10.06.2013 Views

Gênero Textual Autobiografia - Secretaria de Estado da Educação

Gênero Textual Autobiografia - Secretaria de Estado da Educação

Gênero Textual Autobiografia - Secretaria de Estado da Educação

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

quantos anos tenho agora. Meu pai foi muito rico, per<strong>de</strong>u tudo, ficamos pobres, morei numa<br />

fazen<strong>da</strong> velha. Não tinha nem água, nem luz e nem priva<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa. A água, a gente<br />

tinha <strong>de</strong> pegar na mina. A luz era <strong>de</strong> lamparina a querosene. A priva<strong>da</strong> era uma casinha fora<br />

<strong>da</strong> casa. Casinha do lado <strong>de</strong> fora. Não precisava <strong>de</strong> brinquedos. Havia os cavalos, as vacas,<br />

as galinhas, os riachinhos, as pescarias. E eu gostava <strong>de</strong> ficar vendo o monjolo.<br />

Depois mu<strong>de</strong>i para ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s: Lambari, Três Corações, Varginha. Me divertia fazendo<br />

meus brinquedos. Brinquedo que a gente compra pronto não tem graça. Enjoa logo.<br />

Quantos brinquedos há no seu armário, esquecidos? Fazer o brinquedo é parte <strong>da</strong><br />

brinca<strong>de</strong>ira. Foi fazendo brinquedos que aprendi a usar as ferramentas, martelo, serrote,<br />

alicate. Gostava <strong>de</strong> an<strong>da</strong>r <strong>de</strong> carrinho <strong>de</strong> rolemã. Brincava <strong>de</strong> soltar papagaio, bolinhas <strong>de</strong><br />

gu<strong>de</strong>, pião. Fiz um sinuquinha. Se quiser ler a estória <strong>de</strong> como fiz o sinuquinha. Como a<br />

gente era pobre nunca tive velocípe<strong>de</strong> ou bicicleta. Ain<strong>da</strong> hoje não sei an<strong>da</strong>r <strong>de</strong> bicicleta.<br />

Depois nos mu<strong>da</strong>mos para o Rio <strong>de</strong> Janeiro on<strong>de</strong> sofri muito. Os meninos cariocas<br />

caçoavam <strong>de</strong> mim por causa do meu sotaque <strong>de</strong> mineiro <strong>da</strong> roça. Gostava <strong>de</strong> ler Gibi e X-9.<br />

Nunca fui um bom aluno. Não me interessava pelas coisas que ensinavam nas escolas.<br />

Estu<strong>de</strong>i piano porque queria ser pianista. Mas eu não tinha talento. Desisti. Pensei ser<br />

engenheiro, médico. Li a biografia <strong>de</strong> um homem extraordinário, chamado Albert Schweitzer.<br />

Ele era filho <strong>de</strong> um pastor protestante. Pastor é uma espécie <strong>de</strong> padre <strong>da</strong>s igrejas<br />

protestantes. Schweitzer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> menino tocava orgão. Foi um especialista na música <strong>de</strong><br />

Bach e <strong>da</strong>va concertos por to<strong>da</strong> a Europa.<br />

Fui ser pastor porque queria cui<strong>da</strong>r dos pensamentos e dos sentimentos <strong>da</strong>s<br />

pessoas, porque é <strong>da</strong>í que surgem nossas ações. Se a gente tem pensamentos bons a<br />

gente faz coisas boas. Se tem pensamentos maus faz coisas ruins. Morei e estu<strong>de</strong>i nos<br />

<strong>Estado</strong>s Unidos. Voltei para o Brasil. Vim morar em Campinas. Fui ser professor numa<br />

universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tenho 3 filhos. O mais velho se chama Sérgio e é médico. O segundo se<br />

chama Marcos, é biólogo. E a Raquel, minha última filha, que vai ser arquiteta.<br />

Meu maior brinquedo hoje é escrever. Adoro escrever. Especialmente estórias para<br />

crianças. Já escrevi mais <strong>de</strong> trinta. To<strong>da</strong>s com ilustrações. Meus dois últimos livros para<br />

crianças são O gato que gostava <strong>de</strong> cenouras e A história dos três porquinhos ( A estória<br />

que normalmente se conta não é a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira. Eu escrevi a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira...) . Para mim ca<strong>da</strong><br />

livro é um brinquedo.<br />

Sou também psicanalista, que é um tipo <strong>de</strong> médico que cui<strong>da</strong> dos pensamentos e<br />

dos sentimentos <strong>da</strong>s pessoas. Quando os pensamentos e os sentimentos não são cui<strong>da</strong>dos<br />

eles po<strong>de</strong>m ficar doentes. São várias as doenças que po<strong>de</strong>m atacar os pensamentos e os<br />

sentimentos. Aí as pessoas po<strong>de</strong>m ficar mandonas, malva<strong>da</strong>s, falam sem parar, ou não<br />

falam nunca, têm medo <strong>de</strong> coisas imagina<strong>da</strong>s, ficam tími<strong>da</strong>s, não sabem repartir, ficam<br />

chatas, etc. A psicanálise existe para aju<strong>da</strong>r as pessoas a ter sentimentos e pensamentos<br />

mansos.<br />

Coisas que me dão alegria: ouvir música, ler, conversar com os amigos, an<strong>da</strong>r nas<br />

matas, olhar a natureza, tomar banho <strong>de</strong> cachoeira, brincar com as minhas netas (Mariana e<br />

Camila, filhas do Sérgio; Ana Carolina e Rafaela, filhas do Marcos), armar quebra-cabeças,<br />

empinar pipas, cachorros. Fazer os próprios brinquedos e armar quebra–cabeças aju<strong>da</strong> a<br />

<strong>de</strong>senvolver a inteligência. Cui<strong>da</strong>do com os brinquedos comprado prontos: eles po<strong>de</strong>m<br />

emburrecer!<br />

Texto 03<br />

Fonte: http://www.rubemalves.com.br/brinquedoteca.htm

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!