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Mais, ainda - Centro de Comunicação e Expressão - UFSC

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Nas mesmas palavras, esta é a fábula do <strong>Mais</strong>!: reescrever o velho para<br />

mo<strong>de</strong>rnizá-lo, ou, enfim, para torná-lo com a cara <strong>de</strong>ste presente. De uma célula <strong>de</strong>ste<br />

passado, opera-se o milagre <strong>de</strong>sta década, a clonagem.<br />

Não por acaso, em 1997, com o anúncio do nascimento da ovelha Dolly, o <strong>Mais</strong>!<br />

convidou 4 escritores para escreverem contos sobre a clonagem, ao mesmo tempo que<br />

espalhou no dossiê trechos <strong>de</strong> "A reforma da natureza" <strong>de</strong> Monteiro Lobato. "Velhas<br />

histórias, por novos autores". Assim, a voz mo<strong>de</strong>rniza uma estética empurrando as<br />

colaborações para ela e não para os projetos <strong>de</strong> cada autor. Mas essa fábula tem outros<br />

<strong>de</strong>sdobramentos.<br />

-<br />

Comunicado do secretário <strong>de</strong> Justiça aos jornalistas: “Depois <strong>de</strong> 11 horas <strong>de</strong> terror, a<br />

rebelião já está sob controle. As forças da or<strong>de</strong>m conseguiram romper o cerco e<br />

entrar na penitenciária. Os presos entregaram as armas e os reféns foram libertados.<br />

No cômputo geral, contamos nove corpos, todos <strong>de</strong> criminosos <strong>de</strong> quadrilhas rivais.<br />

Mas até agora só conseguimos i<strong>de</strong>ntificar oito mortos. O Zequinha do Morro da Lava<br />

foi esfaqueado e queimado. O corpo, apesar <strong>de</strong> carbonizado e irreconhecível, pô<strong>de</strong><br />

ser i<strong>de</strong>ntificado por uma simples operação lógica. Cada morto tem o seu assassino. O<br />

Zequinha era inimigo do Jonas da Baleia, que morreu estrangulado pelo Mário Coca-<br />

Cola, que era inimigo do Robertinho Maneiro, que morreu com sete tiros, porque era<br />

inimigo do Perival Pistola, o Pepe. O Mário Coca-Cola, que vingou o Zequinha do<br />

Morro da Lava, estrangulando o Jonas da Baleia, morreu esfaqueado pelas mãos do<br />

Robertinho Maneiro. O Pepe acabou seus dias enforcado pelo Roberval Quirino, o<br />

Branco, que foi vingado pelo Jesus Magro, que era da quadrilha do Pepe. O Jesus<br />

Magro foi <strong>de</strong>capitado e crucificado sem cabeça pelo Mane Borba, que era comparsa<br />

do Roberval Quirino e foi encontrado com um único tiro na testa. Os sobreviventes<br />

se ren<strong>de</strong>ram graças à intervenção dos bispos da Igreja da Simetria Celestial, com a<br />

qual o bando do Santinho, provável assassino do Mane Borba, fechou um acordo<br />

entre amigos. O Peru da Mata é o único que continua <strong>de</strong>saparecido. Não <strong>de</strong>scartamos<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que seja o nono corpo, <strong>ainda</strong> sem i<strong>de</strong>ntificação, mas os peritos se<br />

recusam a fazer ilações precipitadas, já que o Peru da Mata não tinha nem amigos<br />

nem inimigos. 40<br />

40 CARVALHO, Bernardo. Amigos ou inimigos (ou nova quadrilha). Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 22 <strong>de</strong>z. 2002.<br />

<strong>Mais</strong>!, p. 7.<br />

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