Consumo e identidade em blogs de moda - Programa de Pós ...
Consumo e identidade em blogs de moda - Programa de Pós ...
Consumo e identidade em blogs de moda - Programa de Pós ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
CONSUMO E IDENTIDADE EM BLOGS DE MODA<br />
1<br />
Elaine Miguel Spindola<br />
Jussara Bittencourt De Sá<br />
RESUMO: A socieda<strong>de</strong> atual po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como a “socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo”. Neste artigo propõe-se<br />
uma discussão sobre este conceito, aportado nas reflexões <strong>de</strong> Colin Campbell, b<strong>em</strong> como a relação entre<br />
consumo e <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>. O objetivo é analisar quais aspectos da característica consumista pod<strong>em</strong> ser i<strong>de</strong>ntitários<br />
a partir <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> Blogs, extraídos da cultura digital. Para tanto, investigar-se-á especificamente o Blog<br />
da Thássia, que aborda t<strong>em</strong>as relacionados à <strong>moda</strong> e estilo. A eleição do referido Blog <strong>de</strong>corre, principalmente,<br />
pelo fato <strong>de</strong> que “<strong>moda</strong> e estilo” pod<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>rados notáveis sedutores para o consumo e “<strong>blogs</strong> <strong>de</strong> <strong>moda</strong>”<br />
atraentes ferramentas publicitárias.<br />
PALAVRAS-CHAVE: <strong>Consumo</strong>. I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Blogs <strong>de</strong> <strong>moda</strong>.<br />
1. Reflexões acerca do consumo e da <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong><br />
As ativida<strong>de</strong>s relacionadas com o termo consumo são vistas como especialmente<br />
importantes pela maioria das pessoas na socieda<strong>de</strong> cont<strong>em</strong>porânea, ou, até mesmo, como o<br />
centro <strong>de</strong> suas vidas. Jean Baudrillard (2007) caracterizou a socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna (ou pós-<br />
mo<strong>de</strong>rna) como a “Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo”.<br />
Em seu texto “Eu compro, logo sei que existo: as bases metafísicas do sujeito<br />
mo<strong>de</strong>rno”, Colin Campbell (2007) questiona “por que as ativida<strong>de</strong>s relacionadas ao consumo<br />
como procura, compra e utilização <strong>de</strong> bens e serviços têm tanta importância na vida das<br />
pessoas” e afirma que a resposta t<strong>em</strong> a ver com questões metafísicas do “ser” e do “saber”.<br />
Ele consi<strong>de</strong>ra dois aspectos: o primeiro é o lugar ocupado pela <strong>em</strong>oção e pelo <strong>de</strong>sejo,<br />
juntamente com certo grau <strong>de</strong> imaginação; o segundo é o <strong>de</strong>senfreado e irrestrito<br />
individualismo, a necessida<strong>de</strong> do indivíduo <strong>de</strong> comprar para o consumo próprio.<br />
Para Campbell, nossa habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experimentar repetidamente as <strong>em</strong>oções do<br />
querer, <strong>de</strong>sejar e ansiar sustenta a economia das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong>senvolvidas. E a<br />
i<strong>de</strong>ologia do individualismo, juntamente com a ênfase colocada no direito dos indivíduos<br />
<strong>de</strong>cidir<strong>em</strong> por si próprios o que e <strong>de</strong> que maneira consumir, t<strong>em</strong> um valor extraordinário na<br />
socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo mo<strong>de</strong>rna.<br />
Segundo Baudrillard, somos instigados a consumir pelos meios <strong>de</strong> comunicação.<br />
Renato Nunes Bittencourt (2012) observa que na estrutura capitalista <strong>em</strong> vigor, seria<br />
tecnicamente impossível pensarmos na <strong>de</strong>limitação da ativida<strong>de</strong> publicitária apenas ao ato <strong>de</strong>
divulgação pura objetiva dos produtos, s<strong>em</strong> quaisquer outros floreios discursivos e imagéticos<br />
que visam o encantamento do consumidor.<br />
Ainda <strong>de</strong> acordo com Bittencourt, obviamente não há uma coerção concreta<br />
exigindo o ato <strong>de</strong> consumo, mas existe a coerção simbólica que requer do indivíduo sua<br />
participação econômica nessa lógica comercial, para que possa assim ser aceito nos padrões<br />
sociais <strong>de</strong> comportamento. Logo, enquanto a publicida<strong>de</strong> padroniza, ela tenta também fazer o<br />
consumidor ter a sensação <strong>de</strong> ser diferente entre os d<strong>em</strong>ais, com uma falsa sensação <strong>de</strong><br />
individualida<strong>de</strong> especial.<br />
Através da <strong>em</strong>oção, do <strong>de</strong>sejo, da busca por <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> e da diferenciação, o<br />
consumo estabelece uma relação do indivíduo consigo mesmo. Em relação à socieda<strong>de</strong>, o<br />
consumo confere ao indivíduo status, estabelece relações e <strong>de</strong>limita grupos. Para Baudrillard,<br />
o narcisismo individual é refração <strong>de</strong> traços coletivos.<br />
A publicida<strong>de</strong> fabrica consenso para aten<strong>de</strong>r aos interesses do po<strong>de</strong>r econômico,<br />
prosperando assim por meio das carências existenciais <strong>de</strong> cada indivíduo, que consom<strong>em</strong><br />
sofregamente <strong>em</strong> nome <strong>de</strong> uma postulada “satisfação interior”. Satisfação esta que faz o ser<br />
humano sentir-se autêntico e o esteticismo tornar-se marcante.<br />
Sobre este aspecto, Maffesoli (1998) <strong>de</strong>staca que “este esteticismo <strong>de</strong>svelado pelo<br />
apego à futilida<strong>de</strong> das aparências, a uma militância da frivolida<strong>de</strong>, é um meio <strong>de</strong><br />
reconhecimento que inscrev<strong>em</strong> os jogos trágicos da aparência numa cena urbana <strong>em</strong> que cada<br />
indivíduo atua e assiste a atuação do outro a um só t<strong>em</strong>po”.<br />
O sujeito é seduzido a consumir não o que lhe é necessário, mas o que po<strong>de</strong>rá<br />
suprir os seus <strong>de</strong>sejos narcisistas. “Futilida<strong>de</strong> das aparências” nos r<strong>em</strong>ete a outra situação: o<br />
consumo mo<strong>de</strong>rno está mais preocupado <strong>em</strong> saciar vonta<strong>de</strong>s do que satisfazer necessida<strong>de</strong>s.<br />
Para Campbell, o ato <strong>de</strong> consumir está ligado à afirmação, à confirmação ou à<br />
construção da <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>:<br />
(...) a i<strong>de</strong>ia difundida é que o eu cont<strong>em</strong>porâneo ou pós-mo<strong>de</strong>rno é<br />
excepcionalmente aberto ou flexível. Isso é o mesmo que dizer que as<br />
pessoas, ao fazer<strong>em</strong> uso da gran<strong>de</strong> e constante oferta <strong>de</strong> novos<br />
produtos na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo mo<strong>de</strong>rna, estão regularmente<br />
engajadas no processo <strong>de</strong> recriar a si mesmas. Inicialmente adotando e<br />
posteriormente trocando <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>s e estilos <strong>de</strong> vida da mesma<br />
maneira fácil e casual com que trocam <strong>de</strong> roupa. (Campbell, 2007. p.<br />
50)<br />
2
Campbell acredita que o consumo, longe <strong>de</strong> exacerbar a crise <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>, é, na<br />
verda<strong>de</strong>, a principal ativida<strong>de</strong> pela qual o sujeito resolve esse dil<strong>em</strong>a.<br />
O autor observa que <strong>em</strong> páginas <strong>de</strong> jornais e revistas (o que hoje é mais comum<br />
<strong>em</strong> re<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong> internet), quando alguém procura se relacionar com outro e para isso<br />
precisa mostrar sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>, acaba se <strong>de</strong>finindo pelos seus gostos e <strong>de</strong>sejos. Segundo ele,<br />
os termos mais comuns são os que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> seus gostos pelas artes, música, literatura, comida,<br />
bebida e o que faz<strong>em</strong> como lazer.<br />
Se os gostos e <strong>de</strong>sejos afirmam ou constro<strong>em</strong> nossa <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>, enten<strong>de</strong>-se a<br />
lógica da expressão citada por April Benson e observada por Campbell: “Compro, logo<br />
existo”; notavelmente baseada na expressão “Penso, logo existo”, <strong>de</strong> Descartes. Campbell<br />
sublinha que April citou a expressão <strong>de</strong> forma humorística referindo-se aos que compram<br />
compulsivamente, mas acredita que esta se encaixe para todos os consumidores da socieda<strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rna, pois, percebendo ou não, compulsivamente ou não, somos todos consumidores <strong>de</strong><br />
bens e serviços.<br />
O “self” (eu) é <strong>de</strong>finido pelo <strong>de</strong>sejo, pelas preferências. Ao mudar constant<strong>em</strong>ente<br />
<strong>de</strong> preferências, para seguir a <strong>moda</strong> ou buscar um status mais elevado, o sujeito se recria. Se<br />
já tivesse <strong>de</strong>finido sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>, não precisaria estar constant<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> novos<br />
produtos, está-se <strong>em</strong> constante busca <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>. Mas o consumo nos conforta por fazer-<br />
nos saber que somos seres humanos autênticos, isto é, que realmente existimos. Assim a<br />
expressão “Compro, logo existo”, torna-se literal.<br />
Conforme Campbell:<br />
Assim, <strong>em</strong>bora a exposição a uma vasta gama <strong>de</strong> bens e serviços aju<strong>de</strong><br />
a nos dizer qu<strong>em</strong> somos (por permitir que express<strong>em</strong>os nossos<br />
gostos), essa mesma exposição exerce a função ainda mais vital <strong>de</strong> nos<br />
convencer <strong>de</strong> que nosso self é <strong>de</strong> fato “autêntico” ou “real”. Dessa<br />
forma, enquanto o que <strong>de</strong>sejo (e também o que não gosto) me ajuda a<br />
me dizer qu<strong>em</strong> sou, o fato <strong>de</strong> eu <strong>de</strong>sejar intensamente ajuda a me<br />
convencer <strong>de</strong> que realmente existo. (Campbell, 2007. p. 57)<br />
Afirmar a autenticida<strong>de</strong> da nossa existência é uma necessida<strong>de</strong> psicológica que<br />
requer ser satisfeita, repetidas vezes, por isso o que nos chamou atenção há pouco, não nos<br />
satisfará mais com a mesma intensida<strong>de</strong> do que antes. Assim, somos propensos à “sedução”<br />
pelas artimanhas do consumo capitalista. É constante a nossa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos estímulos,<br />
3
daí o papel da <strong>moda</strong>, que persua<strong>de</strong> os consumidores a mudar<strong>em</strong> significativamente e<br />
constant<strong>em</strong>ente sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>.<br />
Produtos como os relacionados à <strong>moda</strong>, estilo e tendência nos seduz<strong>em</strong>, passam a<br />
ser <strong>de</strong>sejados por nós e <strong>em</strong>ocionalmente necessários. Segundo Bittencourt, a exaltação mágica<br />
<strong>de</strong> um produto faz com que ele <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser material e utilitário e passa a ter vida. É a “forma<br />
fantasmagórica” que citou Karl Marx (2002).<br />
Quando escolh<strong>em</strong>os e compramos os produtos que <strong>de</strong>sejamos, e não os que<br />
necessitamos, estamos expondo diretamente os nossos sentimentos. “Gosto não se discute” e<br />
no individualismo epist<strong>em</strong>ológico <strong>de</strong> Campbell, não há autorida<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira fora do self. O<br />
que eu gosto e <strong>de</strong>sejo é a única verda<strong>de</strong>. Portanto, neste momento, nossos <strong>de</strong>sejos foram<br />
intensamente experimentados, e foram reais. Segundo Campbell, a realida<strong>de</strong> consiste <strong>em</strong><br />
mente e espírito, não <strong>em</strong> matéria.<br />
Po<strong>de</strong>-se afirmar que o mundo material está subordinado ao po<strong>de</strong>r dos<br />
pensamentos e <strong>de</strong>sejos humanos, o consumo po<strong>de</strong> ser visto como indicativo da aceitação <strong>de</strong><br />
uma metafísica fundamentalmente i<strong>de</strong>alista. Eu “sou” o que consumo e “sei o que sou”<br />
quando consumo.<br />
Pela “necessida<strong>de</strong> vital” do consumo, as po<strong>de</strong>rosas técnicas da publicida<strong>de</strong> têm no<br />
sujeito atual presa fácil pelo vazio existencial proporcionado na era pós-mo<strong>de</strong>rna.<br />
2. O “blog da thássia” e possíveis relações<br />
É papel da publicida<strong>de</strong> construir constant<strong>em</strong>ente ferramentas <strong>de</strong> sedução para o<br />
consumo. Os <strong>blogs</strong> <strong>de</strong> <strong>moda</strong>, a favor <strong>de</strong> lojas e marcas, têm conquistado certo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
persuasão sobre o sujeito mo<strong>de</strong>rno disposto a afirmar ou construir a própria <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>.<br />
Ferramentas publicitárias digitais, como estas, já conquistaram um consi<strong>de</strong>rável espaço na<br />
cultura atual.<br />
O “Blog da Thássia” é um blog publicitário e atrativo para qu<strong>em</strong> gosta <strong>de</strong> assuntos<br />
relacionados à <strong>moda</strong>, beleza, <strong>de</strong>coração, viagens, dicas e novida<strong>de</strong>s. É uma referência entre os<br />
<strong>blogs</strong> <strong>de</strong> <strong>moda</strong> e estilo. Como a socieda<strong>de</strong> atual é narcisista e prefere consumir o que conforta<br />
o ego, o blog torna-se atraente. Como afirmou Campbell falando sobre o “self”, o indivíduo<br />
t<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comprar para o consumo próprio.<br />
4
A jov<strong>em</strong> Thássia Naves é blogueira e publicitária por formação, se auto-afirma<br />
apaixonada por <strong>moda</strong> e viajante <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> novas experiências e tendências. A cada dia,<br />
Thássia posta fotos com “looks” diferentes nos quais, na maioria das vezes, ela é personag<strong>em</strong>,<br />
e, referente às fotos, um texto.<br />
Ao acessar<strong>em</strong> o site, as leitoras interag<strong>em</strong> com os “looks” e o estilo <strong>de</strong> vida da<br />
publicitária, com as tendências do mundo da <strong>moda</strong> e com lojas e marcas <strong>de</strong> produtos voltados<br />
para este mercado. Elas analisam e curt<strong>em</strong> os “posts” <strong>de</strong> Thássia e se inser<strong>em</strong> naquele<br />
imaginário social 1 , procurando fazer parte daquela “tribo”, assim confirmando ou afirmando<br />
suas <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>s. Há um diálogo entre publicitária, leitoras, marcas e/ou lojas e imaginário<br />
social que compõe toda a “tribo”. Observa-se no Anexo 1, referente ao link “Sobre a Thássia”,<br />
que a leitora consi<strong>de</strong>ra-se “amiga” <strong>de</strong> Thássia, comprovando o envolvimento <strong>em</strong>ocional.<br />
Os “posts” do blog são categorizados. O site é b<strong>em</strong> visitado e nota-se, a cada post,<br />
muitos comentários, o que chama a atenção <strong>de</strong> lojas e marcas que contratam os serviços da<br />
publicitária. Na marg<strong>em</strong> direita do blog, no espaço “Categorias”, percebe-se que muitas <strong>de</strong>stas<br />
são referentes a alguma loja ou marca <strong>de</strong> roupa ou acessório que contrataram os serviços da<br />
jov<strong>em</strong> publicitária, o que mostra que ela cumpre o seu papel persuasivo para o consumo e já é<br />
referência, como mostram os elogios no comentário do Anexo 1.<br />
O sujeito atual está <strong>em</strong> constante busca <strong>de</strong> superação da crise <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> pós-<br />
mo<strong>de</strong>rna (ou mo<strong>de</strong>rna). Na sua apresentação e apresentação do blog, ao afirmar que a mulher<br />
mo<strong>de</strong>rna é a “personag<strong>em</strong> principal <strong>de</strong> toda essa história”, Thássia insere as leitoras nesse<br />
imaginário social “mo<strong>de</strong>rno” e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, as individualiza, o que, segundo Campbell,<br />
faz o indivíduo sentir-se mais autêntico. Isso traz ao consumidor satisfação por sentir que<br />
po<strong>de</strong> escolher o que consumir, mesmo que esta escolha tenha sido persuadida.<br />
A consumidora-leitora é “<strong>de</strong>finida” pelo seu próprio “gosto”, opta pelo site, que já<br />
é questão <strong>de</strong> “gosto” e <strong>de</strong>seja pertencer àquele imaginário. No momento <strong>em</strong> que t<strong>em</strong> acesso<br />
ao blog, seus <strong>de</strong>sejos foram intensamente experimentados e, <strong>de</strong> acordo com Campbell, foram<br />
reais <strong>em</strong> mente e espírito, i<strong>de</strong>ntitários do seu “eu”. É como se para ela, tal opção fosse a única<br />
verda<strong>de</strong>.<br />
No Anexo 2, observa-se um post seguido <strong>de</strong> uma das fotos que o compõe. Na<br />
legenda da foto, a blogueira propaga as marcas que compõ<strong>em</strong> o look. Para o post, há 160<br />
1<br />
Segundo Jurandir Silva (2006), é o trajeto antropológico <strong>de</strong> um ser que bebe numa ‘bacia s<strong>em</strong>ântica’ (encontro<br />
e repartição das águas) e estabelece o seu próprio lago <strong>de</strong> significados.<br />
5
comentários. A partir dos comentários feitos pelos visitantes a cada novo texto, supõe-se que<br />
a publicitária acaba conhecendo as reações dos consumidores <strong>em</strong> relação aos produtos. E isso<br />
funciona até mesmo como um campo <strong>de</strong> análise e ataque: a blogueira e as marcas que ela<br />
aten<strong>de</strong> conhec<strong>em</strong> o consumidor e com isso, têm mais chances <strong>de</strong> seduzi-los, transformando<br />
seus <strong>de</strong>sejos <strong>em</strong> necessida<strong>de</strong>.<br />
Na página “Sobre a Thássia”, ela se diz “viajar”, ou seja, ir à busca do outro para<br />
afirmar sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>. As pessoas que navegam <strong>em</strong> seu blog nada faz<strong>em</strong> <strong>de</strong> diferente disso,<br />
procuram afirmar ou até mesmo construir sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> baseando-se <strong>em</strong> tendências.<br />
Ao falar sobre ela mesma (Anexo 3), afirma estar s<strong>em</strong>pre se aprimorando para<br />
aten<strong>de</strong>r à po<strong>de</strong>rosa mulher mo<strong>de</strong>rna. O fato <strong>de</strong> que ela procura se “aprimorar”, <strong>de</strong>signa a<br />
facilida<strong>de</strong> com que trocamos <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>. Seguindo as “tendências”, que mudam a cada<br />
estação e se inspiram <strong>em</strong> “tribos” e “imaginários” diferentes, blogueira e consumidoras<br />
também mudam constant<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong>. Esta constante mutação <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> é<br />
afirmada por Maffesoli, que observa que as tribos são cada vez mais circunstanciais. O sujeito<br />
mo<strong>de</strong>rno não faz parte <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ologia única, para afirmar sua <strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong></strong> ele po<strong>de</strong> percorrer<br />
por várias tribos.<br />
Como observou Campbell, nossa habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experimentar repetidamente as<br />
<strong>em</strong>oções do querer, <strong>de</strong>sejar e ansiar sustenta a economia das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas<br />
<strong>de</strong>senvolvidas, por isso as blogueiras <strong>de</strong> <strong>moda</strong> mantêm-se atualizadas, e postam dia-a-dia<br />
tendências e looks diferentes. É preciso exposições regulares para que tudo não se transforme<br />
<strong>em</strong> tédio.<br />
3. Conclusão<br />
Para a socieda<strong>de</strong> atual, ativida<strong>de</strong>s relacionadas ao “consumo” são<br />
consi<strong>de</strong>ravelmente relevantes. Ao consumir <strong>de</strong>terminado produto, o sujeito mo<strong>de</strong>rno tanto se<br />
individualiza, quanto se insere <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado grupo.<br />
A<strong>de</strong>rindo a <strong>de</strong>terminado grupo, a <strong>de</strong>terminado imaginário social, o indivíduo<br />
<strong>em</strong>ocionalmente sente-se parte daquele grupo, se i<strong>de</strong>ntifica. Esta característica vista nas<br />
leitoras do “Blog da Thássia” po<strong>de</strong> explicar a tese <strong>de</strong> Campbell <strong>de</strong> que a importância do<br />
consumo t<strong>em</strong> a ver com as bases metafísicas do “ser” e do “saber”. Tais características<br />
6
constitu<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos i<strong>de</strong>ntitários, é como se as leitoras passass<strong>em</strong> a “saber” qu<strong>em</strong><br />
“são” quando interag<strong>em</strong> com o blog.<br />
A característica consumista das leitoras do “Blog da Thássia” é o que faz<br />
sentir<strong>em</strong>-se “autênticas”, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que são seduzidas para o consumo. Como<br />
afirmou Bittencourt, a publicida<strong>de</strong> fabrica consenso para aten<strong>de</strong>r aos interesses do po<strong>de</strong>r<br />
econômico, prosperando assim por meio das carências existenciais <strong>de</strong> cada indivíduo, que<br />
consom<strong>em</strong> sofregamente <strong>em</strong> nome <strong>de</strong> uma postulada “satisfação interior”. Neste contexto,<br />
“<strong>blogs</strong> <strong>de</strong> <strong>moda</strong> e estilo”, mostram-se atraentes ferramentas publicitárias digitais.<br />
ANEXOS<br />
ANEXO 1<br />
Comentário referente ao link “Sobre a Thássia”:<br />
Olá Thássia, s<strong>em</strong>pre procurei saber mais sobre vc. Sua ida<strong>de</strong>, gostos (além da <strong>moda</strong> e<br />
publicida<strong>de</strong>), etc. Sinto que somos amigas rs, dás-me dicas <strong>de</strong> <strong>moda</strong>, beleza, <strong>de</strong>coração…<br />
Adoro principalmente o seu estilo, acho b<strong>em</strong> realista, não como aquelas blogueiras que<br />
vest<strong>em</strong> só para tirar fotos.<br />
Acessar o seu blog já virou minha rotina, alias é o primeiro site que penso quando estou na<br />
net. O seu blog é o meu favorito, fico triste quando há postes novos, os meus favoritos são os<br />
look do dia e dicas.<br />
Tenho uma pasta com todos (ou quase todos) os seus looks, tu és a minha musa inspiradora.<br />
Continue assim.<br />
O seu blog é s<strong>em</strong> sombras <strong>de</strong> dúvidas o melhor!!<br />
BjUuU ou melhor bisou bisou - L.O.L.<br />
(21.11.2011 – 09h14min)<br />
ANEXO 2<br />
Postag<strong>em</strong> do dia 21 <strong>de</strong> maio: “Meu look – Nu<strong>de</strong> e preto”<br />
Voltei para São Paulo, e lá estava aquele friozinho <strong>de</strong>lícia. Nada mais gostoso, prático e<br />
confortável que optar por um look com calça, camisa e colete <strong>de</strong> pelo! É uma produção <strong>de</strong><br />
inverno, quentinha, super charmosa e mega fácil <strong>de</strong> ser pensada.<br />
7
O tom da calça é um nu<strong>de</strong> rosado incrível. A mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong>, por ser <strong>de</strong> couro ecológico,<br />
dispensa comentários! Veste como uma luva e t<strong>em</strong> caimento impecável! Adoro misturar esse<br />
nu<strong>de</strong> com o preto! Acho que fica b<strong>em</strong> chique, e faz um contraste b<strong>em</strong> bacana!<br />
Olh<strong>em</strong> só…<br />
Calça – Amici per Amici (Compre AQUI) | Camisa – Clé (Compre AQUI) | Colete –<br />
Comprei <strong>em</strong> NY | Flat – Chanel | Bag – Hermés | Óculos – Urban Outfitters | bracelete –<br />
Hermés | Brinco – Talento<br />
Esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> camisa, com o <strong>de</strong>cote b<strong>em</strong> alto e s<strong>em</strong> golinhas está dando o que falar! O<br />
mo<strong>de</strong>lo t<strong>em</strong> uma cara vintage, ao mesmo t<strong>em</strong>po é ultra f<strong>em</strong>inino e ótimo para usar no<br />
inverno!<br />
E então, o que acharam? Quero saber…<br />
Bisou, bisou...<br />
ANEXO 3<br />
Sobre a Thássia:<br />
Day by day, viagens, looks, tendências, dicas, eventos, isso é o que você encontra aqui,<br />
s<strong>em</strong>pre com meu olhar e um jeitinho especial <strong>de</strong> conversar com você, que é o personag<strong>em</strong><br />
8
principal <strong>de</strong> toda essa história. Por isso busco s<strong>em</strong>pre me aprimorar para trazer o melhor<br />
conteúdo e contribuir um pouco com o dia a dia <strong>de</strong>ssas po<strong>de</strong>rosas mulheres mo<strong>de</strong>rnas.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BAUDRILLARD, Jean. A Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Consumo</strong>. Trad. <strong>de</strong> Artur Morão. Lisboa: Ed. 70,<br />
2007.<br />
BITTENCOURT, Renato Nunes. Sedução para o consumo. Filosofia, ciência e vida. 66ª ed.<br />
/ 2012. In: . Acesso <strong>em</strong> 20<br />
<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012.<br />
CAMPBELL, Colin. Eu compro, logo sei que existo: as bases metafísicas do sujeito<br />
mo<strong>de</strong>rno. In: BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, <strong>Consumo</strong> e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: FGV, 2007. 204p.<br />
MAFFESOLI, Michel. O T<strong>em</strong>po das Tribos: o <strong>de</strong>clínio do individualismo nas socieda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> massa. 2ª ed. Trad. Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Menezes. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária,<br />
1998.<br />
MARX, Karl. O Capital. Livro I, Vol. 1. Trad. <strong>de</strong> Reginaldo Sant’Anna. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Civilização Brasileira, 2002.<br />
NAVES, Thássia. Blog da Thássia. Disponível <strong>em</strong>: .<br />
Acesso <strong>em</strong> 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1012.<br />
SILVA, Jur<strong>em</strong>ir Machado da. As Tecnologias do Imaginário. 2. ed. Porto Alegre: Sulina,<br />
2006.<br />
9