Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC
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Vinte e dois anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira ter escrito o poema “Maçã”, Jacques Lacan,<br />
em uma das sessões do Seminário "A ética da Psicanálise", trabalha com os mesmos<br />
termos que giram no poema <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira: maçã, Cézzane, ética e, principalmente, a<br />
idéia <strong>de</strong> movimento, presente no "em torno".<br />
A frase construída <strong>de</strong>sse modo é <strong>de</strong>vedora das discussões que estiveram em cena<br />
nos <strong>de</strong>bates nos séculos XIX e XX, e que <strong>ainda</strong> nos assedia nos <strong>Mais</strong>!: a relação entre<br />
os primeiros e segundos. Em um certo momento, no Brasil, houve uma corrida em<br />
busca <strong>de</strong> primeiros em relação ao "velho mundo", e talvez Qorpo-Santo tenha sido o<br />
autor mo<strong>de</strong>lar nessas discussões.<br />
Nesse sentido, a frase quer ser narrativa para chegar a Lacan e a como ele, lidando<br />
com outro gênero, o do seminário, e com os mesmos termos do poema <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira,<br />
aponta para um conceito do "em torno".<br />
Lacan introduz essa discussão por um problema que aparece nas leituras do<br />
poema <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira e nas leituras das maçãs <strong>de</strong> Cézzane: a imitação, a representação, a<br />
presença. Esses termos comumente nos remetem ao realismo como via <strong>de</strong> acesso direta<br />
ao objeto. Mas Lacan lê a arte para além <strong>de</strong>sses limites:<br />
É claro que as obras <strong>de</strong> arte imitam os objetos que elas representam, sua finalida<strong>de</strong>,<br />
porém, justamente não é representá-las. Fornecendo a imitação do objeto elas fazem<br />
outra coisa <strong>de</strong>sse objeto. Destarte, nada fazem senão fingir imitar. O objeto é<br />
instaurado numa certa relação com a Coisa que é feita simultaneamente para cingir,<br />
para presentificar e para ausentificar. 41<br />
Cada movimento no poema <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira po<strong>de</strong> ser lido, assim, como um ato que<br />
encena a representação, mas não a faz, remetendo, sempre simultaneamente, à<br />
presença/ausência do objeto. Mas isso também nos faz pensar em cada um dos textos,<br />
nos dossiês do <strong>Mais</strong>!, girando em torno do convite da voz/Coisa. Haveria, nesse sentido,<br />
uma certo alívio quando Lacan diz "nada fazem senão fingir" 42 , e po<strong>de</strong>ríamos pensar<br />
inclusive que alguns <strong>de</strong>sses textos po<strong>de</strong>m ser lidos na ausência da voz que os re-cita.<br />
Mas isso é <strong>ainda</strong> insuficiente para ler a cena do "em torno" em sua produção.<br />
41<br />
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 7: a ética da Psicanálise. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar,<br />
1991, p. 176.<br />
42<br />
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 7: a ética da Psicanálise. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar,<br />
1991, p. 176.<br />
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