do sujeito surdo frente à realidade do<br />

mundo oralista.<br />

Sacks (1998, p.27) relata que foi no período<br />

compreendido entre 17<strong>12</strong> e 1789, na<br />

França que surgiu pela primeira vez uma escola<br />

para crianças surdas, onde um esboço da<br />

cultura surda começou a se formar. O método<br />

de ensino dessa escola combinava a língua de<br />

sinais com a gramática francesa, culminando<br />

num acesso efetivo bem sucedido à educação<br />

dos surdos.<br />

Tal método ficou conhecido como Método<br />

de L’Eppée em homenagem ao abade Michel<br />

de L’Eppée que foi mentor do início desse processo<br />

de educação inclusiva. A escola citada<br />

acabou por se transformar no Instituto Francês<br />

de Surdos. Posteriormente, no século XIX, nos<br />

Estados Unidos da América (EUA), segundo<br />

Strobel (2006), surgiu a língua de sinais americana<br />

(ASL) deveras influenciada pela língua


francesa de sinais . Num movimento pioneiro,<br />

Thomas H. Gallaudet e Laurent Clerc fundaram<br />

a primeira escola para surdos nos EUA,<br />

a qual foi a base para a fundação da única<br />

Universidade para Surdo no mundo, hoje conhecida<br />

como Universidade de Gallaudet.<br />

É importante ressaltar que no contexto<br />

histórico dos séculos XVIII e XIX qualquer<br />

tipo de deficiência era naturalmente associada<br />

a misticismo e ocultismo, conforme Mazzotta<br />

(1999, p.<strong>16</strong>) afirmou que “[...] até o século<br />

XVIII, as noções a respeito da deficiência<br />

eram basicamente ligadas a misticismo e a<br />

ocultismo, não havendo base científica para o<br />

desenvolvimento de noções realísticas”.<br />

As políticas educacionais para o surdo foram<br />

grandemente impulsionadas no final do século<br />

XIX, mais precisamente em 1880, com o<br />

advento ocorrido na cidade de Milão, na Itália,<br />

conhecido como I Congresso Internacional de<br />

Professores de Surdos. Naquela oportunidade,<br />

travou-se algo similar a um embate entre<br />

defensores do oralismo e os defensores das<br />

línguas de sinais. Sendo a grande maioria dos<br />

participantes defensores do oralismo, segundo<br />

Lacerda (1998, pp. 68-80), a única oposição<br />

significativa ao oralismo foi apresentada por<br />

Gallaudet, que, entretanto, não foi suficiente<br />

para evitar que o oralismo prevalecesse praticamente<br />

de 1880 até por volta de 1970 (<br />

FILIETAZ, 2006, p.20). Os surdos foram condenados<br />

a abdicar de sua própria língua e forçados<br />

a adaptar-se a cultura ouvinte.<br />

Em 1857, foi fundada, no Brasil, a primeira<br />

escola para surdos: O Instituto dos Surdos-<br />

Mudos, hoje, Instituto Nacional da Educação<br />

de Surdos (INES). Tal iniciativa decorreu do<br />

convite de Dom Pedro II ao professor Huet,<br />

formado no Instituto Francês de Surdo.<br />

Soares (1999 apud FILIETAZ, 2006,<br />

p.21), relata que em 1896 o governo brasileiro<br />

enviou o professor do INES, A.J. de Moura<br />

e Silva, ao Instituto Francês de Surdos visando<br />

avaliar a metodologia oralista indicada no<br />

Congresso de Milão.<br />

O resultado prático dessa avaliação<br />

foi adoção no Brasil do oralismo puro<br />

(OLIVEIRA, 2006 apud FILIETAZ, 2006,<br />

p.22). Isso não significou que o ensino de<br />

LIBRAS tenha sido banido, em sua íntegra,<br />

no Brasil, mas que tenha ficado em uma espécie<br />

de “estágio esporulado”.<br />

No decorrer do séc. XX, diversos estudos<br />

e experiências sobre linguagem, educação e<br />

surdez mostraram grandes brechas no método<br />

oralista, pois este acabava por reforçar que o<br />

surdo na verdade era um ouvinte deficiente. De<br />

certo modo era uma manifestação daquilo que<br />

M.Foucalt (1984, p.28) afirmou em sua obra<br />

intitulada Doença Mental e Psicologia: “É próprio<br />

à nossa cultura dar à doença o sentido do<br />

desvio e ao doente um status que o exclui”.<br />

Segundo Perlin (1997, p.56), ser surdo é<br />

pertencer a um mundo de experiência visual e<br />

não auditiva. Essa afirmativa parece ter sido<br />

inspirada na mobilização da comunidade surda,<br />

que ocorreu a partir de meados de 1960,<br />

cujo objeto era o reconhecimento do surdo<br />

como sujeito social.<br />

2.1.2. O olhar do sujeito surdo<br />

Certamente que uma criança não nasce<br />

surda-muda: elas são surdas ou ouvintes.<br />

Segundo a Secretaria de Educação Especial<br />

do MEC(Brasil, 2005), as competências e deficiências<br />

provenientes dos diferentes níveis<br />

de surdez incluem as seguintes características:<br />

surdez leve, surdez moderada, surdez severa<br />

e surdez profunda. Como surdez leve entende-se<br />

que a mesma ocorre quando a criança é<br />

capaz de perceber os sons da fala adquire e desenvolve<br />

linguagem oral espontaneamente e o<br />

problema geralmente é descoberto tardiamente.<br />

Dificilmente, nesse caso, há necessidade<br />

de uso de aparelho de amplificação, uma vez<br />

que a audição é próxima do nível considerado<br />

normal; Na surdez moderada, a criança pode<br />

apresentar algum atraso no desenvolvimento<br />

da fala e da linguagem; apresenta também<br />

alterações articulatórias (trocas na fala) por<br />

não perceber todos os sons com clareza, tem<br />

dificuldade em perceber a fala em ambientes<br />

ruidosos; apresentam desatenção e dificuldade<br />

no aprendizado da leitura e da escrita.<br />

Na surdez severa, a criança apresenta<br />

dificuldade em adquirir a fala e a linguagem<br />

espontaneamente, podendo, porém, adquirir<br />

vocabulário próprio de seu contexto familiar<br />

e, por fim, a surdez profunda quando a criança<br />

dificilmente desenvolverá linguagem oral espontaneamente;<br />

responde auditivamente apenas<br />

a sons muitos intensos (vibrações). Apesar<br />

dos níveis de surdez, devemos observar a rea-<br />

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lidade inicial do ser humano em suas primei-<br />

ras experiências sociais.<br />

Ao chorar, o bebê prova que tem cordas<br />

vocais; ou seja, ele emite sons. Na medida em<br />

que vai desenvolvendo seu relacionamento<br />

com os pais, vai observando e respondendo<br />

aos estímulos recebidos. Mas se não puder<br />

ouvir a voz que o estimula não haverá resposta<br />

de aprendizado oral, pois não pode imitar<br />

algo que não foi percebido. Por isso não fala.<br />

Já uma criança ouvinte vai reproduzir o que<br />

ouviu. Para ilustrar melhor o dilema enfrentado<br />

pelo sujeito surdo ,na construção da sua<br />

identidade, citamos um exemplo dado por<br />

Santana, Bergamo (2005 apud FAEL, apostila<br />

de Cultura Surda, 2010, p.3).<br />

Paula: // escreve “ pensei que eu era a<br />

única surda no mundo”// porque ouvinte<br />

fala. Eu olhava para a sua boca e não<br />

compreendia. Não sabia por que eu não<br />

podia falar. Ficava decepcionada // escreve<br />

“decepcionada”// Tentei descobrir<br />

por que eu não podia falar (...) Surdo<br />

nasce. A mãe ensina a falar, a estudar.<br />

Não sabe sinais. Não pode fazer sinais.<br />

Fazer sinais implica ser acomodado e<br />

não falar. Assim, ele cresce sem conhecer<br />

sinais sem nunca ter encontrado outro<br />

surdo. Um dia, ele vai passando pela<br />

rua e encontra um surdo fazendo sinais.<br />

Ele olha para os movimentos das mãos e<br />

estranha. Pergunta ao surdo: “você não<br />

ouve?”. “Não. Sou surdo. Todos aqui<br />

são.” “Eu também sou. Eu não escuto.<br />

Eu só falo. “ Vê os sinais e pergunta: “O<br />

que é isso? Eu não sei. Eu queria aprender”.<br />

Ele começa a aprender língua de<br />

sinais. Depois, em casa, com a família,<br />

não se sente bem em falar. Quer aprender<br />

a língua de sinais. Como podemos<br />

ver é imprescindível o envolvimento<br />

dos pais na identidade cultural de seus<br />

filhos, a família, a escola, as instituições,<br />

todos devem se incluir na cultura<br />

do outro para haver troca de experimentações<br />

e aprendizagem.<br />

Daí a importância de famílias de surdos<br />

que possuam cultura ouvinte perceberem, o<br />

mais rápido possível, a surdez, respeitando a<br />

possibilidade de comunicação do filho com<br />

outra cultura, a saber: a cultura surda. Além<br />

disso, é mister introduzir o filho surdo na comunidade<br />

surda local o quanto antes, bem<br />

como os próprios familiares participarem dessa<br />

comunidade de modo a fortalecer vínculos<br />

familiares e libertarem-se de preconceitos.<br />

2.2.<br />

Língua e Identidade Surda<br />

A linguagem é essencial para a construção<br />

da identidade, pois é através dela que o<br />

homem se percebe e percebe o outro. A leitura<br />

do sujeito em suas percepções do mundo processa<br />

e fundamenta sua cultura. Assim, uma<br />

criança surda precisa se integrar o mais rápido<br />

possível à Comunidade Surda de sua cidade<br />

para poder ficar com um bom desempenho na<br />

língua de sinais dessa comunidade. Isso facilitará<br />

a compreensão da outra língua em sua<br />

modalidade escrita e quando possível na sua<br />

modalidade falada. É mister então que seja<br />

dada à criança surda, a possibilidade plena de<br />

interação social, alicerçada no fortalecimento<br />

de sua identidade surda. Sendo assim, a Libras<br />

é a ferramenta essencial para o bom desempenho<br />

das atividades do sujeito surdo.<br />

Existe um mito de que as línguas de sinais<br />

são somente um conjunto de gestos que interpretam<br />

as línguas orais. Assim como existe também<br />

o mito de que as línguas de sinais são iguais<br />

em todo o mundo, o que não é verdade, pois as<br />

pessoas surdas de cada parte do mundo têm sua<br />

língua de sinais, assim como a língua oral. Os<br />

usuários de qualquer língua podem expressar<br />

seus pensamentos de formas variadas, assim, a<br />

pessoa que fala uma determinada língua utilizaa<br />

de acordo com o contexto, portanto, o modo<br />

de se falar com seus amigos não é o mesmo<br />

de falar com estranhos. Todas as línguas possuem<br />

diferenças quanto ao seu uso em relação<br />

ao grupo social, ao gênero e a idade. A língua<br />

de sinais, embora seja de modalidade diferente<br />

(gestual visual) também possui essas características<br />

em sua estrutura, porque elas também são<br />

compostas pelos níveis descritos acima.<br />

Uma peculiaridade da língua de sinais<br />

é que embora ela seja diferente da língua de<br />

sinais de outro país, os surdos têm maior facilidade<br />

em comunicar-se com os surdos de<br />

outros países, fato que não acontece entre os<br />

falantes de línguas orais,os quais necessitam<br />

de um tempo bem maior para o entendimento.


O fato de os surdos terem habilidades e<br />

competências para o desenvolvimento e o aproveitamento<br />

de gestos, bem como a sensibilidade<br />

e percepção das expressões faciais e corporais<br />

das pessoas, faz com que a aprendizagem<br />

seja de fácil entendimento. Quando uma pessoa<br />

aprende uma língua, apreende também os hábitos<br />

culturais e os contextos aos quais certas expressões<br />

estão vinculadas. Os comportamentos<br />

das pessoas, diante de eventos diversos, produzem<br />

diferentes modalidades comunicativas.<br />

Segundo a linguista surda Carol Padden<br />

(1989, p.5) existe uma diferença entre cultura<br />

e comunidade. Para ela, “ uma cultura é um<br />

conjunto de comportamentos aprendidos de<br />

um grupo de pessoas que possuem sua própria<br />

língua, valores, regras de comportamento e tradições”.<br />

Ao passo que “ uma comunidade é um<br />

sistema social geral, no qual as pessoas vivem<br />

juntas, compartilham metas comuns e partilham<br />

certas responsabilidades umas com as outras”.<br />

Acrescente-se a esse fato, ser necessário, a observância<br />

na dimensão espacial, isto é: a forma<br />

de ocupação de um grupo de pessoas, via de<br />

regra, faz com que comecem a emergir objetivos<br />

comuns e consequentemente, estratégias<br />

comuns para o alcance de tais objetivos.<br />

Em uma comunidade surda é possível a<br />

interação e a presença de ouvintes. Dessa possibilidade<br />

surgem expectativas promissoras em<br />

relação ao compartilhamento de culturas e metas<br />

comuns de seus membros. Sendo assim, é<br />

possível inferir que uma comunidade surda seja<br />

mais aberta para o novo do que a cultura surda.<br />

Obviamente que ser uma pessoa surda não quer<br />

dizer que esta faça parte de uma cultura e de<br />

uma comunidade surda. Isso ocorre devido ao<br />

fato de que a maioria dos surdos, descendentes<br />

de ouvintes, em sua maioria, não aprendem sua<br />

língua e não convivem com outros surdos nas<br />

associações de surdos. Por conseguinte, formata-se<br />

aí uma crise de identidade em que o surdo<br />

recebe o rótulo de “deficiente auditivo”.<br />

O termo deficiente atribui ao surdo um<br />

jeito de ser, de ver e perceber o mundo de forma<br />

incompleta e inaceitável aos olhos de uma<br />

outra cultura: a cultura ouvinte. Estabelecese,<br />

desse modo, a encarnação de uma pedagogia<br />

opressora, que pretende eternizar o<br />

domínio sobre as minorias, mutatis mutantis,<br />

o sistema de castas existentes em algumas<br />

culturas do mundo.<br />

3.<br />

As Faces da Inclusão<br />

O termo inclusão tem sua origem na expressão<br />

inglesa “full inclusion” e implica, portanto,<br />

em algo pleno, completo. Não é possível<br />

pensar em inclusão e praticá-la de forma<br />

incompleta. Sendo assim, a inclusão deve ser<br />

vista seja através de sua face legal, seja através<br />

de sua face operacional. Entenda-se como face<br />

legal o conjunto de instrumentos regulatórios<br />

que doutrinam o sistema de educação especial;<br />

como face operacional, a prática daquilo que<br />

está estabelecido na legislação.<br />

3.1.<br />

A Face Legal<br />

Devido à tendência natural do homem a<br />

excluir tudo aquilo que não compreende, a inclusão<br />

social necessitou de adaptações legais<br />

em seus diversos níveis a fim de nortear todo<br />

processo construtivo. Desse modo, na esfera<br />

internacional, surgiu, em 1948, a Declaração<br />

Universal dos Direitos Humanos, que fundamentalmente<br />

apregoa que todos somos iguais<br />

perante a Lei sem distinção, possuindo os<br />

mesmos direitos inclusive o da instrução.<br />

A Declaração de Salamanca, em 1994,<br />

na Espanha, é outro instrumento norteador em<br />

âmbito internacional, constituindo-se em um<br />

dos mais importantes compromissos em relação<br />

a direitos educacionais. Em tal documento,<br />

encontramos a declaração de que as escolas<br />

regulares inclusivas seriam o meio mais eficaz<br />

de combater a exclusão de crianças cujas<br />

características diferem daquelas consideradas<br />

normais. No âmbito nacional, em 1988, temos<br />

a Constituição Federal Brasileira que em seu<br />

artigo 208 diz:<br />

O dever do Estado com a educação será<br />

efetivado mediante a garantia de:<br />

I - ensino fundamental obrigatório e<br />

gratuito, assegurada, inclusive, sua<br />

oferta gratuita para todos os que a ele<br />

não tiveram acesso na idade própria;<br />

II - progressiva universalização do ensino<br />

médio gratuito;<br />

III - atendimento educacional especializado<br />

aos portadores de deficiência,<br />

preferencialmente na rede regular de<br />

ensino;<br />

IV - atendimento em creche e pré-es-<br />

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cola às crianças de zero a seis anos de<br />

idade;<br />

V - acesso aos níveis mais elevados de<br />

ensino, da pesquisa e da criação artística,<br />

segundo a capacidade de cada um;<br />

Vl - oferta de ensino noturno regular<br />

adequado às condições do educando;<br />

VII - atendimento ao educando no ensino<br />

fundamental através de programas<br />

suplementares de material didáticoescolar,<br />

transporte, alimentação e assistência<br />

à saúde.<br />

§ 1° O acesso ao ensino obrigatório e<br />

gratuito é direito público subjetivo;<br />

§ 2° O não-oferecimento do ensinoobrigatório<br />

pelo Poder Público, ou sua<br />

oferta irregular importa responsabilidade<br />

da autoridade competente;<br />

§ 3° Compete ao Poder Público<br />

recensear os educandos no ensino<br />

fundamental, fazer lhes a chamada<br />

e zelar, junto aos pais ou responsáveis,<br />

pela frequência à escola.<br />

Outro instrumento normativo de âmbito<br />

nacional é a Lei de Diretrizes e Bases<br />

da Educação – LDBN, que, através da lei<br />

9394/96, determinou que a educação especial,<br />

sendo uma modalidade de educação, deve ser<br />

oferecida, preferencialmente, na rede regular<br />

de ensino aos alunos com necessidades educacionais<br />

especiais.<br />

3.2.<br />

A Face Operacional<br />

Nesse momento de transição metodológica<br />

que é sugerido por uma pedagogia inclusiva<br />

surge a necessidade de conhecer a cultura do<br />

povo surdo, suas aspirações, suas metas sua<br />

diferença cultural e linguística.<br />

Skutnabb-Kangas (1994, p.152) apresenta<br />

os direitos humanos linguísticos:<br />

Todos os seres humanos têm direito de<br />

identificarem-se com uma língua materna<br />

e de serem aceitos e respeitados<br />

por isso.<br />

Todos têm o direito de aprender a língua<br />

materna completamente, nas suas<br />

formas oral (quando fisiologicamente<br />

possível) e escrita (pressupondo que a<br />

minoria linguística seja educada na sua<br />

língua materna).<br />

Todos têm o direito de usar sua língua<br />

materna em todas as situações oficiais<br />

(inclusive na escola);<br />

Qualquer mudança que ocorra na<br />

língua materna deve ser voluntária<br />

e nunca imposta.<br />

A LIBRAS é a língua de sinais natural<br />

dos surdos brasileiros com estruturas gramaticais<br />

necessárias e é reconhecida pela linguística.<br />

Pesquisas já comprovaram que quanto<br />

mais cedo o surdo entrar em contato com<br />

sua língua natural - a LIBRAS - mais eficaz<br />

e facilitada será sua integração na sociedade.<br />

Segundo o IBGE (Censo de 2000), para cada<br />

100 mil homens em 2000, 103,4 eram surdos,<br />

enquanto entre as mulheres a relação era de<br />

92,7. Em 1991, esses valores correspondiam a<br />

<strong>12</strong>5,1 e 111,5, respectivamente. A incidência<br />

da surdez em 2000 era mais comum nos estados<br />

de Piauí, Paraíba, Pernambuco e Sergipe<br />

(Nordeste), no Tocantins (Norte) e em Goiás<br />

(Centro-Oeste).<br />

É notório que a presença da comunidade<br />

surda no Brasil é mais concentrada nos grandes<br />

centros onde os surdos se organizam por<br />

meio das associações onde se estabelecem os<br />

vínculos culturais.<br />

A face operacional nos mostra que devemos<br />

olhar a inclusão e reconhecer que, ao se<br />

pensar em incluir o outro, é fundamental estar<br />

disposto a se incluir na realidade da cultura<br />

surda para haver o processo de troca, gerador<br />

de aprendizagem efetiva. Desse modo, a face<br />

operacional da inclusão pode ser vista por dois<br />

lados distintos, como se fora uma moeda; de<br />

um lado da moeda, se apresenta uma inclusão<br />

opressora, e de outro lado da mesma moeda,<br />

uma inclusão libertadora, conforme podemos<br />

observar na figura 1.<br />

Figura 1: Os olhares para a inclusão.<br />

Fonte: Ilustração proposta por ARAUJO, Rose J. M. de, <strong>2011</strong>.


Percebe-se assim que uma política educa-<br />

cional inclusiva necessita ser verificada, avaliada<br />

periodicamente de modo a sofrer ajustes<br />

que corrijam eventuais distorções que somente<br />

aparecem no transcorrer da face operacional.<br />

A existência de dois olhares diametralmente<br />

opostos para o mesmo desafio, que é a<br />

inclusão do sujeito surdo, demonstra que ações<br />

corretivas tutoriais devem ser tomadas de modo<br />

a fazer com que a inclusão opressora seja devidamente<br />

banida e dê lugar à inclusão libertadora,<br />

construída sobre os dois fundamentos, a<br />

saber: a cultura surda e a cultura ouvinte.<br />

3.2.1. A inclusão opressora<br />

Chamamos aqui de inclusão opressora<br />

àquela em que sugere que o surdo deve migrar<br />

para outra cultura que não é de sua natureza<br />

linguística. Sobre a questão da opressão Freire<br />

(1996, p.67) disse:<br />

“O respeito à autonomia e à dignidade<br />

de cada um é um imperativo ético e não<br />

um favor que podemos ou não conceder<br />

uns aos outros. (...) É nesse sentido<br />

também que a dialogicidade verdadeira,<br />

em que os sujeitos dialógicos aprendem<br />

e crescem na diferença, sobretudo, no<br />

respeito a ela, é a forma de estar sendo<br />

coerentemente exigida por seres que,<br />

inacabados, assumindo-se como tais, se<br />

tornam radicalmente éticos. É preciso<br />

deixar claro que a transgressão da eticidade<br />

jamais pode ser vista como virtude,<br />

mas como ruptura com a decência.<br />

O que quero dizer é o seguinte: que<br />

alguém se torne machista, racista, classista,<br />

sei lá o quê, mas se assuma como<br />

transgressor da natureza humana. Não<br />

me venha com justificativas genéticas,<br />

sociológicas ou históricas ou filosóficas<br />

para explicar a superioridade da branquitude<br />

sobre a negritude, dos homens<br />

sobre as mulheres, dos patrões sobre os<br />

empregados. Qualquer discriminação é<br />

imoral e lutar contra ela é um dever por<br />

mais que se reconheça a força dos condicionamentos<br />

a enfrentar.”<br />

Desse modo, é preciso transgredir esse<br />

processo opressor que inclui o surdo na es-<br />

cola para o excluir em sala de aula, gerando<br />

sentimentos de menos valia, desprezando e<br />

considerando a identidade surda inferior à<br />

identidade ouvinte. Segundo Perlin (1998,<br />

apud APOSTILA DE CULTURA SURDA<br />

DA FAEL, 2010, p. 1) os defensores da língua<br />

de sinais para os surdos afirmam que é só de<br />

posse desta, considerada “natural”, adquirida<br />

em qualquer idade, que o surdo construirá uma<br />

identidade surda, já que ele não é ouvinte.<br />

3.2.2. A Inclusão libertadora<br />

O verso da moeda ao qual chamamos de<br />

inclusão libertadora está fundamentado no<br />

fato de o sujeito surdo, assim como o sujeito<br />

ouvinte, poder se expressar com confiança em<br />

sua própria identidade, por meio de uma comunhão<br />

com outras línguas. Essa comunhão<br />

com outras línguas pode ser vista como uma<br />

forma de libertação do modelo de inclusão<br />

existente, apresentando um sentido construtivista<br />

e interacional, conforme propuseram<br />

Piaget em 1998 e Vigotsky em 2005.<br />

A inclusão libertadora, portanto, oportuniza<br />

a emancipação do sujeito surdo ante a<br />

opressão de um sistema inclusivo raso e embaçado.<br />

Tal emancipação se dá na migração<br />

da teoria legal para a intervenção prática no<br />

cotidiano de sala de aula.<br />

Fonseca (2007) afirma que a proposta de<br />

Paulo Freire sempre foi pautada nas experiências<br />

do ambiente extra escolar de cada aluno,<br />

como forma de estimular novas práticas educacionais.<br />

Bello(1993) afirmou que para Paulo<br />

Freire, o diálogo seria o elemento chave para<br />

acionar a efetiva troca entre professor e aluno.<br />

Esse diálogo, quando consideramos a relação<br />

surdo-ouvinte pode ser expresso como a necessidade<br />

do bilinguismo. Para a realização da<br />

inclusão libertadora, é necessário então que as<br />

políticas educacionais e inclusivas admitam a<br />

necessidade de amalgamar a cultura ouvinte à<br />

cultura surda. Sobre isso trataremos no próximo<br />

capítulo.<br />

4.<br />

Políticas Públicas para a<br />

Educação Inclusiva<br />

O estabelecimento de políticas públicas<br />

para a educação inclusiva sinaliza<br />

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para o reconhecimento da necessidade<br />

de se tutelar o sujeito surdo de modo a,<br />

verdadeiramente, inseri-lo na sociedade.<br />

Nesse capítulo, discutiremos a efetividade<br />

das políticas públicas para a educação inclusiva,<br />

abordando a evidente defasagem<br />

entre recursos humanos capacitados para<br />

facilitar a construção educativa e as adaptações<br />

curriculares necessárias à sustentação<br />

educacional do sujeito tutelado.<br />

Segundo Frey (2000, pp. 232-233) o termo<br />

política pública é uma referência direta ao<br />

conjunto de leis, regulamentos, diretrizes, planos,<br />

orçamentos e demais decisões originadas<br />

no seio do poder público, tendo em vista o alcance<br />

da satisfação das demandas sociais.<br />

A gestão escolar pautada nessas diretrizes<br />

tem obrigação de valorizar a língua de sinais<br />

em seus currículos, proporcionando ofertar ao<br />

surdo, métodos de ensino de natureza visual<br />

e espacial em que o oralismo é substituído<br />

pelo letramento bilíngue. É importante ressaltar<br />

que as políticas públicas voltadas para<br />

a educação, notadamente a educação inclusiva,<br />

precisa considerar as diferentes realidades<br />

de um país de dimensões continentais como o<br />

Brasil. Somos um povo com alto nível de miscigenação<br />

com grandes diversidades culturais<br />

em todas as regiões do Brasil. Além disso, as<br />

políticas públicas devem considerar a defasagem<br />

entre recursos humanos capacitados para<br />

facilitar a construção educativa e adaptações<br />

curriculares.<br />

Quanto à inclusão em sala de aula, a obra<br />

“Bilinguismo” (FAEL, 2010, p. 4) cita que:<br />

“Com a percepção dos estudiosos<br />

acerca do ensino para surdos, surgiram,<br />

paulatinamente, pontos de vista<br />

mais coerentes com a realidade dos<br />

alunos surdos. Passou-se a reconhecer<br />

que o mais correto é que o ensino<br />

seja oferecido por meio de uma<br />

linguagem visual-espacial (língua<br />

de sinais). É sabido que as escolas<br />

devem desenvolver esta metodologia<br />

de ensino em turmas homogêneas,<br />

para que os alunos possam estar<br />

no mesmo grau de aprendizado,<br />

enfrentando as mesmas situações e<br />

aprendendo a vencê-las. Em contrapartida,<br />

a heterogeneidade (surdos<br />

e ouvintes) nas turmas faz com que<br />

o surdo não acompanhe a maioria<br />

ouvinte, ficando sempre para trás e<br />

se auto julgando impotente diante<br />

das adversidades encontradas em<br />

seu caminho. Para que essa realidade<br />

seja mudada, é importante que<br />

os professores dominem a Libras,<br />

pois assim, terão trabalho e relação<br />

escolar efetiva com seus alunos.”<br />

Figura 2: Cobertura das Políticas Públicas ao<br />

sujeito tutelado.<br />

A figura 2 ilustra as diferentes camadas<br />

de cobertura das Políticas Públicas para a sustentação<br />

educacional do sujeito tutelado.<br />

Fonte: Ilustração proposta por ARAUJO, Rose J. M. de, <strong>2011</strong>.<br />

Um exemplo de sucesso na prática inclu-<br />

siva, relatado por QUADROS (2006, pp. 154-<br />

155), ocorria no Estado de Santa Catarina, o<br />

qual contratava professores de Libras para<br />

atuarem nas escolas. Os depoimentos dos alunos<br />

em relação à presença do professor surdo<br />

eram de muita satisfação. A própria professora<br />

reconhecia o valor desse momento, pois<br />

observava o quanto os alunos desfrutavam da<br />

relação com esse professor. A prática, entretanto,<br />

verificou que, sendo poucos os instrutores<br />

e/ ou professores surdos contratados para<br />

aquela tarefa, eles acabavam reduzindo o seu<br />

envolvimento com cada grupo. Dessa forma,<br />

continuava-se a limitar o acesso dos alunos ao<br />

conhecimento em língua de sinais, pois o tempo<br />

era tão escasso para esta experiência que o<br />

professor ou interprete dominava tão pouco a<br />

língua, que o aluno continuava a não ter modelos<br />

linguísticos adequados, comprometendo,<br />

com isto, o seu processo de aquisição. Além<br />

disso, esse mesmo instrutor/professor teria a<br />

função de preparar o professor e o intérprete


de língua de sinais, bem como ministrar os<br />

cursos para familiares.<br />

Nos cursos de capacitação de língua de<br />

sinais, todos os professores e intérpretes tiveram<br />

a oportunidade de ter contato com instrutores<br />

surdos, mas estamos referindo, aqui, o<br />

trabalho sistemático que envolve a periodicidade<br />

no próprio ambiente escolar. Esse esforço<br />

estaria previsto, mas não foram contratados<br />

os instrutores ou professores surdos para assumir<br />

essas funções (QUADROS, 2006, p. 155).<br />

Veja que não houve inclusão de professores<br />

nem funcionários surdos no ambiente escolar.<br />

Isso viria reforçar a autoestima do sujeito surdo,<br />

bem como possibilitar a inclusão de outros<br />

surdos na sociedade, e ainda, iria oportunizar<br />

aos ouvintes o conhecimento e aquisição de<br />

uma nova experiência social e inclusiva. O<br />

professor de língua de sinais assume o papel<br />

do integrador nas escolas, com a tarefa de<br />

orientar os professores e a comunidade escolar<br />

quanto à língua de sinais e às formas de<br />

ensinar e aprender dos alunos surdos. É uma<br />

tarefa que está relacionada diretamente com os<br />

próprios surdos.<br />

Assim, os professores surdos, formados<br />

nas áreas específicas, conseguem passar as experiências<br />

visuais de uma forma diferenciada.<br />

O fato de ser surdo já traz uma vivência das<br />

relações com surdos para alunos de ambos os<br />

contextos.<br />

Stainback & Stainback (1999, pp. 22-31)<br />

afirma que a política de inclusão educativa<br />

embora seja um vetor para o ensino de alunos<br />

deficientes, a efetiva implantação da mesma<br />

no Brasil ainda carece de muitos avanços.<br />

Concordamos com o disposto em BRASIL<br />

(2006 c, p.29) que diz:<br />

Políticas educacionais deveriam levar<br />

em total consideração as diferenças e<br />

situações individuais. A importância da<br />

linguagem de signos como meio de comunicação<br />

entre os surdos, por exemplo,<br />

deveria ser reconhecida e provisão<br />

deveria ser feita no sentido de garantir<br />

que todas as pessoas surdas tenham<br />

acesso a educação em sua língua nacional<br />

de signos. Devido às necessidades<br />

particulares de comunicação dos surdos<br />

e das pessoas surdas/cegas, a educação<br />

deles pode ser mais adequadamente<br />

provida em escolas especiais ou classes<br />

especiais e unidades em escolas regulares.<br />

(BRASIL, 2006c, p. 29).<br />

Visando exemplificar o alcance que a<br />

política pública inclusiva tem permitido, tomemos<br />

como o exemplo alguns programas<br />

televisivos diversos que, ao iniciarem sua programação,<br />

informam a censura em Libras e ao<br />

longo de seu conteúdo nada mais é traduzido<br />

para os surdos. Outro exemplo que podemos<br />

levantar é o fato que muitas vezes o intérprete<br />

fica sem ter como atuar em competências de<br />

ordem pedagógicas que não são suas.<br />

Existem vários problemas que surgem<br />

em sala de aula que não caberia na função do<br />

intérprete, tais como: apresentar informações<br />

pedagógicas a respeito do desenvolvimento<br />

do aluno, realizar atividade extraclasse, acompanhar<br />

e disciplinar os alunos. Essas práticas<br />

acabam reforçando a exclusão, uma sala dividida,<br />

em que se apresenta um “professor<br />

- intérprete”, que dá sua aula para os surdos<br />

(minoria) independente do outro professor que<br />

dá sua aula para os ouvintes (maioria), criando<br />

dois grupos que não interagem entre si.<br />

4.1.<br />

A Tutela do Estado<br />

As políticas públicas educacionais e inclusivas<br />

no Brasil estão amparadas em pelo<br />

menos dois grandes pilares, a saber: o Decreto<br />

no 5.626, de 22 de dezembro de 2005 e a Lei no <strong>12</strong>.319 de 1º de setembro de 2010.<br />

O Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de<br />

2005 regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril<br />

de 2002, que reconhece a Libras como meio legal<br />

de comunicação e estabelece, entre outras<br />

coisas, a obrigação de o poder público tutelar a<br />

formação de intérpretes de língua de sinais.<br />

Já a Lei no <strong>12</strong>.319, de 1º de setembro de<br />

2010, regulamenta a profissão de tradutor e intérprete<br />

da língua brasileira de sinais – Libras.<br />

Essa tem sido então a base da tutela do<br />

Estado para promover a inclusão do sujeito surdo<br />

na escola regular. Essa é, sem dúvida, uma<br />

iniciativa louvável do ponto de vista estrutural,<br />

pois valoriza a função do profissional intérprete<br />

de língua de sinais. Sem esse reconhecimento<br />

instalava-se um remendo onde o intérprete funcionava<br />

desvinculado da instituição de ensino<br />

e, por conseguinte, dos projetos político peda-<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

gógicos das instituições onde era solicitado.<br />

Isso demonstrava que o compromisso prático<br />

das escolas visava mais o cumprimento da lei<br />

do que viabilizar as necessidades específicas<br />

dos alunos surdos. A partir da Lei no <strong>12</strong>.319<br />

de 1º de setembro de 2010, oportuniza-se a admissão<br />

desses profissionais, possibilitando o<br />

alcance da prática inclusiva. Isso se dá devido<br />

à forma mais prática e eficiente de oportunizar<br />

ao intérprete conviver com os demais docentes<br />

proporcionando uma genuína interdisciplinaridade,<br />

dando maior chance de sucesso ao projeto<br />

político pedagógico da escola.<br />

Entretanto bias ocorrem na execução dessa<br />

tutela devido ao fato do sujeito surdo continuar<br />

a ser rotulado como deficiente, desconsiderando<br />

a existência de sua cultura. Tal prática fomenta<br />

uma insustentabilidade inclusiva revelando um<br />

perverso sistema educacional opressor que, em<br />

tese, considera iguais todos os indivíduos, mas<br />

na prática ele reforça a desigualdade.<br />

4.2. Adaptações curriculares no contexto<br />

Da Tutela<br />

Freire (1987) afirma que a violência dos<br />

opressores, que os faz desumanizados, não<br />

instaura outra vocação: a do ser menos. Isto<br />

é: quando a práxis da tutela da educação inclusiva<br />

pretende que se alcance “o ser mais”,<br />

promovendo o sujeito surdo a patamares superiores<br />

pelo acesso comum aos conteúdos<br />

curriculares; na realidade essa mesma práxis,<br />

de forma perversa, impõe aos sujeitos surdos<br />

a sensação de “ser menos”, que mais cedo ou<br />

mais tarde, os incentivará a se rebelarem contra<br />

quem os fez menos.<br />

A adaptação curricular deve expressar a<br />

necessidade de confluência das culturas ouvinte<br />

e surda e não se materializar como uma<br />

benesse ao deficiente. Tal confluência deve<br />

respeitar e possuir simetria para fazer com que<br />

o sujeito ouvinte interaja com a cultura surda<br />

e o sujeito surdo interaja com a cultura ouvinte.<br />

Assim sendo, certamente alcançaremos um<br />

tipo de cultura elevada, epistêmica e ética tanta<br />

intratemporal quanto intertemporalmente.<br />

5.<br />

Considerações Finais<br />

É notória a necessidade de uma reforma<br />

nas políticas públicas de educação inclusiva,<br />

que passem a limpo os projetos político-pedagógicos<br />

das instituições de ensino, de modo a<br />

introduzir novos paradigmas para o exercício<br />

da tutela da educação inclusiva. Ao longo da<br />

avaliação da trajetória histórica da educação<br />

inclusiva, foi possível perceber que as oportunidades<br />

de desenvolvimento cognitivo do sujeito<br />

surdo sempre estiveram na dependência<br />

da ditadura da cultura ouvinte. A desconsideração<br />

da relevância da cultura surda é perversa e<br />

opressora, estabelecendo assim, uma ordem em<br />

que o potencial construtivo, inventivo e criativo<br />

do surdo é sufocado por um tipo de pedagogia<br />

bancária, a qual parece se importar muito mais<br />

com estatísticas do que resultados práticos.<br />

O rótulo preconceituoso de deficiência,<br />

então, precisa ser revisto, transformado por<br />

meio de ações conjuntas entre as duas culturas:<br />

ouvinte e surda. Nesse sentido, é importante<br />

ressaltar que tais ações não devem ser<br />

apenas uma sobreposição de valores, mas uma<br />

sinergia de culturas.<br />

Com vistas a contribuir para a viabilização<br />

de uma educação verdadeiramente construtiva,<br />

igualitária e, de fato, inclusiva, sugerese<br />

que a cultura surda passe a fazer parte do<br />

interesse da cultura ouvinte. Obviamente, que<br />

as autoridades competentes precisam agir desenvolvendo<br />

planos e programas que fomentem<br />

o interesse dos ouvintes para esta cultura<br />

oprimida e oculta. É claro que tais planos e<br />

programas deverão suceder a formulação de<br />

políticas públicas educacionais inclusivas<br />

calcadas numa concepção problematizadora<br />

e participativa em que o povo surdo seja<br />

ouvido e inserido nesse processo libertador de<br />

construção social.


6.<br />

1.<br />

2.<br />

Referências<br />

BELLO, José L P. de.. E uma nova filosofia<br />

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3. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da<br />

Educação Nacional. Lei no 9394, de 20<br />

de dezembro de 1996.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

7.<br />

8.<br />

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28. VYGOTSKY, L.S. Pensamento e<br />

linguagem. Tradução: Jefferson Luiz<br />

Camargo. 3. ed. São Paulo: Martins<br />

Fontes, 2005.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

Marcus Vinicius Faria de Araujo<br />

marcus.araujo@foa.org.br<br />

Rua 18-B, n° 43, sala 104,<br />

Vila Santa Cecília - Volta Redonda - RJ<br />

CEP: 27260-100.<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />

ARAUJO, Rose Jardim Madureira de; KLEINA, Cláudio; ARAUJO, Marcus Vinicius Faria de. O exercício da tutela na Educação Inclusiva. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda,<br />

Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:


Desenvolvimento da competência comunicativa: um processo de coconstrução<br />

de conhecimento sobre a comunicação humana<br />

Developing communicative competence: a co-construction process of knowledge<br />

about human communication<br />

Luciana Leitão da Silva 1<br />

Palavras-chave:<br />

Coconstrução<br />

Interação<br />

Estratégia<br />

Abstract<br />

Resumo<br />

O propósito deste trabalho é averiguar o processo de desenvolvimento<br />

da competência comunicativa de alunos de inglês como língua estrangeira<br />

segundo a implementação de uma série de atividades que visam<br />

a coconstrução de conhecimento sobre a interação e comunicação humanas<br />

(Fabrício, 1996; Hall, 1993). Os dados gerados são sobre um<br />

trabalho de pesquisa-ação (Moita Lopes, 2003) encaminhado junto a<br />

alunos intermediários participantes de um projeto de ensino de idiomas<br />

em uma universidade do Rio de Janeiro. Os resultados mostram que é<br />

possível que alunos de nível intermediário possam interagir e produzir<br />

conhecimento em inglês apesar de seu repertório linguístico limitado<br />

quando se dão conta de que há mais em jogo num diálogo do que meras<br />

estruturas sintáticas e lexicais.<br />

This article discusses the process of development of the communicative<br />

competence among English students about the co-construction of<br />

knowledge about the human interaction and communication (Fabrício,<br />

1996; Hall, 1993). The data generated result from an action-research<br />

project with intermediate students (Moita Lopes, 2003). This project<br />

aims to offer affordable foreign language learning for students and is<br />

located in a university in Rio de Janeiro. The results show that it is<br />

possible that intermediate students can interact and construct knowledge<br />

in English despite their limited linguistic repertoire when they become<br />

aware that there is more at stake in a dialogue than just syntactic and<br />

lexical structures.<br />

Key words:<br />

Co-construction<br />

Interaction<br />

Strategy<br />

1 Doutoranda em Linguística Aplicada, Mestre em Linguística Aplicada - UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Especialista em Literaturas<br />

de Língua Inglesa - UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Graduada em Letras (Português/Inglês) UFRJ – Universidade Federal do Rio<br />

de Janeiro.<br />

71<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

01/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


72<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

Desenvolver a competência comunicati-<br />

va de aprendizes de uma língua estrangeira,<br />

neste caso o inglês, envolve processos interacionais<br />

e comunicacionais, visto que, durante<br />

uma aula de língua estrangeira, doravante LE,<br />

o professor dialoga constantemente com seus<br />

alunos seja sobre a gramática, sobre um texto<br />

ou sobre um tema específico. Entretanto, grande<br />

parte dos alunos, e até alguns professores,<br />

acreditam que, para que ocorra um adequado<br />

desenvolvimento da competência comunicativa,<br />

principalmente da habilidade oral, os<br />

alunos devem possuir muito domínio do nível<br />

sistêmico da LE a fim de que eles possam se<br />

comunicar. Essa é uma crença forte que faz<br />

com que as atividades de conversação nos<br />

níveis iniciantes sejam submetidas a um alto<br />

grau de controle temático, vocabular, estrutural<br />

e interacional.<br />

O objetivo deste trabalho é relatar uma<br />

experiência pedagógica de desenvolvimento<br />

da habilidade oral em aulas de inglês como<br />

língua estrangeira para alunos intermediários,<br />

através da coconstrução de conhecimento sobre<br />

a interação e a comunicação humanas. A<br />

pesquisa está dividida em cinco partes: a seção<br />

2 introduz os pressupostos teóricos que orientaram<br />

a pesquisa; a seção 3 descreve o contexto<br />

de observação e aborda a metodologia<br />

adotada; a seção 4 discute os dados gerados<br />

e a última seção apresenta as considerações<br />

finais.<br />

2.<br />

Pressupostos teóricos<br />

2.1. Visão sóciointeracional da linguagem<br />

De acordo com uma visão sóciointeracional<br />

da linguagem, um grupo de pessoas<br />

se comporta de uma dada maneira devido ao<br />

contexto sócio-cultural em que se encontram<br />

(Hall, 1993). Isso se dá pelo fato de que os<br />

significados convencionalizados, linguísticos<br />

e não linguísticos existentes orientam o comportamento<br />

das pessoas de acordo com a situação.<br />

Esses significados, compartilhados pelos<br />

sujeitos, servem a diferentes propósitos comunicativos<br />

que, durante a interação e dependen-<br />

do do contexto ao qual se situam, são (re)negociados<br />

pelos mesmos. Portanto, a recorrente<br />

participação em eventos comunicativos específicos<br />

é necessária para que os participantes<br />

coconstruam significados que sirvam aos seus<br />

objetivos comunicativos, i.e., aprendam em<br />

uma dada ação contextualizada.<br />

Pensemos em um exemplo. As mesmas<br />

pessoas não se comportarão em um almoço<br />

de negócios da mesma maneira que em um almoço<br />

de família. Há diferentes propósitos comunicativos<br />

a serem alcançados em ambas as<br />

ocasiões: em um almoço de família, geralmente<br />

colocamos os assuntos em dia enquanto em<br />

um almoço de negócios, temos como objetivo<br />

tratar de assuntos que podem até definir uma<br />

possível promoção. Logo, não só os aspectos<br />

linguísticos mudam como também os não linguísticos,<br />

i.e., expressões faciais e contato visual.<br />

Além disso, é necessário que estejamos<br />

vestidos levando em consideração a ocasião,<br />

saibamos ouvir e falar na hora certa e falar em<br />

um tom de voz adequado em um almoço de<br />

negócios. Por outro lado, em um almoço de família,<br />

as pessoas sempre acabam falando mais<br />

alto do que a música, se vestem informalmente<br />

e se interrompem constantemente.<br />

Dessa forma, é possível perceber que o<br />

contexto institucional e o não institucional em<br />

que nos encontramos possuem certos significados<br />

que foram coconstruídos ao longo do<br />

tempo pelos próprios participantes ou pelos<br />

contextos sócio-históricos nos quais se inserem.<br />

2.2.<br />

Competência comunicativa<br />

O conceito de “competência comunicativa”<br />

é bastante utilizado atualmente para<br />

orientar a prática pedagógica de muitos professores<br />

de LE e diz respeito à habilidade de<br />

se usar uma língua efetivamente visando um<br />

dado propósito comunicativo. Entretanto,<br />

acredita-se, erroneamente, que a competência<br />

comunicativa refere-se apenas à compreensão<br />

e ao domínio de regras de interação de um determinado<br />

grupo social, ou seja, o falante deve<br />

dominar o conhecimento sistêmico e pragmático<br />

de uma língua, a fim de participar adequadamente<br />

de uma interação.


De acordo com a noção de competência<br />

comunicativa (Johnson & Johnson, 1998), esta<br />

deve ser dividida em três competências:<br />

a. uma competência gramatical que se refere ao<br />

conhecimento sistêmico de uma língua tais<br />

como: itens lexicais, regras de morfologia,<br />

sintaxe, fonologia, fonética, e semântica;<br />

b. uma competência sociolinguística que se re-<br />

fere à linguagem em uso, subdividida em:<br />

b.1) competência sócio-cultural, i.e., o conhecimento<br />

das normas sociais interacionais<br />

que regem uma dada situação; e<br />

b.2) competência discursiva, i.e., o conhecimento<br />

equivalente à correta construção<br />

de sentido entre palavras e sentenças,<br />

responsável pela coesão e coerência;<br />

c. uma competência estratégica que se refe-<br />

re à habilidade de negociar significados<br />

em contexto de uso através de estratégias<br />

de comunicação verbais e não verbais que<br />

podem ser utilizadas quando surgir algum<br />

“obstáculo” ou mal entendido durante a<br />

comunicação.<br />

Contudo, as atividades propostas nos materiais<br />

didáticos, classificados como “comunicativos”,<br />

não passam de exercícios que focalizam<br />

a abordagem funcional da linguagem a<br />

partir de um significado previamente estabelecido.<br />

Ou seja, não é requisitado aos alunos<br />

que negociem significados, já que as situações<br />

de uso não surgem de uma real necessidade<br />

de usar a língua, mas de uma imposição referente<br />

à função da linguagem que deve ser<br />

praticada em um determinado momento.<br />

Consequentemente, não há coconstrução de<br />

conhecimento da competência estratégica em<br />

sala de aula, já que o professor geralmente, seguindo<br />

o livro didático, decide o que praticar<br />

e quando praticar, transformando a linguagem<br />

em sala de LE em um fenômeno controlado<br />

e previsível, isto é, não negociável. Portanto,<br />

torna-se necessário que, no contexto formal<br />

de sala de aula, seja estimulada a negociação<br />

de significados, para que os alunos coconstruam<br />

os conhecimentos referentes à competência<br />

estratégica relacionada à comunicação<br />

humana que possibilitará o desenvolvimento<br />

da competência comunicativa, articulando as<br />

três dimensões/níveis propostos por Johnson<br />

& Johnson (1998).<br />

Seguindo essa linha de pensamento, para<br />

que os alunos sejam capazes de negociar significados,<br />

eles precisam se familiarizar com<br />

os recursos linguísticos, paralinguísticos e<br />

estratégicos da linguagem em uso, coconstruindo<br />

conhecimento sobre o funcionamento<br />

da linguagem, o que os possibilitará usá-la<br />

socialmente. Para isso, o professor precisa<br />

abandonar o paradigma de transmissão, visão<br />

tradicional de linguagem e ensino-aprendizagem,<br />

que costuma fornecer os parâmetros para<br />

o trabalho de ensino de inglês como LE.<br />

2.3. Paradigma de transmissão X<br />

Paradigma interacional<br />

O paradigma de transmissão entende que<br />

a comunicação ocorre através da transmissão<br />

de mensagens por um falante/emissor, seguida<br />

da decodificação por parte dos ouvinte(s)/<br />

receptor(es) (Schiffrin, 1994). Aplicando esse<br />

conceito ao processo de ensino-aprendizagem,<br />

o professor transmite conhecimento e o aluno<br />

o processa. Desse modo, o professor é<br />

considerado o possuidor do conhecimento e,<br />

portanto, responsável por transmiti-lo aos alunos.<br />

O mestre possui o papel ativo, já que é<br />

o responsável pela transmissão da informação<br />

através da linguagem. Consequentemente, os<br />

alunos possuem apenas o papel de receptores,<br />

ou seja, são passivos. Espera-se que os estudantes<br />

decodifiquem a mensagem transmitida<br />

pelo professor durante a aula e reproduzamna.<br />

Uma consequência desse paradigma é a<br />

crença de que o professor deve possuir o total<br />

controle da interação na sala de aula, ideal realizado<br />

através do padrão “Iniciação-Resposta-<br />

Avaliação”. Não há possibilidade nem necessidade<br />

de negociação de significados, já que<br />

o professor é que deve solucionar todos os<br />

problemas. Portanto, esse modelo de aula não<br />

favorece a negociação de significados, pois se<br />

entende que a comunicação é dependente apenas<br />

do código da língua, i.e., do sistêmico.<br />

Por outro lado, o paradigma interacional<br />

estabelece que o significado não é transmitido<br />

de um participante ativo para outro passivo,<br />

mas negociado constantemente, entre os interlocutores,<br />

esses ativos, através da coconstrução<br />

de conhecimento entre eles. Trazendo<br />

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essa ideia para o contexto educacional, tanto<br />

o professor quanto os alunos são responsáveis<br />

pela coconstrução de conhecimento sobre a<br />

LE que ocorre na interação; o professor não é<br />

o dono de todo o conhecimento. Além disso,<br />

o mesmo não possui total controle da interação<br />

e pode dar voz aos alunos, favorecendo a<br />

coconstrução de conhecimento sobre a comunicação<br />

humana relacionado à competência<br />

estratégica. Para isso, primeiramente, torna-se<br />

necessário que ocorra a identificação dos significados<br />

compartilhados pelos alunos sobre<br />

o contexto institucional, ou seja, o professor<br />

precisa descobrir quais os significados que<br />

o aluno já possui com relação à sala de aula<br />

para, em seguida, procurar favorecer que, durante<br />

os eventos comunicativos dentro da sala,<br />

ocorra a desconstrução dos significados que o<br />

estudante traz e a coconstrução de novos valores.<br />

Isso se torna necessário, pois o contexto da<br />

sala de aula tradicional não favorece o desenvolvimento<br />

da habilidade oral dos aprendizes<br />

de uma língua estrangeira visto, por exemplo,<br />

o total controle da interação entre os alunos<br />

estar nas mãos do professor.<br />

3.<br />

Contexto e metodologia de<br />

pesquisa<br />

Esta pesquisa foi encaminhada segundo<br />

os princípios da pesquisa-ação (Moita Lopes,<br />

2003), metodologia na qual o professor investiga<br />

sua própria prática. Utilizo como material<br />

de pesquisa notas de campo, que contêm minhas<br />

observações das atividades implementadas<br />

durante o semestre, e gravações em áudio<br />

das mesmas propostas à turma.<br />

A investigação foi realizada no projeto de<br />

ensino de idiomas localizado em um projeto<br />

de ensino de línguas estrangeiras localizado<br />

em uma das universidades do Rio de Janeiro<br />

em uma turma de inglês que continha 15 alunos<br />

entre 19 e 35 anos, pertencentes ao nível<br />

2, intermediário.<br />

Apesar de não serem teoricamente alunos<br />

iniciantes, os alunos em questão apresentavam<br />

grande dificuldade em falar. Os mesmos corroboravam<br />

a crença de que deveriam dominar<br />

todo o nível sistêmico da língua estrangeira<br />

relacionada a um determinado assunto para<br />

que conseguissem se comunicar sem quais-<br />

quer obstáculos. Essa crença constituiu a motivação<br />

principal para o encaminhamento do<br />

presente estudo.<br />

Realizei, portanto, uma pesquisa de cunho<br />

intervencionista (Fabrício, 1996) que passo a<br />

descrever a seguir. Em um primeiro momento,<br />

a turma e eu coconstruímos conhecimento<br />

sobre a comunicação e interação humanas referente<br />

à competência estratégica focalizando<br />

nos seguintes aspectos:<br />

a. Sistema de troca de turnos: quando e como<br />

tomamos a vez de falar, por exemplo, falando<br />

mais alto, falando mais rápido, levantando<br />

a mão e dizendo “Excuse me”;<br />

b. Gestos: como utilizá-los e compensar o<br />

pouco domínio de nível sistêmico da língua;<br />

c. Contato visual: importante durante a co-<br />

municação humana, pois denota interesse;<br />

d. Expressões faciais: dizem muito a respeito<br />

do diálogo, por exemplo, denotando o grau<br />

de interesse dos interlocutores envolvidos<br />

com relação ao que se está falando;<br />

e. Sustentação de um diálogo: o que deve-<br />

mos fazer para manter a conversa: fazer<br />

perguntas a alguém ou tomar a vez de falar<br />

e dizer algo – por exemplo;<br />

f.<br />

Engajamento de todos os participantes:<br />

como “garantir” que todos os interlocutores<br />

estejam engajados na conversa, fazendo<br />

perguntas – por exemplo. Eles mesmos<br />

podem fazer isso, já que são responsáveis<br />

pelo desenvolvimento da tarefa;<br />

g. Tarefas de observação da interação: não só<br />

através da prática, mas também da observação<br />

via análise crítica e construtiva de<br />

terceiros que desenvolvemos a capacidade<br />

de compreendermos melhor nossa própria<br />

prática (Hall, 1993).<br />

Esses procedimentos (Fabrício, 1996)<br />

foram selecionados com o intuito de conscientizar<br />

os alunos de que muito mais está envolvido<br />

em uma conversa do que apenas a necessidade<br />

de dominar o léxico de uma língua


estrangeira. Além disso, esses aspectos estão<br />

relacionados ao desenvolvimento da autonomia<br />

do aluno em relação ao seu conhecimento<br />

sobre a LE, pois, através desses recursos comunicacionais,<br />

eles podem vir a desenvolver<br />

um diálogo e coconstruir conhecimento sobre<br />

a língua entre si, acabando com o mito “Eu<br />

não sei falar inglês”.<br />

Em um segundo momento, os alunos<br />

foram estimulados a desenvolver atividades<br />

conversacionais. Para tal, eles se sentavam em<br />

círculos, para que pudessem manter contato<br />

visual com todos os interlocutores. Essas tarefas<br />

conversacionais eram observadas pelos<br />

próprios alunos. Em outras palavras, nesse<br />

momento, a professora dividia a turma em dois<br />

grupos: metade dos alunos recebia a tarefa de<br />

desenvolver a conversação baseada em um tópico<br />

proposto pela professora relacionado ao<br />

conteúdo da lição, enquanto a outra metade da<br />

turma possuía a tarefa de observar o trabalho<br />

dos colegas a fim de:<br />

a. observar e avaliar a performance interacio-<br />

nal do aluno durante a atividade; e<br />

b. desenvolver no observador uma consciên-<br />

cia do que é necessário fazer quando trocar<br />

de posição com os colegas observados.<br />

Para isso, foi proposto um questionário<br />

(adaptado de Fabrício, 1996) que continha as<br />

seguintes perguntas:<br />

a. Does the student keep eye contact<br />

while talking?<br />

b. Does the student make use of facial<br />

expressions to show interest in the<br />

conversation?<br />

c. Does the student make use of gestures<br />

to facilitate conversation whenever necessary?<br />

d. Does the student try to take the turn,<br />

i.e., speak when s/he wants to? If yes,<br />

which strategies does s/he use?<br />

Cada aluno do grupo de observadores observava<br />

o trabalho de um determinado membro<br />

do grupo de conversação, anotando suas<br />

observações na ficha. Depois, ele fornecia sua<br />

avaliação e trocava de posição.<br />

À época da geração dos dados a serem<br />

analisados neste trabalho, os alunos já vinham<br />

utilizando os procedimentos mencionados acima<br />

por três meses.<br />

Reconheço o caráter ético desta pesquisa<br />

devido ao fato de se tratar de um estudo interacional<br />

dos seres humanos em questão. Afirmo,<br />

então, que a identidade dos participantes foi<br />

preservada visto os nomes usados neste artigo<br />

serem fictícios e não terem nenhuma semelhança<br />

com os reais nomes dos sujeitos da<br />

pesquisa.<br />

4.<br />

Análise dos dados<br />

Os dados a seguir dizem respeito a uma<br />

atividade de conversação, envolvendo 14 alunos.<br />

Antes do início da interação, relembrei<br />

junto aos alunos as estratégias que eles poderiam<br />

vir a usar, a fim de sustentar uma conversa.<br />

Os alunos coconstruíram conhecimento<br />

com relação aos recursos que já vinham sendo<br />

abordados, que, de fato, já vinham sendo coconstruídos<br />

no decorrer das aulas anteriores,<br />

e que poderiam ser incorporados e analisados<br />

pelos observadores.<br />

Em seguida, dividi os alunos em dois círculos:<br />

um interno e um externo, ambos com<br />

sete alunos conforme a figura abaixo:<br />

Os alunos do círculo interno possuíam a<br />

tarefa de desenvolver uma conversa enquanto<br />

os do círculo externo foram orientados a avaliar<br />

um dado integrante do grupo interno de acordo<br />

com a ficha que lhes havia sido entregue, baseada<br />

no modelo explicitado previamente. Nesse<br />

momento, assumi o papel de observadora também<br />

e sentei fora do círculo enquanto anotava<br />

todos os “problemas” relacionados ao léxico,<br />

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à gramática e às regras de interação, para que<br />

pudesse dar meu feedback depois junto aos<br />

alunos-observadores. Eu, então, sentei fora do<br />

círculo para observar os alunos de longe e não<br />

manter contato visual com os mesmos a fim de<br />

que eles interagissem entre si e “esquecessem”<br />

de minha presença. Ou seja, já que o objetivo<br />

da tarefa era desenvolver a habilidade oral dos<br />

alunos e favorecer sua autonomia, foi necessário<br />

que eu me posicionasse fora de ambos os<br />

círculos para que os aprendizes não procuras-<br />

sem por meu auxílio diante de imprevistos devido<br />

à crença de que eu que deveria solucionar<br />

todos os problemas que surgissem.<br />

O tema proposto por mim para a conversa<br />

foi o da lição do livro didático que eles estavam<br />

estudando no momento: “What changed<br />

in your life last year?”. Os alunos sustentaram<br />

a conversa por 13 minutos. A seguir, segue<br />

um determinado momento desse diálogo, que<br />

ilustra as mudanças ocorridas a partir dos procedimentos<br />

implementados:<br />

(14) Eduardo What changed in your life last year? (olhando para Márcia)<br />

(15) Márcia Change?<br />

(<strong>16</strong>) Eduardo Change<br />

(17) Márcia Hum..<br />

(18) Eduardo<br />

(19) Márcia<br />

(20) Eduardo Why?<br />

You don’t live here in Rio de Janeiro<br />

No I live in Paraná …<br />

big change… move<br />

(21) Márcia Why? Why… My state is very different Rio… mais….<br />

(22) Eduardo Is more<br />

(23) Márcia Isso! Is more....<br />

(24) Eduardo Is more clean?<br />

(25) Márcia Clean, silence, not, not very violent..<br />

(26) Eduardo And the weather?<br />

(27) Márcia What?<br />

(28) Eduardo The weather!<br />

(29) Hiran It’s very cold<br />

(30) Eduardo Hot cold? (olhando para Márcia)<br />

(31) Hiran Oh it’s very cold (risos)<br />

(32) Márcia<br />

(33) Eduardo Hot<br />

Cold, is very, very cold yes… Rio is<br />

very hot.<br />

(34) Márcia I… difficulty... adaptação...<br />

(35) Eduardo Adaptation.<br />

(36) Márcia é... My adaptation in Rio because....<br />

(37) Vários alunos Different<br />

(38) Márcia Different Yes


O primeiro ponto a ressaltar é que os alu-<br />

nos conseguiram sustentar o diálogo apesar do<br />

pouco domínio da língua por um período de<br />

13 minutos.<br />

É possível perceber também que o gerenciamento<br />

do sistema de troca de turnos está<br />

nas mãos dos alunos. Apesar de apenas dois<br />

deles, Márcia e Eduardo, estarem controlando<br />

o sistema de troca de turnos ao se questionarem<br />

mutuamente, o aluno Hiran demonstra<br />

interesse na conversa e toma o turno duas vezes<br />

(linhas 29 e 31). Ele aproveita que Márcia<br />

não respondeu a pergunta de Eduardo e dá sua<br />

opinião. Portanto, é possível perceber que, os<br />

estudantes estavam controlando livremente o<br />

sistema de troca de turnos sem a minha ajuda.<br />

Além disso, houve colaboração entre os<br />

alunos na tentativa de coconstruir conhecimento<br />

sobre a LE sem a minha ajuda também,<br />

pois quando ocorria algum obstáculo de nível<br />

sistêmico, por exemplo, Márcia fazia gestos<br />

ou falava a palavra em português, a fim de que<br />

seus colegas pudessem auxiliá-la com o vocabulário<br />

em inglês, aumentando, assim, o uso<br />

da LE (linhas 21, 22, 34 e 35). Em outro momento,<br />

os interlocutores envolvidos na atividade<br />

conversacional a ajudaram a completar seu<br />

pensamento (linhas 36 e 37), o que demonstra<br />

que todos estavam engajados na atividade.<br />

Outra mudança positiva no excerto apresentado<br />

refere-se à negociação entre os próprios<br />

alunos de novos tópicos, ou seja, não foi<br />

necessário que eu sugerisse outro tópico para<br />

a conversação. Por exemplo, no início, eles estavam<br />

conversando sobre mudanças na vida,<br />

sugerido por mim para iniciar a conversa. Em<br />

seguida, eles começaram a falar da diferença<br />

entre o Rio e o Paraná, sobre violência e o<br />

tempo (linhas 24-32).<br />

Finalmente, mas não menos importante,<br />

a avaliação do grupo observador após a realização<br />

da atividade foi muito enriquecedora,<br />

pois os alunos-observadores haviam percebido<br />

como as estratégias de sustentação de uma<br />

conversa e de negociação de significados empregadas<br />

realmente funcionavam e que não era<br />

necessário que eles dominassem totalmente o<br />

vocabulário relacionado ao assunto, para que a<br />

comunicação entre eles fosse possível.<br />

5.<br />

Considerações finais<br />

Concluo, portanto, nesta pesquisa, que<br />

é possível que alunos de nível intermediário<br />

desenvolvam competência estratégica e conversacional<br />

na LE a partir da coconstrução de<br />

conhecimento sobre a comunicação humana.<br />

Porém, para que isso seja possível, primeiramente,<br />

é necessário que o professor perceba<br />

que o paradigma de transmissão, muitas vezes<br />

utilizado por ele, não favorece um amplo desenvolvimento<br />

da competência comunicativa<br />

dos alunos, visto que o total controle da interação<br />

em sala de aula, depositado em suas mãos,<br />

não possibilita um desejável desenvolvimento<br />

da habilidade oral dos alunos.<br />

Depois de todo o trabalho em torno da coconstrução<br />

de conhecimento referente à comunicação<br />

humana junto aos alunos, pude verificar<br />

vários efeitos positivos. Em primeiro lugar, notei<br />

a intensificação do uso da LE pelos próprios<br />

alunos haja vista o estímulo que eles receberam<br />

de mim ao tentar resolver os obstáculos que<br />

surgissem entre eles mesmos com respeito ao<br />

nível sistêmico – por exemplo. Pude observar<br />

também a negociação de novos tópicos sem a<br />

necessidade de que eu sugerisse outro. Além do<br />

mais, fica claro que os alunos tornaram-se capazes<br />

de gerenciar tanto o sistema de troca de turnos<br />

a partir do conhecimento de como e quando<br />

fazê-lo, quanto desenvolver a autonomia e colaboração<br />

na resolução de “problemas”.<br />

Aponto, portanto, que a coconstrução de<br />

conhecimento sobre a comunicação humana<br />

traz repercussões positivas para o desenvolvimento<br />

da competência comunicativa em LE.<br />

6.<br />

Convenções para transcrição<br />

? indica entoação crescente<br />

. indica entoação decrescente<br />

: seguindo vogais indicam alongamento de som<br />

.. indicam pausa breve, menos de meio segundo<br />

... indicam pausa de mais de meio segundo;<br />

mais pontos indicam pausas mais longas<br />

Adaptado de Gumperz, 1998; Fabrício,<br />

1996; e Schnack, Pisoni & Osterman, 2005.<br />

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7.<br />

Referências bibliográficas<br />

1. BERTO, M. B. G. Redefining the EFL<br />

classroom for beginners. Monografia de<br />

final de curso (Especialização em Língua<br />

Inglesa) – PUC RIO, 2002.<br />

2. FABRÍCIO, B. F. Interação em contexto<br />

educacional: um novo referencial para<br />

a sala de aula de língua estrangeira.<br />

1996. Dissertação (Mestrado no Curso<br />

Interdisciplinar de Lingüística Aplicada) –<br />

Faculdade de Letras, Universidade Federal<br />

do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1996.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

GUMPERZ, J. Convenções de<br />

contextualização. In: RIBEIRO, B.T. e<br />

GARCEZ, P.M. (Orgs.) Sociolinguística<br />

Interacional: Antropologia, Linguística<br />

e Sociologia em Analise do Discurso.<br />

Porto Alegre: AGE, 1998, p. 98-119.<br />

HALL, J. K. The Role of Oral Practice<br />

in the Accomplishment of our Everyday<br />

Lives: The Sociocultural Dimension<br />

of Interaction with Implications for the<br />

Learning of Another Language. Applied<br />

Linguistics, vol. 14, no. 2, Oxford<br />

University Press, 1993, p. 145-<strong>16</strong>5.<br />

JOHNSON, K. & JOHNSON, H.<br />

Communicative Competence. In: ______.<br />

Encyclopedia Dictionary of Applied<br />

Linguistics: a handbook for language<br />

teaching. Oxford, Blackwell: 1998, p.<br />

62-68.<br />

MOITA LOPES, L. P. and FREIRE, A.<br />

M. F. Looking back into an act- research<br />

project: teaching/learning to reflect on the<br />

language classroom. The Specialist, São<br />

Paulo, vol. 19, no. 2, 2003, p. 145-<strong>16</strong>7.<br />

7. SCHIFFRIN, D. Approaches to<br />

Discourse. Oxford: Blackwell, 1994.<br />

8.<br />

SCHNACK, C. M., PISONI, T. D.,<br />

OSTERMAN, A. C. Transcrição da fala:<br />

do evento real à representação da escrita:<br />

Revista Entrelinhas, Ano II, no. 2, maio/agosto,<br />

2005. Disponível em: http://www.entrelinhas.<br />

unisinos.br/index.php?e=2&s=9&a=<strong>12</strong>.<br />

Acesso em 15 jan. 2008.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

Luciana Leitão da Silva<br />

lucianacarter2002@yahoo.com.br<br />

Rua Enaldo dos Santos Araújo, <strong>nº</strong> 735, casa 04<br />

Cavalcante - Rio de Janeiro - RJ<br />

CEP: 21370-200<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />

SILVA, Luciana Leitão da. Desenvolvimento da competência comunicativa: um processo de coconstrução de conhecimento sobre a comunicação humana. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>.<br />

Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:


Aprendizagem baseada em problemas: o mito e a realidade<br />

Learning based on problems: mith and reality<br />

João Ozório R. Neto 1<br />

Cleize Silveira Cunha 2<br />

Cristiane Silveira Cunha 1<br />

Adriana Novaes Rodrigues 1<br />

Mauro Tavares 3<br />

Palavras-chave:<br />

Métodos<br />

Educação médica<br />

Aprendizado<br />

Abstract<br />

Resumo<br />

Os autores avaliam de forma crítica, aspectos da chegada ao Brasil deste<br />

novo método de ensino nas escolas médicas. Comentam aspectos relacionados<br />

à sua implantação e analisam os resultados disponíveis na<br />

literatura sobre as avaliações do processo de ensino e das reais qualidades<br />

desta nova metodologia.<br />

The authors analyze aspects of this new method of teaching at medical<br />

schools in Brazil. They discuss the aspects related to its implementation<br />

and analyze the results available in literature about the evaluation of<br />

the learning process and the real qualities of this new method.<br />

1 Professor MsC (Ciências da Saúde – <strong>UniFOA</strong>)<br />

2 Professora Esp. (Ciências da Saúde – <strong>UniFOA</strong>)<br />

3 Professor PhD. (Ciências da Saúde – <strong>UniFOA</strong>)<br />

Key words:<br />

Methods<br />

Medical education<br />

Learning<br />

79<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

09/2010<br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

A aprendizagem baseada em problemas<br />

(APB) é um dos mais bem descritos métodos<br />

de aprendizagem interativa e muitos acham<br />

até que é mais eficaz que o método tradicional<br />

de ensino da medicina em termos de habilidades<br />

de aprendizagem em longo prazo, além do<br />

mais, é mais divertida. (SMITS, 2002).<br />

Esse método revolucionário de ensino foi<br />

criado na década de 60 pelo Professor Howard<br />

Barrows para a Universidade MacMaster,<br />

Ontário, Canadá. Ele fundamenta todo o<br />

aprendizado, inclusive o das ciências básicas,<br />

na discussão de casos clínicos de papel, como<br />

forma de motivar e mobilizar o aluno para a<br />

solução de problemas reais. Barrows admitiu<br />

que sua maior motivação para desenvolver a<br />

ABP foi o ínfimo aproveitamento verificado<br />

por ele, entre seus alunos, nas disciplinas do<br />

curso básico de graduação em Medicina do<br />

currículo tradicional. Atribuiu esta constatação,<br />

não a incompetência dos docentes do<br />

curso básico, mas, principalmente, a falha do<br />

método de ensino. (VOLTARELLI, 1998).<br />

No contexto da Escola Médica, a ABP ainda<br />

é uma ação de contracultura, na medida em<br />

que se traduz em uma forma de aprendizagem<br />

ativa que procura compreender os princípios e<br />

os processos dos fenômenos investigados e que,<br />

portanto, estimula o interesse pela investigação.<br />

A ABP pressupõe a cooperação em pequenos<br />

grupos, condução por um tutor, estudo<br />

autodirigido, educação multidisciplinar e avaliações<br />

progressivas. (BARROS, 2006).<br />

No Brasil, no início dos anos 90, as<br />

Faculdades de Medicina de Londrina e Marília<br />

adotaram uma nova proposta curricular para<br />

a Educação Médica, sob a tutela da Fundação<br />

Kellog. Essa proposta adotava a ABP com<br />

uma orientação para a medicina comunitária<br />

conhecida como Educação Baseada na<br />

Comunidade (em inglês - Community Based<br />

Education). Fundamentava-se em documento<br />

da Organização Mundial de Saúde conhecido<br />

como: "Changing Medical Education: an<br />

agenda for action”. Esse documento conclamava<br />

a adaptação do ensino médico às<br />

novas exigências, indicando como o principal<br />

motivo de insatisfação da sociedade em<br />

relação aos médicos e a outros profissionais<br />

de saúde, sua incompetência para enfrentar<br />

os novos desafios: Humanização da atenção,<br />

cuidados integrados, maior penetração social,<br />

equidade, contenção de custos, uso inadequado<br />

da tecnologia, proteção do meio ambiente<br />

e promoção do estilo de vida mais saudável<br />

(FEUERWERKER, 2002).<br />

Na visão de FLEXNER (1910), o currículo<br />

médico tradicional deveria ser dividido em<br />

duas partes (básico e clínico) e ser conduzido<br />

no laboratório e no hospital (RAW, 2007).<br />

Embora fosse um modelo pedagógico proposto<br />

para eliminar a passividade do aluno por meio<br />

de métodos ativos de aprendizagem, a lógica<br />

fazia supor que, na prática, desapareceriam os<br />

elementos autoritários considerados intrínsecos<br />

à didática. Porém, ao final de um século de experiência<br />

com métodos nominalmente ativos, verifica-se<br />

que foram adotados para ostentar uma<br />

pretensa modernidade (SALGADO,1997).<br />

A ABP foi estruturada para romper com<br />

esses modelos ultrapassados. Mais de uma<br />

década após a implementação da ABP nos<br />

Estados Unidos da América e em outros países<br />

do mundo, o debate sobre seus méritos ainda<br />

persiste. Porque a ABP falhou em cumprir<br />

as suas promessas e expectativas? (GLEW,<br />

2003). Existiriam outros fatores envolvidos na<br />

disseminação de um modelo de ensino, criado<br />

em um país desenvolvido, com uma escola<br />

médica totalmente diferente daquelas dos países<br />

em desenvolvimento?<br />

Assim, o presente artigo se propõe a discutir<br />

e refletir sobre os fatores que procurariam<br />

explicar tais questões.<br />

2.<br />

Metodologia<br />

Através da busca, seleção e avaliação<br />

sistemática da literatura sobre a ABP, além<br />

de sua origem e consequências, pretende-se<br />

avaliar suas transformações e sua chegada aos<br />

países em desenvolvimento, com a finalidade<br />

de emitir juízo de valor sobre essa nova metodologia<br />

de ensino.<br />

3.<br />

Discussão<br />

A busca, a seleção, a avaliação crítica e<br />

a aquisição de conhecimento visando a uma<br />

aplicação prática ou a uma reflexão consti-


tuem um processo ao longo da vida do indiví-<br />

duo (KOMATSU, 1998). Quando em alguma<br />

época as opções disponíveis são escassas não<br />

se precisa desenvolver capacidade de escolha;<br />

na verdade não há muito a escolher. Na medida<br />

em que se tem mais de uma opção exige-se<br />

a capacidade de distinguir a mais adequada.<br />

(PORTO, 1987).<br />

A evolução do conhecimento é muito<br />

rápida e não uniforme. No campo da ciência,<br />

a verdade, pelo seu caráter transitório, é permanentemente<br />

posta à prova graças à aquisição<br />

de novos conhecimentos. Embora hoje se<br />

tenha a sensação de envelhecimento precoce<br />

dos objetos, aparelhos, máquinas e até mesmo<br />

das ideias, uma observação adequada permite<br />

distinguir ocorrências paradoxais e desdobramentos<br />

decorrentes do próprio progresso.<br />

(MORAES, 2007).<br />

Uma análise pouco passional da criação<br />

da ABP indica que o objetivo principal<br />

era econômico. A supressão do ciclo básico<br />

e a justificativa da incorporação das disciplinas<br />

básicas no ciclo clínico para a solução de<br />

problemas de papel é no mínimo inquietante.<br />

Esse modelo serviria a escolas que almejariam<br />

grandes lucros com grandes reduções<br />

de despesa pela diminuição do corpo docente.<br />

Seu aparecimento coincide com um aumento<br />

maciço no número de matrículas na educação<br />

superior, no hemisfério Norte do pós-guerra<br />

devido a uma dinâmica de democratização do<br />

ensino secundário norte-americano graças ao<br />

desenvolvimento do sistema público de ensino<br />

superior e universitário.<br />

Uma população importante e diversificada<br />

teve acesso a estudos superiores. No decorrer<br />

das décadas seguintes, sob pressão das<br />

novas políticas governamentais de ajuda aos<br />

estudantes sem dinheiro, do movimento dos<br />

direitos civis dos negros e das lutas feministas,<br />

as instituições privadas tiveram que fazer<br />

coexistirem os que eram socialmente bem<br />

colocados e os que eram escolarmente bem<br />

preparados. Com a multiplicação dos estabelecimentos<br />

públicos de qualidade e uma escolaridade<br />

a baixo custo, o aparecimento de<br />

bolsistas nas universidades fortaleceu a ideia<br />

de um ensino superior aberto a (quase) todos,<br />

bastava trabalhar muito. (FANTASIA, 2004).<br />

Entre 1940 e 1970 as matrículas na universidade<br />

americana multiplicaram-se por<br />

cinco, evoluindo de 1,5 milhão para quase<br />

8,0 milhões.Nos 30 anos seguintes, as inscrições<br />

dobrariam outra vez. (NEWFIELD,<br />

2007) Harvard introduziu a ABP através de<br />

Alexander Leaf que justificava sua implantação<br />

como auxílio para desenvolver a educação<br />

continuada baseada na curiosidade aumentando<br />

a automotivação dos estudantes.<br />

Ao contrário do esperado, os estudantes<br />

desse novo currículo tornaram-se muito<br />

mais passivos, aceitando tudo o que lhes era<br />

dito de forma autoritária, nunca questionando<br />

a forma de dizer (GOLDHABER, 1973).<br />

Segundo esse mesmo autor, após seis anos de<br />

utilização, Harvard retornou ao currículo tradicional.<br />

O fator decisivo para o retorno foi o<br />

péssimo desempenho dos alunos nos exames<br />

do National Board . Sempre acostumada aos<br />

primeiros lugares, Harvard ficou em terceiro<br />

lugar na classificação geral e em relação às cadeiras<br />

básicas ficou em 15º em farmacologia e<br />

10º lugar em patologia; algo nunca antes pensado.<br />

Coincidentemente, nesta mesma época,<br />

foi proposta pelo governo militar instituído<br />

após o golpe de 1964, no Brasil, uma proposta<br />

de reforma curricular para a universidade brasileira,<br />

incluindo o ensino médico.<br />

A reforma de 1968 aboliu o sistema de<br />

cátedra e ainda que a participação política em<br />

nossas universidades estivesse sempre presente,<br />

ela não conduziria a polarizações partidárias<br />

insuperáveis, sendo possível evitar os problemas<br />

da admissão em massa de estudantes<br />

sem um mínimo de qualificação. Houve uma<br />

explosão de matrículas entre 1965 e 1980 - de<br />

150 mil para 1,5 milhão de estudantes em 15<br />

anos. (SCHAWARTZMAN, 1988).<br />

O golpe militar de 1964 foi o resultado<br />

da contradição entre o econômico e o político.<br />

Contradição entre um processo que pretendia<br />

a internacionalização da economia brasileira e<br />

a ideologia nacionalista da maioria da classe<br />

política. O plano educacional de o governo<br />

militar-autoritário foi aumentar a produtividade<br />

da escola pública com a adoção de<br />

princípios empresariais, acenando com uma<br />

tendência privatizadora da educação. (SILVA<br />

JUNIOR, 2005).<br />

É nesse panorama do mundo neoliberal,<br />

pautado e regido pela economia de mercado,<br />

que surge a ABP como nova metodologia de<br />

ensino médico. No Brasil, a implementação da<br />

81<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

nova proposta pedagógica implicou em grande<br />

esforço de mobilização. O nível necessário<br />

de apropriação em termos conceituais e metodológicos,<br />

para construir e efetuar a nova proposta,<br />

foi sendo atualizada na prática. Havia<br />

clara consciência das limitações existentes sobre<br />

a consistência conceitual e as experiências<br />

acumuladas.<br />

O grupo coordenador investiu profundamente<br />

em capacitação (na sua própria e na dos<br />

demais docentes). (FEUERWERKER, 2002).<br />

Essa mesma autora relata que o processo de<br />

construção do novo currículo foi complexo,<br />

configurando novos espaços, novas relações<br />

de poder, novos papéis e muitos desafios.<br />

Especialmente porque nessa nova construção,<br />

nem todas as respostas estão dadas e nem todas<br />

as ferramentas disponíveis. Em Harvard,<br />

as sessões de reforma curricular foram resolvidas<br />

em quartos de motel, nos fins de semana,<br />

onde os professores reunidos podiam expor<br />

suas ideias e contradições sobre o novo currículo.<br />

(GOLDHABER, 1973).<br />

Nas décadas de 80 e 90, a ABP apresentou<br />

leves mudanças com um reajuste positivo para<br />

se adaptar às novas necessidades dos alunos.<br />

(KAUFMAN, 1995). Essa mudança se tornou<br />

mais evidente no currículo desenvolvido pela<br />

Universidade Maastricht, na Holanda, e o aparecimento<br />

do ensino baseado na comunidade (EBC).<br />

Um modelo muito parecido com a EBC<br />

foi proposto na reforma universitária dos militares<br />

em 1968, conhecido como Integração<br />

Docente Assistencial (IDA) cuja expressão<br />

máxima foi conseguida no Internato Rural da<br />

Universidade Federal de Minas Gerais. A IDA<br />

representaria um meio através do qual se poderia<br />

gerar uma prática médica que procurasse<br />

transformar as condições de saúde da população,<br />

implicando na participação da comunidade,<br />

não como receptor passivo, mas como um<br />

elemento ativo desse processo. Seria, juntamente<br />

com a extensão de cobertura da assistência<br />

médica do setor público de saúde, uma<br />

resposta à crise interna do setor saúde devido<br />

à expansão capitalista e ao processo de acumulação<br />

de capital pela indústria de equipamentos<br />

médicos e pela indústria farmacêutica<br />

(INTERNATO RURAL, 2007).<br />

O ensino baseado na comunidade que<br />

chegou ao Brasil no início da década de 90 é<br />

muito parecido com a proposta da IDA, só que<br />

utilizando a ABP e centrado na comunidade.<br />

Assim como a ABP pode ser descrita como<br />

arma da estratégia neoliberal para a expansão<br />

de escolas médicas que aufeririam grandes<br />

lucros através de drásticas reduções do corpo<br />

docente e a colocação de cada vez mais médicos<br />

no mercado, meros agentes de consumo<br />

dos equipamentos e medicamentos produzidos<br />

pela indústria detentora das patentes , a EBC<br />

poderia representar , na visão de alguns escritores<br />

românticos, a aplicação da pedagogia<br />

libertadora de Paulo Freire e uma importante<br />

estratégia de inclusão social. Porém seu papel<br />

apresenta outra origem.<br />

A forte influência exercida pelo Banco<br />

Mundial na política macroeconômica brasileira<br />

irradia-se sobre diversos setores, entre<br />

eles, a educação. A política educacional desse<br />

banco, que se autodenomina: política de cooperação<br />

ou de assistência técnica; nada mais<br />

representa que uma mera relação comercial,<br />

caracterizada por um empréstimo convencional<br />

com pesados encargos, rigidez de regras,<br />

precondições financeiras e cláusulas inerentes<br />

ao financiamento comercial da educação.<br />

Os créditos concedidos por essa instituição à<br />

educação são parte de projetos econômicos<br />

que integram a dívida externa dos devedores<br />

com as grandes corporações multilaterais. A<br />

estratégia do banco consiste em garantir a estabilidade<br />

econômica de nações em desenvolvimento<br />

colocando em foco os gastos sociais e<br />

o ataque à pobreza e, por isso, recomenda aos<br />

governos, o fornecimento de serviços básicos<br />

aos pobres: Saúde elementar, planejamento familiar,<br />

nutrição e educação primária.<br />

A educação é tratada pelo banco como<br />

medida compensatória para proteger os pobres<br />

e aliviar as tensões sociais. Ela também<br />

é necessária para a contenção demográfica e<br />

o aumento da produtividade das populações<br />

carentes, gerando mais lucros. O controle da<br />

natalidade prepara a população feminina para<br />

o planejamento familiar e para a vida produtiva.<br />

(ALTMANN, 2002).<br />

Que melhor estratégia para a política neoliberal<br />

do banco do que a implantação de um<br />

currículo em EBC, centrado na comunidade<br />

carente. A presença do aluno da escola médica<br />

seria o instrumento de prestação de assistência,<br />

provendo a saúde elementar dos pobres,<br />

reduzindo e apaziguando os conflitos sociais.


Essa estratégia curricular serviria não<br />

só à retórica neoliberal típica da economia<br />

de mercado do mundo globalizado, mas fundamentalmente<br />

serviria a governos de cunho<br />

populista-eleitoreiro, que são comuns nos países<br />

em desenvolvimento; em outras palavras,<br />

serviria ao credor e ao devedor.<br />

O Banco Mundial como financiador<br />

da Organização das Nações Unidas para a<br />

Educação, a Saúde e o Trabalho (UNESCO),<br />

órgão responsável pelo planejamento estratégico<br />

de ações educacionais, recomendou, através<br />

de reuniões de seus filósofos como Edgar<br />

Morin, a disseminação da EBC para a Ásia, a<br />

África e a América Latina.<br />

Outra perspectiva sombria, que merece<br />

reflexão, é uma entrevista do Professor<br />

Antonio Carlos Lopes, da Secretaria de<br />

Educação Superior do Ministério da Educação,<br />

ao jornal eletrônico do Conselho Regional de<br />

Medicina do Estado de São Paulo, quando ele<br />

explica que no momento existem propostas de<br />

abertura de 78 novos cursos de medicina na<br />

Secretaria, a maioria, fundamentada na ferramenta<br />

ABP. Ele manifesta sua desaprovação<br />

a isso e afirma “Querem implantar a ABP no<br />

Brasil simplesmente porque não têm professores<br />

nem tampouco hospitais de ensino’’.<br />

(LOPES, 2007).<br />

Para finalizar, a única justificativa plausível<br />

para a mudança tão radical na grade<br />

curricular da escola médica seria a pretensa<br />

superioridade do aluno formado em ABP sobre<br />

aquele egresso do currículo tradicional.<br />

Poucos são os trabalhos randomizados que<br />

estabelecem tal relação, os que existem não<br />

notaram diferenças marcantes entre os dois tipos<br />

de aluno. (BERKSON, 1993; KWIZERA,<br />

2003; CARRERO, 2006).<br />

4.<br />

Conclusão<br />

Importa uma palavra de cautela na avaliação<br />

rápida e superficial do novo, em tempos<br />

de mundo globalizado, com imensos interesses<br />

econômicos em jogo diariamente. Não é possível<br />

vislumbrar a possibilidade de libertação<br />

do mercado, nem com as reflexões filosóficas<br />

de educadores do terceiro mundo, muito menos<br />

com o pensamento romântico de filósofos<br />

franceses encarregados de pensar a educação.<br />

Tudo faz parte do mesmo jogo estratégico macroeconômico<br />

cuja única finalidade é o lucro<br />

financeiro a qualquer custo.<br />

5.<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

7.<br />

8.<br />

9.<br />

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31(2): Editorial.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

João Ozório R. Neto<br />

joaoozorio@globo.com<br />

Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />

Avenida Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325<br />

Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />

CEP: 27240-560<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />

NETO, João Ozório R; CUNHA, Cleize Silveira; CUNHA, Cristiane Silveira; RODRIGUES, Adriana Novaes; TAVARES, Mauro. Aprendizagem baseada em problemas: o mito<br />

e a realidade. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:


Karatê e agressividade: possíveis relações<br />

Karate and aggression: possible relation<br />

Cláudio Delunardo Severino 1<br />

Andressa de Oliveira Barbosa 2<br />

Palavras-chave:<br />

Karatê<br />

Agressividade<br />

Relações<br />

Resumo<br />

O presente estudo objetiva analisar possíveis relações entre a prática<br />

do Karatê e o comportamento, algumas vezes, agressivo por parte de<br />

seus adeptos. Para tal, investigaram-se as linhas teóricas do Karatê, seu<br />

histórico, ensino, conceitos e as suas abordagens gerais e, sendo assim,<br />

buscou-se compreender como os professores de Karatê trabalham com<br />

seus alunos a questão da agressividade, bem como as suas consequências.<br />

Além disso, procurou-se estabelecer uma maior compreensão<br />

acerca da agressividade, bem como suas principais características e<br />

conceitos específicos. A metodologia empregada tratou-se de uma pesquisa<br />

exploratória, discursiva, de cunho bibliográfico, além de pesquisa<br />

de campo para coleta de dados. O instrumento para a coleta de dados<br />

foi um questionário contendo perguntas acerca do desenvolvimento do<br />

Karatê, por parte dos professores, e também a relação destes com a<br />

temática da agressividade, através do qual delineamos a pesquisa a fim<br />

de obter o subsídio necessário para a análise proposta. Os participantes<br />

da pesquisa tiveram as suas respostas analisadas para que as mesmas<br />

pudessem ser generalizadas e projetadas, identificando-se a melhor<br />

forma de aproveitar as informações. Considerando que existem possíveis<br />

relações entre a prática do Karatê por crianças e adolescentes e o<br />

comportamento agressivo, eventualmente, apresentado pelos mesmos.<br />

A elaboração deste estudo justifica-se pela relevância de investigações<br />

relacionadas às linhas teóricas do Karatê. Consideramos também os aspectos<br />

culturais associados à agressividade e à contribuição que os seus<br />

resultados possam vir a apresentar aos profissionais ligados ao processo<br />

de ensino-aprendizagem desta arte marcial. Alguns professores consideram<br />

que condutas agressivas podem contribuir para o rendimento do<br />

aluno, e é esse equívoco que faz com que o indivíduo não seja capaz de<br />

lidar com o insucesso, ocasionando algumas vezes ações agressivas e<br />

até mesmo a violência. Sendo assim, notamos que podem existir relações<br />

entre a prática do Karatê e a agressividade, mas que não é o esporte<br />

o causador direto desse comportamento agressivo.<br />

1 Professor graduado em Licenciatura Plena em Educação Física; Pós-graduado em Docência para o Ensino Superior; Mestre em Ensino em<br />

Ciências da Saúde e do Meio Ambiente – Centro Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong><br />

2 Discente do 6° período dos Cursos de Educação Física do <strong>UniFOA</strong> – Bacharelado e Licenciatura<br />

85<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

05/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


86<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

Abstract<br />

The present study aims to analyze possible relations between the<br />

practice of Karate and the aggressive behavior on the part of its adepts.<br />

The theoretical lines of the Karate, description, education, concepts<br />

and general border has been investigated, and thus searched in order<br />

to understand how the Karate teachers can work with their pupils<br />

the question of aggression and its consequences. Moreover a better<br />

understanding concerning aggression as well as its main characteristics<br />

and specific concepts were done. An exploratory, discursive, in a<br />

bibliographical matrix and a data collection were employed. The<br />

instruments to the data collection was a questionnaire about the<br />

development of Karate, by the teachers, and also the relation between<br />

them and the aggression topic, and through these we delineate the<br />

research in order to get the necessary subsidy to the proposed analysis.<br />

The participants in the research had their answers analyzed in a way<br />

that they could be generalized and projected, identifying the best form to<br />

use its information. Considering that there are possible relation between<br />

the practice of Karate by children and adolescents and the aggressive<br />

behavior eventually presented by them, the elaboration of this study is<br />

justified by the relevance of inquiries related to the theoretical lines of<br />

Karate. We also consider the cultural aspects associated to aggression<br />

and the contribution that its results can present to the professionals<br />

related to the teaching and learning process of this martial art. Some<br />

teachers consider that the aggressive behaviors can contribute to the<br />

income of the pupil, and this mistake makes the individual not able to<br />

deal with failure, sometimes causing aggressive actions even though<br />

violence. Thus, we notice that some relation between the practice of<br />

Karate and aggression can exist but the sport is not the guilt for this<br />

aggressive behavior.<br />

1.<br />

Introdução<br />

O Karatê é uma arte marcial praticada<br />

em todo mundo e que, com o tempo, tornouse<br />

também uma modalidade esportiva. Isso faz<br />

com que os professores de Karatê venham a<br />

se tornar também técnicos, podendo exercer<br />

influências positivas ou negativas sobre seus<br />

atletas.<br />

Ao entender que existem possíveis relações<br />

entre a prática do Karatê por crianças<br />

e adolescentes e o comportamento agressivo<br />

eventualmente apresentado pelos mesmos, a<br />

elaboração deste estudo justifica-se pela relevância<br />

de investigações relacionadas às linhas<br />

teóricas do Karatê e à contribuição que<br />

os seus resultados possam vir a apresentar aos<br />

profissionais ligados ao processo de ensinoaprendizagem<br />

da referida arte marcial.<br />

O presente estudo objetiva analisar possíveis<br />

relações entre a prática do Karatê e o<br />

comportamento, algumas vezes agressivo, por<br />

parte de seus adeptos. Para tal, investigaramse<br />

as linhas teóricas do Karatê, seu histórico,<br />

ensino, conceitos e as suas abordagens gerais<br />

Key words:<br />

Karate<br />

Aggression<br />

Relations<br />

e, sendo assim, buscou-se compreender como<br />

os professores de Karatê trabalham com seus<br />

alunos a questão da agressividade, além de<br />

suas consequências. Procurou-se também estabelecer<br />

uma maior compreensão acerca da<br />

agressividade, bem como suas principais características<br />

e conceitos específicos.<br />

O estudo é caracterizado por uma revisão<br />

bibliográfica de cunho descritivo acerca do<br />

objeto de investigação. Além disso, foi feita<br />

uma pesquisa quali-quantitativa com o intuito<br />

de abranger a relação entre o contexto e o processo.<br />

Sendo assim, o instrumento para a coleta<br />

de dados foi um questionário contendo perguntas<br />

acerca do desenvolvimento do Karatê<br />

por parte dos professores e também a relação<br />

destes com a temática da agressividade.<br />

Para Vianna (1996), a partir da compreensão<br />

de que a prática do Karatê pode representar<br />

riscos para o praticante e para a sociedade, torna-se<br />

necessária a realização de pesquisas que<br />

abordem a cultura dos praticantes de Karatê e<br />

suas consequências individuais e coletivas.


2.<br />

Metodologia<br />

O estudo é caracterizado por uma revi-<br />

são bibliográfica, de cunho descritivo, acerca<br />

do objeto de investigação, no sentido de apresentar<br />

os conceitos obtidos por outros autores.<br />

Além disso, foi feita uma pesquisa qualiquantitativa<br />

com o intuito de abranger a relação<br />

entre o contexto e o processo. O processo<br />

refere-se a como o desenvolvimento acontece<br />

e o contexto no qual ele ocorre.<br />

Sendo assim, o instrumento para a coleta<br />

de dados foi um questionário contendo perguntas<br />

acerca do desenvolvimento do Karatê<br />

por parte dos professores e também a relação<br />

destes com a temática da agressividade.<br />

Para a realização da pesquisa, foram contactados<br />

diversos professores de Karatê que<br />

atuam na região Sul Fluminense do estado<br />

do Rio de Janeiro, além de profissionais de<br />

outros estados, participantes do Campeonato<br />

Brasileiro da Federação Brasileira de Karatê<br />

(FBK), realizado na cidade de Duque de<br />

Caxias-RJ em 2010. O período de realização<br />

da pesquisa ocorreu entre os meses de março e<br />

setembro de 2010 e o questionário foi respondido<br />

por 33 professores.<br />

A análise dos dados foi desenvolvida de<br />

acordo com os resultados obtidos por meio do<br />

instrumento de coleta de dados. Os participantes<br />

da pesquisa tiveram as suas respostas<br />

analisadas para que as mesmas pudessem ser<br />

generalizadas e projetadas, identificando a melhor<br />

forma de se aproveitar as informações.<br />

3.<br />

Agressividade e Violência<br />

A agressividade é característica de atuação<br />

normal em fase inicial do desenvolvimento<br />

do indivíduo (SANTOS, 2008). Tal<br />

comportamento, embora possa ser transitório<br />

ou efêmero, pode ter suas consequências refletidas<br />

durante toda a vida do indivíduo.<br />

Goldberg (2004, p. 22), em seus apontamentos<br />

voltados para a violência, cita Einstein,<br />

que disse que a “violência fascina os seres moralmente<br />

mais fracos”. Para Gauer (2008), a<br />

agressão e a impulsividade estão relacionadas à<br />

violência que encontramos em nossa sociedade<br />

e são multifatoriais, não tornando, por isso, tal<br />

comportamento completamente elucidado.<br />

Sobre a violência, Birman (2009, p. 61)<br />

afirma que:<br />

Não resta dúvida de que a violência é<br />

uma marca que perpassa a história humana,<br />

estando presente não apenas em<br />

diversas tradições culturais como também<br />

em todas as sociedades. Não obstante<br />

as múltiplas diferenças existentes<br />

nessas e naquelas, nos registros político,<br />

religioso e simbólico, a violência<br />

está sempre lá, como traço indelével da<br />

experiência social, regulando e desregulando<br />

ao mesmo tempo as relações<br />

entre as subjetividades. Trata-se, enfim,<br />

de uma invariante que caracteriza a história<br />

social de maneira irrefutável<br />

O autor supracitado observa que é necessário<br />

destacar que se pode constatar a existência,<br />

na atualidade, de formas inéditas de<br />

violência, que ultrapassam tudo o que nos antecedeu<br />

historicamente. As novas modalidades<br />

de violência não apenas agridem a sociedade,<br />

mas principalmente chocam, devido a sua intensidade.<br />

Birman (2009, p. 61) também aponta<br />

que “nos registros - social, político, militar,<br />

familiar e amoroso- a violência se revela com<br />

tais características. Daí sua originalidade, que<br />

evidencia ainda por sua disseminação e por<br />

sua banalização”.<br />

Porém, diferente da violência, que é a<br />

aplicação intencional de uma ação para fins<br />

destrutivos e/ou prejudiciais ao outro, Santos<br />

(2005) define a agressividade como uma reação<br />

relacionada com a imaginação, o pensamento<br />

e ações, podendo estas ocorrerem de<br />

formas verbais ou não verbais.<br />

Mas como a agressão se manifesta no homem?<br />

Segundo Morris (2008), o organismo se<br />

prepara para uma ação por meio do sistema<br />

nervoso autônomo, que se subdivide em dois<br />

subsistemas: simpático e parassimpático. O<br />

subsistema simpático é responsável pela preparação<br />

para atividades consideradas violentas,<br />

enquanto o segundo possui a função direta<br />

de manter e reconstituir as reservas do corpo.<br />

De acordo com mesmo autor, na maioria das<br />

ocasiões, o organismo responde aos dois subsistemas.<br />

Porém, num momento de agressividade,<br />

o corpo responde apenas ao sistema sim-<br />

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pático que, estimulado, aumenta a adrenalina,<br />

afetando assim todo o sistema circulatório.<br />

Morris (2008, p. 158) complementa:<br />

O coração bate mais depressa e o sangue<br />

que circula na pele e nas vísceras<br />

é desviado para os músculos e para o<br />

cérebro. A pressão arterial aumenta.<br />

Acelera-se a produção de glóbulos vermelhos.<br />

O sangue coagula mais rapidamente<br />

do que em condições normais.<br />

Além disso, interrompem-se os processos<br />

de digestão e de armazenamento de<br />

alimentos. A salivação é inibida, assim<br />

como os movimentos do estômago [...]<br />

A atividade respiratória aumenta. A<br />

respiração torna-se mais rápida e profunda.<br />

Os cabelos põem-se em pé e há<br />

intensa sudação.<br />

Quanto à agressividade no esporte, na<br />

perspectiva de Samulsky (1992), este é o<br />

campo social em que há a maior importância<br />

acerca do confronto físico entre indivíduos.<br />

Associando essa consideração à agressividade,<br />

Gabler (1987, p. 94 apud SAMULSKY,<br />

1992, p. 101) a define como:<br />

Uma disposição permanente (motivo)<br />

de uma pessoa para comportar-se numa<br />

determinada situação de forma agressiva.<br />

Um comportamento é denominado<br />

agressivo quando existe só uma intenção<br />

ou o desejo de prejudicar outra pessoa<br />

independentemente da realização<br />

da ação agressiva e dos efeitos prejudiciais<br />

pretendidos.<br />

Próximos a esta definição, Baron e<br />

Richardson (1994, p. 7 apud WEINBERG;<br />

GOULD, 2008) consideram que a agressividade<br />

pode ser considerada como qualquer forma<br />

de comportamento que apresente “o objetivo<br />

de prejudicar ou ferir outro ser vivo que está<br />

motivado a evitar tal tratamento”.<br />

Weinberg e Gould (2008) entendem que a<br />

agressividade é caracterizada por um comportamento<br />

verbal ou físico, não devendo ser interpretado<br />

como uma simples atitude ou emoção. Além<br />

disso, tal comportamento também apresenta a<br />

evidência do envolvimento de danos ou ferimentos<br />

que podem ser psicológicos ou físicos.<br />

Isso posto, percebemos a necessidade de<br />

investigar possíveis causas e consequências<br />

do comportamento agressivo em modalidades<br />

esportivas, aqui, especificamente, o Karatê.<br />

3.1.<br />

Teorias da agressão<br />

Samulsky (1992) estabelece algumas teorias<br />

relacionadas ao comportamento agressivo.<br />

A primeira delas é a de instintos e impulsos,<br />

quando o autor observa que a agressão<br />

é proveniente de um instinto inato e espontâneo,<br />

provocando assim um acúmulo contínuo<br />

de energia agressiva no organismo e que, por<br />

necessidade, deve ser eventualmente descarregada.<br />

Para Gill (2000 apud WEINBERG;<br />

GOULD, 2008), quanto a essa mesma teoria, o<br />

indivíduo tem um instinto inato voltado para a<br />

agressividade que se desenvolve até o momento<br />

em que ele seja manifestado diretamente ou<br />

por meio de catarse, em que a agressividade é<br />

exposta por intermédio de ações socialmente<br />

aceitáveis.<br />

Na teoria frustração-agressão, também<br />

conhecida como teoria do impulso, há a hipótese<br />

de que situações relacionadas a algum<br />

tipo de frustração possam ocasionar agressões.<br />

Nesse caso, a frustração é definida “como um<br />

impedimento de uma atividade atual dirigida a<br />

uma meta” (SAMULSKY, 1992, p. 99).<br />

O referido autor ressalta que:<br />

O objetivo do comportamento agressivo<br />

é prejudicar intencionalmente outra<br />

pessoa ou outro objeto. Frustrações não<br />

provocam automaticamente condutas<br />

agressivas. Comportamento agressivo é<br />

uma das reações possíveis em presença<br />

de frustrações. Outras reações são, por<br />

exemplo, regressão, resignação e decepção<br />

(p. 99).<br />

Nessa teoria, a agressividade é compreendida<br />

como o resultado direto de uma frustração<br />

ocasionada pelo fracasso do objetivo<br />

(DOLLARD et al, 1939 apud WEINBERG;<br />

GOULD, 2008).<br />

Samulsky (1992) complementa que a conduta<br />

agressiva está relacionada a tendências<br />

agressivas, causas da frustração e intensidade<br />

das frustrações passadas, além da quantidade<br />

e intensidade das mesmas. Entretanto, essa te-


oria, atualmente, vem perdendo adeptos, pois,<br />

segundo Weinberg e Gould (2008), pesquisas<br />

e experiências comprovam que os indivíduos<br />

em diversas ocasiões convivem com suas frustrações<br />

ou as demonstram de maneiras pouco<br />

o nada agressivas.<br />

Outra teoria voltada para a questão da<br />

agressividade é a da aprendizagem social, que<br />

entende essa questão como um comportamento<br />

o qual o indivíduo assimila comportamentos<br />

agressivos por meio da observação de outros,<br />

exibindo assim atitudes semelhantes. Segundo<br />

Weinberg e Gould (2008), a observação da<br />

violência na mídia se encontra diretamente<br />

relacionada a algumas atitudes agressivas, sugerindo<br />

que, por esse caminho, as pessoas, em<br />

especial as crianças, são expostas a inúmeras<br />

situações de violência, aprendendo assim diversas<br />

maneiras de serem agressivos.<br />

Essa teoria reforça o importante papel que<br />

alguns elementos, dentre eles os professores,<br />

possuem acerca do controle do comportamento<br />

agressivo, tendo em vista não somente a sua capacidade<br />

de influência, mas a percepção de que<br />

a modelagem é uma maneira veemente de se<br />

assimilar comportamentos agressivos ou não.<br />

3.2.<br />

As causas da agressividade<br />

Samulski (1992) aponta fatores importantes<br />

para a existência de posturas agressivas por<br />

parte de atletas, entre eles, o nível de rendimento<br />

dos mesmos e o comportamento dos técnicos.<br />

Balbino et al (1997 apud TRAMONTIN;<br />

PERES, 2008) também elencam algumas causas<br />

de comportamentos agressivos envolvendo<br />

atletas, incluindo as pressões exercidas pelos<br />

técnicos e a questão financeira.<br />

Percebemos que os autores acima citados<br />

mencionam em seus respectivos estudos a influência<br />

que o técnico pode exercer sobre seus<br />

alunos/atletas. Consideramos que esse fato deva<br />

ser sempre levado em consideração quando se<br />

trata de uma preparação esportiva relacionada<br />

a qualquer modalidade, bem como a precaução<br />

que o professor deve ter ao abordar a questão da<br />

agressividade junto aos seus alunos.<br />

Na perspectiva de Weinberg e Gould<br />

(2008), muitos técnicos e atletas acreditam<br />

que a agressão contribui para a melhora do<br />

rendimento, na maioria das vezes por meio<br />

de ameaças e ações intimidadoras em relação<br />

aos adversários, garantindo assim, a diminuição<br />

do rendimento destes em contraste com a<br />

autopreservação do agressor. Percebemos que<br />

se tal postura esteja baseada em orientações<br />

vindas por parte dos técnicos, a agressividade<br />

encontrará cada vez mais na prática esportiva<br />

um dos seus principais alicerces.<br />

4.<br />

Karatê e Agressividade<br />

Santos (2005) afirma que são cinco os<br />

mandamentos do Karatê-Dô: a formação do<br />

caráter do praticante, a sabedoria e o senso de<br />

justiça, a formação ética na produção de resultados,<br />

a formação do respeito à hierarquia<br />

e às regras sociais e a reprovação dos atos de<br />

violência. Mesmo reconhecendo a importância<br />

de todos os mandamentos no que tange à<br />

formação global do praticante do Karatê, consideraremos<br />

apenas o quinto, a reprovação dos<br />

atos de violência, por ser o mais relevante a<br />

respeito do presente estudo.<br />

Santos (2005, p. 6) o aponta na seguinte<br />

interpretação:<br />

Pronúncia em japonês: Hitotsu. Kekki no<br />

Yu o Imashimuru Koto. Em português:<br />

Sempre. Conter o espírito de agressão<br />

destrutiva. O Karatê-Dô Tradicional<br />

cultua a não agressão destrutiva. Trabalha-se<br />

o controle da agressividade,<br />

redobrando-se o cuidado nos treinos e<br />

atividades, colocando o estado de atenção<br />

não apenas conosco, mas também<br />

com o outro. Respeitando-se sempre a<br />

dignidade de todo ser humano.<br />

Para que o controle acima mencionado<br />

esteja sempre presente nas atividades voltadas<br />

para a prática dessa arte marcial, as suas regras<br />

impõem um rígido controle. Além do código<br />

de ética do Karatê-Dô Tradicional, o Dojo<br />

Kum, a modalidade também possui os regulamentos<br />

da Federação Internacional de Karatê-<br />

Dô Tradicional – ITKF e os da Confederação<br />

Brasileira de Karatê-Dô Tradicional – CBKT,<br />

além das Federações Estaduais e diversas<br />

Associações. As punições para ações como<br />

violação premeditada, desrespeito ao professor<br />

ou conduta agressiva, associadas ou não<br />

às atividades ligadas ao Karatê, podem ir da<br />

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advertência verbal à exclusão, conforme podemos<br />

perceber nas regras estabelecidas pelos<br />

parâmetros oficiais da CBKT (1997 apud<br />

SANTOS, 2005, p. <strong>12</strong>):<br />

I – Violação premeditada e deliberada<br />

das regras da categoria de competição;<br />

II – Agitação ou emoção excessiva que<br />

ameace a continuação segura da luta;<br />

III – Recebimento de duas advertências<br />

graves enquanto compete na mesma<br />

categoria na competição; IV – (...) por<br />

falta de habilidade para competir. Isto<br />

indica que o competidor não tem habilidade<br />

suficiente (...).<br />

Além desse controle feito pelas regras e<br />

pelo código de ética do Karatê-Dô, esta modalidade<br />

apresenta, como uma de suas características,<br />

a disposição evidente em assegurar<br />

que o comportamento agressivo não é tolerado,<br />

punindo os seus praticantes que agem<br />

de maneira agressiva (WIDMEYER apud<br />

WEINBERG; GOULD, 2008). É importante<br />

ressaltar que essa punição não revela a consciência<br />

de estar lidando com um culpado, mas<br />

sim, com um causador de danos. No entendimento<br />

de Nietzsche (2009, p. 64), isso nos<br />

leva à reflexão de que “o castigo teria valor de<br />

despertar no culpado o sentimento de culpa”.<br />

Santos (2005) observa, ainda, que o adversário<br />

jamais deva ser tratado como um inimigo,<br />

e que qualquer abuso verbal ou contato<br />

que cause dano à integridade física a este é<br />

motivo suficiente para a aplicação das sanções<br />

presentes nas regras oficiais.<br />

Percebendo ainda a preocupação com<br />

que o Karatê sempre teve com o comportamento<br />

agressivo, Funakoshi (2005), em seus<br />

princípios fundamentais do Karatê, observa<br />

que essa arte marcial não deve ser usada injusta<br />

ou inadequadamente. “Seus praticantes<br />

devem permanecer do lado da justiça em todas<br />

as ocasiões e apenas em situações em que não<br />

haja outra escolha devem expressar a sua força<br />

pelo uso das mãos e dos pés como armas”<br />

(FUNAKOSHI, 2005, p. 30).<br />

A formação do Karatê baseia-se na experiência<br />

de esvaziamento que, gradativamente,<br />

o praticante deve fazer (BARREIRA, 2006).<br />

O mesmo autor observa que, de acordo com o<br />

relato de diversos mestres, invariavelmente, o<br />

principiante compreende o Karatê como uma<br />

possibilidade de fortalecimento que o leva a ir<br />

ao encontro com situações de agressividade e<br />

violência, concepção que não costuma suportar<br />

alguns anos de prática. Esses mesmos mestres<br />

observam que o praticante se coloca entre<br />

duas claras alternativas, que é a transformação<br />

dessa concepção ou o abandono do Karatê.<br />

Funakoshi (1994, p. 1<strong>12</strong> apud<br />

BARREIRA, 2006, p. 111) observa que, acerca<br />

disso:<br />

[...] sempre há aqueles que têm como<br />

desejo único aprender Karatê para utilizá-lo<br />

numa luta. [...] Esses quase inevitavelmente<br />

abandonam o curso, porque<br />

é quase impossível que qualquer jovem<br />

com objetivo tão tolo continue por muito<br />

tempo no Karatê.<br />

Para Barreira (2006), a partir do momento<br />

em que o praticante do Karatê enfatiza a<br />

agressividade durante o kumitê, isso implica<br />

poucas condições de controle, tanto no plano<br />

pessoal como no interpessoal. O tempo de prática,<br />

bem como certa quantidade de kumitês<br />

assumem a condição de estabelecer a necessidade<br />

de reflexão acerca disso.<br />

Por meio dessas observações, percebemos<br />

que o professor, amparado nos próprios<br />

conceitos filosóficos do Karatê, pode cumprir<br />

importante papel no que tange à percepção<br />

de comportamentos que, caracterizados pela<br />

agressividade, apresentam sérios problemas<br />

ao desenvolvimento biopsicossocial do praticante.<br />

Diante disso, notamos a necessidade do<br />

professor em assumir o compromisso de, ao<br />

observar tais comportamentos, não abrir mão<br />

da sua responsabilidade de indicar os rumos<br />

que se deseja para uma sociedade mais justa e<br />

com igualdade de oportunidades,o que certamente,<br />

a prática consciente de uma modalidade<br />

como o Karatê contribuirá de forma positiva<br />

se for aplicada de maneira coerente.<br />

5.<br />

Análise e Discussão de Resultados<br />

A pesquisa acerca do desenvolvimento<br />

do Karatê por parte dos professores e também<br />

a relação destes com a temática da agressividade<br />

foi norteadora para se alcançar alguns


esultados. Esses resultados foram obtidos a<br />

partir dos dados coletados por intermédio da<br />

pesquisa e dos conceitos desenvolvidos na revisão<br />

bibliográfica.<br />

Acerca da formação dos professores que<br />

responderam o questionário associado a esta<br />

pesquisa, dados incluídos no Gráfico 1, apontam<br />

que, dos 33 participantes, 11 são graduados<br />

em Educação Física, além de 7 com especialização<br />

(lato sensu). Contudo, os resultados<br />

indicam que 15 professores apresentam como<br />

formação o título de mestre em Karatê (4) ou<br />

outras especificações, como por exemplo, a<br />

condição de ex-atletas.<br />

Atualmente, existem casos que apontam<br />

decisões judiciais favoráveis a não cobrança de<br />

registros nos Conselhos Regionais ou Federal<br />

de Educação Física (CREF e CONFEF).<br />

Porém, entendemos ser relevante o estabelecimento<br />

de conceitos que abordam o papel do<br />

professor de Educação Física e as circunstâncias<br />

que o envolvem, além da sua importância<br />

dentro da própria prática docente.<br />

No entendimento de Magalhães e Arantes<br />

(2007), espera-se que docente de Educação<br />

Física esteja apto em relação ao que a práxis<br />

exigirá. Ele deve, acerca das aulas, planejar<br />

e disseminar conhecimentos relacionados à<br />

construção de um saber ligado à motricidade<br />

humana. Contudo, mesmo sendo um especialista<br />

em movimento, é necessário que se observem<br />

outras dimensões humanas. Então, para<br />

que as aulas e treinamentos de modalidades<br />

esportivas atinjam os seus objetivos, torna-se<br />

interessante que se aprofunde os estudos além<br />

do aspecto motor, itens tais como a relação interpessoal,<br />

a liderança e a comunicação.<br />

Piaget apud NEIRA (2006) considera a<br />

atuação do professor indispensável na medida<br />

em que deve ter um papel ativo na estruturação<br />

do processo de aquisição de conhecimento<br />

de seus alunos, ajudando-os a construir e organizar<br />

suas ideias, ampliando-lhes o olhar, sempre<br />

que possível, e estimulando a pesquisa e<br />

as ações. O papel do professor é fundamental,<br />

sendo que suas atitudes interferirão na relação<br />

que este irá estabelecer com o conhecimento.<br />

O professor capacitado é aquele que apresenta<br />

o nível do desafio proposto, devendo, portanto,<br />

saber gerenciar o que acontece e tornar o<br />

meio o mais favorável possível para reflexões<br />

e descobertas (NEIRA, 2006).<br />

Em observação feita pelo autor supracitado,<br />

a formação adequada do professor é fator<br />

fundamental, uma vez que corresponde a<br />

um dos eixos básicos da educação: formar os<br />

futuros cidadãos de uma sociedade; cidadãos,<br />

em princípio, comprometidos com valores de<br />

sua cultura, com os saberes acumulados, e,<br />

ao mesmo tempo, cidadãos atualizados com<br />

técnicas e problemas, em função de projetos<br />

pessoais e coletivos.<br />

Diante disso, Ghiraldelli Junior (2001)<br />

complementa com a proposta de que o papel<br />

do profissional de Educação Física deva ser<br />

o de um agente transformador que estabeleça<br />

uma nova direção sócio-política e cultural.<br />

Na prática, isso significa que o trabalho<br />

do professor deva ir além da simples transmissão<br />

de técnicas esportivas. Torna-se necessário<br />

que, a partir de ações pedagógicas promovidas<br />

diretamente pelo professor, a aula seja<br />

transformada num ambiente onde a cultura se<br />

estabeleça como um caminho para o desenvolvimento<br />

crítico por parte dos discentes.<br />

GRÁFICO 1 – Resultados relacionados à formação<br />

dos professores participantes da pesquisa.<br />

A análise referente à priorização das lu-<br />

tas (kumitês) aplicada em aulas indica que 18<br />

dos professores entrevistados priorizam as<br />

lutas durante as aulas por meio de simulação<br />

de competições. Dos outros participantes, sete<br />

não priorizam as lutas, cinco o fazem por intermédio<br />

de práticas recreativas e apenas três<br />

trabalham as lutas de outras formas, como por<br />

exemplo, por meio de combinações de golpes<br />

de ataque e defesa (Gráfico 2).<br />

Para Ferreira (2006), a prática de tal<br />

ação pode trazer inúmeros benefícios ao<br />

usuário, destacando-se o desenvolvimento<br />

motor, o cognitivo e o afetivo-social. O<br />

mesmo autor complementa (2006, pp. 4-5):<br />

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No aspecto motor, observamos o desenvolvimento<br />

da lateralidade, o controle<br />

do tônus muscular, a melhora do<br />

equilíbrio e da coordenação global, o<br />

aprimoramento da ideia de tempo e espaço,<br />

bem como da noção de corpo. No<br />

aspecto cognitivo, as lutas favorecem a<br />

percepção, o raciocínio, a formulação<br />

de estratégias e a atenção. No que se<br />

refere ao aspecto afetivo e social, podese<br />

observar em alunos alguns aspectos<br />

importantes, como a reação a determinadas<br />

atitudes, a postura social, a socialização,<br />

a perseverança, o respeito e a<br />

determinação.<br />

O fato de grande quantidade de professores<br />

(18) trabalharem as lutas por<br />

intermédio de simulação de competições<br />

evidencia duas questões. A primeira delas<br />

e atribuída ao imenso fascínio que as lutas<br />

provocam nos alunos (Ibid, 2006). Além<br />

disso, outro aspecto a ser considerado é a<br />

forte penetração que a competição exerce<br />

no cotidiano.<br />

Nessa perspectiva, Bourg apud Assis<br />

(2005) afirma que, na competição, é preciso<br />

vencer a qualquer custo. O público anseia por<br />

vitórias que elevam os atletas à condição de<br />

verdadeiros heróis patrocinados por grandes<br />

empresas, que investem em tecnologia para<br />

esses homens se superarem cada vez mais e<br />

venderem cada vez mais os seus produtos,<br />

fechando-se o ciclo.<br />

Kunz e Trebels (2006), mesmo reconhecendo<br />

a relevância da prática do esportecompetição,<br />

também defendem que a prática<br />

por si só não é capaz de formar um cidadão e<br />

que o esporte não deve ser visto somente com<br />

bons olhos, já que, muitas vezes, os indivíduos<br />

não se dão conta das situações ocorridas como<br />

as tentativas de burlar as regras, a exclusão<br />

das pessoas menos habilidosas, as constantes<br />

tentativas de levar vantagem e os negócios<br />

e vícios da publicidade. Portanto, se faz necessário<br />

prever quais são as possibilidades de<br />

aprendizado daquele conteúdo, inclusive os<br />

ocultos, e, quais os objetivos deverão será alcançados,<br />

para que se possa então utilizar as<br />

práticas esportivas.<br />

Contrariando essa abordagem, Dietrich e<br />

Landau apud Kunz e Trebels (2006), partem<br />

do princípio de que o esporte não é algo naturalmente<br />

oferecido aos seus praticantes, mas<br />

sim, uma forma de construção social. Eles defendem<br />

a ideia de que o esporte deve desenvolver<br />

uma estrutura cognitiva para que assim<br />

os praticantes possam entender as opressões<br />

sociais que existem ocultas no esporte, com<br />

isso, eles defendem a ideia de que as interações<br />

no esporte não devem acontecer ao acaso<br />

e sim planejadas com tal objetivo.<br />

GRÁFICO 2 – A prioridade das lutas nas aulas de<br />

Karatê.<br />

Como dissemos anteriormente, a violên-<br />

cia é caracterizada pela utilização desejada<br />

da agressividade para fins destrutivos. Para<br />

Santos (2005), a agressividade está na constituição<br />

da violência, porém, não é o único<br />

fator que a justifica. A inclusão dessa questão<br />

no instrumento de avaliação associado a esta<br />

pesquisa justifica-se pelo fato de percebermos<br />

que a crescente violência, descontrolada, pode<br />

mobilizar no indivíduo um comportamento<br />

agressivo na condição de uma ação destrutiva<br />

por parte dos praticantes do Karatê.<br />

Biaggio (1991 apud SANTOS, 2005, p.<br />

11) acrescenta:<br />

Como o aumento progressivo nas últimas<br />

décadas dos instrumentos de destruição,<br />

como as circunstâncias da vida<br />

urbana e da superpopulação nas grandes<br />

cidades, o potencial destrutivo do<br />

homem tornou-se ainda mais perigoso.<br />

Mesmo reconhecendo que as regras oficiais<br />

do Karatê e o seu próprio código de ética<br />

possuem normas rígidas contra a prática<br />

de ações agressivas por parte dos praticantes,<br />

percebemos, conforme dados apresentados<br />

no Gráfico 3, que mais da metade dos parti-


cipantes (17) consideram que a presença de<br />

ações violentas nesta modalidade depende do<br />

professor. Sendo assim, a postura do professor<br />

pode ser o principal caminho para que, no<br />

combate à violência, os impulsos agressivos<br />

sejam controlados.<br />

Um dos objetivos do professor deve ser<br />

o de promover ações em que os seus alunos,<br />

além de assimilar os movimentos específicos<br />

do Karatê, percebam, com prazer, a razão de<br />

executar os mesmos. Contudo, apresenta-se<br />

como questionável a metodologia utilizada<br />

para se alcançar tal propósito.<br />

Consideramos que muitos professores<br />

ainda necessitam da percepção de que o ato<br />

de ensinar não se limita apenas a transmitir<br />

conteúdos. Ensinar deve estar ligado ao ato de<br />

educar, a contribuir para o despertar da consciência<br />

crítica do indivíduo, oportunizando um<br />

maior juízo de valores, uma visão de mundo<br />

mais ampla e o um maior discernimento acerca<br />

das questões sociais.<br />

Sendo assim, percebe-se que o professor,<br />

consciente da importância do seu papel, não<br />

pode contentar-se com a educação bancária,<br />

ou seja, não deve se limitar apenas à transmissão<br />

de conteúdos para que os mesmos possam<br />

ser assimilados e arquivados pelos alunos<br />

(FREIRE, 2008). Deve, também, despertar<br />

nos seus alunos a consciência crítica e um pleno<br />

exercício da cidadania. Neste caso, partindo<br />

desse exercício, o professor passa a assumir<br />

uma postura que contribui efetivamente para<br />

o repúdio à crueldade, incentivando os seus<br />

alunos ao combate a todas as formas de agressividade.<br />

GRÁFICO 3 – Relação da prática do Karatê com a<br />

agressividade.<br />

Em relação aos alunos se tornarem mais<br />

agressivos ao praticarem lutas, 29 dos parti-<br />

cipantes da coleta de dados responderam ne-<br />

gativamente a essa questão, enquanto 4 professores<br />

apenas consideram tal possibilidade.<br />

(Gráfico 4).<br />

Sousa et al (2010) observam que a tradição<br />

das artes marciais, de origem oriental,<br />

valoriza princípios de não agressão e condenam<br />

a violência, devendo o combate ocorrer<br />

apenas em última instância. Contudo, esse<br />

conceito carece de rigor e análise científica<br />

para que possa ser verificada e enunciada com<br />

propriedade.<br />

Com a popularização do Karatê que cada<br />

vez mais se afirma como desporto de combate<br />

e com todas as características desportivas que<br />

lhe são atribuídas, essa arte marcial obteve outras<br />

necessidades que excedem os ensinamentos<br />

originais, sendo questionável em alguns<br />

aspectos, como por exemplo, a necessidade da<br />

vitória enfatizada por alguns professores.<br />

Os dados identificados no Gráfico 7<br />

contrastam, de certa maneira, com os resultados<br />

obtidos pela pesquisa realizada<br />

por Sousa et al (2010), na qual verificase<br />

que os praticantes de Karatê apresentam<br />

valores mais elevados na dimensão<br />

agressão física quando comparados com<br />

um grupo de não praticantes.<br />

GRÁFICO 4 – A relação entre a prática da luta e o<br />

comportamento agressivo por parte dos alunos.<br />

A importância da mídia no mundo atual<br />

é, para Betti (2003), evidente. Sendo assim, a<br />

sua influência acaba por ditar conceitos acerca<br />

de práticas corporais, reproduzindo-as,<br />

transformando-as e constituindo novas modalidades<br />

de consumo (BETTI, 2003). Diante de<br />

tal afirmação, percebemos a necessidade, por<br />

parte do professor, de estabelecer a busca pela<br />

compreensão dessa questão e como lidar com<br />

ela no cotidiano profissional.<br />

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Quando foram questionados se durante<br />

as aulas, os alunos costumam associar a luta<br />

a situações de violência apresentadas na mídia,<br />

27 dos professores entrevistados afirmaram<br />

que não, enquanto apenas 6 responderam<br />

afirmativamente (Gráfico 5). Um resultado até<br />

certo ponto curioso, partindo da premissa de<br />

que as mídias estão em toda parte e nos concedem<br />

inúmeras informações por intermédio de<br />

imagens, sons e palavras.<br />

No que tange às lutas de maneira geral,<br />

Ferreira (2006, p. 5) afirma que:<br />

Nos dias atuais, constata-se que o tema<br />

está em moda, seja em desenhos animados,<br />

em filmes ou em academias. Não<br />

é difícil encontrar crianças brincando<br />

de luta nos intervalos das aulas ou colecionando<br />

figurinhas dos heróis que<br />

lutam em seus desenhos animados. Os<br />

adolescentes compram revistas que<br />

se referem ao tema, adquirem<br />

livros de técnicas de luta e matriculam-se<br />

em academias para<br />

realizar a prática da luta.<br />

É necessário considerar que, mesmo se<br />

dizendo neutras, as mídias se amparam numa<br />

linguagem audiovisual que alimentam o imaginário<br />

coletivo. Porém, principalmente em se<br />

tratando de crianças, ela pode ser uma influência<br />

negativa. Para Train apud Bittencourt<br />

(2000), quanto mais novas as crianças, mais<br />

suscetíveis elas serão às influências da mídia.<br />

Podemos entender essa situação devido ao fato<br />

de que, para a criança, nem sempre é possível<br />

diferenciar a realidade da fantasia.<br />

No entendimento de Bittencourt (2000),<br />

quanto mais a criança agressiva é exposta às<br />

ações de violência mostradas na mídia, mais<br />

ela se identificará com os personagens ali<br />

apresentados, pois são semelhantes aos atos<br />

vivenciados por ela. Neste caso, a mesma autora<br />

conclui que a criança começa a aceitar<br />

soluções violentas para a resolução de seus<br />

problemas e conflitos.<br />

Nesse contexto, percebemos que mesmo<br />

que a maioria dos professores participantes<br />

não considere tal realidade, é necessário refletir<br />

sobre as consequências da influência da mídia<br />

não somente para o Karatê, mas também<br />

para a educação em geral.<br />

GRÁFICO 5 – A associação da luta com situações de<br />

violência apresentadas na mídia.<br />

Acerca da realização de trabalhos volta-<br />

dos para a questão da agressividade com os<br />

alunos, o Gráfico 6 indica que 26 participantes<br />

os realizam constantemente, 4 o fazem esporadicamente<br />

e 3 executam poucas ações no que<br />

tange a este tema.<br />

Consideramos que a prática do Karatê<br />

pode ser compreendida como uma possibilidade<br />

reprodutora de manifestações de agressividade,<br />

as quais podem ser desencadeadas por<br />

alguns fatores como relações interpessoais,<br />

características individuais, o contexto social o<br />

qual o aluno está inserido e a mídia. Nesse caso,<br />

quando o professor não promove ações que não<br />

lhe oportunizam a lidar com a agressividade,<br />

isso poderá acarretar um aumento do contexto<br />

da agressão (CANDREVA et al, 2007).<br />

Compete aos professores- no entendimento<br />

de Candreva et al (2007), por meio de ações<br />

contextualizadas- produzirem a compreensão,<br />

por parte de seus alunos, e que priorizem o ser<br />

humano na sua globalidade, contribuindo para<br />

a superação do conceito de que as artes marciais,<br />

aqui em especial o Karatê, remetem o<br />

seu praticante à apresentação de um comportamento<br />

agressivo.<br />

GRÁFICO 6 – Realização junto aos alunos de trabalhos<br />

voltados para a questão da agressividade.


Outro ponto abordado na pesquisa diz<br />

respeito à realização de um trabalho de conscientização<br />

junto aos pais sobre questões relacionadas<br />

à agressividade. Os resultados apresentados<br />

no gráfico 7 indicam que 15 dos 33<br />

participantes realizam esse trabalho e <strong>12</strong> o fazem<br />

esporadicamente. Dos outros participantes,<br />

4 pouco realizam um trabalho voltado para<br />

a conscientização dos pais acerca da agressividade<br />

e 2 simplesmente não o fazem.<br />

Nas aulas de Karatê, podemos perceber<br />

que, de acordo com o planejamento de professor,<br />

os estímulos dados podem propiciar uma<br />

variedade de vivências significativas, os objetivos<br />

das atividades estimulam no aluno a confiança<br />

e integram o mesmo ao meio social.<br />

Esses objetivos podem ser observados<br />

pela família por intermédio da convivência e<br />

do contato com o professor, quando a postura<br />

do aluno vai passando por modificações consideráveis.<br />

Tal situação possibilita uma expectativa<br />

que se faz presente a partir do momento<br />

em que a família se insere de alguma forma no<br />

ambiente de treinamento da criança.<br />

Szymanski (2009) evidencia que os encontros<br />

entre pais e professores ocorrem<br />

primordialmente e em função de problemas<br />

comportamentais. Tais contatos entre pais e<br />

professores ocorrem por intermédio de uma<br />

possível solução, em que o pai torna-se ciente<br />

do problema e de certa forma intervém por<br />

meio da correção.<br />

O professor, ao tomar determinada atitude,<br />

está dando sequência a todo um trabalho<br />

de avaliação. Estabelecida tal relação e respeitando-se<br />

os valores e a individualidade de cada<br />

um, entendemos que ela propiciará futuras melhoras<br />

no desenvolvimento global do aluno, em<br />

decorrência do trabalho em conjunto.<br />

GRÁFICO 7 – Realização junto aos pais de trabalhos<br />

voltados para a questão da agressividade.<br />

Conforme os dados apresentados no<br />

Gráfico 8, dos 33 participantes da pesquisa,<br />

20 professores consideram que busca por resultados<br />

positivos em competições não é associada<br />

a comportamentos agressivos por parte<br />

dos alunos, enquanto <strong>12</strong> deles acreditam que<br />

tal condição depende da postura apresentada<br />

pelo professor.<br />

De acordo com Tani et al (2006), alguns<br />

pedagogos não apresentam posições favoráveis<br />

à presença do desporto na formação de<br />

crianças e jovens. Esses pedagogos encaram<br />

a competição como o lado mais perverso da<br />

prática do esporte, pois oferece aos alunos<br />

valores relacionados à concorrência e individualismo.<br />

Mesmo assim, os mesmos autores<br />

veem, na competição, a possibilidade de a<br />

mesma ser um instrumento de aproximação,<br />

de cooperação e diálogo entre todos os seus<br />

participantes.<br />

Para que a competição tenha sua contribuição<br />

na formação de crianças e jovens,<br />

segundo Tani, Bento e Petersen (2006), devem-se<br />

encontrar propostas mais adequadas<br />

para o efeito em fases do processo de desenvolvimento,<br />

criar competições para crianças e<br />

adolescentes sem exigir o desempenho de modelos<br />

de alto nível, organizando formas convenientes<br />

de práticas competitivas, a fim de<br />

que a mesma possa vir a ter sua contribuição<br />

para a formação do jovem.<br />

Marques (2004) afirma que muitos profissionais<br />

ligados ao processo educacional<br />

apresentam resistência à adoção da prática<br />

desportiva como um modelo de formação e<br />

educação dos jovens. O mesmo autor aponta<br />

que a origem de tal concepção está ligada à<br />

competição, considerada por muitos como o<br />

aspecto mais perverso do desporto. O principal<br />

argumento relacionado a esse quadro<br />

aponta para o fato de que a prática formal de<br />

atividades esportivas promove a formação de<br />

valores distorcidos de concorrência e de individualismo,<br />

em detrimento de questões voltadas<br />

para a solidariedade, o companheirismo e<br />

a igualdade.<br />

O desporto e a competição confundem-se<br />

no entendimento do jovem sobre o significado<br />

da prática. O principal sentido do desporto<br />

para a criança, por exemplo, é a competição<br />

(DE ROSE JUNIOR, 2009). Neste caso, tratase<br />

da possibilidade que ela – a criança – tem<br />

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de avaliar as suas capacidades, de mostrar, aos<br />

outros, aquilo do que é capaz, de se superar.<br />

A competição tem o seu valor independente<br />

do contexto o qual está inserido. Porém,<br />

ela só poderá encontrar alguma relevância se o<br />

seu objetivo for o de preparar os jovens para a<br />

vida e contribuir para a formação dos mesmos.<br />

6.<br />

GRÁFICO 8 – A busca por resultados positivos em<br />

competições a sua associação a comportamentos<br />

agressivos por parte dos alunos.<br />

Considerações Finais<br />

Consideramos que a prática do Karatê<br />

objetiva a formação do indivíduo tanto no que<br />

diz respeito ao aspecto físico como moral.<br />

Juntamente com a prática desse esporte, estão<br />

agregados valores de respeito ao ser humano,<br />

autocontrole, disciplina e reprovação aos atos<br />

de violência.<br />

Partindo do pressuposto de que um comportamento<br />

é considerado agressivo- desde<br />

que exista um desejo de prejudicar outra pessoa,<br />

sendo este realizado ou não- podemos<br />

considerar que o Karatê em si não contribui<br />

para esse comportamento, mas que a utilização<br />

do mesmo para fins esportivos inadequados<br />

pode resultar em condutas agressivas por<br />

parte de seus praticantes.<br />

Existem algumas causas para a agressividade,<br />

dentre elas a frustração. Alguns professores<br />

consideram que condutas agressivas<br />

podem contribuir para o rendimento do aluno<br />

e é esse equívoco que faz com que o indivíduo<br />

não seja capaz de lidar com o insucesso, ocasionando<br />

algumas vezes ações agressivas e até<br />

mesmo a violência.<br />

O Karatê não contempla apenas a questão<br />

da luta, no entanto, esta tende a ser a grande<br />

preferência por parte dos seus praticantes e professores.<br />

De acordo com os resultados obtidos<br />

pela pesquisa, percebemos que há priorização<br />

das lutas por intermédio de simulações de competições,<br />

o que, se for realizado de maneira adequada,<br />

ou seja, sendo apenas uma preparação<br />

para campeonatos, sem que haja uma obrigatoriedade<br />

de vencer, não causa frustração e, portanto,<br />

não contribui para um comportamento<br />

agressivo por parte dos atletas.<br />

As crianças não costumam diferenciar a<br />

realidade da fantasia, isso faz com que elas sejam<br />

mais suscetíveis a incorporar situações de<br />

violência. A mídia tende a exercer grande influência<br />

nessas crianças, por meio de desenhos<br />

que mostram situações de agressividade e até<br />

mesmo filmes de artes marciais que mostram as<br />

lutas como pura violência, entretanto, as situações<br />

de violência exibidas na mídia não apresentaram<br />

grande influência para os praticantes.<br />

A realização de trabalhos a respeito da<br />

agressividade é muito importante tanto para<br />

os praticantes de artes marciais quanto para<br />

os pais. A mídia muitas vezes mostra as artes<br />

marciais com situações de agressão física e isso<br />

pode formar uma imagem conturbada do que realmente<br />

é o Karatê. Indivíduos podem ter uma<br />

imagem equivocada do que é essa arte marcial<br />

por desconhecerem a sua filosofia e entenderem<br />

sua prática meramente como uma luta. Devido<br />

a isso, trabalhos, tanto com os alunos quanto<br />

com os pais, tornam-se relevantes, pois transmitem<br />

conhecimentos acerca do Karatê, reduzindo<br />

os possíveis equívocos sobre essa prática,<br />

além trazerem os pais para um ambiente onde<br />

os filhos passam uma boa parte do tempo.<br />

Como vimos, o Karatê não exerce influência<br />

direta sobre comportamento agressivo<br />

por parte dos seus praticantes. Tanto as teorias<br />

sobre a agressividade quanto os resultados obtidos<br />

no questionário mostram que o Karatê<br />

não é o responsável por esses comportamentos<br />

considerados hostis. A competição exacerbada<br />

e a obrigatoriedade de resultados positivos<br />

podem causar frustrações nos atletas, podendo<br />

ocasionar comportamentos agressivos. Além<br />

disso, o técnico, neste caso o professor de<br />

Karatê, possui grande influência sobre seus<br />

alunos, podendo muitas vezes ser o responsável<br />

pelos comportamentos inadequados<br />

por parte destes, logo, não devemos atribuir<br />

à modalidade esportiva ou a prática de lutas<br />

a responsabilidade por esses comportamentos<br />

agressivos.


7.<br />

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Artmed, 2008.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

Cláudio Delunardo Severino<br />

claudiodelunardo@gmail.com<br />

Avenida Nove de Julho, 171<br />

Retiro - Volta Redonda - RJ<br />

CEP: 27275-230<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />

SEVERINO, Cláudio Delunardo; BARBOSA, Andressa de Oliveira. Karatê e agressividade: possíveis relações. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>.<br />

Disponível em:


Doença de Crohn e sua relação com a Nefrolitíase: Tratamento Nutricional<br />

Crohn’s Disease and its Relation with Nephrolithiasis: a Nutritional Treatment<br />

Nívea Veiga Almeida 1<br />

Alden Santos Neves 2<br />

Palavras-chave:<br />

Doença de Crohn<br />

Nefrolitíase<br />

Hiperoxalúria<br />

Abstract<br />

Resumo<br />

1 Graduada em Nutrição (Ciências da Saúde – UniFoa)<br />

2 Professor Orientador (Ciências da Saúde – UniFoa)<br />

A Doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória intestinal de causa desconhecida<br />

que acomete pessoas de 20 á 50 anos de idade de ambos os sexos e está associada<br />

á manifestações extraintestinais secundárias ao processo inflamatório de base,<br />

sendo a nefrolitíase a manifestação urogenital mais comum acometendo de <strong>12</strong> a<br />

28% dos pacientes, devido a alterações na mucosa intestinal e, consequentemente,<br />

má absorção, esses cálculos estão associados à hiperoxalúria, além de outras<br />

alterações metabólicas associadas. Por esse motivo torna-se importante o<br />

conhecimento das alterações metabólicas existentes, para que se possa oferecer<br />

o acompanhamento nutricional adequado, e, em específico, no presente estudo,<br />

o tratamento nutricional oral que objetiva o controle da ingestão de glutamina,<br />

ácidos graxos ômega 3, proteínas, citrato, fibras, magnésio, líquidos, probióticos,<br />

fibras solúveis, oxalato e citrato, aumentando assim uma melhor qualidade de<br />

vida para estes pacientes. Objetivo:descrever a relação existente entre a DC e<br />

Nefrolitíase, e analisar o tratamento nutricional mais adequado.Metodologia:<br />

revisão bibliográfica de artigos científicos e sites oficiais. Conclusão: apesar de<br />

existir relação entre as doenças citadas, há necessidade de maiores estudos, pois<br />

não existem ainda diretrizes nutricionais para nefrolitíase em pacientes DC.<br />

Crohn’s disease is an intestinal inflammatory disease of unknown cause that affects<br />

people from 20 to 50 years of age on both sex and is associated to extra-intestinal<br />

manifestations and to the basic inflammatory process, which nephrolithiasis is the<br />

most common urogenital manifestation affecting <strong>12</strong> to 28% of the patients, due to<br />

alterations in the intestinal mucosa and, consequently, bad absorption, these are<br />

associated to Hyperoxaluria and other metabolic alterations. For this reason the<br />

knowledge of the existing metabolic alterations becomes important, in order to<br />

offer an adequate nutritional treatment, and specifically in the present study, the<br />

oral nutritional treatment that aims to control the ingestion of glutamine, greasy<br />

acid Omega 3, proteins, citrate, fibers, magnesium, liquids, probiotics, staple<br />

fibers, oxalate and citrate, thus increasing these patients quality of life. Aim:<br />

describe the relationship between DC and nephrolithiasis and analyze the most<br />

adequate nutritional treatment .Methodology: review of scientific articles and<br />

official sites. Conclusion: Although there is a correlation between the diseases<br />

mentioned, there is a need for further studies, because there aren’t nutritional<br />

guidelines for nephrolithiasis in patients DC.<br />

Key words:<br />

Crohn’s disease<br />

Nephrolithiasis<br />

Hyperoxaluria<br />

99<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

05/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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1.<br />

Introdução<br />

A doença de Crohn (DC) é uma das prin-<br />

cipais formas de doença inflamatória intesti-<br />

nal, que, segundo estudo realizado em um hospital<br />

universitário da região sudeste do Brasil,<br />

acomete pessoas de 20 á 50 anos de idade em<br />

ambos os sexos 1 .<br />

Essa doença acomete pessoas de diferentes<br />

classes socioeconômicas, e nacionalidade,<br />

afetando aproximadamente 1,4 milhões de<br />

pessoas nos Estados Unidos2 .<br />

No Brasil, de acordo com Associação<br />

Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de<br />

Crohn (ABCD), ainda não se sabe a incidência<br />

exata de Doença Inflamatória Intestinal (DII).<br />

Uma possível explicação para esse fato<br />

seria que, em nosso meio, essas doenças não<br />

são consideradas de notificação compulsória, o<br />

que nos leva a pensar que as DII podem não estar<br />

sendo diagnosticadas, uma vez que os prontuários<br />

médicos registram altas taxas de diarreias<br />

de etiologia bacteriana ou parasitária3 .<br />

A etiologia da DC não é completamente<br />

conhecida, mas parece envolver interações de<br />

fatores comportamentais, microflora do hospedeiro,<br />

predisposição genética acometendo<br />

resposta imune anormal ou autoimune na parede<br />

intestinal. Tem evolução crônica, e gera<br />

repercussões importantes na qualidade de vida<br />

dos doentes4 .<br />

Devido a alterações na mucosa intestinal,<br />

a formação de cálculo renal é favorecida tornando-a<br />

mais comum em relação à população<br />

geral, em que a frequência em pacientes com<br />

DC varia de <strong>12</strong> a 28%, enquanto que na população<br />

em geral afeta 1 a 14% das pessoas5 .<br />

A formação de cálculos no trato urinário<br />

é um processo multifatorial que envolve o balanço<br />

entre os fatores promotores da formação<br />

de cálculo e os inibidores da cristalização6 .<br />

Cálculos urinários podem ser detectados<br />

em um número significativo de pacientes com<br />

DC, principalmente os que se submetem á cirurgia<br />

de ressecção parcial do intestino delgado,<br />

sendo esses cálculos associados à hiperoxalúria,<br />

hipomagnesúria e hipocitratúria, além<br />

de outras alterações metabólicas associadas7 .<br />

Por esse motivo torna-se importante o<br />

acompanhamento nutricional desses pacientes,<br />

com adequado conhecimento sobre as alterações<br />

metabólicas e a devida correção desses<br />

distúrbios, evitando assim, além de possíveis<br />

exacerbações da DC, a formação de cálculos<br />

renais, condição por si só bastante agressiva<br />

e que desencadeia alterações importantes na<br />

vida das pessoas por ela acometidas.<br />

Devido ao grande número de complicações<br />

encontradas em portadores de Doença de<br />

Crohn no Brasil, este estudo se justifica pelo<br />

fato de que a relação desta doença com a formação<br />

de litíase renal ainda está pouco esclarecida<br />

e muitos estudos ainda são necessários<br />

para se estabelecer esta relação e melhorar a<br />

qualidade de vida dos pacientes acometidos<br />

pela doença.<br />

O objetivo do presente estudo é compreender<br />

a relação existente entre a Doença de<br />

Crohn e Nefrolitíase, sendo objetivos específicos<br />

descrever a fisiopatologia dessa relação e<br />

relacionar o tratamento nutricional por via oral<br />

mais adequado.<br />

2.<br />

Metodologia<br />

Este trabalho baseou-se em revisão bibliográfica<br />

de artigos científicos indexados em bases<br />

de dados da internet, como MedLine, LILACS<br />

e SCIELO, e sites oficiais, livros e periódicos,<br />

compreendendo principalmente o período de<br />

1999 a março de <strong>2011</strong>. Foram utilizados como<br />

palavras-chave os termos “Doença de Chron”,<br />

“nefrolitíase”,”hiperoxalúria” e “tratamento<br />

nutricional da Doença de Chron”.<br />

3.<br />

Doença de Crohn e Nefrolitíase<br />

A DC é uma manifestação intestinal inflamatória<br />

que acomete igualmente pacientes<br />

de 20 a 50 anos de ambos os sexos podendo<br />

envolver qualquer parte do trato gastrintestinal<br />

(TGI), da boca ao ânus. Sua causa é desconhecida,<br />

porém, a predisposição genética e<br />

o fenômeno autoimune estão envolvidos. Até<br />

o momento, o principal fator de risco para DII<br />

é ter história familiar positiva em um parente<br />

de primeiro grau. Os gatilhos para o estabelecimento<br />

inicial da doença e exacerbações<br />

subsequentes são desconhecidos, mas, provavelmente,<br />

envolvem interações virais ou bacterianas<br />

com células imunes que recobrem a<br />

parede mucosa do trato intestinal8 .


O intestino delgado e, especialmente, o<br />

íleo terminal estão envolvidos em cerca de<br />

75% dos casos e apenas cerca de 15 a 25%<br />

dos casos envolvem apenas o cólon. Nos segmentos<br />

do intestino envolvidos, a inflamação<br />

pode ser contínua, não atingindo certas áreas,<br />

sendo o envolvimento da mucosa transmuda<br />

na medida em que afeta todas as camadas da<br />

mucosa intestinal4 .<br />

A atividade inflamatória crônica recorrente<br />

reflete uma resposta apropriada a um<br />

estímulo persistentemente anormal ou uma<br />

resposta anormalmente prolongada a um estímulo<br />

normal. A forte resposta inflamatória em<br />

excesso, com envolvimento local e sistêmico<br />

dos leucócitos, resulta na liberação de proteases,<br />

prostaglandinas, leucotrienos, eicosanoides<br />

e radicais de oxigênio livre. Tal resposta<br />

parece ser grandemente responsável pelo dano<br />

ocorrido no tecido gastrointestinal o que modifica<br />

a permeabilidade da parede intestinal às<br />

moléculas de alimento e fragmentos de células8<br />

. Portanto, há evidências de que o aumento<br />

da permeabilidade intestinal ocorre antes do<br />

estabelecimento da inflamação com marcante<br />

significado etiopatogênico 9 .<br />

As manifestações clínicas são decorrentes<br />

tanto do acometimento do trato gastrointestinal<br />

pela doença, como pelo surgimento de<br />

manifestações extraintestinais, que ocorrem<br />

em cerca de 35% dos pacientes10 .<br />

Ainda no mesmo estudo, ao analisar o<br />

perfil dos pacientes com DC, os autores verificaram<br />

que a nefrolitíase foi a complicação<br />

urogenital mais comum.<br />

Para confirmação, foram observados 40<br />

pacientes com DC estudados; 18% apresentaram<br />

litíase renal e os autores concluíram que<br />

esse resultado é mais comum em pacientes que<br />

foram submetidos à cirurgia de ressecção parcial<br />

do intestino, sendo que, quanto maior for<br />

a ressecção, maior a formação e a quantidade<br />

de cálculos formados, e que o aparecimento de<br />

cálculos ocorre aproximadamente após 2 anos<br />

de cirurgia7 .<br />

A complicação secundária mais frequente<br />

em portadores de DC é a nefrolitíase sob a<br />

forma de oxalato de cálcio e ácido úrico11 .<br />

A formação de cálculos no trato urinário<br />

é um processo multifatorial que envolve o balanço<br />

entre os fatores promotores da formação<br />

de cálculo e os inibidores da cristalização, ou<br />

seja, quando os mecanismos de inibição estão<br />

reduzidos ou ausentes, fatores físicos – químicos<br />

que governam a litogênese- transformam<br />

a urina de saturada em supersaturada, levando<br />

á nucleação, cristalização e ao crescimento do<br />

cristal6 .<br />

A DC e outras doenças inflamatórias<br />

intestinais têm sido associadas á nefrolitíase,<br />

devido , principalmente, à hiperoxalúria<br />

entérica, por consequência da má absorção de<br />

gorduras, levando a hiperabsorção de oxalato<br />

da dieta<strong>12</strong> .<br />

Em indivíduo normal de 3% a 5% do oxalato<br />

ingerido são absorvidos, principalmente<br />

no cólon, sendo a hiperoxalúria definida pela<br />

excreção de oxalato maior que 40mg/ dia13 .<br />

Pesquisadores verificaram a excreção<br />

de 49,2 mg/24h de oxalato em pacientes que<br />

apresentaram litíase renal após ressecção parcial<br />

do intestino delgado7 .<br />

A formação de cálculos de oxalato de cálcio<br />

é devido à maior absorção e excreção urinária<br />

de oxalato, que normalmente não é absorvido<br />

quando ligado ao cálcio no intestino,<br />

porém, em casos de má absorção ou ressecção<br />

cirúrgica do intestino, permanece livre devido<br />

á fixação do cálcio aos ácidos graxos, podendo<br />

ocorrer também pela redução da quantidade<br />

de Oxalobacter formingens, bactéria intestinal<br />

responsável pela degradação do oxalato.<br />

Ademais, os ácidos biliares e os próprios<br />

ácidos graxos aumentam a permeabilidade do<br />

cólon ao oxalato. Associado a essas alterações<br />

é comum que ocorra uma redução do volume<br />

urinário em consequência da diarreia5 .<br />

A Oxalobacter formingens é uma bactéria<br />

anaeróbica gram – negativa que participa<br />

da metabolização de oxalato no trato intestinal,<br />

através da degradação do oxalato pela enzima<br />

oxalyl-CoA descarboxilase14 , e sua colonização<br />

está associada com uma redução em<br />

70% do risco de se desenvolver litíase renal<br />

por oxalato de cálcio, já que o oxalato urinário<br />

está diretamente proporcional á nefrolitíase15 .<br />

Indivíduos com excreção urinária maior<br />

de oxalato apresentam níveis mais baixos de<br />

Oxalobacter formingens, sendo a ausência da<br />

bactéria degradante do oxalato na flora intestinal<br />

um fator de risco para hiperoxalúria e,<br />

consequentemente, aumento na probabilidade<br />

de urolitíase14; <strong>16</strong> .<br />

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<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


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Além da deficiência de fatores que con-<br />

tribuem para prevenção da nefrolitíase, pacientes<br />

com DC apresentam uma perda líquida<br />

significativa, sendo este fator promotor para<br />

tal complicação, confirmando, portanto, a perda<br />

líquida em excesso que ocorre nessas situações<br />

é verificada em estudos a ocorrência de 6<br />

á 9 evacuações por dia nesses pacientes17 .<br />

Com a diarreia constante e, consequentemente,<br />

a perda líquida, ocorre ainda alterações<br />

em vários outros nutrientes importantes na gênese<br />

da litíase.<br />

Os pacientes perdem grande quantidade<br />

de líquido intestinal alcalino e os rins respondem<br />

secretando urina ácida e concentrada.<br />

Esses fatos colaboram para o aparecimento de<br />

cálculos de ácido úrico. A hiperuricemia nesses<br />

doentes predispõe à formação de cálculos<br />

de cálcio18 devido á maior reabsorção óssea<br />

e menor reabsorção tubular renal de cálcio<br />

por consequência da queda no pH endógeno,<br />

como forma de controlar a acidez.<br />

As condições como doença inflamatória<br />

intestinal resultam em urina ácida por desidratação<br />

e perda gastrointestinal de bicarbonato<br />

por diarreia, predispondo a formação de<br />

cálculos de ácido úrico19 .<br />

Os fatores mais frequentemente implicados<br />

na litogênese são: desidratação, oligúria, menor<br />

absorção de água, obstrução e/ou infecção do<br />

trato urinário, excreção anormal de ácido úrico,<br />

urina ácida, alterações na absorção e excreção<br />

de oxalatos, uso de corticoides, hipercalciúria,<br />

absorção intestinal diminuída de sódio com<br />

concomitante decréscimo no sódio urinário18 .<br />

De acordo com o estudo citado, em pacientes<br />

submetidos à ressecção de algum segmento<br />

ileal à excreção de fatores inibidores<br />

(citrato e magnésio) foi menor e dos fatores<br />

promotores (cálcio, oxalato, ácido úrico, fósforo<br />

e sódio) foi maior. Considerando que<br />

tanto o citrato quanto o magnésio são importantes<br />

agentes inibidores da cristalização, suas<br />

deficiências podem favorecer o processo de<br />

crescimento e agregação dos cristais, principalmente<br />

dos sais de cálcio5 .<br />

Entre as diversas causas de hipocitratúria<br />

provavelmente a mais importante no presente<br />

contexto é a hipomagnesúria. A explicação<br />

seria que nos túbulos renais ocorre a formação<br />

de citrato de magnésio reduzindo assim a<br />

reabsorção urinária de citrato e aumentando a<br />

excreção urinária de citrato. Na deficiência de<br />

magnésio, uma maior concentração de citrato<br />

está disponível para reabsorção, resultando assim<br />

em menor excreção urinária de citrato20 .<br />

Ocorre hipocitratúria para valores de<br />

citrato urinário inferiores a 320 mg/dia21 . O<br />

citrato tem dois efeitos importantes na prevenção<br />

da nefrolitíase conhecidos como efeitos<br />

solubilizante e inibidor da cristalização dos<br />

sais de cálcio22 , dessa forma, a hipocitratúria<br />

isolada ou combinada com outras alterações<br />

metabólicas é um agente da nefrolitíase.<br />

O mecanismo pelo qual o citrato é um fator<br />

inibidor seria que o mesmo forma um cálcio<br />

complexo na urina, dessa forma, menos cálcio<br />

está disponível para ligar o oxalato urinário, o<br />

que ajuda a prevenir a formação de cálculos de<br />

oxalato de cálcio ou de fosfato de cálcio19 .<br />

Com relação às proteínas e ao sódio, eles<br />

são implicados como importantes fatores de<br />

risco para a formação de cálculos. O sódio<br />

pode provocar hipercalciúrias por intercâmbio<br />

tubular renal com o cálcio, e as proteínas<br />

determinam uma sobrecarga ácida, afetando a<br />

composição da urina, ao aumentar a excreção<br />

de cálcio e oxalato e diminuir a excreção de<br />

citrato e o pH urinário. A acidez urinária pode<br />

ser um fator determinante, pois para um pH<br />


sintomas.Portanto, o diagnóstico nutricional<br />

dietético é de extrema importância, pois, confirma<br />

a relação entre a adequação da ingestão<br />

de calorias e nutrientes x déficit nutricional/<br />

metabólico e/ou a queda no estado geral apresentado<br />

pelo doente23 .<br />

É crucial a determinação do grau de severidade<br />

ou atividade da doença. A severidade, a<br />

duração e a localização da doença são importantes<br />

na resposta ao tratamento.<br />

É importante ressaltar que a tolerância individual<br />

deve ser considerada, sempre com o<br />

objetivo de preservar um bom estado nutricional,<br />

pois, este pode ser fator de agravamento<br />

da doença, ou influir positivamente na recuperação<br />

24 .<br />

Para que isso ocorra, é fundamental a escolha<br />

da via de administração da dieta adequada<br />

para cada fase da doença de acordo com<br />

paciente, neste estudo será abordado somente<br />

a via oral.<br />

A melhor maneira de melhorar a ingestão<br />

oral é evitar grandes restrições dietéticas<br />

e estimular a utilização de alimentos que sejam<br />

preferência do paciente, evitando retirar<br />

da dieta alimentos cujo efeito nocivo não têm<br />

sido demonstrado ser capaz de agravar a doença,<br />

a fim de atingir, com maior facilidade, as<br />

necessidades calórico-proteicas 25 .<br />

Uma ingestão calórica diária de 35 a 40<br />

Kcal/dia de peso ideal e 1 á 1,5g/kg do peso<br />

ideal de proteína/dia satisfaz as demandas de<br />

proteína e energia da maioria dos pacientes<br />

adultos com a doença ativa e existem ainda<br />

novas possibilidades de intervenção nutricional<br />

com a utilização dos ácidos graxos ômega<br />

3 e probióticos 26 .<br />

A terapia nutricional deve ser da seguinte<br />

maneira: hipolipídica (< 20% das calorias totais);<br />

na fase aguda, evitar alimentos fonte de<br />

lactose e controlar mono e dissacarídeos, dieta<br />

rica em fibras solúveis e pobre em insolúveis;<br />

na fase de remissão, evoluir o teor de fibras insolúveis;<br />

evitar alimentos flatulentos, oferecer<br />

nutrientes específicos (glutamina, ácido graxo<br />

ômega 3 e arginina e glutamina) 27 .<br />

4.1.<br />

Glutamina<br />

A glutamina participa de processos metabólicos<br />

importantes tais como: síntese de<br />

proteínas, gliconeogênese, homeostase ácido-<br />

base e biossíntese de ácidos nucleicos, sendo<br />

utilizada também como substrato pelas células<br />

da mucosa intestinal (enterócitos) e células<br />

imunológicas28 .<br />

Em contrapartida, há relatos da piora da<br />

atividade da DC e aumento da permeabilidade<br />

intestinal em pacientes com uso de glutamina.<br />

Parece que o mecanismo responsável por esta<br />

piora é a síntese de arginina á partir da glutamina,<br />

com consequente liberação de óxido<br />

nítrico, que provocaria o aumento da permeabilidade<br />

vascular intestinal29 .<br />

Nesse ponto, entende-se, portanto, a necessidade<br />

de mais estudos científicos para real<br />

contribuição e recomendações de ingestão diária<br />

da glutamina em pacientes com DC.<br />

4.2.<br />

Probióticos<br />

Os probióticos podem, portanto, inibir<br />

a proliferação de organismos patogênicos,<br />

diminuir a incidência, duração e gravidade<br />

de doenças gástricas e intestinais. Na função<br />

imunológica, estimulam a resposta específica<br />

e inespecífica, mediada pelo aumento da concentração<br />

de imunoglobulinas 30 ; amenizam<br />

a intolerância á lactose; controlam a diarreia<br />

aguda; melhoram a atividade clínica da doença<br />

e previnem as recidivas 26 .<br />

Para que ocorra a manutenção da saúde<br />

do trato gastrintestinal, é recomendado a ingestão<br />

de 1 a 2 bilhões de unidades formadoras<br />

de colônia/ dia, existentes em leites fermentados31<br />

.<br />

4.3.<br />

Fibras solúveis e Citrato<br />

Com relação às fibras solúveis, sua ingestão<br />

diária recomendada é de 5 a 10g/dia,<br />

sendo representadas pela pectina (frutas) e pelas<br />

gomas (aveia, cevada e leguminosas: feijão,<br />

grão de bico, lentilha e ervilha) 32. . Esse<br />

nutriente sofre fermentação no interior intestinal<br />

produzindo os ácidos graxos de cadeia<br />

curta (acetato, propionato e butirato) nutrientes<br />

imunomuduladores que atuam como fonte<br />

de energia para os colonócitos, estimulando o<br />

trofismo intestinal e aumentando a reabsorção<br />

de água e eletrólitos pelas células intestinais33e complementando a deficiência de fibras dietéticas,<br />

exercem papel na gênese da nefrolitíase<br />

por metabolismo do citrato, uma vez que exis-<br />

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te relação positiva entre a baixa excreção de<br />

citrato e baixa ingestão de fibras34 .<br />

Ao aumentar os níveis de citrato urinário,<br />

determina-se uma redução da saturação de<br />

oxalato e fosfato de cálcio21 .<br />

4.4.<br />

Carboidratos<br />

O consumo de carboidratos pode elevar<br />

a excreção urinária de cálcio e oxalato.<br />

Acredita-se que o excesso de carboidratos na<br />

alimentação diminuiria a absorção de fosfato<br />

intestinal, levando a hipofosfatemia e, consequentemente,<br />

aumento do calcitriol plasmático<br />

implicando em aumento da absorção intestinal<br />

de cálcio e simultâneo aumento de absorção<br />

de oxalato. Parece também que os carboidratos<br />

estimulariam a síntese endógena de oxalato,<br />

que será posteriormente, excretado na urina.<br />

Além do mais, muitos alimentos ricos em<br />

carboidrato são ricos em oxalato34 .<br />

Além disso, devido a DC existem lesões<br />

nas vilosidades da mucosa intestinal que leva<br />

a uma diminuição de diversas enzimas, modificando<br />

a abrsorção intestinal de carboidratos,<br />

sendo a lactase a última a se regenerar35 , o que<br />

torna prejudicada a absorção de derivados do<br />

leite .<br />

Portanto, é necessário que se controle a<br />

ingestão de carboidratos nesses pacientes a<br />

fim de evitar maiores desconfortos gastrintestinais<br />

e urogenitais.<br />

Sabe-se que o intervalo de concordância<br />

usualmente aceito á respeito da recomendação<br />

da ingestão diária de carboidrato é de 50 á<br />

60% do valor energético total (VET) e de 4 a 6<br />

gramas/Kg de peso ideal /dia sendo utilizado<br />

para indivíduos saudáveis.<br />

Na DC existe uma deficiência de estudos<br />

que informe tal recomendação, o que torna necessárias<br />

mais investigações atendendo a DC<br />

e Nefrolitíase.<br />

4.5.<br />

Ácido graxo ômega 3<br />

Em se tratando de ácido graxo ômega 3<br />

(AGn – 3), em estudo realizado com ratos,<br />

concluiu-se que os animais com DII que receberam<br />

suplementação de AGn – 3 apresentaram<br />

menos alterações inflamatórias, maior<br />

preservação da integridade da mucosa e ausência<br />

de úlceras36 .<br />

A suplementação de óleo de peixe em<br />

2,7g de ácido graxo n-3 distribuídos em 9<br />

cápsulas, pode ser necessária, pois, reduzem a<br />

frequência dos surtos da doença e aumentando<br />

os intervalos37 .<br />

Os Ácidos graxos poli-insaturados (AGPI)<br />

do tipo ômega-3 produzem mediadores lipídicos<br />

chamados eicosanoides com potencial de<br />

diminuir/inibir o efeito das citocinas pró-inflamatórias.<br />

Dessa maneira, tem sido proposto<br />

que a suplementação ou ingestão adequada<br />

desse tipo de AGPI pode beneficiar pessoas<br />

com doenças inflamatórias crônicas, portanto,<br />

sua utilização pode ser efetiva na manutenção<br />

da remissão da doença de Crohn38 .<br />

Os benefícios são muitos, porém, são necessários<br />

mais estudos para investigar o papel<br />

desse nutriente como suplemento dietético.<br />

4.6.<br />

Vitamina C, Oxalato e Cálcio<br />

O oxalato é o produto final do metabolismo<br />

da glicina, (40% a 50% da síntese hepática)<br />

e 40% resultante do metabolismo do<br />

ácido ascórbico, sendo que o oxalato dietético<br />

contribui com uma fração de 20% do oxalato<br />

urinário39.<br />

Por isso, indivíduos formadores de cálculo<br />

são frequentemente aconselhados a evitar<br />

suplementos de vitamina C, não ultrapassando<br />

a recomendação de 60mg/dia. No entanto,<br />

estudos sobre a excreção urinária de oxalato,<br />

após carga de vitamina C, têm produzido resultados<br />

inconsistentes, pois, o aumento de<br />

oxalato urinário observado após experimental<br />

administração de altas doses de vitamina C<br />

parece ser devido à conversão in vitro de ascorbato<br />

para oxalato durante o procedimento<br />

analítico e não in vivo40 .<br />

Apesar de estudos identificarem maior<br />

excreção de oxalato em indivíduos que ingerem<br />

suplemento de vitamina C, são necessários<br />

mais estudos para identificar a real atuação<br />

desse nutriente na nefrolitíase.<br />

Dessa forma, além da contribuição do<br />

oxalato dietético, o cálcio dietético influencia<br />

na biodisponibilidade do oxalato ingerido,<br />

sendo importante fator na formação de cálculos<br />

de oxalato de cálcio.<br />

O oxalato é absorvível somente na sua<br />

forma solúvel, e sua absorção é possível no<br />

estômago, intestino delgado e cólon41 .


Percebe-se que embora a DC possa aco-<br />

meter qualquer parte do trato gastrintestinal,<br />

esta se instala com maior frequência no intestino<br />

delgado e a absorção de oxalato ocorre<br />

também nesta área, o que favorece a alteração<br />

absortiva citada anteriormente.<br />

Os alimentos de alto teor de oxalato não<br />

devem ser evitados com base apenas no seu<br />

teor de oxalato já que uma quantidade limitada<br />

é biodisponível, entretanto, os alimentos com<br />

baixo teor de oxalato e uma maior biodisponibilidade<br />

podem aumentar notavelmente o<br />

oxalato urinário19 .<br />

O oxalato está presente em grande quantidade<br />

nos alimentos de origem vegetal, somente<br />

espinafre e ruibarbo são considerados<br />

alimentos de alto risco, pois apresentam grande<br />

concentração de oxalato biodisponível.<br />

Amendoim, amêndoa, chocolate, noz pecã e<br />

chá instantâneo são considerados alimentos de<br />

moderado risco42 .<br />

Complementando, muitos alimentos à<br />

base de soja apresentam alta concentração de<br />

oxalato (mais de 10 mg/porção), o que seria<br />

contraindicado para pacientes formadores de<br />

cálculos. Contudo, por apresentarem alta concentração<br />

de fitato, um provável protetor na<br />

gênese da litíase, os alimentos à base de soja<br />

que contêm menores concentrações de oxalato<br />

podem ser benéficos nesses pacientes43 .<br />

Uma boa estratégia nutricional seria<br />

então oferecer <strong>12</strong>00mg de cálcio/dia como<br />

preconiza a Organização Mundial da Saúde<br />

(OMS) e diminuir a oferta de alimentos fonte<br />

de oxalato, prevenindo assim a hiperoxalúria.<br />

Outra opção seria a submissão dos alimentos<br />

fontes de oxalato á cocção a fim de reduzir<br />

seus níveis44 .<br />

É importante destacar que em fases ativas<br />

da DC, a absorção de lactose fica prejudicada,<br />

tornando necessário a substituição por outros<br />

alimentos toleráveis fonte de cálcio, como a<br />

sardinha.<br />

4.7.<br />

Líquidos<br />

Outro fator importante é a oferta de líquidos,<br />

já que na medida em que se aumenta a<br />

ingestão de líquido diminui a supersaturação<br />

urinária de oxalato45 .<br />

O risco de formação de cálculo aumenta<br />

quando o volume urinário é menor que 1L/dia<br />

e reduz quando é maior que 2,5L/dia46 .<br />

Deve-se orientar o paciente a ingerir<br />

aproximadamente 30ml/kg/dia de líquidos, de<br />

preferência água, sucos de fruta como os de<br />

limão e laranja, por conter elevado teor de citrato,<br />

e chás de frutas, flores ou ervas a fim de<br />

elevar o volume urinário e diminuir o risco de<br />

formação de cálculos47 .<br />

Com relação á ingestão de água mineral-<br />

esta, apesar de aumentar a hipercalciúria,<br />

o magnésio e o bicarbonato, devido aos seus<br />

componentes -leva a mudanças favoráveis<br />

no pH urinário, com aumento da excreção de<br />

magnésio e citrato, inibidores da formação de<br />

cálculo por oxalato de cálcio48 .<br />

Além da prevenção da litíase renal, a ingestão<br />

de líquido é importante também para<br />

manter ou recuperar a quantidade perdida nas<br />

evacuações frequentes.<br />

4.8.<br />

Magnésio<br />

A ingestão de cálcio e magnésio pode<br />

moldar a absorção intestinal de oxalato49 , sendo<br />

que a ingestão de magnésio pode diminuir<br />

a excreção de oxalato de maneira semelhante<br />

ao cálcio50 , ou seja, se ligando ao oxalato e<br />

aumentando assim a excreção de citrato e pH<br />

urinário51 .<br />

As quantidades recomendadas de magnésio<br />

em pessoas adultas saudáveis são de<br />

400mg/dia para sexo masculino e 310 mg/dia<br />

para sexo feminino, sendo que não existem recomendações<br />

especiais para doenças específicas,<br />

porém, em pacientes que apresentam uma<br />

ou mais das condições que aumentam as perdas<br />

de magnésio, recomenda-se um acompanhamento<br />

sistemático dos níveis sanguíneos,<br />

suplementando sempre que necessário 52 .<br />

4.9.<br />

Proteína<br />

A ingestão protéica está diretamente relacionada<br />

com aumento dos fatores de risco<br />

litogênicos. Os principais fatores envolvidos<br />

seriam a ingestão de proteínas como causa de<br />

hiperuricosúria,devido à sobrecarga de purinas;<br />

hiperoxalúria pelo aumento da síntese de<br />

oxalato;e hipocitratúria em função da maior<br />

reabsorção tubular de citrato. Pode levar ainda<br />

105<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


106<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

à hipercalciúria por promover aumento da reabsorção<br />

óssea e diminuir a reabsorção tubular<br />

renal de cálcio, devido a uma maior excreção<br />

de ácidos diminuindo o pH urinário42; 51; 53 .<br />

Uma explicação para redução de citrato<br />

seria que este é um componente chave no<br />

Ciclo de Krebs46 .<br />

Existem três teorias para a formação de<br />

cálculo renal: a primeira seria que o ácido<br />

úrico absorve os inibidores do oxalato de cálcio;<br />

a segunda, é que na urina supersaturada,<br />

a semelhança na estrutura do cristal promove<br />

o crescimento epitaxial do oxalato de cálcio<br />

no ácido úrico e a terceira seria que o ácido<br />

glutâmico adere á sobreface do cristal de ácido<br />

úrico, ajudando íons de cálcio e oxalato a se<br />

agregarem e cristalizarem.<br />

Portanto, sua ingestão deve ser controlada<br />

a quantidades citadas anteriormente, em casos<br />

em que o paciente não apresenta desnutrição.<br />

4.10. Sódio<br />

O sódio eleva a excreção de cálcio já que<br />

ambos são reabsorvidos no túbulo proximal e<br />

alça de Henle, provocando, consequentemente,<br />

hipercalciúria, sendo este um fator de risco<br />

para litogênese, além de reduzir a excreção<br />

urinária de citrato. Esse efeito é aditivo quando<br />

associado ao aumento no consumo de proteínas.<br />

Sugere-se a redução do sódio na dieta<br />

para 4 a 5 g/dia, para que não ocorra excreção<br />

superior a 100 mEq51 .<br />

Para cada 100 mEq de aumento no consumo<br />

de sódio pela dieta, há um aumento da<br />

excreção urinária de cálcio em 25 mg42 .<br />

4.11. Potássio<br />

Com relação à ingestão de potássio, sua ingestão<br />

é inversamente proporcional ao risco de<br />

cálculos renais, já que, aumenta a reabsorção tubular<br />

de cálcio e aumenta a excreção de citrato,<br />

portanto, formadores de cálculo devem aumentar<br />

esse nutriente em suas dietas, escolhendo<br />

frutas e vegetais de baixo teor de oxalato19 .<br />

4.<strong>12</strong>. Suplementos alimentares<br />

Os suplementos nutricionais especializados<br />

auxiliam o manejo nutricional de pacientes<br />

em situações clínicas que seriam dificilmente<br />

contornadas com os alimentos e suplementos<br />

convencionais 23 .<br />

As vitaminas e minerais suplementares podem<br />

ser necessários devido ao fato de pacientes<br />

cronicamente doentes ter necessidade de evitar<br />

alguns tipos de alimentos ou certos grupos<br />

alimentares ou para corrigir as interações de<br />

drogas e nutrientes.Pequenas quantidades de<br />

suplementos isotônicos, líquidos, orais podem<br />

restaurar a ingestão, e, em casos de má absorção<br />

de gorduras, a suplementação ou alimentos<br />

fonte de triglicerídeos de cadeia média (TCM)<br />

podem ser eficazes no fornecimento de calorias<br />

e como veículos para nutrientes lipossolúveis 4 .<br />

Dentre a deficiência de vitaminas lipossolúveis,<br />

a mais relatada é a vitamina D, graças<br />

a deficiência absortiva de gordura, podendo<br />

predispor uma suplementação.<br />

Pode ocorrer também deficiência de vitamina<br />

B<strong>12</strong> devido à má absorção tornando<br />

necessária a suplementação deste mineral.<br />

Além da vitamina B<strong>12</strong>, é indicado também<br />

a oferta de B6, já que o uso fisiológico<br />

ou farmacológico na dose de 10 a 500mg/dia<br />

pode está relacionada com a diminuição da hiperoxalúria40<br />

.<br />

A suplementação de citrato como terapia<br />

farmacológica é muito interessante, pois, este<br />

age como um quelante que se liga ao cálcio<br />

ionizado disponível na urina, inibindo o crescimento<br />

e a agregação de cristais urinários<br />

com oxalato de cálcio, além de promover a alcalinização<br />

urinária e consequentemente repor<br />

o citrato em pacientes com hipocitratúria54 .<br />

Porém epigastralgia, pirose, diarreia e plenitude<br />

gástrica são queixas frequentes e limitam<br />

a terapêutica13 .<br />

5.<br />

Conclusão<br />

Conclui – se neste artigo que a DC possui<br />

correlação com a nefrolitíase, devido às alterações<br />

absortivas encontradas, sendo necessário<br />

que as deficiências nutricionais sejam detectadas<br />

o mais cedo possível, para que se possa<br />

traçar um plano alimentar individualizado de<br />

acordo com o estado nutricional do paciente.<br />

Assim, os efeitos deletérios da doença poderão<br />

ser atenuados, proporcionando a recuperação e<br />

manutenção do estado nutricional do paciente<br />

e melhorando a sua qualidade de vida.


É importante salientar que há necessida-<br />

des de maiores estudos, pois não existem ainda<br />

diretrizes nutricionais para nefrolitíase em pacientes<br />

com DC, contudo, parece ser possível<br />

conseguir uma resposta satisfatória desses pacientes<br />

com relação ao tratamento nutricional,<br />

retardando assim, o aparecimento da nefrolitíase<br />

e proporcionando uma vida normal durante<br />

um maior período, pois, a dieta adequada<br />

ás necessidades do indivíduo traz importantes<br />

benefícios para a evolução e tratamento da DC<br />

e nefrolitíase, apresentando, portanto, um efeito<br />

direto na progressão das doenças.<br />

É importante ressaltar ainda a importância<br />

da atuação do nutricionista na elaboração de<br />

dietas que atendam ás necessidades nutricionais,<br />

devido às características restritivas na alimentação<br />

impostas pelas duas doenças isoladamente<br />

e em conjunto. Dessa forma, as dietas devem<br />

ser individualizadas para que se possa adquirir a<br />

adesão ao tratamento de forma adequada.<br />

6.<br />

1.<br />

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Endereço para Correspondência:<br />

Alden Santos Neves<br />

aldens@uol.com.br<br />

Centro Universitário de Volta Redonda - <strong>UniFOA</strong><br />

Avenida Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325<br />

Três Poços - Volta Redonda - RJ<br />

CEP: 27240-560<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />

ALMEIDA, Nívea Veiga; NEVES, Alden Santos. Doença de Crohn e sua relação com a Nefrolitíase: Tratamento Nutricional. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>,<br />

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Community ecology of the metazoan parasites of common dolphinfish,<br />

Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758 (Osteichthyes: Coryphaenidae) from the<br />

coastal zone State of Rio de Janeiro, Brazil.<br />

Livia Castro Marques 1<br />

Dimitri Ramos Alves 2<br />

Palavras-chave:<br />

Metazoários parasitos<br />

Coryphaenidae<br />

Coryphaena hippurus<br />

Brasil<br />

Abstract<br />

Resumo<br />

From April 2009 and July 2010, 68 specimens of common dolphinfish<br />

Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758 (Osteichthyes: Coryphaenidae)<br />

collected from coast of the state of Rio de Janeiro (21-23° S, 41-45° W),<br />

were necropsied to study their infracommunities of metazoan parasites.<br />

Seventeen species of metazoan parasites were collected. All fish were<br />

parasitized by one or more metazoan. The digeneans were the majority of<br />

the specimens collected, with 90.7%. Dinurus tornatus (Rudolphi, 1819)<br />

was the dominant species with highest abundance, prevalence, frequency<br />

of dominance and mean relative dominance. The parasites species of C.<br />

hippurus showed a typical aggregate pattern of distribution. None metazoan<br />

parasites species showed correlation between total length and<br />

prevalence and parasite abundance. The metazoan parasite infracommunities<br />

C. hippurus showed dominance of endoparasites (digeneans) and<br />

no correlation between abundance and parasite species richness and the<br />

total length of the host.<br />

From April 2009 and July 2010, 68 specimens of common dolphinfish<br />

Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758 (Osteichthyes: Coryphaenidae)<br />

collected from coast of the state of Rio de Janeiro (21-23° S, 41-45° W),<br />

were necropsied to study their infracommunities of metazoan parasites.<br />

Seventeen species of metazoan parasites were collected. All fish were<br />

parasitized by one or more metazoan. The digeneans were the majority<br />

of the specimens collected, with 90.7%. Dinurus tornatus (Rudolphi,<br />

1819) was the dominant species with highest abundance, prevalence,<br />

frequency of dominance and media relative dominance. The parasites<br />

species of C. hippurus showed a typical aggregate pattern of distribution.<br />

None of the metazoan parasites species showed correlation among total<br />

length and prevalence and parasite abundance. The metazoan parasite<br />

infracommunities C. hippurus showed dominance of endoparasites<br />

(digeneans) and no correlation among abundance and parasite species<br />

richness and the total length of the host.<br />

1 Discente do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong>;<br />

2 Docente do Curso de Ciências Biológicas – <strong>UniFOA</strong>.<br />

Key words:<br />

Metazoan parasites<br />

Coryphaenidae<br />

Coryphaena<br />

hippurus<br />

Brazil<br />

111<br />

Artigo<br />

Original<br />

Original<br />

Paper<br />

Recebido em<br />

05/<strong>2011</strong><br />

Aprovado em<br />

08/<strong>2011</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


1<strong>12</strong><br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

1.<br />

Introdução<br />

A família Coryphaenidae é composta<br />

por um único gênero com apenas duas espécies<br />

Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758<br />

e C. equiselis Linnaeus, 1758. Ambas são<br />

cosmopolitas sendo encontradas em mares<br />

tropicais e subtropicais (MENEZES;<br />

FIGUEIREDO, 1980; COLLETTE, 2000,<br />

2003; MENEZES et al., 2003). Essas espécies<br />

constituem um importante recurso pesqueiro<br />

no litoral sudeste brasileiro, sendo<br />

responsáveis por uma parcela significativa<br />

das pescarias comerciais, artesanais e recreacionais<br />

em todo o mundo (MENEZES;<br />

FIGUEIREDO, 1980; OXENFORD;<br />

HUNTE, 1986; KRAUL, 1999; MAHON,<br />

1999; ZAQUALI; MISSAQUI, 1999;<br />

DALLAGNOLO; ANDRADE, 2008).<br />

O dourado, C. hippurus, é um peixe ósseo<br />

marinho, oceânico de superfície, caracterizado<br />

como uma espécie altamente voraz,<br />

que pode chegar até dois metros de comprimento.<br />

Esse peixe apresenta amplo espectro<br />

trófico e hábitos alimentares estritamente ligados<br />

com o ambiente epipelágico, alimentando-se<br />

principalmente de peixes, crustáceos<br />

e cefalópodos (GIBBS; COLLETTE,<br />

1959; MENEZES; FIGUEIREDO, 1980;<br />

MANOOCH et al., 1984; PALOMINO et al.,<br />

1998; OXENFORD, 1999; FIQUEIREDO et<br />

al., 2002; NELSON, 2006).<br />

No Brasil, estudos sobre a fauna parasitária<br />

de C. hippurus foram realizados por<br />

Diesing (1850), Viana (1924), Travassos<br />

et al. (1967) (1969), Fernandes (1970) e<br />

Kohn et al. (2007) com digenéticos; Kohn<br />

et al. (2006) com monogenéticos; Silva e<br />

São Clemente (2001) e São Clemente et al.<br />

(2001) com cestóides; Barros e Cavalcante<br />

(1998) com nematóides e Boxshall e Montú<br />

(1997), Luque et al. (1998) e Luque e<br />

Tavares (2007) com copépodes.<br />

Nas últimas décadas, os estudos sobre<br />

a biodiversidade de parasitos de peixes<br />

marinhos da região Neotropical aumentaram<br />

significativamente, principalmente no<br />

Brasil (LUQUE; CHAVES 1999; POULIN;<br />

LUQUE, 2003; LUQUE et. al., 2004;<br />

ALVES; LUQUE, 2006; LUQUE; POULIN,<br />

2007; LUQUE; TAVARES, 2007; LUQUE,<br />

2008; POULIN et al., 2008; TAVARES;<br />

LUQUE, 2008; MUNIZ-PEREIRA et al.,<br />

2009; LUQUE et al., 2010; TIMI et al.,<br />

2010).<br />

Luque (2008) chamou atenção para dois<br />

aspectos relevantes no que concerne o estudo<br />

da biodiversidade parasitária de peixes<br />

dessa região. O primeiro está relacionado<br />

com a alta biodiversidade ictiológica, com<br />

subregiões que incluem o maior número de<br />

espécies de peixes conhecidas no planeta e<br />

com alto grau de endemismo, consequentemente,<br />

com elevada diversidade parasitária;<br />

o segundo está associado ao ótimo modelo<br />

de estudo que o sistema formado pelos metazoários<br />

parasitos dos peixes pode apresentar,<br />

isso devido à facilidade de coleta dos<br />

hospedeiros e pela possibilidade de obter um<br />

grande número de réplicas. Segundo o autor,<br />

os parasitos de peixes são os mais estudados<br />

em relação aos demais grupos de vertebrados.<br />

Tal fato vem a ressaltar a importância<br />

da realização de estudos dessa natureza.<br />

Partindo desse princípio, o presente<br />

trabalho tem o objetivo contribuir com conhecimentos<br />

sobre a comunidade de metazoários<br />

parasitos do dourado, Coryphaena<br />

hippurus, proveniente do litoral do Estado<br />

do Rio de Janeiro, realizando uma análise<br />

ao nível de infracomunidade e comunidade<br />

componente.<br />

2.<br />

Material e Métodos<br />

Entre abril de 2009 e julho de 2010<br />

foram necropsiados 68 espécimes de C. hippurus<br />

coletados no litoral do Estado do Rio<br />

de Janeiro (21-23°S, 41-45°W). Os peixes<br />

foram adquiridos de pescadores artesanais.<br />

Uma vez obtidos, os mesmos foram acondicionados<br />

em caixas de isopor contendo gelo,<br />

para assegurar boas condições da coleta dos<br />

parasitos e protegê-los durante o transporte<br />

até o laboratório de Zoologia do <strong>UniFOA</strong>,<br />

onde foram realizadas as necropsias. A determinação<br />

dos peixes foi feita de acordo com<br />

Menezes e Figueiredo (1980) e Figueiredo et<br />

al. (2002). A coleta, registro e processamento<br />

dos parasitos foram realizados de acordo com<br />

os procedimentos indicados por Eiras et al.<br />

(2000). A análise incluiu somente as espécies


com prevalência maior que 10% (BUSH et<br />

al., 1990). O cálculo da frequência de dominância<br />

e da dominância relativa (número de<br />

espécimes de uma espécie/número total de<br />

espécimes de todas as espécies de cada infracomunidade)<br />

foi feito seguindo a metodologia<br />

de Rohde et al. (1995). O quociente entre<br />

a variância e a abundância média (índice de<br />

dispersão) foi calculado para cada espécie<br />

de parasito com o intuito de determinar seu<br />

padrão de distribuição, sendo sua significância<br />

testada com o estatístico d (LUDWIG;<br />

REYNOLDS, 1988). O coeficiente de correlação<br />

por postos de Spearman, rs, foi usado<br />

para determinar possíveis correlações entre o<br />

comprimento total do hospedeiro e a abundância<br />

de infecção/infestação. O coeficiente<br />

de correlação de Pearson, r, foi usado para<br />

determinar a possível correlação entre o comprimento<br />

total do hospedeiro e a prevalência<br />

da infecção/infestação parasitária, com prévia<br />

transformação angular dos dados de prevalência<br />

(ZAR, 1996).<br />

As amostras dos hospedeiros foram separadas<br />

em cinco intervalos de classe com<br />

amplitude de 5 cm. A terminologia ecológica<br />

usada é a recomendada por Bush et al.<br />

(1997). Todos os valores que correspondem à<br />

média de alguma variável são acompanhados<br />

do respectivo desvio padrão. O nível de significância<br />

estatística adotado foi P < 0,05.<br />

3.<br />

Resultados<br />

3.1. Componentes da comunidade parasitária<br />

Os espécimes de C. hippurus mediram 53,7<br />

± 4,4 (43 – 68) cm de comprimento total. O comprimento<br />

total dos machos (54,3 ± 3,9)(n = 11) e<br />

das fêmeas (53,5 ± 4,7)(n = 48) não apresentou diferença<br />

significativa (t = 0,492; P = 0,624). O sexo<br />

foi indeterminado nos outros nove hospedeiros.<br />

Todos os espécimes de C. hippurus estavam<br />

parasitados por pelo menos uma espécie de metazoário.<br />

Um total de 3746 espécimes de parasitos<br />

pertencentes a 17 espécies foi coletado, com abundância<br />

média de 55,1 ± 62,2. O digenético Dinurus<br />

tornatus Ludolphi, 1819 foi o mais prevalente e<br />

abundante (Tabela 1). Os digenéticos, copépodes<br />

e nematóides corresponderam a 90,7%, 8,1% e<br />

1,1%, respectivamente, dos parasitos coletados.<br />

Os componentes da comunidade parasitária de C.<br />

hippurus apresentaram o típico padrão de distribuição<br />

superdispersa (Tabela 2). Dinurus tornatus<br />

apresentou a maior frequência de dominância e o<br />

maior valor de dominância relativa média (Tabela<br />

3). Nenhuma espécie de metazoário parasito apresentou<br />

correlação entre o comprimento total e a<br />

prevalência e abundância. A abundância média (rs = 0,042, P = 0,733) e a riqueza parasitária (3,8 ±<br />

1,35; r = 0,068, P = 0,579) não apresentaram rela-<br />

s<br />

ção com o comprimento do hospedeiro.<br />

113<br />

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Tabela 1. Prevalência, amplitude da intensidade, intensidade média, abundância média e local<br />

de infecção/infestação dos metazoários parasitos de Coryphaena hippurus do litoral do Estado do<br />

Rio de Janeiro, Brasil.<br />

Digenea<br />

Parasitos<br />

Prevalência<br />

(%)<br />

Amplitude da<br />

intensidade<br />

Intensidade<br />

média<br />

Abundância<br />

média<br />

Local<br />

de<br />

infecção<br />

Aponurus laguncula 92 1 - 2<strong>16</strong> 21,7 ± 31,8 20,08 ± 31,2 Estômago<br />

Didymozoídeo imaturo 1,4 1 - 2 1 0,02±0,24 Intestino<br />

Dinurus tornatus 97 1 - 234 30 ± 34,6 29,11 ± 34,5 Estômago<br />

Opecoeloides sp. 4,4 1 - 41 15,7 ± 21,9 0,69 ± 5 Intestino<br />

Stephanostomum coryphaenae 2,9 - 1 0,02 ± 0,17 Intestino<br />

Cestoidea<br />

Scolex pleuronectis (metacestóide) 1,4 1 - 2 1 0,02 ± 0,24 Intestino<br />

Trypanorhyncha não ident. (pleurocercóide) 1,4 - 1 0,14 ± 0,<strong>12</strong> Mesentério<br />

Acanthocephala<br />

Corynosoma sp. (Cistacanto) 1,4 - 1 0,01 ± 0,<strong>12</strong> Mesentério<br />

Nematoda<br />

Cucullanus sp. 1,5 - 1 0,01 ± 0,<strong>12</strong> Intestino<br />

Hysterothylacium sp. (larva) 2,9 1 - 2 1,3 ± 0,5 0,05 ± 0,3 Mesentério<br />

Raphidascaris sp. (larva) 13,2 1 - 6 3,6 ± 1,8 0,52 ± 1,4 Mesentério<br />

Copepoda<br />

Caligus bonito 54,4 1 - 10 3,7 ± 2,4 2 ± 2,6 Brânquias<br />

Caligus balistae 1,5 - 1 0,01 ± 0,<strong>12</strong> Brânquias<br />

Charopinopsis sp. 14,7 1 - 7 2,6 ± 2 0,57 ± 1,4 Brânquias<br />

Euryphorus brachypterus 22,05 1 - 10 2,4 ± 2,3 0,52 ± 1,5 Brânquias<br />

Euryphorus nordmanni 35,3 1 - 18 3,1 ± 3,5 1,1 ± 2,5 Brânquias<br />

Pennella sp. 17,6 1 - 3 1,2 ± 0,6 0,26 ± 0,6 Brânquias<br />

Tabela 2. Índice de dispersão (ID) e do estatístico d dos metazoários parasitos de Coryphaena<br />

hippurus do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.<br />

Parasitos Índice de dispersão (ID) d<br />

Aponurus laguncula 45,687 66,713*<br />

Dinurus tornatus 40,903 62,503*<br />

Raphidascaris sp. (larva) 3,920 11,388*<br />

Caligus bonito 3,433 9,918*<br />

Charopinopsis sp. 3,506 10,144*<br />

Euryphorus brachypterus 4,145 <strong>12</strong>,037*<br />

Euryphorus nordmanni 6,0 <strong>16</strong>,824*<br />

Pennella sp. 1,314 1,739<br />

(*) Valores significativos.


Tabela 3. Frequência de dominância, frequência de dominância compartilhada e dominância<br />

relativa média dos componentes das infracomunidades de metazoários parasitos de Coryphaena<br />

hippurus do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.<br />

4.<br />

Parasitos<br />

Frequência de<br />

dominância<br />

Frequência de<br />

dominância<br />

compartilhada<br />

Dominância<br />

relativa média<br />

Aponurus laguncula 22 2 0,342 ± 0,2<strong>12</strong><br />

Dinurus tornatus 44 1 0,510 ± 0,245<br />

Raphidascaris sp. (larva) 0 0 0,0<strong>12</strong> ± 0,036<br />

Caligus bonito 1 1 0,058 ± 0,105<br />

Charopinopsis sp. 0 0 0,054 ± 0,363<br />

Euryphorus brachypterus 0 0 0,013 ± 0,036<br />

Euryphorus nordmanni 1 0 0,024 ± 0,056<br />

Pennella sp. 0 0 0,008 ± 0,022<br />

Discussão<br />

Os resultados obtidos no presente traba-<br />

lho indicam a dominância dos digenéticos na<br />

comunidade de metazoários de Coryphaena<br />

hippurus. Os mesmos corresponderam a<br />

90,7% do total de parasitos coletados, sendo<br />

as espécies Aponurus laguncula Looss,<br />

1907 (Lecithasteridae) e Dinurus tornatus<br />

(Hemiuridae) os principais componentes.<br />

Esse fato corrobora com os estudos realizados<br />

por Manooch et al. (1984), Dyer et al.<br />

(1997) e Carbonell et al. (1999) em que os<br />

digenéticos constituíram os principais componentes<br />

da comunidade parasitária de C.<br />

hippurus. A maioria dos estudos sobre a comunidade<br />

parasitária de peixes marinhos do<br />

litoral do Rio de Janeiro relata o padrão de<br />

dominância de endoparasitos, sejam estes digenéticos<br />

(LUQUE et al., 1996; TAKEMOTO<br />

et al., 1996; KNOFF et al., 1997; LUQUE;<br />

CHAVES, 1999; SILVA et al., 2000; ALVES<br />

et al., 2004; TAVARES et al., 2004; LUQUE<br />

et al., 2008), nematóides adultos (ALVES;<br />

LUQUE, 2001; ALVES et al., 2002a, b) ou<br />

larvas de nematóides (LUQUE et al., 2002,<br />

2003; SABAS; LUQUE, 2003) apresentando<br />

similaridade com o resultado encontrado. Esse<br />

fato pode ser atribuído ao hábito alimentar, ao<br />

nível trófico e a distribuição geográfica dos<br />

hospedeiros. Entretanto, a dominância de um<br />

determinado táxon ou de uma infracomunidade<br />

parasitária pode variar em decorrência da<br />

densidade e do desenvolvimento ontogênico<br />

dos hospedeiros definitivos, da disponibilidade<br />

dos hospedeiros intermediários e/ou das variações<br />

ambientais (MARCOGLIESE, 2002).<br />

O caráter carnívoro e altamente especializado<br />

da dieta de C. hippurus está bem documentado.<br />

Esse peixe possui um amplo espectro<br />

alimentar predando moluscos, crustáceos<br />

e peixes (MENEZES; FIGUEIREDO, 1980;<br />

MANOOCH et al., 1984; PALOMINO et al.,<br />

1998; OXENFORD, 1999; FIQUEIREDO et<br />

al., 2002), os quais podem atuar como hospedeiros<br />

intermediários ou paratênicos (LUQUE;<br />

POULIN, 2004). Nelson et al. (1984) relataram a<br />

significativa ocorrência de Cerataspis monstrosa<br />

(Decapoda: Penaeidae) no conteúdo estomacal de<br />

2.219 espécimes de C. hippurus coletados no sudeste<br />

dos Estados Unidos e no Golfo do México.<br />

Esse crustáceo, segundo Lefebvre e Poulin (2005),<br />

atua como segundo hospedeiro intermediário de<br />

D. tornatus, sendo os peixes (Perciformes) seus<br />

hospedeiros definitivos. Sendo assim, a alta prevalência<br />

de D. tornatus em C. hippurus pode estar<br />

diretamente ligada ao seu hábito alimentar, assim<br />

como à distribuição geográfica de C. monstrosa.<br />

A presença de larvas de parasitos (Scolex<br />

pleuronectis, Trypanorhyncha não ident.,<br />

Corynosoma sp., Hysterothylacium sp. e<br />

Raphidascarias sp.) em C. hippurus pode<br />

ser considerada um reflexo do nível trófico<br />

intermediário dessas espécies (GEORGE-<br />

NASCIMENTO, 1987; SILVA; SÃO<br />

CLEMETE, 2001; LUQUE; POULIN, 2004).<br />

Segundo Oxenford (1999), C. hippurus,<br />

particularmente os juvenis (10 - 40 cm),<br />

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fazem parte da dieta de várias espécies de<br />

peixes oceânicos (Thunnus albacares, T. alalunga,<br />

Makaria nigircans, Istiophorus platypturus<br />

e Xiphias gladius) e de elasmobrânquios<br />

(Hexanchus griseus e Prionace glauca), os<br />

quais são hospedeiros definitivos de anisaquídeos<br />

e trinpanorinquídeos (SÃO CLEMENTE<br />

et al., 2001; KNOFF et al., 2004).<br />

O caráter agregado ou superdisperso da<br />

distribuição dos parasitos na amostra de C.<br />

hippurus, do presente trabalho, é considerado<br />

um aspecto típico do parasitismo em função<br />

da amplitude das dimensões dos nichos e da<br />

heterogeneidade das diversas populações de<br />

hospedeiros. Luque et al. (1996) citaram vários<br />

exemplos relacionados com a dispersão<br />

de parasitos de peixes marinhos. O valor de<br />

dispersão não significativo determinado para<br />

Pennella sp. pode ser atribuído à baixa abundância<br />

desse copépode em C. hippurus. Fato<br />

semelhante foi observado por Alves et al.<br />

(2004) com o condracantídeo Acanthochondria<br />

triangularis Alves, Luque & Paraguassú, 2003<br />

(Copepoda: Condracanthidae).<br />

Segundo Tavares et al. (2004), a ausência<br />

de correlações significativas entre a abundância,<br />

prevalência e a riqueza parasitária e o<br />

comprimento total do hospedeiro pode estar<br />

associada à homogeneidade da amostra de<br />

hospedeiros examinada. No presente estudo<br />

foram coletados espécimes de C. hippurus com<br />

o intervalo de comprimento total de 25 cm (43-<br />

68)(53,7 ± 4,4), estreito, se considerarmos que<br />

esse peixe tem como comprimento padrão 100<br />

cm, podendo medir até 210 cm (MENEZES;<br />

FIGUEIREDO, 1980; COLLETTE, 2000,<br />

2003; MENEZES et al., 2003).<br />

Ao observarmos o estudo realizado por<br />

Manooch et al. (1984) verificamos que essa<br />

premissa se aplica. Os autores examinaram<br />

2632 espécimes de C. hippurus com um intervalo<br />

de comprimento padrão maior (25<br />

– 153 cm) e observaram a relação positiva<br />

entre o comprimento total dos hospedeiros<br />

e a abundância e prevalência do nematóide<br />

Hysterothylacium pelagicum (Anisakidae) e<br />

de uma espécie de digenético não identificado.<br />

Semelhante resultado foi observado por<br />

Carbonell et al. (1999), quando os espécimes<br />

de C. hippurus apresentaram maior intervalo<br />

de comprimento padrão (60 – <strong>12</strong>4 cm), consequentemente,<br />

correlação positiva entre os va-<br />

lores parasitários de Dinurus spp. e em relação<br />

aos espécimes de C. equiselis (32 – 52cm ),<br />

com intervalo de comprimento menor, não foi<br />

observado correlação. A influência do comprimento<br />

do hospedeiro na composição qualitativa<br />

e quantitativa das infracomunidades parasitárias<br />

é um tópico bastante discutido (LUQUE<br />

et al., 2004). Entretanto, o que se observa nos<br />

estudos sobre comunidades de metazoários<br />

parasitos de peixes marinhos do litoral do<br />

Estado do Rio de Janeiro é uma considerável<br />

heterogeneidade de resultados (TAVARES et<br />

al., 2004; ALVES; LUQUE, 2006).<br />

Os fatores ecológicos dos hospedeiros,<br />

tais como, dieta, gregarismo, densidade, nível<br />

trófico e tamanho corporal podem afetar a fauna<br />

parasitária. Indivíduos adultos podem apresentar<br />

maior riqueza parasitária por estarem a<br />

mais tempo expostos às infecções e por possuírem<br />

maior variedade de nichos (MUÑOZ et al.,<br />

2002). O aumento do comprimento corporal do<br />

hospedeiro está relacionado com o aumento do<br />

tamanho da boca, que por consequência passa<br />

a ingerir uma maior diversidade de alimentos,<br />

fazendo com que o mesmo venha a explorar<br />

novos recursos ou outro nível trófico na cadeia<br />

alimentar. Outro fator que pode contribuir para<br />

o aumento da riqueza parasitária é a capacidade<br />

do hospedeiro de ingerir uma maior variedade<br />

de potenciais hospedeiros intermediários<br />

(KARPOUZI; STERGIOU, 2003).<br />

A fauna parasitária de C. hippurus apresentou<br />

semelhança qualitativa na sua composição<br />

ao compararmos os resultados do presente<br />

trabalho com outros estudos (MANOOCH et<br />

al., 1984; DYER et al.; 1997; CARBONELL et<br />

al., 1999; WILLIAMS; WILLIAMS, 2010) realizados<br />

com esse peixe. Entretanto, a escassez<br />

de trabalhos que abordam os aspectos quantitativos<br />

da fauna parasitária de C. hippurus dificulta<br />

uma análise comparativa mais detalhada.<br />

Em relação aos endoparasitos, os digenéticos<br />

do gênero Dinurus foram registrados<br />

por diversos autores parasitando C. hippurus<br />

e C. equiselis (VIANA, 1924; MANTER,<br />

1934, 1947, 1954; FERNANDES, 1970;<br />

FISCHTHAL; THOMAS, 1971; FISCHTHAL,<br />

1972; OLIVA, 1984; LÓPEZ; TANTALEÁN,<br />

1985; WILLIAMS; WILLIAMS, 1994, 1996;<br />

CARBONELL et al., 1999; KOHN et al.,<br />

2007; WILLIAMS; WILLIAMS, 2010).


Carbonell et al. (1999) abordam a ele-<br />

vada ocorrência do gênero Dinurus em C.<br />

hippurus e C. equiselis, encontrando, no tra-<br />

balho realizado por eles, 100% de prevalência<br />

deste endoparasito em 70% dos espécimes de<br />

C. hippurus estudados. Nahhas e Cable (1964)<br />

e Dyer et al. (1997) registraram três espécies<br />

desse parasito enquanto Williams e Williams<br />

(2010) registraram seis espécies. Dyer et al.<br />

(1997) observaram que o digenético Dinurus<br />

barbatus (Cohn, 1902), com prevalência de<br />

100% e abundância média de 659,6, foi principal<br />

componente da comunidade parasitária de<br />

C. hippurus, corroborando com os resultados<br />

obtidos no presente.<br />

Os cestóides, principalmente os tripanorinquídeos,<br />

foram pouco abundantes e prevalentes<br />

em relação aos estudos realizados<br />

por Dyer et al. (1997), Williams e Williams<br />

(1996), Carbonell et al., 1999 e São Clemente<br />

et al. (2001).<br />

Em relação os ectoparasitos, observamos<br />

similaridade nos táxons que compõem<br />

essas infracomunidades (LUQUE et al.; 1998;<br />

CRESSEY, 1991; WILLIAMS; WILLIAMS,<br />

1996, 2010). No Brasil, Luque et al. (1998)<br />

registraram os copépodes Caligus quadratus<br />

Shiino, 1954 (Caligidae) e Euryphotus nordmanni<br />

Milne Edwards, 1840 (Euryphoridae)<br />

em C. hippurus, indicando serem esses, ectoparasitos<br />

de ampla distribuição geográfica.<br />

O estudo realizado por Carbonell et al.,<br />

1999, com espécimes de C. hippurus e C.<br />

equiselis provenientes do mar Mediterrâneo e<br />

da costa das Ilhas Canárias, reforça essa similaridade.<br />

Nesse, foram registrados os ectoparasitos<br />

Caligus spp., E. nynphae Steenstrup &<br />

Lütken, 1861, Neobrachiella coryphaenidae<br />

Pearse, 1952 (Lernaeopodidade) e Pennella<br />

filosa Linnaeus, 1758 (Pennellidae).<br />

5.<br />

Agradecimento<br />

Agradecemos ao Centro Universitário de<br />

Volta Redonda (<strong>UniFOA</strong>) pelo apoio financeiro.<br />

6.<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

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Carangidae) from Sepetiba bay, Rio de<br />

Janeiro, Brazil. Revista Brasileira de<br />

Biologia, v.56, n.4, p. 639-650, 1996.<br />

<strong>12</strong>1<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


<strong>12</strong>2<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

73. TAVARES, L. E. R.; BICUDO, A. J.<br />

A.; LUQUE, J. L. Metazoan parasites<br />

of needlefish Tylosurus acus (Lacépède,<br />

1803) (Osteichthyes: Belonidae) from<br />

the coastal zone of the State of Rio de<br />

Janeiro, Brazil. Revista Brasileira de<br />

Parasitologia Veterinária, v. 13, n.1, p.<br />

36-40, 2004.<br />

74. TAVARES, L. E. R.; LUQUE, J. L.<br />

Similarity Between Metazoan Parasite<br />

Communities of Two Sympatric Brackish<br />

Fish Species From Brazil. Journal of<br />

Parasitology, v. 94, n. 4, p. 985–989, 2008.<br />

75. TIMI, J. T.; LANFRANCHI, A. L.;<br />

LUQUE, J. L. Similarity in parasite<br />

communities of the teleost fish Pinguipes<br />

brasilianus in the southwestern Atlantic:<br />

Infracommunities as a tool to detect<br />

geographical patterns. International<br />

Journal for Parasitology, v. 40, p. 243–<br />

254, 2010.<br />

76. TRAVASSOS, L.; FREITAS, J. F.<br />

T; BÜHRNHEIM, P. F. Relatório da<br />

excursão do Instituto Oswaldo Cruz ao<br />

estado do Espírito Santo em novembro<br />

de 1964. Boletim do Museu de Biologia<br />

Professor Mello Leitão, v. 31, p. 1-5,<br />

1967.<br />

77. TRAVASSOS, L.; FREITAS, J. F.<br />

T; KOHN, A. Trematódeos do Brasil.<br />

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.<br />

67, 886pp., 1969<br />

78. VIANA, L. Tentativa de catalogação<br />

das espécies brasileiras de trematódeos.<br />

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.<br />

17, p. 95-227, 1924.<br />

79. WILLIAMS, E. H. Jr; WILLIAMS, L.<br />

B. Checklists of the Parasites of Dolphin,<br />

Coryphaena hippurus, and Pompano Dolphin,<br />

C. equiselis with New Records, Corrections,<br />

and Comments on the Literature. Fisheries<br />

Science, v. 18, p. 73-93, 2010<br />

80. WILLIAMS, E. H. Jr; WILLIAMS, L.<br />

B. Parasites of offshore big game fishes<br />

of Puerto Rico and the Western Atlantic.<br />

382p., 1996.<br />

81. WILLIAMS, E. H., Jr.; WILLIAMS, L.<br />

B.; RAND, T. G. Rand. Some copepod<br />

and isopod parasites of Bermuda marine<br />

fishes. Journal of Aquatic Animal Health,<br />

v. 6, p. 279-280, 1994.<br />

82. ZAOUALI, J.; MISSAOUI, H. Small<br />

scale Tunisian fishery for dolphinfish.<br />

Scientia Marina, v. 63, n. 3-4, p. 1-4.<br />

1999.<br />

83. ZAR, J.H. Biostatistical Analysis. Upper<br />

Saddle River: Prentice-Hall, 662p., 1996.<br />

Endereço para Correspondência:<br />

Dimitri Ramos Alves<br />

dimitri_ralves@yahoo.com.br<br />

Centro Universitário de Volta Redonda – <strong>UniFOA</strong><br />

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, <strong>nº</strong> 1325<br />

Três Poços, Volta Redonda - RJ<br />

CEP 27240-560.<br />

Informações bibliográficas:<br />

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:<br />

MARQUES, Livia Castro; ALVES, Dimitri Ramos. Ecologia da comunidade de metazoários parasitos do dourado, Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758, (Osteichthyes:<br />

Coryphaenidae) do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Volta Redonda, Ano VI, n. <strong>16</strong>, agosto <strong>2011</strong>. Disponível em:


Instruções para Autores<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> é uma publicação<br />

quadrimestral arbitrada. Visa sustentar um espaço<br />

editorial de natureza inter e multidisciplinar.<br />

Publica prioritariamente pesquisas originais e<br />

contribuições de caráter descritivo e interpretativo,<br />

baseadas na literatura recente, bem como<br />

artigos sobre temas atuais ou emergentes e comunicações<br />

breves sobre temas relevantes e<br />

inéditos desenvolvidos em nível de Graduação,<br />

e Pós-graduação Lato e Stricto Sensu.<br />

Seleção de artigos: na seleção de artigos<br />

para publicação, avaliam-se a originalidade,<br />

a relevância do tema e a qualidade da metodologia<br />

científica utilizada, além da adequação<br />

às normas editoriais adotadas pelo periódico.<br />

Revisão por pareceristas: todos os<br />

artigos publicados são revisados por pareceristas<br />

resguardado o anonimato dos autores<br />

para uma avaliação mais acurada.<br />

Ineditismo do material: o conteúdo<br />

do material enviado para publicação na Revista<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> não pode ter sido publicado<br />

anteriormente, nem submetido para publicação<br />

em outros locais. Para serem publicados em outros<br />

locais, ainda que parcialmente, necessitam<br />

aprovação por escrito dos Editores. Os conceitos<br />

e declarações contidos nos trabalhos são de<br />

total responsabilidade dos autores.<br />

Direitos Autorais: ao encaminhar<br />

um original à revista, os autores devem estar<br />

cientes de que, se aprovado para publicação,<br />

os direitos autorais do artigo, incluindo os de<br />

reprodução em todas as mídias e formatos, deverão<br />

ser concedidos exclusivamente para a<br />

Revista <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong>. Para tanto é solicitado<br />

ao autor principal que assine declaração<br />

sobre o Conflito de interesses e Transferência<br />

de Direitos Autorais e envie para Editora FOA<br />

- Campus Três Poços - Av. Paulo Erlei Alves<br />

Abrantes, <strong>nº</strong> 1325, Três Poços, Volta Redonda<br />

- RJ. CEP: 27240-560. (Conferir anexo).<br />

Serão aceitos trabalhos para as seguintes<br />

seções:<br />

(1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre<br />

temas pertinentes à saúde pública (máximo de<br />

10.000 palavras); (2) Artigos - resultado de<br />

pesquisa de natureza empírica, experimental<br />

ou conceitual (máximo de 10.000 palavras);<br />

(3) Notas - nota prévia, relatando resultados<br />

parciais ou preliminares de pesquisa (máximo<br />

de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha<br />

crítica de livro relacionado ao campo temático<br />

de CSP, publicado nos últimos dois anos<br />

(máximo de 1.200 palavras); (5) Cartas -<br />

crítica a artigo publicado em fascículo anterior<br />

do <strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong> – Pós-graduação ou<br />

nota curta, relatando observações de campo<br />

ou laboratório (máximo de 1.200 palavras);<br />

(6) Artigos especiais – os interessados em<br />

contribuir com artigos para estas seções<br />

deverão consultar previamente o Editor: (7)<br />

Debate - artigo teórico que se faz acompanhar<br />

de cartas críticas assinadas por autores de<br />

diferentes instituições, convidados pelo<br />

Editor, seguidas de resposta do autor do artigo<br />

principal (máximo de 6.000 palavras); (8)<br />

Fórum - seção destinada à publicação de 2 a<br />

3 artigos coordenados entre si, de diferentes<br />

autores, e versando sobre tema de interesse<br />

atual (máximo de <strong>12</strong>.000 palavras no total).<br />

O limite de palavras inclui texto e referências<br />

bibliográficas (folha de rosto, resumos e<br />

ilustrações serão considerados à parte).<br />

Apresentação do Texto:<br />

Serão aceitas contribuições em português<br />

ou inglês. O original deve ser apresentado em<br />

espaço duplo e submetido eletronicamente,<br />

fonte Arial ou Times New Roman, tamanho<br />

<strong>12</strong>, com margens superiores de 3,0 cm e<br />

as demais em 2,5 cm. Entre linhas deve-se<br />

respeitar o espaçamento de 2,0 cm. Deve<br />

ser enviado com uma página de rosto, onde<br />

constará título completo (no idioma original<br />

e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s)<br />

autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões)<br />

por extenso, com endereço completo apenas<br />

do autor responsável pela correspondência.<br />

Notas de rodapé não serão aceitas.<br />

Ilustrações: as figuras deverão ser enviadas<br />

em alta qualidade, em preto-e-branco e/ou<br />

diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os<br />

custos adicionais para publicação de figuras<br />

em cores serão de total responsabilidade dos<br />

autores. É necessário o envio dos gráficos,<br />

separadamente, no formato do programa em<br />

que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard<br />

Graphics etc.), acompanhados de seus<br />

parâmetros quantitativos, em forma de tabela<br />

e com nome de todas as variáveis. Também<br />

é necessário o envio de mapas no formato<br />

WMF, observando que os custos daqueles em<br />

cores serão de responsabilidade dos autores.<br />

O número de tabelas e/ou figuras deverá ser<br />

mantido ao mínimo (máximo de sete tabelas<br />

e/ou figuras).<br />

Resumos: Com exceção das contribuições<br />

enviadas às seções Resenha ou Cartas, todos<br />

os artigos submetidos em português deverão<br />

ter resumo na língua principal e em inglês.<br />

Os artigos submetidos em inglês deverão vir<br />

acompanhados de resumo em português, além<br />

do abstract em inglês. Os resumos não deverão<br />

exceder o limite de 500 palavras e deverão ser<br />

acompanhados de 3 a 5 palavras-chave.<br />

<strong>12</strong>3<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


<strong>12</strong>4<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

Nomenclatura: devem ser observadas<br />

rigidamente as regras de nomenclatura zoológica<br />

e botânica, assim como abreviaturas e convenções<br />

adotadas nas disciplinas especializadas.<br />

Pesquisas envolvendo seres humanos:<br />

A publicação de artigos que trazem resultados<br />

está condicionada ao cumprimento dos<br />

princípios éticos contidos na Declaração<br />

de Helsinki (1964, reformulada em 1975,<br />

1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical<br />

Association (http://www.wma.net/e/policy/<br />

b3.htm), além do atendimento a legislações<br />

específicas (quando houver) do país no qual a<br />

pesquisa foi realizada. Artigos que apresentem<br />

resultados de pesquisas envolvendo seres<br />

humanos deverão conter uma clara afirmação<br />

deste cumprimento (tal afirmação deverá<br />

constituir o último parágrafo da seção<br />

Metodologia do artigo). Em caso de dúvida e<br />

em não havendo Comitê especializado na IES<br />

de origem, o(s) autor(res) pode(m) entrar em<br />

contato com coeps@foa.org.br (Comitê de<br />

Ética em Pesquisa em Seres Humanos) para<br />

maiores esclarecimentos e possível envio da<br />

pesquisa para avaliação neste.<br />

Agradecimentos - Contribuições de<br />

pessoas que prestaram colaboração intelectual<br />

ao trabalho como assessoria científica, revisão<br />

crítica da pesquisa, coleta de dados entre<br />

outras, mas que não preencham os requisitos<br />

para participar de autoria devem constar dos<br />

“Agradecimentos”. Também podem constar<br />

desta parte agradecimentos a instituições pelo<br />

apoio econômico, material ou outros.<br />

Referências: as referências devem<br />

ser identificadas indicando-se autor(es), ano<br />

de publicação e número de página, quando<br />

for o caso. Todas as referências devem ser<br />

apresentadas de modo correto e completo. A<br />

veracidade das informações contidas na lista de<br />

referências é de responsabilidade do(s) autor(es)<br />

e devem seguir o estabelecido pela Associação<br />

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).<br />

Exemplos:<br />

1 Livro:<br />

MOREIRA FILHO, A. A. Relação médico<br />

paciente: teoria e prática. 2. ed. Belo Horizonte:<br />

Coopmed Editora Médica, 2005.<br />

2 Capítulo de Livros:<br />

RIBEIRO, R. A.; CORRÊA, M. S. N. P.;<br />

COSTA, L. R. R. S. Tratamento pulpar em<br />

dentes decíduos. In:<br />

CORRÊA, M. S. N. P. Odontopediatria na<br />

primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos,<br />

2005. p. 581-605.<br />

3 Dissertação e Tese:<br />

EZEQUIEL, Oscarina da Silva. Avaliação<br />

da acarofauna do ecossitema domiciliar no<br />

município de Juiz de Fora, estado de Minas<br />

Gerais, Brasil. 2000. Dissertação (Mestrado<br />

em Biologia Parasitária)___FIOCRUZ,<br />

Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000.<br />

CUPOLILO, Sonia Maria Neumann.<br />

Reinfecção por Leishmania L amazonensis no<br />

modelo murino: um estudo histopatológico e<br />

imunohistoquímico. 2002. Tese (Doutorado<br />

em Patologia)___FIOCRUZ, Instituto<br />

Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002.<br />

4 Artigos:<br />

ALVES, M. S.; RILEY, L. W.; MOREIRA, B.<br />

M. A case of severe pancreatitis complicated<br />

by Raoultella planticola infection. Journal of<br />

Medical Microbiology, Edinburgh, v. 56, p.<br />

696-698, 2007.<br />

COOPER, C. W.; FALB, R. D. Surgical<br />

adhesives. Annals of the New York Academy<br />

of Sciences, New York, v. 146, p. 214-224,<br />

1968.<br />

5 Documentos eletrônicos:<br />

INSTITUTO NACIONAL DO CâNCER<br />

(Brasil). Estimativa 2006: incidência de câncer<br />

no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. Disponível<br />

em: . Acesso em 4<br />

ago. 2007.<br />

Envio de manuscritos:<br />

Os artigos devem ser enviados exclusivamente<br />

para o seguinte endereço eletrônico:<br />

cadernosunifoa@foa.org.br.<br />

Documentos adicionais, devem ser enviados<br />

para <strong>UniFOA</strong> - Campus Universitário Olezio<br />

Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, <strong>nº</strong><br />

1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP:<br />

27240-560 – Prédio 15 –EDITORA FOA.<br />

OBS: Se professor do <strong>UniFOA</strong>, informar<br />

em quais cursos leciona.


Instructions For Authors<br />

<strong>UniFOA</strong> Reports is a six-monthly<br />

journal that publishes original publishes original<br />

research and contributions of descriptive<br />

character, based in recent literature, as well as<br />

articles on current or emergent subjects and<br />

brief communications on developed excellent<br />

and unknown subjects in level of Lato and<br />

Stricto Sensu pos graduation programs.<br />

The journal accepts articles for the<br />

following sections: (1) Literature reviews<br />

- critical reviews of the literature on themes<br />

pertaining to public health (maximum 10,000<br />

words); (2) Articles - results of empirical, experimental,<br />

or conceptual research (maximum<br />

8,000 words); (3) Research notes - short communications<br />

on partial or preliminary research<br />

results (maximum 2,000 words); (4) Book<br />

reviews - critical reviews of books related to<br />

the journal’s thematic field, published in the<br />

last two years (maximum 1,200 words); (5)<br />

Letters - critiques of articles published in<br />

previous issues of the journal or short notes<br />

reporting on field or laboratory observations<br />

(maximum 1,200 words); (6) Special articles<br />

- authors interested in contributing articles<br />

to this section should consult the Editor<br />

in advance; (7) Debate - theoretical articles<br />

accompanied by critiques signed by authors<br />

from different institutions at the Editor’s invitation,<br />

followed by a reply by the author of the<br />

principal article (maximum 6,000 words); and<br />

(8) Forum - section devoted to the publication<br />

of 2 or 3 interrelated articles by different authors,<br />

focusing on a theme of current interest<br />

(maximum <strong>12</strong>,000 words for the combined articles).<br />

The above-mentioned maximum<br />

word limits include the main text and bibliographic<br />

references (the title page, abstracts,<br />

and illustrations are considered separately).<br />

Presentations of Papers<br />

Contributions in Portuguese or English<br />

are welcome. The original should be double-spaced<br />

and submitted eletronically, using<br />

Arial or Times New Roman size <strong>12</strong> font with<br />

2.5cm margins. All manuscripts should be submitted<br />

with a title page, including the complete<br />

title (in the original language and English)<br />

and running title, name(s) of the author(s) and<br />

institutional affiliation(s) in full and the complete<br />

address for the corresponding author<br />

only. All manuscripts should be submitted<br />

with a diskette or CD containing the article’s<br />

file and identifying the software program and<br />

version used (Windows-compatible programs<br />

only). Footnotes will not be accepted. Authors<br />

are required to send a letter informing whether<br />

the article is being submitted for the first time<br />

or re-submitted to our Secretariat.<br />

When sending a second version of<br />

the article, one print copy should be sent, together<br />

with the diskette or CD.<br />

Illustrations: figures should be sent<br />

in a high-quality print version in black-andwhite<br />

and/or different tones of gray and/or hachure.<br />

Any additional cost for publication of<br />

color figures will be covered entirely by the<br />

author(s). Graphs should be submitted separately<br />

in the format of the program in which<br />

they were generated (SPSS, Excel, Harvard<br />

Graphics, etc.), accompanied by their quantitative<br />

parameters in table form and with the<br />

names of all the variables. Maps should also<br />

be submitted in WMF format, and the cost of<br />

colored maps will be covered by the author(s).<br />

Maps that have not been generated electronically<br />

must be submitted on white paper (do<br />

not use tracing paper). Tables and/or figures<br />

should be kept to a minimum (maximum seven<br />

tables and/or figures).<br />

Abstracts: with the exception of<br />

contributions submitted to the Book review or<br />

Letters sections, all manuscripts submitted in<br />

Portuguese should include an abstract in both<br />

the principal language and English. Articles<br />

submitted in English should include an abstract<br />

in Portuguese, in addition to the English<br />

abstract. The abstracts should not exceed 250<br />

words and should include 3 to 5 key words.<br />

Nomenclature: rules for zoological<br />

and botanical nomenclature should be strictly<br />

followed, as well as abbreviations and conventions<br />

adopted by specialized disciplines.<br />

Research involving Ethical Principles:<br />

publication of articles with the results of<br />

research involving human beings is conditioned<br />

on the ethical principles contained in the<br />

Helsinki Declaration (1964, revised in 1975,<br />

1983, 1989, 1996, and 2000), of the World<br />

Medical Association (http://www.wma.net/e/<br />

policy/b3.htm), in addition to complying with<br />

the specific legislation (when existing) of the<br />

country in which the research was performed.<br />

Articles presenting the results of research involving<br />

human beings must contain a clear<br />

statement of such compliance (this statement<br />

should be the last paragraph of the article’s<br />

Methodology section). After acceptance of the<br />

article for publication, all the authors are required<br />

to sign a form provided by the Editorial<br />

Secretariat of <strong>UniFOA</strong> Reposts – Pos graduation<br />

stating their full compliance with the specific<br />

ethical principles and legislation.<br />

Acknowledgements: Contributions<br />

of people, grants and institutions must consist<br />

the section of Acknowledgements.<br />

Declaration: the main author must<br />

send, by post office, declaration on the Conflict<br />

of Interests and Transference of Copyrights.<br />

<strong>12</strong>5<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


<strong>12</strong>6<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

References<br />

References should be numbered consecutively<br />

according to the order in which<br />

they appear in the manuscript. They should<br />

be identified by superscript Arabic numerals<br />

(e.g., Oliveira1). References cited only in tables<br />

and figures should be numbered according<br />

to the last reference cited in the body of<br />

the text. Cited references should be listed at<br />

the end of the article in numerical order. All<br />

references should be presented in correct and<br />

complete form. The veracity of the information<br />

contained in the list of references is the<br />

responsibility of the author(s).<br />

Examples:<br />

a) Periodical articles<br />

Hedberg B, Cederborg AC, Johanson M.<br />

Care-planning meetings with stroke survivors:<br />

nurses as moderators of the communication.<br />

J Nurs Manag, 15(2):214-21,<br />

2007.<br />

b) Institution as author<br />

European Cardiac Arrhythmia Society -<br />

2nd Annual Congress, April 2-4, 2006,<br />

Marseille, France.<br />

Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-<br />

103, 2006.<br />

c) Without author specification<br />

Rubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-camptothecin,<br />

9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamptothecin,<br />

RFS 2000, RFS2000. Drugs R D.<br />

5(5):305-11, 2004.<br />

d) Books and other monographs<br />

FREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O<br />

cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Paz e Terra, 2000.<br />

· Editor or organizer as author<br />

Duarte LFD, Leal OF, organizers. Doença,<br />

sofrimento, perturbação: perspectivas<br />

etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz;<br />

1998.<br />

· Institution as author and publisher<br />

Institute of Medicine recommends new P4P<br />

system for Medicare. Healthcare Benchmarks<br />

Qual Improv., 13(<strong>12</strong>):133-7, 2006.<br />

e) Chapter of book<br />

Aggio A. A revolução passiva como hipótese<br />

interpretativa da história política latino-<br />

americana. In: Aggio, Alberto (org.).<br />

Gramsci: a vitalidade de um pensamento.<br />

São Paulo: Unesp, 1998.<br />

f) Events (conference proceedings)<br />

Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso<br />

Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMI-<br />

NÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍ-<br />

COLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill,<br />

p. <strong>16</strong>1-201, 1985.<br />

g) Paper presented at an event<br />

Bengtson S, Solheim BG. Enforcement of<br />

data protection, privacy and security in me-<br />

dical informatics. In: Lun KC, Degoulet P,<br />

Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDIN-<br />

FO 92. Proceedings of the 7th World Congress<br />

on Medical Informatics; 1992 Sep<br />

6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam:<br />

North Holland; 1992. p. 1561-5.<br />

h) Theses and dissertations<br />

Rodriques GL. Poeira e ruído na produção<br />

de brita a partir de basalto e gnaisse nas<br />

regiões de Londrina e Curitiba, Paraná:<br />

Incidência sobre os trabalhadores e Meio<br />

Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade<br />

Federal do Paraná.Curitiba, 2004.<br />

i) Other published work<br />

· Journal article<br />

Lee G. Hospitalizations tied to ozone<br />

pollution: study estimates 50,000 admissions<br />

annually. The Washington Post 1996<br />

Jun 21; Sect. A:3.<br />

· Legal documents<br />

MTE] Ministério do Trabalho e Emprego.<br />

Secretaria de Segurança do Trabalho. Portaria<br />

N°. 25 de 29/<strong>12</strong>/1994. Norma Regulamentadora<br />

N° 9: Programas de Prevenção<br />

de Riscos Ambientais.<br />

j) Electronic material<br />

· CD-ROM<br />

Severino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva<br />

MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Repicagem<br />

de plântulas de mamoneira visando<br />

à produção de mudas. In: I Congresso<br />

Brasileiro de Mamona - Energia e Sustentabilidade<br />

(CD-ROM). Campina Grande:<br />

Embrapa Algodão, 2004<br />

· Internet<br />

UMI ProQuest Digital Dissertations. Disponível<br />

em: .<br />

Acesso em: 20 Nov. 2001.<br />

The articles must be sent for the following<br />

electronic address: cadernosunifoa@foa.<br />

org.br.<br />

Documents (declaration, photos, maps), must<br />

be sent to <strong>UniFOA</strong> - Campus Universitário<br />

Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes,<br />

<strong>nº</strong> 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ.<br />

CEP: 27240-560 – A/C Núcleo de Pesquisa/<br />

NUPE.<br />

OBS: If <strong>UniFOA</strong> professor, inform the<br />

courses in which teaches.


Permutas Institucionais<br />

informações sobre permuta<br />

gabriela.ferreira@foa.org.br<br />

ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF<br />

ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ<br />

Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO<br />

Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP<br />

Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP<br />

Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ<br />

Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO<br />

Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO<br />

Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS<br />

Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC<br />

Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP<br />

Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP<br />

Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP<br />

CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO<br />

CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA<br />

EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ<br />

Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ<br />

FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ<br />

FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG<br />

FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA<br />

Facudade 2 de Julho - Salvador/BA<br />

Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS<br />

Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ<br />

Faculdade de Ciências - Bauru/SP<br />

Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE<br />

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA<br />

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG<br />

Faculdade de Minas - Muriaé/MG<br />

Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO<br />

Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA<br />

Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR<br />

Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS<br />

Faculdade SPEI - Curitiba/PR<br />

Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA<br />

Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP<br />

Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR<br />

Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS<br />

Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE<br />

Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP<br />

Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR<br />

FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG<br />

FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA<br />

<strong>12</strong>7<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong>


<strong>12</strong>8<br />

<strong>Cadernos</strong> <strong>UniFOA</strong><br />

<strong>Edição</strong> <strong>nº</strong> <strong>16</strong> - <strong>Agosto</strong>/<strong>2011</strong><br />

Permutas Institucionais<br />

FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP<br />

FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG<br />

FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE<br />

FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP<br />

informações sobre permuta<br />

gabriela.ferreira@foa.org.br<br />

FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ<br />

FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE<br />

FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF<br />

Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG<br />

Fundação Santo André - Santo André/SP<br />

Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS<br />

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação<br />

de Informações - Rio de Janeiro/RJ<br />

Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS<br />

Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC<br />

Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ<br />

Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA<br />

Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP<br />

Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS<br />

MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF<br />

MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ<br />

Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP<br />

PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP<br />

PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP<br />

TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG<br />

The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA<br />

TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ<br />

TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ<br />

Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ<br />

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ<br />

UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ<br />

UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ<br />

UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF<br />

UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ<br />

União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT<br />

Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR<br />

Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP<br />

Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP<br />

UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS<br />

UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP<br />

Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ<br />

UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM<br />

Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SP


Formando para vida.

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