Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

1 1 6 PEDRO FERNANDES
5. Homonímia e identificação
O nome de Pedro Fernandes era frequente na época em que viveu o nosso
humanista.
Pareceu-nos interessante deixarmos aqui ligeiras referências a alguns dos seus
homónimos, até porque, nas investigações que efectuámos para encontrarmos dados
biográficos de Pedro Fernandes, nos confrontámos com muitas dificuldades em
distinguir, de entre muitos, o humanista em estudo. Referiremos, no entanto, apenas
aqueles que, uns mais do que outros, algo se notabilizaram.
A par do “nosso” Pedro Fernandes, há um outro, também natural de Lisboa,
elogiado por Pedro Sanches na “Epistola ad Ignatium de Moraes”. É “Roderico patre
creatum”, segundo essa mesma carta, publicada no Corpus Poetarum Lusitanorum,
vol. I. Diogo Barbosa Machado, op. cit., tom. III, p. 577, refere-se a ele, deste modo:
“Pedro Fernandes, natural de Lisboa, filho de Rodrigo Gonçalves, Jurisconsulto.
Estudou na Universidade de Coimbra Direito Civil, sendo insigne Professor de letras
humanas, e elegante Poeta latino, cujo idioma ensinou já quando era Eclesiastico aos
filhos do Excellentissimo Conde de Vimioso D. Affonso de Portugal. Obteve huma
Igreja, onde falleceo no anno de 1569 com saudade das suas ovelhas. Descreveo em
verso heroico latino a solemne Procissão do Corpo de Deus, que no anno de 1559
fez a Parochial Igreja de S. Julião de Lisboa, onde fora bautisado e se publicou com
este título: De spectaculis D. Juliani Ulyssiponensis in Festo Eucharistiae anno salutis
1559 [...]”. O Dr. Luís de Matos, op. cit., p. 98, fala-nos também deste humanista,
pressupondo a distinção entre ele e o nosso Pedro Fernandes. De acordo com os
resultados atrás apresentados, concluímos ser bastante nítida essa distinção.
Houve um outro Pedro Fernandes – este, natural de Évora – que estudou
Humanidades e Teologia em Paris. Foi o primeiro bispo do Brasil – nomeado em
1551 – donde partiu em 1556 em direcção a Lisboa, tendo sofrido, porém, um
naufrágio e acabando por ser devorado pelos índios. A ele se referem Diogo Barbosa
Machado, op. cit., t. III, pp. 578-579; Fortunato de Almeida, História da Igreja em
Portugal, vol. III, parte II, p. 965 e Dr. Luís de Matos, op. cit., p. 54.
Em Lovaina aparecem três Pedros Fernandes – em 1524, 1536 e 1541 – citados
pelo Dr. Luís de Matos, op. cit., p. 54. Poderia aventar-se a hipótese de o nosso
humanista ser este Pedro Fernandes que, em 1541, se encontrava em Lovaina – não
falamos já nos outros, porque as datas são demasiado recuadas. Mas, além de ser
filho de Álvaro – “Petrus Ferdinandus filius Alvari Lusitanus” – há a considerar o
facto de nenhum documento nem autor se referir consistentemente à permanência
de Pedro Fernandes – autor da oração de sapiência – em Lovaina.
Em três documentos dos Autos e Graus, vimos a assinatura dum Pedro Fernandes
que concluímos não ser a do nosso humanista, já que num desses documentos se
afirma que se trata de Pedro Fernandes, natural de Paranhos, que cursou Teologia
entre 1557 e 1560.
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