08.06.2013 Views

Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

3 4 0 ANTÓNIO PINTO<br />

No entanto, volvidos três anos, ou por julgar que a recompensa régia não<br />

correspon<strong>de</strong>ra às esperanças que acalentara ao prestar tão pronta a<strong>de</strong>são ao novo<br />

monarca português, ou porque <strong>de</strong> facto (ao que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r das palavras<br />

abaixo transcritas) os cofres do tesouro público se mostravam remissos em prover<br />

ao pagamento dos salários que lhe eram <strong>de</strong>vidos, o facto é que respiram um tom<br />

lamentoso estes termos com que conclui uma carta ao seu amo:<br />

«Sou forçado a dizer a Vossa Majesta<strong>de</strong> que não posso continuar mais tempo<br />

este serviço, porque, <strong>de</strong> seis anos a esta parte que fui a Badajoz, tenho consumido<br />

no serviço <strong>de</strong> Vossa Majesta<strong>de</strong> um honesto cabedal que tinha junto e, <strong>de</strong>mais<br />

disso, empenhadas minhas rendas, pera o mesmo efeito e por outras obrigações <strong>de</strong><br />

carida<strong>de</strong> cristã: <strong>de</strong> maneira que me não posso ajudar <strong>de</strong>las como atégora foi. Vossa<br />

Majesta<strong>de</strong> me manda dar dous mil cruzados cada ano. Estes, ou polas necessida<strong>de</strong>s<br />

da fazenda <strong>de</strong> Portugal, ou não sei porquê, não se me pagam senão tar<strong>de</strong> e mal.<br />

Eu sou forçado a gastar cada ano cinco mil, e tantos tenho gastado cada um dos<br />

passados, e alguns mais, vivendo com toda a mo<strong>de</strong>ração possível.<br />

Pelo que beijarei a Real mão <strong>de</strong> Vossa Majesta<strong>de</strong> por me mandar fazer mercê e<br />

prover no pagamento do dito or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> maneira que me possa sustentar, ou me<br />

conceda licença pera me tornar pera minha casa, on<strong>de</strong> servirei o milhor que pu<strong>de</strong>r<br />

e souber e como fazem os outros sem obrigações públicas.<br />

E não sendo esta pera mais, Nosso Senhor guar<strong>de</strong> e acrecente o Real estado <strong>de</strong><br />

Vossa Majesta<strong>de</strong>.<br />

De Roma, 12 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1586<br />

O dor. António Pinto» 44<br />

Dada pelo rei satisfação aos seus queixumes, como parece indicar a continuação<br />

da sua permanência em Roma por mais dois anos, o Doutor António Pinto viu<br />

enfim plenamente recompensados os seus serviços ao novo governo da pátria, ao<br />

ver-se nomeado, em 1588, para o Conselho do Reino <strong>de</strong> Portugal, com assento em<br />

Madrid. Sabemo-lo por breve pontifício do 1º <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong>sse ano, no qual Sisto<br />

V, alegando esse motivo, conce<strong>de</strong> por<br />

«tempo <strong>de</strong> dois anos ao Doutor António Pinto, seu secretário particular, arcediago<br />

e cónego da catedral <strong>de</strong> Lisboa, e a João Pinto, 45 clérigo <strong>de</strong> Braga, por autorida<strong>de</strong><br />

apostólica coadjutor com futura sucessão <strong>de</strong> António Pinto na administração do<br />

canonicato, prebenda e arquidiaconado da referida igreja, todos os frutos, rendas e<br />

Romanam curiam dialogus, publicado pela primeira vez em Macau, no ano <strong>de</strong> 1590, e traduzido<br />

por Américo da Costa Ramalho com o título Diálogo sobre a missão dos embaixadores japoneses<br />

à cúria romana, Macau, Fundação Oriente, 1992 (1ª ed.) e <strong>Coimbra</strong>, Imprensa da Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, volumes I e II dos “Portugaliae Monumenta Neolatina”, 2009 (2ª ed., com reprodução<br />

do original latino). O texto da obra <strong>de</strong> San<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte à relação do Doutor Pinto<br />

encontra-se no volume 2º da ed. acabada <strong>de</strong> citar, pp. 456-543.<br />

44 Códice citado, f. 255.<br />

45 Sobrinho <strong>de</strong> António Pinto.<br />

Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!