Orações de sapiência - Universidade de Coimbra
Orações de sapiência - Universidade de Coimbra
Orações de sapiência - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
INTRODUÇÃO<br />
<strong>de</strong> Távora na embaixada romana, 27 o qual, em carta ao rei <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong><br />
1562, escreve o seguinte:<br />
«[...] pola qual [carta] entendi a or<strong>de</strong>m que havia por seu serviço que tivesse contra<br />
o requerimento com os cristãos-novos <strong>de</strong> seu reino trazem com Sua Santida<strong>de</strong>: creo<br />
que já Vossa Alteza terá sabido o que sobreste caso fez António Pinto, o qual pôs<br />
isto em tais termos, que atégora se não falou mais neste negócio, e tenho sabido<br />
que stá o procurador <strong>de</strong>sta gente <strong>de</strong> todo <strong>de</strong>sesperado, por on<strong>de</strong> Vossa Alteza po<strong>de</strong><br />
ver quão diferente informação teve <strong>de</strong> António Pinto, pois me mandava que o não<br />
fizesse sabedor <strong>de</strong>sta matéria tendo-lhe ele feito todo serviço, que eu e qualquer<br />
outro menistro pu<strong>de</strong>ra fazer, e afirmo a Vossa Alteza que o que tenho conhecido <strong>de</strong>ste<br />
homem é ter calida<strong>de</strong>s pera se fiar muito <strong>de</strong>le, e ser ele este, e filho dum homem<br />
honrado <strong>de</strong>ve bastar pera satisfazer a raça que tem, que nemo sine crimine uiuit.» 28<br />
Finalmente, certa posição tomada por António Pinto nos parece nascer da<br />
consciência do sangue “embaraçoso” que os seus avoengos maternos lhe legaram. Com<br />
efeito, tratando-se em 1591, em Madrid, da aprovação dos Estatutos da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, cuja revisão final correra a cargo dos membros do Conselho <strong>de</strong> Portugal<br />
Doutor António Pinto, Doutor Pedro Barbosa e D. Jorge <strong>de</strong> Ataí<strong>de</strong>, este último,<br />
ao enviar a D. Cristóvão <strong>de</strong> Moura o texto <strong>de</strong>finitivo, juntamente com o alvará <strong>de</strong><br />
confirmação que o rei <strong>de</strong>veria assinar, acompanha-os <strong>de</strong> uma carta em que, a certa<br />
altura, escreve:<br />
«Este livro foi visto pelos Doutores Pedro Barbosa e António Pinto e por mim, e<br />
se emendaram todas as cousas que nos pareceu a todos em conformida<strong>de</strong>. Só em<br />
duas cousas discordou António Pinto <strong>de</strong> nós. A primeira que diz o Estatuto antigo,<br />
que sempre houve, que os capelães da universida<strong>de</strong> sejam <strong>de</strong> limpa geração e sem<br />
raça. Ele queria que se tirasse isso, e que ficasse em lei mental, e que não ficasse<br />
em escrito. […] Também diz o Estatuto Novo que as conesias doutorais e magistrais<br />
que se hão-<strong>de</strong> dar por oposição em <strong>Coimbra</strong> se não possam apresentar em elas<br />
pessoas que tenham raça. A isto contradisse o mesmo Doutor.» 29<br />
3 3 5<br />
27 No período que nos interessa (1559-1588) as funções <strong>de</strong> embaixador português em Roma<br />
foram <strong>de</strong>sempenhadas por Lourenço Pires <strong>de</strong> Távora (1559-1562); D. Álvaro <strong>de</strong> Castro (1562-<br />
-1564); D. Fernando <strong>de</strong> Meneses (1566-1567); <strong>de</strong> novo D. Álvaro <strong>de</strong> Castro (1567-1568); D. João<br />
Telo <strong>de</strong> Meneses (1569); João Gomes da Silva (1578-1579). Como veremos, ou na qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> secretário dos embaixadores ou como agente do governo português, Pinto manter-se-á em<br />
Roma <strong>de</strong> 1559 até 1588, sendo neste ano substituído no cargo pelo sobrinho Francisco Vaz<br />
Pinto. Facilmente se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> que o funcionamento da embaixada e a expedição dos negócios<br />
com a Cúria, na prática <strong>de</strong>pendiam quase exclusivamente do Doutor Pinto. Veja-se Fortunato<br />
<strong>de</strong> Almeida, História da Igreja em Portugal. Nova edição preparada e dirigida por Damião<br />
Peres, Porto-Lisboa, Livraria Civilização, 2º tomo, pp. 590-591.<br />
28 Corpo Diplomático Português, tomo 10, p. 20.<br />
29 Carta <strong>de</strong> D. Jorge <strong>de</strong> Ataí<strong>de</strong> a D. Cristóvão <strong>de</strong> Moura, Madrid, 17 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1591,<br />
in Compêndio Histórico do Estado da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> no Tempo da Invasão dos<br />
Denominados Jesuítas, 1771, Lisboa, Régia Oficina Tipográfica, 1771, pp. 51-52. A vesânia<br />
antijesuítica dos autores do Compêndio cegou-os para este significativo <strong>de</strong>talhe da carta<br />
Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor