Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
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ler em um dos poemas presentes em "Elefante" o método <strong>de</strong> composição <strong>de</strong>ste e dos<br />
outros poemas do autor:<br />
QUER VER?<br />
Escuta. 53<br />
Método que incorpora a oralida<strong>de</strong> do cotidiano nas suas relações mais banais,<br />
para, como matéria do poema, dar a ver o país em seu funcionamento, da luta <strong>de</strong> classes<br />
até o preconceito mais enraizado:<br />
MAS<br />
é limpinha. 54<br />
Com esses poemas (com esses procedimentos), Alvim tem chamado a atenção <strong>de</strong><br />
críticos preocupados, principalmente, em pensar as relações entre a poesia, a socieda<strong>de</strong>,<br />
e, <strong>de</strong> forma mais genérica, a <strong>de</strong>mocracia.<br />
Cacaso, <strong>ainda</strong> nos anos 80, dá o mote para as leituras futuras do poeta, chamando-<br />
o <strong>de</strong> "O poeta dos outros", ao quase ausentar-se do poema e <strong>de</strong>ixar os "outros" falarem.<br />
É nessa mesma direção que vai o artigo <strong>de</strong> Heloisa Buarque <strong>de</strong> Hollanda, "Ce<strong>de</strong>r a voz,<br />
ce<strong>de</strong>r a vez", <strong>ainda</strong> nos anos 80, consagrando em <strong>de</strong>finitivo o procedimento do poeta.<br />
Em 2000, com o lançamento <strong>de</strong> "Elefante", Roberto Schwarz, em dois ensaios na<br />
Folha, um no Jornal <strong>de</strong> Resenhas - "Elefante Revisitado" – e outro, ampliando o<br />
anterior, no <strong>Mais</strong>! - "O país do elefante" -, dá continuida<strong>de</strong> a esse modo <strong>de</strong> ler os<br />
poemas <strong>de</strong> Alvim. Primeiro como resenha, <strong>de</strong>pois como ensaio, as intervenções <strong>de</strong><br />
Schwarz recitam ou partem das leituras <strong>de</strong> Cacaso e Heloisa e encaminham as análises<br />
em direção à leitura do país nos poemas e vice-versa:<br />
O livro <strong>de</strong>ve a consistência ao tom, que na verda<strong>de</strong> é a dramatização <strong>de</strong> um conjunto<br />
abstrato, sempre o mesmo, levada a cabo <strong>de</strong> maneiras muito diversas, com a<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> meios estabelecida pelo mo<strong>de</strong>rnismo. Trata-se das relações brasileiras<br />
entre informalida<strong>de</strong> e norma, cuja heterodoxia, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do ponto <strong>de</strong> vista,<br />
funciona como um <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> fábrica ou como um presente dos <strong>de</strong>uses (...) Isso<br />
posto, não é preciso ser artista para perceber que as dissonâncias correspon<strong>de</strong>ntes<br />
52 ALVIM, Francisco. Presídio. Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 9 set. 2001. <strong>Mais</strong>!, p. 20.<br />
53 ALVIM, Francisco. Elefante. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 76.<br />
54 ALVIM, Francisco. Elefante. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 93.<br />
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