Orações de sapiência - Universidade de Coimbra
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3 3 8 ANTÓNIO PINTO<br />
Sabemos que esteve em Portugal pelo menos nos anos <strong>de</strong> 1568 40 e 1575, 41<br />
sem po<strong>de</strong>rmos precisar a data <strong>de</strong> início e a duração das estadas. De 12 <strong>de</strong> Maio<br />
<strong>de</strong> 1580, em plena crise sucessória do trono lusitano consequente à morte do rei<br />
D. Henrique (31 <strong>de</strong> Janeiro do mesmo ano), data a seguinte carta sua, escrita <strong>de</strong><br />
Almeirim e dirigida a D. Filipe II <strong>de</strong> Espanha, merecedora <strong>de</strong> reprodução integral<br />
pelos elementos biográficos que fornece e por retratar à perfeição o feitio moral<br />
<strong>de</strong>sta personagem:<br />
«S[acra] C[atólica] M[ajesta<strong>de</strong>]<br />
O embaxador D. Cristóvão <strong>de</strong> Moura me <strong>de</strong>u ũa carta <strong>de</strong> Vossa Majesta<strong>de</strong> per<br />
que me agar<strong>de</strong>ce a boa vonta<strong>de</strong> com que para ele enten<strong>de</strong>u me empregava nas<br />
cousas <strong>de</strong> seu serviço, significando-me a satisfação que disso tem e segurando-me<br />
da gratificação continuando eu nela.<br />
Beijo a real mão <strong>de</strong> Vossa Majesta<strong>de</strong> pola honra e mercê que com esta carta<br />
me fez, que, como muito avantajada ao meu merecimento, estimei no grau que<br />
ela merece: e não sendo esta minha vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> que ora Vossa Majesta<strong>de</strong> foi<br />
certificado, nova, senão muito antiga, como po<strong>de</strong>rão testemunhar os embaxadores<br />
e outros seus ministros que, <strong>de</strong> vinte e cinco anos a esta parte, residiram em Roma<br />
40 Tal se conclui <strong>de</strong> carta do embaixador D. Álvaro <strong>de</strong> Castro para o rei, Roma, 17 <strong>de</strong> Junho<br />
<strong>de</strong> 1568: “Por um correio <strong>de</strong> Espanha que aqui chegou aos 14 <strong>de</strong>ste entendi como António<br />
Pinto era partido <strong>de</strong> Barcelona por mar diante <strong>de</strong>le seis dias, os tempos tem corrido maus,<br />
Deus o trará a salvamento.” Corpo Diplomático Português, tomo 10, página 315. A proximida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> datas também nos faz supor que, se não portador da carta <strong>de</strong> D. Sebastião para o papa<br />
Pio V, <strong>de</strong> Lisboa, 20 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1568, pelo menos <strong>de</strong>verá ter ficado directamente inteirado,<br />
em entrevista provável com o car<strong>de</strong>al D. Henrique, do assunto aludido no seguinte passo:<br />
“Com toda humilda<strong>de</strong> envio beijar seus santos pés, muito santo em Cristo padre e muito bem-<br />
-aventurado Senhor, ao Doctor António Pinto do meu <strong>de</strong>sembargo escrevo que <strong>de</strong> minha parte<br />
fale a Vossa Santida<strong>de</strong> em um certo negócio <strong>de</strong> muito serviço <strong>de</strong> Nosso Senhor e que toca ao<br />
ofício da Santa Inquisição nestes reinos […].” Biblioteca da Ajuda, 46-X-22 (Symmicta Lusitanica),<br />
ff. 61 vº-62.<br />
41 Fundado em informações enviadas <strong>de</strong> Lisboa pela nunciatura e hoje existentes no Arquivo<br />
Secreto do Vaticano, José <strong>de</strong> Castro, D. Sebastião e D. Henrique, Lisboa, União Gráfica, 1942,<br />
pp. 81-83, faz a súmula do que nesta altura se escreveu para Roma acerca <strong>de</strong> António Pinto:<br />
“Fora para Portugal, levando na algibeira breves óptimos do Santo Padre a recomendá-lo a<br />
el-rei e ao car<strong>de</strong>al para ser beneficiado do melhor modo possível, recompensa aos seus serviços<br />
na Cida<strong>de</strong> Eterna. O car<strong>de</strong>al infante nomeou-o arcediago da catedral, a segunda dignida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pois da <strong>de</strong> pontifical, com renda <strong>de</strong> 1500 ducados, [Arq. Sec. do Vat. – Nunz. Di Port. – vol. 2,<br />
f. 124 vº] o que não impediu que todos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el-rei até à rainha Dona Catarina, se empenhassem<br />
no seu regresso a Roma a prestar os mesmos serviços que até então tinha prestado. Isto, não<br />
obstante ser cristão novo […] o que causava maravilha à corte <strong>de</strong> Lisboa, sobretudo por ver que<br />
ele se diz não só camareiro como secretário do Santo Padre. [lugares e obras citados, f. 112]<br />
Pois apesar <strong>de</strong> cristão-novo partiu para Roma outra vez carregado <strong>de</strong> cartas <strong>de</strong> recomendação:<br />
do rei […]; da rainha Dona Catarina […]; da infanta Dona Maria […]; e do car<strong>de</strong>al D. Henrique<br />
[…]. Enfim, o Doutor António Pinto partiu <strong>de</strong> Évora para Roma no dia 3 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong><br />
1575.”<br />
Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor