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BILATERALIDADE CEREBRAL NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

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<strong>BILATERALIDADE</strong> <strong>CEREBRAL</strong> <strong>NA</strong> <strong>PRÁTICA</strong> <strong>PEDAGÓGICA</strong><br />

Cynthia Ratzke Silva Baggio<br />

Professora do Colégio Militar de Curitiba<br />

Especialista em Língua Inglesa<br />

A expectativa que os alunos nutrem, hoje, sobre a atuação do professor em sala de<br />

aula diverge da postura que grande parte dos docentes têm apresentado na escola. Nas<br />

últimas décadas, alguns pedagogos e professores universitários têm se debruçado na busca<br />

de opções metodológicas que caracterizem uma ação docente compatível com as exigências<br />

e necessidades do mundo moderno.<br />

Os métodos utilizados, no momento, nos trazem a seguinte evidência: 96% dos<br />

alunos que se matriculam voluntariamente em aulas de idiomas desistem depois de três anos.<br />

Somente 4% continuam a alcançar pelo menos o nível mínimo de fluência.<br />

Estudos recentes sobre os paradigmas da ciência têm ajudado na busca de alterações<br />

da prática pedagógica oferecida pelos professores. Atualmente, ainda trabalha-se de forma<br />

muito conservadora. Acredita-se que o processo pedagógico assume duas dimensões. A<br />

primeira, associada ao paradigma newtoniano – cartesiano, que tem como foco central a<br />

reprodução do conhecimento e outra caracterizada como inovadora, que tem como foco<br />

central a produção do conhecimento.<br />

Ao fragmentar o conhecimento, isola-se o homem das emoções que a razão<br />

desconhece. Deixa-se de contemplar, em nome do racionalismo, sentimentos como:<br />

solidariedade, humanidade, sensibilidade, afeto, amor e espírito de ajuda mútua.<br />

Ao mesmo tempo em que o mundo foi contemplado pela técnica, angariando um<br />

avanço significativo no aspecto material, este movimento levou o homem a ver o mundo de<br />

maneira compartimentalizada, separando a ciência da ética, a razão do sentimento, a ciência<br />

da fé, e em especial, separando mente e corpo. O homem passou a separar o racional do<br />

emocional, pois o pensamento newtoniano-cartesiano apresenta uma epistemologia


educionista que fragmentou tanto a nossa realidade externa como a interna, a dimensão<br />

interpessoal e a psíquica.“No plano existencial, a ética individualista e os valores materiais<br />

cimentam a civilização do Ter”. (Cardoso, 1995, p.31)<br />

A visão do mundo estende-se em todas as dimensões, mas atinge a educação de<br />

maneira acentuada. A visão fragmentada levou professores e alunos a processos que se<br />

restringem à reprodução do conhecimento.<br />

Na área educacional, o pensamento newtoniano – cartesiano ocasionou marcas<br />

relevantes que afetam significamente as pessoas que freqüentam a escola em todos os níveis<br />

de ensino. Um bom exemplo disso são as metodologias utilizadas pelos docentes que estão<br />

assentadas na reprodução, na cópia e na imitação. Dessa forma, a ênfase do processo<br />

pedagógico recai no produto, no resultado, na memorização do conteúdo, restringindo-se ao<br />

cumprimento de tarefas repetitivas que, muitas vezes, não apresenta sentido ou significado<br />

para quem as realiza. Os alunos permanecem organizados nas carteiras, divididos por filas,<br />

de preferência em silêncio, sem questionar, sem expressar seu pensamento, aceitando com<br />

passividade o autoritarismo e a impossibilidade de divergir. Especialmente no início do<br />

século, tanto professores como alunos aceitavam todos os procedimentos pedagógicos como<br />

verdades absolutas e inquestionáveis.<br />

A desarticulação está presente na educação e propõe uma ruptura entre o ensinar e o<br />

formar. O intelecto é confiado às escolas, os valores e os sentimentos, reservados à<br />

formação familiar. A frieza da racionalidade e da objetividade científica têm sido<br />

questionada nas últimas décadas por educadores como Freire e Giroux, e por físicos como<br />

Capra e Prigogine, que se preocupam com o futuro das gerações.<br />

O desafio que se impõe é a transposição de um paradigma conservador que<br />

caracterizou as organizações familiares, religiosas e educativas nos últimos séculos, em<br />

busca de um novo paradigma, que venha proporcionar a renovação das atitudes, valores e<br />

crenças exigidas no final do século XX.<br />

O paradigma inovador na ciência apresenta uma nova visão de mundo que Capra<br />

contribui para esclarecer:<br />

2


O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe<br />

o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas.<br />

Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo ecológico for empregado<br />

num sentido mais amplo e mais profundo que o usual. (CAPRA,1996, p.25)<br />

Este artigo trata ainda sobre a dimensão do paradigma inovador. Esta visão está<br />

pautada na visão holística que propõe uma ciência que supere a fragmentação e que tenta a<br />

aproximação do sujeito e do objeto. Trata-se de um processo que recupere a emoção e a<br />

intuição aliada à razão. Para Cardoso (1995, p.53), “(...) educar significa utilizar práticas<br />

pedagógicas que desenvolvam simultaneamente razão, sensação, sentimento, e intuição e<br />

que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e<br />

da unidade do mundo”.<br />

No entanto, para atingir tais requisitos, os professores precisam visualizar o aluno<br />

como um ser pleno e com potencialidades para se desenvolver completamente. Para que esse<br />

desafio seja transposto em ações concretas, o docente precisa instigar os alunos para o uso<br />

dos dois lados do cérebro, pois o homem é um ser inteiro e dotado de dois hemisférios<br />

cerebrais que estão conectados e propiciam forte inter-relação. Portanto, a educação precisa<br />

facilitar o aprendizado para o crescimento da pessoa como um todo. Assim, no processo<br />

educativo, deveria ser levado em consideração o cérebro como um todo. Para Weil, Crema e<br />

D’Ambrosio (1993, p.47): “... convém lembrar aqui a existência de dois hemisférios<br />

cerebrais, cada um com funções diferentes; no cérebro direito predominam a intuição, a<br />

criatividade, a sinergia, a síntese, a visão global; o cérebro esquerdo é mais racional,<br />

analítico, conceitual e por isso mesmo dualista”.<br />

O antigo paradigma está evidentemente ligado a esse último hemisfério, enquanto o<br />

novo paradigma leva em conta dois hemisférios, com apoio no corpo caloso responsável<br />

pela sinergia entre eles.<br />

Professores, de maneira geral, agem de forma a provocar nos estudantes somente o<br />

uso do cérebro do lado esquerdo. No entanto, o cérebro do lado direito, pouco contemplado<br />

na prática pedagógica do docente, permite desenvolver no discente a intuição, a<br />

sensibilidade, a criatividade, a estética, o sentimento, e estabelece conexões, permitindo ao<br />

aluno perceber contextos e avaliar significados.<br />

3


No que diz respeito ao ensino de línguas estrangeiras, perceber-se que o cérebro<br />

trabalha de maneira específica. A língua materna, que aprendemos quando começamos a<br />

falar, fica guardada numa região do lobo frontal, no lado esquerdo do cérebro. É, portanto, a<br />

matriz da nossa linguagem.<br />

Quando se aprende uma segunda língua, entra em ação o lado direito do cérebro. É<br />

criada uma espécie de “filial” da linguagem para ajudar a memorizar esse novo dicionário de<br />

palavras estrangeiras. No momento em que outra língua se torna quase igual à língua<br />

materna, muito provavelmente, o aprendizado ficará quase totalmente do lado esquerdo do<br />

cérebro.<br />

Mesmo assim, historicamente muitas das escolas ainda têm privilegiado o trabalho<br />

com o lado esquerdo do cérebro quase que exclusivamente desde a terceira série do ensino<br />

fundamental até a universidade. Além disso, em salas de aula, as carteiras estão dispostas<br />

em um modelo que é confortável para as instruções do lado esquerdo do cérebro. Os alunos<br />

sentam em fileiras, olhando para uma só direção para receber informação que será dada em<br />

uma seqüência de séries verbais tanto em forma de discurso ou impressa. Aulas<br />

exclusivamente expositivas (input) trabalham apenas uma metade do cérebro, o lado<br />

esquerdo. Alunos que são “academicamente dotados” podem, por conta própria, levar a<br />

informação que chega para o lado direito do cérebro para um completo processo de alcance<br />

ao significado.<br />

Como ativar a bilateralidade cerebral?<br />

O cérebro humano tem sido estudado há anos, mas educadores têm prestado<br />

pouquíssima atenção a isto. Recentes e avançados estudos tecnológicos têm tornado possível<br />

a análise de cérebros vivos, possibilitando as descobertas reveladoras de interessantes<br />

características do cérebro humano.<br />

Quando se ativam emoções, trabalha-se com o lado direito do cérebro. O hipocampo,<br />

que fica bem no meio do cérebro, captura e armazena sensações e emoções de uma<br />

experiência. Ao se trabalhar com as emoções dos alunos, ativar-se o lado direito do cérebro<br />

e conseqüentemente realizando o ensino com eficiência.<br />

4


Deve-se levar em conta que não há um único local responsável pela memória no<br />

cérebro, mas o hipocampo tem, por muito tempo, sido considerado central para a memória.<br />

Quando a ação é realizada repetidamente, os mesmos neurônios respondem e quanto mais<br />

essa ação for repetida, mais eficiente o cérebro tende a se tornar. Eventualmente, é<br />

necessário que se engatilhe o começo de uma seqüência de ações para que as partes<br />

internalizadas se encaixem. É a emoção que faz esse gancho que promove a lembrança de<br />

eventos.<br />

Para ajudar os alunos, os docentes precisam ligar a informação a um episódio<br />

emocional positivo em sala de aula. Os professores dão a si mesmos a vantagem de usar o<br />

lado direito do cérebro quando se movimentam pela sala de aula enquanto despejam<br />

informações. Porém, não dão aos seus alunos o mesmo privilégio. Eles devem sentar-se e<br />

prestar atenção nos professores conforme se movimentam. São permitidos movimentos<br />

muito limitados aos alunos, por exemplo, quando eles mexem seus braços para fazerem<br />

anotações ou levantam suas mãos para, eventualmente, fazerem perguntas.<br />

Com a consciência de que o corpo dos alunos e o movimento dessa estrutura física<br />

são nossos maiores aliados na função de ajudar os alunos produzirem informação, deve-se<br />

encorajá-los a mover-se em sala de aula freqüentemente. Talvez seja necessário dizer aos<br />

alunos para sentirem-se à vontade para levantar a qualquer momento e saírem da sala para<br />

beber um pouco de água, irem ao banheiro, ou simplesmente, caminharem no fundo da sala<br />

para terem uma diferente perspectiva do cenário. Também seria interessante trocar de papéis<br />

em sala de aula para permitir um pouco de movimento. Por exemplo, iniciar cada aula<br />

convidando os alunos para apresentarem seus trabalhos, para que todos estejam<br />

continuamente movimentando-se em sala.<br />

A propósito, seria interessante convidar os alunos para apresentarem seus trabalhos<br />

em dupla e não apenas sozinhos. Essa estratégia neutraliza o medo gerado pelo crítico lado<br />

esquerdo do cérebro. Há ainda uma pesquisa de Dienstbier (1989), mostrando que exercícios<br />

físicos adestram para uma resposta rápida de adrenalina, melhorando o fluxo sanguíneo,<br />

portanto, permitindo assim um bom fluxo de oxigênio para o cérebro, o que ajuda os<br />

alunos a pensarem melhor.<br />

5


Se você pensar nas aulas a que assistiu, conseguiria lembrar-se de algum professor,<br />

em qualquer série - da primeira até a universidade, que se sentou com os braços cruzados e<br />

discorreu sobre determinado assunto por 60 minutos sem movimentar-se?<br />

A busca por significado ocorre por meio de modelos conforme o cérebro tenta<br />

discernir e entender eventos em seu ambiente. Pelo fato de o cérebro criar modelos para<br />

aprender, o professor deve fornecer materiais de uma forma que permita que o cérebro do<br />

aluno faça conexões significativas e relevantes para extrair modelos. A ânsia do cérebro por<br />

significado é automática não se pode parar o processo natural do cérebro pela busca de<br />

modelos.<br />

Pelo fato de o lobo temporal, posterior ao nascimento, ser geralmente maior que o<br />

direito, o lado esquerdo normalmente começa a ser usado em maior extensão que o direito.<br />

A tendência é que se dirija mais atenção à região bem desenvolvida.<br />

Fundamentalmente, por ser uma característica natural, o professor precisa instigar o<br />

uso do lado direito do cérebro em sala de aula. Se os professores querem prover liderança<br />

informada, indivíduos interessados, cidadãos ativos e competentes nas crescentes questões<br />

educacionais, devem reconstruir a prática educativa. É importante salientar que o docente<br />

precisa trabalhar com o todo: todo cérebro, todo corpo, todo conhecimento, todos os gostos,<br />

todos os gestos, todas as pessoas e, principalmente, com todo amor.<br />

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BEHRENS, Marilda Aparecida. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Curitiba:<br />

Champagnat, 2003.<br />

CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. São<br />

Paulo: Cultrix, 1996.<br />

CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. A canção da inteireza: uma visão holística da<br />

educação. São Paulo: Summus, 1995.<br />

CHRISTISAN, MaryAnn. Brain - based research and language teaching. Forum. English<br />

teaching magazine. April 2002.<br />

DIENSTBIER, R. Periodic adrenaline arousal boosts health, coping. Brain – mind Bulletin.<br />

14,9. 1989.<br />

FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho D’água, 1995.<br />

GIROUX, Henry. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da<br />

aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.<br />

PRIGOGINE, Ilya. O reencantamento da natureza. Diálogos com cientistas e sábios: a<br />

busca da unidade perdida. São Paulo: Cultrix, 1986.<br />

WEIL, Pierre, AMBROSIO, Ubiratan & CREMA, Roberto. Rumo à nova<br />

Transdisciplinaridade: sistemas abertos de conhecimento. São Paulo: Summus, 1993.<br />

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