Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
como diz Buck-Morss: "(...) a flânerie como uma forma <strong>de</strong> percepção se conserva na<br />
comercialização das pessoas e as coisas na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa". 22<br />
O produto do passeio dos convidados pela voz é nomeado “impressão”,<br />
remetendo a um certo tipo <strong>de</strong> crítica/crônica que o convite para o "passeio" já parece<br />
indicar. Nesse sentido, as colaborações privilegiarão um olhar <strong>de</strong> "passagem" e, como<br />
diz Antelo, "Lo que pasa, em todo caso, es siempre una ficción, un aspecto, un espejo,<br />
una imagem". 23<br />
A crítica impressionista, a que parece remeter o convite, é reinvenção do <strong>Mais</strong>!,<br />
porque, <strong>de</strong> fato, os críticos convidados se filiam a outros lugares teóricos. Assim, na voz<br />
lê-se esse outro tempo para ler o presente e para ler o que os colaboradores escreveram.<br />
-<br />
A cena que perdura nas comemorações, através dos dossiês em que a voz do<br />
<strong>Mais</strong>! anuncia e dá a leitura <strong>de</strong> cada tema, aon<strong>de</strong> um certo número <strong>de</strong> convidados<br />
respon<strong>de</strong>m, po<strong>de</strong> ser lida pelo elemento que marca essa mediação: por (Oiticica por<br />
Wally Salomão, Marion Stricker e Haroldo <strong>de</strong> Campos, como no primeiro número, em<br />
1992, por exemplo).<br />
Além <strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong> o <strong>Mais</strong>! atribuir-se valor ao mobilizar intelectuais <strong>de</strong><br />
todas as áreas e <strong>de</strong> diversos países em torno da comemoração, é esse operador que<br />
conduz o <strong>de</strong>sejo da voz. Esse é o expediente básico usado na construção das<br />
comemorações, e com elas a "política das artes" que nasce <strong>de</strong>sse procedimento parece<br />
aliar, em um só lugar, dois termos caros ao <strong>Mais</strong>! e ao país: mo<strong>de</strong>rnização e <strong>de</strong>mocracia.<br />
Assim, mo<strong>de</strong>rniza, ao manter uma leitura <strong>de</strong> país a partir <strong>de</strong> formas recapitalizadas que<br />
pagam tributos à totalida<strong>de</strong> e, ao mesmo tempo, inclui, dá a voz a jornalistas, críticos e<br />
autores, "<strong>de</strong>mocraticamente". Mas se é assim, por que a voz permanece, por que tudo<br />
gira em torno <strong>de</strong>la, ou por que ela é que faz girar o que vem <strong>de</strong>pois, por...?<br />
E se a voz é dêitica no que enuncia, é autoritária em relação aos que "colaboram".<br />
Se, como diz Antelo, "En Brasil, las dictaduras han sido mo<strong>de</strong>rnizadoras tanto como la<br />
22<br />
BUCK-MORSS, Susan. Dialética do olhar. Belo Horizonte; Chapecó: Editora da Ufmg; Argos, 2002,<br />
p. 409.<br />
23<br />
ANTELO, Raul. Mimetismo y migración. Florianópolis: Ufsc, 2002, p. 1. (inédito).<br />
172