Orações de sapiência - Universidade de Coimbra

INTRODUÇÃO
Quanto à elevação da Igreja de Goa a Metropolitana, há alguns autores que se
referem, sem exactidão, a Paulo III e ao ano de 1557. Mas quem, na realidade, o
fez foi Paulo IV, em 1558.
De qualquer modo, o que concluímos facilmente é que por volta de 1556 não
havia Arcebispo de Goa... E isso foi notado a Carneiro de Figueiroa que, em resposta,
acrescenta em suplemento à p. 78 das Memórias da Universidade de Coimbra, p. 220:
“Do que tenho referido – He sem duvida que nesta monção forão para a Índia o
Patriarca João Nunes Barreto, e o Bispo André de Oviedo, e nenhum outro para
bispo ou Arcebispo de Goa e tão bem é certo que o imidiato sucessor de Fr. João
de Albuquerque que faleceo em 28 de Fevereiro de 1553 foi D. Gaspar que tomou
posse em 1560 e foi o primeiro Arcebispo como diz o doutíssimo Academico, mas
hé tão bem sem dúvida que o assento do Conselho diz o que tenho referido”.
É, portanto, o “Assento do Conselho” que serve de base a Carneiro de Figueiroa.
Nada encontrámos no Arquivo da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra que
viesse comprovar as afirmações feitas por este autor.
Nada podemos, pois, concluir acerca da possível ida de Pedro Fernandes para
Goa. Terá ido de facto? Em que ano? Com que finalidade? Seria um inquisidor?
Parece-nos possível esta última hipótese, em face das afirmações de Eugénio
Asensio acerca da ida de D. Gaspar de Leão para Goa: “... La armada, arca de Noé
de la cultura, passaba à la lejana India las letras, la ciencia y la lengua de Portugal.
Transportaba también las instituciones: en la misma nao São Vicente [...] viajaban
con D. Gaspar los flamantes inquisidores que iban a implantar el temido tribunal
en la colonia invadida de judaizantes...”. E, na verdade, aparece-nos um Pedro
Fernandes “sollicitador do santo offício”, exactamente na mesma época do nosso
humanista – 11 de Fevereiro de 1550 – como se lê em Braamcamp Freire, Arquivo
Histórico Português, vol. VI, p. 469.
O Conde de Ficalho, na sua obra Garcia de Orta e o seu tempo, pp. 194-195, refere
“um mestre Pedro Fernandes” em Goa, por volta de 1546. É uma data demasiado
recuada para ter a ver com o nosso humanista.
Achamos pouco provável que Carneiro de Figueiroa tenha confundido o nosso
Pedro Fernandes com qualquer outro Pedro Fernandes que tenha ido para Índia,
até porque ele próprio nos diz que o “Assento do Conselho” assim o documenta.
Mas, por outro lado, não podemos prosseguir no estudo de tal problema, porque
os dados nos faltam totalmente.
Dissemos, umas linhas atrás, que Pedro Fernandes, após ter pronunciado a oração
de sapiência, só reaparecia em 1556. Será isto exacto? A verdade é que as Actas
dos Conselhos da Universidade de 1537 a 1557, publicadas pelo Dr. Mário Brandão,
nos apresentam, a pp. 197-200, em 1554 o nome de Pedro Fernandes, nas “Actas da
Oposição para lente substituto de uma catedrilha de Cânones”. Nas votações lê-se
“item pº. frz”. Parece-nos provável a identificação deste com o nosso humanista,
mas, mais uma vez, nada podemos concluir por falta de elementos que façam luz
sobre o problema.
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