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Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

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ORAÇÃO DE TODAS AS PARTES DA FILOSOFIA<br />

Passo em silêncio muitos filósofos, como Pitágoras, Demócrito, Xenofonte, Zenão,<br />

que se notabilizaram no estudo da filosofia em ida<strong>de</strong> já avançada. 106 Igualmente é<br />

muito digno <strong>de</strong> louvor Cleantes que, ar<strong>de</strong>ndo no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r filosofia e não<br />

tendo recursos com que se sustentar, se empregava a tirar água <strong>de</strong> noite, 107 para,<br />

durante o dia, po<strong>de</strong>r assistir às lições <strong>de</strong> Crisipo.<br />

Também o conhecido autor Vitrúvio agra<strong>de</strong>cia muito aos pais, porque tinham<br />

pensado em educá-lo e instruí-lo nas artes liberais. 108 E Alexandre Magno, homem<br />

apaixonado pela aprendizagem e pela leitura, agra<strong>de</strong>cia a Filipe, seu pai, por ter<br />

querido confiá-lo, como aluno, a Aristóteles, <strong>de</strong> quem se gloriava ter recebido o<br />

modo <strong>de</strong> bem viver. 109<br />

E ainda Séneca, moralista <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> austerida<strong>de</strong>, lembra que nos <strong>de</strong>vemos refugiar<br />

na filosofia, pois que ela faz as vezes dum belo enfeite não só para os bons, mas<br />

também para aqueles em que há algo <strong>de</strong> mal.<br />

Conhece-se também aquele pensamento <strong>de</strong> Luciano, divulgado como se dum<br />

oráculo proviesse: que os não iniciados nos mistérios filosóficos dançam nas trevas. 110<br />

E o que foi que, além dum profundo estudo da filosofia, elevou tanto Aristóteles, o<br />

gran<strong>de</strong> príncipe dos peripatéticos, pesquisador dos fenómenos naturais e diligentíssimo<br />

investigador, e o fez andar <strong>de</strong> mão em mão, pren<strong>de</strong>ndo-se tenazmente a todas?<br />

Ele, que, <strong>de</strong>vido à sua famosa preocupação <strong>de</strong> ministrar lições variadas e variáveis,<br />

recebeu <strong>de</strong> Platão, como refere Célio nas Lições Antigas, o nome <strong>de</strong> ἀναγνώστης,<br />

como se fosse um leitor infatigável e, com pleno acerto, χαλκεύτερος, como os<br />

gregos também dizem, além <strong>de</strong> dotado <strong>de</strong> um insaciável <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> saber.<br />

[42, aliás 24] Efectivamente aplicava-se à filosofia com tanto interesse, que não<br />

duvidava dizer que os que se <strong>de</strong>dicavam às outras artes e <strong>de</strong>sprezavam esta, eram<br />

semelhantes aos preten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Penélope, que, como nos transmite Homero, não<br />

po<strong>de</strong>ndo apo<strong>de</strong>rar-se da senhora, se voltavam para as escravas. 111 Minerva: encontrara-<br />

-os junto do vestíbulo da casa <strong>de</strong> Ulisses, como afirma Homero nestes versos:<br />

Εὖρε δ᾽ἄρα μνηστῆρας ἀγήνορας· οἱ μὲν ἔπειτα<br />

πεσσοῑσι προπάροιθε θυράων θυμὸν ἔτερπον,<br />

ἥμενοι ἐν ῥινοῖσι βοῶν, οὕς ἔκτανον αὐτοί· 112<br />

Em resumo: <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar feliz, não aquele que usa a inteligência para<br />

enriquecer ou dar-se à <strong>de</strong>vassidão, mas o que po<strong>de</strong> conhecer as causa das coisas e<br />

cujo espírito se sustenta com este divino alimento da contemplação, como se fosse<br />

néctar ou ambrosia. 113 Pois que outra coisa é assistir aos convívios dos <strong>de</strong>uses do<br />

que ter em abundância os divinos recursos da filosofia, que são o alimento da alma<br />

e do pensamento? Quem a ela se aplicar, compreen<strong>de</strong>rá a conexão dos elementos, a<br />

firmeza da terra, a razão e simetria daqueles fenómenos que, irrompendo do meio<br />

do espaço, chamam a atenção do tranquilo pensamento humano. Contemplará o<br />

po<strong>de</strong>r do espírito e a inteligência criadora do mundo, ro<strong>de</strong>ada duma escolta <strong>de</strong><br />

espíritos celestes. Por fim sentirá aquele encanto que comunica o próprio aspecto<br />

Obra protegida por direitos <strong>de</strong> autor<br />

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