Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

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3 4 2 ANTÓNIO PINTO Cum postularent amici, dux quam illustrissime, ut orationem, quam de scientiarum commendatione Calendis Octobris publice habueram, uellem emittere, primum equidem recusaui, ueritus ne, emissa illa oratione, quam nec tempore satis nec otio mentis adiutus (quae duo scis ad scribendi studium maxime requiri), sed partim dolore, partim negotio impeditus composueram, temere in uaria hominum iudicia diuersasque uoluntates inciderem. Nam, cum Idibus Augusti infaustam sane et acerbam de obitu fratris patruelis mei Ferdinandi de Campo, in quo et amorem et spem collocabam, epistolam accepissem, confestim ad eius sororem Leonoram, quae me arcessierat, profectus sum, ut ad eius negotium apud serenissimum regem conficiendum, cuius pro incredibili pietate et beneficentia tua patrocinium ac protectionem suscepisti, omnia tuo iussu praepararem. Sed, cum postulantibus amicis rem ut sibi uidebatur honestam resistere non possum, tuo fretus praesidio, princeps maxime, hoc publicae editionis periculum subiui. Itaque paruum munusculum tibi multis de caussis offerre sum ausus: tum quia te studiorum omnium egregium et laudatorem et patronum academia nostra nacta est, ita ut quicquid sit de scientiarum laude tuo nomine consecratum non dubitem quin et placide accipias et iucunde ac alacri animo perlegas, tum quod hunc ingenioli mei fructum, quantuluscumque est, tuo tibi iure refferre debui, nam quotiens in regiam tuam me conferebam ad sororia negotia opem expetens, totiens clarissimum os tuum et iucundissimum, in quo tantum ingenii et eruditionis lumen apparet, me maxime ad scribendum illustrabat; accedit etiam te illis uirtutibus, quas in optimo principe inesse oportet, humanitate et beneficentia, praestantissimum esse. Accipiens igitur hanc oratiunculam, quia parua tuo nomini consecrata sit, Artaxerxis illud ante oculos pones βασιλικὸν εἶναι μικρὰ λάμβάνειν. Leonorae sororis opitulaberis, cuius equidem, nisi eam praesidio haberes, grauius miseriam et orbitatem, quam fratris desiderium, deplorarem; opitulandi munus recordabere te, cum princeps natus sis, a Deo Optimo Maximo accepisse. Vale, dux felicissime, Deumque precor ut maximam nominis tui amplitudinem, cum illustrissima natorum tuorum prole, diutissime felicissimeque conseruet. Conimbricae, Idibus Octobris.» Ou seja, em português: «Com grande respeito António Pinto envia saudações ao ilustríssimo e mui afamado Senhor D. João, primeiro duque de Aveiro Ilustríssimo duque, tendo-me os amigos pedido que quisesse dar a lume a oração que, em louvor das ciências, eu pronunciara em público no 1º de Outubro, a minha primeira reacção foi recusar, temendo que, uma vez publicada aquela oração, para cuja composição não só não dispusera de tempo suficiente nem tivera o concurso Obra protegida por direitos de autor
INTRODUÇÃO da tranquilidade de espírito (requisitos ambos que, consoante sabeis, sobremaneira se requerem para a actividade literária), mas também me vira embaraçado em parte pelo desgosto e em parte por ocupações, afrontaria de modo temerário os juízos variados e as diversas disposições de espírito dos homens. É que, como tivesse recebido a 13 de Agosto uma assaz triste e dolorosa carta noticiando a morte do meu primo co-irmão Fernando do Campo, em quem depositava afecto e esperança, de imediato parti a encontrar-me com a sua irmã Leonor, que me chamara, a fim de, para tratar diante do sereníssimo rei dos interesses dela, cujo patrocínio e defesa, em conformidade com a vossa excepcional humanidade e bondade, tomastes a vosso cargo, tudo aprontar segundo as vossas ordens. Mas, uma vez que não posso resistir a amigos que me pedem uma coisa que parecia honrosa, apoiando-me na vossa ajuda, nobilíssimo senhor, arrostei este risco de sair à luz pública. E assim atrevi-me, por muitas razões, a oferecer-vos um pequenino presente: não apenas porque a nossa Academia encontrou em vós um egrégio apologista e patrono de todos os estudos, de tal maneira que não duvido de que acolheis de bom grado e ledes com alegria e entusiasmo tudo quanto se vos dedique acerca do louvor das ciências, mas também porque com toda a justiça vos deveria devolver como vosso este fruto do meu parco engenho, por poucochinho que ele valha, porquanto, todas as vezes que me dirigia ao vosso paço, esperando ajuda para os assuntos da minha prima, sempre a vossa nobilíssima e ameníssima boca, que dá mostras de tamanho brilho de inteligência e erudição, 50 sobremodo me inspirava para escrever; acresce também que vós vos singularizais por aquelas virtudes que melhor quadram ao príncipe perfeito: a afabilidade e a bondade. Por conseguinte, ao aceitardes este pequeno discurso, porquanto, embora de somenos, vos está dedicado, lembrai-vos daquele dito de Artaxerxes: É próprio do rei receber coisas pequenas. 51 Acudireis à minha prima Leonor, de quem, se a não tomardes sob a vossa protecção, estou certo de que mais deplorarei a miséria e desamparo do que me punge a saudade do irmão; lembrai-vos que, ao nascerdes príncipe, recebestes de Deus Óptimo Máximo a obrigação de socorrer. 3 4 3 50 Parece não haver exagero áulico nestes encarecimentos dos dotes intelectuais do duque D. João de Lencastre (1501-1571), a darmos crédito às palavras com que D. Jerónimo Osório se lhe refere no f. 103 vº do tratado dialogado De regis institutione et disciplina, Lisboa, João de Espanha, 1571, que aqui apresentamos na nossa versão: “Acabando eu de dizer isto, interveio então D. Francisco de Portugal: – Como eu gostaria que o duque de Aveiro, D. João, tivesse podido estar presente nesta nossa conversa! Tenho a certeza de que ter-lhe-ia sido de muito prazer! – Quanto a mim, disse eu, não sinto grande desgosto por ele não estar presente, pois se aqui estivesse ter-nos-ia podido amedrontar com a sua inteligência, que é poderosíssima.” Vd. D. Jerónimo Osório, Da Ensinança e Educação do Rei, Tradução, introdução e anotações de A. Guimarães Pinto, Lisboa, INCM, 2005, pp. 158-159. 51 Cf. Plutarco, Artaxerxes, 5. Obra protegida por direitos de autor
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