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Do primeiro voo nos Barreiros,<br />

até à Gândara dos Olivais<br />

❚ Terá sido em 1936, em casa <strong>de</strong> um familiar, que José Dias<br />

Sequeira Pereira, conhecido por “Zé dos Aviões”, travou<br />

conhecimentos com o então capitão aviador Fernando Carvalho<br />

Tártaro, que o convidou para ir à Amadora dar uma<br />

volta <strong>de</strong> avião. Entusiasmado com o baptismo <strong>de</strong> voo, José<br />

Pereira terá pedido <strong>de</strong> imediato ao capitão que se <strong>de</strong>slocasse<br />

a <strong>Leiria</strong> para analisar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ali criar um<br />

campo <strong>de</strong> aviação.<br />

Depois <strong>de</strong> examinarem os Campos do Lis, encontraram<br />

um terreno na zona dos Barreiros, <strong>de</strong>nominado Lezíria do<br />

Pastel, pertencente ao Dr. Ver<strong>de</strong>, que ace<strong>de</strong>u ao pedido dos<br />

entusiastas. Ao sonho do “Zé dos Aviões” juntaram-se outros<br />

apaixonados, como Luís <strong>de</strong> Melo, Carlos Silva, Guerra<br />

Rodrigues, Alves Men<strong>de</strong>s, Vasco Rito, Wellemkamp, Rogério<br />

Travassos, Engenheiro Manso, Camilo Korrodi,<br />

José Carlos Santos, Francisco Pereira, Rocha Ourives e Etelvino<br />

Gaspar.<br />

Se para estes notáveis, trazer aviões para <strong>Leiria</strong> era uma<br />

certeza, aos olhos da maior parte da população, que nunca<br />

vira uma aeronave, tal projecto não passava <strong>de</strong> uma utopia,<br />

à volta da qual se contavam anedotas nos cafés.<br />

Mas nesse mesmo ano, e para espanto <strong>de</strong> muitos, o Vickers,<br />

da Amadora, fez a primeira aterragem na Lezíria do<br />

Pastel, nos Barreiros, tripulado pelo capitão Tártaro.<br />

E foi também em 1936, que dois aviões apareceram nos<br />

céus <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, em direcção aos Barreiros. Relatam os Ecos<br />

do Século XX, que a passagem das aeronaves gerou uma<br />

corrida rumo ao campo <strong>de</strong> aviação. Chegados ao campo,<br />

os entusiastas receberam dois Moranes, <strong>de</strong> Tancos, tripulados<br />

pelos pilotos Rodrigues Costa e Costa Franco, trazendo<br />

como passageiros o coronel Mário Batalha, natural<br />

<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, cuja família residia na Rua Comandante João<br />

Belo e o 1º Sargento Ribeiro. A partir daí, o campo começaria<br />

a ser visitado por aviões <strong>de</strong> Amadora e Alverca.<br />

Já no fim <strong>de</strong> 1936, quando o Dr. Ver<strong>de</strong> mandou lavrar o<br />

campo, foi preciso <strong>de</strong>scobrir uma nova pista, noutro local,<br />

tarefa que contou com a ajuda <strong>de</strong> oficiais <strong>de</strong> Tancos,<br />

que vieram analisar a região. Todas as reuniões <strong>de</strong>corriam<br />

na tipografia <strong>de</strong> Carlos Silva, que se tornou se<strong>de</strong> provisória<br />

do Aero Clube.<br />

O próprio “Zé dos Aviões” recorda, no Ecos do Século XX,<br />

o dia em que a boa notícia finalmente chegou. “Em Fevereiro<br />

apareceu na minha residência, então o Hotel<br />

Central, um homem dizendo-me que na sua terra existia<br />

uma gran<strong>de</strong> charneca on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>ria fazer o campo <strong>de</strong><br />

aviação. Quando chegámos à Serra <strong>de</strong> Porto do Urso, <strong>de</strong>parou-se-nos<br />

aquela imensidão! Ficámos loucos <strong>de</strong> alegria.<br />

Tratava-se <strong>de</strong> um baldio camarário, cheio <strong>de</strong> mateiros<br />

e machureiros. Era ali que seria o nosso Centro <strong>de</strong> Aviação!”<br />

E assim nascia o Aero Clube <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, a 3 <strong>de</strong> Janeiro<br />

<strong>de</strong> 1938, on<strong>de</strong> se encontra hoje instalada a Base Aérea<br />

nº5 <strong>de</strong> Monte Real.<br />

Ciclone interrompe activida<strong>de</strong><br />

A 8 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1940, por ocasião das Festas dos<br />

“Quando<br />

chegámos à<br />

Serra <strong>de</strong> Porto<br />

do Urso,<br />

<strong>de</strong>parou-se-<br />

-nos aquela<br />

imensidão!<br />

Ficámos<br />

loucos <strong>de</strong><br />

alegria.<br />

Tratava-se <strong>de</strong><br />

um baldio<br />

camarário,<br />

cheio <strong>de</strong><br />

mateiros e<br />

machureiros.<br />

Era ali que<br />

seria o nosso<br />

Centro <strong>de</strong><br />

Aviação!”<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 24 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2013 33<br />

IN ECOS DO SÉCULO XX RICARDO GRAÇA<br />

2<br />

IN ECOS DO SÉCULO XX<br />

3<br />

IN ECOS DO SÉCULO XX<br />

4<br />

Centenários, o Aero Clube <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> – que dois meses<br />

antes apresentara, na exposição <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, um stand com<br />

oito secções, relacionadas com a activida<strong>de</strong> aeronáutica<br />

– realizou uma gran<strong>de</strong> festa aérea, <strong>de</strong> propaganda,<br />

patrocinada pelo Diário <strong>de</strong> Notícias. Esta festa – relatada<br />

no livro que assinala 50 Anos <strong>de</strong> Base Aérea n.º5 <strong>de</strong> Monte<br />

Real – juntou mais <strong>de</strong> 30 mil pessoas e contou com<br />

perto <strong>de</strong> uma centena <strong>de</strong> aviões. Mas a presença do Aero<br />

Clube <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> no campo <strong>de</strong> Monte Real duraria apenas<br />

até 1941, quando um violento ciclone <strong>de</strong>struiu o<br />

hangar e o único avião, pondo fim às suas activida<strong>de</strong>s.<br />

Entre os anos 40 e 70, Monte Real centrou-se na utilização<br />

militar da pista, sendo que o espaço continuava<br />

a ser usado pelos associados do Aero Clube <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>,<br />

que lá po<strong>de</strong>riam estacionar os seus aviões.<br />

Foi já na década <strong>de</strong> 70 que José Ferrinho, dono <strong>de</strong> um<br />

terreno na Gândara dos Olivais, implementou a construção<br />

<strong>de</strong> uma pista na sua própria proprieda<strong>de</strong>, que<br />

ce<strong>de</strong>u ao Aero Clube e on<strong>de</strong> a instituição ainda mantém<br />

as suas activida<strong>de</strong>s associativas (com a morte <strong>de</strong><br />

José Ferrinho, a colectivida<strong>de</strong> passou a pagar renda<br />

mensal aos her<strong>de</strong>iros pela ocupação do terreno).<br />

A imprensa da época faz referência ao primeiro<br />

avião do Aero Clube <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, adquirido através <strong>de</strong><br />

subscrição pública, para a qual contribuíram muitos populares.<br />

Corria o ano <strong>de</strong> 1973, quando a aeronave, comprada<br />

por cerca <strong>de</strong> 600 contos, recebeu por madrinha<br />

<strong>de</strong> baptismo Isabel Damasceno Pereira <strong>de</strong> Campos,<br />

aquela que viria a ser presi<strong>de</strong>nte da Câmara <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.<br />

Bons ventos ultramarinos<br />

Se numa primeira fase o Estado Novo apadrinhou muitas<br />

activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas e criou estruturas para captar<br />

o interesse dos jovens – a aeronáutica era uma das<br />

activida<strong>de</strong>s promovidas pela Mocida<strong>de</strong> Portuguesa –<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> meados dos anos 60, e em virtu<strong>de</strong> da<br />

Guerra <strong>de</strong> Ultramar, a maior parte do esforço financeiro<br />

do País foi canalizado para as activida<strong>de</strong>s bélicas. A<br />

aeronáutica viria também a per<strong>de</strong>r com essa transferência.<br />

No entanto, aponta Afonso Dinis, presi<strong>de</strong>nte do Aero<br />

Clube <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, Marcelo Caetano haveria <strong>de</strong> imprimir<br />

alguma abertura ao regime, promovendo a inauguração<br />

<strong>de</strong> alguns aeródromos.<br />

O retorno das famílias <strong>de</strong> Angola e <strong>de</strong> Moçambique<br />

para a metrópole, assim como <strong>de</strong> muitos militares, que<br />

tinham estado nas colónias e conhecido outras modas<br />

e tecnologias – África do Sul era um dos maiores<br />

expoentes em matéria <strong>de</strong> aeronáutica – fizeram com<br />

que, na década <strong>de</strong> 70, com o retorno <strong>de</strong>sses jovem a<br />

Portugal, houvesse um boom no número <strong>de</strong> apaixonados<br />

pelos aviões. <strong>Leiria</strong> não foi excepção, nota o presi<strong>de</strong>nte<br />

do Aero Clube. A partir dos anos 90, esse boom<br />

esmoreceu, fruto do agudizar das dificulda<strong>de</strong>s económicas,<br />

enten<strong>de</strong> o Afonso Dinis.<br />

5

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