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Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC

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O realismo <strong>de</strong>ssa voz, ao oferecer contos "exclusivos", já com uma leitura, nos faz<br />

pensar que essas opções possuem como objetivo estabilizar e dar or<strong>de</strong>m ao caos do<br />

presente, em que proliferam estéticas anti-representacionais.<br />

A voz estabiliza mostrando como se lê e, nessa operação, <strong>de</strong>spotencializa a "(...)<br />

ficção como (...) ambivalência perpétua, como linguagem on<strong>de</strong> o mesmo vale para dois,<br />

como texto in<strong>de</strong>cifrável, a 'ficção' como a forma do segredo na literatura e como<br />

máquina geradora <strong>de</strong> enigmas". 18<br />

A voz antecipa-se aos segundos, às outras vozes, e as lê. Paradoxo que, como diz<br />

Sarlo, "(...) intensifica o presente bem como <strong>de</strong>bilita o passado e o futuro". 19<br />

!<br />

E mo<strong>de</strong>rniza o passeio, recolocando-o em cena para ler o presente como no dossiê<br />

comemorativo à "Bienal Brasil Século 20". Por ser dêitica, a voz assume, a cada<br />

enunciação, uma forma, e a privilegiada para ler a Bienal também po<strong>de</strong> ser lida em<br />

outro momento histórico.<br />

Po<strong>de</strong>mos começar pelo título do dossiê: "Caminhos da Bienal". E aí o convite:<br />

O <strong>Mais</strong>! convidou sete críticos a fazer um passeio pelo Pavilhão da Bienal. Leia a<br />

seguir suas impressões... 20<br />

Talvez não seja mero acaso, novamente, que lendo essa apresentação lembremos<br />

<strong>de</strong> uma figura emblemática da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, o flâneur, aquele que trabalha, passeando.<br />

Benjamin anotou a sua semelhança com o jornalista: "A base social da flânerie é o<br />

jornalismo. É como flâneur que o literato se dirige ao mercado para se ven<strong>de</strong>r". 21 E<br />

ditadura militar, essa voz adiantada aposta na informação (meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, rodovias,<br />

telefonia) como forma privilegiada <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização. A socialização a partir dos meios, como diz<br />

Candido, coloca <strong>de</strong> novo a questão <strong>de</strong> como lidar com as diferenças <strong>de</strong> acesso, mas agora em outros<br />

termos: “(...) não esqueçamos que os mo<strong>de</strong>rnos recursos audiovisuais po<strong>de</strong>m motivar uma tal mudança<br />

nos processos <strong>de</strong> criação e nos meios <strong>de</strong> comunicação, que quando as gran<strong>de</strong>s massas chegarem<br />

finalmente à instrução, quem sabe irão buscar fora do livro os meios <strong>de</strong> satisfazer as suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ficção e poesia” (I<strong>de</strong>m, p.144). A reencenação <strong>de</strong>ssa voz adiantada, pelo <strong>Mais</strong>!, traz problemas na sua<br />

enunciação. Um <strong>de</strong>les, como veremos, é o autoritarismo, por apresentar-se como a única voz possível.<br />

18 LUDMER, Josefina. O corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito. Belo Horizonte: Editora da Ufmg, 2002, p. 384.<br />

19 SARLO, Beatriz. Paisagens imaginárias. São Paulo: Edusp, 1997, p. 135.<br />

20 CAMINHOS da Bienal. Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 15 maio 1994. <strong>Mais</strong>!, p. 4.<br />

21 BENJAMIN, Walter. Charles Bau<strong>de</strong>laire: um lírico no auge do capitalismo. 2 ed. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1991, p. 225.<br />

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