Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
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EXCESSO DE RISO por Gérard Génette -<br />
Leia também piadas escritas por Bento Prado Jr. . Isaias Pessoti . Abel Barros<br />
Baptista . Moacyr Scliar . Nelson Ascher . Nelson <strong>de</strong> Oliveira. 45<br />
O excesso <strong>de</strong> riso, aqui, refere-se tanto ao texto <strong>de</strong> Génette quanto às seis piadas<br />
escritas a convite do <strong>Mais</strong>! por professores, críticos e autores. E é daí que nasce um<br />
outro sentido para esse título: os segundos, grifes conhecidas no meio cultural brasileiro,<br />
assumem a autoria do que não têm: piada. É inevitável a graça diante da cena que está<br />
na capa: a foto do comediante Buster Keaton em um dos seus filmes dá a impressão<br />
inicial <strong>de</strong> que o dossiê é uma homenagem aos 35 anos da sua morte; mas, com a<br />
apresentação do texto <strong>de</strong> Génette e o anúncio do suplemento brasileiro, percebemos que<br />
a foto “ilustra” as relações entre intelectuais e humor, já que Keaton é conhecido como<br />
um humorista intelectual.<br />
A graça, em primeiro lugar, parece estar na diferença dos ritmos entre os<br />
primeiros e os segundos. O texto <strong>de</strong> Génette parte <strong>de</strong> piadas e cita algumas, mas o seu<br />
texto é reflexivo. A partir <strong>de</strong> um texto <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire, traça uma genealogia da expressão<br />
"morrer <strong>de</strong> rir". Algumas piadas ilustram o texto, mas aos poucos elas vão se tornando<br />
objetos <strong>de</strong> leitura e citação. Os segundos lustram a partir do que é ilustração no texto <strong>de</strong><br />
Génette, das piadas. Sem mais. Em segundo lugar, enquanto Génette busca <strong>de</strong>finições<br />
do riso, as piadas não se pensam, se dão. E se agora lemos as piadas, percebemos que há<br />
uma seqüência: uma piada sobre a avareza, duas sobre mães e três sobre os atrasados. E,<br />
nestas, a graça se dá no momento em que o atrasado entra no lugar do "civilizado". E<br />
naturalmente aparecem aí dois problemas bem conhecidos: o da leitura e o da língua,<br />
como na piada <strong>de</strong> Bento Prado Jr.:<br />
Um meio-parente meu, do interior do Estado <strong>de</strong> São Paulo, visita pela primeira vez a<br />
capital em meados da década <strong>de</strong> 30. Vai, é claro, visitar a maior atração turística da<br />
cida<strong>de</strong>: o arranha-céu Martinelli. No saguão da entrada, aproximando-se do elevador,<br />
ouve o ascensorista perguntar-lhe:<br />
' Em que andar o Senhor quer ir?'<br />
Sem hesitar, respon<strong>de</strong>:<br />
' Quarqué um Qui num seja o trote. 46<br />
A graça está na forma como o caipira ouve, mas, percebe-se logo, está igualmente<br />
no seu jeito <strong>de</strong> falar, que o exclui do espaço da metrópole, por seu "exotismo". Esse<br />
parece ser o lugar em que os colaboradores são colocados, nesse duplo movimento <strong>de</strong><br />
45 EXCESSO <strong>de</strong> riso. Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 18 nov. 2001. <strong>Mais</strong>!, capa.<br />
46 PRADO JR., Bento. Um meio-parente...Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 18 nov. 2001. <strong>Mais</strong>!, p. 6.<br />
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