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4 Jornal de Leiria 24 de Janeiro de 2013 Abertura Falta de electricidade e telecomunicações paralisou região Electricidade Depois do temporal do fim-de-semana, a região parou, as torneiras secaram e escolas, empresas e comércio encerraram. Especialistas dizem que a população não sabe lidar com estes eventos mas os sistemas de resposta também falharam Jacinto Silva Duro jacinto. duro@jornaldeleiria.pt ❚Portas sem chave e abertura de código, fogões com placas de vitrocerâmica, estores eléctricos, portões automáticos, piso irradiante, aquecimento central e de águas eléctrico, centrais de alarme, elevadores, climatização e aspiração central são mais-valias que encarecem grandemente o preço das casas novas. Contudo, em situações como a que se viveu no fim-de-semana, a ausência de electricidade mostrou que nem sempre a existência de tantos sistemas automatizados é uma vantagem. Em edifícios mais modernos, houve quem ficasse fechado fora de casa porque as portas, accionadas por códigos, não abriam. Nos lares de idosos com pisos superiores, deixou de ser possível usar elevadores e sistemas de elevação de cadeiras. Durante dias, não houve aquecimento. “Não tínhamos electricidade para poder usar os exaustores da cozinha, por isso, não podíamos cozinhar e nem podíamos lavar roupa. Foi preciso recorrer às lavandarias da cidade para ter lençóis e outras peças de uso do dia-a-dia”, recorda Fernanda Lagoa, responsável pelo Lar S. Joseph, de Boa Vista, Leiria. EDP responde que lar não era “prioritário” “Somos completamente electro- -dependentes”, resume o coordenador da Protecção Civil do CNE (Corpo Nacional de Bombeiros), na região de Leiria. Uma dependência que já é má, quando a energia falha, mas que pode ser pior quando se ouve o impensável. “A pior surpresa foi ligar à EDP para solicitar um gerador e ficar a saber que o meu lar, com dezenas de pessoas, algumas acamadas, com frio e a comer por sondas, 'não era prioritário' para a empresa”, recorda Fernanda Lagoa. Uma afirmação lamentável e estranha que foi repetida a outros clientes em situação semelhante. Apenas na quarta-feira, cinco dias depois do temporal, o Exército disponibilizou geradores para algumas localidades dos concelhos de Leiria e de Pombal. Perante a cada vez maior dependência energética, Ricardo Martins acredita que estes incidentes se vão tornando comuns por resultarem da evolução tecnológica. Contudo, alerta, a população não está preparada para lidar com eventos deste tipo. Não tem rádios a pilhas em casa, lanternas, comida enlatada e géneros não perecíveis, uma reserva de água e combustíveis ou abrigos alternativos. Uma visão partilhada por Manuel João Ribeiro, docente do Curso de Protecção Civil, do Instituto Politécnico de Leiria. O alerta da Protecção Civil, que chegou apenas a laranja – o vermelho teria sido para um evento com as dimensões do furacão Katrina -, não foi suficiente para que a população tomasse precauções. “Não reduziram a velocidade nas estradas, não limparam algerozes, não desobstruíram ribeiros e não cortaram árvores em risco”, diz. Durante o temporal, houve quem arriscasse e fosse “passear” e tirar fotografias para as zonas mais afectadas, em vez de seguir os conselhos da Protecção Civil e ficar em casa. Muitas habitações permaneceram com os estores subidos e sem qualquer tipo de protecção. “Em vez de nos falarem em cores abstractas, nas rádios e televisões poderiam ter feito avisos mais claros e incisivos sobre o que nos esperava durante as 24 horas do alerta”, afirma Jaime da Silva, de Bajouca, Leiria, que passou quatro dias sem electricidade. Nunca estaremos preparados para tudo” O mau tempo também impediu comunicações via rádio a partir dos quartéis de bombeiros, no sábado, como foi confirmado à Agência Lusa pelo Comando Distrital de Operações de Socorro de Leiria. "Houve falta de meios de comunicação fixos e móveis, quer dos operadores privados de telecomunicações quer do próprio Sistema Integrado de Redes de Emergência e Depois do temporal Narciso Mota critica EDP e Governo O presidente da Câmara de Pombal está revoltado com aquilo que apelida de “profunda impreparação para acudir a situações de emergência nacional”. Para Narciso Mota, a EDP e a REN demonstraram que perderam “a capacidade de resposta em tempo de crise”. “Notamos, hoje, que a EDP delapidou o seu historial de manutenção das redes eléctricas, assim como a limpeza adequada dos seus corredores florestais. Notamos ainda o desaparecimento dos seus quadros técnicos mais qualificados, por força de reformas antecipadas, substituídas por jovens quadros sem capacidade de decisão no terreno, completamente dependentes de administrações centralizadas em Lisboa e Porto”, afirma o autarca em comunicado. Mota adianta que a EDP, recentemente vendida à China Three Gorges “por força de estar mais preocupada com megainvestimentos no estrangeiro, deixou de ocupar o seu desígnio nacional de parceiro no desenvolvimento económico.” Narciso Mota elogia a autarquia, bombeiros, Protecção Civil e as juntas pelo apoio dado às populações e mostra ainda o seu descontentamento para com o alheamento do Governo. “Notámos a ausência de uma voz amiga e solidária com responsabilidade tutelar, que nos perguntasse se estávamos bem.” Segurança de Portugal”, insurge- -se o presidente da Câmara de Pombal, Narciso Mota. A ele junta-se a voz dos autarcas de Ansião e Pedrógão Grande. Electricidade, água e comunicações, na quarta-feira de manhã, cinco dias depois do temporal, ainda não tinham sido restabelecidas no Oeste de Pombal e em algumas zonas de Leiria e Marinha Grande. É aceitável justificar esta aparente impreparação com a excepcionalidade e gravidade da situação? Obviamente que não. O JORNAL DE LEIRIA sabe que houve situações onde nem sequer o patamar mínimo foi assegurado. Ainda por cima quando havia um alerta laranja da Protecção Civil, o segundo mais grave na escala. “Por aquilo que foi registado na época, se houvesse um tremor de terra, como o de 1755, haveria consequências graves para a região”, alerta Ricardo Martins. O general Garcia Leandro sublinha a “imponderabilidade dos eventos naturais” para dizer que “nunca estaremos preparados para tudo”. Para o militar que já dirigiu o Instituto de Defesa Nacional, o que aconteceu na região Centro foi uma situação “anómala”. Seria impossível acautelar o que se passou, assegura. A existência de centenas de árvores em risco que acabaram por se precipitar para cima das linhas eléctricas, explica o general, só aconteceu devido ao abandono da silvicultura e despovoamento das zonas rurais. Manuel João Ribeiro alinha pela mesma bitola: algumas coisas poderiam ser evitadas, através do ordenamento do território, organização e manutenção de infra-estruturas previsivelmente em risco. O especialista explica que talvez só o Japão estivesse preparado para um temporal destes. Em primeiro lugar, devido à educação dada à população, num país com problemas sísmicos e de tufões, e, em segundo, porque as infra-estruturas nipónicas são melhor pensadas e mais resistentes aos cataclismos que as nossas.
Os danos materiais ainda estão por contabilizar Reposição de energia e telecomunicações foi uma prioridade No pavilhão do Sporting Marinhense o tecto voou FOTOS: RICARDO GRAÇA Jornal de Leiria 24 de Janeiro de 2013 5 Desporto afectado Vendaval destrói obras recentes de UDL e Sporting Marinhense ❚ União de Leiria e Sporting Marinhense. Dois históricos do desporto da região tiveram, no sábado, a mais cruel das pagas pelos milhares de jovens e desportistas que formaram nas suas instalações. Numa altura em que os apoios minguam, os dois emblemas estavam a trabalhar ou tinham acabado de concluir obras de melhoramento nas suas infraestruturas, mas o vendaval destruiu grande parte do património. Os prejuízos são “gigantescos”. Há pouco mais de mês e meio, a União de Leiria inaugurou a cobertura da bancada da Academia de Santa Eufémia, local onde os escalões de formação trabalham. Sábado, essa cobertura simplesmente deixou de existir: o vento destruiua por completo. No clube, a frustração de ver a obra há anos ansiada ir pelos ares custa, e muito, a digerir. Muitas lágrimas foram vertidas quando os dirigentes chegaram ao local e viram que nada sobrava a não ser ferros retorcidos. “Está tudo destruído”, lamenta Fernando Encarnação, vice-presidente da União de Leiria. “A cobertura da bancada, um poste de iluminação, diversos projectores de iluminação e a vedação do lado do pinhal” foram alvo da ira do vento. Segundo o dirigente, o prejuízo está avaliado em 40 mil euros. Também no Sporting Marinhense os dias que correm são de dor e consternação. O clube da Embra, a levantar-se do marasmo em que viveu nos últimos anos, tinha arrancado com as obras de substituição da cobertura há uma semana, mas a natureza revelou-se impiedosa. O processo estava a meio e algumas telhas tinham já sido substituídas. Essas, resistiram. As velhas é que não. O pavilhão está completamente inundado. Alberto Maia, director de comunicação, fala em “prejuízos incalculáveis”. “Temos passado os dias a tirar água. O piso está encharcado e o taco descolou. Não temos hipótese de fazer os próximos jogos neste pavilhão”, referiu, desalentado. Como é óbvio, não foram estas as únicas instalações que sofreram com o temporal, como o Clube-Escola de Ténis de Leiria, que viu a cobertura voar, ou a sede do Leiria e Marrazes, atingida por uma árvore. Muros caídos, como no Estádio Municipal da Marinha Grande, janelas partidas, coberturas danificadas, como no Magalhães Pessoa, jogos e jogos adiados, o fim-de-semana foi mesmo para esquecer. Depois das limpezas feitas, o movimento associativo vai ter de continuar a mostrar resiliência e encarar de frente mais esta provação. MS
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