Descarregar PDF - Jornal de Leiria
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Almanaque<br />
Raquel Martins criativa <strong>de</strong> televisão<br />
O meu restaurante favorito<br />
é a cozinha da minha mãe<br />
❚ Se não tivesse uma profissão ligada ao mundo das<br />
artes, o que seria?<br />
O meu mundo seria um espectáculo se pu<strong>de</strong>sse<br />
<strong>de</strong>dicar muito mais tempo dos meus dias a<br />
pensar, escrever e filmar as minhas próprias<br />
histórias.<br />
O projecto que mais gosto lhe <strong>de</strong>u fazer<br />
É sempre o projecto actual. Não gosto <strong>de</strong> ter feito.<br />
Gosto <strong>de</strong> fazer. Quanto entro na fase <strong>de</strong> edição <strong>de</strong><br />
imagem <strong>de</strong> um ví<strong>de</strong>o ou <strong>de</strong> um filme, sinto-me<br />
realizada.<br />
O espectáculo, concerto ou exposição que mais<br />
lhe ficou na memória<br />
O <strong>de</strong>sktop do meu computador é uma imagem que<br />
vi do Julião Sarmento na Tate Mo<strong>de</strong>rn, em<br />
Londres. Portanto, lembro-me todos os dias <strong>de</strong>ssa<br />
exposição. Uma sala inteira <strong>de</strong>dicada ao pintor<br />
português. Há agora uma retrospectiva da obra<br />
<strong>de</strong>le em Serralves. Quero ir.<br />
O livro da sua vida<br />
Era incapaz <strong>de</strong> ter um único. Recentemente,<br />
gostei mesmo muito <strong>de</strong> A Ilha <strong>de</strong> Sukkwan, <strong>de</strong><br />
David Vann.<br />
Um filme inesquecível<br />
American Beauty, do Sam Men<strong>de</strong>s. Ou melhor: do<br />
Alan Ball, o argumentista.<br />
Se tivesse <strong>de</strong> escolher uma banda sonora para si,<br />
qual seria?<br />
Eu queria respon<strong>de</strong>r Pan Pipes com ferrinhos mas,<br />
a verda<strong>de</strong>, é que tenho uma resposta a sério para<br />
esta pergunta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mês passado. A banda é<br />
M83 e a música chama-se Midnight Souls Still<br />
Remain. Um projecto pessoal para as próximas<br />
férias é, precisamente, fazer uma autobiografia<br />
visual ao som <strong>de</strong>sta música.<br />
Um artista que gostaria <strong>de</strong> ter visto no Teatro<br />
Stephens?<br />
De ter visto? Nina Simone. Queria ver? Bon Iver.<br />
Uma viagem inevitável<br />
A viagem <strong>de</strong> casa para o trabalho e vice-versa.<br />
Ênfase no regresso.<br />
Um vício que gostava <strong>de</strong> não ter<br />
Chegar atrasada a todo o lado.<br />
Uma personalida<strong>de</strong> que admira<br />
Reservo a minha admiração para a personalida<strong>de</strong><br />
que conseguir acabar com a impunida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>cente<br />
e imoral <strong>de</strong> todos os aproveitadores – seja por má fé<br />
requintada ou por pura incompetência - do Estado<br />
português.<br />
Um actor que gostasse <strong>de</strong> levar a jantar<br />
Já que posso escolher, um que saiba<br />
cozinhar. Mas po<strong>de</strong> ser amigo do<br />
Adrian Brody.<br />
Um restaurante da região<br />
A minha mãe diz muitas vezes<br />
que a cozinha <strong>de</strong>la parece um<br />
restaurante. Eu confirmo. Por<br />
isso, o restaurante <strong>de</strong>la.<br />
Um prato <strong>de</strong> eleição<br />
Qualquer um feito pela minha<br />
mãe. Mas sem carne.<br />
Um refúgio (no distrito)<br />
A varanda em São Pedro <strong>de</strong> Moel.<br />
E o jardim da Várzea.<br />
Um sonho para <strong>Leiria</strong>?<br />
Desejar que a loja Creaminal volte a<br />
abrir é muito mau? Lamento, mas neste<br />
momento era isso que “esta Pêpa” queria.<br />
Julião Samento<br />
DR<br />
American Beauty<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 24 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2013 35<br />
Projecto<br />
internacional<br />
Mesa <strong>de</strong><br />
Cabeceira<br />
Carlos<br />
Martins<br />
Nina<br />
Simone<br />
Parte 1.<br />
Hoje, fascinei-me com o<br />
facto <strong>de</strong> acordar todos os<br />
dias eu, sem per<strong>de</strong>r info.<br />
O sono não se explica, é<br />
como os gostos. Eu tenho mau<br />
sono, não sei dormir, por isso –<br />
não durmo. Zombificar em<br />
Budapeste é a mesma coisa que<br />
fazer amor em Trás-os-Montes.<br />
Vai dar tudo ao mesmo clímax<br />
<strong>de</strong> parvoíce mata-ratos e “uh uh<br />
uh que és muita bom”. Depois<br />
ou já não sou ou nunca fui. Não<br />
gosto das duas, mas a escolher<br />
era a segunda, comiseração<br />
aceito sempre seja com<br />
transpiração, seja com whisky.<br />
Às vezes um gajo só tem<br />
comiseração. Falta atenção?<br />
Come-se pena às colheres,<br />
transformo isso tudo em música<br />
no coração e volto à gruta<br />
encantada. Gostava <strong>de</strong><br />
conseguir ter sexo, <strong>de</strong>sligá-lo do<br />
amor e ter orgasmos com<br />
companhia para cigarros. E ficar<br />
triste <strong>de</strong>pois como toda a gente.<br />
Estou preso em morte. Em vez<br />
<strong>de</strong> viver, observo-me a viver e<br />
rio-me da ridícula performance.<br />
Em bom, tudo isto em bom,<br />
<strong>de</strong>us me livre que eu não seja<br />
soberbo. Palhaço. Preso a<br />
carida<strong>de</strong>s. Tenho <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontar<br />
Budapeste para me livrar <strong>de</strong>ste<br />
fascínio. Quero ir para casa ter<br />
um AVC quentinho. Ouço<br />
húngaros a falar não sei se <strong>de</strong><br />
batatas, se <strong>de</strong> poesia absurda.<br />
Estou farto <strong>de</strong> aqui estar e não<br />
sei ir para casa, não posso fumar<br />
mais porque já me <strong>de</strong>u o tilt do<br />
dia na veia a piscar. Latejo <strong>de</strong><br />
seca. Um dia morro e agora<br />
estou aqui a não ser, com tanta<br />
vida por morrer lá fora. Não sei o<br />
que faço aqui, não sou daqui<br />
nem ela é <strong>de</strong> mim.<br />
Parte 2.<br />
Ri sozinho <strong>de</strong> paspalhice, chorei<br />
<strong>de</strong>vagar e <strong>de</strong>pois pensei: isto não<br />
<strong>de</strong>via acontecer, ninguém <strong>de</strong>ve<br />
dizer szeretlek, love you, amo-te<br />
e <strong>de</strong>pois dizer que “amor não<br />
acontece em duas semanas”. Só<br />
queria duas coisas: braços <strong>de</strong><br />
casa e a minha casa. Senti toda a<br />
pujança <strong>de</strong> ser estúpido, burro e<br />
isso doeu ainda mais porque sei<br />
que não sou nem estúpido nem<br />
burro. Depois ela voltou atrás<br />
assim: "I was blind". E eu: "Isso é<br />
dum filme". Ela: "I could not see".<br />
Eu: "É cantiga dos U2". E<br />
dormimos com arrepios <strong>de</strong> tanto<br />
drama espojados na nossa cama<br />
a fazer <strong>de</strong> conta amor.<br />
Parte 3.<br />
Hoje, já não suspiro. E suspirar é<br />
muito bom.<br />
Músico