Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
aceitar o convite da voz sobre a graça e fazer graça. E, <strong>de</strong> alguma forma, essa cena<br />
parece fazer graça com o que po<strong>de</strong>mos ler, <strong>ainda</strong> nos anos 70, em Silviano Santiago,<br />
uma política dos segundos:<br />
O segundo texto se organiza a partir <strong>de</strong> uma meditação silenciosa e traiçoeira sobre o<br />
primeiro texto, e o leitor, transformado em autor, tenta surpreen<strong>de</strong>r o mo<strong>de</strong>lo original<br />
em suas limitações, suas fraquezas, em suas lacunas, <strong>de</strong>sarticula-o e o rearticula <strong>de</strong><br />
acordo com suas intenções, segundo sua própria direção i<strong>de</strong>ológica, sua visão do<br />
tema representado <strong>de</strong> início pelo original. O escritor trabalha sobre outro texto e<br />
quase nunca exagera o papel que a realida<strong>de</strong> que o cerca po<strong>de</strong> representar em sua<br />
obra. 47<br />
Política dos segundos que agora parece ultrapassada diante das diatribes da voz do<br />
<strong>Mais</strong>!, que reforça as relações <strong>de</strong> dominação nos termos <strong>de</strong> adiantados e atrasados e faz<br />
graça com esses. Política que po<strong>de</strong> ser lida, linha a linha, nos últimos romances <strong>de</strong><br />
Carvalho, em que, na mesma obra, a segunda parte é uma leitura "traiçoeira e<br />
silenciosa" da primeira.<br />
No limite, a lustração dá o novo sentido ao que é velho, em seus termos, ao<br />
manter a velha estrutura política, a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, na produção da história. Movimento<br />
que faz os segundos girarem, como se estivessem tentando salvar um balão da <strong>de</strong>riva.<br />
Seus pontos <strong>de</strong> vista se solidarizam com o que está à <strong>de</strong>riva, mas que, ao mesmo tempo,<br />
ganha força, a cada nova edição.<br />
+<br />
Do lustral em sua versão liberal, chegamos à crise do perspectivismo. Crise que<br />
po<strong>de</strong>mos ler em um poema <strong>de</strong> um dos colaboradores do <strong>Mais</strong>!, Carlito Azevedo:<br />
ABERTURA<br />
Desta janela<br />
domou-se o infinito a esquadria:<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> além, aon<strong>de</strong> a púrpura sobre a serra<br />
assoma como fumaça <strong>de</strong>satando-se da linha,<br />
até aqui, nesta flor quieta sobre o<br />
parapeito - em cujas bordas se lêem<br />
47 SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 2000, p 20.<br />
184