Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
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(...) O labor é manifestação não da força humana alienada em trabalho socialmente<br />
útil e aferido pela produtivida<strong>de</strong>, mas do cuidado, manifestação do 'trabalho' que<br />
contribui para o progresso qualitativo do indivíduo e, por consequência, do homem.<br />
O cuidado re-orienta a história social tal como movimentada e explicada pelo<br />
homem. Po<strong>de</strong> levá-lo a perceber, caso abandone as intransigências do falocentrismo<br />
teórico, que existe uma forma suplementar <strong>de</strong> 'trabalho. 68<br />
E é a essa política que o <strong>Mais</strong>! leva água, ao conduzir um dossiê em que a aposta e<br />
a história parecem caminhar para um outro lugar, pondo em xeque a idéia <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rnização.<br />
O <strong>Mais</strong>! antecipa com exclusivida<strong>de</strong> um trecho <strong>de</strong> Brecht por Ban<strong>de</strong>ira e, <strong>de</strong><br />
alguma forma, antecipa o governo Lula, como ele o imagina, positivando, com um sinal<br />
<strong>de</strong> mais, o que então circulava como negativo e que era objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança em suas<br />
páginas.<br />
E <strong>de</strong> fato é (quase) isso que po<strong>de</strong>mos ler no primeiro <strong>Mais</strong>! <strong>de</strong> 2003:<br />
UTOPIA E CONTRA-UTOPIA<br />
A tensão entre ruptura e continuida<strong>de</strong> no novo governo brasileiro por José Murilo<br />
Carvalho . Alain Touraine . Laymert Garcia dos Santos . Nicolau Sevcenko. 69<br />
E nos textos <strong>de</strong>sses autores o que po<strong>de</strong>mos ler é o elogio ao segundo, agora<br />
primeiro, Lula. Há inclusive um título <strong>de</strong> artigo, o <strong>de</strong> Nicolau Sevcenko, "República dos<br />
Silva", que <strong>de</strong>pois virou marca nas coberturas da mídia sobre o novo governo (procurar<br />
os Silvas), que aponta para esse momento como o lugar e a vez dos segundos. Assim, é<br />
um dossiê, mesmo em nova direção, comemorativo e elogioso.<br />
Terminado o dossiê e virando a página, damos <strong>de</strong> cara com uma foto gran<strong>de</strong> e<br />
colorida <strong>de</strong> um abraço fraternal entre o papa João Paulo 2 º e o patriarca Teoctist, da<br />
Igreja Ortodoxa da Romênia. Estamos no início do longo ensaio <strong>de</strong> Habermas<br />
(publicado exclusivamente pelo <strong>Mais</strong>!): "Teoria da adaptação". Aparentemente é um<br />
texto sobre conflitos religiosos, mas aos poucos vamos percebendo que essa "Teoria"<br />
tem outras aplicações, principalmente em momentos como este (o do dossiê em elogio a<br />
Lula):"(...) O Estado liberal espera que a consciência (...) dos fiéis se mo<strong>de</strong>rnize no<br />
curso <strong>de</strong> uma adaptação cognitiva ao recorte individualista das leis da socieda<strong>de</strong> secular,<br />
fundamentadas <strong>de</strong> maneira universalista". 70<br />
68 SANTIAGO, Silviano. A aula inaugural <strong>de</strong> Clarice. Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 7 <strong>de</strong>z. 1997. <strong>Mais</strong>!, p. 14.<br />
69 UTOPIA e contra-utopia. Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 5 jan. 2003. <strong>Mais</strong>!, capa.<br />
70 HABERMAS, Jürgen. Teoria da adaptação. Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 5 jan. 2003. <strong>Mais</strong>!, p. 13.<br />
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