Novembro 2007 - Edição 284 - Cave
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6 ducave<br />
Resultado do 7º Concurso ducave de Redação<br />
O Concurso ducave de Redação teve como tema “A influência da arquitetura nos<br />
hábitos e costumes das pessoas”. Oscar Niemeyer, que completa 100 anos em dezembro,<br />
foi o homenageado. Confira os textos dos seis primeiros colocados.<br />
1º Lugar<br />
Música petrificada<br />
Diante dos olhares desatentos e<br />
exaustos, que viajam carregados pelos<br />
passos apressados pelo constante atraso;<br />
perdido por entre o ar impuro das<br />
grandes cidades, vive parte de uma história<br />
infinda; contada por tijolos, concreto<br />
e cimento, em capítulos que se renovam,<br />
se desmancham ou sobrevivem<br />
ao caminhar desesperado do tempo implacável.<br />
Alguns, singelos e modestos, porém<br />
belos e inseridos pela ação do tempo na<br />
história do espaço que ocupam: uma história<br />
presente na própria história, por<br />
vezes ignorada até mesmo pelos que com<br />
ela convivem. À beleza esquecida da<br />
natureza, junta-se a beleza da obra do<br />
homem. Nas curvas simplórias das capelas,<br />
o sinal da cruz quando os passos<br />
delas nos aproximam, mesmo que o rosto<br />
se esqueça de curvar-se de sua encantadora<br />
simplicidade; os aplausos de-<br />
2º Lugar<br />
“Mi casa. Su casa”<br />
A história da arquitetura<br />
é a história<br />
da humanidade. Durante<br />
todo o período<br />
em que o homem habita<br />
o planeta, tudo<br />
tem sido feito para<br />
deixar sua morada mais condizente com<br />
seu jeito de pensar, de sentir. E o lugar<br />
peculiar que a vida escolheu para prosperar<br />
oferece espaço de sobra para quase<br />
todas as idéias grandiloqüentes e surtos<br />
de (des)organização que possam despontar<br />
no horizonte das invenções. A co-<br />
dicados ao artista no palco, sem que ao<br />
menos parte deles um dia tenha sido em<br />
agradecimento ao trabalho dos homens<br />
que muito contribuíram para que mais<br />
um espetáculo encontrasse abrigo; as<br />
antigas moradas, destoantes por entre os<br />
edifícios, que guardam consigo parte de<br />
uma realidade que não mais existe...<br />
Como se em vão fosse perder-se por<br />
entre os próprios pensamentos e visões<br />
confusas, e a atenção voltar-se, ao menos<br />
por pequenos instantes, ao brincar<br />
mágico dos seres humanos que, na personificação<br />
de deuses, capazes são de<br />
imaginar e erguer uma arte única, de estilo,<br />
às vezes, constante em um espaço<br />
que se torna símbolo de uma terra, de<br />
uma cidade, a síntese de toda uma cultura.<br />
Mesmo que, às vezes, corriqueiros<br />
como os dias são, a beleza do simples<br />
se confunda com o familiar ou com o<br />
ainda desconhecido, e uma tímida feição<br />
de espanto tome conta da face dos<br />
seres, como quem descobre uma pungente<br />
e impressionante novidade; logo,<br />
entretanto, os rostos retornam à aflição<br />
e aos sorrisos fabricados, e o surpreendente<br />
torna-se, novamente, mais uma<br />
confusa visão. O que um dia fora belo,<br />
viraria mais uma passagem pelo tortuoso<br />
trajeto diário. O que um dia nem sequer<br />
tivera valor, há de permanecer na<br />
escuridão.<br />
Outros, suntuosos, atingíveis apenas<br />
no mundo dos sonhos, como quadros<br />
memoração do centenário de Oscar Niemeyer<br />
oferece um momento propício<br />
à reflexão acerca do relacionamento que<br />
estabelecemos com tudo aquilo que nos<br />
rodeia.<br />
É curioso o fato de que grande parte<br />
dos brasileiros associe Niemeyer ao planejamento<br />
e à “construção” de Brasília,<br />
a despeito de seus outros projetos. Mas<br />
em tempos de total incredulidade nas instituições<br />
e poderes que, daquela cidade,<br />
comandam o país, parece não haver uma<br />
disposição em dissociar a imagem “corrupta”<br />
da cidade de seu aspecto urbanístico.<br />
É quase como se ela tivesse sido<br />
planejada no The Sims e depois habita-<br />
de Monet, Michelangelo ou da Vinci deixam<br />
o papel e tornam-se palpáveis;<br />
transformados em alegoria de um povo.<br />
Como a Torre Eiffel, para os franceses;<br />
o Kremlin, para os russos; a Estátua da<br />
Liberdade, para os norte-americanos e<br />
o Taj Mahal, para os indianos. Uma imagem<br />
que se espalha, ilustra cartões postais,<br />
livros, filmes, programas de televisão<br />
e apresenta ao planeta um ingente<br />
espanto e curiosidade que ultrapassa as<br />
barreiras oceânicas.<br />
Encantados, como meros mortais que<br />
somos, buscamos a prova de que as imagens<br />
vistas é realidade. E tantas férias já<br />
foram e ainda são reservadas para esta<br />
busca. A arquitetura impulsiona o turismo,<br />
une os povos e suas diversas culturas<br />
e movimenta rendas, não apenas enquanto<br />
suas linhas são traçadas e construídas,<br />
mas enquanto sua existência é<br />
observada. Seja em nossa busca por um<br />
capítulo amarelado da história ou alguma<br />
página recém-escrita.<br />
Arquitetura é um misto de arte e<br />
mágica, de prosa e poesia. É a narração<br />
de uma história, uma anedota, a transmissão<br />
de um sentimento de alegria,<br />
amargura ou tristeza; lembrança viva de<br />
um tempo que, graças a ela, não se perdeu<br />
e há de perdurar com o passar das<br />
gerações. Como disse Goethe: “Arquitetura<br />
é música Petrificada”.<br />
Bruno Carlos R. de O. Medeiros<br />
da exclusivamente por políticos estilo<br />
“Lego”, altamente articulados. Muito se<br />
fala a respeito do projeto inicial da cidade,<br />
inspirado no desenho de um avião.<br />
E eis que pondero se os habitantes de<br />
Brasília se sentem realmente cidadãos<br />
ou meros passageiros que, tal qual numa<br />
aeronave, não escolhem as manobras do<br />
piloto. Talvez provenha daí o sentimento<br />
de que “criar” uma cidade seja algo<br />
superficial, visto que é um organismo<br />
vivo e em constante transfiguração.<br />
Entretanto, mais do que nas fachadas,<br />
o mundo acontece mesmo é nos<br />
interiores - os espaços privados provam,<br />
num nível mais restrito, interesses incu-