Adolescência e internet: uma análise do apelo consumista ... - UFSCar
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS<br />
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS<br />
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA<br />
ADOLESCÊNCIA E INTERNET: UMA ANÁLISE DO APELO CONSUMISTA<br />
PRESENTE NAS COMUNIDADES DO ORKUT E SUAS IMPLICAÇÕES NA<br />
ESCOLA.<br />
SÃO CARLOS<br />
2007<br />
Danielle Regina <strong>do</strong> Amaral Car<strong>do</strong>so
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS<br />
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS<br />
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA<br />
ADOLESCÊNCIA E INTERNET: UMA ANÁLISE DO APELO CONSUMISTA<br />
PRESENTE NAS COMUNIDADES DO ORKUT E SUAS IMPLICAÇÕES NA<br />
ESCOLA.<br />
Trabalho de Conclusão <strong>do</strong> Curso de Licenciatura Plena em<br />
Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos.<br />
Orientação: Professora Doutora Emília Freitas de Lima.<br />
Departamento de Meto<strong>do</strong>logia de Ensino.<br />
SÃO CARLOS<br />
2007
BANCA EXAMINADORA<br />
Profª.Drª. Emilia Freitas de Lima<br />
Profª. Msª. Roselaine Ripa
AGRADECIMENTOS<br />
Agradeço à Profª. Drª. Emília Freitas de Lima, pelas orientações no decorrer <strong>do</strong><br />
trabalho. Ao Prof. Dr. Antônio Álvaro Soares Zuin pela disponibilidade em auxiliar na<br />
orientação, à <strong>do</strong>utoranda <strong>do</strong> Departamento de Educação Roselaine Ripa, pelos<br />
conselhos e pelo empréstimo <strong>do</strong>s livros toma<strong>do</strong>s como referências nesse trabalho, em<br />
especial, sua dissertação de mestra<strong>do</strong> e à mestranda, também <strong>do</strong> Departamento de<br />
Educação, Carla Regina Silva também por fornecer/disponibilizar sua dissertação como<br />
referencial teórico.<br />
Agradeço também aos meus pais que me forneceram to<strong>do</strong> o apoio moral e<br />
financeiro para que eu pudesse concretizar essa etapa final de minha formação, meu<br />
namora<strong>do</strong> Tiago, que esteve <strong>do</strong> meu la<strong>do</strong> também em apoian<strong>do</strong> nos momentos de<br />
angústias e felicidades no decorrer da pesquisa.<br />
Merecem os agradecimentos também, os a<strong>do</strong>lescentes que permitiram realizar a<br />
investigação e <strong>análise</strong> em suas páginas disponíveis no orkut, dentre eles a minha irmã<br />
Paula. E à diretora Maria Doralice Matheus, da CEMEI Monsenhor Alcin<strong>do</strong> Siqueira,<br />
onde fiz estágio remunera<strong>do</strong> no decorrer desse ano, pela compreensão e amizade<br />
oferecidas.
SUMÁRIO<br />
INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 6<br />
1. <strong>A<strong>do</strong>lescência</strong>, meios de comunicação, consumo e educação................................. 10<br />
1.1. A indústria cultural e os meios de comunicação..................................... 11<br />
1.2. A a<strong>do</strong>lescência, o consumo e a mídia.........................................................15<br />
1.2.1. O a<strong>do</strong>lescente, a <strong>internet</strong> e o orkut......................................................... 19<br />
1.2.2. Os a<strong>do</strong>lescentes, as comunidades <strong>do</strong> orkut e o consumo..................... 25<br />
2. O consumo, os a<strong>do</strong>lescentes e a educação .............................................................. 28<br />
2.1. Educação paa a mídia ............................................................................... 30<br />
3. Análise <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s nas comunidades selecionadas....................33<br />
3.1. Viva o Capitalismo!................................................................................... 33<br />
3.2. Nike BrasiL................................................................................................. 35<br />
3.3. Eu amo fazer compras/ Quero comprar o shopping to<strong>do</strong>!.................... 38<br />
3.4. Eu quero um celular de câmera!.............................................................. 40<br />
3.5. Durmo com meu celular <strong>do</strong> la<strong>do</strong>/ Eu amo meu celular.......................... 41<br />
3.6. Amo muito tu<strong>do</strong> isso.................................................................................. 43<br />
3.7. Cocólatras – Coca-cola.............................................................................. 44<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 46<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 49<br />
ANEXOS...................................................................................................................... 52
Resumo<br />
O processo de desenvolvimento da mídia cresceu desenfreadamente,<br />
condicionan<strong>do</strong> os seres h<strong>uma</strong>nos a se manterem liga<strong>do</strong>s, de alg<strong>uma</strong> forma, à forte<br />
publicidade envolvida na “sociedade midiática”. O presente trabalho busca demonstrar<br />
como a <strong>internet</strong>, enquanto meio de comunicação de massa, tem atingi<strong>do</strong> a sociedade<br />
atual, em especial os a<strong>do</strong>lescentes, levan<strong>do</strong> dentre suas diversas mensagens<br />
instantâneas, <strong>uma</strong> grande rede de propagandas que apelam em favor <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
consumi<strong>do</strong>r, a fim de divulgar os produtos da indústria cultural, e construin<strong>do</strong> a crença<br />
de que, somente por meio da aquisição de tais produtos, as pessoas conseguirão alcançar<br />
a satisfação e realização pessoal. O <strong>apelo</strong> <strong>consumista</strong> da mídia para os a<strong>do</strong>lescentes<br />
tornou-se algo constante na <strong>internet</strong> de mo<strong>do</strong> que pode ser constata<strong>do</strong> até mesmo em<br />
sites de relacionamento, como é o caso <strong>do</strong> orkut, que oferece <strong>uma</strong> rede de comunidades,<br />
dentre as quais, muitas fazem apologia ao consumo, bem como aos ícones ofereci<strong>do</strong>s<br />
pelo merca<strong>do</strong> e a rede de marcas presentes nesses. Dessa forma, a a<strong>do</strong>lescência –<br />
entendida como a faixa etária que compreende <strong>do</strong>s 12 aos 18 anos – está se<br />
constituin<strong>do</strong>, hoje, em meio a <strong>uma</strong> sociedade marcada por <strong>uma</strong> nova Era, a Era<br />
Tecnológica, que traz <strong>uma</strong> série de implicações que são levadas pelos a<strong>do</strong>lescentes para<br />
o ambiente escolar. A escola precisa conhecer quem são esses a<strong>do</strong>lescentes que a<br />
freqüentam hoje, de mo<strong>do</strong> a proporcionar <strong>uma</strong> educação coerente e contextualizada com<br />
as necessidades e anseios provoca<strong>do</strong>s pelos debates oriun<strong>do</strong>s da sociedade moderna.<br />
Dessa forma, o trabalho demonstra a <strong>análise</strong> de tais comunidades de usuários<br />
a<strong>do</strong>lescentes, com o intuito de apresentar da<strong>do</strong>s que comprovem a forte presença de<br />
temas relaciona<strong>do</strong>s ao consumo no âmbito <strong>do</strong> universo on-line, em <strong>uma</strong> tentativa de<br />
compreender como o <strong>apelo</strong> <strong>consumista</strong> da mídia reflete no ambiente escolar e assim,<br />
construir estratégias pedagógicas que complementem a formação <strong>do</strong>cente, e permitam<br />
ao educa<strong>do</strong>r, conhecer quem é esse a<strong>do</strong>lescente que freqüenta a escola hoje.<br />
Palavras-chave: <strong>internet</strong>, orkut, consumo, a<strong>do</strong>lescente, educação.<br />
5
INTRODUÇÃO<br />
Um olhar mais atento para as questões que rondam a sociedade globalizada atual<br />
traz à tona o <strong>apelo</strong> <strong>consumista</strong> da mídia que tem se intensifica<strong>do</strong> com o decorrer <strong>do</strong>s<br />
tempos.<br />
Os meios de comunicação de massa, cada vez mais apontam para propagandas<br />
com mensagens contagiantes capazes de atrair olhares e envolver mentes. Com o<br />
crescente acesso à <strong>internet</strong>, a sociedade <strong>do</strong> consumo tem-se apropria<strong>do</strong> desse meio, não<br />
só para exibir propagandas, mas até mesmo, como ponto de venda, oferecen<strong>do</strong> maior<br />
conforto e facilidade para que os consumi<strong>do</strong>res possam realizar compras sem sair de<br />
suas próprias residências.<br />
Acreditan<strong>do</strong> que esta sociedade de consumo, utilizan<strong>do</strong>-se da mídia, tem<br />
atingi<strong>do</strong> a população cada vez mais ce<strong>do</strong>, de <strong>uma</strong> forma apelativa, o trabalho abordará<br />
<strong>uma</strong> pesquisa com a<strong>do</strong>lescentes, indivíduos entre 12 e 18 anos que se encontram na fase<br />
da a<strong>do</strong>lescência, traduzida pelo dicionário como sen<strong>do</strong>, “(...) o perío<strong>do</strong> que se estende<br />
da terceira infância até a idade adulta, caracteriza<strong>do</strong> psicologicamente por intensos<br />
processos conflituosos e persistentes esforços de auto-afirmação. Corresponde à fase de<br />
absorção de valores sociais e elaboração <strong>do</strong>s projetos que impliquem plena integração<br />
social”. (FERREIRA 1 , A.B.H. apud RIPA 2005, p. 118)<br />
A a<strong>do</strong>lescência, hoje, constitui a fase mais vulnerável aos fetiches da indústria<br />
cultural, já que está inserida “(...) em um cenário que dissemina as desigualdades<br />
sociais, a cultura <strong>do</strong> descartável, a banalização das experiências, a espacialidade virtual,<br />
os produtos semiculturais, as logomarcas...” (RIPA, p. 121) Isso pode ser comprova<strong>do</strong><br />
ainda por meio de sites de relacionamento que mostram, publicamente, as preferências<br />
<strong>do</strong>s indivíduos, classificadas em comunidades 2 , dentre as quais muitas se identificam<br />
com ícones de consumo. Sobre isso, Avanzini (1978, p. 66) ainda afirma que “(...) não<br />
se deve negligenciar a modificação proporcionada pelos mass-media ao clima cultural<br />
em que os a<strong>do</strong>lescentes vivem e se formam”.<br />
Dessa forma, não se pode deixar de la<strong>do</strong> os reflexos presentes na cultura escolar,<br />
já que esta se encontra diretamente ligada com a sociedade, <strong>uma</strong> vez que é formada por<br />
1<br />
FERREIRA, A.B.H. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova<br />
Fronteira, 1975.<br />
2<br />
Essas comunidades – localizadas no orkut – constituirão o meio pelo qual analisarei o tema proposto<br />
nesse trabalho e estarão mais explicitadas no decorrer <strong>do</strong> trabalho.<br />
6
meio de indivíduos que trazem consigo to<strong>do</strong> o contexto histórico em que estão<br />
inseri<strong>do</strong>s. A <strong>análise</strong> de tal problemática favorecerá para que se possa conhecer um<br />
pouco mais quem é esse a<strong>do</strong>lescente que freqüenta a escola. Aqui, mais <strong>uma</strong> vez utilizome<br />
das palavras de Ripa (2005) para mostrar que<br />
“Percebemos a necessidade de trazer para o universo escolar a<br />
reflexão ausente sobre os ícones de consumo e suas mensagens<br />
divulgadas incessantemente pelos meios de comunicação social.”<br />
(p. 3)<br />
Para pesquisar a relação entre mídia e consumo é necessário analisar questões<br />
permeadas por <strong>uma</strong> série de conceitos presentes na sociedade capitalista. Falar sobre os<br />
<strong>apelo</strong>s <strong>do</strong>s meios de comunicação de massa com vistas ao consumismo implica aceitar<br />
que o ser h<strong>uma</strong>no é passível de controle. Entretanto, é preciso analisar o que está<br />
provocan<strong>do</strong> essa crescente submissão <strong>do</strong> homem às mensagens transmitidas pela mídia,<br />
que trazem consigo o “universo maravilhoso” <strong>do</strong> consumo capaz de vender, juntamente<br />
com cada produto, a satisfação necessária para alcançar o prazer.<br />
Para tratar desse assunto, dentre outras referências, utilizei como fio condutor a<br />
dissertação de Ripa (2005) –“Indústria Cultural e Educação: Qual é a minha marca?”–<br />
que apresenta estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s nessa mesma temática. A pesquisa<strong>do</strong>ra trouxe à tona,<br />
em seu trabalho, conceitos que explicam a forte presença/ influência <strong>do</strong> consumismo na<br />
sociedade – mais especificamente entre os a<strong>do</strong>lescentes – que adquire escala global,<br />
graças à publicidade exercida pela mídia. Para isso, utilizou como referencial teórico os<br />
estudiosos da Teoria Crítica, dan<strong>do</strong> ênfase às idéias de Theo<strong>do</strong>r W. A<strong>do</strong>rno, que trouxe<br />
grandes contribuições à área educacional.<br />
Por se tratar de <strong>uma</strong> pesquisa que aborda a questão <strong>do</strong>s meios de comunicação<br />
de massa, a coleta de da<strong>do</strong>s foi realizada por meio da <strong>internet</strong>, mais precisamente por<br />
um site de relacionamento intitula<strong>do</strong> orkut 3 . Primeiramente realizei <strong>uma</strong> <strong>análise</strong> dessas<br />
comunidades pertencentes a 20 a<strong>do</strong>lescentes, que ainda não atingiram os dezoito anos,<br />
ou seja, que utilizam o site sem a devida autorização. Tais participantes foram<br />
indica<strong>do</strong>s por <strong>uma</strong> a<strong>do</strong>lescente que fazia uso <strong>do</strong> orkut e demonstrava grande interesse<br />
pelo mesmo. Dentre os 20 participantes da pesquisa, 14 pertencem ao sexo feminino e<br />
6 ao sexo masculino. Com relação à escolaridade, 15 estão no terceiro ano <strong>do</strong> Ensino<br />
3 O orkut será melhor apresenta<strong>do</strong> no decorrer <strong>do</strong> primeiro capítulo.<br />
7
Médio e completam 18 anos ainda em 2007; 2 estão no primeiro ano <strong>do</strong> Ensino Médio –<br />
15 anos – e 3 estão na sexta série <strong>do</strong> Ensino Fundamental, com 12 anos. Dentre eles, 18<br />
estudam em escola pública e 2 em escola particular. Apenas 2 <strong>do</strong>s participantes são da<br />
cidade de São Carlos, de mo<strong>do</strong> que os restantes pertencem à cidade de Jaboticabal.<br />
Com isso, iniciei <strong>uma</strong> investigação acerca da influência exercida pela mídia<br />
para transformar os a<strong>do</strong>lescentes, desde a mais tenra idade, em jovens consumi<strong>do</strong>res. A<br />
primeira etapa desse levantamento foi somente quantitativa já que o objetivo era<br />
adquirir proporções, que demonstrassem a quantidade de comunidades que cada um <strong>do</strong>s<br />
a<strong>do</strong>lescentes participa, bem como, quantas delas se referem a ícones ou temas volta<strong>do</strong>s<br />
ao consumo. Para isso, observei apenas os títulos de cada comunidade. Em seguida<br />
realizei <strong>uma</strong> <strong>análise</strong> minuciosa acerca das comunidades. Entretanto, como o trabalho<br />
não possui dimensões extensas, essa segunda etapa envolveu apenas a <strong>análise</strong> de<br />
comunidades que pudessem exemplificar os vários tipos de comunidades que os<br />
a<strong>do</strong>lescentes possuem relacionadas à questão <strong>do</strong> consumo, em suas mais diferentes<br />
formas, desde apologia até a preferência por marcas ou objetos.<br />
Com base nisso, o trabalho foi estrutura<strong>do</strong> em três capítulos segui<strong>do</strong> das<br />
considerações finais. O primeiro traz <strong>uma</strong> contextualização <strong>do</strong> tema <strong>internet</strong>,<br />
a<strong>do</strong>lescente e consumo, bem como de questões oriundas dessa discussão. Sua<br />
elaboração foi com base nos referenciais teóricos que teceram importantes<br />
considerações que dão suporte para que o leitor possa entrar em contato com alg<strong>uma</strong>s<br />
questões trazidas à tona nesse estu<strong>do</strong>. Inicialmente há <strong>uma</strong> <strong>análise</strong> da indústria cultural e<br />
<strong>do</strong>s meios de comunicação. Em seguida, apresento a discussão acerca da figura <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente e suas várias denominações para, depois, falar sobre seu envolvimento com<br />
a <strong>internet</strong> enquanto meio de comunicação, apontan<strong>do</strong> sua crescente <strong>do</strong>minação no<br />
mun<strong>do</strong> moderno. Em meio a isso, destaco a propagação <strong>do</strong> site intitula<strong>do</strong> orkut, no qual<br />
foi realizada a coleta de da<strong>do</strong>s.<br />
O segun<strong>do</strong> capítulo mostra como as novas tecnologias, a mídia e a questão <strong>do</strong><br />
consumo relacionam-se com a educação. É colocada também a necessidade de um novo<br />
paradigma educacional que atenda às necessidades impostas por essas questões que<br />
rondam a educação moderna.<br />
Após esse estu<strong>do</strong> bibliográfico, o terceiro capítulo constitui a apresentação e<br />
<strong>análise</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. Sua estrutura é composta pela descrição das comunidades<br />
8
selecionadas <strong>do</strong>s orkuts <strong>do</strong>s participantes, seguida de <strong>uma</strong> <strong>análise</strong> baseada nas idéias<br />
estudadas acerca da temática (presentes no primeiro capítulo).<br />
Por fim, as considerações finais buscam fazer <strong>uma</strong> relação de tu<strong>do</strong> que foi<br />
pesquisa<strong>do</strong> com a questão educacional em <strong>uma</strong> tentativa de compreender quem são os<br />
a<strong>do</strong>lescentes que nos deparamos hoje na escola e propor estratégias educacionais para se<br />
trabalhar com as tecnologias.<br />
9
1. <strong>A<strong>do</strong>lescência</strong>, meios de comunicação e consumo<br />
Violência, aborto, consumismo e drogas são alguns <strong>do</strong>s temas encontra<strong>do</strong>s<br />
quan<strong>do</strong> se estuda a a<strong>do</strong>lescência no mun<strong>do</strong> atual. Além disso, a a<strong>do</strong>lescência hoje, está<br />
diretamente ligada às relações virtuais que passaram a ganhar espaço na sociedade<br />
moderna e que, embora coloque <strong>uma</strong> ampla rede de pessoas em <strong>uma</strong> conexão, estão<br />
cada vez mais, substituin<strong>do</strong> as relações h<strong>uma</strong>nas e marcan<strong>do</strong> um cenário virtual que<br />
dissimula alguns valores prega<strong>do</strong>s até então.<br />
10<br />
“De <strong>uma</strong> perspectiva sociológica eu ousaria acrescentar que<br />
nossa sociedade, ao mesmo tempo em que se integra cada vez<br />
mais, gera tendências de desagregação.” (ADORNO, 1995, p.<br />
122)<br />
Em contrapartida, dizer que a a<strong>do</strong>lescência é um perío<strong>do</strong> marca<strong>do</strong><br />
exclusivamente por fatores negativos, é generalizar <strong>uma</strong> etapa que, em alguns<br />
momentos históricos, como na Antiguidade, nem mesmo era considerada como <strong>uma</strong><br />
fase <strong>do</strong> desenvolvimento h<strong>uma</strong>no. A a<strong>do</strong>lescência requer um estu<strong>do</strong> mais minucioso<br />
que traga à tona sua diversidade no interior de diferentes culturas e contextos.<br />
O a<strong>do</strong>lescente de hoje está inseri<strong>do</strong> em um momento marca<strong>do</strong> pela ampla<br />
tecnologia presente nos meios de comunicação, nos quais se destacam os cyber espaços<br />
e a extensa rede de propagandas que exercem influência e causam impacto ao<br />
divulgarem produtos e merca<strong>do</strong>rias da indústria cultural. É nesse contexto que se deve<br />
analisar a a<strong>do</strong>lescência na sociedade atual, em meio à banalização <strong>do</strong>s produtos e da<br />
cultura <strong>do</strong> descartável, na qual o gosto pela compra, transformou os indivíduos em<br />
agentes consumi<strong>do</strong>res.<br />
Em meio a esse cenário, faz-se urgente, compreender um pouco mais quem é<br />
esse a<strong>do</strong>lescente que freqüenta a escola e que, portanto, leva para o ambiente escolar<br />
alg<strong>uma</strong>s questões que merecem destaque, tais como a influência <strong>do</strong> <strong>apelo</strong> <strong>consumista</strong><br />
presente na mídia, em especial na <strong>internet</strong>. A<strong>do</strong>rno, ao problematizar a educação contra<br />
a barbárie, utiliza-se das idéias de Freud – que analisou de <strong>uma</strong> maneira psicológica a<br />
tendência à barbárie – para dizer que a sociedade se impõe de tal forma que as pessoas<br />
cometem barbáries apenas pelo fato de satisfazerem à vontade de ter um produto, ou<br />
seja, “por intermédio da cultura as pessoas continuamente experimentam fracassos”. A
educação, para promover criticidade e emancipação, necessita trazer para discussões e<br />
diálogos os fatores que marcam e caracterizam a sociedade vigente, a fim de conseguir<br />
tornar significativos os processos de ensino e aprendizagem para os a<strong>do</strong>lescentes de<br />
hoje.<br />
No decorrer desse capítulo será discuti<strong>do</strong> um pouco desse cenário, marca<strong>do</strong> pela<br />
<strong>internet</strong> e pelo consumo e, para isso, serão trazi<strong>do</strong>s à tona um pouco das considerações<br />
de alguns importantes estudiosos da indústria cultural e <strong>do</strong>s meios de comunicação, bem<br />
como da a<strong>do</strong>lescência.<br />
1. 1. A indústria cultural e os meios de comunicação<br />
Vivemos em <strong>uma</strong> sociedade pautada em um sistema cuja principal preocupação<br />
é a obtenção de bens materiais e o acúmulo de riquezas.<br />
11<br />
O capitalista só possui um valor perante a história e o direito<br />
histórico à existência, enquanto funciona personifican<strong>do</strong> o capital.<br />
Sua própria necessidade transitória, nessas condições, está ligada<br />
a necessidade transitória <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> capitalista de produção. Mas,<br />
ao personificar o capital, o que impele não são os valores-de-uso<br />
de sua fruição e sim o valor-de-troca e sua ampliação. (MARX,<br />
1980, p. 688)<br />
Nesse contexto ganha espaço à indústria cultural com sua vasta rede de<br />
merca<strong>do</strong>rias e produtos capazes de ludibriar as pessoas provocan<strong>do</strong> desejos. Ripa (2005)<br />
analisa a Indústria Cultural, enfatizan<strong>do</strong> que seus produtos têm o objetivo “(...) de levar<br />
o indivíduo a se tornar um consumi<strong>do</strong>r.” (p.23) De acor<strong>do</strong> com as idéias da autora, a<br />
Indústria Cultural é construída, a partir <strong>do</strong> advento <strong>do</strong> capitalismo, para que o ser<br />
h<strong>uma</strong>no passe de indivíduo a consumi<strong>do</strong>r, adquirin<strong>do</strong> assim o consumismo como<br />
identificação enquanto sujeito, o que demonstra que o conceito de consumismo<br />
encontra-se engendra<strong>do</strong> à indústria cultural.<br />
Quanto mais firmes se tornam as posições de indústria<br />
cultural, mais s<strong>uma</strong>riamente ela pode proceder com as<br />
necessidades <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, produzin<strong>do</strong>-as, dirigin<strong>do</strong>-as,<br />
disciplina<strong>do</strong>-as e, inclusive suspenden<strong>do</strong> a diversão: nenh<strong>uma</strong><br />
barreira se eleva contra o progresso cultural. (ADORNO &<br />
HORKHEIMER, apud RIPA, 2005, p. 31)
É preciso esclarecer ainda que, segun<strong>do</strong> as idéias de A<strong>do</strong>rno e Horkheimer, em<br />
Dialética <strong>do</strong> Esclarecimento, o termo “indústria cultural”, substituiria “cultura de<br />
massa”, visto que o último alude à idéia de <strong>uma</strong> cultura que surge espontaneamente das<br />
massas. Ao reproduzir as idéias de A<strong>do</strong>rno sobre esse assunto, Cohn (1978) afirma que<br />
as massas constituem o “acessório de maquinaria” da indústria cultural e não o fator<br />
principal, ou seja,<br />
12<br />
O consumi<strong>do</strong>r não é rei, como a indústria cultural gostaria de<br />
fazer crer, ele não é o sujeito dessa indústria, mas seu objeto. O<br />
termo mass media, que se introduziu para designar a indústria,<br />
desvia, desde logo, a ênfase para aquilo que é inofensivo. (p. 93)<br />
A indústria cultural, embora apresente produtos que aparentemente constituem-<br />
se com estéticas diferentes, são na verdade, bens padroniza<strong>do</strong>s, visto que atendem a<br />
necessidades iguais, construídas a partir <strong>do</strong> controle <strong>do</strong>s indivíduos, daí seu caráter<br />
manipula<strong>do</strong>r. Em meio a isso, destaca-se o papel <strong>do</strong>s meios de comunicação na<br />
divulgação desses produtos, produzin<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>s e imagens capazes de seduzir os<br />
indivíduos tornan<strong>do</strong>-os mais suscetíveis às “tentações <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>” e levan<strong>do</strong>-os a crer<br />
na idéia de <strong>uma</strong> “cultura de massa”, como se realmente tivesse surgi<strong>do</strong> dessa. Assim, os<br />
ícones de consumo tornaram-se parte fundamental <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> pela mídia,<br />
tanto na programação da televisão, como <strong>do</strong> rádio, da <strong>internet</strong>, etc.<br />
Rocha (1995) também considera fundamental, urgente e necessário estudar a<br />
comunicação de massa e suas implicações. O autor vai nos dizer que “as chamadas<br />
sociedades industriais-modernas-capitalistas possuem <strong>uma</strong> importância definitiva aqui,<br />
pois foram elas que inventaram a Comunicação de Massa”.(p. 105)<br />
Após a Revolução Industrial, a sociedade foi marcada por um salto no processo<br />
de globalização, gera<strong>do</strong> pelo alto grau de desenvolvimento da tecnologia que<br />
possibilitou um avanço progressivo nos meios de comunicação social.<br />
De fato, esta nova sociedade apresentou um<br />
“estilo de vida”, <strong>uma</strong> determinada “visão de<br />
mun<strong>do</strong>” que reordenou a experiência existencial<br />
<strong>do</strong> ser h<strong>uma</strong>no. Aí dentro podemos computar a<br />
experiência inaugural de um sistema de produção
13<br />
de símbolos <strong>do</strong> porte deste a que temos acesso por<br />
intermédio <strong>do</strong>s Meios de Comunicação de Massa.<br />
(ROCHA, 1995, p. 106)<br />
A partir daí, o processo de desenvolvimento da mídia cresceu<br />
desenfreadamente, condicionan<strong>do</strong> os seres h<strong>uma</strong>nos a se manterem liga<strong>do</strong>s, de alg<strong>uma</strong><br />
forma, à forte publicidade envolvida na “sociedade midiática”. A mídia passou a<br />
<strong>do</strong>minar a sociedade de tal maneira, que passou a ser capaz de tirar as pessoas de sua<br />
realidade, trazen<strong>do</strong>-as para um mun<strong>do</strong> de fantasia. Diante disso, hipnotiza<strong>do</strong>s pelo<br />
extenso merca<strong>do</strong> de consumo divulga<strong>do</strong> pelos meios de comunicação de massa, os<br />
indivíduos passaram a querer sempre mais. Essa realidade fez com que, muitos<br />
duplicassem o perío<strong>do</strong> destina<strong>do</strong> ao trabalho, manten<strong>do</strong>-se cada vez mais presas ao<br />
controle <strong>do</strong> relógio – traço marcante da sociedade capitalista – a fim de acumularem<br />
bens materiais.<br />
A comunicação de massa também é responsável pelo surgimento de <strong>uma</strong> nova<br />
realidade, a realidade virtual, sem barreiras de segurança, que se tornou acessível<br />
mundialmente e que, cada vez mais ganha audiência. Uma pesquisa realizada pelo<br />
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), vem comprovar o<br />
crescente aumento no número de usuários de <strong>internet</strong> 4 no Brasil, no perío<strong>do</strong> de 1999 a<br />
2000, e que demonstram a grande tendência ao aumento progressivo com o passar <strong>do</strong>s<br />
tempos.<br />
4 Encontra-se em anexo a evolução histórica e tecnológica da <strong>internet</strong>.
Esses da<strong>do</strong>s trazem à tona a grande expansão da <strong>internet</strong> enquanto meio, não só<br />
de comunicação, como também de realizar transações bancárias e comerciais além de<br />
receber/transmitir informação. Diante disso, os livros estão sen<strong>do</strong> deixa<strong>do</strong>s de la<strong>do</strong> em<br />
detrimento da grande quantidade de conteú<strong>do</strong>s sistematiza<strong>do</strong>s que surgem na<br />
programação audiovisual em <strong>uma</strong> velocidade de acesso instantânea.<br />
Essa é <strong>uma</strong> preocupação que ronda a educação moderna. Muitas escolas<br />
garantem o acesso à <strong>internet</strong>, como forma de garantir que os alunos aprendam a utilizar<br />
as tecnologias e se beneficiem com a rapidez dela, mas nem sempre ensinam como<br />
utilizar esse instrumento como algo positivo ao aprendiza<strong>do</strong>. Apesar disso, muitos<br />
professores deixam de incentivar o uso da biblioteca em favor da pesquisa na web, o que<br />
colabora na diminuição pelo gosto à leitura. É preciso estar atenta, pois o mau uso da<br />
<strong>internet</strong> e de seus sites, além de colocar o usuário em situações de risco, ainda oferece<br />
grande espaço às propagandas, colocan<strong>do</strong> o “internauta” – indivíduo que utiliza a<br />
<strong>internet</strong> – em constante contato com os produtos da indústria cultural, provocan<strong>do</strong><br />
desejos e prazeres pela posse e incentivan<strong>do</strong> um consumo desenfrea<strong>do</strong> e maléfico.<br />
14
1. 2. A a<strong>do</strong>lescência, o consumo e a mídia<br />
A opção por estudar a a<strong>do</strong>lescência se torna algo bem significativo ao constatar<br />
que, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ano de 2000 <strong>do</strong> Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />
(IBGE), vivemos em um mun<strong>do</strong> jovem no qual, aproximadamente 50 per cento da<br />
população possui até 25 anos de idade e, no Brasil, mais especificamente, 26 per cento<br />
da população é jovem. O IBGE ainda afirma que as estimativas prevêem um aumento<br />
progressivo nesses da<strong>do</strong>s com o decorrer <strong>do</strong>s anos.<br />
Pesquisas e estu<strong>do</strong>s mostram que não existe um consenso de idade e definição ao<br />
se falar de a<strong>do</strong>lescência e juventude. Entretanto, é preciso deixar claro que esses<br />
conceitos, embora nem sempre distingui<strong>do</strong>s, são analisa<strong>do</strong>s de forma diferente em<br />
alguns estu<strong>do</strong>s, como o de Silva (2007), que pesquisou a a<strong>do</strong>lescência como foco de sua<br />
dissertação de mestra<strong>do</strong>. A autora afirma que,<br />
15<br />
É importante esclarecer que, no campo teórico brasileiro, há um<br />
uso concomitante de <strong>do</strong>is termos: a<strong>do</strong>lescência e juventude. Suas<br />
semelhanças e diferenças nem sempre são esclarecidas e suas<br />
concepções ora se superpõem, ora constituem campos distintos,<br />
mas complementares, ora traduzem <strong>uma</strong> disputa por distintas<br />
abordagens. (SILVA, 2007, p. 6)<br />
Para trabalhar essas diferenças Silva (2007) faz <strong>uma</strong> <strong>análise</strong> <strong>do</strong>s estudiosos que<br />
abordaram a a<strong>do</strong>lescência e a juventude. Segun<strong>do</strong> a autora é comum encontrar teorias<br />
psicológicas analisan<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>lescência e teorias sociológicas que analisam a juventude,<br />
considerada em alguns estu<strong>do</strong>s como <strong>uma</strong> representação construída.<br />
A juventude, em alg<strong>uma</strong>s vertentes de pesquisa é tida como um conjunto de<br />
elementos sociais que caracterizam <strong>uma</strong> determinada fase marcada por aspectos<br />
geracionais. Outras fontes, entretanto, consideram a juventude como <strong>uma</strong> categoria, um<br />
conceito construí<strong>do</strong> socialmente e que pode, portanto, apresentar diferentes vertentes de<br />
acor<strong>do</strong> com as sociedades, épocas e costumes. Isso pode ser compara<strong>do</strong> à idéia de<br />
infância, construída por Áries (1981), em sua obra, História Social da criança e da<br />
família, na qual o autor demonstra que o conceito de infância é construí<strong>do</strong> socialmente<br />
com base na representação da idéia que se tem de criança em cada época. Pode-se dizer<br />
ainda, que a juventude também é vista com base em diferentes concepções nas políticas<br />
que a vêem ora como um perío<strong>do</strong> preparatório; ora como etapa problemática; como ator
estratégico <strong>do</strong> desenvolvimento, ou ainda, como jovem sujeito de direitos. Dubet (1996,<br />
apud Silva, 2007) foi um importante sociólogo da juventude ao propor que a<br />
experiência desse momento vivi<strong>do</strong> é construída com base na formação de um mun<strong>do</strong><br />
juvenil autônomo, mas que também busca inserir os indivíduos nas estruturas sociais.<br />
Já com relação à a<strong>do</strong>lescência, apesar de não existir um consenso entre a faixa<br />
etária específica para essa etapa, o Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente (ECA),<br />
considera como sen<strong>do</strong> <strong>uma</strong> fase que engloba indivíduos de 12 a 18 anos, e que, segun<strong>do</strong><br />
a psicopedagogia, constitui um perío<strong>do</strong> de maturação <strong>do</strong> ser h<strong>uma</strong>no.<br />
De acor<strong>do</strong> com estudiosos <strong>do</strong> desenvolvimento, como Palácios (1995), embora<br />
se encontre registro que desde a época <strong>do</strong>s grandes pensa<strong>do</strong>res – como Aristóteles – os<br />
traços da puberdade despertam curiosidade e <strong>uma</strong> busca por identificação, pode-se dizer<br />
que a a<strong>do</strong>lescência, tal como a concebemos hoje, como um grupo com suas próprias<br />
marcas, hábitos e problemas peculiares, nem sempre foi vista dessa forma.<br />
Na Antiguidade não existia <strong>uma</strong> cultura a<strong>do</strong>lescente, pois, embora houvesse a<br />
identificação <strong>do</strong>s aspectos que marcam essa fase, como o desenvolvimento <strong>do</strong>s órgãos<br />
genitais e a busca por <strong>uma</strong> inserção no mun<strong>do</strong> adulto, a a<strong>do</strong>lescência não era<br />
considerada como <strong>uma</strong> fase <strong>do</strong> desenvolvimento. Essa visão foi rompida com o advento<br />
da revolução industrial, época em que a formação e o estu<strong>do</strong> ganharam papel relevante,<br />
o que fez com que os filhos das classes médias e altas, permanecessem mais tempo na<br />
escola que passaram a desenvolver programas específicos e que, mais tarde, com a<br />
obrigatoriedade <strong>do</strong> ensino, acabou se estenden<strong>do</strong> também aos filhos <strong>do</strong>s operários. Com<br />
isso, houve um retar<strong>do</strong> no “tornar-se adulto”. O perío<strong>do</strong> entre a infância e o mun<strong>do</strong><br />
adulto – a a<strong>do</strong>lescência – passou a se configurar como <strong>uma</strong> fase marcada, segun<strong>do</strong><br />
alguns autores, não só pelo processo de maturação física e psicológica, como também,<br />
por muitas vezes ainda existir a dependência <strong>do</strong>s pais.<br />
Diante desse contexto, pode-se perceber que a puberdade – conjunto de<br />
modificações físicas que transformam o corpo infantil em corpo adulto capaz de<br />
reproduzir – sempre existiu em todas as culturas. Enquanto que a a<strong>do</strong>lescência, que<br />
configurou toda a transição (não só fisicamente) para o mun<strong>do</strong> adulto, é algo que se<br />
originou com a modernidade. Apesar <strong>do</strong> surgimento <strong>do</strong> termo, não existia, bem como<br />
ainda não existe, um consenso acerca da a<strong>do</strong>lescência e das marcas que possam<br />
classificar o indivíduo como a<strong>do</strong>lescente. Trata-se de <strong>uma</strong> fase que, dependen<strong>do</strong> da<br />
cultura, <strong>do</strong> contexto sócio-econômico e, no caso <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s, da linha acadêmica, pode<br />
16
ser considerada como algo problemático, perío<strong>do</strong> de tensões ou mesmo como <strong>uma</strong> etapa<br />
comum <strong>do</strong> desenvolvimento que não possui características peculiares.<br />
Silva (2007) ainda aponta alguns estudiosos que se destacaram nas pesquisas<br />
acerca da a<strong>do</strong>lescência e afirma que, ao falar dessa etapa, não se pode deixar de<br />
mencionar G. Stanley Hall, que foi considera<strong>do</strong> o “pai da a<strong>do</strong>lescência” em 1902. Hall<br />
atribuía a essa etapa <strong>uma</strong> importância fundamental, chegan<strong>do</strong> a imaginar a “criação de<br />
<strong>uma</strong> nova super-raça utópica” (Silva, 2007, p. 10). Segun<strong>do</strong> ele, a a<strong>do</strong>lescência<br />
constituía um momento dramático marca<strong>do</strong> por inúmeras tensões que evidenciam o<br />
final da infância e o início de <strong>uma</strong> nova fase, que o autor chama de um “novo<br />
nascimento”. Diante disso, propunha um sistema educacional que cuidaria mais <strong>do</strong><br />
desenvolvimento físico e emocional sadio desses indivíduos em detrimento <strong>do</strong><br />
desenvolvimento intelectual.<br />
Além desse pensa<strong>do</strong>r, é preciso destacar, Maurice Debesse (apud Silva, 2007)<br />
que se tornou referência mundial para os estudiosos da temática com a obra<br />
L’a<strong>do</strong>lescence de 1943. Debesse vê a a<strong>do</strong>lescência como <strong>uma</strong> fase problemática,<br />
“ingrata”. Percebe-se com ele, que a a<strong>do</strong>lescência era <strong>uma</strong> fase desvalorizada.<br />
Com relação ao processo de a<strong>do</strong>lescer, Aberastury (1983, p. 15) afirma que “a<br />
a<strong>do</strong>lescência é um momento crucial na vida <strong>do</strong> homem e constitui a etapa decisiva de<br />
um processo de desprendimento.” Além disso, a autora chama a atenção para as<br />
mudanças corporais ocorridas nessa etapa<br />
17<br />
Se pensarmos no que há de essencial na a<strong>do</strong>lescência, naquilo que<br />
seria seu signo, diríamos que é a necessidade de entrar no mun<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> adulto. A modificação corporal, essência da puberdade, e o<br />
desenvolvimento <strong>do</strong>s órgãos sexuais e da capacidade de<br />
reprodução são vivi<strong>do</strong>s pelo a<strong>do</strong>lescente como <strong>uma</strong> irrupção de<br />
um novo papel, que modifica sua posição frente ao mun<strong>do</strong> e que<br />
também o compromete em to<strong>do</strong>s os planos da convivência.<br />
(IBIDEM, p. 227)<br />
Nesse trabalho, entretanto, os termos a<strong>do</strong>lescentes e jovens não se encontrarão<br />
delimita<strong>do</strong>s a <strong>uma</strong> ou outra teoria, ambos serão utiliza<strong>do</strong>s da mesma forma, referin<strong>do</strong>-se<br />
aos indivíduos com idade entre 12 e 18 anos, visto que a <strong>análise</strong> se pautará nessa faixa<br />
etária estipula<strong>do</strong> pelo ECA, como já foi menciona<strong>do</strong> anteriormente.
Segun<strong>do</strong> Aberastury, a mudança corporal presente nessa fase, implica também<br />
na perca da identidade infantil, o que requer <strong>uma</strong> busca por <strong>uma</strong> nova identidade, agora<br />
calcada na busca pela inserção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> adulto. E, é nessa constante busca por<br />
identidade que entram em cena os produtos da indústria cultural e a ânsia pela<br />
posse/consumo desenfrea<strong>do</strong>s.<br />
18<br />
No cotidiano, a imagem <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente consumi<strong>do</strong>r, difundida<br />
pela publicidade e pela televisão, oferece-se à identificação de<br />
todas as classes sociais, mesmo que poucos sejam capazes de<br />
consumir to<strong>do</strong>s os produtos. (NOVAES e VANNUCHI, 2004, p.<br />
12)<br />
O mun<strong>do</strong> atual está fortemente marca<strong>do</strong> pela presença da indústria cultural que<br />
dissemina seus produtos, encanta e manipula a vida das pessoas. A sociedade voltou-se,<br />
quase que exclusivamente, à exterioridade, deixan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong> valores e se tornan<strong>do</strong> cada<br />
vez mais competitiva e excludente. O a<strong>do</strong>lescente de hoje, está inseri<strong>do</strong> nesse panorama<br />
que vem se mostran<strong>do</strong> cada vez mais volta<strong>do</strong> à necessidade de possuir produtos e<br />
acumular bens, em <strong>uma</strong> correria contra o tempo, marcada por <strong>uma</strong> vida cada vez mais<br />
capitalista. Essa necessidade de posse está ligada à idéia de que os produtos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
podem auxiliar os a<strong>do</strong>lescentes na formação de <strong>uma</strong> imagem mais bem aceita em<br />
determina<strong>do</strong>s grupo. Tal fato se comprova pelas palavras de Palácios (1995, p. 295) ao<br />
dizer que “o a<strong>do</strong>lescente se observa e se julga a sim mesmo à luz de como percebe que<br />
os demais o julgam, compara-se a eles e também com o padrão de alguns critérios de<br />
valor significativos para ele”.<br />
Diante desse contexto, buscar <strong>uma</strong> nova identidade tornou-se buscar a<br />
apropriação de ícones e o acúmulo de produtos, na crença da possibilidade de <strong>uma</strong><br />
entrada no mun<strong>do</strong> adulto de <strong>uma</strong> forma mais feliz. A sociedade administrada coloca o<br />
a<strong>do</strong>lescente como mais um candidato ao consumo, apostan<strong>do</strong> na divulgação e no <strong>apelo</strong><br />
realizada pela mídia – através <strong>do</strong>s meios de comunicação de massa – a fim de atrair seus<br />
olhares e desejos. Ao falar da a<strong>do</strong>lescência e <strong>do</strong> contexto histórico em que vivemos,<br />
Kehl (2004) – <strong>uma</strong> psicanalista que estu<strong>do</strong>u a a<strong>do</strong>lescência e a influência <strong>do</strong> consumo –<br />
afirma que “as pesquisas de marketing definem como <strong>uma</strong> nova fatia de merca<strong>do</strong>” (p.<br />
91). Segun<strong>do</strong> ela, ao se falar em a<strong>do</strong>lescente e consumo, não é somente à elite que<br />
estamos nos referin<strong>do</strong> visto que,
19<br />
Na sociedade pautada pela indústria cultural, as identificações se<br />
constituem por meio das imagens industrializadas. Poucos são<br />
aqueles capazes de consumir to<strong>do</strong>s os produtos que se oferecem ao<br />
a<strong>do</strong>lescente contemporâneo – mas a imagem <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />
consumi<strong>do</strong>r, difundida pela publicidade e pela televisão, oferecese<br />
à identificação de todas as classes sociais. (IBIDEM, p. 93)<br />
Essa identificação como indivíduo consumi<strong>do</strong>r, entretanto, faz com que aumente<br />
o índice de violência entre os jovens que não possuem condições de adquirir os<br />
produtos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, ou seja, sentem-se incluí<strong>do</strong>s na imagem de consumi<strong>do</strong>r construída<br />
pela mídia, mas excluí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> “prazer” de fazer compras, da “possibilidade de<br />
consumo”, segun<strong>do</strong> as próprias palavras de Kehl (2004).<br />
Dessa forma, pode-se perceber que a a<strong>do</strong>lescência hoje, é fruto de <strong>uma</strong> cultura<br />
marcada pela lei <strong>do</strong> capital, na qual a competição e o desejo de possuir mais se fazem<br />
fortemente presentes. Quem não possui o capital para fazer parte dessa sociedade,<br />
busca-se <strong>uma</strong> inserção por meio da violência física e moral, <strong>uma</strong> violência que reflete a<br />
injustiça reafirmada pelo sistema capitalista, no qual o bem material equipara-se à<br />
dignidade e a possibilidade de “ser alguém”. É esse a<strong>do</strong>lescente que freqüenta a escola<br />
hoje, trazen<strong>do</strong> consigo todas as marcas impostas pelo contexto em que está inseri<strong>do</strong>.<br />
1.2.1. O a<strong>do</strong>lescente, a <strong>internet</strong> e o orkut<br />
A sociedade de hoje preza como <strong>uma</strong>s de suas principais características, a<br />
rapidez das informações, que atinge centenas de pessoas simultaneamente. Com o<br />
advento da <strong>internet</strong>, a sociedade sofreu <strong>uma</strong> transformação que engloba cada vez mais<br />
pessoas, tornan<strong>do</strong> excluí<strong>do</strong>s os indivíduos que não possuem acesso à imensa rede que<br />
navega no universo on-line. Aqui, mais <strong>uma</strong> vez nota-se que as desigualdades existentes<br />
no mun<strong>do</strong> agravam-se cada vez mais com o avanço da tecnologia, o que pode ser<br />
comprova<strong>do</strong> pelas palavras de Gates (1995),<br />
“Como o PC, a <strong>internet</strong> é um maremoto. Ela vai subjugar a<br />
indústria da informática e muitas outras, afogan<strong>do</strong> quem não<br />
aprende a nadar em suas ondas”. (GATES apud SOARES,<br />
1996, p. 24)
Hoje, o computa<strong>do</strong>r, por si só, já não possui um significa<strong>do</strong>, ou seja, não compõe<br />
um aparelho tecnológico de extrema utilidade ao ser h<strong>uma</strong>no, se não possuir os meios<br />
para possibilitar a conexão à <strong>internet</strong>. Além das milhares de informações que as<br />
homepages contêm, existem ainda páginas de vendas, de acesso bancário, de músicas<br />
para gravação e também de relacionamentos. Esses últimos constituem o foco desta<br />
pesquisa porque, além de demonstrarem a grande rede de pessoas que utilizam a <strong>internet</strong><br />
como forma de fazerem amizades e conhecer parceiros para relacionamento amoroso,<br />
também demonstra como os indivíduos se juntam em grupos que possam ser<br />
identifica<strong>do</strong>s pelas suas peculiaridades, dentre elas a necessidade, o desejo e o apego<br />
aos ícones de consumo.<br />
Com base nesses pressupostos, a <strong>internet</strong> foi escolhida como meio para realizar<br />
esta pesquisa, visto que se destaca entre os meios de comunicação da modernidade.<br />
Com relação aos a<strong>do</strong>lescentes, Ripa (2005, p. 130) afirma que “(...) atualmente, são os<br />
que mais permanecem conecta<strong>do</strong>s à <strong>internet</strong>. Ficam deslumbra<strong>do</strong>s diante <strong>do</strong>s modismos<br />
e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> virtual.” Dessa forma, foram escolhi<strong>do</strong>s 20 a<strong>do</strong>lescentes para participarem<br />
desse trabalho. A pesquisa foi feita inteiramente on-line, por meio da <strong>análise</strong> das<br />
páginas <strong>do</strong> orkut. O orkut é o título de um site de relacionamento, composto por <strong>uma</strong><br />
rede de pessoas interessadas em amizade ou mesmo namoro. No Brasil, esse site possui<br />
<strong>uma</strong> dimensão exorbitante de usuários, já que, por meio dele, infinitos internautas<br />
podem ter acesso às dezenas de pessoas, sobre as quais pode ainda conhecer seus<br />
gostos, preferências, interesses e descrições em geral. Uma pesquisa 5 acerca <strong>do</strong> índice<br />
de usuários <strong>do</strong> orkut constatou que o Brasil possui 600 mil pessoas cadastradas no site,<br />
o que representa 50 per cento <strong>do</strong> total de usuários espalha<strong>do</strong>s pelo mun<strong>do</strong>.<br />
5 Pesquisa retirada da B2B Magazine, Coluna Inclusão Empresarial, edição de agosto de 2004, disponível<br />
no site http://www.fulviocristofoli.com.br/wiki/index.php/%C3%8Dndice_Orkut.<br />
20
O orkut ainda permite que reca<strong>do</strong>s (os chama<strong>do</strong>s “scraps”) sejam troca<strong>do</strong>s<br />
instantaneamente e que este seja redireciona<strong>do</strong> a todas as pessoas pertencentes à rede de<br />
amigos. Outro tipo de mensagem também pode ser encaminhada a to<strong>do</strong>s, que são as<br />
com propostas de venda, troca ou mesmo informações gerais. Tais mensagens podem<br />
ainda serem recebidas no e-mail pessoal de cada usuário <strong>do</strong> site, se o participante<br />
desejar. Além disso, cada integrante <strong>do</strong> site possui em seu perfil, um álbum pessoal, por<br />
meio <strong>do</strong> qual mostra a sua rede de amigos fotos que o identifique ou que considera<br />
importante.<br />
Conecte-se aos seus amigos e familiares usan<strong>do</strong> reca<strong>do</strong>s e mensagens instantâneas<br />
Conheça novas pessoas através de amigos de seus amigos e comunidades<br />
Compartilhe seus vídeos, fotos e paixões em um só lugar<br />
Para inscrever-se no orkut é preciso que a pessoa receba o convite de alguém<br />
que já pertence ao site. Tal convite é envia<strong>do</strong> por e-mail para o interessa<strong>do</strong> que deve<br />
21
preencher <strong>uma</strong> inscrição onde colocará um e-mail e <strong>uma</strong> senha (password) que serão<br />
utiliza<strong>do</strong>s para o acesso, na página inicial:<br />
Para a inscrição, também é preciso conter os da<strong>do</strong>s pessoais, dentre eles a data<br />
de nascimento. De acor<strong>do</strong> com as regras 6 <strong>do</strong> site, para tornar-se participante, as pessoas<br />
precisam possuir a partir de 18 anos. Entretanto, não existe nenh<strong>uma</strong> forma de<br />
comprovação da idade, o que leva crianças e a<strong>do</strong>lescentes, a mentirem os da<strong>do</strong>s<br />
referentes ao ano de nascimento.<br />
Esse fato comprova como a <strong>internet</strong> está, cada dia mais, envolven<strong>do</strong> pessoas<br />
desde a mais tenra idade. A Era eletrônica está atingin<strong>do</strong> a população das mais diversas<br />
idades, sem demonstrar empecilhos para a inserção no universo on-line. Com base<br />
nisso, os participantes da pesquisa não foram escolhi<strong>do</strong>s aleatoriamente, visto que um<br />
<strong>do</strong>s objetivos foi demonstrar que muitos a<strong>do</strong>lescentes já fazem parte <strong>do</strong> site antes<br />
mesmo de completarem a idade necessária (dezoito anos). Tal circunstância exigiu que<br />
fossem seleciona<strong>do</strong>s indivíduos com os quais eu possuía algum contato, direto ou<br />
indireto, para que, dessa forma houvesse a comprovação da idade necessária, já que se<br />
6 Alg<strong>uma</strong>s regras <strong>do</strong> site encontram-se em anexo.<br />
22
utilizasse apenas as informações <strong>do</strong> orkut, estaria sujeita a levantar da<strong>do</strong>s de indivíduos<br />
que não se encaixam no perfil desta pesquisa. Embora o orkut seja de acesso livre a<br />
to<strong>do</strong>s os participantes, por se tratar de <strong>uma</strong> pesquisa com indivíduos menores de idade,<br />
foi necessária a assinatura, por parte <strong>do</strong>s responsáveis, de um termo de autorização.<br />
Além disso, é importante ressaltar que, embora seja de caráter público no site, não<br />
utilizei nenhum da<strong>do</strong> que revelasse/comprometesse nenhum <strong>do</strong>s participantes.<br />
Para demonstrar a grande proporção atingida pela <strong>internet</strong> e pelo orkut, julguei<br />
necessário apresentar duas comunidades 7 , encontradas no site da maioria <strong>do</strong>s<br />
a<strong>do</strong>lescentes que participaram dessa pesquisa. A primeira se refere à necessidade <strong>do</strong><br />
acesso à <strong>internet</strong>, conten<strong>do</strong> 268.332 membros; e a segunda, ao orkut, demonstran<strong>do</strong> a<br />
repercussão desse site no Brasil.<br />
→ Não vivo sem <strong>internet</strong><br />
(268.332 membros)<br />
Essa comunidade é perfeita para aquelas pessoas que<br />
não conseguem viver sem <strong>internet</strong>, que têm<br />
necessidade de entrar to<strong>do</strong>s os dias e ficar durante<br />
horas seja para o que for. São realmente viciadas!!!<br />
7<br />
As frases contidas nas descrições das comunidades serão mantidas na íntegra, portanto, sem as devidas<br />
correções.<br />
23
→ Só vou pro céu se tiver orkut<br />
(334 membros)<br />
Além dessas duas comunidades, <strong>uma</strong> outra merece ser destacada, ao se falar da<br />
repercussão <strong>do</strong> orkut na vida <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes (e não somente dessa faixa etária). A<br />
comunidade “Orkut é o RG da <strong>internet</strong>” demonstra a importância atribuída a esse site<br />
em meio ao conteú<strong>do</strong> acessa<strong>do</strong> na web:<br />
→ Orkut é o RG da <strong>internet</strong><br />
A original .. criada em 3 de outubro..<br />
Comunidade destinada as pessoas que não<br />
imaginam suas vidas... sem esse maldito .. porem diverti<strong>do</strong>...<br />
site de relacionamentos virtuais... pros que comem em frente<br />
ao pc.. os que acordam e antes mesmo de dar bom dia pra<br />
alguem.. já abrem o orkut... e tambem pra aqueles que não<br />
podem ter nem um tempinho... que jah tão lá mandan<strong>do</strong> uns<br />
scraps ou fuçan<strong>do</strong> no <strong>do</strong>s outros...<br />
Na vida e na morte... sempre.. orkut...<br />
Orkut é RG online<br />
Você me conhece? Não?<br />
Então dá <strong>uma</strong> olhada no "meu orkut"<br />
Orkut virou identificação, igual RG, na <strong>internet</strong>.<br />
Se você não tem <strong>do</strong>cumento ainda não é gente; Se você não<br />
tem orkut, ainda não existe na <strong>internet</strong>.<br />
Dizer que <strong>uma</strong> pessoa não existe na <strong>internet</strong> se não tiver orkut – que está sen<strong>do</strong><br />
compara<strong>do</strong> nessa descrição ao <strong>do</strong>cumento de identificação pessoal – implica em dizer<br />
que quem não possui acesso a <strong>internet</strong> está inerente ao contexto mundial vivi<strong>do</strong> hoje, já<br />
que não possui <strong>uma</strong> identidade virtual. Esse é um fato bastante preocupante, visto que<br />
demonstra como a nova era da tecnologia está excluin<strong>do</strong>, cada vez mais, as pessoas que<br />
não têm acesso ao novo mun<strong>do</strong> que está se constituin<strong>do</strong> on-line.<br />
24
1.2.2. Os a<strong>do</strong>lescentes, as comunidades <strong>do</strong> orkut e o consumo<br />
Além <strong>do</strong>s reca<strong>do</strong>s que podem ser compartilha<strong>do</strong>s no orkut, as comunidades<br />
virtuais, como as exemplificadas anteriormente, já somam mais de milhões. “O termo<br />
refere-se às comunidades na rede, e estas são virtuais, não reais, pois os seus membros<br />
efetivamente intercambiam mensagens (...)”. (TÜRCKE, et. al, 1999, p. 72)<br />
Essas comunidades servem para agrupar pessoas que possuem as mesmas<br />
preferências, de mo<strong>do</strong> a poderem discutir sobre determina<strong>do</strong>s temas. São como grupos<br />
on-line, cujos participantes são reconheci<strong>do</strong>s por algo que identifiquem o motivo de sua<br />
inserção.<br />
25<br />
To<strong>do</strong>s nos sentimos reconforta<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> nos filiamos a algum<br />
grupo. Participar de um grupo é gratificante porque fortalece o<br />
sentimento de que temos valor e a sensação de que aquilo que<br />
pensamos e sentimos é compartilha<strong>do</strong> por outros, o que lhe<br />
revigora o valor de verdade e de correção moral. (SOARES,<br />
2004, p. 150)<br />
Existem diversas modalidades que permitem que um indivíduo crie <strong>uma</strong><br />
comunidade, na tentativa de conhecer e poder trocar idéias com pessoas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>,<br />
que também compartilham de seus gostos. No caso desta pesquisa, foram analisadas as<br />
comunidades cujos temas são volta<strong>do</strong>s para o consumo, a fim de levantar alguns da<strong>do</strong>s<br />
que demonstrem a influência <strong>do</strong>s meios de comunicação na vida <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, bem<br />
como sua tendência ao consumo, o que corrobora com a idéia <strong>do</strong> fascínio causa<strong>do</strong> pelos<br />
produtos da indústria cultural, que passou a atingir um público bem mais jovem.<br />
São várias as temáticas que intitulam as comunidades <strong>do</strong> orkut ligadas ao<br />
consumo, sen<strong>do</strong> alg<strong>uma</strong>s voltadas aos ícones de consumo e outras, referentes ao ato de<br />
consumir, como é o caso da comunidade cujo título é “A<strong>do</strong>ro fazer compras na 25 de<br />
março” . Comunidades como essa, ou como a intitulada apenas “Coca-Cola”, ou ainda<br />
“Nike”, trazem conteú<strong>do</strong>s e informações que demonstram que grupos de pessoas já<br />
podem ser identifica<strong>do</strong>s por <strong>uma</strong> marca presente no merca<strong>do</strong>. Isso evidencia a<br />
necessidade imposta pela propagação <strong>do</strong>s produtos da indústria cultural, capazes de<br />
causar um fascínio tão grande que faz com que os a<strong>do</strong>lescentes acreditem que somente
adquirin<strong>do</strong> determina<strong>do</strong>s produtos, serão capazes de serem felizes, se sentin<strong>do</strong><br />
realiza<strong>do</strong>s.<br />
A escolha por <strong>uma</strong> marca específica é um fator que demonstra a necessidade <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente em fazer parte de determina<strong>do</strong> grupo, sentin<strong>do</strong>-se excluí<strong>do</strong>s os que não<br />
adquiriram o determina<strong>do</strong> produto, em sua maioria, com <strong>uma</strong> estética padronizada, já<br />
que “as pessoas precisam adquirir os ícones de consumo divulga<strong>do</strong>s pela indústria<br />
cultural para que possam se sentir vivos e integra<strong>do</strong>s ao meio em que vivem.” (RIPA,<br />
2005, p. 145)<br />
Pode-se perceber que, embora em diferentes quantidades, to<strong>do</strong>s os participantes<br />
apresentaram comunidades referentes ao consumo, de mo<strong>do</strong> que, primeiramente, foram<br />
leva<strong>do</strong>s em consideração apenas os títulos das comunidades as quais pertenciam os<br />
a<strong>do</strong>lescentes, como demonstra a tabela:<br />
Tabela 1: Análise Quantitativa das Comunidades <strong>do</strong> Orkut<br />
A<strong>do</strong>lescentes<br />
Pesquisa<strong>do</strong>s<br />
Total de<br />
Comunidades<br />
Pertencentes<br />
Comunidades<br />
relacionadas ao<br />
Consumo<br />
A<br />
584<br />
25<br />
B 465 15<br />
C 936 36<br />
D 57 4<br />
E 183 7<br />
F 817 51<br />
G 141 3<br />
H 282 19<br />
I 358 12<br />
J 248 9<br />
L 1203 42<br />
M 618 22<br />
N 159 5<br />
O 197 7<br />
P 884 17<br />
Q 542 23<br />
R 948 29<br />
S 201 14<br />
T 48 2<br />
26
Dentre as comunidades selecionadas, existem as que indicavam preferência<br />
exclusiva por marcas, como Nike, Coca-Cola, Adidas ou Cavalera (que foram as mais<br />
encontradas); atividades ligadas à aquisição de produtos, como fazer compras ou ganhar<br />
presentes e ainda comunidades que demonstrassem desejo/posse de ícones de consumo,<br />
como carros, celulares, motos, dentre outros. Além dessas, considerei para fins de<br />
<strong>análise</strong>, àquelas que se intitulam por meio de apologia ao merca<strong>do</strong>, como “Eu amo a 25<br />
de março” ou ainda “Viva o capitalismo”.<br />
27
2. O consumo, os a<strong>do</strong>lescentes e a educação<br />
O consumo, na sociedade atual, embora seja trata<strong>do</strong> de <strong>uma</strong> forma comum e<br />
corrente, é um termo que alude à necessidade que temos de adquirir, com muita rapidez,<br />
coisas novas, inutilizan<strong>do</strong> as velhas. Dizer que o ser h<strong>uma</strong>no tornou-se <strong>consumista</strong><br />
devi<strong>do</strong> ao fetiche da merca<strong>do</strong>ria é considerar que, hoje, os produtos da sociedade<br />
administrada estão sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>s e descarta<strong>do</strong>s da mesma forma que utilizamos os<br />
alimentos, necessários a sobrevivência. “É <strong>uma</strong> cultura <strong>do</strong> imediato, <strong>do</strong><br />
descompromisso consigo, com o outro e com o devir de to<strong>do</strong>s” (SOARES, 2004, p. 85).<br />
Se o envolvimento com as propagandas é capaz de levar às pessoas a crerem na<br />
necessidade da merca<strong>do</strong>ria, é porque certamente os indivíduos acreditam que a posse<br />
<strong>do</strong>s produtos da indústria cultural é necessária para satisfazer sua realização pessoal, ao<br />
que acresce o fato de que os objetos de posse são ti<strong>do</strong>s/vistos como <strong>uma</strong> etiqueta que<br />
comprova o valor social <strong>do</strong> indivíduo.<br />
28<br />
(...) o impulso para comprar objetos, de fato, se fortaleceu à<br />
medida que nos tornamos mais dependentes dele para ter prazer. A<br />
insaciabilidade por compras se acentuou porque o ideal de prazer<br />
hegemônico fez <strong>do</strong> objeto a via real da satisfação pessoal.<br />
(IBIDEM, p. 84)<br />
Ao falar de consumo e a<strong>do</strong>lescente, não se pode deixar de analisar a relação<br />
entre o ambiente em que este está inseri<strong>do</strong> e sua relação com o consumo. Para tanto,<br />
busquei compreender, como os ícones de consumo são inseri<strong>do</strong>s no ambiente escolar.<br />
Dessa forma foi necessário analisar as idéias de Klein (2002) que abarca a publicidade<br />
no âmbito escolar e universitário, demonstran<strong>do</strong> como o consumismo e a conseqüente<br />
tirania das marcas, alcançaram o local onde, inicialmente, não era tão profundamente<br />
marca<strong>do</strong> pela presença visível <strong>do</strong> consumo.<br />
Klein (2002) mostra a idéia contida em um folheto da Quarta Conferência Anual<br />
de Marketing <strong>do</strong> Poder Juvenil, que traz a mensagem<br />
Você concordará que o merca<strong>do</strong> jovem é um<br />
manancial inexplora<strong>do</strong> de novas receitas. Você<br />
também concordará que o merca<strong>do</strong> jovem passa a<br />
maior parte de seu dia na escola. Agora o<br />
problema é como alcançar esse merca<strong>do</strong>? (p. 111)
Essa mensagem torna evidente como a escola passou a ser um alvo da<br />
publicidade, incentivan<strong>do</strong> o jovem estudante a tornar-se consumi<strong>do</strong>r, em seu próprio<br />
local de formação. Pode-se perceber ainda, que a mídia é marcadamente o principal<br />
meio usa<strong>do</strong> para unir educação e publicidade, fato confirma<strong>do</strong> pela autora ao colocar<br />
29<br />
Esse raciocínio que equaciona deslavadamente o acesso<br />
corporativo às escolas com o acesso à moderna tecnologia, e por<br />
extensão ao próprio futuro, está no cerne <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como as marcas<br />
têm si<strong>do</strong> gerenciadas, no curso de apenas <strong>uma</strong> década, sobretu<strong>do</strong><br />
para eliminar a barreira entre a publicidade e a educação.<br />
(KLEIN, 2002, p. 112)<br />
Os ícones de consumo, comanda<strong>do</strong>s em sua maioria pela tirania das marcas,<br />
estão adentran<strong>do</strong> a escola, através <strong>do</strong>s meios de comunicação de massa, a fim de buscar<br />
no a<strong>do</strong>lescente, um forte merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. A comunicação de massa vem<br />
adquirin<strong>do</strong> lugar de destaque e, ao contrário <strong>do</strong> sistema burocrático escolar, esse sistema<br />
é desburocratiza<strong>do</strong> e se foca nas merca<strong>do</strong>rias, no consumo. Assim, com a forte presença<br />
<strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res e da <strong>internet</strong> no âmbito escolar, as propagandas midiáticas<br />
ultrapassam as barreiras escolares, atingin<strong>do</strong> os alunos com seu marca<strong>do</strong> <strong>apelo</strong><br />
<strong>consumista</strong>. Com base nessas idéias, evidenciou-se a relação entre ícones de consumo e<br />
a <strong>internet</strong>, <strong>uma</strong>s das formas mais utilizadas na sociedade atual para a publicidade<br />
midiática.<br />
Em meio a esse contexto um problema que ronda a educação moderna merece<br />
destaque: a ausência de discussões e conteú<strong>do</strong>s curriculares que abordem essa<br />
problemática estabelecida entre mídia e consumo. Ao se manter ausente desse debate, a<br />
escola acaba por ignorar a influência exercida pelos meios de comunicação na vida <strong>do</strong>s<br />
alunos, influência esta, que se reflete no ambiente escolar. A constante busca da<br />
identidade a<strong>do</strong>lescente mostra-se bastante inserida no ambiente escolar, visto que é<br />
nesse local que se configuram os grupos, muitos <strong>do</strong>s quais, forma<strong>do</strong>s a partir de estilos<br />
de roupas, gostos e desejos. Diante disso, é preciso que a escola leve em consideração<br />
que um fracasso escolar também pode ser resulta<strong>do</strong> de <strong>uma</strong> exclusão de grupos, ou<br />
mesmo da ausência de um ícone fortemente deseja<strong>do</strong> e possuí<strong>do</strong> pela maioria <strong>do</strong>s<br />
alunos.
Assim, pode-se dizer que, tu<strong>do</strong> o que acontece na vida de um indivíduo, reflete<br />
no ambiente escolar e, frente ao grande cenário proporciona<strong>do</strong> pela indústria cultural,<br />
não discutir questões ligadas ao consumo e aos meios de comunicação – em especial a<br />
<strong>internet</strong> – significa proporcionar <strong>uma</strong> educação descontextualizada e inerente aos<br />
processos evolutivos da sociedade. Sobre isso é importante mencionar as idéias de<br />
A<strong>do</strong>rno, que só concebe a educação como significativa se houver <strong>uma</strong> auto-reflexão<br />
crítica.<br />
2.1. Educação para a mídia<br />
A partir <strong>do</strong> contexto vivencia<strong>do</strong> na sociedade capitalista marca<strong>do</strong> pela evolução<br />
tecnológica e sua crescente presença na escola pode-se dizer que a educação de hoje<br />
está se deparan<strong>do</strong> com um novo momento, permea<strong>do</strong> por diversos veículos de<br />
comunicação que dão à mídia um imenso espaço. Paralelamente as informações e<br />
notícias, a mídia transmite <strong>uma</strong> vasta rede de propagandas que apelam em favor <strong>do</strong>s<br />
produtos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de consumo e que, cada vez mais, atingem ao público jovem e<br />
adentram a escola..<br />
A <strong>internet</strong> invadiu a vida <strong>do</strong>s indivíduos e transformou os hábitos e costumes de<br />
<strong>uma</strong> época. Esse panorama fez com que, juntamente com a tecnologia e as facilidades<br />
proporcionadas, aumentasse também a exclusão social e a conseqüente falta de<br />
oportunidades, ten<strong>do</strong> em vista que a exigência da sociedade moderna é bem maior, já<br />
que incluiu o manuseio e a possibilidade de acesso à web.<br />
Diante desse contexto, a escola precisa proporcionar um processo de ensino-<br />
aprendizagem que esteja mais contextualiza<strong>do</strong> e que atenda o momento histórico que os<br />
alunos estão viven<strong>do</strong>. Dessa forma, há <strong>uma</strong> urgência na capacitação <strong>do</strong>s profissionais da<br />
educação para saberem lidar com as novas tecnologias, em especial a <strong>internet</strong>, de <strong>uma</strong><br />
forma que as transforme não somente em mais um conteú<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> pelos alunos,<br />
como também em <strong>uma</strong> forma de se fazer educação diferenciada, que ultrapasse os<br />
limites da educação tradicional. Além disso, o professor deve saber, também, lidar com<br />
novas situações de aprendizagem nas quais ele não desempenhará mais o papel de<br />
detentor <strong>do</strong> saber, mas sim de orienta<strong>do</strong>r e participante <strong>do</strong>s processos de ensino e<br />
aprendizagem.<br />
30
Esse novo paradigma educacional pode ser o início de um caminho para <strong>uma</strong><br />
educação que fuja <strong>do</strong> modelo comum, composto, em sua maioria, por aulas expositivas<br />
e pelo triângulo professor-aprendiza<strong>do</strong>-aluno. Nessa nova proposta educacional, os<br />
professores passam a fazer parte <strong>do</strong> sistema de aprendiza<strong>do</strong> e não mais o detentor <strong>do</strong><br />
saber. Entretanto, para que tais reformas possam ser efetuadas no ensino, é preciso um<br />
comprometimento de toda a comunidade escolar, bem como <strong>uma</strong> formação de<br />
professores que dê o suporte necessário para que o corpo <strong>do</strong>cente seja, não apenas um<br />
usuário de novas tecnologias, mas que saiba lidar com elas educacionalmente. Em<br />
outras palavras, que saiba fazer da <strong>internet</strong>, <strong>do</strong> orkut e de outras tecnologias, um<br />
instrumento positivo ao processo de ensino-aprendizagem evitan<strong>do</strong>, assim, <strong>uma</strong><br />
inserção tecnológica na escola sem a promoção de <strong>uma</strong> educação diferenciada.<br />
A educação para a mídia requer <strong>uma</strong> atenção imediata, visto que por meio dela<br />
será possível buscar <strong>uma</strong> superação da educação danificada e da “semi-formação” <strong>do</strong>s<br />
indivíduos, a fim de lutar por <strong>uma</strong> educação crítica que consiga fazer com que os<br />
indivíduos saibam superar o conformismo e passem a analisar os veículos de<br />
comunicação e suas diversas mensagens direcionadas ao consumo, de <strong>uma</strong> forma a<br />
distanciar os seres h<strong>uma</strong>nos da barbárie e torná-los mais h<strong>uma</strong>niza<strong>do</strong> e emancipa<strong>do</strong>.<br />
Essa educação para a auto-reflexão crítica faz-se necessária e urgente visto que,<br />
31<br />
Na sociedade capitalista da industrialização avançada, esta<br />
educação crítica se encontra travada, desenvolven<strong>do</strong>-se só o la<strong>do</strong><br />
da adaptação, e não o la<strong>do</strong> da resistência e da contradição. É o<br />
fenômeno que A<strong>do</strong>rno denomina de semiformação<br />
(Halbbildung).(MAAR, 1995, p. 66)<br />
Em meio a um trabalho utilizan<strong>do</strong> a <strong>internet</strong> como instrumento de auxílio ao<br />
processo de ensino-aprendizagem, o orkut destaca-se como <strong>uma</strong> forma de atingir, mais<br />
especificamente, o público jovem, chaman<strong>do</strong> a atenção para diversos temas - como o<br />
consumo, foco dessa pesquisa - que podem ser debati<strong>do</strong>s com o auxílio das<br />
comunidades <strong>do</strong> site. Além de temáticas transversais, o orkut pode também ser um bom<br />
instrumento para trabalhar os conteú<strong>do</strong>s curriculares, favorecen<strong>do</strong> ainda a<br />
interdisciplinaridade. A construção de <strong>uma</strong> comunidade que permita aos alunos<br />
discutirem e tirarem dúvidas on-line torna-se <strong>uma</strong> forma de utilizar o orkut de <strong>uma</strong><br />
forma positiva ao processo de ensino-aprendizagem, permitin<strong>do</strong> ainda que os jovens
desenvolvam o senso crítico sem deixar de la<strong>do</strong> a diversão e o encanto proporciona<strong>do</strong><br />
pelo universo da web.<br />
32
3. Análise <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s nas comunidades selecionadas<br />
Ao contrário <strong>do</strong> que havia pensa<strong>do</strong> em um primeiro momento, considerei mais<br />
pertinente, analisar comunidades que exemplificassem as várias formas de ligação ao<br />
consumo e, por isso, selecionei comunidades <strong>do</strong>s diferentes participantes, até para não<br />
tornar o trabalho muito extenso, visto que se tornaria repetitivo devi<strong>do</strong> às várias<br />
comunidades em comum apresentadas pelos a<strong>do</strong>lescentes. Cabe ressaltar então, que as<br />
comunidades selecionadas não pertencem exclusivamente a nenhum <strong>do</strong>s participantes,<br />
bem como foram apresentadas de maneira aleatória, ou seja, não estão seguin<strong>do</strong> nenhum<br />
critério de classificação ou ordem.<br />
Antes de analisar as idéias contidas, será apresentada a descrição existente na<br />
comunidade na íntegra, como aparece nas páginas <strong>do</strong> orkut.<br />
3.1. Viva o Capitalismo!<br />
(2.025 membros)<br />
Antes de alguém vir criticar algum membro dessa<br />
comunidade saibam de alg<strong>uma</strong>s coisas:<br />
Primeiro Che Guevara não era legal, ele matava muitas pessoas, era<br />
so estarem perto de solda<strong>do</strong>s, e segun<strong>do</strong>, não é só os EUA os<br />
capitalistas, a parte inteligente <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é, o Bush é só um <strong>do</strong>s<br />
lideres.<br />
Morte aos sanguessugas, vampiros <strong>do</strong> nosso trabalho!!<br />
Para to<strong>do</strong>s os que gostam de carrões, motos, jóias, casas,<br />
apartamentos na praia, coberturas, caviar, champanhe.<br />
Para quem acredita no mérito <strong>do</strong> esforço próprio.<br />
Viva a liberdade! A liberdade de expressão. A liberdade de<br />
produzir e de consumir. A liberdade de ir e vir.<br />
Pelo direito inalienável à vida, à propriedade privada e ao<br />
cumprimento <strong>do</strong>s contratos.<br />
Viva o Sistema Capitalista!<br />
Esta comunidade agora é moderada. Só é possível entrar com a<br />
permissão <strong>do</strong> modera<strong>do</strong>r. Tópicos ou manifestações indeseja<strong>do</strong>s<br />
serão deleta<strong>do</strong>s. Membros indesejáveis serão bani<strong>do</strong>s.Voltei a<br />
controlar a entrada, chega de palhaçada!<br />
33
Dentre as comunidades encontradas no decorrer da pesquisa, essa foi a que mais<br />
chamou a atenção, sen<strong>do</strong> destacada nos orkuts de <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes que<br />
participaram da pesquisa. Conten<strong>do</strong> 2.025 integrantes, possui muitas postagens nos<br />
tópicos aberto no fórum, <strong>uma</strong> sessão destinada à troca de opiniões acerca de indagações<br />
geradas pelo tema da comunidade.<br />
Essa comunidade demonstra claramente a necessidade <strong>do</strong> indivíduo em estar<br />
sempre em busca de itens <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de consumo. Entretanto vai mais além, afirman<strong>do</strong><br />
claramente a posição <strong>do</strong>s participantes em demonstrarem que não sentem vergonha de<br />
gostar <strong>do</strong> consumo, mas pelo contrário, de se assumirem enquanto consumi<strong>do</strong>res e, por<br />
isso, serem adeptos ao sistema capitalista, cuja base é o capital e o merca<strong>do</strong>.<br />
A primeira parte da descrição contém <strong>uma</strong> justificativa feita a partir da <strong>análise</strong><br />
<strong>do</strong> comportamento de pessoas que marcaram/ marcam a história <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O primeiro<br />
é Che Guevara, que foi considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s maiores heróis revolucionários. Em<br />
segun<strong>do</strong>, Bush que foi o precursor de vários debates acerca de seu posicionamento<br />
como presidente <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Esse fragmento merece destaque por possuir <strong>uma</strong><br />
posição que, na maioria das vezes, é contrária a posição de grande parte das pessoas,<br />
que cost<strong>uma</strong>m endeusar Che Guevara e promover campanhas contra Bush.<br />
A partir disso, pode-se inferir que se trata de <strong>uma</strong> comunidade que demonstra<br />
um comportamento de desabafo <strong>do</strong>s membros que demonstram gostar de um sistema<br />
que, na maioria das vezes, é considera<strong>do</strong> injusto e mercenário. Pode-se dizer até mesmo<br />
que há <strong>uma</strong> evidência de rebeldia que se confirma na frase “Morte aos sanguessugas,<br />
vampiros <strong>do</strong> nosso trabalho!”.<br />
Em seguida, a descrição mostra que seu objetivo é reunir pessoas que<br />
demonstrem um verdadeiro apreço por produtos da indústria cultural e, em sua maioria,<br />
ícones de consumo de alto custo, que não podem ser adquiri<strong>do</strong>s tão facilmente, como<br />
carros, motos e jóias. Além disso, ainda mostra o individualismo e a ganância presentes<br />
na frase “Para quem acredita no mérito <strong>do</strong> esforço próprio”.<br />
No final da descrição mais <strong>uma</strong> vez a apologia ao consumo é evidenciada por<br />
meio da frase “A liberdade de produzir e de consumir.”, demonstran<strong>do</strong> assim, que o<br />
cidadão que trabalha tem to<strong>do</strong> o direito de consumir tu<strong>do</strong> o que ganha, mesmo que de<br />
<strong>uma</strong> forma incontrolável.<br />
34
Diante disso pode-se verificar que o consumo é algo que, não somente está<br />
presente na <strong>internet</strong>, como também está sen<strong>do</strong> fortemente defendi<strong>do</strong> por milhares de<br />
pessoas que se reúnem ten<strong>do</strong> como afinidade o gosto por ícones de consumo. É preciso<br />
chamar a atenção para a necessidade <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente em expressar tal gosto, mesmo que,<br />
em muitos casos, ainda não trabalhem e, portanto, não possuem renda própria,<br />
dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>s responsáveis.<br />
Ripa (2005, p. 177) ao se referir aos a<strong>do</strong>lescentes e ao consumo, vai dizer que,<br />
Não é apenas a a<strong>do</strong>ração <strong>do</strong>s artistas ou <strong>do</strong>s esportes radicais <strong>do</strong><br />
momento que atrai os jovens, nem mesmo a adesão a grupos<br />
virtuais ou não, mas as suas afinidades como consumi<strong>do</strong>res de<br />
celular, CD, vídeo-game, tênis, jeans....<br />
Diante disso, pode-se perceber que, apesar de não ser um privilégio de to<strong>do</strong>s ter<br />
acesso à compra de determina<strong>do</strong>s produtos, muitos a<strong>do</strong>lescentes se encontram<br />
agrupa<strong>do</strong>s por meio da posse de ícones <strong>do</strong> consumo e <strong>do</strong> desejo de se consumir cada<br />
vez mais, como <strong>uma</strong> forma de personalidade, ou seja, poder consumir determinadas<br />
coisas é como se fosse sua marca, característica natural, já que “n<strong>uma</strong> sociedade que<br />
nega as condições reais de emancipação <strong>do</strong> indivíduo, a identidade de cada um é<br />
concebida de acor<strong>do</strong> com aquilo que cada um possui e exibe.” (RIPA,2005, p. 73)<br />
3.2. Nike Brasil<br />
(100.983 membros)<br />
Para os eternos fãs da MARCA NIKE!!!<br />
Nike é NIKE, não tem outra marca igual por isso, JUST DO<br />
IT!<br />
Comunidade aberta para discussões sobre os produtos da<br />
NIKE, troca de informações, lançamentos, dicas....<br />
35
Essa comunidade foi verificada no orkut de, pelo menos, metade <strong>do</strong>s<br />
a<strong>do</strong>lescentes analisa<strong>do</strong>s. Sua descrição traz consigo um culto à marca excepcionalmente<br />
difundida no mun<strong>do</strong>.<br />
36<br />
“As marcas Nike, Coca-Cola, Pepsi, Mc Donald’s, Apple. Body<br />
Shop, Calvin Klein, Walt Disney, Levi’s e Starbucks são exemplos<br />
de logos que tornaram-se acessórios culturais e filosóficos de<br />
estilo de vida, necessários para a construção da identidade.”<br />
(RIPA, 2005, p. 53)<br />
Percebe-se, pelas palavras de Ripa (2005) que, assim como outras, a Nike<br />
tornou-se um acessório cultural, algo que marca um estilo de vida e, por isso, torna o<br />
consumi<strong>do</strong>r, <strong>uma</strong> pessoa com estilo, diferenciada em <strong>uma</strong> vertente positiva aos olhos da<br />
maioria. Assim, possuir algo da Nike faz <strong>do</strong> indivíduo, <strong>uma</strong> pessoa mais feliz por poder<br />
“sobressair-se” na multidão, destacan<strong>do</strong>-se por possuir <strong>uma</strong> identidade construída por<br />
meio da marca. Sobre isso Ripa (2005, p. 175) ainda afirma,<br />
Num mun<strong>do</strong> marca<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> se torna merca<strong>do</strong>ria e os a<strong>do</strong>lescentes<br />
passam a desejar a posse de um logotipo que os identifique. Por<br />
isso, aceitam a própria transformação em publicidade viva e<br />
ambulante, consomem o que é consagra<strong>do</strong> pela mídia, descartam o<br />
que fora divulga<strong>do</strong> como passa<strong>do</strong> e evitam a criação, a expressão<br />
e a experimentação <strong>do</strong> to<strong>do</strong>.<br />
Da mesma forma que a Nike, foram encontradas ainda nos orkuts analisa<strong>do</strong>s,<br />
comunidades referentes à Adidas, P<strong>uma</strong>, Cavalera, dentre outras. Todas elas, em <strong>uma</strong><br />
perspectiva de reunir os adeptos da marca, apresentan<strong>do</strong> ainda, tópicos que evidenciam<br />
a superioridade da marca em questão, em detrimento das demais. As enquétes abaixo,<br />
retirada das comunidades Nike e Cavalera, respectivamente, são exemplos <strong>do</strong> culto à<br />
marca, ten<strong>do</strong> em vista que os participantes buscam colocá-las como sen<strong>do</strong> a mais<br />
cotada.<br />
QUAL A MELHOR MARCA?<br />
Vota ai galera!!! vamo botar a Nike no primeiro lugar!!
quantas peças de roupas da cavalera, você tem???<br />
se mas por favor faça um comentaria de quantas obrigada beijo!!!<br />
Klein (2002), ao contar a origem, trajetória e expansão das marcas, afirmou que<br />
“(...) esses logos tinham a mesma função social da etiqueta de preço das roupas: to<strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> sabia exatamente quanto o <strong>do</strong>no da roupa se dispôs a pagar pela distinção.”<br />
(p.52) Pode-se perceber, portanto, que o reconhecimento <strong>do</strong> indivíduo que carrega<br />
determinada marca é um fato que já tem história, e que esta passan<strong>do</strong> gerações e se<br />
tornan<strong>do</strong> cada vez mais acentua<strong>do</strong>, a ponto de se criar <strong>uma</strong> comunidade que divulga<br />
<strong>uma</strong> marca gratuitamente, discutin<strong>do</strong> ainda maneiras de colocá-la como número um no<br />
ranking das melhores.<br />
Diante disso, os a<strong>do</strong>lescentes, ao fazerem parte dessa comunidade evidenciam<br />
que, a opção por <strong>uma</strong> determinada marca, faz com que sejam reconheci<strong>do</strong>s de <strong>uma</strong><br />
forma positiva, visto que junto com a etiqueta, acreditam estarem levan<strong>do</strong> um estilo de<br />
vida diferencia<strong>do</strong> e merece<strong>do</strong>r de destaque. Esse desejo incondicional oriun<strong>do</strong> da<br />
divulgação <strong>do</strong>s produtos feita, em sua maioria, pelos meios de comunicação é também o<br />
gera<strong>do</strong>r de atos de atrocidade que colocam o ser h<strong>uma</strong>no novamente em situação de<br />
barbárie. Com relação a isso, Ripa (2005) chama a atenção para os diversos casos de<br />
jovens que roubam/assaltam para conseguirem a posse de um tênis (ou outro objeto) que<br />
tanto desejam.<br />
Esse desejo pela posse <strong>do</strong>s produtos de grande repercussão na mídia, é um fator<br />
que marca fortemente a educação ao passo que, da mesma forma que existem as<br />
comunidades virtuais, pode ocorrer também, como já foi dito anteriormente, a formação<br />
de grupos na escola, constituí<strong>do</strong> por a<strong>do</strong>lescentes que se identificam pela posse de um<br />
determina<strong>do</strong> produto. O consumo acaba por diferenciar as pessoas e nisso, é preciso<br />
reconhecer o poder manipula<strong>do</strong>r <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>. Essas situações podem, além de gerarem a<br />
exclusão, influenciarem no rendimento <strong>do</strong> aluno que pode tornar-se um fracasso escolar,<br />
contribuin<strong>do</strong> até mesmo no aumento <strong>do</strong> índice de evasão escolar, o que evidencia a<br />
necessidade de se discutir o consumo no ambiente escolar.<br />
37
3.3. Eu amo fazer compras<br />
(100.230 membros)<br />
• Quero comprar o shopping to<strong>do</strong>!<br />
(39.284 membros)<br />
Vc Faz Compra Com a Razão , Emoção ou Coração ??<br />
Se você anda pelo shopping e em cada loja que passa você quer<br />
comprar tu<strong>do</strong> e mais um pouco?<br />
Não há nenh<strong>uma</strong> loja em que vc não ache alg<strong>uma</strong> coisinha que vc<br />
queira comprar?<br />
Já sonhou em ter um shopping só com você dentro poden<strong>do</strong> pegar o<br />
que vc quisesse?<br />
Haha, honey, você achou o seu lugar!<br />
Dentre outras comunidades essas foram escolhidas, pois, além de estarem<br />
presentes nos orkuts de sete <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, mostram explicitamente a apologia ao<br />
consumo, em forma até mesmo de convite aos integrantes às compras compulsivas,<br />
ressaltada pela frase final da primeira comunidade “Entre E Estoure Seu Cartão De<br />
Crédito A vontade”.<br />
As descrições dessas comunidades evidenciam o aspecto assumi<strong>do</strong> pelo<br />
consumo hoje. Ao dizer “Já Se Pegou Naqueles Dias Super Pra Baixo Nada Nem<br />
Ninguém Consegue Te Animar, A Única Coisa Que Te Bota Pra Cima é Uma<br />
Passadinha No Shopping !!”, torna-se evidente o caráter satisfatório adquiri<strong>do</strong> pelo ato<br />
de fazer compras. Mais que <strong>uma</strong> necessidade (forjada pela sociedade administrada), as<br />
compras passaram a ser <strong>uma</strong> distração e <strong>uma</strong> forma de entretenimento para os<br />
indivíduos.<br />
38<br />
Ja Se Pegou Naqueles Dias Super Pra Baixo Nada Nem Ninguem<br />
Consegue Te Animar , A Unica Coisa Que Te Bota Pra Cima é<br />
Uma Passadinha No Shopping !!<br />
Com certeza Fazer Compras é Tu<strong>do</strong> !!!<br />
Entre E Estoure Seu Cartão De Crédito A vontade
Mas o que deve ser questiona<strong>do</strong> aqui é a inserção de a<strong>do</strong>lescentes em<br />
comunidades como essas, principalmente entre os participantes <strong>do</strong> sexo feminino. As<br />
próprias imagens colocadas como símbolos das comunidades, mostram, em ambos os<br />
casos, o estereótipo da dita “patricinha”, que, na primeira comunidade em muito se<br />
assemelha à boneca Barbie, e, na segunda, é a imagem da própria boneca, colocada<br />
como padrão de beleza e futilidade, o que é reforça<strong>do</strong> na descrição ao estabelecer a<br />
ponte direta entre compras e shopping. Ou seja, novamente as comunidades são<br />
destinadas a <strong>uma</strong> pequena parcela da população que possui condições financeiras de<br />
fazer compras por satisfação e, sobretu<strong>do</strong>, em um local cujo valor das merca<strong>do</strong>rias é<br />
bem acima da média.<br />
Entretanto, fazer parte dessas comunidades pode possuir outra interpretação.<br />
Devi<strong>do</strong> aos muitos adeptos e, após perguntar para <strong>uma</strong> a<strong>do</strong>lescente – via orkut – o<br />
motivo de sua participação em tal comunidade, obtive a seguinte resposta: “Por que,<br />
embora não possa comprar tu<strong>do</strong> que desejo, me identifico com a comunidade, pois é<br />
<strong>uma</strong> coisa que eu sei que gostaria de fazer se pudesse.” Essa frase vem a confirmar que,<br />
nem sempre a participação na comunidade se dá pelo enquadramento naquilo que é<br />
relata<strong>do</strong>, o que pode ser percebi<strong>do</strong> na frase “Já sonhou em ter um shopping só com você<br />
dentro poden<strong>do</strong> pegar o que vc quisesse?”, contida na segunda comunidade que<br />
evidencia o caráter de sonho. Pode também ter participantes que gostam da idéia mesmo<br />
não ten<strong>do</strong> acesso ao que está sen<strong>do</strong> mostra<strong>do</strong>. Além disso, o fato de pertencer à<br />
comunidades como estas, ou as anteriormente citadas, faz com que o sujeito seja<br />
reconheci<strong>do</strong> como gostaria de ser e não necessariamente, como é.<br />
39<br />
Os indivíduos têm a sensação de precisar transformar o seu eu –<br />
que se resume na aparência – a cada nova estação, para vender a<br />
própria identidade. É incentiva<strong>do</strong> pelos meios de comunicação<br />
social a acompanhar as supostas novidades, a encontrar produtos<br />
que possam solucionar os problemas que aparecem e, assim,<br />
garantir a sua participação como membro ativo da sociedade.<br />
(RIPA, 2005, p. 77)
3.4. Eu quero um celular de câmera!<br />
(583 membros)<br />
Essa comunidade evidencia um aspecto da indústria cultural muito comum que é<br />
a busca por algo sempre melhor, que seja lançamento e que seja divulga<strong>do</strong> pelos meios<br />
de comunicação.<br />
Essa comunidade foi criada para aqueles que possuem um<br />
celular "meia-boca" e o seu sonho é ter um celular de<br />
câmera!!!<br />
Obs: Aqueles que tem celular de câmera tambem podem<br />
entrar<br />
E aí pessoal valeu por participar!!!!<br />
Contan<strong>do</strong> com a participação de três <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes da pesquisa, essa<br />
comunidade demonstra, em sua descrição, como os ícones de consumo passam a ser<br />
algo realmente deseja<strong>do</strong>s sem o qual, muitas vezes, a pessoa considera-se infeliz,<br />
prejudicada, excluída. Não basta possuir um celular, é necessário que seja o melhor<br />
celular, com mais funções, cada vez mais moderno e adequa<strong>do</strong> aos padrões exigi<strong>do</strong>s<br />
pela sociedade que está em constante mudança e desenvolvimento. Aqui se evidencia o<br />
caráter da indústria cultural de difundir bens padroniza<strong>do</strong>s e assim, conseguir satisfazer<br />
as necessidades iguais, o que pode ser bem evidencia<strong>do</strong> nas comunidades <strong>do</strong> orkut, que<br />
possuem sempre um número eleva<strong>do</strong> de membros desejan<strong>do</strong>, cobiçan<strong>do</strong> e idealizan<strong>do</strong><br />
os mesmo objetos.<br />
Além disso, a comunidade ainda apresenta <strong>uma</strong> enquéte com o questionamento<br />
"Eu quero um celular de camêra mais tem que ser de abrir e vocês ???" que enfatiza<br />
como a indústria cultural é capaz de persuadir as pessoas, estipulan<strong>do</strong> ainda um modelo<br />
ideal de objeto que é "lançamento nos merca<strong>do</strong>s". Não é simplesmente o desejo que está<br />
sen<strong>do</strong> demonstra<strong>do</strong>, mas sim um "determina<strong>do</strong> desejo" que enfatiza a necessidade da<br />
posse <strong>do</strong> objeto em questão, com formas e estéticas estabelecidas.<br />
Ao se pensar a participação de a<strong>do</strong>lescentes nesse tipo de comunidade o que se<br />
discute é a inserção desse público no merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Os objetos da indústria<br />
cultural atingiram de tal forma esse público que eles já demonstram a afeição e o desejo<br />
por ícones que, cada vez mais estão inseri<strong>do</strong>s na vida <strong>do</strong>s indivíduos, como <strong>uma</strong> forma<br />
40
até de manterem-se liga<strong>do</strong>s e conecta<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong> instante aos avanços da modernidade,<br />
além <strong>do</strong> aprisionamento <strong>do</strong> capitalismo.<br />
3.5. Durmo com meu celular <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />
(1.029.231 membros)<br />
• Eu amo meu celular<br />
(12.698 membros)<br />
As comunidades acima descritas mostram a questão <strong>do</strong> apego com relação aos<br />
produtos da indústria cultural, evidencian<strong>do</strong> a forte relação estabelecida entre o ser<br />
h<strong>uma</strong>no e os bens materiais.<br />
Se voce tb tem a mania de <strong>do</strong>rmir com o celular <strong>do</strong><br />
la<strong>do</strong>, no pe da cama ou perto mesmo.<br />
... pra não perder nenh<strong>uma</strong> ligação mesmo, mesmo que<br />
eu não possa atender eu quero saber quem me ligou...<br />
usar como desperta<strong>do</strong>r, lanterna, etc<br />
BEM-VINDO<br />
Essa comunidade é para as pessoas que amam seu celular<br />
=)<br />
Se você é <strong>uma</strong> daquelas pessoas que não sai de casa sem<br />
ele, uso para tu<strong>do</strong>...<br />
Seja bem vin<strong>do</strong>...<br />
Afinal de conta celular é tu<strong>do</strong> em nossas vidas eim?!<br />
Responda as enquetes =)<br />
Por favor, propaganda de outras comunidades nos eventos<br />
=)<br />
O celular, de acor<strong>do</strong> com pesquisas realizadas por pesquisa<strong>do</strong>res da área e<br />
empresas de comunicação 8 , tem si<strong>do</strong> o aparelho eletrônico mais vendi<strong>do</strong> atualmente.<br />
Percebe-se que, além de ser um meio de comunicação, esse aparelho passou a ocupar o<br />
lugar de vários outros, já que, cada vez mais, demonstra diversas utilidades, como<br />
máquina fotográfica, desperta<strong>do</strong>r, calcula<strong>do</strong>ra, walkman, mp3 e agora, também fazen<strong>do</strong><br />
8 Uma pesquisa acerca da venda e posse de celulares encontra-se em anexo.<br />
41
às vezes de pen-drive. A crescente modernidade observada na tecnologia torna o celular<br />
e suas várias estéticas, um objeto de desejo <strong>do</strong>s jovens, de mo<strong>do</strong> que não possuir um<br />
celular, ou melhor, um “bom” celular, significa estar desconecta<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, visto que<br />
se trata de um meio de comunicação que permite a conversa em qualquer lugar, além é<br />
claro, da possibilidade de acesso à <strong>internet</strong>.<br />
Dormir com o celular <strong>do</strong> la<strong>do</strong> é <strong>uma</strong> forma de expressar que, mesmo quan<strong>do</strong> não<br />
estão acordadas as pessoas estão em sintonia com a multidão de indivíduos com os<br />
quais mantém contato. Pode significar também que nenh<strong>uma</strong> possibilidade será passada,<br />
<strong>uma</strong> vez que a pessoa pode ser encontrada a qualquer momento. Além disso, não é só a<br />
questão da conectividade entre as pessoas que está sen<strong>do</strong> colocada em pauta, mas<br />
também, como já foi mencionada, a questão <strong>do</strong> apego. Percebe-se <strong>uma</strong> grande afeição<br />
pelos aparelhos, em especial os mais modernos que chegam a custar mais de mil reais.<br />
O apego é um fator muito difundi<strong>do</strong> entre os jovens. No caso <strong>do</strong>s participantes dessa<br />
pesquisa, to<strong>do</strong>s apresentaram a participação nessa comunidade e alguns possuíam a<br />
comunidade “Eu amo meu celular”, que reafirma essa idéia com relação a esse ícone de<br />
consumo.<br />
Outro ponto que merece ser destaca<strong>do</strong> aqui é a influência <strong>do</strong>s meios de<br />
comunicação social na divulgação <strong>do</strong>s produtos da indústria cultural. Tal fato pode ser<br />
constata<strong>do</strong> nas mensagens gratuitas que podem ser enviadas pelos sites da web para<br />
celulares de determinadas empresas. Isso se estende também ao site <strong>do</strong> orkut que<br />
permite que sejam envia<strong>do</strong>s os scraps – como são chama<strong>do</strong>s os reca<strong>do</strong>s que podem ser<br />
deixa<strong>do</strong>s para a rede de amigos – diretamente para os aparelhos celulares, também de<br />
determinadas empresas.<br />
A possibilidade de trocar fotos, músicas e toques pela tecnologia <strong>do</strong><br />
BLUETOOTH – um dispositivo usa<strong>do</strong> para conectar um celular a outro – também é um<br />
fator que influencia o desejo pelos aparelhos mais modernos. O investimento nessa área<br />
tecnológica é tamanho que um celular pode ser lançamento hoje e daqui <strong>do</strong>is meses já<br />
haverá um mais moderno e passa<strong>do</strong> mais um tempo haverá outro, o que mantém a<br />
constante procura pelo merca<strong>do</strong>, reafirman<strong>do</strong> mais <strong>uma</strong> vez a idéia de necessidades<br />
iguais por parte <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s produtos cria<strong>do</strong>s pela indústria cultural.<br />
O grande número de a<strong>do</strong>lescentes presentes nessas comunidades evidencia a<br />
importância dada por indivíduos dessa faixa etária em possuir um produto que “está em<br />
alta” e que os insere em mun<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> pelo controle e pela virtualidade, tornan<strong>do</strong>-os<br />
42
parte de <strong>uma</strong> sociedade administrada, mas que, por outro la<strong>do</strong>, garante que “não estão<br />
fican<strong>do</strong> para trás”.<br />
3.6. Amo muito tu<strong>do</strong> isso<br />
(5.720 membros)<br />
Poxa galera desculpe ae pelo tempo de descaso nessa<br />
comu mais jah passo, po <strong>uma</strong> fotinhu nova e um novo<br />
perfil<br />
Se você ama muito tu<strong>do</strong> no mc <strong>do</strong>nalds<br />
Se vc não se importa q dizem q engorda,eh feito de carne<br />
de minhoca...DANE-SE O Q FALAM..MC DONALDS<br />
EH TUDO<br />
AMO MUITO TD ISSO<br />
AMO MUITO MC DONALDS<br />
A frase “Eu amo muito tu<strong>do</strong> isso” divulgada como slogan nas propagandas da<br />
rede de empresas Mc Donald´s, aqui ganha maior destaque visto que é o motivo da<br />
inserção de mais de cinco mil pessoas nessa comunidade. O apreço demonstra<strong>do</strong> pelos<br />
produtos dessa empresa de fast food fez dela, muito mais que <strong>uma</strong> simples lanchonete,<br />
mas sim um estilo de vida que possui milhares de adeptos, o estilo Mc Donald´s de ser.<br />
O mun<strong>do</strong> ficou marca<strong>do</strong> por essa empresa que contagia crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> inteiro, que passaram a considerar o lanche <strong>do</strong> Mc Donald´s como o padrão de<br />
qualidade, inferiorizan<strong>do</strong> os demais.<br />
43<br />
(...) o Mc Donald’s tem no Brasil seu quinto maior merca<strong>do</strong>, com<br />
1.200 pontos de vendas em todas as regiões, constituin<strong>do</strong>-se na<br />
maior empresa <strong>do</strong> ramo (10). Essa imensa estrutura, capaz de<br />
financiar as mais eficazes estratégias de propaganda e marketing,<br />
concentra seu olhar no público infantil, buscan<strong>do</strong> captar sua<br />
atenção e participar da formação de seus hábitos, promoven<strong>do</strong><br />
assim <strong>uma</strong> constante e perpétua relação com os consumi<strong>do</strong>res de<br />
amanhã. (SUCUPIRA, et.al., 2004, p. 7)<br />
Ainda nesse artigo, Sucupira (et. al., 2004) fala da criação de personagens para<br />
chamar a atenção <strong>do</strong> público, como é o caso <strong>do</strong> Ronald Mc Donald´s, que encontra-se<br />
estampa<strong>do</strong> em diversos objetos da lanchonete para tornar o ambiente, não só um local<br />
para comer, mas também para se divertir com toda a família. Esses personagens, que<br />
estão presentes até mesmo na página virtual <strong>do</strong> Mc Donald´s, têm como função levar o
consumi<strong>do</strong>r a achar diverti<strong>do</strong> o consumo de seus produtos, em <strong>uma</strong> tentativa de levar,<br />
crianças e a<strong>do</strong>lescentes a se tornarem consumi<strong>do</strong>res fiéis.<br />
Ao se falar de fast food e a<strong>do</strong>lescência é preciso mencionar ainda um problema<br />
muito comum hoje e que, embora não seja estuda<strong>do</strong> nesse trabalho, não pode ser<br />
deixa<strong>do</strong> de la<strong>do</strong>: o alto índice de obesidade causa<strong>do</strong> pelo excessivo valor calórico desses<br />
produtos, em especial o hambúrguer. Em contrapartida, não se pode deixar de<br />
mencionar também, o alto custo desses produtos, que se torna <strong>uma</strong> barreia a muitas<br />
pessoas e que faz com que milhares de a<strong>do</strong>lescentes sintam-se frustra<strong>do</strong>s por não<br />
poderem degustar tais produtos e pior, não possuírem os diversos brindes que<br />
configuram a marca da opção pelo Mc Donald´s.<br />
Diante disso, pode-se dizer que, apesar de alguns entraves, a indústria<br />
alimentícia de fast food também se tornou um objeto de desejo e que sua inserção nas<br />
comunidades <strong>do</strong> orkut mostra que ainda foi além, tornou-se <strong>uma</strong> marca, responsável por<br />
um grupo de pessoas reunidas por possuírem/defenderem essa preferência.<br />
3.7. Cocólatras – Coca-cola<br />
(306.111 membros)<br />
"Na aparência é apenas um refrigerante,<strong>uma</strong> bebida gelada<br />
que se pode comprar em quase to<strong>do</strong> lugar.<br />
Mas ela se tornou mais que issu. Como pode essa bebida<br />
suave, atingir emocionalmente milhões de pessoas no<br />
mun<strong>do</strong>? Acompanhe essa história e você acompanhará <strong>uma</strong><br />
pequena parte da história <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>."<br />
Prefácio <strong>do</strong> filme "The history of Coca-Cola"<br />
entao..se vc eh apaxona<strong>do</strong> por um <strong>do</strong>s 7 segre<strong>do</strong>s mundias,<br />
ama o liqui<strong>do</strong> negro mais caro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>(mas ki vale a pena),<br />
se axa ki em vez de Einstein, Doctor Pembertom (cria<strong>do</strong>r da<br />
coca) foi o maior gênio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ou se vc eh apenas<br />
fanático por esse liqui<strong>do</strong>..join!<br />
E ae galera..<br />
participem <strong>do</strong> nosso chat..<br />
onde to<strong>do</strong>s as pessoas movidas por esse vicio podem se<br />
conhecer melhor e trocar experiencias...xD<br />
Do mesmo estilo da comunidade <strong>do</strong> Mc Donald´s, a comunidade da Coca-Cola<br />
também vem representar a inserção de produtos de bebidas no merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. De<br />
44
acor<strong>do</strong> com a descrição dessa comunidade, essa bebida tornou-se muito mais que um<br />
simples refrigerante, mas também um estilo de vida. A frase “Como pode essa bebida<br />
suave, atingir emocionalmente milhões de pessoas no mun<strong>do</strong>?” demonstra que as<br />
pessoas passaram a ser adeptas da coca-cola como um subsídio necessário a sua<br />
existência, tornan<strong>do</strong>-a emocionalmente dependentes de tal líqui<strong>do</strong>.<br />
45<br />
(...) há casos em que, a despeito das características de outro<br />
produto, de seu preço mais vantajoso e de maior conveniência, o<br />
consumi<strong>do</strong>r continua dan<strong>do</strong> preferência a determinada marca, por<br />
apresentar valores substanciais que constroem a firme lealdade <strong>do</strong><br />
usuário, de maneira que não seja possível transferir a outra.<br />
(PINHO, 1996, p.119)<br />
Pinho (1996) ainda afirma que a The Coca Company utilizou-se da publicidade<br />
para construir <strong>uma</strong> relação de fidelidade <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res com a marca, ao estabelecer<br />
ligações entre a marca e os diferentes aspectos da vida <strong>do</strong>s indivíduos.<br />
Assim a Coca-Cola passou a ser a determinante de um grupo, os aprecia<strong>do</strong>res de<br />
Coca-cola, responsável inclusive, pela formação dessa comunidade “onde todas as<br />
pessoas movidas por esse vício podem se conhecer melhor e trocar experiências”.<br />
Devi<strong>do</strong> a sua grande repercussão entre os aprecia<strong>do</strong>res, a marca “Coca-cola” passou a<br />
estar presente também em vários produtos da indústria cultural, tais como roupas,<br />
adereços e até mesmo pelúcias e eletrônicos. A grande repercussão da Coca-Cola não<br />
poderia deixar de estar presente entre os a<strong>do</strong>lescentes, que além de serem grandes<br />
aprecia<strong>do</strong>res de refrigerantes, constituem o público mais fiel às marcas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Os avanços da sociedade moderna, pauta<strong>do</strong> na ampla rede de conexão entre as<br />
pessoas, favoreceram <strong>uma</strong> relação estreita entre a a<strong>do</strong>lescência, a <strong>internet</strong>, o consumo e,<br />
consequentemente, a educação. Embora não se possa dizer que existe um modelo de<br />
a<strong>do</strong>lescente universal, a mídia favorece a criação de <strong>uma</strong> consciência coletiva, visto que<br />
permite que a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro se comuniquem e saibam o que está se<br />
destacan<strong>do</strong> para essa fase no mais diversos locais, ou seja, os a<strong>do</strong>lescentes nunca foram<br />
tão “padroniza<strong>do</strong>s” como estão na sociedade atual. Assim, a mídia, bem como a<br />
indústria cultural cria um a<strong>do</strong>lescente comum, àquele considera<strong>do</strong> como alvo <strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong>, como sujeito consumi<strong>do</strong>r.<br />
Com base no conteú<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> pelas comunidades analisadas nota-se que o<br />
consumo está visivelmente presente na <strong>internet</strong>, em especial <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> orkut.<br />
Embora, constitua um site de relacionamento, o orkut está fortemente marca<strong>do</strong> pela<br />
cultura <strong>do</strong>s ícones <strong>do</strong> consumo, pela apologia e pelo culto às marcas oferecidas pelo<br />
merca<strong>do</strong>, que se fazem presentes na sociedade em que vivemos hoje. Diante disso,<br />
percebe-se que o orkut, embora aparentemente seja apenas um espaço virtual para troca<br />
de mensagens entre as cadeias de amizade, constitui também um instrumento utiliza<strong>do</strong><br />
para demonstrar ideologias presentes na sociedade moderna, dentre as quais se destacam<br />
as ludibriadas pela sociedade administrada que proporcionam um estilo de vida calca<strong>do</strong><br />
no capitalismo, no qual prevalece o desejo pela compra.<br />
A<strong>do</strong>lescentes se agrupan<strong>do</strong> em torno de discussões acerca da posse de bens<br />
materiais, <strong>do</strong> culto a determina<strong>do</strong>s estilos de vida nos quais está presente <strong>uma</strong><br />
necessidade forjada pela sociedade administrada <strong>do</strong> desejo de comprar e acumular<br />
produtos da indústria cultural nos chama a atenção para os problemas oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
desenvolvimento tecnológico e da globalização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
O suporte teórico <strong>do</strong>s estudiosos da temática possibilitou que se percebesse, a<br />
partir dessas comunidades, a constante necessidade de se adquirir novos produtos<br />
lança<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong>, que demonstra como a evolução favoreceu a cultura <strong>do</strong><br />
descartável, na qual, objetos e adereços disponibiliza<strong>do</strong>s pela moda em conjunto com a<br />
publicidade, são consumi<strong>do</strong>s como alimentos, que carecem de um constante<br />
abastecimento, em <strong>uma</strong> perspectiva de competição proporcionada pelo sistema<br />
capitalista. A<strong>do</strong>rno, em sua obra “Educação e Emancipação”, fala sobre a competição<br />
no âmbito educacional,<br />
46
47<br />
(...) a competição é um princípio no fun<strong>do</strong> contrário a <strong>uma</strong><br />
educação h<strong>uma</strong>na. De resto, acredito também que um ensino que<br />
se realiza em formas h<strong>uma</strong>nas de maneira alg<strong>uma</strong> ultima o<br />
fortalecimento <strong>do</strong> instinto de competição. (ADORNO, 1995, p.<br />
161)<br />
A mídia, com seu <strong>apelo</strong> <strong>consumista</strong>, está conseguin<strong>do</strong> atingir o público mais<br />
jovem, principalmente porque constituem o principal alvo da Era da tecnologia, e da<br />
virtualidade. Os a<strong>do</strong>lescentes de hoje, estão se forman<strong>do</strong> no âmbito de um mun<strong>do</strong><br />
virtual, no qual o contato físico e a socialização pessoal estão perden<strong>do</strong> espaço para as<br />
“cyber-relações”. Já não é necessário se encontrar para conversar, porque as mensagens<br />
instantâneas proporcionadas pelos sites de bate-papo são capazes de conectar um<br />
enorme grupo na mesma conversa. Também não é preciso sair de casa para fazer<br />
compras se as lojas estão constantemente disponíveis no merca<strong>do</strong> on-line, sem ter<br />
horário de funcionamento. Ou seja, o mun<strong>do</strong> está se constituin<strong>do</strong> de <strong>uma</strong> forma virtual,<br />
o universo da web satisfaz muitas necessidades <strong>do</strong> ser h<strong>uma</strong>no, em <strong>uma</strong> situação de<br />
imitação da vida real, acessada por meio <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res.<br />
Os a<strong>do</strong>lescentes que freqüentam a escola hoje são agentes de <strong>uma</strong> Era<br />
tecnológica e requerem <strong>uma</strong> educação que permita a criticidade para lidarem com os<br />
conteú<strong>do</strong>s ofereci<strong>do</strong>s pela <strong>internet</strong> em <strong>uma</strong> perspectiva positiva. O orkut pode ser <strong>uma</strong><br />
via de acesso ao mun<strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, visto que há <strong>uma</strong> inserção jovem muito grande<br />
nesse site. Utilizá-lo para trabalhar com alg<strong>uma</strong>s questões presentes na sociedade atual<br />
pode permitir o despertar de interesse para debates muito importantes na busca da<br />
inserção no mun<strong>do</strong> adulto pelos a<strong>do</strong>lescentes.<br />
O consumo é <strong>uma</strong> dessas questões que se fazem presentes no orkut e que<br />
merecem destaque em discussões em sala de aula ou mesmo grupos de estu<strong>do</strong>. Outras<br />
questões podem ser levantadas com base nessa discussão, como a violência trazida pela<br />
cobiça aos ícones de consumo e a banalização <strong>do</strong>s produtos torna<strong>do</strong>s descartáveis. A<br />
partir disso, pode-se trabalhar o consumo em <strong>uma</strong> perspectiva crítica, de mo<strong>do</strong> que a<br />
educação não seja “(...) a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de<br />
coisa morta já foi mais <strong>do</strong> que destacada, mas a produção de <strong>uma</strong> consciência<br />
verdadeira.” (ADORNO, 1995, p. 141)<br />
Assim, o primeiro capítulo buscou mostrar como o debate trava<strong>do</strong> pela relação<br />
entre a<strong>do</strong>lescência, <strong>internet</strong> e consumo trazem à tona questões que caracterizam a
sociedade capitalista e que geram fortes influências no âmbito educacional. Além disso,<br />
a contextualização da realidade encontrada pelos a<strong>do</strong>lescentes de hoje, evidenciou o<br />
caráter manipula<strong>do</strong>r da indústria cultural que seduz os a<strong>do</strong>lescentes, construin<strong>do</strong> <strong>uma</strong><br />
falsa idéia de que a aquisição de bens materiais permite o alcance <strong>do</strong> bem estar e da<br />
felicidade. A a<strong>do</strong>lescência, considerada pelo ECA, como sen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s 12 aos 18 anos, por<br />
englobar a faixa etária que mais se deslumbra com a Era Virtual, passou a ser foco <strong>do</strong>s<br />
<strong>apelo</strong>s <strong>consumista</strong>s da mídia que fez da <strong>internet</strong> um instrumento eficaz de divulgação de<br />
produtos.<br />
A partir disso o segun<strong>do</strong> capítulo buscou, por meio da <strong>análise</strong> das comunidades<br />
<strong>do</strong> orkut, confirmar a necessidade <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, bem como sua satisfação em<br />
possuir determina<strong>do</strong>s ícones, ser adeptos a determinadas marcas e estilos de vida nos<br />
quais a sedução da compra divulgada pelas propagandas e pela moda, são defendi<strong>do</strong>s<br />
em <strong>uma</strong> espécie de reverência.<br />
Por fim, faz-se necessário repensar a educação a partir das respostas encontradas<br />
para a questão “Quem é esse a<strong>do</strong>lescente que freqüenta a escola hoje?”. O processo de<br />
ensino e aprendizagem deve ser significativo para os a<strong>do</strong>lescentes da sociedade<br />
moderna, e não meramente <strong>uma</strong> transmissão de conteú<strong>do</strong>s desconexa da realidade e <strong>do</strong>s<br />
fatores que caracterizam o mo<strong>do</strong> de viver em <strong>uma</strong> época na qual se preza pela<br />
tecnologia e rapidez de informações; época também marcada pela competição entre os<br />
indivíduos e pelo excessivo valor atribuí<strong>do</strong> aos bens materiais.<br />
A educação deve constituir-se como um processo de conscientização e<br />
h<strong>uma</strong>nização, que atenda às necessidades <strong>do</strong>s alunos e possibilite <strong>uma</strong> formação crítica,<br />
distancian<strong>do</strong> os seres h<strong>uma</strong>nos da barbárie. Uma educação que questione os valores<br />
atuais e possibilite aos a<strong>do</strong>lescentes, vivenciarem um processo de emancipação que<br />
rompa com a educação danificada, supere o conformismo e que permita enxergar que o<br />
valor <strong>do</strong> sujeito não é medi<strong>do</strong> por meio de <strong>uma</strong> etiqueta ou por suas posses materiais.<br />
48
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outubro de 2007.
ANEXOS
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E TECNOLÓGICA DA INTERNET 9<br />
Os primeiros computa<strong>do</strong>res construí<strong>do</strong>s eram de enormes dimensões. Alguns <strong>do</strong><br />
tamanho de <strong>uma</strong> casa. Tinha-se a idéia da potência <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r ser diretamente<br />
proporcional ao seu tamanho. Posteriormente, com o advento <strong>do</strong> circuito integra<strong>do</strong> e <strong>do</strong><br />
microchip os computa<strong>do</strong>res foram diminuin<strong>do</strong> à medida que aumentavam a velocidade<br />
e a capacidade de armazenamento de da<strong>do</strong>s. Mas mesmo assim continuavam caros e<br />
grandes. Os governos, as grandes corporações e as universidades eram os únicos<br />
possibilita<strong>do</strong>s a arcar com tamanhos investimentos. Surge, nesse patamar, os mainframes<br />
(ou computa<strong>do</strong>res principais), grandes computa<strong>do</strong>res que centralizavam em <strong>uma</strong><br />
só máquina toda a base de da<strong>do</strong>s disponível. É a época da corrida espacial, com os<br />
chama<strong>do</strong>s "super-computa<strong>do</strong>res", a exemplo <strong>do</strong> Pentágono, da NASA, da CIA, etc.<br />
Esses grandes computa<strong>do</strong>res passaram a ter terminais, seja para a inclusão de da<strong>do</strong>s,<br />
seja para a pesquisa de arquivos. Com o passar <strong>do</strong> tempo, sentiu-se a necessidade de<br />
aperfeiçoar os terminais, com <strong>uma</strong> gradual descentralização <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r principal,<br />
mostran<strong>do</strong>-se a lenta evolução de <strong>uma</strong> forma primitiva de rede.<br />
Assim, houve <strong>uma</strong> mudança de mentalidade com relação à interação de<br />
computa<strong>do</strong>res. Não mais se pensava em um único super-computa<strong>do</strong>r centraliza<strong>do</strong>r de<br />
to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s e funções, e sim um grande número de pequenos computa<strong>do</strong>res que<br />
interliga<strong>do</strong>s seriam muito mais potentes, n<strong>uma</strong> analogia à rede neural <strong>do</strong> cérebro<br />
h<strong>uma</strong>no. A rede de computa<strong>do</strong>res, até então, restringia-se à to<strong>do</strong>s os computa<strong>do</strong>res de<br />
um mesmo local. A conexão se fazia por cabos seriais, que restringiam o alcance da<br />
conexão a um espaço limita<strong>do</strong>. Ainda apenas o governo e universidades americanas<br />
possuíam o capital e tecnologia necessárias a implantação de cabos ligan<strong>do</strong> cidades ou<br />
esta<strong>do</strong>s. Na década de setenta, muitos programa<strong>do</strong>res e cientistas preconizavam a<br />
necessidade e vantagem de <strong>uma</strong> maior conectividade, em âmbito nacional e até mesmo<br />
mundial. Resolveu-se confeccionar um protótipo que ligasse alg<strong>uma</strong>s universidades,<br />
para aferir a possibilidade <strong>do</strong> êxito no projeto.<br />
Esta rede, futuristicamente denominada INTERNET, sofreu um vertiginoso<br />
crescimento, até então inimaginável. Foram <strong>do</strong>is os fatores determinantes deste<br />
aumento: o barateamento e difusão de computa<strong>do</strong>res pessoais (P.C.’s) e a conectividade<br />
através de <strong>uma</strong> rede já pronta e de alcance mundial, a rede telefônica. Em poucos anos,<br />
9 Disponível na página http://jus2.uol.com.br/DOUTRINA/texto.asp?id=1779.
o espaço virtual habita<strong>do</strong> apenas por estudantes universitários, programa<strong>do</strong>res e<br />
cientistas viu-se invadi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o tipo de pessoas; desde grandes corporações, e.g. a<br />
rede McDonalds e Coca Cola Corp., até pedófilos e grupos terroristas.<br />
O espaço mais democrático <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> invadia as casas e escritórios sem regras<br />
nem limitações. Os bancos e agências governamentais eram o alvo preferencial <strong>do</strong>s<br />
hackers (invasores de sistemas), o material pornográfico era amplamente difundi<strong>do</strong>. Por<br />
outro la<strong>do</strong>, esta rede possibilitou o maior avanço histórico da civilização, possibilitan<strong>do</strong><br />
<strong>uma</strong> real interação global, transferências instantâneas de riquezas, intercâmbio cultural<br />
entre to<strong>do</strong>s os povos. Criou-se um fórum mundial de troca de informações. E este<br />
universo complexo e sui generis está a ser desbrava<strong>do</strong>, caben<strong>do</strong> ao direito nada menos<br />
<strong>do</strong> que a tarefa de regular um mun<strong>do</strong> imaginário e pouco conheci<strong>do</strong>. E certamente não é<br />
tarefa fácil, devi<strong>do</strong> a ausência de paradigmas para comparações com casos concretos.
Crescimento <strong>do</strong> celular em Set/07<br />
Estatísticas de Celulares no Brasil 10<br />
Total de Celulares (Set/07): 112.753 mil<br />
A tendência de aceleração <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> celular no 2º semestre de 2007<br />
contínuou em setembro.<br />
O Brasil terminou o mês com 112,7 milhões de celulares e <strong>uma</strong> densidade de<br />
59,47 cel/100 hab.<br />
As adições líquidas no mês de 1,8 milhões de celulares são quase duas vezes<br />
maiores que as de Set/06 que foram de 0,9 milhões de celulares. O<br />
crescimento acumula<strong>do</strong> nos primeiros nove meses de 2007 é de 12,8 milhões<br />
de celulares.<br />
As adições líquidas nos últimos 12 meses foram de 16,9 milhões de celulares<br />
superan<strong>do</strong> as projeção <strong>do</strong> Teleco de que o Brasil deve terminar o ano com<br />
mais de 115 milhões de celulares<br />
10 Disponível em: http://www.teleco.com.br/ncel.asp
Termos e Condições <strong>do</strong>s Serviços da Google 11<br />
• A sua relação com a Google<br />
- O uso por si <strong>do</strong>s produtos, software, serviços e sítios na <strong>internet</strong> da Google<br />
(designa<strong>do</strong>s conjuntamente neste <strong>do</strong>cumento como “Serviços” e excluin<strong>do</strong> quaisquer<br />
serviços a si presta<strong>do</strong>s pela Google mediante um acor<strong>do</strong> escrito separa<strong>do</strong>) está sujeito<br />
aos termos <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> Legal celebra<strong>do</strong> entre si e a Google. “Google” significa Google<br />
Inc., cujo principal estabelecimento é em1600 Amphitheatre Parkway, Mountain View,<br />
CA 94043, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Este <strong>do</strong>cumento explica como é que o acor<strong>do</strong> é feito e<br />
regula alguns <strong>do</strong>s termos desse acor<strong>do</strong>.<br />
- Salvo acor<strong>do</strong> escrito em contrário celebra<strong>do</strong> com a Google, o seu acor<strong>do</strong> com a<br />
Google incluirá sempre, no mínimo, os termos e condições regula<strong>do</strong>s neste <strong>do</strong>cumento.<br />
Estes são adiante designa<strong>do</strong>s por “Termos Universais”<br />
- Para além <strong>do</strong>s Termos Universais, o seu acor<strong>do</strong> com a Google também incluirá os<br />
termos de quaisquer Notificações Legais aplicáveis aos Serviços. To<strong>do</strong>s estes termos<br />
são adiante designa<strong>do</strong>s por “Termos Adicionais”. Quan<strong>do</strong> os Termos Adicionais forem<br />
aplicáveis a um Serviço, estes ser-lhe-ão faculta<strong>do</strong>s para ler no âmbito de, ou através <strong>do</strong><br />
uso por si desse Serviço.<br />
- Os Termos Universais, juntamente com os Termos Adicionais, formam um acor<strong>do</strong><br />
legalmente vinculativo entre si e a Google relativamente ao uso por si <strong>do</strong>s Serviços. É<br />
importante que tire tempo para lê-los atentamente. Conjuntamente, este acor<strong>do</strong> legal é<br />
adiante designa<strong>do</strong> por “Termos”.<br />
- No caso de existir alg<strong>uma</strong> contradição entre o que dizem os Termos Adicionais e o que<br />
dizem os Termos Universais, então deverão prevalecer os Termos Adicionais em<br />
relação a esse Serviço.<br />
• Aceitação <strong>do</strong>s Termos<br />
- Para utilizar os Serviços, terá primeiro que aceitar os Termos. Não deverá utilizar os<br />
Serviços se não aceitar os Termos.<br />
- Pode aceitar os Termos:<br />
11 O Google constitui o servi<strong>do</strong>r responsável pelo site orkut e por isso, responsabiliza-se pelos termos e<br />
regras <strong>do</strong> site. Disponível em: www.orkut.com.
(A) clican<strong>do</strong> em aceitar ou concordar com os Termos, na opção que lhe for<br />
disponibilizada pela Google no user interface para qualquer Serviço; ou<br />
(B) utilizan<strong>do</strong> efectivamente os Serviços. Neste caso, reconhece e aceita que a Google<br />
tomará a sua utilização <strong>do</strong>s Serviços como <strong>uma</strong> aceitação <strong>do</strong>s Termos a partir desse<br />
momento em diante.<br />
- Não utilizará os Serviços e não aceitará os Termos se (a) não tiver idade legal para<br />
assinar um contrato vinculativo com a Google, ou (b) for <strong>uma</strong> pessoa impedida de<br />
receber os Serviços segun<strong>do</strong> as Leis <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ou outros Países, incluin<strong>do</strong> o<br />
País onde é residente ou o País a partir <strong>do</strong> qual utiliza os Serviços.<br />
- Antes de continuar, deverá imprimir ou guardar <strong>uma</strong> cópia local <strong>do</strong>s Termos<br />
Universais para os seus registos.<br />
• A segurança das suas passwords e da sua conta<br />
- Reconhece e aceita que será responsável por manter a confidencialidade das<br />
passwords associadas a qualquer conta que use para aceder aos Serviços.<br />
- Consequentemente, aceita que será o único responsável perante a Google por todas as<br />
actividades que ocorram ao abrigo da sua conta.<br />
- Se tomar conhecimento de qualquer uso não autoriza<strong>do</strong> da sua password ou da sua<br />
conta, aceita notificar imediatamente a Google em<br />
http://www.google.com/support/accounts/bin/answer.py?answer=48601&hl=pt.<br />
• Privacidade e suas informações pessoais<br />
- Para informação acerca das práticas de protecção de da<strong>do</strong>s da Google, por favor leia a<br />
política de privacidade da Google em http://www.google.com.br/privacy.html. Esta<br />
política explica a forma como a Google trata a sua informação pessoal e protege a sua<br />
privacidade quan<strong>do</strong> usa os Serviços.<br />
- Acorda com o uso <strong>do</strong>s seus da<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a política de privacidade da Google<br />
• Conteú<strong>do</strong> nos Serviços<br />
- Reconhece que todas as informações (como ficheiros de da<strong>do</strong>s, texto escrito, software<br />
de computa<strong>do</strong>r, música, ficheiros de áudio ou outros sons, fotografias, vídeos ou outras<br />
imagens) a que possa ter acesso como parte <strong>do</strong>s, ou através <strong>do</strong> seu uso <strong>do</strong>s, Serviços são<br />
da única responsabilidade da pessoa da qual esse conteú<strong>do</strong> foi origina<strong>do</strong>. Toda essa<br />
informação é referida abaixo como “Conteú<strong>do</strong>”.<br />
- Deverá estar consciente de que o Conteú<strong>do</strong> que lhe é apresenta<strong>do</strong> como parte <strong>do</strong>s<br />
Serviços, incluin<strong>do</strong>, designadamente, anúncios publicitários nos Serviços e Conteú<strong>do</strong><br />
patrocina<strong>do</strong> nos Serviços, pode estar protegi<strong>do</strong> por direitos de propriedade intelectual<br />
que são deti<strong>do</strong>s pelos patrocina<strong>do</strong>res e anunciantes que fornecem esse Conteú<strong>do</strong> à
Google (ou por outras pessoas ou sociedades em sua representação). Não poderá<br />
modificar, alugar, ceder em regime de locação financeira, emprestar, vender, distribuir<br />
ou criar obras derivadas baseadas neste Conteú<strong>do</strong> (no to<strong>do</strong> ou em parte) a menos que<br />
lhe tenha si<strong>do</strong> especificamente dito, num acor<strong>do</strong> separa<strong>do</strong>, pela Google ou pelos<br />
proprietários desse Conteú<strong>do</strong> de que o poderia fazer.<br />
- A Google reserva-se o direito (mas não tem qualquer obrigação) de pré-visualizar,<br />
rever, sinalizar, filtrar, modificar, recusar ou remover to<strong>do</strong> ou qualquer Conteú<strong>do</strong> de<br />
qualquer Serviço. Para alguns <strong>do</strong>s Serviços, a Google pode fornecer ferramentas para<br />
filtrar conteú<strong>do</strong>s sexuais explícitos. Estas ferramentas incluem o defini<strong>do</strong>r de<br />
preferências SafeSearch (veja http://www.google.com.br/help/customize.html#safe).<br />
Adicionalmente, existem serviços comerciais disponíveis e software para limitar o<br />
acesso a material que possa considerar objectável.<br />
- Compreende que ao usar os Serviços pode estar exposto a Conteú<strong>do</strong> que possa<br />
considerar ofensivo, indecente ou objectável e que, a este respeito, usa os Serviços por<br />
sua conta e risco.<br />
- Concorda que é o único responsável por (e que a Google não é responsável perante si<br />
ou perante terceiros por) qualquer Conteú<strong>do</strong> que crie, transmita ou visualize enquanto<br />
usa os Serviços e pelas consequências dessas suas acções (incluin<strong>do</strong> qualquer perda ou<br />
dano que a Google possa sofrer).