08.06.2013 Views

Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

3 3 4 ANTÓNIO PINTO<br />

Para que não restem dúvidas sobre o parentesco entre frei Diogo e António Pinto,<br />

baste-nos citar o seguinte passo <strong>de</strong> uma carta do embaixador Lourenço Pires <strong>de</strong><br />

Távora para o rei: “e porque eles porventura darão outra informação a Vossa Alteza<br />

por o Doctor António Pinto sobrinho <strong>de</strong> frei Diogo <strong>de</strong> Murça ser meu secretário e<br />

cuidarem que com esse favor alcança justiça […].” 22 Também a heráldica nos leva<br />

à inclusão do nosso António Pinto nesta ilustre família transmontana, porquanto<br />

sabemos que usava no seu brasão <strong>de</strong> armas “cinco flores <strong>de</strong> lis e cinco crescentes”,<br />

ou seja, as tradicionais armas <strong>de</strong> Gue<strong>de</strong>s e Pintos. 23<br />

Apesar da luzida nobreza que o esmaltava pelo lado paterno, 24 sobre ele caiu<br />

a balda <strong>de</strong> cristão-novo pelo lado da mãe. De facto, o linhagista acabado <strong>de</strong> citar,<br />

sentiu-se obrigado a escrever em nota:<br />

«Alguns quiseram infamar esta família dizendo que Maria Valência era filha <strong>de</strong><br />

um médico <strong>de</strong> Mogadouro, porém <strong>de</strong> uma memória que vi se mostra o contrário,<br />

pois havendo no Mogadouro naquele tempo duas Marias Valências a mulher <strong>de</strong>ste<br />

Francisco Vaz era diferente da outra, o que se mostrava por inquirição do Santo<br />

Ofício e serem seus filhos e netos clérigos e religiosos.» 25<br />

Além <strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixarem <strong>de</strong> nos causar estranheza tantas coincidências <strong>de</strong> nomes<br />

estrangeiros numa localida<strong>de</strong> sertaneja como o Mogadouro, o facto é que outros<br />

indícios apontam na mesma direcção do sangue hebraico da progenitora do Doutor<br />

António Pinto.<br />

O primeiro é a informação <strong>de</strong> Monsenhor André Calligari, que em correspondência<br />

enviada, em 1575, da Nunciatura <strong>de</strong> Lisboa para o car<strong>de</strong>al Como, secretário <strong>de</strong><br />

Estado do papa Gregório XIII, diz <strong>de</strong> Pinto “ser cristão-novo e tão novo que o seu<br />

avô materno, natural do Mogadouro, foi queimado por impenitente.” 26<br />

Também um outro testemunho autorizado nos parece apontar sem margem<br />

para dúvidas neste sentido: o <strong>de</strong> D. Álvaro <strong>de</strong> Castro, sucessor <strong>de</strong> Lourenço Pires<br />

22 Livro <strong>de</strong> cartas do senhor Lourenço Pires <strong>de</strong> Távora, o. c., f. 79. Carta <strong>de</strong> Roma, datada<br />

<strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1560.<br />

23 Ver artigo <strong>de</strong> Charles-Martial De Witte, “Saint Charles Borromée et la couronne <strong>de</strong><br />

Portugal”, Boletim Internacional <strong>de</strong> Bibliografia Luso-Brasileira, 7, nº 1, Janeiro-Março <strong>de</strong> 1966,<br />

pp. 114-156, on<strong>de</strong>, a propósito <strong>de</strong> uma carta <strong>de</strong> António Pinto, escrita <strong>de</strong> Roma a 25 <strong>de</strong><br />

Fevereiro <strong>de</strong> 1574, o douto investigador belga, pouco versado em brasonística lusitana, cuida<br />

ver naqueles lises as armas dos Farnésios…<br />

24 Foi inclusivamente condiscípulo <strong>de</strong> D. Duarte, filho natural <strong>de</strong> D. João III, e <strong>de</strong> D. António,<br />

futuro Prior do Crato, nos estudos que estes régios pupilos frequentaram no Colégio da Costa,<br />

em Guimarães. Vi<strong>de</strong> Mário Brandão, <strong>Coimbra</strong> e D. António, o. c., pp. 15, 16, 138, 141 e 142,<br />

on<strong>de</strong> se transcrevem cartas on<strong>de</strong> é <strong>de</strong>signado como o “Antoninho, sobrinho <strong>de</strong> frei Diogo.”<br />

25 Felgueiras Gayo, obra e volume citados, p. 288.<br />

26 Apud José <strong>de</strong> Castro, Bragança e Miranda (Bispado), I, Porto, Tipografia Porto Médico Ldª.,<br />

1946, p.136. O texto original <strong>de</strong>sta informação encontra-se, segundo este autor, no Arquivo<br />

Secreto do Vaticano, Nunziatura di Portogallo, vol. 3, f. 112.<br />

Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!