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SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia Além do consumismo tecnológico: as causas e efeitos da difusão de notebooks refurbished no mercado brasileiro da informática RESUMO Edison de Azevedo Filho Maria Claudia Lara da Costa Centro Universitário Campos de Andrade - Uniandrade O presente artigo visa discutir o conceito de equipamentos refurbished dentro de uma contextualização ampla das causas e efeitos desta prática de mercado, muitas vezes oculta ao consumidor. Traz uma análise técnica do procedimento de recondicionamento em notebooks, métodos de identificação de equipamentos submetidos a este processo, vantagens e desvantagens, suas principais diferenças, e indo além do aspecto técnico, pretende-se avaliar suas implicações no que se refere às suas origens, impactos econômicos, sociais e culturais. A idéia é oferecer uma perspectiva crítica-analítica com características interdisciplinares, que estimule a discussão sobre hardware e práticas de mercado no meio acadêmico. Palavras-chave: refurbished, notebook, informática, recondicionamento. 1. INTRODUÇÃO No início dos anos 80 o mercado consumidor de sistemas pequenos mostrou um evidente crescimento de participação no grande mercado de informática que até então era dominado pelos mainframes. Com isto abriu-se caminho para um novo segmento, o de computadores pessoais (personal computers - PC’s) que vieram a revolucionar o mercado ao ponto de descentralizar a tecnologia, que na época era restrita à indústria, e fazendo com que a mesma começasse a ser pulverizada nos lares da população. Internamente, a indústria de produção de tecnologia brasileira já tentava alçar vôos independentes para atender a esta nova demanda. Na década de 70, o Brasil procurara desenvolver uma Indústria Nacional de Informática que tinha como principal objetivo a promoção da capacitação tecnológica interna na área (ROSENTHAL,1995:105). Desde 1961, com a construção de “Zezinho” – o primeiro computador desenvolvido no Brasil com todos seus componentes nacionais, fruto de uma pesquisa de estudantes do ITA financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas), sob orientação do chefe do departamento de Eletrônica do ITA, Richard Wallauschek (CABRAL, 2002), sonhava-se com uma indústria nacional capaz de se auto-sustentar e viabilizar o acesso do país à tecnologia.

SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia<br />

<strong>Além</strong> <strong>do</strong> <strong>consumismo</strong> <strong>tecnológico</strong>: <strong>as</strong> caus<strong>as</strong> e <strong>efeitos</strong> <strong>da</strong> difusão de<br />

notebooks refurbished no merca<strong>do</strong> br<strong>as</strong>ileiro <strong>da</strong> informática<br />

RESUMO<br />

Edison de Azeve<strong>do</strong> Filho Maria Claudia Lara <strong>da</strong> Costa<br />

Centro Universitário Campos de Andrade - Uniandrade<br />

O presente artigo visa discutir o conceito de equipamentos refurbished dentro de uma<br />

contextualização ampla d<strong>as</strong> caus<strong>as</strong> e <strong>efeitos</strong> desta prática de merca<strong>do</strong>, muit<strong>as</strong> vezes oculta ao<br />

consumi<strong>do</strong>r. Traz uma análise técnica <strong>do</strong> procedimento de recondicionamento em notebooks, méto<strong>do</strong>s<br />

de identificação de equipamentos submeti<strong>do</strong>s a este processo, vantagens e desvantagens, su<strong>as</strong><br />

principais diferenç<strong>as</strong>, e in<strong>do</strong> além <strong>do</strong> <strong>as</strong>pecto técnico, pretende-se avaliar su<strong>as</strong> implicações no que se<br />

refere às su<strong>as</strong> origens, impactos econômicos, sociais e culturais. A idéia é oferecer uma perspectiva<br />

crítica-analítica com característic<strong>as</strong> interdisciplinares, que estimule a discussão sobre hardware e<br />

prátic<strong>as</strong> de merca<strong>do</strong> no meio acadêmico.<br />

Palavr<strong>as</strong>-chave: refurbished, notebook, informática, recondicionamento.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

No início <strong>do</strong>s anos 80 o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r de sistem<strong>as</strong> pequenos mostrou um<br />

evidente crescimento de participação no grande merca<strong>do</strong> de informática que até então era<br />

<strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelos mainframes. Com isto abriu-se caminho para um novo segmento, o de<br />

computa<strong>do</strong>res pessoais (personal computers - PC’s) que vieram a revolucionar o merca<strong>do</strong> ao<br />

ponto de descentralizar a tecnologia, que na época era restrita à indústria, e fazen<strong>do</strong> com que a<br />

mesma começ<strong>as</strong>se a ser pulveriza<strong>da</strong> nos lares <strong>da</strong> população.<br />

Internamente, a indústria de produção de tecnologia br<strong>as</strong>ileira já tentava alçar vôos<br />

independentes para atender a esta nova deman<strong>da</strong>. Na déca<strong>da</strong> de 70, o Br<strong>as</strong>il procurara<br />

desenvolver uma Indústria Nacional de Informática que tinha como principal objetivo a<br />

promoção <strong>da</strong> capacitação tecnológica interna na área (ROSENTHAL,1995:105). Desde 1961,<br />

com a construção de “Zezinho” – o primeiro computa<strong>do</strong>r desenvolvi<strong>do</strong> no Br<strong>as</strong>il com to<strong>do</strong>s<br />

seus componentes nacionais, fruto de uma pesquisa de estu<strong>da</strong>ntes <strong>do</strong> ITA financia<strong>da</strong> pelo<br />

CNPq (Conselho Nacional de Pesquis<strong>as</strong>), sob orientação <strong>do</strong> chefe <strong>do</strong> departamento de<br />

Eletrônica <strong>do</strong> ITA, Richard Wallauschek (CABRAL, 2002), sonhava-se com uma indústria<br />

nacional capaz de se auto-sustentar e viabilizar o acesso <strong>do</strong> país à tecnologia.


SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia<br />

Porém, apesar de Zezinho possuir um notável potencial didático, teve uma vi<strong>da</strong> curta e<br />

restrita ao conhecimento de estu<strong>da</strong>ntes e professores <strong>do</strong> ITA, cain<strong>do</strong> no esquecimento pouco<br />

tempo depois por falta de investimentos no projeto. Com a fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> produção interna,<br />

em 1984 foi consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> uma reserva de merca<strong>do</strong> de informática no Br<strong>as</strong>il, legitima<strong>da</strong> pela lei<br />

nº 7.232, de 28 de outubro <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> ano, que fun<strong>da</strong>mentou a Política Nacional de<br />

Informática e estabeleceu um prazo de oito anos, a partir <strong>da</strong>quela <strong>da</strong>ta, para a vigência <strong>da</strong><br />

reserva (CAVALCANTE, 2003).<br />

Depois <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> reserva de merca<strong>do</strong> o país definitivamente atrofiou no<br />

avanço <strong>tecnológico</strong> em relação ao crescimento internacional. Se na oc<strong>as</strong>ião pareceu uma<br />

ferramenta eficaz de garantia de espaço, proteção e incentivos para o n<strong>as</strong>cimento e<br />

desenvolvimento de empres<strong>as</strong> nacionais, por outro la<strong>do</strong>, com <strong>as</strong> restrições à entra<strong>da</strong> de<br />

empres<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong> no setor, a competição no merca<strong>do</strong> foi desestimula<strong>da</strong>, impedin<strong>do</strong> a<br />

criação de uma indústria bem consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>, com relativo <strong>do</strong>mínio <strong>tecnológico</strong>, onde a<br />

tecnologia não fosse apen<strong>as</strong> reproduzi<strong>da</strong>, m<strong>as</strong>, desenvolvi<strong>da</strong> e aprimora<strong>da</strong>.<br />

Desta maneira os equipamentos desenvolvi<strong>do</strong>s localmente, apesar de já possuírem um<br />

merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r interno defini<strong>do</strong>, apresentavam preços muito altos e de quali<strong>da</strong>de abaixo<br />

<strong>do</strong>s padrões internacionais, geran<strong>do</strong> um nível muito grande de contraban<strong>do</strong> e fazen<strong>do</strong> com<br />

que o país caísse nos índices de informatização (CAVALCANTE, 2003).<br />

Após anos de pressão internacional, principalmente <strong>do</strong>s EUA, em 1992 o país foi<br />

aberto para importações geran<strong>do</strong> um fluxo crescente de comercialização de equipamentos <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> de 90 aos di<strong>as</strong> atuais, ao ponto <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res deixarem de ser artigos de loj<strong>as</strong><br />

especializad<strong>as</strong> sen<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>s à ven<strong>da</strong> até mesmo em supermerca<strong>do</strong>s, d<strong>as</strong> multinacionais<br />

receberem incentivos <strong>do</strong> governo e <strong>do</strong>s softwares já serem a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong>s em português<br />

“br<strong>as</strong>ileiro” para este merca<strong>do</strong> específico.<br />

Neste panorama histórico <strong>da</strong> abertura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>da</strong> informática no Br<strong>as</strong>il, pode-se<br />

enfatizar o papel determinante tanto iniciativ<strong>as</strong> de produção e comercialização de hardware e<br />

softwares, bem como de polític<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> voltad<strong>as</strong> à democratização <strong>da</strong> informação, que de<br />

form<strong>as</strong> diferenciad<strong>as</strong> acabaram por estimular – direta ou indiretamente, o merca<strong>do</strong> de PC's.<br />

Projetos como o Comitê para Democratização <strong>da</strong> Informática (www.cdi.org.br) e<br />

iniciativ<strong>as</strong> <strong>do</strong> Governo Federal através <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia, que visam à<br />

ampliação <strong>do</strong> acesso <strong>do</strong>s meios de conectivi<strong>da</strong>de, incentivo à pesquisa e desenvolvimento,<br />

comércio eletrônico e desenvolvimento de nov<strong>as</strong> aplicações, chancelaram o uso <strong>da</strong> tecnologia<br />

pessoal não só como uma questão pública, m<strong>as</strong> reconheci<strong>da</strong>mente de desejo de consumo <strong>da</strong><br />

população em geral.


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2. A ABERTURA E SEGMENTAÇÃO DO MERCADO DA INFORMÁTICA<br />

M<strong>as</strong> em termos de diferenciação social e de merca<strong>do</strong>, à medi<strong>da</strong> que o fluxo de<br />

comércio de computa<strong>do</strong>res foi absorvi<strong>do</strong>, e o Esta<strong>do</strong> se dispôs a propiciar form<strong>as</strong> de acesso <strong>da</strong><br />

população mais carente à inclusão digital de maneira geral, <strong>as</strong> cl<strong>as</strong>ses mais alt<strong>as</strong> tenderam a<br />

buscar um aprimoramento <strong>do</strong>s recursos <strong>tecnológico</strong>s a que já tinham acesso, diferencian<strong>do</strong>-se<br />

progressivamente na quali<strong>da</strong>de e forma de participação como consumi<strong>do</strong>res no merca<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

informática.<br />

É fato que a socie<strong>da</strong>de rica usa com mais intensi<strong>da</strong>de <strong>as</strong> redes informacionais para se<br />

comunicar, armazenar e processar informações. Nesse senti<strong>do</strong>, cientista político canadense<br />

Arthur Kroker (KROKER,1998), já alertara para a constituição de uma nova cl<strong>as</strong>se dirigente<br />

composta por formula<strong>do</strong>res e executores <strong>da</strong> telemática, compon<strong>do</strong> uma ver<strong>da</strong>deira cl<strong>as</strong>se<br />

virtual, reforçan<strong>do</strong> a <strong>as</strong>sociação de NORA & MINC (1992) sobre a evolução <strong>do</strong> capitalismo<br />

para um regime de posse não mais de meios de produção propriamente ditos, m<strong>as</strong> b<strong>as</strong>ea<strong>do</strong> no<br />

controle d<strong>as</strong> redes de processamento e comunicação <strong>da</strong> informação, e diretamente <strong>as</strong>socia<strong>do</strong><br />

ao <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> tecnologia.<br />

É fato confirma<strong>do</strong> por pesquis<strong>as</strong> recentes que embora a tecnologia e a alfabetização<br />

digital se difun<strong>da</strong>, ca<strong>da</strong> vez mais se confirma a segmentação de cl<strong>as</strong>ses sociais, configuran<strong>do</strong><br />

uma nova mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de avaliação social e econômica caracteriza<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> “desigual<strong>da</strong>des<br />

digitais”. Como aponta<strong>do</strong> por pesquisa realiza<strong>da</strong> no primeiro semestre de 2007 pelo IBGE 1 ,<br />

onde apen<strong>as</strong> 17,2% <strong>do</strong>s br<strong>as</strong>ileiros têm acesso à internet, sen<strong>do</strong> que <strong>as</strong> variações vão de 5% <strong>da</strong><br />

população no Nordeste até 20% na região Sudeste.<br />

Assim, pode-se afirmar que paralelamente houve uma popularização <strong>do</strong>s<br />

computa<strong>do</strong>res pessoais, ampliação de acesso d<strong>as</strong> m<strong>as</strong>s<strong>as</strong> à internet, e na outra ponta, uma<br />

diferenciação de serviços ban<strong>da</strong> larga e procura por equipamentos mais potentes e compactos,<br />

potencializan<strong>do</strong> também a comercialização de equipamentos no ambiente virtual nos últimos<br />

anos. Isso refletiu-se na crescente abertura de loj<strong>as</strong> virtuais (sites de ven<strong>da</strong> de produtos) e o<br />

grande aumento de procura pelo comércio de equipamentos de informática na web - sen<strong>do</strong><br />

que de tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> categori<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong> na Internet por br<strong>as</strong>ileiros, Computa<strong>do</strong>res e<br />

Eletrônicos aparecem como o quarto elemento mais cota<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> a pesquisa IBOPE<br />

NetRatings 2006:<br />

1 O estu<strong>do</strong> foi feito pela organização internacional Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), com<br />

apoio <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Educação. De acor<strong>do</strong> com o levantamento <strong>da</strong> Ritla, com b<strong>as</strong>e em <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> Pesquisa Nacional por<br />

Amostra de Domicílio (Pnad) de 2005, realiza<strong>da</strong> pelo Instituto Br<strong>as</strong>ileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o esta<strong>do</strong> de São<br />

Paulo, tem os melhores índices de acesso popular: 2,4% . No outro extremo, apen<strong>as</strong> 0,1% <strong>da</strong> população de Alago<strong>as</strong> com<br />

menor ren<strong>da</strong> buscou a internet nos postos públicos. Em to<strong>do</strong> o país, apen<strong>as</strong> uma parcela de 0,9% <strong>da</strong> população de baixa ren<strong>da</strong><br />

acessou a rede gratuitamente, contra 4,5% <strong>da</strong> população de ren<strong>da</strong> mais alta. O estu<strong>do</strong> não apresenta o valor <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

população pesquisa<strong>da</strong>, dividi<strong>da</strong> em dez faix<strong>as</strong>. E sugere uma revisão d<strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> de expansão <strong>do</strong>s centros públicos e d<strong>as</strong><br />

desigual<strong>da</strong>des sociais, que se refletem nos índices de acesso de acesso à internet e, conseqüentemente, no uso d<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong><br />

de informação e <strong>da</strong> comunicação.<br />

FONTE: Plantão INFO – Revista InfoExame - http://info.abril.com.br/aberto/infonews/082007/09082007-<br />

1.shl acessa<strong>do</strong> em 09 de agosto de 2007.


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Tabela 1. Principais categori<strong>as</strong> procurad<strong>as</strong> na Internet no Br<strong>as</strong>il – Acesso <strong>do</strong>miciliar.<br />

Nesse quadro evolutivo <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>da</strong> informática, um <strong>do</strong>s segmentos de notável<br />

avanço foi o <strong>da</strong> comercialização de notebooks, tanto em ambiente presencial como virtual,<br />

superan<strong>do</strong> previsões de especialist<strong>as</strong> <strong>da</strong> área:<br />

“O merca<strong>do</strong> br<strong>as</strong>ileiro de notebooks terá crescimento de 50% em 2006 - Com modelos que<br />

custam menos de 3 mil reais, setor deverá ter vend<strong>as</strong> de mais de 400 mil uni<strong>da</strong>des neste ano,<br />

acreditam consultori<strong>as</strong>. (...) Muitos usuários que já compraram o seu primeiro computa<strong>do</strong>r<br />

estão consideran<strong>do</strong> o notebook como opção na hora <strong>da</strong> troca, pois o preço se tornou acessível<br />

e o apelo <strong>da</strong> mobili<strong>da</strong>de é muito forte.” (MOREIRA,2006)<br />

In<strong>do</strong> ao encontro d<strong>as</strong> previsões mais otimist<strong>as</strong>, no merca<strong>do</strong> virtual, a tendência de<br />

superação na comercialização de notebooks se confirmou nos últimos anos:<br />

Gráfico 1. Evolução <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> de PC's e Notebooks no site www.merca<strong>do</strong>livre.com.br (out/2003-junh/2005)


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No perío<strong>do</strong> representa<strong>do</strong> no gráfico (outubro de 2003 a junho de 2005) foram<br />

comercializa<strong>do</strong>s, via Merca<strong>do</strong> Livre – o portal de e-commerce líder em acesso e vend<strong>as</strong> 2 no<br />

Br<strong>as</strong>il, segun<strong>do</strong> a pesquisa IBOPE/NetRatings2006 – na<strong>da</strong> menos que 36,7 mil notebooks (um<br />

a ca<strong>da</strong> 25 minutos), contra 30,5 mil PCs (um a ca<strong>da</strong> meia hora) – segun<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s<br />

pela própria empresa.<br />

Com esta tendência de consumo segmenta<strong>do</strong> foca<strong>do</strong> em notebooks, uma informação<br />

relevante e pouco difundi<strong>da</strong> junto ao merca<strong>do</strong> diz respeito ao esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s equipamentos no ato<br />

de aquisição, trazen<strong>do</strong> à luz a discussão acerca de uma prática de reaproveitamento de<br />

produtos e componentes por parte d<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> fabricantes, denomina<strong>da</strong> refurbished.<br />

3. O PROCESSO E IDENTIFICAÇÃO DO RECONDICIONAMENTO<br />

A tradução para um equipamento considera<strong>do</strong> refurbished aproxima-se <strong>da</strong> idéia de<br />

recondiciona<strong>do</strong> ou renova<strong>do</strong>. Há interpretações de que pejorativamente poderia ser traduzi<strong>do</strong><br />

como “maquia<strong>do</strong>” ou “lustra<strong>do</strong>”. Trata-se de um procedimento de readequação e<br />

reaproveitamento de itens eletrônicos, pratica<strong>do</strong> por vári<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> que fabricam ou montam<br />

eletrônicos.<br />

Existem <strong>do</strong>is tipos de procedimento refurbished, denomina<strong>do</strong>s incompany e return to<br />

company. O primeiro tipo ocorre ain<strong>da</strong> no processo de montagem, quan<strong>do</strong> são detecta<strong>do</strong>s<br />

problem<strong>as</strong> de colocação de hardware que desqualificam <strong>as</strong> máquin<strong>as</strong> segun<strong>do</strong> os padrões de<br />

quali<strong>da</strong>de ISO, estabeleci<strong>do</strong>s pela indústria <strong>da</strong> informática. Diante <strong>da</strong> desqualificação, tais<br />

equipamentos são retira<strong>do</strong>s <strong>da</strong> linha de montagem e p<strong>as</strong>sam por uma minuciosa revisão com<br />

técnicos altamente capacita<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> ajusta<strong>do</strong>s ao mesmo padrão que os demais inicialmente<br />

aprova<strong>do</strong>s pelo controle de quali<strong>da</strong>de.<br />

Porém, <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> ISO não permitem que um aparelho retira<strong>do</strong> no meio <strong>da</strong> linha de<br />

montagem receba a mesma certificação que os demais, ten<strong>do</strong> estabeleci<strong>do</strong> a denominação<br />

refurbished (sigla RB) para diferenciar produtos submeti<strong>do</strong>s a essa espécie de “revisão extra”<br />

e respectivos reajustes de montagem.<br />

Já o tipo RB return to company refere-se a equipamentos que concluíram o processo<br />

normal de montagem e chegaram a ser expedi<strong>do</strong>s como produtos aprova<strong>do</strong>s, m<strong>as</strong> que por<br />

algum motivo tiveram que retornar à empresa para um novo processo de revisão. As razões<br />

podem ser muit<strong>as</strong>: devolução após permanência em estoque durante perío<strong>do</strong> de consignação;<br />

insatisfação <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r com o produto geran<strong>do</strong> devolução no varejista que o<br />

comercializou; entre outr<strong>as</strong>. Qualquer aparelho que volta para o fabricante depois de ser<br />

expedi<strong>do</strong> uma primeira vez, também deve receber a sigla RB quan<strong>do</strong> expedi<strong>do</strong> novamente.<br />

2 Concentran<strong>do</strong> 44,6% d<strong>as</strong> transações comerciais de consumi<strong>do</strong>res finais realizad<strong>as</strong> via e-commerce no<br />

Br<strong>as</strong>il.


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Existem form<strong>as</strong> particulares de identificar os equipamentos originais submeti<strong>do</strong>s ao<br />

recondicionamento, a<strong>do</strong>tad<strong>as</strong> individualmente por ca<strong>da</strong> monta<strong>do</strong>ra. Para fins comparativos e<br />

de análise pontual desta questão, optou-se por inicialmente levantar <strong>as</strong> principais marc<strong>as</strong> de<br />

notebooks <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> br<strong>as</strong>ileiro, com b<strong>as</strong>e em uma pesquisa de preferência <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />

realiza<strong>da</strong> pela PCWord (http://pcworld.uol.com.br) – uma renoma<strong>da</strong> empresa <strong>da</strong> área de<br />

tecnologia que mantém um site com conteú<strong>do</strong> <strong>tecnológico</strong> e também uma revista de<br />

informática de mesmo nome.<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

Qual marca de notebook você possui?<br />

HP Acer Dell Toshiba Apple Outr<strong>as</strong><br />

Gráfico 2. Pesquisa elabora<strong>da</strong> pela PCWord sobre <strong>as</strong> marc<strong>as</strong> de notebooks mais vendid<strong>as</strong> no Br<strong>as</strong>il. (2007).<br />

A pesquisa é efetua<strong>da</strong> anualmente, buscan<strong>do</strong> avaliar tendênci<strong>as</strong> de merca<strong>do</strong> e<br />

identificar <strong>as</strong> marc<strong>as</strong> de notebooks mais utilizad<strong>as</strong> e desejad<strong>as</strong> no país. Na edição deste ano,<br />

56% <strong>do</strong>s respondentes informaram possuir equipamentos portáteis, contra 30% na edição<br />

anterior, reforçan<strong>do</strong> o forte crescimento <strong>do</strong> setor.<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

Se fosse trocar, qual marca compraria?<br />

HP Acer Dell Toshiba Apple Outr<strong>as</strong><br />

Gráfico 3. Gráfico mostra a concorrência entre <strong>as</strong> marc<strong>as</strong> no setor de notebooks. PCWord (2007).<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que ocorre em outros segmentos de informática, no setor de notebooks<br />

há um líder evidente, também identifica<strong>do</strong> nesta pesquisa. Cerca de 25% <strong>do</strong>s respondentes <strong>da</strong>


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análise <strong>da</strong> PCWord afirmam possuir um notebook HP e 25% <strong>do</strong> total optariam pela marca na<br />

hora <strong>da</strong> troca <strong>do</strong> atual equipamento por um novo modelo.<br />

Com b<strong>as</strong>e nestes <strong>da</strong><strong>do</strong>s, mapeia-se a seguir <strong>as</strong> quatro principais marc<strong>as</strong> de notebooks<br />

comercializad<strong>as</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> br<strong>as</strong>ileiro (Hewlet-Packard, Acer, Dell e Toshiba), d<strong>as</strong> quais<br />

detalhamos su<strong>as</strong> orientações particulares de identificação <strong>do</strong>s equipamentos refurbished.


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3.1 HEWLET-PACKARD<br />

A Hewlet-Packard (HP) orienta que inicialmente sejam verificad<strong>as</strong> <strong>as</strong> identificações de<br />

embalagem conferin<strong>do</strong> se trata-se de equipamento original, verifican<strong>do</strong> os logotipos <strong>da</strong> HP na<br />

caixa. O segun<strong>do</strong> p<strong>as</strong>so refere-se à conferência <strong>do</strong>s componentes de dentro <strong>da</strong> caixa, desde o<br />

manual impresso até o próprio notebook. Ten<strong>do</strong> verifica<strong>do</strong> a originali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> equipamento, o<br />

próximo p<strong>as</strong>so seria a identificação <strong>do</strong> número serial <strong>do</strong> notebook (que deve ser corresponde<br />

ao número identifica<strong>do</strong> na caixa). Quan<strong>do</strong> o equipamento é “novo” – não submeti<strong>do</strong> ao<br />

procedimento – sua composição deve se apresentar <strong>da</strong> seguinte forma: xxxxxxx#xxx – sen<strong>do</strong><br />

que x pode representar número ou letr<strong>as</strong>.<br />

Já quan<strong>do</strong> se trata de equipamento refurbished o número serial apresenta-se como:<br />

xxxxxxxR#xxx (por exemplo:RP165UAR#ABA). Justamente pela presença <strong>da</strong> letra R, que<br />

indica o procedimento de recondicionamento, o notebook refurbished tem oito dígitos antes<br />

<strong>do</strong> #, ao p<strong>as</strong>so que o novo só tem sete.<br />

Figura 1. Número serial de equipamento refurbished Hewlet-Packard<br />

Vale ressaltar que notebooks refurbished geralmente não têm garantia <strong>da</strong> própria HP e<br />

sim d<strong>as</strong> loj<strong>as</strong> que os comercializam.<br />

3.2 ACER<br />

Segun<strong>do</strong> o fabricante, equipamentos “usa<strong>do</strong>s” (refurbished) têm garantia de fábrica de<br />

apen<strong>as</strong> 90 di<strong>as</strong>. Não é possível reconhecer no número de série <strong>do</strong> equipamento Acer um<br />

padrão visual que demonstre que os equipamentos são recondiciona<strong>do</strong>s, entretanto é possível<br />

identificá-los em uma ferramenta de consulta no próprio site <strong>da</strong> empresa, localiza<strong>do</strong> no link<br />

https://secure.tx.acer.com/FindSystem/FindSystem.<strong>as</strong>px .Ou seja, além <strong>da</strong> ausência de uma<br />

identificação visual específica e imediata para itens recondiciona<strong>do</strong>s, o consumi<strong>do</strong>r só tem<br />

condições de verificar a natureza de seu equipamento quan<strong>do</strong> já o tem em mãos e pode ter<br />

acesso à internet para efetuar a consulta online.


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3.3 DELL<br />

A divisão <strong>da</strong> Dell situa<strong>da</strong> no Br<strong>as</strong>il informou que não comercializa notebooks<br />

recondiciona<strong>do</strong>s de fábrica (refurbished) pois não possui uma linha de montagem que permita<br />

ou oc<strong>as</strong>ione tal procedimento.<br />

Os notebooks <strong>da</strong> Dell são monta<strong>do</strong>s sob deman<strong>da</strong>, após a ven<strong>da</strong> antecipa<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

equipamento, ou seja, o cliente realiza a compra e somente após a <strong>as</strong>sinatura <strong>do</strong> contrato é que<br />

o notebook é feito. Na fabricação o equipamento ganha uma etiqueta de serviço única, ou seja,<br />

ca<strong>da</strong> cliente tem um número de série personaliza<strong>do</strong>.<br />

3.4 TOSHIBA<br />

Segun<strong>do</strong> orientações <strong>do</strong> próprio fabricante, logo após o número de série <strong>do</strong>s notebooks<br />

Toshiba segue-se uma segun<strong>da</strong> identificação “-----n°” onde “-n” é o tempo de garantia. Por<br />

exemplo: 3 = três anos de garantia, 1 = um ano de garantia. Quan<strong>do</strong> se trata de um<br />

equipamento refurbished há du<strong>as</strong> possibili<strong>da</strong>des de garantia: 0 = sem garantia e 9 = nove<br />

meses de garantia. Para os recondiciona<strong>do</strong>s não há garantia de um ano.<br />

<strong>Além</strong> <strong>do</strong> <strong>as</strong>pecto <strong>da</strong> garantia reduzi<strong>da</strong>, o número de série <strong>do</strong> notebook Toshiba também<br />

permite a identificação <strong>do</strong> processo de recondicionamento, apresentan<strong>do</strong> 7 dígitos depois <strong>do</strong><br />

traço divisor <strong>do</strong> código e finalizan<strong>do</strong> com "B", como no exemplo a seguir (PQG10U-<br />

00Y00LB).<br />

Figura 2. Número serial de equipamento refurbished Toshiba<br />

Já os notebooks Toshiba considera<strong>do</strong>s “normais” têm apen<strong>as</strong> 6 dígitos depois <strong>do</strong> traço,<br />

apresentan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> uma diferença de preço de comercialização que chega a trezentos dólares<br />

(U$300,00) de variação para o mesmo modelo.


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4. OS EFEITOS MERCADOLÓGICOS<br />

Mais que um mero procedimento técnico, a prática de recondicionamento de<br />

notebooks tem repercussões em cadeia no merca<strong>do</strong> e nos hábitos de consumo e cultura <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de como um to<strong>do</strong>.<br />

No merca<strong>do</strong> de computa<strong>do</strong>res, é comum encontrar empres<strong>as</strong> que vendem<br />

equipamentos refurbished – tanto em loj<strong>as</strong> físic<strong>as</strong> como virtuais. Uma d<strong>as</strong> principais caus<strong>as</strong><br />

desta recorrência está no fato de ser um equipamento mais barato <strong>do</strong> que os considera<strong>do</strong>s<br />

novos. A exemplo disto, a diferença de preço encontra<strong>da</strong> na internet entre sites confiáveis<br />

(como os portais de ven<strong>da</strong> American<strong>as</strong>.com e Submarino.com) e em outr<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> loj<strong>as</strong><br />

virtuais <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> paralelo chega a representar um abismo. No site Submarino.com, por<br />

exemplo, um notebook novo <strong>da</strong> HP modelo br<strong>as</strong>ileiro dv6220br (Semprom 3500+, HD<br />

80GB,512MB) é encontra<strong>do</strong> por R$2.499,00, enquanto loj<strong>as</strong> que importam merca<strong>do</strong>ria<br />

recondiciona<strong>da</strong> de Miami (EUA) como a Beta Informática (www.betainformatica.com.br)<br />

oferece modelos superiores a preços menores, como um notebook <strong>da</strong> HP modelo americano<br />

dv6225 (Amd Turion X2 1,66GHZ, 1024MB, HD 120 Sata) por R$2.399,00.<br />

A questão que se coloca aqui a refletir não se restringe à condição (recondiciona<strong>da</strong>) <strong>do</strong><br />

aparelho, m<strong>as</strong> engloba também o já cita<strong>do</strong> <strong>as</strong>pecto <strong>da</strong> garantia. A HP Br<strong>as</strong>il não oferece<br />

garantia para os modelos americanos aqui no Br<strong>as</strong>il, ou seja, em c<strong>as</strong>o <strong>do</strong> equipamento<br />

apresentar qualquer defeito, o consumi<strong>do</strong>r que “economizou” na compra <strong>do</strong> notebook<br />

refurbished importa<strong>do</strong> disporá de tempo e dinheiro para solucionar o problema através <strong>da</strong> loja<br />

que o comercializou, que remeterá o equipamento para seu local de origem (Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

Paraguai ou qualquer outro lugar), de mo<strong>do</strong> que a própria fábrica faça a substituição <strong>do</strong><br />

elemento defeituoso.<br />

A despeito destes complica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> processo de compra e pós-ven<strong>da</strong>, <strong>as</strong> empres<strong>as</strong> <strong>do</strong><br />

ramo <strong>da</strong> informática seguem alimentan<strong>do</strong> o merca<strong>do</strong> com equipamentos refurbished e<br />

simultaneamente difundin<strong>do</strong> o hábito de ocultar isso <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

É comum encontrar loj<strong>as</strong> venden<strong>do</strong> para seus clientes modelos recondiciona<strong>do</strong>s de<br />

fábrica como novos, esquivan<strong>do</strong>-se de <strong>as</strong>sumir o fato, seja em serviços de atendimento online,<br />

telefônico e até mesmo a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> prátic<strong>as</strong> escus<strong>as</strong> de r<strong>as</strong>urar o número de série ou cobrir a<br />

identificação 3 com o selo de garantia <strong>da</strong> loja, que não pode ser removi<strong>do</strong> ou viola<strong>do</strong> pelo<br />

compra<strong>do</strong>r, de mo<strong>do</strong> a omitir a real condição <strong>do</strong> aparelho. No fim d<strong>as</strong> cont<strong>as</strong>, tais prátic<strong>as</strong><br />

p<strong>as</strong>sam despercebid<strong>as</strong> devi<strong>do</strong> à grande semelhança entre os equipamentos a olho nu, pela falta<br />

de conhecimento e de informação por parte <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res em geral e até por má fé <strong>da</strong><br />

empresa. Na contramão dest<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong>, a loja virtual Portal 3D Info 4 tem diversos<br />

equipamentos à ven<strong>da</strong> cuj<strong>as</strong> especificações apresentam a definição factory refurbished,<br />

acompanhan<strong>do</strong> um breve texto explicativo sobre o que significa um equipamento ser<br />

recondiciona<strong>do</strong>.<br />

3 Que na maioria d<strong>as</strong> marcar permite a identificação <strong>do</strong> recondicionamento, como cita<strong>do</strong> anteriormente.<br />

4 http://www3.ci<strong>as</strong>hop.com.br/portal3d/


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O curioso é que os procedimentos não chegam a ser ilegais no que se refere a<br />

comercializar notebooks refurbished, entretanto o merca<strong>do</strong> comporta-se como se o fosse. Há<br />

controvérsi<strong>as</strong> de que a Lei de importação defini<strong>da</strong> pela portaria <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong><br />

Desenvolvimento , Industria e Comércio Exterior nº:235 de 7 de dezembro de 2006, poderia<br />

ser utiliza<strong>da</strong> como respal<strong>do</strong> ou empecilho desta prática, dependen<strong>do</strong> de sua interpretação:<br />

“Art. 22. Serão autorizad<strong>as</strong> importações de máquin<strong>as</strong>, equipamentos, aparelhos,<br />

instrumentos, ferrament<strong>as</strong>, moldes e contêineres para utilização como uni<strong>da</strong>de de carga, na<br />

condição de usa<strong>do</strong>s, atendi<strong>do</strong>s, cumulativamente, os seguintes requisitos: a) não sejam<br />

produzi<strong>do</strong>s no País, ou não possam ser substituí<strong>do</strong>s por outros, atualmente fabrica<strong>do</strong>s no<br />

território nacional, capazes de atender aos fins a que se destina o material a ser<br />

importa<strong>do</strong>;(...)<br />

Art. 23. Em to<strong>do</strong>s os pedi<strong>do</strong>s <strong>da</strong> espécie será exigi<strong>da</strong> a apresentação de lau<strong>do</strong> de vistoria e<br />

avaliação <strong>do</strong> material a importar, firma<strong>do</strong> por enti<strong>da</strong>de especializa<strong>da</strong>, de reconheci<strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong>de técnica, cuja habilitação para certificar deverá ser comprova<strong>da</strong> junto à Secex,<br />

constan<strong>do</strong>: a) ano de fabricação; b) ano de reconstrução, recondicionamento ou revisão, com<br />

indicação d<strong>as</strong> partes ou peç<strong>as</strong> substituíd<strong>as</strong> e seu valor global; c) declaração de que <strong>as</strong><br />

condições operacionais e tolerânci<strong>as</strong> mantêm-se idêntic<strong>as</strong> às de uni<strong>da</strong>des análog<strong>as</strong> nov<strong>as</strong>,<br />

dentro d<strong>as</strong> norm<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> vigentes e exigid<strong>as</strong> no país de origem; d) diferenç<strong>as</strong> tecnológic<strong>as</strong><br />

existentes entre a uni<strong>da</strong>de vistoria<strong>da</strong> e a uni<strong>da</strong>de nova <strong>do</strong> gênero; e) vi<strong>da</strong> útil média <strong>do</strong> bem;<br />

f) valor de merca<strong>do</strong>, valor de reprodução (isto é, valor <strong>do</strong> bem idêntico, porém novo) e valor<br />

de reposição (isto é, valor <strong>do</strong> bem análogo, tecnologicamente atualiza<strong>do</strong>); e g) peso<br />

líqui<strong>do</strong>.(...)<br />

Art. 24. Poderão ser autorizad<strong>as</strong>, ain<strong>da</strong>, importações de:a) máquin<strong>as</strong>, equipamentos,<br />

aparelhos e instrumentos destina<strong>do</strong>s à reconstrução no País, por empres<strong>as</strong> que aten<strong>da</strong>m<br />

norm<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> de padrão internacional, que, após o processamento, atinjam estágio<br />

<strong>tecnológico</strong> não disponível no País, tenham garantia idêntica à de análogos novos e<br />

agreguem insumos de produção local. Ess<strong>as</strong> importações ficam sujeit<strong>as</strong> aos requisitos <strong>do</strong><br />

artigo 22, alínea a; b) partes, peç<strong>as</strong> e acessórios recondiciona<strong>do</strong>s, para manutenção de<br />

máquin<strong>as</strong> e equipamentos, desde que o processo de recondicionamento tenha si<strong>do</strong> efetua<strong>do</strong><br />

pelo próprio fabricante, ou por empresa por ele credencia<strong>da</strong> e os bens a importar contem com<br />

a mesma garantia de produto novo e não sejam produzi<strong>do</strong>s em território nacional. Para esse<br />

efeito, o importa<strong>do</strong>r deverá apresentar manifestação de enti<strong>da</strong>de representativa <strong>da</strong> indústria,<br />

de âmbito nacional, que comprove a inexistência de produção no País <strong>da</strong> merca<strong>do</strong>ria a<br />

importar: b.1) deverá constar <strong>do</strong> licenciamento de importação, <strong>da</strong> fatura comercial e <strong>da</strong><br />

embalagem <strong>da</strong>(s) merca<strong>do</strong>ria(s), que se trata de produto(s) recondiciona<strong>do</strong>(s); b.2) deverá,<br />

também, ser apresenta<strong>da</strong> declaração <strong>do</strong> fabricante ou <strong>da</strong> empresa responsável pelo<br />

recondicionamento d<strong>as</strong> partes, peç<strong>as</strong> e acessórios, referentes à garantia e ao preço de<br />

merca<strong>do</strong>ria nova, idêntica à recondiciona<strong>da</strong> pretendi<strong>da</strong>, o que poderá constar <strong>da</strong> própria<br />

fatura comercial <strong>do</strong> aludi<strong>do</strong> material recondiciona<strong>do</strong>”. (Portaria <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong><br />

Desenvolvimento , Industria e Comércio Exterior nº:235 de 7 de dezembro de 2006. In<br />

DIARIO OFICIAL DA UNIÃO. Seção 1. Nº 235, sexta-feira, 8 de dezembro de 2006.)<br />

Porém, a independente <strong>da</strong> leitura que se faça <strong>da</strong> determinação legal, os equipamentos<br />

refurbished podem entrar normalmente no país ou sair <strong>da</strong> fábrica nacional (quan<strong>do</strong> é o c<strong>as</strong>o)<br />

com nota fiscal e to<strong>do</strong>s os devi<strong>do</strong>s recolhimentos de imposto. Não há, portanto, qualquer fator<br />

oficialmente proibitivo que gere <strong>as</strong> tátic<strong>as</strong> obscur<strong>as</strong> por parte de quem os comercializa, m<strong>as</strong> o


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comportamento parece estar muito mais vincula<strong>do</strong> a uma cultura <strong>do</strong> típico “jeitinho<br />

br<strong>as</strong>ileiro”, como define Roberto <strong>da</strong> Mata (DA MATTA,1997) 5 , soma<strong>do</strong> à <strong>as</strong>sociação<br />

pejorativa <strong>do</strong> equipamento “lustra<strong>do</strong>” com itens de contraban<strong>do</strong>. Isso ocorre essencialmente<br />

porque a maior parte <strong>do</strong>s notebooks refurbished vendi<strong>do</strong>s no Br<strong>as</strong>il têm sua origem <strong>do</strong><br />

exterior, sen<strong>do</strong> que seu maior fornecimento provém de Miami (nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s) e <strong>do</strong><br />

Paraguai – regiões de comercio também muito propícios à pratica de contraban<strong>do</strong> e<br />

falsificação de merca<strong>do</strong>ri<strong>as</strong>. Nesse senti<strong>do</strong>, o merca<strong>do</strong> br<strong>as</strong>ileiro pode ser entendi<strong>do</strong> como um<br />

canal de desova <strong>do</strong>s itens recondiciona<strong>do</strong>s – que muit<strong>as</strong> vezes são rejeita<strong>do</strong>s em seu próprio<br />

país de origem. A escoação destes no país é favoreci<strong>da</strong> pela já comenta<strong>da</strong> falta de produção<br />

interna de tecnologia e pela variação de preço <strong>do</strong>s equipamentos, propician<strong>do</strong> um revival <strong>da</strong><br />

situação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> br<strong>as</strong>ileiro <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80, como apontava Souza Neto 6 :<br />

“Os preços pratica<strong>do</strong>s são muito acima <strong>da</strong>queles pratica<strong>do</strong>s no exterior; Prolifera o<br />

contraban<strong>do</strong>, e existe um divórcio entre a indústria e os centros de excelência d<strong>as</strong><br />

universi<strong>da</strong>des ou institutos de pesquisa.” (SOUZA NETO, 1988)<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS – POR UM NOVO CONSUMIDOR<br />

Diante <strong>do</strong> quadro merca<strong>do</strong>lógico aqui traça<strong>do</strong>, e d<strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> de ampliação <strong>do</strong><br />

consumo para os próximos anos, a questão maior que se coloca não se restringe apen<strong>as</strong> à<br />

avaliação técnica <strong>do</strong> processo de recondicionamento ou à discussão sobre a conveniência<br />

legal e comercial de mantê-lo ou suprimi-lo. M<strong>as</strong> aponta principalmente para a necessi<strong>da</strong>de de<br />

educar o merca<strong>do</strong>.<br />

A inexistência de uma indústria interna de tecnologia não pode servir de hipoteca ao<br />

mero <strong>consumismo</strong> <strong>tecnológico</strong>, de uma m<strong>as</strong>sa de compra<strong>do</strong>res que sorri ante a sua ignorância<br />

e comemora tolamente sua condição de refém <strong>da</strong> desinformação. Para reversão deste quadro,<br />

socie<strong>da</strong>de, merca<strong>do</strong> e estudiosos d<strong>as</strong> tecnologi<strong>as</strong> precisam buscar e estimular espaços para o<br />

diálogo aberto sobre <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> de consumo, su<strong>as</strong> caus<strong>as</strong> e conseqüênci<strong>as</strong> sociais, legais e até<br />

mesmo em termos de <strong>da</strong>nos ou ganhos pessoais.<br />

Que venha o consumo consciente, que aceita e absorve equipamentos refurbished por<br />

opção e não por decorrência d<strong>as</strong> artimanh<strong>as</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>da</strong> má-fé, ou por submissão a um<br />

merca<strong>do</strong> externo que recusa a quali<strong>da</strong>de duvi<strong>do</strong>sa e a despeja sobre os países desfavoreci<strong>do</strong>s<br />

5 Da Matta afirma que <strong>as</strong> instituições br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> foram desenhad<strong>as</strong> para coagir e desarticular o indivíduo.<br />

Diante <strong>da</strong> natureza coercitiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, inadequa<strong>da</strong> à reali<strong>da</strong>de individual e moral <strong>da</strong> cultura br<strong>as</strong>ileira, surge o<br />

“jeitinho br<strong>as</strong>ileiro”. Incapacita<strong>do</strong> pel<strong>as</strong> leis e descaracteriza<strong>do</strong> por uma reali<strong>da</strong>de opressora, o br<strong>as</strong>ileiro deverá<br />

utilizar recursos que vençam a dureza <strong>da</strong> formali<strong>da</strong>de, para obter o que lhe convém. Se nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>as</strong><br />

leis não admitem permissivi<strong>da</strong>de alguma, ten<strong>do</strong> franca influência na esfera <strong>do</strong>s costumes e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>, no<br />

Br<strong>as</strong>il, descobre-se que é possível um “pode-e-não-pode”. É uma contradição simples: a exceção a ser aberta em<br />

nome <strong>da</strong> cordiali<strong>da</strong>de não constitui pretexto para que nov<strong>as</strong> exceções sejam abert<strong>as</strong>. O “jeitinho” jamais gera<br />

formali<strong>da</strong>de, e esta jamais sairá feri<strong>da</strong> após o uso <strong>do</strong> jeitinho.<br />

6 Trecho <strong>do</strong> artigo “Para onde caminha a Informática”, Gazeta <strong>do</strong> Povo, Dezembro de 1988. Autor Fábio<br />

de Souza Neto.


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(sejam de terceiro ou quarto mun<strong>do</strong>, emergentes, em desenvolvimento, ou qualquer outro<br />

termo que se desejar). Pois como discuti<strong>do</strong>, o equipamento por si só não é bom ou ruim, sua<br />

natureza não define seu mérito. É preciso estimular a avaliação racional de seus <strong>as</strong>pectos<br />

positivos e negativos, su<strong>as</strong> vantagens e desvantagens para que prevaleça a decisão de compra<br />

pelos motivos certos – independente de seu índice de acerto.<br />

Mais que consumi<strong>do</strong>res de um merca<strong>do</strong> informatiza<strong>do</strong> em expansão – que pode<br />

sugerir uma leitura de democratização <strong>da</strong> tecnologia para os entusi<strong>as</strong>t<strong>as</strong>, ou de desova de<br />

equipamentos de segun<strong>da</strong> linha num merca<strong>do</strong> submisso por um prisma pessimista – que o<br />

Br<strong>as</strong>il seja um merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r consciente, ditan<strong>do</strong> <strong>as</strong> regr<strong>as</strong> <strong>da</strong>quilo que aceita absorver<br />

e o mo<strong>do</strong> como isso deve acontecer.


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REFERÊNCIAS<br />

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Centro de Estu<strong>do</strong>s e Pesquis<strong>as</strong> em Cibercultura, ANO2, VOL 1, N. 23· dezembro/2002<br />

CAVALCANTE, W. E. S. Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Política Nacional de Informática: de 1991 a 2000.<br />

Rio Branco: UFAC,2003.<br />

DA MATTA, R. O que faz o Br<strong>as</strong>il, Br<strong>as</strong>il? Ed. Rocco,1997.<br />

DIARIO OFICIAL DA UNIÃO. Seção 1. Nº 235, sexta-feira, 8 de dezembro de 2006.<br />

KROKER,A. Capitalismo Virtual. In Aronowitz, Stanley et al (org.) Tecnociência y<br />

Cibercultura: la interrelación entre cultura, tecnología y ciencia Barcelona: Paidós, 1998.<br />

MOREIRA, D. Merca<strong>do</strong> br<strong>as</strong>ileiro de notebooks terá crescimento de 50% em 2006. IDG<br />

Now! 25 de abril de 2006. acessa<strong>do</strong> em 24/06/2007 e disponível em:<br />

http://idgnow.uol.com.br/computacao_pessoal/2006/04/25/idgnoticia.<br />

NETO, F. S. SUCESU, Novos Rumos na Política <strong>da</strong> Informática. Curitiba: Ferluz, 1992.<br />

NORA, S. MINC, A. La Informatizacion de la socie<strong>da</strong>d. México, D.F.: Fon<strong>do</strong> de Cultura<br />

Económica, 1992.<br />

ROSENTHAL, D. MEIRA, S. Os Primeiros 15 Anos <strong>da</strong> Política Nacional de Informática: O<br />

Paradigma e Sua Implementação. Recife, ProTem-CC, 1995.<br />

SITES DA INTERNET:<br />

Portal 3d Info – Loja Virtual.<br />

http://www3.ci<strong>as</strong>hop.com.br/portal3d/product.<strong>as</strong>p?template_id=60&partner_id=1&dept%5Fid<br />

=10250&pf%5Fid=dv6275us acessa<strong>do</strong> em 23/07/2007<br />

PC Word<br />

http://pcworld.uol.com.br/especiais/2007/07/05/idgnoticia.2007-07-05.0444851393. Acessa<strong>do</strong><br />

em 20/06/2007.

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