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8 Jornal de Leiria 24 de Janeiro de 2013
Abertura
Temporal provoca caos na região
Mau tempo Poucas horas bastaram para criar o caos no País. O distrito de Leiria foi um dos mais
afectados pelo mau tempo do fim-de-semana, levando ao corte de energia, água e telecomunicações.
Elisabete Cruz
elisabete.cruz@jornaldeleiria.pt
❚ Mais de 800 ocorrências foram registadas
pelo Comando Distrital de
Operações de Socorro (CDOS) de Leiria
entre sexta-feira e terça-feira. O balanço
final ainda não está feito, mas
Sérgio Gomes, comandante distrital
da Protecção Civil de Leiria, refere que
as chamadas foram muitas, mas sem
registo de feridos com gravidade.
“Houve pequenos incidentes, com algumas
pessoas a serem transportadas
ao hospital, mas mais por uma questão
de precaução”, revela.
Das ocorrências registadas, Sérgio
Gomes aponta a queda de árvores,
postes e cabos de alta e média tensão
como as situações mais relatadas,
tendo-se ainda registado algumas
inundações e danos em coberturas de
edifícios. A zona Centro foi a mais atingida
pelos ventos na ordem dos 140
quilómetros por hora e pela chuva forte.
A falta de electricidade levou ao
corte no abastecimento de água, uma
vez que, sem energia, as bombas deixaram
de funcionar, e à dificuldade de
comunicações móveis e fixas.
Fonte do Instituto Português do
Mar e da Atmosfera (IPMA) disse à
agência Lusa que o mau tempo foi um
fenómeno raro de Inverno. "O que
aconteceu na madrugada de sextafeira
para sábado foi a passagem de
uma depressão muito cavada pelo
norte do território do continente",
afirmou, referindo tratar-se de um
processo que os meteorologistas designam
tecnicamente por "ciclogénese
explosiva".
O vento forte levou a que dois remates
de pináculo, um da fachada do
portal principal, outro da fachada da
porta lateral, do Mosteiro de Santa Maria
da Vitória, na Batalha, caíssem. Um
dos remates pesava cerca de cem
quilos, segundo disse o director Pedro
Redol, justificando a queda, “exclusivamente,
pelo mau tempo e muito
Apicer avança com queixa contra EDP e REN
Apenas os seguros podem valer a quem teve prejuízos
❚ Depois da tempestade, a bonança
não traz boas notícias para quem viu
as suas casas e automóveis danificados
por árvores que caíram, mesmo
que, antes do temporal, tenham avisado
os proprietários para as cortar. O
mesmo vale para as empresas cuja actividade
ficou paralisada pela falta de
electricidade e água.Só um seguro específico
contra desastres naturais
pode valer a quem foi prejudicado
Fenómeno é comparável ao que aconteceu em 2009 no Oeste
provavelmente por causa de uma rajada
de vento muito localizada”.
Na Praia do Pedrógão, em Leiria, o
areal substituiu o asfalto, que ficou coberto
de dunas, apenas transitável a
pé ou com veículos todo-o-terreno. O
bar de praia Quebra-Mar sofreu com
a fúria do vento, que enviou parte da
pela falta de electricidade ou queda de
árvores provocadas pelo mau tempo.
A lei desresponsabiliza a EDP, particulares
e autarquias nestes casos.
Porquê? Porque se tratou de um caso
“fortuito ou de força maior”. A lista de
eventos que prefiguram estas situações
inclui greves gerais, incêndios,
terramotos, inundações, descargas
atmosféricas directas, sabotagens,
intervenção de terceiros e... ventos de
RICARDO GRAÇA
cobertura contra o estabelecimento de
restauração em frente.
Na freguesia de Colmeias, a queda
de árvores também danificou habitações.
O presidente da junta, Artur
Santos, criticou os proprietários que
ignoraram os sucessivos alertas para
cortar árvores sinalizadas como es-
intensidade excepcional. O Código Civil
Português refere ainda que, para
que houvesse uma compensação,
teria de haver um nexo de causalidade
entre o facto e o dano. Ora, um
evento da natureza não pode ser imputado
a mais ninguém que à providência
divina. Em suma, segundo a
EDP, cerca de um milhão de pessoas
ficaram às escuras e dezenas de milhar
tiveram prejuízos ainda não
Os números
140
quilómetros por hora foi a
velocidade do vento registada
em algumas zonas
19
metros foi a altura das ondas
registadas pelo Instituto
Hidrográfico na praia da Nazaré
3000
é o número aproximado de
alunos que não teve aulas em
toda a região, devido às
consequências do mau tempo
tando em risco. “Há mais de três ou
quatro anos que temos insistido com
as pessoas. Algumas já foram multadas,
mas nem assim cumpriram. Agora,
as vítimas poderão mover processos
judiciais contra os proprietários”,
refere Artur Santos.
A agitação marítima no concelho da
Nazaré provocou ondas de 19 metros,
segundo registo dos equipamentos do
Instituto Hidrográfico. A força das vagas
destruiu por completo o estendal
do peixe seco na praia e galgou a marginal,
causando danos em diversas lojas.
O farol do molhe norte do Porto de
Abrigo da Nazaré ficou inutilizado, o
que levou a autarquia a solicitar às entidades
competentes a “rápida e ur-
quantificados, mas quem não tem um
seguro dificilmente será ressarcido
dos danos causados pela falta de
electricidade ou pela queda de árvores
e de outros objectos. Mas a Associação
Portuguesa da Indústria de
Cerâmica (Apicer) não se conforma
com esta situação e vai fazer uma
queixa junto da EDP Distribuição e
junto da REN - Redes Energéticas Nacionais,
alegando que os prejuízos po-
gente reparação” daquele equipamento,
que acabou por cair ontem ao
mar.
A queda de centenas de árvores tornou
as estradas da região quase intransitáveis.
Um dos pontos mais
problemáticos foi a EN 8-5, na Fervença,
Alcobaça,que esteve encerrada
ao tráfego automóvel durante
quase todo o dia de sábado. Também
a EN242, que liga Leiria à Marinha
Grande, chegou a estar condicionada
devido à queda de árvores, assim
como a Auto-Estrada 1, entre Pombal
e Condeixa.
Milhares de alunos sem aulas
Em toda a região, milhares de alunos
ficaram sem aulas devido a danos,
falta de água e luz, pelo menos dois
dias. “Voou parte da cobertura do telhado,
o que nos obrigou a interditar
metade do refeitório. Conseguimos
tapá-lo, para evitar que chova cá dentro,
mas é uma situação provisória”,
adianta Pedro Biscaia, director da Escola
Secundária Afonso Lopes Vieira,
em Leiria, que foi obrigado a encerrar
a escola, na segunda-feira, por falta de
água. Na terça-feira, ainda estavam
encerrados 17 estabelecimentos de ensino
no concelho de Leiria, prejudicando
2300 alunos.
Em Caldas da Rainha, danos na Escola
Secundária Bordalo Pinheiro
afectaram cerca de 900 alunos. Vários
jardins de infância e escolas no concelho
de Pombal estiveram fechados,
deixando sem aulas mais de
1200 jovens.
As corporações dos Bombeiros Municipais,
Voluntários de Leiria, Maceira
e Ortigosa forneceram água a instituições,
como lares e centros de dia,
estabelecimentos de ensino e pecuárias,
que ficaram com o abastecimento
interrompido na sequência
do mau tempo. À hora do fecho do
JORNAL DE LEIRIA ainda existiam localidades
da região sem abastecimento
de água e electricidade.
deriam ser consideravelmente menores,
se cumprissem a legislação
em vigor. O vice-presidente da Apicer
e director-geral da Matcerâmica, Marcelo
Sousa, afirma que a lei impõe
uma distância de segurança entre as
árvores e os cabos de electricidade. A
responsabilidade, aponta, é da EDP,
que distribui, mas também da REN,
que deveria garantir o fornecimento
sem interrupções. JSD e DFS