Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
!<br />
O que procuraste em ti ou fora <strong>de</strong><br />
teu ser restrito e nunca se mostrou,<br />
mesmo afetando dar-se ou se ren<strong>de</strong>ndo,<br />
e a cada instante mais se retraindo,<br />
olha, repara, ausculta: essa riqueza<br />
sobrante a toda pérola, essa ciência<br />
sublime e formidável, mas hermética,<br />
essa total explicação da vida,<br />
esse nexo primeiro e singular,<br />
que nem concebes mais, pois tão esquivo<br />
se revelou ante a pesquisa ar<strong>de</strong>nte<br />
em que te consumiste...vê, contempla,<br />
abre teu peito para agasalhá-lo. 1<br />
O começo é simples <strong>de</strong> apontar.<br />
A voz da máquina propõe ao caminhante o mundo e, na repetição, o acúmulo <strong>de</strong><br />
todas as coisas. A mesma promessa está em outro lugar: a voz do <strong>Mais</strong>!. Na sua<br />
repetição atravessando todos os dossiês oferece, também por acúmulo, mais e mais. As<br />
duas repetições estão no meio, entre. A da máquina no meio do poema, a do <strong>Mais</strong>!,<br />
entre o que se comemora e as vozes que comemoram.<br />
A aceitação da voz da máquina do mundo é a gran<strong>de</strong> comemoração do <strong>Mais</strong>!. Para<br />
além das homenagens prestadas a Drummond durante toda a década, reiterando sua<br />
posição <strong>de</strong> maior poeta brasileiro, um ícone nacional, aquele em torno do qual vão girar<br />
críticos, poetas e jornalistas, a adoção da voz que apresenta os dossiês parece<br />
configurar-se, na sua repetição, a aceitação, 50 anos <strong>de</strong>pois, da recusa presente no<br />
poema <strong>de</strong> Drummond. A voz da máquina em seu futuro é a voz do <strong>Mais</strong>!: "Nesse<br />
movimento, os enigmas do presente esten<strong>de</strong>m-se adiante, como antecipação, ou para<br />
trás, como memória, e saltam para 'outra realida<strong>de</strong>’". 2<br />
De fato, as duas vozes colocam no reino da língua a oferta da mo<strong>de</strong>rnização, ou a<br />
ficção 3 política e literária que está colocada no Brasil, nesses 50 anos. Ficção que<br />
perdura e que o <strong>Mais</strong>! recebe como "dom tardio". E essa ficção na língua opera a partir<br />
<strong>de</strong> 4 movimentos:<br />
1<br />
ANDRADE, Carlos Drummond <strong>de</strong>. A máquina do mundo. Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 27 out. 2002. <strong>Mais</strong>!, p.<br />
20.<br />
2<br />
LUDMER, Josefina. O corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito. Belo Horizonte: Editora da Ufmg, 2002, p. 385.<br />
165