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Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC

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colocar, "em torno" das comemorações propostas, 3, 5, 6, 11, 18 autores, críticos,<br />

jornalistas, para produzirem um corpo do homenageado. Um pouco à maneira <strong>de</strong><br />

Ban<strong>de</strong>ira em "A maçã", em que a fruta vai sendo percebida por diferentes pontos <strong>de</strong><br />

vista. Em outras palavras, "Seis escritores 'fotografam' os vários ângulos do cotidiano no<br />

país". 10<br />

-<br />

O apelo à fotografia feito pela voz, como forma <strong>de</strong> nomear os contos, é também<br />

um apelo à mimese. E como diz Sarlo, “Obviamente, mimese joga com a idéia <strong>de</strong><br />

realismo”. 11 Assim, a voz, além <strong>de</strong> enunciar o evento, estabelece o método <strong>de</strong> leitura<br />

dos contos, porque sem esse apelo eles po<strong>de</strong>riam ser lidos <strong>de</strong> outro modo. E é assim que<br />

po<strong>de</strong>mos ler dois <strong>de</strong>sses contos, “Informe <strong>de</strong> um gago”, <strong>de</strong> Sergio Sant’Anna, e “Café<br />

das Flores”, <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>sto Carone, republicados no livro “Figuras do Brasil: 80 autores<br />

em 80 anos <strong>de</strong> Folha”, antologia organizada por Arthur Nestrovski a partir <strong>de</strong> textos<br />

publicados por autores “conhecidos”, na Folha e nos seus suplementos. Como o critério<br />

<strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong> é o nome-próprio, e não há nenhuma referência ao evento, os dois contos<br />

recebem agora uma outra leitura.<br />

Desta forma, o mapa do país só é possível se lermos os contos como essa voz<br />

propõe, como fotografias, e a linha que as amarra, a violência. E, <strong>de</strong> fato, po<strong>de</strong>mos ler<br />

os contos <strong>de</strong> Sérgio Sant’Anna, “Informe <strong>de</strong> um Gago”, <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>sto Carone, “Café das<br />

Flores”, <strong>de</strong> Milton Hatoum, “Dilema”, <strong>de</strong> João Gilberto Noll, “Açaí e Acerola”, <strong>de</strong><br />

Marilene Felinto, “Duplo diagnóstico” e <strong>de</strong> Luiz Vilela, “Luxo”, a partir <strong>de</strong>ste método<br />

<strong>de</strong> leitura.<br />

Nesta perspectiva, a violência aparece disseminada em todos os textos. “Café das<br />

Flores”, <strong>de</strong> Carone, é o mais explícito nesse sentido: nele, aparecem tanto a violência<br />

doméstica como a violência urbana, uma mimética à outra. O narrador, além <strong>de</strong> ser<br />

esfaqueado por sua ex-mulher no “Café”, está “à mercê” <strong>de</strong> “tiroteios” que acontecem<br />

fora do bar, mas atingem o espaço interno on<strong>de</strong> estava. Ao ir embora, esfaqueado e<br />

com o carro perfurado por tiros, lê a violência que está em todos os lugares com uma<br />

indiferença anestética: “Como as imagens poéticas não mudam o mundo, <strong>de</strong>i a partida e<br />

10 CENAS da vida brasileira. Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 10 abr. 1994. <strong>Mais</strong>!, p. 4.<br />

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