Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
+<br />
Ao acompanharmos a circulação da comemoração em sua enunciação pela voz e<br />
as colaborações dos segundos, percebemos que estamos diante <strong>de</strong> uma cena <strong>de</strong> exaustão<br />
da representação, ou, lendo com Carlito Azevedo, uma crise do perspectivismo. "Todos<br />
per<strong>de</strong>m", em sua exposição.<br />
É nesse sentido que po<strong>de</strong>mos ler as soluções formais presentes na poesia <strong>de</strong><br />
Francisco Alvim, como nesse poema escrito para a comemoração do 500 º número do<br />
<strong>Mais</strong>!:<br />
PRESÍDIO<br />
Confiante no Espírito Santo<br />
Mas muito atrapalhado<br />
Pela solerte semeadura <strong>de</strong><br />
Cascas <strong>de</strong> banana<br />
Que prosperou nos vários<br />
Quinquênios<br />
Que se há <strong>de</strong> fazer<br />
Coisas da vida<br />
Facts of life<br />
É quase um pesa<strong>de</strong>lo<br />
Quase, retruca<br />
Que sino é esse<br />
<strong>Mais</strong> fora <strong>de</strong> hora?<br />
Reescreve a frase:<br />
A realida<strong>de</strong>, meus filhos...<br />
O cotovelo é aqui<br />
Não no joelho<br />
Exclama o pregador<br />
Horror, Horror<br />
A ferida supura<br />
Verte todo o seu pus<br />
Nas ca<strong>de</strong>iras cativas<br />
Tanto tempo, tanto tempo<br />
Faz<br />
Que não respiro<br />
O verão e seu fósforo<br />
Esquentam o presídio. 52<br />
Em vez da <strong>de</strong>scrição do cotidiano <strong>de</strong> um presídio feita por uma voz, temos, "ao<br />
vivo", várias vozes em sua enunciação: dos presidiários, do pregador e do poeta (e<br />
talvez <strong>de</strong> outras que fogem à i<strong>de</strong>ntificação). Sem muita hierarquia <strong>de</strong> entrada, os<br />
fragmentos <strong>de</strong> falas vão se suce<strong>de</strong>ndo e compondo, nessa escrita, o poema. E é possível<br />
187