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36 Jornal de Leiria24 de Janeiro de 2013
Entrevista
Paulo Fuentez designer gráfico
“Não sinto necessidade de grande
visibilidade”
Daniela Franco Sousa
daniela.sousa@jornaldeleiria.pt
❚ Foi uma surpresa encontrar trabalhos seus publicados
no Rockport LogoLounge Master Library?
Fui avisado pela LogoLounge. Basicamente, é uma comunidade
onde as pessoas inserem os logótipos que
bem entendem, acabando por resultar numa grande
base de dados, onde se pode ir beber inspiração. A partir
desta comunidade são feitas várias publicações, e
as pessoas são informadas sobre os trabalhos que são
escolhidos. Em 2007, concorri ao European Logo Design
Award e ganhei. Fiquei muito contente, até porque
foi o meu primeiro feito desse género. Existe um
grande mercado de concursos de design gráfico.
Qual é o significado de feitos como estes para um
jovem artista gráfico português?
Pode trazer alguma visibilidade, mas funciona muito
mais enquanto satisfação pessoal.
Qual é a diferença entre criar a partir da periferia e
criar a partir de um grande centro urbano?
Nunca criei a partir de nenhum grande centro urbano,
não tenho essa experiência. Em Leiria, os constrangimentos
que existem são os constrangimentos da
própria profissão em si. Vêm sobretudo do cliente e
não do designer. Por norma, quando o cliente paga
uma fortuna por um logótipo, não pede nada, não diz
nada, simplesmente aposta naquilo. Quando paga
pouco - o que muitas vezes acontece por cá- o primo
O design
gráfico tem
pouco de
criatividade.
Criatividade
serão apenas
20% do
processo e
prendem-se
com aquele
clique que é
preciso ter.
Tudo o resto é
trabalho,
pesquisa,
investigação,
atenção ao
observar tudo
o que nos
rodeia
do cliente sabe, o tio sabe, o afilhado sabe, toda a gente
sabe, e até mais do que o profissional a quem se paga
para fazer o trabalho.
Quais são as fontes de inspiração numa cidade como
Leiria?
Não é o mar nem são os Campos do Lis. São os meus
amigos, e a qualidade de vida que se possa ter por cá.
O facto de a cidade ser pequena reflecte-se também,
de alguma maneira, no processo de trabalho.
A paternidade fez aguçar a criatividade?
Penso que não, pelo menos tenho agora muito menos
tempo para criar. Mas julgo que o design gráfico tem
pouco de criatividade. Criatividade serão apenas
20% do processo e prendem-se com aquele clique que
é preciso ter. Tudo o resto é trabalho, pesquisa, investigação,
atenção ao observar tudo o que nos rodeia.
Esse conhecimento implica viajar muito?
Viajo pouco, não sou grande fã de viagens. Mas é preciso
ter atenção à sociedade, a todos os níveis.
Curiosamente, a alcunha Fuentez faz lembrar ou-tras
paragens.
Já era conhecido por Fuentez, mas quando formámos
a banda The AllStar Project, cada elemento passou a ter
a sua alcunha. A AllStar nasceu por brincadeira e achámos
durante muito tempo que devíamos viver a banda
como uma 'brincadeira-séria', para eliminar todas as
questões que, por vezes, fazem com que outras bandas
se separem. Esta questão dos nomes foi uma forma de
aligeirar o ambiente, porque vínhamos de outras ban-
RICARDO GRAÇA
Sem canudo
Singrar como
autodidacta
Natural de Leiria, Paulo dos
Santos Silva, conhecido por
Fuentez, tem 32 anos e
currículo como designer
gráfico. O conhecimento nesta
área resultou essencialmente
das suas pesquisas e das suas
experiências de trabalho, já que
a formação superior nunca se
proporcionou. Como artista
gráfico, Paulo Fuentez foi um
dos escolhidos para integrar o
sétimo volume da colecção de
livros norte-americanos
Rockport LogoLounge Master
Library, que conta com duas
mil identidades e logótipos
desenhados por alguns dos
mais consagrados designers
gráficos e talentos promissores,
de todo o Mundo. Na cena
musical, foi um dos membros
fundadores dos leirienses The
AllStar Project.
das onde algumas coisas não tinham corrido bem.
A música é um capítulo encerrado?
Não está encerrado, porque continuo a ouvir muita
música. Mas não tenho muito tempo para fazer música.
Ando a tocar com algumas pessoas, mas nem sei
se é para chegarmos a algum lado.
O que mudou na cena musical de Leiria desde o
início dos The AllStar Project?
É hoje muito mais fácil ter acesso a material de som,
do que no início dos AllStar. A internet e as redes sociais
tornam tudo mais rápido. E há também mais festivais.
Naquela altura ainda não havia Fade In, não havia
sítios para tocar. Além disso, também existe agora
uma nova fornada de gente a tocar, miúdos de 20
anos a fazerem coisas porreiras. Talvez editar seja hoje
mais fácil.
A vossa banda contribuiu também para alguma mudança?
Talvez tenhamos contribuído para alguma mudança,
mas existia um trabalho que vinha de trás, com outras
bandas, como os Silence 4, como os próprios Phase, e,
antes disso, outras bandas de punk, etc. Cada uma veio
contribuir para alguma mudança. Nada aconteceu do
dia para a noite...
Onde se vê daqui a 10 anos?
Nesta cidade. Decidi há muito tempo que iria ficar por
Leiria. Espero ficar por aqui com amigos, a fazer estas
coisas interessantes. Não sinto necessidade de
grande visibilidade.