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A vida dos personagens é retratada de forma normal, afastada do mundo dos<br />

adultos. Porém, indiretamente, a ditadura paira em suas vidas, despertando<br />

sentimentos inexplicáveis, como medo, desconfiança e uma insegurança geral;<br />

por exemplo, na cena em que Miklós, voltando para casa, é cercado por árvores<br />

secas de natal, que são jogadas pelas janelas.<br />

Vida cotidiana<br />

Enquanto as crianças fogem da realidade dos adultos, estes tentam ignorar o<br />

que está a sua volta. Todos os filmes apresentam cenas em que os protagonistas<br />

demonstram um grande desejo de viver momentos felizes, mas são surpreendidos<br />

com a bruta realidade das ditaduras.<br />

Como em Cabra cega, quando Thiago e Rosa escutam música, compartilham<br />

bons momentos em um piquenique no alto do prédio e depois fazem amor. Em<br />

Último relatório sobre Anna, a política social-democrata Anna Kéthly, emigrando da<br />

Hungria, continua a luta pela liberdade de seu país, desimpedida, no entanto, de<br />

fazer piadas, beber vinho e dar gargalhadas, até mesmo com a primeira ministra de<br />

Israel. Durante o filme, relembra o grande amor de sua vida através de flashbacks<br />

que recuperam momentos em companhia de seu amado, os dois sentados à beira<br />

do rio. No presente, esconde-se debaixo do lençol, como se pudesse se esconder<br />

da realidade.<br />

Amor ou liberdade<br />

Diante do contexto ditatorial, o amor fica em segundo plano, perdendo para a<br />

liberdade. Não é possível ter uma vida normal para os que decidiram lutar contra o<br />

regime . Muitas vezes, o que lhes resta é a clandestinidade. Como, por exemplo,<br />

em Zuzu Angel: Stuart, filho da personagem principal, separa-se da namorada<br />

Rosa, militante política, e diz: “nossos sonhos compensam qualquer sacrifício”.<br />

Esse mesmo sacrifício é vivido por Anna Kéthly, que, ao deixar a Hungria, diz para<br />

seu grande amor: “tenho medo de estar te vendo pela última vez”.<br />

Medo ou coragem para agir e protestar<br />

O cotidiano de uma vida durante a ditadura é transversal a um cotidiano normal.<br />

Envolto sempre por medos, frustrações e dores, trazem ao mundo de cada<br />

indivíduo a necessidade de lutar contra sentimentos oprimidos.<br />

Em Zuzu Angel, a estilista se torna ativista dos direitos humanos após a morte<br />

do filho pelos militares. Enquanto vivo, Stuart tenta convencer sua mãe a lutar<br />

contra a ditadura. Discordando de sua visão, Zuzu tem somente o desejo de viver<br />

uma vida normal: “todo mundo está lutando para sobreviver”.<br />

De forma contrária, Dona Nenê, em Cabra cega, por tanto temer a ditadura<br />

espanhola, não ajuda o próprio filho a se esconder em casa, colocando a vida<br />

dele em risco. Logo depois, foge para o Brasil. O temor da opressão faz de<br />

Thiago o verdadeiro herói do filme. Sem temer o confrontamento com o regime, o<br />

personagem e sua companheira entraram na luta armada para defender a pátria.<br />

geração praça moscou o cinema húngaro contemporâneo<br />

Mesmo torturada, ela consegue manter sua promessa ideológica diante do grupo<br />

revolucionário do qual fazia parte.<br />

Ao mesmo tempo em que há os militantes fiéis contra a ditadura, há os temerosos<br />

em relação a ela, e também os que não concordam com o regime, mas não entram<br />

em conflito. Esse é o caso de Pedro, que esconde Thiago em seu apartamento,<br />

mas não quer se envolver mais do que isso. Pedro quer viver sua juventude, e não<br />

deseja que a luta contra a ditadura atrapalhe seus planos. Dirigindo-se a Thiago,<br />

que reclama do cheiro da maconha, elucidam-se diferentes formas de se conviver<br />

em uma ditadura: “Olha só cara, eu sei que a tua barra está pesada. Mas eu<br />

estou aqui cumprindo meu papel. Posso não ser um grande herói como você, mas<br />

também não sou nenhum babaca”.<br />

Tais descrições dos personagens, situações e sentimentos podem acontecer<br />

em qualquer parte do mundo com qualquer pessoa. Nesse sentido, uma frase de<br />

Dona Nenê é emblemática, ao contar a história de sua vinda para o Brasil. Com<br />

esperança de começar uma vida nova, a personagem reflete com Thiago sobre<br />

as mesmas disputas encontradas na Espanha e enfatiza de forma lacônica: “as<br />

perdas são as mesmas”.<br />

Último relatório sobre Anna, de Márta Mészáros<br />

Sarolta Kóbori é doutoranda em Teoria de Cinema, Mídia e Cultura na Universidade<br />

de Ciências Eötvös Lóránt, Budapeste.<br />

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