Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
trabalhadores, a esta altura, também já vinham só caminhando. Um <strong>de</strong>les tossia alto.<br />
Mas o homem do carro, John Logan, sabia <strong>de</strong> uma coisa que nós não sabíamos e<br />
continuou correndo. Quanto a Jed Parry, minha visão <strong>de</strong>le estava bloqueada pelo balão<br />
no meio.<br />
O vento renovou a violência na copa das árvores antes que eu sentisse sua força<br />
nas costas. Bateu <strong>de</strong>pois no balão, que interrompeu seu balanço inocente, meio cômico,<br />
e parou <strong>de</strong> pronto. Seu único movimento era um tremor <strong>de</strong> tensão provocando ondas na<br />
superfície estriada, enquanto por <strong>de</strong>ntro ia acumulando energia. Logo saltou livre, a<br />
âncora voou num jato <strong>de</strong> terra e balão e cesto subiram três metros no ar. O menino foi<br />
jogado para trás e saiu <strong>de</strong> vista. O piloto, que segurava a corda nas mãos, foi erguido a<br />
um meio metro. Se Logan não o tivesse alcançado e segurado uma das muitas cordas<br />
penduradas, o balão teria levado o garoto embora. Em vez disso, os dois homens juntos<br />
estavam sendo arrastados campo abaixo e os trabalhadores e eu nos pusemos <strong>de</strong> novo a<br />
correr.<br />
Eu fui o primeiro a chegar. Quando peguei uma corda, o cesto já estava acima da<br />
minha cabeça. O menino, lá <strong>de</strong>ntro, berrava. Mesmo com todo o vento, senti cheiro <strong>de</strong><br />
urina. Jed Parry se atracou noutra corda segundos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mim e a dupla <strong>de</strong><br />
trabalhadores, Joseph Lacey e Toby Greene, pegaram as suas logo em seguida. Greene<br />
estava tendo um acesso <strong>de</strong> tosse, mas manteve o aperto. O piloto nos gritava instruções,<br />
mas freneticamente <strong>de</strong>mais e ninguém estava prestando atenção. Fazia muito tempo que<br />
vinha se <strong>de</strong>batendo e agora estava exausto e emocionalmente fora <strong>de</strong> controle. Com nós<br />
cinco nas cordas, o balão ficou seguro. Simplesmente tínhamos <strong>de</strong> nos manter firmes <strong>de</strong><br />
pé e ir passando uma mão por cima da outra até baixar o cesto; e isto, a <strong>de</strong>speito do que<br />
o piloto pu<strong>de</strong>sse estar gritando, foi o que começamos a fazer.<br />
A esta altura já estávamos na escarpa. O solo sofria uma quebra aguda, uma<br />
inclinação <strong>de</strong> uns 25% e <strong>de</strong>pois ia se nivelando suavemente até embaixo. Durante o<br />
inverno, esse <strong>de</strong>clive era um tobogã <strong>de</strong> neve predileto das crianças. Todo mundo estava<br />
falando ao mesmo tempo. Dois <strong>de</strong> nós, eu e o homem do carro, queríamos levar o balão<br />
para longe da beirada. Outro dava priorida<strong>de</strong> a tirar o menino do cesto. Alguém insistia<br />
com a gente para puxar o balão para baixo e ancorá-lo com firmeza. O que não<br />
contradizia a primeira idéia, porque era possível puxar o balão para baixo e caminhar<br />
para trás ao mesmo tempo. Mas era a segunda opinião que estava prevalecendo. O<br />
piloto tinha uma quarta idéia, mas ninguém sabia, ou tinha interesse em saber o que era.<br />
203